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Resumo de Psicologia aplicada ao direito

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Resumo de Psicologia 
Psicologia cientifica e senso comum 
Entende-se por Psicologia do senso comum ou Psicologia ingênua, o conjunto de ideias, 
crenças e convicções transmitidas culturalmente e que cada indivíduo possui a respeito de 
como as pessoas funcionam, se comportam, sentem e pensam. Essas crenças e convicções que 
estão profundamente arraigadas no ser humano carecem de fundamentação e estudo 
experimental, pois se sustentam nas observações do dia a dia e servem de base para as 
decisões que as pessoas tomam no cotidiano. Do ponto de vista da Psicologia ingênua, 
conhecer alguma coisa é estar consciente dela. Nesse sentido, a teoria ingênua não se refere a 
ideias, percepções, motivos ou sentimentos inconscientes. Em contraponto à teoria do senso 
comum, a teoria científica se dedica à descrição, à explicação, à previsão e ao controle do 
desenvolvimento do seu objeto de estudo. 
A ciência psicológica, para ratificar as exigências naturalistas, buscou no ser humano aquilo 
que respondesse às indagações quantitativas e empíricas, tendo como ferramenta central o 
comportamento humano. Ao se firmar apenas neste solo naturalista, acabou negando o 
próprio homem em sua humanidade, reduzindo-o àquilo que pudesse ser visto e medido. 
Objeto de estudo da Psicologia 
Como já vimos rapidamente, no item anterior, o objeto de estudo da Psicologia é 
indiscutivelmente o Homem em sua integralidade/humanidade. Homem, enquanto ser 
simbólico, capaz de perceber, de refletir, de sentir e de significar e resignificar o mundo 
constantemente. Sua capacidade de linguagem e raciocínio o possibilita transformar suas 
relações com o mundo e com os outros homens. Enquanto ser histórico, é capaz de criar 
história, de perceber passado, presente e futuro, de ter planos, projetos, medos, sonhos, 
expectativas e desejos. Dois grandes vetores estabelecem os caminhos para o fazer 
psicológico: 
-A concepção do ser humano 
Nesse instante, tentando entender os objetos da Psicologia, cabe uma indagação: Quem é, 
então, o Homem na Psicologia? 
• Há os que atribuem as características humanas a nossa herança genética, e o seu 
desenvolvimento a um processo de maturação. Para esses, os fenômenos psicológicos são 
basicamente fenômenos orgânicos (neuropsicológicos) como: a percepção, a memória, as 
emoções, a atenção, dentre outros. 
•. Outros pontuam o meio ambiente como o responsável pelo desenvolvimento de habilidades 
e de competências. 
- Modo de abordar, intervir e escutar o homem 
O segundo vetor refere-se ao modo de abordar, intervir e escutar o Homem. No processo de 
escuta se expressa tanto o que se deseja escutar, o que se pede para falar e o que é falado, o 
que se oferta e o que se demanda. Nesse sentido, o que é privilegiado no processo de escuta, 
o que é desprezado, silenciado ou acolhido, diz respeito às implicações e aos encontros que se 
efetuam entre os sujeitos em questão. Nessa ótica, dentre milhares de possibilidades de 
construção de uma entrevista, de uma escuta, duas delas nos interessam particularmente: a 
escuta-surda e a escuta-experimentação. 
 
Teorias da Psicologia 
- Psicanalise 
O método básico da Psicanálise é a interpretação da transferência e da resistência com a 
análise da livre associação. O analisado, numa postura relaxada, é solicitado a dizer tudo o que 
lhe vem à mente. Sonhos, esperanças, desejos e fantasias são de interesse, como também as 
experiências vividas nos primeiros anos de vida em família. Escutando o analisado, o analista 
tenta manter uma atitude empática de neutralidade. Uma postura de não julgamento, visando 
a criar um ambiente seguro. Desde Freud, a Psicanálise se desenvolveu de muitas maneiras e, 
atualmente, há diversas escolas que mesmo discordando em alguns pontos da teoria freudiana 
não refutaram a ideia de inconsciente, pedra basilar da Psicanálise, e criaram suas próprias 
linhas de pesquisa. 
- Behaviorismo 
O termo behaviorismo vem do inglês behavior, comportamento. Em português, podemos dizer 
tanto behaviorismo como comportamentalismo. Skinner, fazendo uso de experimentos com 
animais, desenvolveu o conceito de condicionamento operante tomando como base as noções 
de punição, reforço positivo e reforço negativo. Em outras palavras, um comportamento vai 
ser controlado pelo que aconteceu antes e pelo que pode acontecer depois. Para o psicólogo, 
a Psicologia não poderia utilizar elementos não observáveis para explicar a conduta humana. 
Por exemplo, um aluno ao ser demandado a falar e apresentar em sala de aula seu ponto de 
vista, o faz com argumentos claros, transparentes, e por isso é valorizado e reconhecido pelo 
professor e colegas, tende a assumir esse comportamento como aceito e adequado e 
consequentemente repeti-lo. 
 
- Humanista 
 
A Psicologia Humanista não tem como propósito fazer uma revisão ou adaptação de conceitos 
psicológicos já existentes, mas de ser uma nova contribuição na área da Psicologia. Seus 
principais teóricos foram Carl Rogers e Abraham Maslow. Na esfera organizacional, Maslow, 
em 1962, desenvolveu o conceito de motivação atrelado ao modelo de hierarquia de 
necessidades construída com base numa pirâmide, na qual as necessidades são assim 
firmadas. Na base na pirâmide estão as necessidades fisiológicas, em seguida, as necessidades 
de segurança, necessidades sociais, de estima, e no topo da pirâmide, as de auto realização. 
 
Em outras palavras, primeiro buscamos satisfazer: 
A -Necessidades fisiológicas — como fome e sono; 
B -Segurança — emprego, família, saúde; 
C -Amizade, relacionamentos amorosos; 
D -Necessidades de estima; 
E -Realização pessoal. 
 
- Gestalismo 
 
O gestaltismo, influenciado pelo fisiologismo, é uma corrente que deu uma importante 
contribuição na construção da Psicologia como ciência. O princípio básico da Teoria Gestalt é 
que a organização dos dados que nos cercam é parte do processo perceptivo. Para os 
psicólogos dessa linha teórica, toda percepção é uma gestalt, um todo que não pode ser 
compreendido pela separação em partes. Acreditam que uma pessoa percebe uma situação 
inteira em vez de seus elementos individuais. Assim, o todo é mais do que meramente a soma 
dos elementos, porque as pessoas tendem a organizar os elementos de uma situação e depois 
acrescentam os elementos da experiência passada. Isto é, o todo é mais que a soma das 
partes. Assim, de acordo com os pressupostos da Gestalt, para aprender um assunto, você 
deve, em primeiro lugar, ter uma visão de conjunto do texto, do fato, do livro e depois estudar 
as partes. Finalmente, ao juntar as partes, numa síntese, vai verificar que a totalidade 
(Gestalt), a compreensão, o entendimento do texto não são apenas a soma das partes que 
você estudou. Segundo esses teóricos, as informações do meio externo são processadas 
em dois níveis: sensação e percepção. Apesar de ser possível diferenciá-los, sentir e perceber 
é, na realidade, um processo único, que é o da recepção e interpretação de informações. 
Entretanto, percepção não deve ser confundida com sensação. 
Sensação é o dado não processado recebido por um indivíduo através dos 
sentidos, é como uma simples consciência dos componentes sensoriais e das 
dimensões da realidade (mecanismo de recepção de informações). 
Percepção supõe as sensações acompanhadas dos significados que lhes 
atribuímos como resultado da nossa experiência anterior. Pode-se dizer que 
percepção é atribuição de significado à informação recebida pelos sentidos. 
 
Desenvolvimento humano 
 
Desenvolvimento é um processo que tem início na concepção e só termina com a morte. O 
estudo do desenvolvimento humano é o conhecimento da história do homem desde o seu 
nascimento (mesmo antes dele), até a sua morte. Na verdade, é compreender o que ocorre 
em cada idade, cada fase da vida. Os psicólogos do desenvolvimento estudam a interação 
entre os padrões biologicamentepré-determinados e um ambiente dinâmico, em constante 
mudança. Mas, quais seriam os fatores importantes para o desenvolvimento humano? Os 
fatores básicos são dois: a hereditariedade e o ambiente. A hereditariedade é formada pela 
composição genética do indivíduo que influencia o crescimento e o desenvolvimento ao longo 
da vida. O ambiente pode ser constituído das influências dos familiares, das amizades, a 
educação, a nutrição e todas as experiências as quais as pessoas estão expostas. 
Sem a presunção de esgotar o tema, e muito menos de afirmar que esta ou aquela teoria é a 
melhor ou a mais completa para explicar o desenvolvimento humano, apresentaremos 
algumas abordagens que nos parecem ser interessantes para a utilização em análises jurídicas, 
nesta área. Freud (já apresentado no capítulo anterior), no início do século XX, realizou 
estudos sobre o desenvolvimento humano, que geraram polêmica no meio científico. Para 
esse autor, os primeiros anos de vida são fundamentais na formação da personalidade. De 
acordo com Freud, é a partir da infância que se estrutura a vida adulta, tanto para a saúde 
mental e adaptação como para o comportamento patológico. Para ele, o ser humano passa 
por diferentes estágios, no seu desenvolvimento, que são marcados pela evolução da sua 
psicossexualidade. 
Um dos seguidores da Escola criada por Freud (Psicanálise), Erik Erikson destacou a 
importância da sociedade para o desenvolvimento humano. Para Freud, como já vimos, as 
primeiras experiências na infância moldam o indivíduo; para Erikson, o desenvolvimento 
continuaria por toda a vida e seria influenciado pela sociedade. Sendo assim, o 
desenvolvimento para Erikson tem um aspecto psicossocial e está dividido em oito estágios 
durante o ciclo vital. Cada estágio envolve uma crise que surge de acordo com a maturação do 
indivíduo e que deve ser resolvida de forma satisfatória para um desenvolvimento saudável. 
 
 
 
 
 
Alguns autores da Psicologia Geral e do Desenvolvimento, como Holmes (1977), Bee (1997) e 
Tyson (1993), citados por Trindade (2007), dividiram os estágios do desenvolvimento e 
descreveram as características de cada etapa, segundo aspectos físicos, intelectuais, sociais e 
emocionais. Acreditamos que seja um material importante para o seu aprendizado, nesta área, 
e vamos apresentá-lo a seguir: 
 
 
 
 
 
 
Personalidade 
 
Todos nós ouvimos, lemos e usamos, muitas vezes, a palavra personalidade. Geralmente, 
falamos: “Fulano tem uma personalidade forte. ” E “Fulana, coitada, não tem personalidade”. 
Mas será que empregamos esse termo como o psicólogo estuda e entende? Existem vários 
significados para a palavra personalidade, dependendo do campo de estudo em que ela esteja 
sendo usada, por exemplo, no Direito, na Filosofia, na Teologia, na Sociologia, na Psicologia 
etc. Vamos, então, entender o que o psicólogo considera personalidade e como ele a avalia. 
Primeiro, vejamos a origem da palavra. A palavra personalidade parece ter se originado de 
persona. Este era o nome dado à máscara que os atores do antigo teatro romano usavam para 
representar seus papéis. Você deve estar percebendo que, pela origem da palavra, estamos 
falando de aparência externa da pessoa, assim como falamos no início do Fulano e da Fulana. 
Para os psicólogos, de uma forma geral, a personalidade pode ser definida como um padrão de 
características duradouras que produzem consistência nas atitudes, comportamentos e 
individualidade. Explicando melhor, nossa personalidade é única e nos diferencia dos outros. 
Para o profissional da área do Direito, é importante um conhecimento geral destes estudos, 
para que, em um trabalho interdisciplinar, este profissional possa entender o que o psicólogo 
está interpretando e, desta forma, possa utilizar melhor esse conhecimento em suas 
argumentações. 
 
Abordagens psicodinâmicas da personalidade 
Essas abordagens se baseiam na ideia de que a personalidade é formada por forças e conflitos 
internos sobre as quais as pessoas têm pouco conhecimento e, consequentemente, sobre os 
quais têm pouco controle. Freud descreveu a estrutura da personalidade em três 
componentes que são apresentados, de forma didática, em separado, mas são interativos e 
relacionados a aspectos conscientes e inconscientes. São eles: Id, Ego e Superego. Eles são 
conceitos abstratos que descrevem uma interação que motiva o nosso comportamento. Em 
linhas gerais, e para não nos estendermos em apenas uma teoria, o Id é a parte mais primitiva 
da personalidade, buscando o máximo de satisfação. O Ego busca equilibrar os desejos do Id e 
a realidade do mundo objetivo externo, mantendo o indivíduo em segurança e integrado à 
sociedade. E o Superego representa o que é certo e errado em uma sociedade, conforme o 
que foi apresentado pelo ambiente, que no início do desenvolvimento está representado pela 
família, professores e pessoas significativas para o indivíduo. 
 
Abordagens sóciocognitivas 
Estas abordagens enfatizam a influência da cognição — pensamentos, sentimentos, 
expectativas e valores — e da observação do comportamento de outras pessoas na 
determinação da personalidade. Por exemplo, uma criança que vê uma pessoa importante na 
sua vida se comportando de forma agressiva, tenderá a se comportar de forma semelhante. 
Nessas teorias são desenvolvidos estudos, principalmente, sobre a autoeficácia e a 
autoestima. 
 
Abordagens Humanistas 
Os teóricos desta abordagem acreditam que a base da personalidade está na habilidade 
humana consciente e automotivada de mudar e se aprimorar. A bondade é inerente às 
pessoas, assim como a tendência humana de buscar propósitos mais elevados. As pessoas têm 
uma necessidade fundamental de buscar a autorrealização. Esse processo pode ser vitalício 
para alguns, e outros podem nunca alcançar. Outra necessidade básica, nessas teorias, é o 
desejo de ser amado e respeitado. Um aspecto importante, nessas abordagens, diz respeito à 
consideração positiva incondicional em relação ao outro. 
 
Abordagens biológicas e evolucionistas 
Essas abordagens sugerem que os componentes da personalidade são herdados. A 
personalidade é determinada, em parte, pelos nossos genes. Complementando, as 
características da personalidade que tiveram sucesso entre os nossos ancestrais apresentam 
mais chances de serem preservadas e passadas para as próximas gerações. 
 
Abordagem dos traços da personalidade 
Você deve estar se perguntando, o que seriam traços e o que eles têm a ver com a nossa 
personalidade. Traços, para os teóricos dessa abordagem, seriam características do 
comportamento consistentes, que aparecem em diferentes situações. Estes estudos buscam 
identificar os traços básicos que formam a personalidade das pessoas. O grau em que os traços 
se apresentam nas pessoas variam. O principal desafio, para esses teóricos é identificar os 
principais traços predominantes em nossa personalidade. Estes estudos explicam a 
personalidade em termos de traços, mas diferem em termos de quais e quantos traços 
são considerados mais flexíveis. Uma das abordagens mais conhecidas nesta área de estudo é 
a dos cinco traços ou fatores. Estes traços são: socialização/amabilidade, extroversão, 
realização/conscenciosidade, abertura para experiências, e neuroticismo. 
Os testes psicológicos são medidas criadas para avaliar o comportamento e a personalidade 
utilizadas pelos psicólogos. Eles devem ter fidedignidade e validade. Mas, será que podemos 
medir tudo o que somos? É lógico que não. No entanto, algumas características podem ser 
avaliadas. Vejamos, resumidamente, com quais instrumentos o psicólogo pode avaliar estas 
características: 
 
 
 
Psicologia social 
No Capítulo 1, você teve contato com a Psicologia Social pelo viés da matriz sócio-histórica. 
Podemos entender, também, a Psicologia Social como um estudo das condutas humanas que 
são influenciadaspor outras pessoas. Isto é, o seu objeto de estudo, somos nós mesmos, 
participando das mais variadas interações sociais. Como bem esclarece o psicólogo 
social Helmut Krüger. 
Um dos principais temas de pesquisa da Psicologia Social é o das atitudes sociais, que veremos 
a seguir. 
Definição de atitudes sociais 
Para o senso comum, atitude é sinônimo de comportamento. Por exemplo: Fulana tomou uma 
atitude com relação ao seu chefe. Em geral, a atitude de tornar a situação clara é coerente 
com o comportamento, por exemplo, de Fulana ir conversar com seu chefe. Você já deve ter 
percebido que atitude é uma predisposição mental e comportamento é a ação. Para ficar mais 
claro, podemos entender atitude como uma organização duradoura de pensamentos e crenças 
(cognições), dotada de uma carga afetiva pró ou contra um objeto social que predispõe o 
indivíduo para a ação. Os componentes das atitudes então serão: a cognição, o afeto e o 
comportamento. 
Retornando ao nosso exemplo anterior, a atitude de Fulana de gostar das situações 
esclarecidas tem origem nas suas experiências subjetivas, que incluíram uma avaliação da 
situação, influenciando o seu comportamento, que é ir conversar com seu chefe. As atitudes 
são construídas ao longo da história de vida do sujeito. São aprendidas por meio da vivência 
da pessoa, da imitação e da observação. Neste momento, torna-se necessário apresentar o 
seguinte esclarecimento: conhecer, poder explicar e prever são acontecimentos ligados a 
variáveis ideológicas, políticas e morais, que fazem parte de nossas atitudes. Agora, já 
podemos explicar preconceito, estereótipo e discriminação. 
 
Preconceito, estereótipo e discriminação 
Considera-se preconceito uma atitude que apresenta duas características específicas: se forma 
sempre em torno de um núcleo afetivamente negativo; e é dirigido contra um grupo de 
pessoas. Estamos falando de preconceitos étnicos, religiosos, políticos, culturais, ideológicos e 
profissionais. Pela sua amplitude e gravidade, é de interesse social investigar as suas causas e 
construir técnicas psicológicas como forma de prevenção, controle ou extinção. Temos 
também os estereótipos que são colocações de certas características a pessoas pertencentes a 
determinados grupos sociais. Os estereótipos podem ser definidos por atitudes positivas ou 
negativas, em relação a estas pessoas. Comece a pensar em alguns estereótipos positivos e 
negativos. E, por fim, a discriminação, que é o comportamento que deriva do preconceito e do 
estereótipo. Geralmente, a discriminação é negativa e pode intensificar-se em situações de 
crise (política, econômica, social e emocional). Mas por que razão existem estereótipos, 
preconceitos e discriminações? Para a Psicologia, os estereótipos nos permitem simplificar 
a realidade social. Por meio deles, reconhecemo-nos em determinado grupo e nos 
diferenciamos de outros grupos. Sempre que nos sentimos pertencentes a um grupo, 
desenvolvemos sentimentos de proteção com quem nos identificamos, e de hostilidade e 
rejeição em relação aos diferentes de nós. Como já vimos, a discriminação é o resultado dos 
dois fatores descritos, preconceito e estereótipo. Em cada cultura, em cada época, 
existem diferentes formas de discriminação e diferentes grupos-vítimas desta atitude. E o 
estigma? Qual a sua relação com todos estes conceitos? 
 
Estigma 
A sociedade estabelece um modelo de categorias e tenta catalogar as pessoas de acordo com 
os atributos considerados naturais e comuns para ela. Alguém que demonstra pertencer a uma 
categoria com atributos incomuns ou diferentes e pouco aceitos pelo grupo social, ou em 
casos extremos, é considerado mal e perigoso. Dessa forma, essa pessoa estigmatizada é 
anulada quanto à sua produção técnica, científica e humana. A sociedade limita e delimita a 
ação do sujeito estigmatizado, marcando-o como desacreditado e determinando os malefícios 
que pode causar. Quanto mais visível for a “marca”, menor será a possibilidade de reverter 
esta situação. E agora, chegamos aos conceitos de normalidade e anormalidade ou 
comportamento patológico. 
 
História da família 
O ser humano ao nascer é completamente dependente. Para se manter vivo, ele necessita de 
outro ser humano que o alimente, o mantenha aquecido, cuide dele física e emocionalmente. 
A família é, em princípio, o primeiro grupo ao qual o ser humano pertence. A família, enquanto 
instituição, pode ser entendida como uma construção social que varia ao longo da história da 
humanidade, portanto, vem sofrendo algumas importantes modificações no decorrer dos 
tempos. Na civilização romana antiga, a consanguinidade (o parentesco biológico) não era 
necessária para o pertencimento à família. Se partirmos da família patriarcal, observaremos 
que esta não era composta apenas de marido, mulher e filhos. Ela se caracterizava como 
família extensa e poderia incluir parentes, criados, escravos, e todos aqueles que vivessem sob 
o comando do patriarca. O sentimento de família, como nós o conhecemos, começou a ser 
desenvolvido a partir do século XVI. Antes disso, a família não era entendida como um espaço 
privado. As relações sociais não permitiam a intimidade da vida familiar, e a casa da família era 
considerada, socialmente, um lugar público. A família se firmou como base de sustentação da 
sociedade. A família patriarcal evoluiu e deu lugar à família caracterizada como um grupo 
vinculado pelo afeto. A família moderna passou a ser compreendida como uma entidade 
socioafetiva que tem o dever de afeto entre os seus membros. É no seio familiar que são 
transmitidos os valores morais e sociais que servirão de base para o processo de socialização 
da criança, bem como as tradições e os costumes perpetuados através de gerações. Hoje não 
mais se espera que os sujeitos permaneçam presos a um casamento infeliz, e muitos casais 
optam pela ruptura do vínculo em caso de insatisfação mesmo que transitória. Não mais se 
aceita o casamento sem desejo e sem amor, e as exigências atuais do individualismo 
pressionam os parceiros no sentido da ruptura de uma relação que não se encaixe 
nos moldes considerados ideais. Em princípio, o laço conjugal só se mantém se for capaz de 
proporcionar satisfações a ambos os parceiros. Novas formas de amar e de se relacionar vão 
sendo construídas para responder às exigências de uma sociedade onde os valores estão 
em constante mutação. A contemporaneidade produz a crença de que a conjugalidade não 
deve interferir na individualidade e, cada vez mais, os indivíduos parecem acreditar que não se 
deve abrir mão do prazer em nome da estabilidade da relação conjugal. 
 
Tipos de famílias 
 
Família nucelar 
Quando pensamos na família padrão, dita tradicional, referimo-nos à família nuclear, tal como 
estabelecida entre os séculos XIX e XX. Na segunda metade do século XX, novas formas de 
família começam a ser construídas, causando estranheza. O aumento do número de casais 
separados provocou diversos arranjos familiares que, inicialmente, confrontados ao modelo 
tradicional, geravam preconceito. Vale lembrar que, em época não tão distante, eram comuns 
as profecias sobre o destino dos filhos de pais separados e os problemas emocionais que 
os atingiriam. A tendência da sociedade, em seu processo de transformação, foi tornar-se cada 
vez mais flexível para acolher novas configurações das relações conjugais e familiares. 
O casamento formal, heterossexual com fins de constituição da família, continua sendo 
uma referência e um valor importante, mas convive com outras formas de relacionamento 
conjugal como as uniões consensuais, os casamentos sem filhos ou sem coabitação, 
e também as uniões homoafetivas. Também a família nuclear ou tradicional, ou seja, pais 
casados morando junto com seus filhos biológicos, convive com novas configurações familiares 
não mais definidas pelo biológico e pelo conjugal. Os novosarranjos familiares são formas de 
ligação afetiva que fogem aos padrões considerados tradicionais como as famílias 
monoparentais, reconstituídas, adotivas, homoafetivas com filhos adotivos ou nascidos por 
inseminação artificial. Encontramos, cada vez mais, recomposições familiares e recasamentos 
sucessivos de um ou de ambos os pais, tendo ocorrido as separações quando os filhos ainda 
eram bebês. 
 
A família monoparental 
É aquela em que apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o 
filho. Isto ocorre, por exemplo, quando o pai não reconhece o filho e abandona a mãe, quando 
um dos pais morre ou quando dissolvem a família pela separação ou divórcio. Observa-se, na 
atualidade, um número cada vez maior de famílias monoparentais. Na realidade brasileira, 
com frequência encontramos famílias chefiadas por mulheres, arcando com o sustento e a 
educação dos filhos sem a participação paterna. Famílias monoparentais podem ser 
beneficiadas por uma rede de apoio social e afetiva, ou seja, pela presença de pessoas 
significativas, sejam da família extensa, amigos ou membros da comunidade, com os quais 
possam manter relações afetivas. As redes funcionam suprindo, em parte, as funções da figura 
parental ausente, impedindo o isolamento e ajudando na socialização das crianças. 
 
Famílias recompostas 
O crescente número de divórcios vem sendo acompanhado de um número igualmente 
crescente de famílias recompostas: aquelas em que ao menos um dos membros do casal 
possui filhos de relações anteriores. A família reconstituída define-se pela presença, no lar, 
de filhos provenientes de uniões anteriores de um ou de outro cônjuge, ou seja, uma pessoa 
que já tem uma família leva seus filhos, oriundos desta família, para conviverem com a sua 
nova relação, que pode também já ter filhos. Não existe uma família recomposta típica, 
pois cada um dos parceiros pode já ter tido um ou mais casamentos, um ou mais filhos das 
relações anteriores, residindo ou não com eles, e filho (s) gerado (s) no casamento atual. 
 
Famílias homoafetivas 
As famílias homoafetivas colocam em questão o modelo tradicional fundado na reprodução 
biológica e a heterossexualidade do casal, pois as crianças não nasceram de sua união sexual. 
O desejo de filho e de formar família não é mais privativo dos casais heterossexuais, visto que 
sujeitos vivendo uma relação homoafetiva recorrem cada vez mais à adoção ou a 
procedimentos advindos da Biotecnologia. A homoparentalidade levantou questões sobre se o 
exercício das funções parentais deveria estar vinculado ao gênero dos pais ou se qualquer 
sujeito, em uma relação homoafetiva, poderia exercê-las. Pesquisas atuais têm encontrado 
resultados que confirmam esta última hipótese. Verifica-se que a saúde psíquica dos pais e as 
motivações inconscientes implicadas no desejo de ter um filho, e não o seu sexo, são aspectos 
a serem privilegiados quando se trata de pensar a parentalidade. 
 
A opção por não constituir família 
Existe, ainda, outra situação que vem sendo observada com alguma regularidade e nos leva a 
desconstruir o conceito de casamento referido à formação de uma família. Isso porque o 
casamento contemporâneo não necessariamente envolve um projeto de filiação e 
descendência e vem crescendo o número de casais que optam por não ter filhos. Existe, 
porém, ainda uma estigmatização e uma pressão social sofrida por casais que optam por não 
ter filhos. Muitas mulheres relatam que sentem o preconceito, principalmente, quando são 
rotuladas de egoístas. 
 
Família extensa 
Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais 
e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou 
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. 
 
A construção da parentalidade: relações afetivas 
Historicamente, a tarefa de cuidar tem sido associada ao gênero feminino, e o papel de mãe 
ainda é idealizado culturalmente, sendo o amor materno ainda cobrado como incondicional. 
Entretanto, uma mulher pode ser “normal” sem ser mãe, e nem toda mãe tem um impulso 
irresistível de se ocupar do filho. Observam-se diferentes circunstâncias nas quais não existem 
condições propícias ao apego, e o sentimento de amor por um filho simplesmente não ocorre. 
O amor materno, portanto, não é uma norma, mas é adquirido ao longo dos dias passados 
ao lado do filho, e por ocasião dos cuidados que lhe são dispensados. Da mesma forma, não se 
pode falar de uma essência masculina, de caráter abstrato e universal, mas, sim, de um 
homem e de um pai multifacetados, situados temporal e relacionalmente. Assim, masculino e 
feminino são categorias inscritas no social que ganham significados diversos em função do 
contexto. Partindo dessas considerações, é possível afirmar que a parentalidade não se 
estabelece automaticamente a partir da chegada de um filho, mas é um complexo e lento 
processo. Não basta ser genitor ou genitora, há um trabalho psíquico a ser feito para alguém 
tornar-se pai ou mãe e investir afetivamente a criança, reconhecendo-a como filho. Assim 
sendo, costuma-se dizer que qualquer criança, não importando em que tipo de família esteja 
inserida, precisa ser adotada. Se a filiação não está apoiada apenas na realidade genética, mas 
deve ser fundada no desejo e na disponibilidade de assumir a função parental, a expressão 
“laços do coração”, utilizada para caracterizar a filiação adotiva, poderia ser referida a 
qualquer filiação, seja ela adotiva ou não. São laços fundados no desejo dos pais e em sua 
disponibilidade de assumir a função parental. Entretanto, não é apenas o fato de ter o 
sobrenome daqueles que se intitulam pais que irá inscrever o sujeito em uma família. É 
necessário também que tenha sido tratado, educado e mantido por aqueles como filho e, 
portanto, reconhecido como tal pela sociedade e pela família. São fatos que constituem uma 
“verdade socioafetiva” e atribuem o estatuto de pais àqueles que amam e educam. A filiação 
afetiva ganha cada vez mais espaço e diferentes adultos podem assumir funções parentais, 
mesmo não sendo os pais legais nem os genitores. No caso de uma adoção não existe 
gestação, mas os pais adotivos vão falar de uma “gestação psicológica”, que indica seu desejo 
de receber a criança adotada como filho. Qualquer processo de construção da parentalidade 
se inicia com uma criança imaginária, sonhada pela mãe durante a gravidez. Também no 
período de espera pela chegada do filho adotivo, seus pais vão construir, em seu imaginário, as 
características da criança que aguardam, e fantasiar os pais que irão ser. Este processo faz 
parte do investimento afetivo que precede a chegada de um filho. Caso isso não ocorra, as 
crianças adoecem na medida em que não encontram resposta às suas necessidades de amor e 
reconhecimento. Ao segurar a criança, olhá-la, investir nela seu afeto, a mãe, adotiva ou não, 
fornece ao filho a experiência de ser contido e possibilita-lhe construir uma identidade. Ela lhe 
transmite seu desejo e as expectativas que fabricou sobre o lugar que o filho iria ocupar em 
sua vida. Não é difícil perceber o quanto uma criança parece reviver tão logo uma adoção é 
feita por pais investidos e determinados. 
 
Conjugalidade X Parentalidade: separações e recasamentos 
A vida em casal é ainda hoje sentida como um dos principais espaços psíquicos de satisfação, 
neste sentido, o laço conjugal tem um valor organizador que justificaria a troca de uma 
parcela das possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança. Um dos grandes 
desafios dos casais da atualidade é redefinir expectativas e idealizações sobre o casamento. 
Isso significa ultrapassar a dificuldade de lidar com frustações e com os limites do parceiro. 
Dois sujeitos, com suas diferentes histórias de vida, se unem e estabelecem uma relação, 
uma conjugalidade. A criançaé o elemento que inaugura a família e são os laços afetivos 
que organizam o grupo familiar. O casal conjugal funda-se nas relações sexuais e no afeto 
recíproco entre os cônjuges, enquanto o casal parental, responde pela necessidade de 
levar bem a criação de seus filhos. Embora o divórcio possa ser, às vezes, a melhor solução 
para um casal cujos membros não se consideram capazes de continuar tentando ultrapassar 
suas dificuldades, ele é sempre vivenciado como uma situação extremamente dolorosa e 
estressante. A separação provoca, nos cônjuges, sentimentos de fracasso, impotência e perda, 
havendo um luto a ser elaborado. O fracasso conjugal dos pais não impede que se continue a 
assegurar conjuntamente as funções parentais. Os laços conjugais se rompem, mas há 
necessidade de cuidar dos laços parentais. Portanto, mesmo que o laço matrimonial se 
desfaça, espera-se que o laço parental se fortaleça e, idealmente, os ex-cônjuges devem 
permanecer pais em conjunto e de comum acordo. O número crescente de separações 
parentais tem exigido que o valor dos vínculos de filiação seja reforçado a fim de que estes se 
tornem pontos de apoio suficientemente sólidos e permitam à criança definir-se socialmente e 
diferenciar-se psiquicamente. Quando pai/mãe e filho deixam de viver juntos, espera-se que a 
relação entre eles permaneça sólida, e que a relação entre pai e mãe esteja suficientemente 
elaborada para que todos possam sustentar com clareza os lugares que ocupam. Ou seja, 
espera-se que os filhos não precisem ocupar o lugar de um dos pais nem que disputem o lugar 
do ex-cônjuge. Um aspecto importante ainda a ser considerado é o justo desejo de ambos ex-
cônjuges de terem suas vidas afetivas refeitas. Após a separação, a criança é levada, por vezes, 
a integrar uma ou duas novas famílias em decorrência da trajetória da vida de seus pais. Com 
isto, a criança irá se defrontar com a multiplicação dos papéis parentais e a distribuição da 
função de pai e mãe para outros homens e mulheres, na medida em que padrastos e 
madrastas passam a conviver com ela. Os cônjuges dos pais, sem substituir os pais biológicos, 
são relevantes na nova dinâmica familiar que se estabelece. É bem verdade que não existe um 
estatuto que dê legitimidade a sua participação na vida dos enteados, ou seja, não existe uma 
lei que reconheça o vínculo entre enteado e padrasto ou madrasta ou que estabeleça direitos 
e deveres para regular esta relação. Tantas são as configurações possíveis que não se 
conseguiria definir antecipadamente que lugar irá ocupar a madrasta ou o padrasto na vida de 
uma criança. Eles podem ser chamados a exercer algumas prerrogativas em relação à criança, 
mas, por exemplo, é comum observar-se que o padrasto exerce apenas a função que a 
genitora de seus enteados lhe conceder. O papel social de padrastos e madrastas precisa ser 
inventado no cotidiano vivenciado por eles. A construção desta relação não necessariamente 
reproduzirá os estereótipos das madrastas dos contos de fada. Vale lembrar como muitos 
enteados vêm substituindo a palavra “madrasta” por “boadrasta”. Entretanto, pode ocorrer 
que o vínculo do pai com quem não se convive seja tão intenso, que a criança se recuse a 
investir no novo companheiro da mãe com quem passa a conviver. O sucesso dessas 
construções dependerá do tipo de relação estabelecida entre os pais, entre estes e os novos 
cônjuges e do lugar que a criança ocupará em cada uma das suas novas famílias. Famílias que 
introduzirão em suas vidas novos personagens, na medida em que passam a conviver com um 
número maior de “avós”, “tios” e “primos”. Como vimos até agora, é fundamental que a figura 
parental que estiver provisoriamente ausente do cotidiano do filho, em decorrência da 
separação, deva poder continuar convivendo com ele sem que se faça um movimento de 
tentar substituí-lo pelo novo parceiro do pai ou da mãe. 
 
O princípio constitucional do melhor interesse da criança 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a convivência familiar foi entendida 
como um direito fundamental da infância, e a filiação socioafetiva foi valorizada. Isso porque 
a ordem de prioridade de interesses foi invertida, visto que antigamente, se houvesse 
algum conflito decorrente da posse do estado de filho, entre a filiação biológica e a filiação 
sócioafetiva, os interesses dos pais biológicos se sobrepunham aos interesses do filho. 
Dentre os princípios norteadores que são estabelecidos para a família está o princípio 
do Melhor Interesse da Criança, previsto em seu artigo 227, mas também no Estatuto 
da Criança e do Adolescente em seus artigos 4º e 5º. Isso significa que, ao tratar da filiação, 
os operadores do Direito devem observar o que realmente é o melhor para a criança e/ou 
adolescente, de modo a favorecer sua realização pessoal, independentemente da relação 
biológica que tenha com seus pais. A Constituição consagra a Doutrina da Proteção integral. A 
criança passa a ser sujeito de direitos, nas diversas esferas sociais e jurídicas, e a ela devem ser 
concedidos cuidados essenciais para viver com saúde, incluindo a física, a emocional e a 
intelectual. O artigo 227 já citado estipula ser dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
A guarda compartilhada 
No processo de dissolução do vínculo conjugal por separação judicial ou pelo divórcio 
consensual, espera-se que os pais possam entrar em acordo sobre a guarda dos filhos. Até 
recentemente, o mais comum era a adoção do modelo de guarda unilateral, geralmente 
concedida à mãe, por se acreditar que ela teria melhores condições para exercê-la. Esse 
modelo baseava-se em preconceitos e teorias hoje questionadas de que apenas a mulher 
teria condição, inerente ao seu gênero, de cuidar dos filhos menores. A crença de que os filhos 
não podiam ficar sem os cuidados da mãe fazia com que o cuidado masculino fosse 
considerado dispensável, provocando certa desresponsabilização paterna frente aos cuidados 
e envolvimento com os filhos. Com base nesse modelo de guarda, cabia ao pai visitas 
quinzenais aos fins de semana, um rodízio em datas especiais e metade das férias dos filhos. 
Muitos desses pais se descreviam como “pais de fins de semana” ou pais “Mac Donald’s”, 
sofrendo com o afastamento do convívio dos filhos. Alguns deles, durante o tempo em que 
estiveram casados, não se encarregavam de tarefas domésticas nem dos cuidados básicos 
prestados aos filhos, mas descobrem, após a separação, que são bem mais competentes do 
que supunham nas atividades até então ditas femininas. Por outro lado, algumas mães que 
haviam obtido a guarda unilateral sentiam-se sobrecarregadas, sem condições de se 
desenvolver afetiva, profissional e economicamente, quando o ex-companheiro se limitava a 
ser “pai Mac Donald’s”, reservando apenas ao lazer de fim de semana a convivência com os 
filhos. Observa-se ser comum, nestas situações, que as crianças construam uma imagem da 
mãe como impositiva e “chata”, enquanto o pai é percebido como divertido e liberal. As 
mulheres foram conquistando, em nossa sociedade, igualdade de direitos e oportunidades, 
mas também os homens têm buscado ocupar um maior espaço no cotidiano familiar e 
igualdade de direitos na participação da educação dos filhos. Com as transformações sociais, 
com as alterações na dinâmica familiar, começa a ficar evidente o quanto a manutenção da 
presença contínua de ambos os genitores é importante para a criança. Pai e mãe são modelos 
de identificação para seus filhos e não se justificaria que qualquer um deles perdessea 
possibilidade de um convívio em decorrência da separação parental. Os pais passam a 
questionar, inclusive na Justiça, seu direito de participar mais ativamente na vida dos filhos. 
 
Alienação parental 
Dificuldades no exercício da parentalidade e divergências entre os pais quanto às decisões 
relativas à educação e ao cotidiano dos filhos podem dar margem a demandas feitas à Justiça. 
A alienação parental tem sido cada vez mais alegada pelas partes em litígio nos processos 
inerentes às Varas de Família. Veremos como a Alienação Parental fere o melhor interesse da 
criança, pois o interesse dos pais prevalece sobre os interesses dos filhos, provocando danos 
em seu desenvolvimento. O termo alienação parental foi utilizado em meados dos anos 1980 
por Richard Gardner, indicando a existência de um distúrbio psíquico. Por este motivo, o autor 
denominou de Síndrome de Alienação Parental (SAP) o que seria um distúrbio infantil 
provocado em menores de idade expostos às disputas judiciais entre seus pais. A criança 
demonstraria uma intensa rejeição a um dos genitores (o genitor alienado) como resultado 
de manipulação psicológica realizada pelo outro genitor (o genitor alienador), sem que 
houvesse uma justificativa para isso. Atualmente, questiona-se a classificação de tal 
comportamento como uma síndrome, pois se entende que existem muitos fatores que podem 
contribuir para sua ocorrência e não apenas a patologia dos genitores. Devemos considerar 
fatores como idade, sexo, características individuais das crianças e adolescentes além de 
outros presentes, no contexto familiar, que possam contribuir para minimizar os efeitos da 
separação e para auxiliar a criança a superar os efeitos do litígio entre os pais. Na lei nº 
12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental, ela é descrita como sendo a interferência 
na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos 
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob a sua autoridade, 
guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à 
manutenção de vínculos com ele. Existem 7 itens elencados, no parágrafo único do Art. 2, da 
referida lei, em que são exemplificadas formas de alienação parental, que correspondem 
a uma série de situações criadas para dificultar ou para impedir a visitação daquele que não 
tem a guarda do filho. 
 
 
 
Definição de violência e agressividade 
O Dicionário Houaiss define violência como a “ação ou efeito de violentar, de empregar força 
física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, 
força”. No aspecto jurídico, o mesmo dicionário define o termo como o “constrangimento 
físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; 
coação”. 
 
Algumas teorias sobre a agressividade 
Neste item, você recordará algumas teorias da Psicologia, no que tange suas abordagens sobre 
a agressividade. Você deve estar lembrado que cada teoria escolhia um objeto de estudo para 
desenvolver suas ideias sobre o comportamento e os fenômenos psicológicos. Agora, você terá 
a oportunidade de perceber a predominância desses objetos nas explicações teóricas sobre a 
agressividade. Este item não tem a pretensão de esgotar nem as teorias psicológicas nem o 
tema agressividade, que é amplo, e (porque não dizer?) inesgotável. 
 
Formas de violência 
Muitas vezes, em nosso cotidiano, lidamos e vivenciamos com situações em que a violência 
não é “perceptível”. Ou melhor, nem sempre a violência é física. 
 
Violência estrutural 
Começaremos com a violência estrutural. Nesse grupo de classificação da violência se 
enquadram aquelas violências que negam a cidadania para alguns indivíduos ou determinados 
grupos de pessoas, pautados principalmente na discriminação social contra os “diferentes”. 
Violência urbana. As formas de violência, tipificadas como violação da lei penal, como: 1) 
assassinatos, 2) sequestros, 3) roubos e, 4) outros tipos de crime contra a pessoa ou contra o 
patrimônio formam um conjunto que se convencionou chamar de violência urbana, porque se 
manifesta principalmente no espaço das grandes cidades. A violência urbana, no entanto, não 
compreende apenas os crimes, mas todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as regras 
de convívio na cidade. A violência urbana prejudica a qualidade das relações sociais, destrói a 
qualidade de vida das pessoas. Gangues urbanas, depredação do espaço público, o trânsito 
caótico, as praças malcuidadas, sujeira em período eleitoral compõem o quadro da perda da 
qualidade de vida. Certamente, o tráfico de drogas, talvez a ramificação mais visível do crime 
organizado, acentua esse quadro, sobretudo nas grandes e problemáticas periferias. Um dos 
principais fatores que gera a violência urbana é o crescimento acelerado e desordenado das 
cidades. Como consequência, surgem graves problemas sociais como fome, miséria, 
desemprego e marginalização, que associados à ineficiência das políticas de segurança pública 
contribuem para o aumento dos atos de violência. Quando se trata de direitos humanos, a 
violência abrange todos os atos de violação dos direitos: civis (liberdade, privacidade, proteção 
igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação); econômicos (emprego e salário); 
culturais (manifestação da própria cultura) e políticos (participação política, voto). Violência 
institucional A violência institucional é aquela praticada nas instituições prestadoras de 
serviços públicos como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, judiciário. É perpetrada 
por agentes que deveriam proteger as vítimas de violência garantindo-lhes uma atenção 
humanizada, preventiva e também reparadora de danos. Violência simbólica. Já a violência 
simbólica é um tipo de atentado, desvalorização ou restrição do patrimônio material ou 
imaterial de determinado grupo identificado culturalmente. Ou, em outras palavras, são 
relações estabelecidas entre grupos dominantes e dominados que aparecem de forma 
“naturalizada”. É importante ressaltar, assim como no caso da violência psicológica, que a 
violência simbólica é sutil e permeia nosso cotidiano de forma implícita. Ela se expressa como 
uma forma “legítima” de relação entre dominantes e dominados. É possível exemplificar a 
violência simbólica com a frequente associação feita pela mídia entre o terrorismo e os povos 
árabes, a presença majoritária de pessoas de cor de pele branca em comerciais de TV, ou 
mesmo a difusão da ideia de que homens são mais fortes que mulheres o que “justifica” serem 
“violentos”. 
 
Violência doméstica 
A violência doméstica é o tipo de violência que ocorre no lar, compreendido como o espaço 
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas. Abusos sexuais a crianças e maus tratos a idosos também 
constituem 
violência doméstica. Existem cinco tipos de violência doméstica: física, psicológica, sexual, 
patrimonial e moral. A negligência é o ato de omissão do responsável pela criança/idoso/ 
outra (pessoa dependente de outrem) em proporcionar as necessidades básicas, necessárias 
para a sua sobrevivência, para o seu desenvolvimento. Os danos causados pela negligência 
podem ser permanentes e graves. 
 
Violência psicológica 
Violência psicológica é um tipo de violência que geralmente ocorre de forma “indireta”, 
como humilhações, ameaças, palavrões, privação de liberdade, entre outras. Diferente da 
forma “direta” e explícita da violência física é importante ressaltar o caráter implícito da 
violência psicológica. A agressão não ocorre necessariamente em seu corpo, mas a violência 
gera transtornos de natureza psicológica, constrangendo a vítima a adotar comportamentos 
contra sua vontade ou tirando-lhe a liberdade. Neste caso, a pessoa agredida pode 
se sentir culpada pelos transtornosque lhe ocorrem, o que dificulta a posterior 
responsabilização dos autores dessa violência. 
 
Violência sexual 
Encontramos também a violência sexual na qual o agressor abusa do poder que tem sobre 
a vítima para obter gratificação sexual, sem o seu consentimento, sendo induzida ou obrigada 
a práticas sexuais com ou sem violência física. A violência sexual acaba por englobar o medo, a 
vergonha e a culpa sentidos pela vítima, mesmo naquelas que acabam por denunciar o 
agressor, por essa razão, a ocorrência desses crimes tende a ser ocultada. 
 
Violência verbal 
Muitas pessoas confundem a violência verbal. Ela pode ocorrer através do silêncio, que 
muitas vezes é muito mais violento do que os métodos utilizados habitualmente, como as 
ofensas morais (insultos), depreciações e os interrogatórios infindáveis. 
 
Violência física 
E para terminar nossa exposição sobre as formas de violência, temos a violência física, que 
é o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. São comuns, 
murros, tapas e agressões com diversos objetos e queimaduras. Sem maiores 
aprofundamentos, estudiosos afirmam que além da investigação dos comportamentos 
violentos, deve-se buscar estratégias de implantação de comportamentos de paz, por uma 
cultura de não violência (no Capítulo 5, item 5.4, você tomará contato com alguns aspectos 
ligados à Comunicação não violenta). 
 
Comportamentos antissociais 
Neste item, vamos explicar as relações, às vezes, mal interpretadas entre problemas 
emocionais e violência, gerando comportamentos antissociais. As “doenças” mais 
frequentemente relacionadas com violência são os distúrbios da personalidade, as 
dependências de álcool e drogas e a deficiência mental. Existe alguma evidência de 
associação entre violência e psicose (este termo será desenvolvido mais tarde), especialmente, 
nos casos de ideação paranoide, mas somente uma pequena minoria de todos os doentes que 
praticam atos violentos são psicóticos e uma vasta maioria de pessoas mentalmente doentes 
não são mais perigosas do que os membros da população geral. Os quadros psiquiátricos onde 
mais comumente podemos encontrar comportamentos antissociais são: distúrbio explosivo da 
personalidade; distúrbio antissocial da personalidade (veremos separadamente, 
mais adiante); distúrbio borderline da personalidade; psicose; e episódio maníaco. 
Distúrbio explosivo da personalidade. No distúrbio explosivo da personalidade, encontramos, 
como característica mais marcante, a tendência a agir impulsivamente, desprezando as 
eventuais consequências do ato impulsivo, acompanhada de instabilidade afetiva. Os 
frequentes acessos de raiva podem levar à violência ou a explosões comportamentais. Essas 
situações podem ser desencadeadas mais facilmente quando as suas atitudes são criticadas ou 
impedidas pelos outros. Este distúrbio é caracterizado pela instabilidade do estado de ânimo 
com possibilidades de explosões de raiva, ódio, violência ou afeição. A violência pode ser física 
ou verbal e as explosões de raiva fogem ao controle destas pessoas. Entretanto, estes 
indivíduos não têm problemas de socialização, ao contrário, são simpáticos, bem-falantes, 
sociáveis e educados quando fora das crises. Há uma extrema sensibilidade aos 
aborrecimentos causados por pequenas situações ambientais que irão produzir, nos 
explosivos, respostas de súbita violência e agressividade sem controle. Normalmente, 
chamamos essas pessoas de “pavio-curto” ou de “cinco-segundos”. Distúrbio borderline da 
personalidade O distúrbio borderline da personalidade é um distúrbio mental com um 
padrão característico de instabilidade na regulação do afeto, no controle de impulsos, nos 
relacionamentos interpessoais e na imagem de si mesmo. O termo borderline, que na língua 
inglesa significa “fronteiriço” não se refere ao limite entre um estado normal e um psicótico, 
mas a uma instabilidade constante de humor. São indivíduos sujeitos a acessos de ira e 
verdadeiros ataques de fúria ou de mau gênio, em completa inadequação ao estímulo 
desencadeante. Essas crises de fúria e agressividade acontecem de forma inesperada, 
intempestivamente e costumam ter por alvo pessoas do convívio mais íntimo, como os pais, 
irmãos, familiares, amigos, namoradas, cônjuges etc. 
Embora o borderline mantenha condutas até bastante adequadas em bom número de 
situações, ele tropeça em outras simples. O limiar de tolerância às frustrações é extremamente 
sensível nessas pessoas. Esse tipo de distúrbio da personalidade está sujeito a grandes 
manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções como o amor e 
ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza 
profunda. A vida conjugal com essas pessoas pode ser muito problemática, pois, ao mesmo 
tempo em que se apegam ao outro e se confessam dependentes e carentes desse outro, 
de repente, são capazes de maltratá-lo cruelmente. Eles vivem exigindo apoio, afeto e amor 
continuadamente. Sem isso, aparece o medo à solidão ou a incapacidade de ficar só, em 
presença de si mesmo. 
 
Psicose 
A psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela Psiquiatria, pela Psicologia 
Clínica e pela Psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa “perda de contato 
com a realidade”. Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer (variando de caso a 
caso) alucinações (é a percepção real de um objeto inexistente), delírios (é um juízo falso da 
realidade), desorganização psíquica que inclui pensamento desorganizado, acentuada 
inquietude psicomotora (é caracterizada por um estado de excitação mental e atividade 
motora aumentadas), sensações de angústia intensa (estado psicológico de inquietação, 
de medo difuso, sem objeto aparentemente determinado e que pode ser acompanhado de 
manifestações orgânicas) e opressão e insônia severa (se caracteriza pela incapacidade de 
conciliar o sono e pode manifestar-se em seu período inicial, intermediário ou final). Tal 
situação mental é frequentemente acompanhada por uma falta de “crítica” ou de “insight”, 
que se traduz numa incapacidade de reconhecer o caráter estranho ou bizarro do seu 
comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de 
interação social e em cumprir normalmente as atividades de vida diária, podendo 
gerar comportamentos violentos, muitas vezes, defensivos e em função das alucinações ou 
delírios decorrentes de seu estado. 
 
Episódio maníaco 
O episódio maníaco é caracterizado por uma excitação eufórica do humor, por uma intensa 
agitação motora, distraibilidade, logorreia e por uma reduzida necessidade de sono. O sujeito 
pode supervalorizar-se e fazer coisas que normalmente não faria, pois distorce a realidade de 
modo a não enxergar os perigos envolvidos em suas ações. A agitação predominante do 
humor pode ser a irritabilidade quando os desejos da pessoa são frustrados. Além disso, 
devido à elevação da autoconfiança, ideias grandiosas podem chegar a evoluir para delírios 
grandiosos ou religiosos de identidade ou papéis. Os indivíduos com um episódio maníaco com 
frequência não reconhecem que estão doentes e resistem às tentativas de tratamento. Eles 
podem viajar impulsivamente para outras cidades, perdendo contato com parentes e 
responsáveis. Também podem envolver-se em atividades desorganizadas ou estranhas como 
distribuir doces, dinheiro ou conselhos a estranhos que passam na rua. As preocupações éticas 
podem ser desconsideradas, mesmo por indivíduos bastante conscienciosos. Por exemplo, um 
corretor da bolsa de valores pode comprar e vender ações ilegalmente, sem conhecimento ou 
permissão do seu cliente; um cientista pode apoderar-se de descobertas alheias. Além disso, o 
indivíduo, com esse tipo de distúrbio, pode mostrar-se hostil e fisicamente ameaçador para 
com outros. 
 
O psicólogo e a violência 
Vamos chamara atenção para o fato de que a violência se manifesta em diferentes contextos 
— urbano, familiar, trabalho, entre outros. Assim, de acordo com a compreensão de violência 
anteriormente descrita, o agente que causa maiores danos dentro de uma situação de 
violência é aquele que detém maior poder em cada um desses contextos, e, por isso, é 
identificado como autor da violência. A violência causa muitos danos àqueles que são 
submetidos a ela, tais como: danos físicos, danos emocionais e, em última instância, a morte. 
Assim, estudos e programas voltados à promoção da saúde de pessoas envolvidas em 
situações de violência (autores e vítimas) são de muita importância na busca da eliminação e 
prevenção de violências, bem como na promoção de cuidados àqueles já expostos a elas. 
 
Justiça Restaurativa X Justiça Retributiva ou Tradicional 
 
 
 
 
 
 
 
Caracterização do conflito 
Como você viu no item anterior, a Justiça Restaurativa trabalha com uma nova compreensão 
do conflito que chega até o Judiciário. Mas de que forma é analisado esse conflito? O conflito 
faz parte de nossa vida. Ele se estabelece a partir de expectativas, valores e interesses que são 
contrariados. Nessas situações, costumamos tratar os outros como inimigos ou adversários. 
Cada uma das partes envolvidas no conflito busca encontrar argumentos para reforçar suas 
posições e, desta forma, enfraquecer e destruir os argumentos da outra parte. É por causa 
deste estado emocional gerado pela disputa, que as pessoas não conseguem perceber que, 
mesmo nesta situação, têm interesses comuns. Numa proposta restaurativa, vamos perceber o 
conflito como parte das relações humanas e resultado de percepções e posições divergentes 
que envolvem, também, expectativas, valores e interesses comuns, como já foi dito. O conflito 
não deve ser considerado negativo. É quando compreendemos que o conflito é inevitável que 
vamos ser capazes de desenvolver soluções autocompositivas. Quando não encaramos o 
conflito com responsabilidade, a nossa tendência é convertê-lo em confronto ou disputa. 
Quando consideramos o outro como adversário, não escutamos a sua fala porque já estamos 
nos preparando para uma nova argumentação. Isso pode ocorrer, também, com a outra 
pessoa e, desta forma, se todos não se sentem escutados e entendidos, a tendência é que a 
situação se agrave ainda mais, com as pessoas mantendo suas posições irreversíveis em 
relação à mudança. O conflito interpessoal compreende três aspectos: o relacional — valores, 
crenças e expectativas; o objetivo — interesse envolvido; e a trama — o conjunto de valores, 
crenças e expectativas, ligadas ao interesse envolvido. Por exemplo: um ex-casal está em 
conflito por causa da guarda de seus filhos (objetivo). Cada um tem uma forma de ser 
diferente em relação às expectativas, valores e crenças (relacional). Dessa forma, os dois 
acreditam que seriam merecedores da guarda das crianças, porque se julgam, com base em 
suas diferenças, os mais aptos para esta função (trama). Além disso, os conflitos são divididos 
em quatro espécies que podem aparecer conjugadas em algumas situações. São elas: conflitos 
de valores — diferenças em relação a moral, ideologia e religião, por exemplo, conflito entre 
israelenses e árabes; conflitos de informação — informação distorcida ou com um significado 
negativo, por exemplo, conflitos em relação a um contrato de compra de um produto; 
conflitos estruturais — diferenças políticas e econômicas entre os envolvidos, por exemplo, 
conflito entre empregador e empregado; e, conflitos de interesses — contradições em 
questões ligadas a bens e direitos comuns, por exemplo, conflitos entre herdeiros sobre os 
direitos a uma herança. 
 
Mecanismos de autocomposição dos conflitos 
Negociação, mediação, conciliação e arbitragem são, em geral, chamados de meios 
alternativos ou extrajudiciais de resolução de disputas (Alternative Dispute Resolutions — 
ADRs). Eles são também conhecidos como meios alternativos de resolução de controvérsias 
(MASCs) ou meios extrajudiciais de resolução de controvérsias (MESCs). Vamos começar 
definindo o que é a Negociação. Chamamos de negociação quando pessoas com problemas 
e/ou processos entre elas lidam diretamente para a transformação e restauração de relações, 
buscando a solução para as suas disputas ou trocas de interesses. A negociação está baseada 
em princípios, sendo o mais importante a cooperação, buscando um acordo com ganhos 
mútuos. No entanto, nem sempre se consegue negociar diretamente com o outro e, nesses 
casos, na busca de uma retomada da comunicação, contamos com a ajuda de uma terceira 
pessoa. Neste caso, podemos falar da Mediação. A mediação é um meio de solução de 
conflitos em que duas ou mais pessoas, com a colaboração de um terceiro, que é o mediador, 
expõem o problema. O mediador a escuta, questiona e vai trabalhando com elas a 
comunicação, de forma construtiva, para chegar, eventualmente, a um acordo. Esse 
profissional deve ser capacitado, imparcial, independente e escolhido ou aceito pelas partes. 
Falamos da mediação como um método interdisciplinar com conhecimentos científicos 
oriundos da Psicologia, Sociologia, Antropologia, Direito e Teoria dos Sistemas. Os mediandos, 
na mediação, não são tratados nem devem se comportar como adversários, mas como 
coautores da solução daquele conflito, auxiliados pelo mediador. Daí podermos falar que a 
mediação, assim como a conciliação que será descrita a seguir, são procedimentos não 
adversarias de solução de conflitos, diferente dos métodos adversarias como processos 
judiciais e arbitrais. Mais adiante, estaremos desenvolvendo os procedimentos necessários 
para realizar a mediação. Outra situação que envolve um terceiro, na tentativa de ajudar a 
solucionar o conflito, é a conciliação. De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, 
“a conciliação é um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a 
uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na 
construção de um acordo”. O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma 
voluntária e após treinamento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, 
criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à 
harmonização das relações. A conciliação é judicial quando se dá em conflitos já ajuizados, nos 
quais atua como conciliador o próprio juiz do processo ou conciliador treinado e nomeado. O 
conciliador, em relação às partes, toma iniciativas, faz recomendações, advertências e 
apresenta sugestões, com a finalidade de obter o acordo entre as partes. Podemos 
compreender que o conciliador exerce uma autoridade hierárquica em relação às partes, 
visando uma conciliação entre elas. Para os mediadores e conciliadores no Judiciário, o 
Conselho Nacional de Justiça, na Resolução 125/2010, desenvolveu um conteúdo 
programático mínimo e ações voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de 
conflitos, para magistrados da Justiça Estadual e da Justiça Federal, servidores, mediadores, 
conciliadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias. 
 
Técnicas para obter uma comunicação construtiva levando à solução de conflitos 
1. Conotação positiva 
A comunicação construtiva tem início com o acolhimento do outro por meio de uma 
linguagem estimulante e apreciativa sobre aquilo que a pessoa está relatando. Respeitar e 
acolher aquilo que o outro está comunicando é reconhecer o outro enquanto ser humano, 
independente de seus valores, direitos e obrigações. Por outro lado, uma comunicação 
dominadora estimula um julgamento antecipado e a ideia de uma verdade única. Ter uma 
conotação positiva em relação ao que o outro comunica expressa uma atitude de 
reconhecimento do outro, não obrigatoriamente concordância com o outro, mas que leva a 
uma atitudede empatia, fundamental para o processo de comunicação e de interação entre as 
pessoas. Os mediadores e negociadores utilizam a conotação positiva para desenvolver o 
processo comunicativo e aumentar as possibilidades de uma comunicação construtiva. 
2. Escuta ativa 
Escutar é, antes de tudo, reconhecer, e esta é uma necessidade básica de todo ser humano: 
ser reconhecido. A escuta ativa é uma escuta atenta daquilo que está sendo falado e sentido 
pelo outro. Por isso, deve ser levada em conta, também, a expressão corporal. Mas escutar 
ativamente não é apenas ouvir, é identificar-se com o outro, sem julgamentos e aceitar as suas 
contradições. As pessoas que se sentem escutadas também estarão dispostas a escutar. As 
pessoas precisam dizer o que sentem e é importante reconhecer a necessidade que 
o outro tem de expressar. Escutar sem aconselhar. Aquele que aconselha coloca-se numa 
posição de superioridade com suas supostas verdades. Além disso, o conselho não permite 
que a pessoa se expresse, crie suas próprias soluções e cresça a partir do conflito que está 
vivenciando. Permitir a escuta é uma forma de dar continuidade à comunicação. 
3. Perguntas sem julgamento 
As perguntas apropriadas acompanham o processo de escutar e reconhecer as pessoas. É 
por meio da pergunta que a pessoa continua narrando o que aconteceu e pode chegar a 
interpretar a forma como está se comportando. As perguntas ajudam a esclarecer, 
contextualizaras situações e capacitar a pessoa a pensar sobre o que está ocorrendo. Com 
base nas perguntas sem julgamento é dada a responsabilidade e o poder de reelaboração de 
posições para as pessoas. A pergunta é uma forma de substituir o julgamento em relação ao 
outro e o hábito de dar conselhos. O conselho, como já vimos, desequilibra a relação e não 
deve ser usado para que o outro possa ter a possibilidade de repensar sobre as situações em 
que se vê envolvido. 
4. Reciprocidade discursiva 
Deve ser estabelecido em uma relação, o direito de todos a falar. O equilíbrio no direito de 
expressão corresponde a um equilíbrio de poder na relação. A comunicação é “uma via de 
mão dupla”, e as pessoas que não deixam o outro falar se comunicam negativamente. A 
comunicação construtiva é uma co-construção, ou seja, é construída por cada um no processo 
de comunicação. O diálogo para que seja produtivo deve ser sempre circular entre as 
pessoas e não deve haver interferência na fala do outro. 
5. Mensagem como opinião pessoal 
É importante, na comunicação, quando falamos sobre alguém, usemos a primeira pessoa. 
Desta forma, estamos evitando que se fale pelo outro. É o que Vasconcelos (2008), chama 
de “linguagem do eu”. Uma expressão como: “Você não devia ter dito isso” se transforma 
em “Eu penso que isto poderia ter sido dito de outra forma”. Em uma comunicação construtiva 
devem ser evitadas as acusações e devem ser valorizadas as percepções e sentimentos 
de cada um sobre o problema. 
6. Assertividade 
Ser assertivo não é ser agressivo. Ser assertivo é ter clareza e segurança nas suas respostas e 
posições. A pessoa assertiva costuma ser confiável porque se baseia em princípios e busca 
valorizá-los. É uma habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar 
pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao 
contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. O comportamento assertivo pode 
ser considerado uma virtude, pois se mantém no entre dois extremos 
Inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). 
Ser assertivo é dizer “sim” e “não” quando for necessário. 
7. Priorizar a relação 
É sempre importante separar o problema pessoal do problema material. Quando houver um 
problema pessoal e material, o principal é restaurar a relação pessoal. Devem ser reelaborados 
sentimentos e percepções, para que se estabeleça uma comunicação construtiva, voltada para 
os interesses comuns e opções de soluções. 
8. Reconhecimento da diferença 
Como seres humanos, vivendo em um contexto cultural e social, tendemos a hierarquizar 
nossos valores que são construídos com base em nossas necessidades de autoafirmação. 
Quando se consegue sair de sua posição, com seus valores e sua forma de pensar, e se 
imaginar no lugar do outro (situação empática, já tratada anteriormente), a pessoa 
compreende as razões, as necessidades e os valores do outro. Quando reconhecemos as 
diferenças, somos capazes de superar os estereótipos que criamos sobre pessoas, lugares e 
situações. 
9. Não reação 
A não reação quer dizer reformulação de uma acusação injusta, por exemplo. A reformulação 
é uma prática transformadora de uma interação agressiva, em que é rompido o ciclo ofensa-
reação. A reformulação pode ser feita por meio de uma pergunta. Ao perguntar, estamos 
dando oportunidade ao outro de reformular. Esta atitude é fundamental para uma cultura de 
paz. Por exemplo: uma pessoa ao ser acusada de ser desonesta, no lugar de reagir a esta 
acusação, perguntaria: Por que você acha que sou desonesta? 
10. Não ameaça 
Ameaçar o outro é levar o outro a provar que é mais forte e reduzir a relação a um jogo de 
ganha-perde. A ameaça, em geral, conduz à violência. Para evitar a ameaça é importante ter 
uma atitude de escuta ativa, reciprocidade discursiva e mensagem como opinião pessoal. 
Praticas psicológicas e suas aplicações no judiciário 
 
A prática do psicólogo na área Cível e de Família 
De acordo com França (2004), o psicólogo jurídico atua na área cível nos casos de interdição, 
sucessões e indenizações, entre outras ocorrências cíveis. No entanto, é na área do Direito de 
Família que vamos encontrar maior expressão na atuação do psicólogo. Em geral, o psicólogo 
na área do Direito de Família trabalha assessorando o juiz, principalmente, nos casos de 
guarda e regulamentação de convivência nas separações que ocorrem de forma litigiosa. 
A separação implica no fim da conjugalidade (como já vimos no Capítulo 3), mas não da 
parentalidade. Nas separações e divórcios não consensuais, em geral, podemos observar uma 
longa “batalha” por direitos que cada uma das partes supõe ter ou luta para manter, usando a 
Justiça para dar uma solução aos conflitos emocionais originários desta relação. 
Na maior parte das situações que envolvem uma separação conjugal litigiosa, as partes 
disputam entre si seus filhos, não reconhecendo a importância do papel do pai e da mãe. As 
necessidades das crianças e adolescentes, por sua vez, também não são consideradas. Nos 
casos de disputa de guarda e regulamentação de convivência, torna-se necessário um trabalho 
interdisciplinar que conjugue os aspectos jurídicos e psicossociais. Aparece, com frequência, 
uma disputa de poder entre as partes, que se configura na disputa de guarda pelos filhos. O 
psicólogo que trabalha nas Varas de Família, ao receber esse tipo de situação encaminhada 
pelo juiz para avaliação, deve realizar uma compreensão abrangente da situação, buscando 
soluções com base no próprio grupo familiar. Os fatos e as necessidades deste grupo devem 
ser analisados a partir do momento atual. Quando possível, o importante é que todos os filhos 
possam partilhar, sem discriminações, de companhia, afeto, atenção e cuidados do pai e da 
mãe. O papel dos genitores é fundamental como referência e formação da personalidade 
dos filhos. Não se deve esquecer também a importância do relacionamento com o grupo 
familiar extenso (avós, tios, primos). A guarda compartilhada, já vista no Capítulo 3, propõe a 
participação conjunta dos pais nas decisões importantes na vida dos filhos, confirmando 
o fato de que a parentalidade permanece após a separação. Na verdade, podemos afirmar que 
não existe ex-pai ou ex-mãe, não é mesmo? É neste cenário de disputa pela guarda e 
regulamentação de convivência que pode ocorrer a alienação parental. 
 
A prática do psicólogo e as questões da infância, juventudee do idoso 
Os direitos fundamentais de crianças e adolescentes são assegurados pela Constituição Federal 
(1988) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1990). O ECA é identificado como a lei 
federal nº 8.069/1990, cujo pilar é a doutrina de proteção integral. O ECA tratou de direitos 
das crianças e adolescentes porque seus direitos estavam sendo violados e necessitavam ser 
revistos, organizados e divulgados. Com base nesse documento, crianças e adolescentes 
passaram a ser considerados cidadãos detentores de direitos. Na formulação das políticas e no 
controle das ações ligadas às crianças e adolescentes, não apenas o Estado, mas a sociedade e 
a família são convocadas para uma participação ativa e responsável. Na defesa dos direitos de 
crianças e adolescentes, o ECA afirma que elas devem ser protegidas de qualquer forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Como pessoas em 
condição peculiar de desenvolvimento, as crianças e os adolescentes precisam ser tratados 
com dignidade e respeito. Muitos críticos desta Doutrina afirmam que a partir deste 
documento, as crianças passaram a ter só direitos. No entanto, ser tratado com respeito e 
dignidade não quer dizer que “tudo é livre” e não há limites. Nas áreas da infância e juventude, 
no estabelecimento de medidas protetivas, o psicólogo trabalhará com questões ligadas à 
violência contra crianças e adolescentes em consonância com o Conselho Tutelar no 
atendimento destes, de seus responsáveis e nas situações de abrigamento de crianças e 
adolescentes, quando é impossível a convivência e segurança em seus lares. Nestes casos, o 
psicólogo irá elaborar relatório que possa fundamentar a decisão da autoridade judiciária 
competente pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta 
destas crianças e adolescentes. 
 
O adolescente e o conflito com a lei 
Para entendermos as questões ligadas ao adolescente e o ato infracional, precisamos entender 
um pouco da história sobre o enfrentamento do adolescente em conflito com a lei, a partir da 
evolução histórico-doutrinária da legislação da infância e juventude. Em 1927, surgiu o Código 
Mello Mattos (Decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927). Havia o que se chamava de 
Juízo Privativo de Menores na década de 1920, e o primeiro Juiz de Menores do Brasil foi o Dr. 
José Cândido Albuquerque Mello Mattos. Ele foi o primeiro expoente do pensamento da 
legislação da infância e juventude no Brasil, criou vários estabelecimentos de assistência e 
proteção à infância abandonada e delinquente, assim como organizou o primeiro código, que 
ganhou o seu nome. A prática do Código de Menores era recolher os menores em desacordo 
com a lei, objetivando selecioná-los para destinos diversos, sendo a prática de internação uma 
das mais comuns para o efeito de civilizar o incivilizado. Para aperfeiçoar essa prática 
nacionalmente, surgiu, em 1941, o SAM — Serviço de Assistência aos Menores, “funcionando 
como um equivalente do sistema penitenciário para a população infanto juvenil”. Em 1964, o 
regime militar criou a PNBEM — Política Nacional do Bem-Estar do Menor para o lugar do 
SAM, reconhecendo o fracasso até então de se assistir os chamados menores abandonados e 
corrigir os chamados menores infratores. O governo federal criaria o novo Código de Menores, 
em 1979, que reconhecia os menores abandonados e os menores infratores como estando em 
situação irregular pela sua condição de marginalizados. No Capítulo 3, você estudou que entre 
os princípios norteadores que são estabelecidos para a família está o princípio do Melhor 
Interesse da Criança, previsto no artigo 227, da Constituição da República Federativa do Brasil 
— CRFB (1988). Com base nesta Carta Magna (1988), surgiu a demanda pela criação de uma 
nova legislação, com um olhar humanizado e multidisciplinar sobre crianças e adolescentes. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, sancionado por meio da lei nº 8.069, de 13 de julho de 
1990, contemplou em seus artigos 4º e 5º, o previsto no artigo 227 da CRFB (1988). Esse 
Estatuto (BRASIL, 1990) compreende o adolescente como sujeito de direitos e em condição 
peculiar de desenvolvimento. Não utiliza o termo menor, uma vez que este nos remete a 
noção de inferioridade. Além disso, proíbe o cumprimento de penas para os adolescentes 
em conflito com a lei, e estabelece o cumprimento de medidas socioeducativas. São elas: 
advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade 
assistida, inserção em regime de semiliberdade, internação em estabelecimento educacional, 
além de medidas protetivas que visem ao acompanhamento do adolescente na família, escola, 
comunidade, serviços de saúde etc. As medidas socioeducativas fundamentam suas ações com 
caráter tanto sancionatório quanto educativo, responsabilizando o adolescente pelas 
consequências lesivas do ato cometido, incentivando a reparação dos danos causados e 
garantindo — sempre que possível — a integração familiar, comunitária e social. Sendo assim, 
a proposta do psicólogo é a de promover intervenções críticas no programa de atendimento 
para a execução de medidas socioeducativas que incentivem os adolescentes a (re) pensarem 
seus desejos, seus valores, seus ideais e os modos possíveis de transformar a realidade vivida, 
além da realização de relatórios fornecendo subsídios à decisão judicial sobre a aplicação das 
medidas. Dentre as ações técnicas dos psicólogos, definidas em legislação federal e normas 
profissionais, acrescidas das ações institucionais determinadas aos psicólogos e demais 
técnicos pela gestão socioeducativa, nos casos de internação estão: O atendimento ao 
adolescente, prioritariamente individual e semanal; O atendimento familiar (entrevista, 
contatos telefônicos e apoio psicológico); Estudo de caso, individualmente ou em reunião; 
Levantamento de dados sobre o adolescente, rede sociofamiliar e o comportamento na 
instituição, a fim de elaborar propostas de intervenção e encaminhá-las ao poder judiciário ou 
rede externa; Relatório técnico, por meio da avaliação psicológica obtida com entrevistas, 
observações e, eventualmente, outros recursos psicológicos, acrescida pelo estudo 
de caso, o psicólogo organiza e redige o relatório técnico multiprofissional; Visita domiciliar, 
conforme tempo hábil e necessidade de acompanhamento, entre outras atuações. 
 
Idoso 
No que diz respeito ao idoso, também com base na Constituição Federal de 1988, visando a 
uma maior proteção a esta parcela da população, foi criado o Estatuto do Idoso, por meio da 
lei federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. É uma legislação apta a proteger e a tutelar os 
direitos do idoso, combatendo a violência por meio da análise de seus principais aspectos 
penais e processuais penais. Em qualquer pesquisa feita sobre a violência contra o idoso, 
infelizmente a constatação a que chegamos é de que, além das omissões do Estado, são os 
familiares os maiores agressores, e a violência ocorre mesmo dentro de suas casas. Essa 
violência contra os idosos pode acontecer de várias formas, desde a violência psicológica, que 
se manifesta pela negligência e pelo descaso, até as agressões físicas. São comuns os 
casos de filhos que batem nos pais, tomam seu dinheiro, dopam-nos, deixam passar fome ou 
não dão os remédios na hora marcada, é o chamado abandono material. Ainda que a 
responsabilidade imediata pelo trato dos idosos seja delegada prioritariamente à família, o 
Estado não está desobrigado de um conjunto de atribuições que lhe são destinadas tanto pela 
Política quanto pelo Estatuto do Idoso. A notificação da violência contra o idoso, exigida pela 
lei, tem um papel fundamental no combate à violência contra o idoso. No entanto, esse papel 
não deve se limitar apenas a punir o culpado. A notificação pode ser um instrumento de 
proteção aos direitos do idoso, e

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