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Histria da Psicologia – Profª. Kenia Peres 6 OS SOFISTAS 6.1 CONTEXTUALIZANDO: A DEMOCRACIA E O DEBATE EM PRAA PBLICA preciso relembrar aspectos da democracia ateniense: H v rias diferenas entre as democracias atuais e a antiga democracia ateniense: apenas uma pequena parte da populao masculina adulta era reconhecida como cidado em Atenas que era uma sociedade escravista - mulheres, escravos e menores de 21 anos no tinham direitos polticos, assim como os estrangeiros. Apesar das limitaes, a democracia ateniense era uma democracia direta: cada cidado tinha no apenas direito ao voto, mas tambm palavra. As discusses se davam na chamada Ágora, principal praa pblica da cidade, onde se reuniam em assemblia todos os cidados. A instituio democr tica ateniense – propiciando a participao de um nmero maior de habitantes na discusso sobre temas pr ticos e pblicos: favoreceu tambm o desenvolvimento de uma cultura que valorizava o uso da palavra e da razo, assim como as habilidades argumentativas e dialticas dos cidados tornaram-se um bem cada vez mais apreciado. Foi nesse contexto que aparecem os Sofistas e Scrates. Histria da Psicologia – Prof. Kenia Peres 2 6.2 OS SOFISTAS Em meados do sculo V, em Atenas, um grupo de intelectuais escandalizou os filsofos da poca ao fazer do saber uma profisso, oferecendo aulas de retrica e de eloquncia aos jovens da classe dirigente que pretendiam dedicar-se carreira poltica. Esse grupo era chamado de sofista, do grego sophists, que significa s bio. Como os atenienses de boa condio social achavam indecoroso pagar para serem servidos, os sofistas foram tratados com desprezo pela elite intelectual. De fato, eram todos metecos – ou seja, estrangeiros – excludos, portanto da vida poltica e dos direitos derivados da posse da cidadania. Obrigados pela sua profisso a deslocar-se continuamente de cidade em cidade, contriburam enormemente para que a cultura grega no se mantivesse nos limites das provncias e afirmaram, pela primeira vez, o princpio do cosmopolitismo. A importncia de movimento sofista na histria do pensamento no pode ser subestimada. Seus fundadores foram os primeiros a colocar os problemas do homem no centro da reflexo filosfica, antecipando assim a iminente revoluo socr tica; tambm forjaram o fundamental conceito de cultura – ou seja, da formao integral do indivduo no quadro da sociedade qual pertencia – e passaram a utilizar a razo com tal desembarao que mereceram, na posteridade, o epteto de iluministas gregos. 6.2.1 A retrica Os sofistas empregavam a exposio ou monlogo como mtodo de ensino e levavam em considerao os interesses dos alunos, alm de darem aula de eloquncia e sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos teis para o sucesso nos negcios pblicos e privados. Alguns se diziam Histria da Psicologia – Profª. Kenia Peres 3 mestres em qualquer assunto, desde a arte de fazer sapatos at a cincia poltica e como viver bem na plis grega. Por isso eram chamados de sofistas: “grande mestre ou s bio”. Segundo alguns estudiosos, as lies dos sofistas tinham como principal objetivo o desenvolvimento do poder de argumentao, a habilidade retrica, bem como o conhecimento de doutrinas divergentes. De acordo com essa interpretao, elas transmitiriam todo um jogo de palavras, raciocnios e concepes teis pra driblar as teses dos advers rios e convencer as pessoas. Lembrando que era uma poca de lutas polticas e intenso conflito de opinies nas assemblias democr ticas. Por isso, muitos cidados sentiam a necessidade de aprender a retrica ou oratria - arte de falar e argumentar um pblico e assim, para persuadir as pessoas em assemblias e, muitas vezes, fazer prevalecer seus interesses individuais e de seu grupo social. Essas caractersticas dos ensinamentos dos sofistas favoreceram o surgimento de concepes filosficas relativistas sobre as coisas. Para o relativismo no h uma verdade nica, absoluta. Tudo seria relativo ao indivduo, ao momento histrico, e um conjunto de fatores e circunstncias de uma sociedade. 6.2.2 Heris ou viles? O termo sofista teve originalmente um significado positivo, entretanto, com o decorrer do tempo ganhou sentido de “enganador” ou “impostor” devido, sobretudo, s crticas de Plato. Considerou-se a sofstica, isto , a arte dos sofistas, apenas uma atitude viciosa do esprito, uma arte de manipular raciocnios, produzir o falso, iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade. Verdade se diz aletheia, em grego, e significa “manifestao daquilo que ”, “o no oculto”. Aletheia ope-se a pseudos, que significa “o falso”, aquilo que se esconde, que ilude”. Os sofistas pareciam no buscar a aletheia. Contentavam-se com pseudos. Hoje se utiliza a palavra sofisma, derivada de sofista, para designar um raciocnio aparentemente correto, mas na realidade falso ou inconclusivo, geralmente formulado com o objetivo de enganar algum. Abordagens mais recentes sobre a atuao dos sofistas procuram mostrar o relativismo de suas teses fundamenta-se em uma concepo flexvel sobre os homens, a sociedade e a compreenso do real. Para os sofistas, as opinies humanas so infind veis e no podem ser reduzidas a uma nica verdade. Assim, no existiriam valores ou verdades absolutas. Histria da Psicologia – Profª. Kenia Peres 4 importante destacar que no existe uma doutrina sofstica nica: o que h so alguns aspectos comuns entre as concepes de certos sofistas como Prot goras, Grgias entre outros, o que permitiu que fossem considerados como um conjunto ou corrente. 6.2.3 Prot goras Prot goras, o mais conhecido dos sofistas, nasceu em Abdera, em 483 a.C. O apreo que mereceu dos contemporneos testemunhado pela amizade pessoal de Pricles e pela incumbncia de escrever as leis para a colnia de Turi, fundada em 480 a.C. Esse prestgio social, todavia, no o poupou de grandes problemas com a justia ateniense: aps ter escrito que no se pode afirmar que os deuses existem nem que no existem, foi acusado de sacrilgio, condenado e banido de Atenas, e as suas obras foram queimadas na praa da cidade. Morreu em 410 a.C., em um naufr gio, durante a fuga para a Siclia. 6.2.4 Grgias Nascido por volta de 485 a.C., em Leontinos, na Siclia, Grgias viveu quase 108 anos com perfeita sade. Sua vida foi marcada por sucessos e reveses: viajou por toda a Grcia, exercendo com grande sucesso a arte da retrica; acumulou uma vasta fortuna e conduziu a formao de numerosos seguidores. Era acompanhado da merecida fama de dialtico, capaz de cogitar raciocnios irrefut veis para sustentar opinies muito distantes do bom-senso e dos valores comuns – por exemplo, a de que nada existe, a sua tese mais clebre, ou ento, que Helena, a adltera respons vel pela guerra de Tria, no era culpada. Histria da Psicologia – Profª. Kenia Peres 5
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