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10.Psicologia Social 4 Milgram

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8. Psicologia Social – Milgram 
 
 1
PSICOLOGIA SOCIAL 
 
OBEDECER A QUALQUER A CUSTO 
Milgram, S. (1963). Behavioral study of obedience. Journal of Abnormal and Social 
Psychology, 67, 371-378. 
 
Se alguém em uma posição de autoridade mandasse você dar um choque elétrico 
de 350 volts em outra pessoa porque esta outra pessoa respondeu incorretamente uma 
questão, você obedeceria? Eu também não. Se você encontrasse uma pessoa disposta a 
obedecer uma ordem assim, você provavelmente pensaria que ela é cruel ou sádica. Este 
estudo de Stanley Milgram, da Universidade Yale, pôs-se a examinar a ideia de 
obediência e produziu alguns resultados chocantes e perturbadores. 
 A pesquisa de Milgram sobre obediência é talvez a mais famosa e amplamente 
reconhecida em toda a história da psicologia. Ela é incluída em qualquer texto de 
psicologia geral e em qualquer texto de psicologia social. Se você falar com estudantes 
de psicologia, um número maior deles conhecerá este estudo do que qualquer outro. Este 
estudo deu origem a um livro de Milgram (1974) sobre a psicologia da obediência e a um 
filme sobre a própria pesquisa que é amplamente exibido em classes universitárias. Este 
experimento é uma referência não apenas para discussões de obediência, mas tem sido 
também altamente influente em questões de metodologia de pesquisa e da ética no uso de 
sujeitos humanos em pesquisa psicológica. 
 A ideia de Milgram para este projeto surgiu do desejo de investigar 
cientificamente como pessoas poderiam ser capazes de causar grandes danos a outros 
simplesmente por receberem ordens para fazer isto. Milgram referia-se especificamente 
às horríveis atrocidades cometidas sob ordem durante a Segunda Guerra Mundial e 
também, de modo mais geral, à desumanidade que têm sido perpetrada através da história 
por pessoas seguindo ordens de outros. Parecia a Milgram que, em algumas situações, a 
tendência a obedecer é tão profundamente arraigada e tão poderosa que ela cancela a 
habilidade da pessoa de se comportar moralmente, eticamente ou mesmo simpaticamente. 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 2
 Quando cientistas comportamentais decidem estudar algum aspecto complexo do 
comportamento humano, o primeiro passo deles é obter controle sobre a situação 
comportamental de tal modo que eles possam abordá-la cientificamente. Isto pode ser 
frequentemente o maior desafio para um pesquisador, uma vez que muitos eventos no 
mundo real são difíceis de recriar em uma situação de laboratório. Portanto, o problema 
de Milgram era como fazer com que uma pessoa mandasse outra pessoa ferir uma terceira 
pessoa, sem que ninguém se machucasse de verdade. 
 
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS 
A base teórica primária de Milgram para este estudo era que humanos têm uma 
tendência a obedecer outras pessoas que estão em uma posição de autoridade sobre eles, 
mesmo que, ao obedecer, eles violem seus próprios códigos de comportamento moral e 
ético. Ele acreditava que, por exemplo, muitos indivíduos que nunca causariam um dano 
físico a alguém iriam infligir dor a uma vítima se recebessem ordem de fazer isto, dada 
por uma pessoa que fosse percebida como uma poderosa figura de autoridade. 
 
MÉTODO 
Provavelmente a parte mais engenhosa deste estudo é a técnica que foi 
desenvolvida para testar o poder da obediência no laboratório. Milgram planejou um 
gerador de choque que parecia bastante assustador: um grande dispositivo eletrônico com 
30 interruptores rotulados com níveis de voltagem começando a 30 volts e aumentando 
até 450 volts, em intervalos de 15 volts. Estes interruptores estavam divididos em grupos 
identificados por rótulos como “choque leve,” “choque moderado” e “perigo: choque 
severo.” A idéia era que um sujeito poderia receber ordens para administrar choques 
elétricos a outra pessoa em níveis cada vez mais fortes. Observe, por favor, antes de 
concluir que o próprio Milgram era um verdadeiro sádico, que este era um gerador de 
choque com aparência bastante realista e que ninguém recebeu, de fato, qualquer choque 
doloroso. 
 Os sujeitos deste estudo foram 40 homens com idades entre 20 a 50 anos. Havia 
15 operários qualificados ou não, 16 homens que lidavam com negócios ou comércio e 
nove profissionais liberais. Eles foram recrutados através de anúncios de jornal e 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 3
solicitações enviadas diretamente por correio, procurando por sujeitos para serem 
participantes pagos em estudo sobre memória e aprendizagem na Universidade Yale. 
Cada sujeito participou do estudo individualmente. A fim de obter um número adequado 
de sujeitos, cada sujeito recebeu o pagamento de $4,50 (lembre-se, estes eram dólares de 
1963). Todos os sujeitos foram avisados claramente de que o pagamento era 
simplesmente por comparecer ao laboratório e era dado a eles, não importando o que 
acontecesse depois que eles chegassem. Isto foi feito para assegurar que os sujeitos não 
iriam se comportar de certas maneiras por estarem temerosos de não receberem 
pagamento. 
 Além dos sujeitos, havia dois outros participantes chave: um comparsa no 
experimento (um contador de 47 anos) representando o papel de um outro sujeito e um 
“ator” (vestido com um avental cinzento de laboratório, parecendo muito oficial) 
desempenhando o papel de experimentador. 
 Quando um participante chegava ao laboratório de interação social de Yale, ele 
sentava-se ao lado de outro “sujeito” (o comparsa). Obviamente, o verdadeiro propósito 
do experimento não era revelado aos sujeitos, uma vez que isto alteraria completamente o 
comportamento deles. Portanto, uma “história” era contada pelo experimentador, que 
explicava aos sujeitos que este era um estudo sobre o efeito da punição sobre a 
aprendizagem. Os sujeitos então faziam um sorteio com pedacinhos de papel tirados de 
dentro de um chapéu para determinar quem seria o professor e quem deveria ser o 
aprendiz. Este sorteio era arranjado de modo que o verdadeiro sujeito sempre se tornava 
o professor e o comparsa sempre era o aprendiz. Não se esqueça de que o “aprendiz” era 
um comparsa no experimento, como era também a pessoa que desempenhava o papel do 
“experimentador”. 
 O aprendiz era então levado para a sala ao lado e era, com o sujeito observando, 
preso a uma cadeira e conectado a eletrodos (sendo passada uma pasta de eletrodo para 
“evitar quaisquer bolhas ou queimaduras”) ligados ao gerador de choque na sala 
adjacente. O aprendiz, embora tivesse os braços presos, podia alcançar quatro botões 
marcados a, b, c e d, a fim de responder a questões feitas pelo professor na sala ao lado. 
 A tarefa de aprendizagem era detalhadamente explicada ao professor e ao 
aprendiz. Em síntese, ela envolvia o aprendiz memorizar conexões entre vários pares de 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 4
palavras. Era uma lista bastante extensa e não era uma tarefa fácil de memorização. O 
professor-sujeito lia a lista de pares de palavras e então testava a lembrança que o 
aprendiz tinha deles. O professor era instruído pelo experimentador a administrar um 
choque elétrico cada vez que o aprendiz respondia incorretamente. Mais importante, para 
cada resposta incorreta, o professor devia subir um nível no gerador de choque. Tudo isto 
era simulado tão realisticamente que nenhum sujeito suspeitava de que nenhum choque 
estava sendo dado de verdade. 
 As respostas do aprendiz-comparsa eram pre-programadas para serem corretas ou 
incorretas na mesma sequência para todos os sujeitos. Além disto, à medida que o nível 
da voltagem aumentava com as respostas incorretas, o aprendiz começava a gritar seu 
desconforto (em expressões pre-arranjadas, pre-gravadas, incluíndo o fato de que o 
coraçãodele o estava incomodando), e ao nível de 300 volts ele esmurrava a parede e 
exigia que o soltassem. Depois de 300 volts ele ficava em silencio completo e não mais 
respondia a questões. O professor era instruído a tratar esta ausência de resposta como 
resposta incorreta e continuar com o procedimento. 
 A maioria dos sujeitos, em algum ponto, virava-se para o experimentador 
solicitando orientação sobre se deveriam continuar com os choques. Quando isto 
acontecia, o experimentador mandava que os sujeitos continuassem, em uma série de 
ordens que aumentavam em severidade à medida que mais instigação se tornava 
necessária: 
 
Ordem 1: Por favor, continue. 
Ordem 2: O experimento requer que você continue. 
Ordem 3: É absolutamente essencial que você continue. 
Ordem 4: Você não tem escolha, você deve prosseguir. 
 
 Uma medida de obediência foi obtida simplesmente através do registro do nível 
de choque no qual cada sujeito recusou-se a continuar. Uma vez que havia 30 
interruptores no gerador, cada sujeito podia receber um escore de 0 a 30. Os sujeitos que 
prosseguiram até o final da escala foram denominados “sujeitos obedientes” e os que 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 5
interromperam o procedimento em algum ponto inferior foram denominados “sujeitos 
desafiadores”. 
 
RESULTADOS 
Será que os sujeitos obedeceriam às ordens do experimentador? A que ponto da 
escala de voltagem eles chegaram? Que previsão você poderia fazer? Pense no que você 
mesmo faria ou seus amigos, ou as pessoas em geral. Qual a porcentagem deles que você 
acha que continuariam a dar choques até o final dos 30 níveis: chegando a 450 volts – 
“perigo: choque severo”? Bem, antes de discutir os resultados reais do estudo, Milgram 
pediu a um grupo de alunos do último ano de graduação em psicologia da Universidade 
Yale, assim como a vários colegas, para fazer tal previsão. As estimativas variaram de 0 
por cento a 3 por cento, com uma estimativa média de 1,2%. Ou seja, foi previsto que não 
mais do que 3 pessoas em 100 chegariam a dar os choques de intensidade máxima. 
 A Tabela 1 sumaria os resultados chocantes. Sob ordens do experimentador, cada 
sujeito continuou pelo menos até o nível de 300 volts, que foi quando o comparsa 
esmurrou a parede para ser solto e parou de responder. Porém, mais surpreendente é o 
número de sujeitos que obedeceu às ordens para continuar até o topo da escala. 
 Embora 14 sujeitos tenham desafiado as ordens e interrompido o procedimento 
antes de chegar à voltagem máxima, 26 dos 40 sujeitos, 65 por cento, seguiu as ordens do 
experimentador e prosseguiu até o topo da escala de choque. Isto não quer dizer que os 
sujeitos estivessem tranquilos ou felizes com o que estavam fazendo. Muitos exibiram 
sinais de extremo estresse e preocupação com o homem que recebia os choques e mesmo 
ficaram com raiva do experimentador. Mesmo assim, eles obedeceram. 
 Houve preocupação de que alguns sujeitos poderiam sofrer desconforto 
psicológico por terem passado pela experiência penosa de dar choques em outra pessoa, 
especialmente depois que o aprendiz cessou de responder na última terça parte do 
experimento. Para ajudar a aliviar esta ansiedade, depois que os sujeitos terminaram o 
experimento, eles receberam uma explicação completa (uma entrevista final, que em 
inglês é denominada debriefing: a troca de informações após uma missão) sobre o 
verdadeiro propósito do estudo e de todos os procedimentos, incluindo a mentira que 
havia sido usada. Além disto, os sujeitos foram entrevistados sobre os sentimentos e 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 6
pensamentos deles durante o procedimento e o comparsa “aprendiz” foi trazido para uma 
reconciliação amigável com cada sujeito. 
 
DISCUSSÃO 
A discussão que Milgram fez dos resultados focalizou dois pontos principais. O 
primeiro foi a força surpreendente da tendência dos sujeitos a obedecer. Estes eram 
pessoas médias, normais, que concordaram em participar de um experimento sobre 
aprendizagem, e não indivíduos cruéis ou sádicos. Milgram observa que desde a infância 
estes sujeitos haviam aprendido que é imoral machucar outros contra a vontade deles. 
Então, porque eles fizeram isto? O experimentador era uma pessoa em uma posição de 
autoridade, mas se você pensar a respeito, quanta autoridade ele realmente tinha? Ele não 
tinha poder para obrigar outros a cumprir as ordens dele e os sujeitos não perderiam nada 
se recusando a cumprir ordens. Claramente a situação tinha sua própria força que, de 
algum modo, tornava a obediência significativamente maior do que o esperado. 
 A segunda observação chave feita durante o curso do estudo foi a extrema tensão 
e ansiedade manifesta pelos sujeitos à medida que eles obedeciam às ordens do 
experimentador. Novamente, seria possível esperar que este desconforto pudesse ser 
aliviado simplesmente recusando-se a prosseguir, mas isto não foi o que aconteceu. 
Milgram cita um observador (que observou um sujeito através de um espelho de visão 
unidirecional): 
 
Eu observo um homem de negócios maduro e inicialmente equilibrado entrar no 
laboratório, sorridente e confiante. Dentro de 20 minutos ele havia se reduzido a 
uma ruína que tremia, gaguejava e estava se aproximando rapidamente de um 
ponto de colapso nervoso… Num dado momento ele empurrou a testa com o 
punho e murmurou, “Meu Deus! Vamos parar com isso.” E no entanto ele 
continuou a responder a cada palavra do experimentador e obedeceu até o fim. (p. 
377) 
 
 No final do seu artigo Milgram listou vários pontos para tentar explicar porque 
esta situação particular produziu um grau tão alto de obediência. Os sujeitos teriam tido o 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 7
seguinte ponto de vista, conforme sumariado por Milgram: (1) se está sendo promovido 
por Yale, deve estar em boas mãos, e quem sou eu para questionar uma instituição tão 
importante; (2) as metas do experimentador parecem ser importantes e, portanto, uma vez 
que eu me apresentei como voluntário, farei minha parte para ajudar a atingir estas metas; 
(3) o aprendiz, afinal, também veio aqui voluntariamente e tem uma obrigação com o 
projeto também; (4) foi só por acaso que eu fiquei como professor e ele como aprendiz – 
nós sorteamos e poderia muito bem ter sido o contrário; (5) eles estão me pagando para 
fazer isto, é melhor que eu faça o meu trabalho; (6) eu não sei o bastante a respeito dos 
direitos de um psicólogo e seus sujeitos, portanto, eu vou confiar na decisão dele sobre 
isto; e (7) eles disseram que os choques são dolorosos, mas não perigosos. 
 
TABELA 1 Nível de Choques Dados pelos Sujeitos. 
 
NÚMERO DE VOLTS A 
SEREM DADOS 
NÚMERO DE SUJEITOS QUE SE 
RECUSARAM A CONTINUAR NESTE 
NÍVEL 
Choque leve 
15 0 
30 0 
45 0 
60 0 
Choque moderado 
75 0 
90 0 
105 0 
120 0 
Choque forte 
135 0 
150 0 
165 0 
180 0 
Choque muito forte 
195 0 
210 0 
225 0 
240 0 
Choque intenso 
255 0 
270 0 
285 0 
300 5 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 8
Choque de extrema intensidade 
315 4 
330 2 
345 1 
360 1 
Perigo: choque severo 
375 1 
390 0 
405 0 
420 0 
XXX -- -- -- 
435 0 
450 26 
(extraído de Milgram, 1963, p. 376) 
 
 
SIGNIFICADO DOS RESULTADOS 
As descobertas de Milgram têm se sustentado muito bem nos cerca de 30 anos 
desde que o artigo foi publicado. O próprio Milgram repetiu o procedimento com sujeitos 
similares for a do ambiente de Yale, com estudantes universitários que não recebiam 
pagamento e se apresentaram como voluntários e também com mulheres como sujeitos, e 
encontrou os mesmos resultados em cada uma destas vezes. 
 Além disto, ele expandiu ainda mais suas descobertasdeste estudo, conduzindo 
uma série de experimentos relacionados, planejados para revelar as condições que 
promovem ou limitam a obediência (ver Milgram, 1974). Ele descobriu que a distância 
física e, portanto, emocional, entre a vítima e o professor alterava a quantidade de 
obediência. O nível mais alto de obediência (93 por cento indo até o topo da escala de 
voltagem) ocorria quando o aprendiz ia para uma outra sala e não podia ser visto ou 
ouvido). Quando o aprendiz e o sujeito estavam na mesma sala e o sujeito tinha que 
forçar a mão do aprendiz até uma placa de choque, a taxa de obediência caiu para 30 por 
cento. 
 Milgram ainda descobriu que a distância física da figura de autoridade também 
influenciava a obediência. Em uma condição, o experimentador ficava for a da sala e 
passava suas ordens ao sujeito por telefone. Neste caso, a obediência caiu para apenas 21 
por cento. 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 9
 Finalmente, em um tom mais positivo, quando permitia-se aos sujeitos que 
punissem o aprendiz usando qualquer nível de choque que eles quisessem, nenhum 
sujeito pressionou qualquer interruptor acima do No. 2, ou seja, 45 volts. 
 
CRÍTICAS 
A pesquisa de Milgram tem sido extremamente influente na nossa compreensão 
da obediência, mas teve também efeitos de longo alcance na área do tratamento ético de 
sujeitos humanos. Embora ninguém tenha recebido qualquer choque, como você supõe 
que você iria se sentir, ao saber que você esteve disposto a dar choques em alguém 
(possivelmente até a morte) simplesmente porque uma pessoa em um avental de 
laboratório disse para você fazer isto? Críticos dos métodos de Milgram (e.g., Baumrind, 
1964; Miller, 1986) afirmam que foram criados níveis inaceitáveis de estresse nos 
sujeitos durante as sessões experimentais. Além disto, eles argumentaram que existiu o 
potencial para efeitos duradouros. Quando a mentira é revelada aos sujeitos ao final das 
provações deles, eles podem se sentir usados, embaraçados e possivelmente, na vida 
futura deles, sem confiança em psicólogos ou em figuras legítimas de autoridade. 
 Outra linha de crítica focalizou a validade das descobertas de Milgram. A base 
para esta crítica era que, uma vez que os sujeitos tinham uma relação de confiança e 
bastante dependente em relação ao experimentador, e sendo o laboratório um ambiente 
não familiar, a obediência lá encontrada não representa a obediência na vida real. 
Portanto, argumentam os críticos, os resultados dos estudos de Milgram foram Não 
apenas inválidos mas, por causa desta ausência de validade, o tratamento a que os 
sujeitos foram expostos não poderia ser justificado. 
 Milgram respondeu às críticas fazendo um acompanhamento dos sujeitos depois 
que eles participaram. Ele encontrou que 84 por cento dos participantes mostraram-se 
satisfeitos por terem participado e apenas cerca de um por cento lamentou a experiência. 
Além disso, um psiquiatra entrevistou 40 dos sujeitos que foram considerados como 
tendo ficado mais desconfortáveis no laboratório e concluiu que nenhum deles sofreu 
quaisquer efeitos duradouros. Quanto à crítica de que suas descobertas de laboratório não 
refletiam a vida real, Milgram disse: “Uma pessoa que vêm para o laboratório é um 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 10
adulto ativo e exercendo escolhas, capaz de aceitar ou rejeitar as prescrições para ação 
ditadas a ele” (Milgram, 1964, p. 852). 
 Os estudos de Milgram relatados aqui têm sido um ponto focal no contínuo debate 
sobre a ética envolvendo sujeitos humanos. De fato, pode-se discutir se esta pesquisa tem 
sido mais influente na área da psicologia social e obediência ou na formação de políticas 
sobre o tratamento ético de sujeitos na pesquisa psicológica. 
 
APLICAÇÕES RECENTES 
A extensão da influência que o projeto de Milgram sobre obediência continua 
exercer sobre a pesquisa atual pode ser melhor apreciada através de uma breve seleção 
comentada de estudos recentes que foram motivados primariamente pelos métodos e 
resultados iniciais de Milgram. Como tem acontecido todo ano desde o início dos anos 
60, quando Milgram conduziu suas pesquisas, estes estudos são divididos entre tentativas 
de elaboção e refinamento sobre as tendências das pessoas a obedecer figuras de 
autoridade e o debate onipresente sobre a ética do uso de mentira em pesquisa 
envolvendo sujeitos humanos. 
 Dois artigos examinaram, a partir de uma perspectiva histórica, o uso da mentira 
em experimentos psicológicos. Um destes artigos focalizou o nível de preocupação com 
questões éticas que os pesquisadores das ciências sociais revelam nos seus relatos 
publicados de pesquisas (McGaha & Korn, 1995). Estes autores encontraram, ao rever 
estudos em periódicos relacionados com psicologia, que, historicamente, o interesse na 
ética em pesquisa era bastante baixo até meados dos anos 70, quando começou a haver 
um aumento significativo no número de artigos relacionados a preocupações éticas. Eles 
argumentam que esta mudança está enraizada na “emergência de um interesse ético em 
termos do clima social de preocupação com os direitos humanos nos anos 60 e 70, a 
revisão dos princípios éticos da Associação Americana de Psicologia feita em 1973 (ver 
prefácio deste livro para uma discussão e uma atualização mais recente destes princípios) 
e o desenvolvimento de uma regulação pesquisa com participantes humanos pelo governo 
federal norte-americano” (p. 147; material entre parênteses acrescentado). Outra visão 
interessante desta discussão ética pode ser encontrada em um artigo recente de Herrera 
(1997). Herrera escreve que, historicamente, o uso da mentira em experimentos de 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 11
psicologia tem sido frequentemente posto como uma parte necessária de certos estudos. 
Contudo, ele argumenta que, na realidade, tais mentiras podem ter sido devidas muito 
mais a uma escolha consciente feita pelos pesquisadores com base no valor que eles 
davam às pessoas em relação à investigação científica. Ele prossegue fazendo a seguinte 
sugestão provocativa: “Comentaristas frequentemente citam o trabalho de Stanley 
Milgram nos anos 60 como o precursor de uma mudança de atitudes em relação à 
mentira, e sugerem que os psicólogos de hoje se pautam por princípios éticos mais 
esclarecidos. É difícil encontrar evidência para apoiar este retrato” (p. 23, itálicos 
adicionados). 
 Então o que deveria ser feito, se é que há algo a ser feito, para proteger os sujeitos 
de práticas enganosas irresponsáveis na pesquisa psicológica, permitindo, ao mesmo 
tempo, algum nível de engano quando absolutamente necessário para o avanço 
científico? Um terceiro estudo (Wendler, 1996) busca responder a esta questão propondo 
que os sujeitos em estudos envolvendo engano recebam um nível aumentado de 
“consentimento informado” (ver a discussão deste conceito no prefácio deste livro). Isto 
significaria que, antes que você concordasse em ser um sujeito em um experimento 
utilizando mentira, você seria informado da intenção do estudo de usar a mentira. “Este 
abordagem em termos de ‘consentimento de segunda ordem’ para a aceitabilidade da 
mentira,” argumenta Wendler, “Representa nossa melhor chance de reconciliar respeito 
pelos sujeitos com a necessidade científica ocasional por pesquisa enganosa” (p. 87). 
 Tentativas recentes de refinar e fortalecer as descobertas de Milgram pode ser 
vistas melhor em um número especial do Journal of Social Issues, que foi dedicado a 
artigos relacionados aos estudos de Milgram sobre obediência. Exemplos da amplitude de 
artigos publicados neste número especial incluem um estudo de John Darley (cuja 
pesquisa é ilustrada no texto anterior) comparando aobediência “construtiva” com a 
“destrutiva” (o estudo de Milgram representava o segundo tipo); um exame transcultural 
da obediência nociva no ambiente de trabalho (denominada “crimes de obediência”) 
comparando sujeitos em Washington, Moscou e Tóquio; e um estudo fascinante 
mostrando como a obediência pode produzir discriminação racial em práticas de 
contratação (Brief, Buttram, Elliot, Reizenstein, & McCline, 1995; Darley, 1995; 
Hamilton & Sanders, 1995). 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 12
 Finalmente, um estudo que nos retorna de fato ao ponto de partida de Milgram: o 
Holocausto (Blass, 1993). Blass adota a perspectiva de que a pesquisa influente de 
Milgram pode ter deixado a impressão de que a pressão situacional supera 
completamente os fatores de personalidade na determinação da obediência e que esta 
impressão não é totalmente acurada. Blass propõe que variáveis disposicionais tais como 
características de personalidade e sistemas duradouros de crenças também podem 
predizer a obediência. Ele sugere que um quadro mais acurado do processo de obediência 
à autoridade deve considerar a interação de influências externas e internas. 
 
REFERÊNCIAS 
 
Baumrind, D. (1964). Some thoughts on the ethics of research: After reading Milgram’s 
“Behavioral Study of Obedience.” American Psychologist, 19, 421-423. 
Blass, T. (1993). Psychological perspectives on the perpetrators of the Holocaust, the role 
of situational pressures, personal dispositions and their interactions. Holocaust 
and Genocide Studies, 7, 30-50. 
Brief, A., Buttram, R., Elliot, J., Reizenstein, R., & McCline, R. (1995). Releasing the 
beast: A study of compliance with orders to use race as a selection criterion. 
Journal of Social Issues, 51(3), 177-193. 
Darley, J. (1995). Constructive and destructive obedience: A taxonomy of principal-agent 
relationships. Journal of Social Issues, 51(3), 67-88. 
Hamilton, V., & Sanders, J. (1995). Crimes of obedience in the workplace: Surveys of 
Americans, Russians, and Japanese. Journal of Social Issues, 51(3), 67-88. 
Herrera, C. (1995). A historical interpretation of deceptive experiments in American 
Psychology. History of the Human Sciences, 10(1), 23-36. 
McGaha, A., & Korn, J. (1995). The emergence of interest in the ethics of psychological 
research with humans. Ethics and Behavior, 5(2), 147-159. 
Milgram, S. (1964). Issues in the study of obedience: A reply to baumrind. American 
Psychologist, 19, 448-452. 
Milgram, S. (1974). Obedience to authority. New York: Harper & Row. 
8. Psicologia Social – Milgram 
 
 13
Miller, A. G. (1986). The obedience studies: A case study of controversy in social 
science. New York: Praeger. 
Wendler, D. (1996). Deception in medical and behavioral research: Is it ever acceptable? 
Milbank Quarterly, 74(1), 87.

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