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1/13 Nome: Patrick Giuliano Taranti Nº matrícula: 11711GEO232 Disciplina: História do Pensamento Geográfico Turma: Noturno ☐ Diurno ☐ Prof. Dra Rita de Cássia Martins de Souza Referências Bibliográficas MORAES, Antônio Carlos Robert. A Particularidade Histórica da Alemanha e a Gênese da Geografia Moderna. In: _____. A Gênese da Geografia Moderna. 2ª ed. São Paulo: Hucitec; EDUSP, 1989. p. 15-75. Nota: Capítulo I. (Geografia. Teoria e Realidade; v.16) A particularidade histórica da Alemanha e a gênese da Geografia moderna (Capítulo 1, p.15-75) A sistematização da Geografia Moderna (Subcapítulo 1, p.15-25) O marco inicial da Geografia Moderna é dado pela publicação das obras de Humboldt e Ritter, que criam o arcabouço necessário a sistematização desta ciência, de acordo com as perspectivas metodológicas e filosóficas desses autores. É de fundamental importância conhecer, também, os pressupostos históricos desta ciência, os pressupostos filosóficos e os porquês de sua gênese cientifica e sistemática na Alemanha. São estas, condições necessárias para a concepção desta ciência. O modo de produção capitalista é, por essência, um ampliador de horizontes espaciais, desde os primórdios de seu florescimento. Um pressuposto histórico ou cronológico da geografia, e também corológico, é o conhecimento efetivo de todo o planeta que começa a se desenvolver a partir da ampliação do horizonte ecúmeno europeu, subsidiado pelas grandes navegações. Se o saber geográfico é cognoscibilidade espacial, a geografia enquanto consciência de mundo expande seu horizonte de aspiração a partir de tal fenômeno histórico. É de se destacar o avanço cartográfico desta época, o conhecimento de novas naturezas e de novos povos, fundamentado num processo de desenvolvimento cada vez mais cientifico e prospector de territórios, criador de colônias. O acúmulo de informações necessárias à comparação entre áreas, pois a empiricidade leva ao reconhecimento da diversidade espacial, apesar da emergente unidade do espaço. No entanto, não é só de pressupostos históricos e técnicos que nasce a geografia moderna, é de se ter em vista a pertinência do destaque da classe de ideias que tendem a 2/13 se desenvolver, ou a evoluir, para a construção do temário geográfico moderno, a exemplo do referendado pensamento científico e filosófico. Tais desenvolvimentos criam pilares de sustentação das ciências modernas, não só a Geografia, mas da Botânica, a qual Humboldt é referencia, a Zoologia e Geologia, que também tem forte contribuição deste pensador, sendo de extrema importância lembrar que a pesquisa empírica, inerente a ciência, não era oposta a discussão filosófica, ou a divagação abstrata, pois se integravam num corpo unitário do pensamento. “As condições [...] foram geradas no longo processo de transição do Feudalismo para o Capitalismo, processo esses que implicou o estabelecimento de uma história universal” (p.16-17). “O pressuposto mais fundamental da Geografia moderna era o conhecimento efetivo do planeta, isto é, que o ‘mundo conhecido’ atingisse a total expressão da Terra. Assim, a condição de realização desse pressuposto calcava-se na constituição do espaço mundial de relações. A consciência da magnitude real da superfície terrestre [...] representava o patamar mínimo para o afloramento da reflexão sistematizada sobre esse espaço concreto. [...] A objetivação dessas condições começa a emergir com o inicio da expansão européia no quinhentismo. A descoberta e incorporação de novas terras, as primeiras viagens de circunavegação e as expedições exploradoras vão propiciar o estabelecimento de uma representação realística do planeta já em meados do século XVII.” (p.17) “Com o progresso da exploração colonial, o levantamento de informações das particularidades encontradas vai sendo executado de forma cada vez mais criteriosa e detalhada [...].” (p.18) “O acumulo das descrições fornece base empírica para a comparação entre as áreas, núcleo germinador das indagações associadas na sistematização geográfica. Na verdade, a Geografia do século XVIII foi fundamentalmente a elaboração (padronização, catalogação, classificação) desse material acumulado, e representou a base imediata da emersão da sistematização geográfica.” ; “O avanço da linguagem da Cartografia ocorre calcado nas exigências práticas da intensificação das relações comerciais; era fundamental para a navegação estabelecer, da forma mais aproximada possível, a representação das rotas e a localização das terras e dos portos.” ; “O uso de mapas vai popularizar-se com a descoberta e aprimoramento das técnicas de impressão. Estas permitem a difusão das cartas, melhoradas pela aferição empírica reiterada na intensificação das viagens. [...] Pode-se 3/13 dizer que tal situação, plenamente alcançada no século XVIII, é já o anteato imediato do processo de sistematização geográfica” (p.19) “Esses dois condicionantes articulavam a questão basilar desta disciplina: a busca de uma relação teórica entre a unidade da superfície terrestre e a diversidade dos lugares. O primeiro ponto remetia a uma consciência mundializada, e o segundo, à consciência de composições diferenciadas nas singularidades locais.” ; “Neste caso, a condição de realização passa a ser não apenas um desenvolvimento histórico, mas o desenvolvimento da historia das idéias” (p.20) A particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha (Subcapítulo 2, p.26-50) São inúmeros os pensadores a caminhar neste sentido, sejam geógrafos ou não, a exemplo de Humboldt como expoente geográfico e de Montesquieu como profundo formulador de teorias integradas, que relacionavam as relações humanas com as relações naturais e suas repercussões no social. Levantado o importantíssimo papel da unicidade dada entre ciência e filosofia, detenhamo-nos num outro ponto relevante a compreensão do fenômeno geográfico moderno: a particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. No quadro europeu de desenvolvimento dos Estados Nacionais, a Alemanha teve um dos mais tardios traços de consolidação do Estado, mais especificamente a 18 de janeiro de 1871 chega-se a união alemã. Frente ao longo quadro histórico europeu que teve fortes intervenções no caso alemão, por ser Alemanha constituinte européia, tendo em vista, que uma analise histórica nos remete as questões mais remotas, desde a abordagem do Império Carolíngio ao Sacro Império Romano-Germânico que tem fortes repercussões no mundo feudal. A passagem por um mundo feudal deixa a Alemanha fragmentada em unidades territoriais e políticas, isto é, atomicizada. Cada unidade tem sua organização política, militar e seu grau de identidade regional, sendo assim a realidade alemã, percebida, até então, pelas idiossincrasias locais, não havendo identidade alemã, pois não há unidade. Quando na história européia emerge os centros comerciais e urbanos, inexisti na Alemanha uma capital que sobressaísse no território, a profusão de centros com a mesma importância e densidade cria até mesmo um caráter competitivo entre as áreas. 4/13 Um dos grandes agente consolidador do fragmentarismo alemão é a Reforma e, também, as guerras camponesas, a Reforma pois coloca as unidades pró e contra as idéias de Lutéro, num processo que leva a guerras entre principados; no que diz respeito as guerras camponesas Moraes não deixa muito claro como afetam a sedimentação da fragmentação. É de se especular que sendo o camponês um profundo detentor da propriedadeprivada, os interesses particulares de diferentes grupos na questão da terra podem causar efeitos substancias nas divergências locais que contribuem significativamente para a acentuação da não-unidade. É neste cenário que a Alemanha vai vivenciar a Revolução Francesa e o período napoleônico, mas como sempre a posição alemã variou bastante regionalmente, em função dos distintos interesses e poderio das classes em cada império. No entanto vale um destaque para as regiões orientais, principalmente para a nobreza agrária e para as monarquias absolutas mais consolidadas e poderosas, a exemplo da Prússia e da Áustria, onde o movimento francês foi visto como um eminente perigo e que colocava em risco toda a ordem social, que ainda tinha fortes traços feudais. O programa de Napoleão, certamente, era de centralização do poder com a objetivação de ordenar o Estado para consolidá-lo a serviço das relações capitalistas. Em essência o projeto napoleônico era antagonicamente declarado a lógica predominante nos Estados alemães mais poderosos militarmente, pois estes, certamente sobreviviam da manutenção da ordem feudal. As contradições se instalam, e os Estados antinapoleônico, em especial o absolutismo prussiano é suplantado pelas imposições bonapartistas. Tendo em vista que o pensamento romântico de alguns ideólogos, como Fichte e Herder, floresce como forma de resistência ao expansionismo francês e traz tentativas de construção de um sentimento de identidade nacional em oposição à hegemonia francesa, soma-se mais um fator preponderante à construção da idéia de unidade nacional. Em 1815 sucumbe Napoleão e a aristocracia remodela a Europa de acordo com os interesses monárquicos. Pelo fato da Inglaterra temer aos ideais napoleônicos, apoiou certamente a Prússia e algumas regiões da Alemanha a exemplo da Áustria que vão sair fortalecidos desses conflitos. Emergem Áustria e Prússia como influentes potencias que instalam contradições pela direção política hegemônica da nação em gestação. A Prússia através de suas políticas 5/13 expansionistas, ganha maior destaque, e toma a frente do processo de constituição do Estado alemão, através de uma política de prussianização de toda a Alemanha, alinhada a todo um aparelho de militarização e de onipresença do Estado e do controle político e aristocrático prussiano. Neste emergente Estado inicia-se um processo de industrialização firmemente estabelecido e com subsídios para a competitividade na Europa, uma militarização extremamente relevante entre as potencias mundiais, porém, atrasada em sua estrutura agrária, sem colônias, com uma institucionalidade calcada na força do Estado e com um sentimento de nacionalismo, subsidiado pela idealização romântica, exarcebado. Eis a Alemanha que inicia o século X. “[...] o desenvolvimento urbano, que noutros países europeus representou nesse período um elemento impulsionador da unidade nacional, no caso alemão apenas complica mais o quadro fragmentário.” (p.29) “Como bem aponta Engels: ‘O principal efeito das guerras camponesas foi aguçar e consolidar a divisão política da Alemanha [...]’.” (p.30) “[...] tanto o desenvolvimento comercial e urbano quanto a Reforma e as guerras camponesas, que em outros países da Europa atuaram no sentido da consolidação do poder central e do Estado nacional, na Alemanha reforçaram a fragmentação e a aristocracia feudal, revigorando relações sociais típicas do feudalismo, como a servidão e a vassalagem.” (p.31) “No bojo dessas transformações, a tese da necessidade da unificação nacional também vai se reforçar no campo da reação ao avanço francês’.” (p.36) “[reordenamento territorial, de cunho aristocrático, os Estados alemães que eram cerca de] 234 unidades políticas agregadas no Sacro Império em 1797, passou-se a menos de 40 no período pós-napoleônico” (p.37) “É em meio a esse quadro que a sorte da Alemanha, nas próximas décadas, é decidida no Congresso de Viena, em 1815. Aí toda a intrincada trama da diplomacia européia vem à tona: na verdade, todas as grandes monarquias se temem, e, em função disso, a Alemanha permanecerá desmembrada.”(p.38) “Nas palavras de Hobsbawn: ‘Áustria, Prússia e a grei dos pequenos Estados alemães espiavam-se uns aos outros dentro da Confederação Germânica, ainda que a prioridade da 6/13 Áustria fosse reconhecida. A missão mais importante da Confederação era manter os pequenos Estados fora da órbita francesa dentro da qual tendiam a gravitar’.” (p.39) “Pode-se dizer, de forma sintética, que as insurreições populares de 1848 representam o fim do ‘período heroico’ da burguesia, isto é, aquele em que essa classe se apresentava na cena política como revolucionária, propondo um projeto hegemônico para a sociedade. Inicia-se aí uma fase defensiva dessa classe, que passa a lutar pelo seu domínio, já estabelecido no plano econômico pela plena maturação das relações capitalistas.” (p.40) “Porém, a revolução também ocasiona uma ampliação da própria ótica dos setores autoritários, que tomam consciência da necessidade de forjarem uma institucionalidade baseada num mínimo de consenso, enfim, de proporem uma política que, pelo menos formalmente, diaIogue com o conjunto da sociedade. Essa conseqüência é claramente colocada por Hobsbawn, ao dizer: ‘Os defensores da ordem social precisaram aprender a política do povo. Esta foi a maior inovação trazida pelas revoluções de 1848. [...] ’.” (p.41) “A necessidade de centralização do poder passa a ser vista com maior clareza pelas diferentes classes do bloco dominante. A unificação, proposta presente no ideário revolucionário, passa também a ser posta como um imperativo pelas forças da reação. Estas tentam redefinir o patriotismo revolucionário contido na proposta de unificação num nacionalismo chauvinista contra-revolucionário; nessa proposta, os problemas sociais são escamoteados na questão nacional.” (p.42) “Homogeneiza-se a Alemanha tendo por parâmetro a realidade prussiana.” (p.45) “O projeto imperial latente, que legitima a ditadura e seu caráter bélico, age como argamassa desse arranjo, promovendo o desenvolvimento econômico industrial. É nesse contexto que se inserem as guerras com a Dinamarca e a França, ambas de cunho imperialista, cujas vitórias solidificam a unidade alemã sob hegemonia prussiana. Assim é que, finalmente, em 1871, no próprio paço de Versalhes, Guilherme I é coroado imperador da Alemanha, constituindo-se de fato a unificação nacional sob a égide da Prússia e de Bismarck: a prussianização fundindo a nacionalidade.” ; “O Estado, posto como mediação unificadora acima da sociedade, penetra em todas as esferas da vida social, expandindo- se, burocratizando-se e centralizando cada vez mais o poder: ‘o bonapartismo bismarckiano’, para utilizar a expressão de Engels, seria o exemplo concreto mais próximo do ‘leviatã’ antevisto por Hobbes.” (p.46) “Lukács diz que: ‘[...] A Alemanha se constitui no Estado que marcha à frente do imperialismo na Europa, e, ao mesmo tempo, no Estado imperialista mais agressivo e que 7/13 pressiona de modo mais violento por uma nova repartição do mundo’. O desenvolvimento econômico alcançado nesse esquema é realmente considerável.” (p.47) “É esta Alemanha que inicia o século XX, industrialmente desenvolvida, atrasada na estrutura agrária, firmemente estabelecida em termos militares entre as potências mundiais, com uma economia bastante dominada pelos grandes cartéis, sem colônias, com uma institucionalidade amparada na força, com um expansionismo latente e um nacionalismoexacerbado.” ; “O desenvolvimento das contradições presentes vai desembocar na guerra de 1914-1918, onde a Alemanha foi uma das principais protagonistas. A derrota nesse conflito vai encerrar esse primeiro período, imperial, da história da Alemanha constituída enquanto Estado nacional.” (p.49) O pensamento alemão do século XIX (Subcapítulo 3, p.50-66) Feita a exposição da peculiaridade do desenvolvimento do capitalismo alemão, pode-se desenvolver, também, compreensões do pensamento alemão do século XIX, porque a construção do pensamento é também, produto histórico. O espaço é palco da história e admitindo o pensamento também como um produto histórico é de se ter em vista que a realidade espacial da Alemanha contribui significativamente para as formas de pensamento que aí irão se desenvolver, até mesmo sua posição geográfica pode ser um papel relevante e interessante. A realidade social alemã tinha as suas dimensões, mas estas, longe de serem pensadas pela intelectualidade local que estavam inseridas em tal realidade, mas que preferiam ser a consciência teórica dos outros povos, isto é, pensando principalmente, diga-se não unicamente, a realidade alheia. Pode-se falar, a partir de outro viés, devido ao caráter dual alemão, ou seja, essa mesma divagação, digressão ou até mesmo evasiva da realidade local tem um papel preponderante na construção do romantismo que vai dar suporte a idéia de nação necessária a realidade alemã, no entanto os pioneiros dessa forma de pensamento trabalhavam com a ótica de nacionalidade e não com a de Estado. O projeto político de unificação nacional e de criação do Estado alemão vai enxergar na filosofia romântica a dimensão catalisadora, que ela propicia, na construção do Estado, e, portanto, vai apoiar severamente seu desenvolvimento no aparelho ideológico institucional, que são as escolas e universidades, desdobrando-se numa perspectiva científica do 8/13 processo unificador, ou seja, as ciências alimentadas pelo ideal romântico vão empenhar- se, a partir de suas realidades metodológicas, em pensar um Estado alemão. Entendido o papel do aparato ideológico institucionalizado, compreende-se que no âmbito das ciências, nestas pela inerente necessidade do discurso de neutralidade, há um substancial desenvolvimento a serviço do poder central, a exemplo das ciências naturais, que vão ter um crescimento voraz como resposta a uma crescente necessidade de compreensão territorial aliada a uma série de posturas acadêmicas dotadas de um nacionalismo exacerbado que tende a se desdobrar em posicionamentos que almejam e constroem o mito da superioridade ariana, mito este fundamentado em parâmetros de um endeusamento do Estado que em seu seio supria-se de racismos, nacionalismo, romantismo e misticismo, tudo dentro de uma lógica cientificamente neutra, ou sem interesses político-institucionais. É nesse eixo de desenvolvimento das ciências para a reprodução dos interesses políticos que a Geografia ganha o seu corpo moderno e científico, o apanhado de informações necessárias a compreensão dos territórios acaba sendo obra do saber geográfico, mas não exclusivamente, e como já mencionado vai ser de contribuição significativa para o processo unificador alemão. “[...] por um lado, vivencia, em função de sua localização, a contemporaneidade européia no plano das idéias. Assim, defronta-se com as questões e assuntos postos pela vanguarda do pensamento inglês e francês. Por outro lado, vivencia um quadro social e político alemão onde os resquícios do passado dominam a cena e sua p´ropria possibilidade de transformação. Dessa maneira, o pensamento alemão discorre sobre temas que não são seus.” (p.51) “Esse autor [Herder; ...] aparece como um dos influenciadores dos primeiros geógrafos, desenvolveu o conceito central de ‘espírito do povo’ e definiu com clareza a idéia de unidade nacional apoiada na identidade lingüística. Assim, a ótica desses pioneiros românticos era a da nação e não do Estado, e a questão da unidade nacinal não se convertia diretamente num projeto político.” (p.54) “Deve-se lembrar que a Alemanha contava com todo um aparato de transmissão do conhecimento que fornecia condições materiais para o bom êxito de uma ampla difusão desse projeto ideológico: apenas para ilustrar, a Alemanha possuía dezessete mil universitários em 1870, contra dez mil da França; além disso, a idéia da unidade lingüística 9/13 e de sua importância havia levado a uma preocupação com a educação primária, que fazia com que as taxas de anafalbetismo fossem aqui das mais baixas da Europa” (p.60-61) “É nesse ambiente que se desenrola o avanço da postura cientificista. Cientificismo que traz em seu bojo o projeto de tornar a universidade um claro aparelho de criação e difusão de teses legitimadoras da proposta imperial prussiana. Para tanto, mantendo a retórica da objetividade e da neutralidade (próprias do cientificismo), estimulam-se todos os traços ideológicos presentes que interessem àqueles desígnios práticos. Nesse processo associa- se pragmatismo e especulação, cientificismo empirista e irracionalismo, conservadorismo e militarismo radical.” (p.62) “A universidade alemã se torna cada vez mais um aparelho ideológico do Estado, e o intelectual alemão cada vez mais um apologeta. Fermenta-se aqui o nacionalismo chauvinista, que virá à tona nas décadas seguintes. Para tanto, importam-se e difundem-se as obras dos principais autores reacionários. Os historiadores deterministas e autoritários como Taine e Buckle conhecem ampla difusão.” (p.63) “Aos autores que não.se enquadram nesta vertente restou pouco espaço de ação, M. Löwy defende a idéia de que estes refugiaram-se num ‘anticapitalismo romântico’; são suas as palavras: ‘Se o fenômeno da 'intelligentsia' anticapitalista é mais ou menos universal na Europa na passagem do século, é na Alemanha que ele se manifesta com uma acuidade particular. Por que precisamente na Alemanha? Uma das razões é, sem dúvida, a tradição anticapitalista romântica fortemente enraizada entre os intelectuais alemães a partir do começo do século XIX’. Segundo ainda este autor, Schopenhauer e Nietzsche foram os elos de ligação entre o romantismo do início do século e o anticapitalismo crítico do final, e a universidade foi o ‘foco ideológico anticapitalista’. A produção de Nietzsche, segundo ele, conteria uma ‘dupla visão’, fornecendo elementos para o pensamento crítico e o conservador. Löwy não deixa de mencionar que tal postura anticapitalista não se opunha à ideologia dominante, antes fornecia-lhe munição como, por exemplo, ao debater a oposição cultura-civilização.” (p.65) “A posição assumida pela social-democracia na guerra de 1914 ilustra exemplarmente o alcance atingido pelo nacionalismo chauvinista e agressivo no pensamento alemão do início do século XX, pois a sujeição a ele por parte da direção dos sociais-democratas revela que tal ideologia penetrou mesmo naqueles movimentos que se antagonizavam estruturalmente com as forças sociais que a haviam engendrado.” (p.65-66) 10/13 A Geografia na História da Alemanha (Subcapítulo 4, p.66-75) Humboldt e Ritter ganham papel de destaque nesta fase, pois são eles os principais expoentes na realização e ordenação de minuciosos trabalhos científicos. Humboldt foi o principal expoente nos métodos de observação da geografia física, por meio de suas viagens e formulações, também criou e aplicou os princípios da Casualidade e da Geografia Geral. Ritter considerava-se discípulo de Humboldt, continuando suas teorias e formando ageografia como ciência empírica e introduzindo a metodologia direta em seu estudo. De todo modo o fato é que as formulações desses autores abarcadas pelo aparato político servem para elevar, a problemática espacial alemã, a caráter de cientificidade. Uma militarização ostensiva alinhada a um fortalecimento institucional somado a uma contribuição sistemática das ciências e com um nacionalismo exacerbado, unifica-se a Alemanha em 1871. Na Alemanha unificada a problemática espacial se resolvia no novo Estado, mas estava longe de se resolver a problemática geográfica, isto é, tem-se uma Alemanha unificada, mas com disparidades internas extremamente acentuadas e é necessária cada vez mais a ciência geográfica para as questões que sejam de domínio de espaço, de gestão de recursos naturais e das relações econômicas, das fronteiras, das raças e até mesmo para a legitimação da política de expansionismo imperialista vigente, da compreensão do mundo para se organizar tanto militar como economicamente. Nesse sentido o horizonte geográfico tende a ampliar e passa-se a introduzir no temário desta ciência a problemática social e econômica, vale um destaque extremamente relevante neste contexto para Ratzel que pioneiramente vai produzir uma Geografia do Homem, que traz uma tematização política e antropológica que contribui fortemente para a riqueza do saber geográfico. Feito esse esforço de síntese que nos mostra a complexidade da história alemã e a também complexidade da Geografia Moderna encerra-se com um dos porquês desta ciência na Alemanha. “[...] do mesmo modo que a Sociologia aflorou enquanto ciência autônoma na França, ‘país onde, mais do que em qualquer outro lugar, as lutas de classe sempre foram levadas à decisão final’, a Geografia, enquanto ciência autônoma, haveria de surgir na Alemanha, 11/13 onde a questão espacial ou territorial se coloca no centro dos problemas da sociedade” (p.68) “Tanto Humboldt quanto Ritter produziram trabalhos minuciosos de ordenação científica. Ritter realiza toda uma padronização conceitual que interessa, não apenas à Geografia (cuja primeira formulação sistemática de objeto e método foi obra sua), mas a qualquer descrição da Terra. Humboldt produz normas, conceitos e classificações que interessam a um conjunto bastante vasto de ciências; além da Geografia, seu nome ocupa uma posição de destaque na evolução da Botânica, da Geologia e da Cartografia, entre outras.” (p.70) “Na verdade, apesar da lacuna teórica deixada por Humboldt e Ritter (e da não continuidade direta de uma discussão posta no nível de amplidão que eles conseguiram), a Geografia prossegue desenvolvendo-se e sedimentando-se na Alemanha. Isso decorre, sem dúvida, do fato de as condições que impulsionaram sua gênese permanecerem inalteradas, no fundamental, até o advento da efetiva unificação alemã.” (p.71) “A tematização do expansionismo é abertamente formulada por Ratzel, porém é discutida num plano universal, onde emerge a artimanha do argumento de sua justificação: a naturalização, a expansão posta como característica natural da história dos povos.” (p.73) “O naturalismo, que justificará a própria proeminência do Estado, surgirá como um grande cimento da constelação ideológica subjacente ao desenvolvimento da proposta imperial prussiana. Naturalizam-se as características do quadro social da Alemanha, fazendo-as passar por decorrências de atributos específicos germânicos advindos da raça.” (p.73-74) “Sintetizando o que foi apresentado, reafirma-se a idéia de que o afloramento do processo de sitematização da Geografia, especificamente na Alemanha, ocorreu em virtude das condições particulares de desenvolvimento das relações capitalistas do país, que colocavam a questão espacial (logo, o temário dessa disciplina) no centro do debate político.” (p.74-75) “A discussão geográfica no século XIX avançou, alimentando e sendo alimentada, dentro desse processo de unificação, e foi a obra de alemães. A justificativa dessas afirmações pede concurso de uma análise mais detalhada dos principais representantes desse movimento genético da Geografia moderna: Humboldt, Ritter e Ratzel.” (p.75) 12/13 Comentários • Localização na Biblioteca Digital Particular “Patrick Giuliano Taranti” o Chamada / Tombo: TD-002.161 Obs: obra completa Sobre o livro Este livro trata da Geografia Moderna, a qual surge no início do século XIX na Alemanha, marcada pelas particularidades do desenvolvimento capitalista naquele país. Sua sistematização se deve a dois autores: ois autores Alexandre von Humboldt e Karl Ritter, por isso mesmo tidos como seus “clássicos”. O contexto cultural e político e o conteúdo filosófico e metodológico de suas obras normativas são o objeto do presente trabalho, que articula a análise epistemológica com a da sociologia da ciência. <<<<<>>>>> Sobre o autor Antônio Carlos Robert Moraes, mineiro de Poços de Caldas foi um geógrafo, cientista social e professor (1954-2015). Desde muito jovem viveu na capital paulista. Na década de 1970, participou da luta contra a ditadura como membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), à época proscrito, e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia discordantes do golpe de 1964. É na interface entre Geografia, História, Ciência Política e Sociologia do Conhecimento que sua produção intelectual se localiza. Bacharel em geografia (1977) e em ciências sociais (1979) pela USP, assi como o mestrado, doutorado e livre-docência. Tornou-se docente da USP em 1982 e, a partir de 2005, foi nomeado professor titular do Departamento de Geografia, onde coordenou o Laboratório de Geografia Política. Também foi professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP (1978-1982) e ministrou cursos em várias universidades do país e do exterior. Presidia a banca de geografia do concurso de ingresso na carreira de diplomata do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores. Elaborou, para o governo brasileiro, a metodologia de vários programas de política ambiental e de ordenamento territorial, notadamente interessando-se pelas áreas costeiras. 13/13 Foi consultor do Programa de Gestão da Zona Costeira de Moçambique. Participou da elaboração do Programa Global de Ação para o Controle de Poluição Marinha do CDS- ONU. Em 2001, foi agraciado com a Ordem do Rio Branco. Publicou e organizou 26 livros nas áreas da geografia histórica e política – o último deles, Território na geografia de Milton Santos, em 2014 – e dezenas de artigos. (fonte: Wikipédia) <<<<<>>>>> Principais obras do autor • Contribuições para a gestão da zona Ccosteira do Brasil • A Fazenda de Café. O Cotidiano da Historia • Flávio de Carvalho • A Gênese da Geografia Moderna • Geografia Crítica - A Valorização do Espaço (com Wanderley Messias da Costa) • Geografia Histórica do Brasil: Capitalismo, Território e Periferia • Geografia : Pequena História Crítica • Ideologias Geográficas • Meio Ambiente e Ciências Humanas • Território e História no Brasil • Território na Geografia de Milton Santos
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