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FICHAMENTO - MORAES, Antônio Carlos Robert. A Particularidade Histórica da Alemanha e a Gênese da Geografia Moderna.

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1/13 
 
Nome: Patrick Giuliano Taranti 
Nº matrícula: 11711GEO232 
Disciplina: História do Pensamento Geográfico 
Turma: Noturno ☐ Diurno ☐ 
Prof. Dra Rita de Cássia Martins de Souza 
 
Referências Bibliográficas 
 
MORAES, Antônio Carlos Robert. A Particularidade Histórica da Alemanha e a Gênese da 
Geografia Moderna. In: _____. A Gênese da Geografia Moderna. 2ª ed. São Paulo: Hucitec; 
EDUSP, 1989. p. 15-75. Nota: Capítulo I. (Geografia. Teoria e Realidade; v.16) 
 
 
A particularidade histórica da Alemanha e a gênese da Geografia moderna 
(Capítulo 1, p.15-75) 
A sistematização da Geografia Moderna 
(Subcapítulo 1, p.15-25) 
 O marco inicial da Geografia Moderna é dado pela publicação das obras de Humboldt e 
Ritter, que criam o arcabouço necessário a sistematização desta ciência, de acordo com as 
perspectivas metodológicas e filosóficas desses autores. 
 É de fundamental importância conhecer, também, os pressupostos históricos desta 
ciência, os pressupostos filosóficos e os porquês de sua gênese cientifica e sistemática na 
Alemanha. São estas, condições necessárias para a concepção desta ciência. 
 O modo de produção capitalista é, por essência, um ampliador de horizontes espaciais, 
desde os primórdios de seu florescimento. Um pressuposto histórico ou cronológico da 
geografia, e também corológico, é o conhecimento efetivo de todo o planeta que começa a 
se desenvolver a partir da ampliação do horizonte ecúmeno europeu, subsidiado pelas 
grandes navegações. 
 Se o saber geográfico é cognoscibilidade espacial, a geografia enquanto consciência de 
mundo expande seu horizonte de aspiração a partir de tal fenômeno histórico. É de se 
destacar o avanço cartográfico desta época, o conhecimento de novas naturezas e de novos 
povos, fundamentado num processo de desenvolvimento cada vez mais cientifico e 
prospector de territórios, criador de colônias. 
 O acúmulo de informações necessárias à comparação entre áreas, pois a empiricidade 
leva ao reconhecimento da diversidade espacial, apesar da emergente unidade do espaço. 
 No entanto, não é só de pressupostos históricos e técnicos que nasce a geografia 
moderna, é de se ter em vista a pertinência do destaque da classe de ideias que tendem a 
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se desenvolver, ou a evoluir, para a construção do temário geográfico moderno, a exemplo 
do referendado pensamento científico e filosófico. 
 Tais desenvolvimentos criam pilares de sustentação das ciências modernas, não só a 
Geografia, mas da Botânica, a qual Humboldt é referencia, a Zoologia e Geologia, que 
também tem forte contribuição deste pensador, sendo de extrema importância lembrar que 
a pesquisa empírica, inerente a ciência, não era oposta a discussão filosófica, ou a 
divagação abstrata, pois se integravam num corpo unitário do pensamento. 
 
 “As condições [...] foram geradas no longo processo de transição do Feudalismo para o 
Capitalismo, processo esses que implicou o estabelecimento de uma história universal” 
(p.16-17). 
 “O pressuposto mais fundamental da Geografia moderna era o conhecimento efetivo do 
planeta, isto é, que o ‘mundo conhecido’ atingisse a total expressão da Terra. Assim, a 
condição de realização desse pressuposto calcava-se na constituição do espaço mundial 
de relações. A consciência da magnitude real da superfície terrestre [...] representava o 
patamar mínimo para o afloramento da reflexão sistematizada sobre esse espaço concreto. 
[...] A objetivação dessas condições começa a emergir com o inicio da expansão européia 
no quinhentismo. A descoberta e incorporação de novas terras, as primeiras viagens de 
circunavegação e as expedições exploradoras vão propiciar o estabelecimento de uma 
representação realística do planeta já em meados do século XVII.” (p.17) 
 “Com o progresso da exploração colonial, o levantamento de informações das 
particularidades encontradas vai sendo executado de forma cada vez mais criteriosa e 
detalhada [...].” (p.18) 
 “O acumulo das descrições fornece base empírica para a comparação entre as áreas, 
núcleo germinador das indagações associadas na sistematização geográfica. Na verdade, 
a Geografia do século XVIII foi fundamentalmente a elaboração (padronização, catalogação, 
classificação) desse material acumulado, e representou a base imediata da emersão da 
sistematização geográfica.” ; “O avanço da linguagem da Cartografia ocorre calcado nas 
exigências práticas da intensificação das relações comerciais; era fundamental para a 
navegação estabelecer, da forma mais aproximada possível, a representação das rotas e a 
localização das terras e dos portos.” ; “O uso de mapas vai popularizar-se com a descoberta 
e aprimoramento das técnicas de impressão. Estas permitem a difusão das cartas, 
melhoradas pela aferição empírica reiterada na intensificação das viagens. [...] Pode-se 
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dizer que tal situação, plenamente alcançada no século XVIII, é já o anteato imediato do 
processo de sistematização geográfica” (p.19) 
 “Esses dois condicionantes articulavam a questão basilar desta disciplina: a busca de 
uma relação teórica entre a unidade da superfície terrestre e a diversidade dos lugares. O 
primeiro ponto remetia a uma consciência mundializada, e o segundo, à consciência de 
composições diferenciadas nas singularidades locais.” ; “Neste caso, a condição de 
realização passa a ser não apenas um desenvolvimento histórico, mas o desenvolvimento 
da historia das idéias” (p.20) 
 
A particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha 
(Subcapítulo 2, p.26-50) 
 São inúmeros os pensadores a caminhar neste sentido, sejam geógrafos ou não, a 
exemplo de Humboldt como expoente geográfico e de Montesquieu como profundo 
formulador de teorias integradas, que relacionavam as relações humanas com as relações 
naturais e suas repercussões no social. 
 Levantado o importantíssimo papel da unicidade dada entre ciência e filosofia, 
detenhamo-nos num outro ponto relevante a compreensão do fenômeno geográfico 
moderno: a particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. 
 No quadro europeu de desenvolvimento dos Estados Nacionais, a Alemanha teve um 
dos mais tardios traços de consolidação do Estado, mais especificamente a 18 de janeiro 
de 1871 chega-se a união alemã. Frente ao longo quadro histórico europeu que teve fortes 
intervenções no caso alemão, por ser Alemanha constituinte européia, tendo em vista, que 
uma analise histórica nos remete as questões mais remotas, desde a abordagem do Império 
Carolíngio ao Sacro Império Romano-Germânico que tem fortes repercussões no mundo 
feudal. 
 A passagem por um mundo feudal deixa a Alemanha fragmentada em unidades 
territoriais e políticas, isto é, atomicizada. Cada unidade tem sua organização política, militar 
e seu grau de identidade regional, sendo assim a realidade alemã, percebida, até então, 
pelas idiossincrasias locais, não havendo identidade alemã, pois não há unidade. 
 Quando na história européia emerge os centros comerciais e urbanos, inexisti na 
Alemanha uma capital que sobressaísse no território, a profusão de centros com a mesma 
importância e densidade cria até mesmo um caráter competitivo entre as áreas. 
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 Um dos grandes agente consolidador do fragmentarismo alemão é a Reforma e, 
também, as guerras camponesas, a Reforma pois coloca as unidades pró e contra as idéias 
de Lutéro, num processo que leva a guerras entre principados; no que diz respeito as 
guerras camponesas Moraes não deixa muito claro como afetam a sedimentação da 
fragmentação. 
 É de se especular que sendo o camponês um profundo detentor da propriedadeprivada, 
os interesses particulares de diferentes grupos na questão da terra podem causar efeitos 
substancias nas divergências locais que contribuem significativamente para a acentuação 
da não-unidade. 
 É neste cenário que a Alemanha vai vivenciar a Revolução Francesa e o período 
napoleônico, mas como sempre a posição alemã variou bastante regionalmente, em função 
dos distintos interesses e poderio das classes em cada império. No entanto vale um 
destaque para as regiões orientais, principalmente para a nobreza agrária e para as 
monarquias absolutas mais consolidadas e poderosas, a exemplo da Prússia e da Áustria, 
onde o movimento francês foi visto como um eminente perigo e que colocava em risco toda 
a ordem social, que ainda tinha fortes traços feudais. 
 O programa de Napoleão, certamente, era de centralização do poder com a objetivação 
de ordenar o Estado para consolidá-lo a serviço das relações capitalistas. 
 Em essência o projeto napoleônico era antagonicamente declarado a lógica 
predominante nos Estados alemães mais poderosos militarmente, pois estes, certamente 
sobreviviam da manutenção da ordem feudal. 
 As contradições se instalam, e os Estados antinapoleônico, em especial o absolutismo 
prussiano é suplantado pelas imposições bonapartistas. 
 Tendo em vista que o pensamento romântico de alguns ideólogos, como Fichte e Herder, 
floresce como forma de resistência ao expansionismo francês e traz tentativas de 
construção de um sentimento de identidade nacional em oposição à hegemonia francesa, 
soma-se mais um fator preponderante à construção da idéia de unidade nacional. 
 Em 1815 sucumbe Napoleão e a aristocracia remodela a Europa de acordo com os 
interesses monárquicos. Pelo fato da Inglaterra temer aos ideais napoleônicos, apoiou 
certamente a Prússia e algumas regiões da Alemanha a exemplo da Áustria que vão sair 
fortalecidos desses conflitos. 
 Emergem Áustria e Prússia como influentes potencias que instalam contradições pela 
direção política hegemônica da nação em gestação. A Prússia através de suas políticas 
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expansionistas, ganha maior destaque, e toma a frente do processo de constituição do 
Estado alemão, através de uma política de prussianização de toda a Alemanha, alinhada a 
todo um aparelho de militarização e de onipresença do Estado e do controle político e 
aristocrático prussiano. 
 Neste emergente Estado inicia-se um processo de industrialização firmemente 
estabelecido e com subsídios para a competitividade na Europa, uma militarização 
extremamente relevante entre as potencias mundiais, porém, atrasada em sua estrutura 
agrária, sem colônias, com uma institucionalidade calcada na força do Estado e com um 
sentimento de nacionalismo, subsidiado pela idealização romântica, exarcebado. 
 Eis a Alemanha que inicia o século X. 
 
 “[...] o desenvolvimento urbano, que noutros países europeus representou nesse período 
um elemento impulsionador da unidade nacional, no caso alemão apenas complica mais o 
quadro fragmentário.” (p.29) 
 “Como bem aponta Engels: ‘O principal efeito das guerras camponesas foi aguçar e 
consolidar a divisão política da Alemanha [...]’.” (p.30) 
 “[...] tanto o desenvolvimento comercial e urbano quanto a Reforma e as guerras 
camponesas, que em outros países da Europa atuaram no sentido da consolidação do 
poder central e do Estado nacional, na Alemanha reforçaram a fragmentação e a 
aristocracia feudal, revigorando relações sociais típicas do feudalismo, como a servidão e a 
vassalagem.” (p.31) 
 “No bojo dessas transformações, a tese da necessidade da unificação nacional 
também vai se reforçar no campo da reação ao avanço francês’.” (p.36) 
 “[reordenamento territorial, de cunho aristocrático, os Estados alemães que eram cerca 
de] 234 unidades políticas agregadas no Sacro Império em 1797, passou-se a menos de 40 
no período pós-napoleônico” (p.37) 
 “É em meio a esse quadro que a sorte da Alemanha, nas próximas décadas, é decidida 
no Congresso de Viena, em 1815. Aí toda a intrincada trama da diplomacia européia vem à 
tona: na verdade, todas as grandes monarquias se temem, e, em função disso, a Alemanha 
permanecerá desmembrada.”(p.38) 
 “Nas palavras de Hobsbawn: ‘Áustria, Prússia e a grei dos pequenos Estados alemães 
espiavam-se uns aos outros dentro da Confederação Germânica, ainda que a prioridade da 
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Áustria fosse reconhecida. A missão mais importante da Confederação era manter os 
pequenos Estados fora da órbita francesa dentro da qual tendiam a gravitar’.” (p.39) 
 “Pode-se dizer, de forma sintética, que as insurreições populares de 1848 representam 
o fim do ‘período heroico’ da burguesia, isto é, aquele em que essa classe se apresentava 
na cena política como revolucionária, propondo um projeto hegemônico para a sociedade. 
Inicia-se aí uma fase defensiva dessa classe, que passa a lutar pelo seu domínio, já 
estabelecido no plano econômico pela plena maturação das relações capitalistas.” (p.40) 
 “Porém, a revolução também ocasiona uma ampliação da própria ótica dos setores 
autoritários, que tomam consciência da necessidade de forjarem uma institucionalidade 
baseada num mínimo de consenso, enfim, de proporem uma política que, pelo menos 
formalmente, diaIogue com o conjunto da sociedade. Essa conseqüência é claramente 
colocada por Hobsbawn, ao dizer: ‘Os defensores da ordem social precisaram aprender a 
política do povo. Esta foi a maior inovação trazida pelas revoluções de 1848. [...] ’.” (p.41) 
 “A necessidade de centralização do poder passa a ser vista com maior clareza pelas 
diferentes classes do bloco dominante. A unificação, proposta presente no ideário 
revolucionário, passa também a ser posta como um imperativo pelas forças da reação. 
Estas tentam redefinir o patriotismo revolucionário contido na proposta de unificação num 
nacionalismo chauvinista contra-revolucionário; nessa proposta, os problemas sociais são 
escamoteados na questão nacional.” (p.42) 
 “Homogeneiza-se a Alemanha tendo por parâmetro a realidade prussiana.” (p.45) 
 “O projeto imperial latente, que legitima a ditadura e seu caráter bélico, age como 
argamassa desse arranjo, promovendo o desenvolvimento econômico industrial. É nesse 
contexto que se inserem as guerras com a Dinamarca e a França, ambas de cunho 
imperialista, cujas vitórias solidificam a unidade alemã sob hegemonia prussiana. Assim é 
que, finalmente, em 1871, no próprio paço de Versalhes, Guilherme I é coroado imperador 
da Alemanha, constituindo-se de fato a unificação nacional sob a égide da Prússia e de 
Bismarck: a prussianização fundindo a nacionalidade.” ; “O Estado, posto como mediação 
unificadora acima da sociedade, penetra em todas as esferas da vida social, expandindo-
se, burocratizando-se e centralizando cada vez mais o poder: ‘o bonapartismo 
bismarckiano’, para utilizar a expressão de Engels, seria o exemplo concreto mais próximo 
do ‘leviatã’ antevisto por Hobbes.” (p.46) 
 “Lukács diz que: ‘[...] A Alemanha se constitui no Estado que marcha à frente do 
imperialismo na Europa, e, ao mesmo tempo, no Estado imperialista mais agressivo e que 
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pressiona de modo mais violento por uma nova repartição do mundo’. O desenvolvimento 
econômico alcançado nesse esquema é realmente considerável.” (p.47) 
 “É esta Alemanha que inicia o século XX, industrialmente desenvolvida, atrasada na 
estrutura agrária, firmemente estabelecida em termos militares entre as potências mundiais, 
com uma economia bastante dominada pelos grandes cartéis, sem colônias, com uma 
institucionalidade amparada na força, com um expansionismo latente e um nacionalismoexacerbado.” ; “O desenvolvimento das contradições presentes vai desembocar na guerra 
de 1914-1918, onde a Alemanha foi uma das principais protagonistas. A derrota nesse 
conflito vai encerrar esse primeiro período, imperial, da história da Alemanha constituída 
enquanto Estado nacional.” (p.49) 
 
O pensamento alemão do século XIX 
(Subcapítulo 3, p.50-66) 
 Feita a exposição da peculiaridade do desenvolvimento do capitalismo alemão, pode-se 
desenvolver, também, compreensões do pensamento alemão do século XIX, porque a 
construção do pensamento é também, produto histórico. 
 O espaço é palco da história e admitindo o pensamento também como um produto 
histórico é de se ter em vista que a realidade espacial da Alemanha contribui 
significativamente para as formas de pensamento que aí irão se desenvolver, até mesmo 
sua posição geográfica pode ser um papel relevante e interessante. 
 A realidade social alemã tinha as suas dimensões, mas estas, longe de serem pensadas 
pela intelectualidade local que estavam inseridas em tal realidade, mas que preferiam ser a 
consciência teórica dos outros povos, isto é, pensando principalmente, diga-se não 
unicamente, a realidade alheia. 
 Pode-se falar, a partir de outro viés, devido ao caráter dual alemão, ou seja, essa mesma 
divagação, digressão ou até mesmo evasiva da realidade local tem um papel preponderante 
na construção do romantismo que vai dar suporte a idéia de nação necessária a realidade 
alemã, no entanto os pioneiros dessa forma de pensamento trabalhavam com a ótica de 
nacionalidade e não com a de Estado. 
 O projeto político de unificação nacional e de criação do Estado alemão vai enxergar na 
filosofia romântica a dimensão catalisadora, que ela propicia, na construção do Estado, e, 
portanto, vai apoiar severamente seu desenvolvimento no aparelho ideológico institucional, 
que são as escolas e universidades, desdobrando-se numa perspectiva científica do 
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processo unificador, ou seja, as ciências alimentadas pelo ideal romântico vão empenhar-
se, a partir de suas realidades metodológicas, em pensar um Estado alemão. 
 Entendido o papel do aparato ideológico institucionalizado, compreende-se que no 
âmbito das ciências, nestas pela inerente necessidade do discurso de neutralidade, há um 
substancial desenvolvimento a serviço do poder central, a exemplo das ciências naturais, 
que vão ter um crescimento voraz como resposta a uma crescente necessidade de 
compreensão territorial aliada a uma série de posturas acadêmicas dotadas de um 
nacionalismo exacerbado que tende a se desdobrar em posicionamentos que almejam e 
constroem o mito da superioridade ariana, mito este fundamentado em parâmetros de um 
endeusamento do Estado que em seu seio supria-se de racismos, nacionalismo, 
romantismo e misticismo, tudo dentro de uma lógica cientificamente neutra, ou sem 
interesses político-institucionais. 
 É nesse eixo de desenvolvimento das ciências para a reprodução dos interesses políticos 
que a Geografia ganha o seu corpo moderno e científico, o apanhado de informações 
necessárias a compreensão dos territórios acaba sendo obra do saber geográfico, mas não 
exclusivamente, e como já mencionado vai ser de contribuição significativa para o processo 
unificador alemão. 
 
 “[...] por um lado, vivencia, em função de sua localização, a contemporaneidade européia 
no plano das idéias. Assim, defronta-se com as questões e assuntos postos pela vanguarda 
do pensamento inglês e francês. Por outro lado, vivencia um quadro social e político alemão 
onde os resquícios do passado dominam a cena e sua p´ropria possibilidade de 
transformação. Dessa maneira, o pensamento alemão discorre sobre temas que não são 
seus.” (p.51) 
 “Esse autor [Herder; ...] aparece como um dos influenciadores dos primeiros geógrafos, 
desenvolveu o conceito central de ‘espírito do povo’ e definiu com clareza a idéia de unidade 
nacional apoiada na identidade lingüística. Assim, a ótica desses pioneiros românticos era 
a da nação e não do Estado, e a questão da unidade nacinal não se convertia diretamente 
num projeto político.” (p.54) 
 “Deve-se lembrar que a Alemanha contava com todo um aparato de transmissão do 
conhecimento que fornecia condições materiais para o bom êxito de uma ampla difusão 
desse projeto ideológico: apenas para ilustrar, a Alemanha possuía dezessete mil 
universitários em 1870, contra dez mil da França; além disso, a idéia da unidade lingüística 
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e de sua importância havia levado a uma preocupação com a educação primária, que fazia 
com que as taxas de anafalbetismo fossem aqui das mais baixas da Europa” (p.60-61) 
 “É nesse ambiente que se desenrola o avanço da postura cientificista. Cientificismo que 
traz em seu bojo o projeto de tornar a universidade um claro aparelho de criação e difusão 
de teses legitimadoras da proposta imperial prussiana. Para tanto, mantendo a retórica da 
objetividade e da neutralidade (próprias do cientificismo), estimulam-se todos os traços 
ideológicos presentes que interessem àqueles desígnios práticos. Nesse processo associa-
se pragmatismo e especulação, cientificismo empirista e irracionalismo, conservadorismo e 
militarismo radical.” (p.62) 
 “A universidade alemã se torna cada vez mais um aparelho ideológico do Estado, e o 
intelectual alemão cada vez mais um apologeta. Fermenta-se aqui o nacionalismo 
chauvinista, que virá à tona nas décadas seguintes. Para tanto, importam-se e difundem-se 
as obras dos principais autores reacionários. Os historiadores deterministas e autoritários 
como Taine e Buckle conhecem ampla difusão.” (p.63) 
 “Aos autores que não.se enquadram nesta vertente restou pouco espaço de ação, M. 
Löwy defende a idéia de que estes refugiaram-se num ‘anticapitalismo romântico’; são suas 
as palavras: ‘Se o fenômeno da 'intelligentsia' anticapitalista é mais ou menos universal na 
Europa na passagem do século, é na Alemanha que ele se manifesta com uma acuidade 
particular. Por que precisamente na Alemanha? Uma das razões é, sem dúvida, a tradição 
anticapitalista romântica fortemente enraizada entre os intelectuais alemães a partir do 
começo do século XIX’. Segundo ainda este autor, Schopenhauer e Nietzsche foram os elos 
de ligação entre o romantismo do início do século e o anticapitalismo crítico do final, e a 
universidade foi o ‘foco ideológico anticapitalista’. A produção de Nietzsche, segundo ele, 
conteria uma ‘dupla visão’, fornecendo elementos para o pensamento crítico e o 
conservador. Löwy não deixa de mencionar que tal postura anticapitalista não se opunha à 
ideologia dominante, antes fornecia-lhe munição como, por exemplo, ao debater a oposição 
cultura-civilização.” (p.65) 
 “A posição assumida pela social-democracia na guerra de 1914 ilustra exemplarmente o 
alcance atingido pelo nacionalismo chauvinista e agressivo no pensamento alemão do início 
do século XX, pois a sujeição a ele por parte da direção dos sociais-democratas revela que 
tal ideologia penetrou mesmo naqueles movimentos que se antagonizavam estruturalmente 
com as forças sociais que a haviam engendrado.” (p.65-66) 
 
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A Geografia na História da Alemanha 
(Subcapítulo 4, p.66-75) 
 Humboldt e Ritter ganham papel de destaque nesta fase, pois são eles os principais 
expoentes na realização e ordenação de minuciosos trabalhos científicos. 
 Humboldt foi o principal expoente nos métodos de observação da geografia física, por 
meio de suas viagens e formulações, também criou e aplicou os princípios da Casualidade 
e da Geografia Geral. Ritter considerava-se discípulo de Humboldt, continuando suas 
teorias e formando ageografia como ciência empírica e introduzindo a metodologia direta 
em seu estudo. 
 De todo modo o fato é que as formulações desses autores abarcadas pelo aparato 
político servem para elevar, a problemática espacial alemã, a caráter de cientificidade. Uma 
militarização ostensiva alinhada a um fortalecimento institucional somado a uma 
contribuição sistemática das ciências e com um nacionalismo exacerbado, unifica-se a 
Alemanha em 1871. 
 Na Alemanha unificada a problemática espacial se resolvia no novo Estado, mas estava 
longe de se resolver a problemática geográfica, isto é, tem-se uma Alemanha unificada, mas 
com disparidades internas extremamente acentuadas e é necessária cada vez mais a 
ciência geográfica para as questões que sejam de domínio de espaço, de gestão de 
recursos naturais e das relações econômicas, das fronteiras, das raças e até mesmo para 
a legitimação da política de expansionismo imperialista vigente, da compreensão do mundo 
para se organizar tanto militar como economicamente. 
Nesse sentido o horizonte geográfico tende a ampliar e passa-se a introduzir no temário 
desta ciência a problemática social e econômica, vale um destaque extremamente relevante 
neste contexto para Ratzel que pioneiramente vai produzir uma Geografia do Homem, que 
traz uma tematização política e antropológica que contribui fortemente para a riqueza do 
saber geográfico. 
 Feito esse esforço de síntese que nos mostra a complexidade da história alemã e a 
também complexidade da Geografia Moderna encerra-se com um dos porquês desta 
ciência na Alemanha. 
 
 “[...] do mesmo modo que a Sociologia aflorou enquanto ciência autônoma na França, 
‘país onde, mais do que em qualquer outro lugar, as lutas de classe sempre foram levadas 
à decisão final’, a Geografia, enquanto ciência autônoma, haveria de surgir na Alemanha, 
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onde a questão espacial ou territorial se coloca no centro dos problemas da sociedade” 
(p.68) 
 “Tanto Humboldt quanto Ritter produziram trabalhos minuciosos de ordenação científica. 
Ritter realiza toda uma padronização conceitual que interessa, não apenas à Geografia (cuja 
primeira formulação sistemática de objeto e método foi obra sua), mas a qualquer descrição 
da Terra. Humboldt produz normas, conceitos e classificações que interessam a um 
conjunto bastante vasto de ciências; além da Geografia, seu nome ocupa uma posição de 
destaque na evolução da Botânica, da Geologia e da Cartografia, entre outras.” (p.70) 
 “Na verdade, apesar da lacuna teórica deixada por Humboldt e Ritter (e da não 
continuidade direta de uma discussão posta no nível de amplidão que eles conseguiram), a 
Geografia prossegue desenvolvendo-se e sedimentando-se na Alemanha. Isso decorre, 
sem dúvida, do fato de as condições que impulsionaram sua gênese permanecerem 
inalteradas, no fundamental, até o advento da efetiva unificação alemã.” (p.71) 
 “A tematização do expansionismo é abertamente formulada por Ratzel, porém é 
discutida num plano universal, onde emerge a artimanha do argumento de sua justificação: 
a naturalização, a expansão posta como característica natural da história dos povos.” (p.73) 
 “O naturalismo, que justificará a própria proeminência do Estado, surgirá como um 
grande cimento da constelação ideológica subjacente ao desenvolvimento da proposta 
imperial prussiana. Naturalizam-se as características do quadro social da Alemanha, 
fazendo-as passar por decorrências de atributos específicos germânicos advindos da raça.” 
(p.73-74) 
 “Sintetizando o que foi apresentado, reafirma-se a idéia de que o afloramento do 
processo de sitematização da Geografia, especificamente na Alemanha, ocorreu em virtude 
das condições particulares de desenvolvimento das relações capitalistas do país, que 
colocavam a questão espacial (logo, o temário dessa disciplina) no centro do debate 
político.” (p.74-75) 
 “A discussão geográfica no século XIX avançou, alimentando e sendo alimentada, dentro 
desse processo de unificação, e foi a obra de alemães. A justificativa dessas afirmações 
pede concurso de uma análise mais detalhada dos principais representantes desse 
movimento genético da Geografia moderna: Humboldt, Ritter e Ratzel.” (p.75) 
 
 
 
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Comentários 
• Localização na Biblioteca Digital Particular “Patrick Giuliano Taranti” 
o Chamada / Tombo: TD-002.161 
Obs: obra completa 
 
Sobre o livro 
 Este livro trata da Geografia Moderna, a qual surge no início do século XIX na Alemanha, 
marcada pelas particularidades do desenvolvimento capitalista naquele país. 
 Sua sistematização se deve a dois autores: ois autores Alexandre von Humboldt e Karl 
Ritter, por isso mesmo tidos como seus “clássicos”. 
 O contexto cultural e político e o conteúdo filosófico e metodológico de suas obras 
normativas são o objeto do presente trabalho, que articula a análise epistemológica com a 
da sociologia da ciência. 
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Sobre o autor 
 Antônio Carlos Robert Moraes, mineiro de Poços de Caldas foi um geógrafo, cientista 
social e professor (1954-2015). 
 Desde muito jovem viveu na capital paulista. Na década de 1970, participou da luta 
contra a ditadura como membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), à época proscrito, 
e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia discordantes do golpe de 1964. 
É na interface entre Geografia, História, Ciência Política e Sociologia do Conhecimento que 
sua produção intelectual se localiza. 
 Bacharel em geografia (1977) e em ciências sociais (1979) pela USP, assi como o 
mestrado, doutorado e livre-docência. 
 Tornou-se docente da USP em 1982 e, a partir de 2005, foi nomeado professor titular do 
Departamento de Geografia, onde coordenou o Laboratório de Geografia Política. Também 
foi professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP (1978-1982) e 
ministrou cursos em várias universidades do país e do exterior. 
 Presidia a banca de geografia do concurso de ingresso na carreira de diplomata do 
Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores. 
 Elaborou, para o governo brasileiro, a metodologia de vários programas de política 
ambiental e de ordenamento territorial, notadamente interessando-se pelas áreas costeiras. 
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Foi consultor do Programa de Gestão da Zona Costeira de Moçambique. Participou da 
elaboração do Programa Global de Ação para o Controle de Poluição Marinha do CDS-
ONU. 
 Em 2001, foi agraciado com a Ordem do Rio Branco. 
 Publicou e organizou 26 livros nas áreas da geografia histórica e política – o último deles, 
Território na geografia de Milton Santos, em 2014 – e dezenas de artigos. (fonte: Wikipédia) 
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Principais obras do autor 
• Contribuições para a gestão da zona Ccosteira do Brasil 
• A Fazenda de Café. O Cotidiano da Historia 
• Flávio de Carvalho 
• A Gênese da Geografia Moderna 
• Geografia Crítica - A Valorização do Espaço (com Wanderley Messias da Costa) 
• Geografia Histórica do Brasil: Capitalismo, Território e Periferia 
• Geografia : Pequena História Crítica 
• Ideologias Geográficas 
• Meio Ambiente e Ciências Humanas 
• Território e História no Brasil 
• Território na Geografia de Milton Santos

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