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Conhecimento segundo Platão e Argumentos céticos segundo Descartes

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Faculdade de Comunicação Social
Filosofia – Prof. Marcos Rosa 
Alunas: Fernanda Bravim de Oliveira
Letícia Motta de Carvalho
1- A partir do texto de Paul Boghossian (Medo do Conhecimento), explique aquilo que poderíamos tomar como a definição filosófica tradicional (“platônica”) de conhecimento.
O autor apresenta a definição de conhecimento segundo a tradição filosófica, que se baseia no Teeteto de Platão, obra onde é discutida a natureza do conhecimento. Afirma-se, categoricamente, que conhecimento é uma crença verdadeira e justificada. Mas o que seria uma crença? O que significa acreditar em algo e o que torna uma crença num conhecimento? 
Uma crença é um tipo particular de estado mental, e que possui três características essenciais:
Um conteúdo proposicional – uma proposição com condição de verdade, que define como o mundo é segundo a crença, seja ela:
Verdadeira ou falsa – uma crença pode ser avaliada como verdadeira ou não, ou seja, se a proposição é um fato ou não;
Justificada ou injustificada – uma crença pode ser avaliada como racional ou irracional, fundamentada em razões e evidências ou não. 
Quando se afirma que sabe de alguma coisa, parece que o sujeito que o faz está disposto a fornecer evidências de que sua afirmação é verdadeira. Mas as evidências pelas quais se busca provar racionalmente que uma afirmação é verdadeira podem ser boas ou ruins, no sentido de serem, ou não, razões epistêmicas – baseadas na observação, consideração, memória, ou lógica –, que aumentam a probabilidade de a crença ser verdadeira. Ou seja, o padrão de correção das crenças acerca da realidade é a própria realidade.
A visão é, portanto, uma justificativa racional para afirmações, uma evidência aceita mesmo em tribunais, e parte da premissa de que temos acesso direto à realidade a partir dos nossos sentidos. Não é irrevogável, infalível, já que nossos sentidos por vezes nos enganam, mas ainda assim podem ser consideradas razões epistêmicas. Alguns filósofos propõem também a existência de crenças fundamentadas em razões não-epistêmicas, ou razões pragmáticas, na qual as considerações referem-se à vantagem pragmática da crença e não em provar sua verdade, como acontece com várias crenças religiosas que se baseiam no medo da danação eterna, e não em evidências da existência de um Deus.
É possível, entretanto, que uma crença seja verdadeira, apesar de não ser fundamentada em razões – fenômeno chamado de “sorte epistêmica”. Por exemplo, se afirmo que uma pessoa está mentindo sobre algo sem ter essa afirmação fundamentada em evidências, mas sim na minha “intuição”, em achismos, e por acaso, ela está de fato mentindo, mesmo que eu não disponha de provas. Nesse caso, a crença não se constitui como conhecimento, uma vez que se trata de uma proposição verdadeira, mas não racionalmente justificada. 
Ou ainda, é possível que uma crença seja justificada racionalmente, mas, no entanto, que seja falsa. O autor utiliza o exemplo dos gregos pré-aristotélicos que tinham boas razões para acreditar que a Terra era plana, dada as informações disponíveis na época, mas hoje sabemos, pela observação do planeta vista do espaço, que ela é definitivamente redonda, e que isso é um fato universal. 
Um fato universal é uma proposição verdadeira para todas as pessoas, mesmo para quem não crê nela, e independente da mente, pois prevaleceria mesmo que não houvessem seres humanos. Voltando ao exemplo da Terra ser redonda, significa dizer que se esse é um fato universal, ele já o era há séculos atrás quando se acreditava que a Terra era plana - e se a crença dos gregos era falsa, tampouco se tratava de conhecimento.
Mas para além dessas noções da objetividade, pode-se questionar também se um fato independe da crença – se não depende que alguém creia nele, como é o caso de desejos e abstrações- e se é independente da sociedade – se prevalece fora do contexto de um grupo de pessoas organizado de modo particular. Fatos que dependem de aspectos culturais, no campo da moral, da ética ou da estética, e que, portanto, não são fatos universais, já que variam de um lugar para o outro, de uma sociedade para outra, dependem da crença e da sociedade em que estão inseridos para serem tomados como verdade. 
Assim, formula-se a diferenciação entre uma crença e um conhecimento, um saber (sendo S referente ao sujeito e P à proposição): 
A crença de S é verdadeira se, e somente se, P. Ou seja, uma crença só o é se houver uma proposição, que pode ser ou não verdadeira, ser ou não racionalmente justificada. 
Posso afirmar que S conhece ou sabe P se, e somente se, S acredita que P seja verdadeira, e se S esteja justificado em acreditar em P.
Portanto, saber é diferente de acreditar. Para saber, para ter um conhecimento, segundo a definição filosófica tradicional, é preciso acreditar em determinada proposição, que deve ser verdadeira e racionalmente justificada.
2- Examine o objetivo e reconstrua os argumentos céticos formulados por Descartes na Primeira Meditação. 
A Primeira Meditação faz parte de "Meditações sobre Filosofia Primeira", um aprofundamento do pensamento filosófico formulado por René Descartes em suas obras "Regras para a Orientação do Espírito" e o "Discurso sobre o Método". O livro é dividido em seis grandes meditações e sete objeções. Na Primeira Meditação o questionamento principal do autor tem como centro a dúvida e sobre como ela pode ser utilizada como método para o conhecimento de fato, isto é, racionaliza a validade das coisas a partir de uma perspectiva duvidosa, reavaliando a aparente verdade absoluta das coisas, duvidando desde os sentidos até as entidades espirituais - argumentos do Engano dos Sentidos e do Deus Enganador.
O texto se inicia com a constatação de que durante anos o autor tomou muitas opiniões enganosas e falsas por verdade, e que, consequentemente, tudo o que resultou dessa época enganosa tem cunho duvidoso. Após essa constatação, Descartes resolve descartar tais opiniões para poder fundamentar seus estudos em bases verdadeiras. O ceticismo de seus argumentos parte desse princípio de dúvida constante, e o autor sistematiza a dúvida de forma com que tudo o que é provável seja duvidoso e tudo o que é duvidoso seja falso. 
Os argumentos céticos são formulados ao passo que Descartes vai analisando suas antigas opiniões duvidosas e demonstrando porque cada uma delas recai na dúvida e consequentemente na falsidade. Ele usa uma cena banal, na qual está sentado em frente a uma lareira vestido com um robe e segurando um pedaço de papel como ponto de partida para questionar a verdade da existência de tudo e a tênue diferença entre questionar o que advém dessas situações sensíveis, como o fato de possuir mãos e um corpo e estar segurando realmente aquele papel e o que pessoas num estado de insanidade, de loucura fazem. Descartes imaginou essa cena da lareira, construiu esse sonho "normal", aceitável, e consciente de que está apenas imaginando; diferentemente de um louco, que não tem capacidade de distinguir o sonho da vigília da realidade, seja essa qual for. A validade dos sonhos também é posta em xeque ao passo que nada nos sonhos é completamente novo, e sim uma releitura de elementos os quais nós já interagimos em alguma medida, transformados em outras caras e construções. Ao se sonhar com um monstro, por exemplo, é bastante capaz e provável que esse tenha olhos e boca e alguma forma de nariz, ou seja, mesmo sendo uma criatura inventada, ela traz elementos já conhecidos pela nossa consciência. O autor diz que mesmo que um pintor desenhe algo totalmente novo e sem nenhum precedente, seria completamente fictício e falso. Contudo, as cores usadas nesta criação seriam reais, ou seja, é inescapável o fato de nada ser absolutamente inovador. As ciências mais complexas como a Física e a Astronomia são incertas e passíveis de dúvida justamente por tratarem de elementos compostos, aumentando as camadas de dúvida. Já as ciências teoricamente mais simples, comoa Aritmética e a Geometria têm um caráter indubitável, pois não importa se estamos acordados ou não, dois mais dois será igual a quatro. 
Apesar de as razões para a dúvida estarem divididas no texto, elas se entrelaçam em uma única linha de raciocínio que resulta nos dois principais argumentos: o do Deus Enganador e o do Gênio Maligno. Para Descartes, há um Deus onipotente, onisciente, criador e enganador, que ilude a todos deliberadamente. Além do papel do Deus Enganador, o autor postula a existência de um Gênio Maligno, pensando em tudo aquilo que existe como ilusão construída, radicalizando os questionamentos das dúvidas metódicas. Esse gênio engana a todas as pessoas em todos os aspectos da vida, e que crê erroneamente que possui sentidos e corpo. 
Após a dualidade do Deus Enganador e do Gênio Maligno, Descartes decide que não há mais nenhuma opinião nem elemento no mundo que não seja passível de dúvida, resolvendo, então, suspender seu juízo como meio de escape das ilusões. Descartes admite que o excesso na utilização da dúvida metódica pode ser contraprodutivo e acabar levando a um nível maior de obscurantismo, recaindo num ceticismo sem fim.

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