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Hammurabi: o homem do código

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Hammurabi: o homem do código 
Conquistador temido e político habilidoso,o imperador Hammurabi 
usava suas vitórias militares para impor a ordem na Mesopotâmia, 
apoiado no conjunto de leis que marcou a história do direito 
 
O deserto virou mar por um dia em 1754 a.C. Mas a inundação que destruiu 
Eshnunna, uma das grandes cidades-reinos da Mesopotâmia antiga, não teve 
nada a ver com a natureza. A catástrofe foi provocada por um homem: 
Hammurabi, o fundador do Império Paleobabilônico, sexto rei na dinastia de 
Babel. Conquistador da Mesopotâmia entre 1792 e 1750 a.C., ele já era senhor de 
um grande território quando, cansado de esperar a rendição de Eshnunna às suas 
tropas, mandou abrir uma barragem e inundou o local. Essa atitude drástica teria 
sido um pedido de Marduk, deus nacional de Babel, e dos deuses sumérios Anu e 
Enlil: destruir a cidade com uma grande massa de água. Oficialmente, os deuses 
sempre estavam por trás dos atos de Hammurabi, mas quem dava a última 
palavra era ele mesmo. Graças a sua sabedoria política e a sua habilidade militar, 
tornou-se um dos grandes líderes da Antiguidade. E o código de leis que usava 
durante seu governo ficou célebre como uma das primeiras expressões escritas do 
direito. 
A data em que Hammurabi nasceu é desconhecida, mas sabe-se que ele ainda era 
um jovem quando assumiu o trono de Babel, em 1792 a.C. Naquela época, a 
cidade era subordinada a outros reis, todos de tradição ou origem semita – como 
ele, que pertencia ao povo amorita. Quando morreu, 42 anos depois, Hammurabi 
havia se transformado no soberano de toda a Baixa Mesopotâmia. O território 
sob seu poder corresponderia, hoje, ao sul do Iraque e a parte da Síria. Não 
parece grande coisa, mas, há 3 750 anos, esse era quase todo o mundo conhecido 
pelo povo de Babel – e esse “quase” nunca deixou de incomodar o rei, já que o 
norte do Iraque, na época chamado de Assíria, foi cobiçado, mas não conquistado 
por ele. “Hammurabi era um guerreiro, um grande general que ia para a frente de 
batalha”, conta Emanuel Bouzon, professor de História da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro e autor de O Código de Hammurabi e 
As Cartas de Hammurabi. “A classe dirigente das grandes cidades conquistadas 
era morta ou presa, e alguns reis de lugares menores se submetiam.” 
Mas só vencer as batalhas não bastava. Era preciso manter a ordem nos 
territórios conquistados, o que Hammurabi fez brilhantemente. Mais do que um 
general, ele era um administrador e um legislador, que legou à humanidade um 
dos mais antigos e importantes conjuntos de leis. Elas estão inscritas numa estela 
(rocha destinada a receber textos) de diorito negro, que foi encontrada em 1901 
numa expedição arqueológica francesa ao Irã. É o famoso Código de 
Hammurabi, hoje exposto no Museu do Louvre, em Paris. Ele contém 282 
sentenças baseadas na tradição oral, nas crenças religiosas e no costume, 
compiladas por escribas da época. A grande maioria delas provavelmente foi 
proferida pelo próprio Hammurabi, ao julgar acontecimentos ocorridos durante 
seu governo. O trecho mais famoso é o que institui a chamada lei de talião, 
pregando que um criminoso deve pagar por seus crimes na mesma moeda (leia 
quadro na página seguinte). 
A criação e a divulgação de um código legislativo escrito serviram para 
cristalizar a autoridade do Estado sobre os súditos e, ao mesmo tempo, regular o 
funcionamento da sociedade. “Com leis redigidas, definem-se as relações entre 
os homens, assim como as relações deles com suas posses, originando o direito 
de propriedade”, explica Márcio Scalercio, professor de História da Universidade 
Cândido Mendes e da PUC-RJ, autor de Oriente Médio – Uma Análise 
Reveladora sobre Dois Povos Condenados a Conviver. “O Código de 
Hammurabi não traz as primeiras leis escritas. Mas, daquela época, foram as que 
melhor chegaram a nós, e elas consagram princípios que duram até hoje, como o 
valor do testemunho e da prova.” 
GUERRA E PAZ 
Ao registrar suas leis, Hammurabi não agiu só como legislador, mas como um 
marqueteiro de primeira, unindo senso de justiça a auto-propaganda. Na pedra 
que contém seus pronunciamentos legais há também um prólogo e um epílogo, 
nos quais ele se apresenta como um rei “prudente” e “perfeito”, escolhido por 
deuses como Marduk “para fazer surgir justiça na Terra, para eliminar o mau e o 
perverso, para que o forte não oprima o fraco”. Em outra passagem, o rei não 
hesita em se auto-intitular o “Sol de Babel”. 
Como soberano absoluto, Hammurabi controlava cada canto de seu império com 
uma belíssima rede de informações – tinha representantes em todas as cidades 
que governava, com quem se comunicava por meio de correspondência. Foram 
encontradas mais de 150 tábuas com inscrições dele endereçadas a três 
funcionários de Larsa, uma das cidades que conquistou. Essas “cartas” tratavam 
de temas como julgamentos de crimes, organização agrícola, distribuição das 
terras entre os homens e ordens sobre trabalho compulsório. Nada escapava ao 
olhar do rei, nem mesmo a tosquia de ovelhas em uma cidade distante ou um 
caso de suborno numa localidade do norte. “Era um reino grande, mas ele sabia 
de tudo e mandava em tudo, era obedecido em todo canto. Havia assembléias de 
anciãos, assembléias do povo, mas a palavra final era dele”, diz o historiador 
Bouzon. “Quando não se chegava a um acordo na sentença de um julgamento, 
mensageiros levavam o caso até a instância final, que era o próprio rei.” 
Além de firmar alianças militares com os reis de outras cidades da Baixa 
Mesopotâmia, Hammurabi explorava a rivalidade entre eles, fazendo com que se 
destruíssem mutuamente, deixando assim o caminho livre para seu próprio 
exército. Depois de tomar uma cidade, ele tratava de pacificá-la: reconstruía 
edifícios e enfeitava ainda mais o templo do principal deus local, como prova de 
tolerância religiosa. Costumava também arrebanhar colaboradores entre os 
próprios habitantes do lugar e colocá-los à frente do governo local. Ganhava, 
assim, a confiança dos moradores submetidos a seu poder e evitava revoltas. 
A faceta de bom administrador se manifestava quando Hammurabi promovia o 
crescimento comercial e agrícola de seus territórios. Em seu reinado, novos 
canais para irrigação e navegação foram construídos, e os antigos foram 
aprimorados. Houve ainda trabalhos de regulagem do curso do Eufrates, um dos 
rios que banham a Mesopotâmia. Foi com medidas assim que, apesar de muitas 
vezes ter imposto seu domínio pela força, o líder babilônio conseguiu passar uma 
boa imagem para a posteridade. “Ele propagou a ideologia semita do rei como o 
bom pastor, preocupado com os ‘cabeças pretas’, como se chamava o povo”, 
afirma Bouzon. Ao morrer, em 1750 a.C., o comandante deixou o opulento 
Império Paleobabilônico como herança para seus descendentes. A dinastia ainda 
durou cerca de 150 anos, mas não resistiu à ausência de seu fundador. Muitas 
cidades se sublevaram e a Mesopotâmia acabou invadida pelos hititas em 1594 
a.C., quando Babel foi saqueada e incendiada. “Enquanto Hammurabi reinou 
houve paz, mas ela não sobreviveu à sua morte”, diz Bouzon. Acredita-se que a 
centralização exagerada do governo nas mãos do general tenha tornado muito 
difícil a tarefa de seus sucessores em substituí-lo. 
 
O código do homem 
Para Hammurabi,a punição tinha que ser semelhante ao 
crime 
A chamada lei de talião (talionis, em latim, significa “tal” ou “igual”) apareceu 
pela primeira vez no Código de Hammurabi. Ela nasceu de um conjunto de 
sentenças em que o imperador dizia frases como: “Se um homem livre destruiu o 
olho de um outro homem livre, destruirão seu olho” e “Se um homem livre 
arrancou um dente de um homem livre igual a ele, arrancarão o dente dele”. 
Além dos homens livres, chamados de awilum, a sociedade paleobabilônica tinha 
escravos e uma classe social intermediária chamada muskênum.Quando um 
awilum cometia alguma dessas ofensas a um muskênum u a um escravo, também 
pagava por isso, mas o castigo era mais brando: uma multa. Várias leis de 
Hammurabi seguiam o princípio do talião. Uma delas determinava que se um 
filho adotivo renegasse os pais que o criaram, dizendo “Tu não és meu pai, tu não 
és minha mãe”, teria a língua cortada. Alguns séculos depois, o direto à 
retaliação ganhou novas versões. No Velho Testamento, no capítulo 21 do livro 
do Êxodo, está escrito: “Se houver dano grave, então darás vida por vida, olho 
por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, 
ferimento por ferimento”. Já em 450 a.C., quando a plebe romana exigiu que as 
leis fossem escritas para que não houvesse favorecimento aos patrícios, surgiu a 
Lei das 12 Tábuas. E lá estava, no parágrafo 11 da sétima tábua: “Se alguém ferir 
a outrem, que sofra a pena de talião, salvo se houver acordo”. Apesar de parecer 
bárbaro, esse tipo de norma foi muito importante para o direito. “A lei de talião é 
um ensaio de como se estabelecer a pena conforme a intensidade do delito”, 
explica o historiador Márcio Scalercio. “Todos concordam que a pena para quem 
rouba deve ser uma e para quem comete assassinato deve ser outra. A diferença é 
que na maioria das sociedades atuais a lei de talião não existe mais de forma 
literal.” Mas não em todas. Há países do Oriente Médio em que se paga olho por 
olho, literalmente. Na Arábia Saudita, no Iêmen e em algunsdos Emirados 
Árabes, ladrões ainda têm as mãos cortadas.

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