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UNIVERSIDADE DE CUIABÁ - NÚCLEO DE DISCIPLINAS INTEGRADAS
Homem Cultura e Sociedade - 2012/02
São autores de base: Marilena Chauí, Maria L. Aranha, Gilberto Cotrin e Battista Mondin
NOTAS DE AULA/ TEXTOS COMPLEMENTARES
 “CONHECE-TE A TI MESMO:” Sócrates e o poder da razão.
 “Conheça-te a ti mesmo”: na entrada do templo de Apolo era esta a mensagem que estava escrita. Era esta a mensagem também que Sócrates aconselhava às pessoas: ele gostaria que elas saíssem da caverna, da escuridão que havia em seus espíritos. Para alcançarem a luz, seria necessário, segundo ele, buscá-la. Porém, aonde buscá-la? A resposta era imediata: dentro de nós mesmos – “conheça-te a ti mesmo”.
Para que as pessoas conhecessem a si mesmas, Sócrates fazia perguntas: era um perguntador incansável, e até irritante. Dialogava com todos sobre os mais variados assuntos e faziam-nos perceber que o que elas sabiam sobre esses assuntos não passavam de sombras, aparências do que elas, de fato, eram. Com a continuidade do diálogo, Sócrates ajudava as pessoas a lembrar do que já sabiam, já que ele pensava que a sabedoria estava dentro de nós�, não fora; por isso, aconselhava: “conheça-te a ti mesmo”. 
Conhecendo a nós mesmos, tomaríamos ciência que a nossa alma racional seria um fator decisivo para a nossa felicidade: agindo de acordo com a razão, agiríamos de acordo com nosso ser – agiríamos como homens, não como animais. Não seríamos dominados pelos mesmos impulsos irracionais que dominam os animais, não seríamos dominados pelas paixões e pelos sentidos, seríamos senhores de nós mesmos e não agiríamos de modo desregrado. Para agirmos como homens, temos de saber o que somos: se somos racionais, nossa conduta também precisa ser. “Conheça-te a ti mesmo”.
Em suma, como procuramos o bem, tentamos nos afastar do mal: viver escravo dos prazeres é, para Sócrates, viver sem se saber o que se quer, é não-saber, é não usar a razão, é não agir como homem. Viver feliz e livre é viver senhor de nós mesmos, é saber o que se quer, é agir racionalmente, é procurar o bem para si mesmo. Eis o caminho para a liberdade na Filosofia socrática:
Conheça-te a ti mesmo
Quem sabe (usa a razão) o que é o bem, pratica-o;
quem pratica o bem, é, realmente, um ser humano;
a liberdade reside na ação racional: é a razão que nos livra do vício e nos conduz à felicidade.
Um exemplo: supondo que esteja muito calor e você foi a uma sorveteria, racionalmente se refresca com um sorvete e sabe que ele faz bem para você justamente porque lhe refresca. O que você fez foi um bem a si mesmo ao tomar um sorvete. E mais: libertou-se da sensação de calor. Porém, caso você aja desregradamente, tomando muitos sorvetes, o prazer transforma-se em um problema para o seu estômago. O que você fez foi um mal para si mesmo: ao deixar de usar a razão, deixou de agir como homem e tornou-se um escravo dos prazeres. 
A Questão do Conhecimento
No texto lido apresentam-se dois tipos de conhecimento: o dos homens comuns, cujo saber é produzido por meio das percepções sensíveis e imediatas; e o saber filosófico ou científico, fruto de uma metodologia orientada pela razão e pela pesquisa reflexiva e prática. O filósofo tem a incumbência de questionar essa realidade das aparências que, na alegoria da caverna coloca-se como mundo de sombras, de ilusões dos sentidos (no contexto da obra de Platão), abrindo a perspectiva do logos.
Em nosso dia-a-dia formulamos uma série de opiniões a respeito de tudo que nos cerca. São descrições imprecisas ou relatos de fatos e acontecimentos abordados de maneira superficial impregnados de opiniões, que geram uma infinidade de conceitos pré-concebidos os quais aos poucos vão se tornando parte do conhecimento popular. Contudo, nem todos os conhecimentos integrantes do senso comum são irrelevantes, já que partem da própria realidade, algumas concepções são de fato precisas, faltando a elas, sobretudo, o rigor, o método, a objetividade e a coerência típicas do senso crítico. 
Na obra República de Platão, a questão da passagem do senso comum para o senso crítico ocorre no contexto da formação social e política do cidadão. O ideal de república platônica apresenta-se também um projeto pedagógico, por meio do qual os produtores encarregados do trabalho, os guardas que velam pelo bem público, sob a égide da gestão racional dos filósofos magistrados, são formados para desempenhar estas funções sociais. Na pólis grega, a educação dos jovens era responsabilidade do Estado, os estudantes que se destacavam dos demais prosseguiam seus estudos e poderiam chegar a serem governantes após uma longa aprendizagem e uma rigorosa educação moral e intelectual.
Um dos objetos desta educação é a superação do senso comum (o campo das opiniões) para o conhecimento crítico. Conforme Geniéve Droz, pensador contemporâneo, no mito platônico o conhecimento progride do sensível para o intelectual, a inteligência vai do aparente para o essencial, do obscuro para o luminoso, sendo as Idéias, elas próprias, iluminadas pela fonte de toda luz, o Bem. (DROZ, 1977, p. 77)
Como se elabora o conhecimento crítico em Platão? A filosofia é a única forma de buscar por esse conhecimento? Para Platão, sim, uma vez que seja possível, com a metodologia apropriada, superar o nível das opiniões. De onde vem o desejo e a atração pelo mundo inteligível que possuem alguns homens, se tecnicamente nunca tiveram contato com o mesmo? Como explicar a vontade do prisioneiro que não conhece o lado de fora da caverna de sair dela?
O amor que deseja a sabedoria é a própria filosofia (literalmente amor ao saber). Gradualmente, à medida que o homem conhece, o próprio conhecimento desperta o desejo contínuo de saber. Após deixar a caverna este humano sofre a cegueira, pois não tivera antes contato com tal luz, e o abandono de seu antigo estado causa medo e dor, mas ele é convidado a continuar sua ascese superando o mundo sensível, apreendendo os movimentos do sol, as estações e suas conseqüências.
Desta forma, a conquista da sabedoria e da felicidade carece de in-cansáveis esforços na aprendizagem das ciências e das artes. É um processo contínuo de auto-superação. Ele se habitua aos objetos reais do mundo fora da caverna, mas a ascensão é apenas um momento de depuração pessoal. 
A filosofia na tradição platônica não tende a algum tipo de ostracismo intelectual, depois da contemplação da luz é necessário o retorno para dentro da caverna para despertar os outros para este conhecimento, isto é, o filósofo para Platão, tem um compromisso social e político. Podemos perceber neste momento a preocupação com a “morada comum”. Platão tentou concretizar sua idéia de nova sociedade no final de sua vida atuando politicamente. 
Conhecer para Platão é o sumo bem, e o bem está na organização da cidade de acordo com este conhecimento e não de acordo com as opiniões. Podemos comparar o ideal de homem que habita o interior da caverna, com o senso comum, ambos estão apegados às impressões sensíveis e não se permitem enxergar outras realidades senão as impostas pelas circunstâncias. Na pólis grega, os homens que se negavam a participar da vida pública, eram chamados de idiotés, porque se deixavam representar por outrem. Ao negar a própria vontade se submetia me deixavam a responsabilidade de decidir o destino da cidade para os outros
Alienação e Ironia
Ao estudar a história econômica e política da humanidade Marx e Engels desenvolvem o conceito de alienação. Existem muitas formas de alienação e uma delas é a alienação do trabalho. Este conceito nos permite entender como a humanidade está sujeita a uma ironia, ou seja, a história aparente esconde o seu real significado. Podemos entender o conceito de alienação a partir do conceito de trabalho. O que é trabalho? Desde os tempos mais remotos o ser humano foi obrigado a buscar as condições de sobrevivência no planeta. 
Fez isso por meio de sua inteligência utilizando sua criatividade e força física paraproduzir suas condições de sobrevivência. Foi isso que o diferenciou dos demais animais. O trabalho é o resultado do uso da capacidade criativa do homem para transformar a natureza e garantir sua sobrevivência. Ocorre que ao trabalhar o homem transforma o mundo e a si. Pois ao produzir coisas para si, ele acaba também se produzindo naquilo que produz. Ele se reconhece naquilo que faz, pois tem sentido e significado pessoal e coletivo. Por meio do trabalho o homem busca e consegue sua identidade, pois se reconhece naquilo que produz. 
Com a revolução industrial e o surgimento das linhas de produção em série há uma separação entre a criação inventiva do homem e a força que transforma a natureza. Os trabalhadores produzem coisas que não são frutos de sua capacidade criadora e inventiva. Eles apenas executam tarefas numa linha de produção. Quem pensou criativamente não realiza o que idealizou. E quem executa não pensou. Ocorre, portanto, a separação entre o pensar e o fazer. Quem pensa não faz e quem faz não idealizou o objeto que será produzido. Pior ainda, a linha de montagem não permite que o trabalhador domine todo o processo de produção, pois realiza apenas uma pequena tarefa na linha de montagem. Já não se reconhece mais naquilo que produz. Se antes ao produzir um sapato ele se reconhecia como um sapateiro. Agora na linha de produção ele é apenas um operário. Uma peça na linha de montagem. Se ele era reconhecido em sua comunidade por aquilo que fazia para garantir sua sobrevivência e a do grupo, agora ele é apenas mais um componente da linha de produção que poderá a qualquer momento ser substituído, descartado e em seu lugar será colocado outro que fará o mesmo trabalho que ele faz. Nisto se constitui a alienação. O ser humano se vê separado do que faz, do que produz, do significado daquilo que produz. Já não o representa. 
O trabalho que deveria, como antes, transforma o mundo para melhorar as condições de vida do homem, tornasse agora um instrumento de dominação, de perda de sentido e significado da vida. Torna-se mais importante que o próprio ser humano. Torna-se fonte de lucro e exploração. O que é irônico nisto é que o trabalho como força criado-ra de transformação da natureza para garantir a liberdade do homem,na sociedade capitalista, separa o homem do significado de sua existência tornando-o incapaz de reconhecer-se naquilo que faz e reconhecer seus semelhantes. Nisto se constitui a alienação do trabalhador. 
A ironia está em que a realidade apresenta dois sentidos, um aparente e outro real, oculto de modo astuto por um discurso político, pela forma de pensar cotidiana, pela história linear sedimentada em fatos cronológicos que assinalam as vitórias da classe dominante. A ironia está em que os homens agem a partir de certos objetivos para alcançar certos fins, porém, a forma como as relações sociais se constroem e as idéias se produzem acabam gerando uma outra realidade, diferente do sonho inicial que moveu os homens para a ação.
A ironia moderna destrói os novos mitos que se sustentam na pretensão de domínio e de poder, de uma razão capaz de tudo explicar e conter. Mostra o avesso das coisas, o que se oculta por trás dos projetos de uma sociedade tecnocrática, os paradoxos de uma sociedade 
que concentra a riqueza nas mãos de poucos e geram as várias formas de violência que fazem parte do nosso cotidiano e que nos torna cativos.
� A mãe de Sócrates era parteira e Sócrates também considerava-se um parteiro, mas de idéias: como ele acreditava que elas estavam nas próprias pessoas, sua atividade consistia em interrogá-las até que as idéias nascessem em suas mentes. Esta atividade genuinamente socrática ficou conhecida como maiêutica..

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