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A P O N T A M E N T O S 1 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I CAPITULO I INVESTIGAÇÃO DE NOVOS FÁRMACOS A P O N T A M E N T O S 2 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 1 - INVESTIGAÇÃO DE NOVOS FÁRMACOS 1.1. Desenvolvimento e autorização de novos fármacos O desenvolvimento de novos fármacos constitui um dos principais motores revolucionários da prática clínica, diminuindo a morbilidade e mortalidade das populações em todo mundo. No entanto, os processos inerentes à descoberta, manipulação e autorização de novas substâncias farmacológicas são extremamente morosos e dispendiosos. Circuito interactivo do Medicamento de Uso Humano: Adaptado de www.infarmed.pt, 14 de Setembro de 2006 A investigação nesta área segue normalmente a seguinte ordem de acontecimentos: 1- Síntese de novas substâncias (realizado quase exclusivamente através de planeamento racional); 2- Obtenção de um grande número de moléculas (± 1000); 3- Triagem farmacológica; 4- Selecção do composto líder; 5- Início da bateria de ensaios (culturas celulares, membranas celulares, tecidos, entre outros); A P O N T A M E N T O S 3 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 6- Realização de ensaios em modelos animais adequados aos estudos (estudo da tolerância, toxicidade, selectividade do composto, mecanismo de acção, entre outros); 7- Ensaios clínicos que visam confirmar os efeitos farmacológicos, toxicológicos, entre outros, no Homem. Nota: Para cada 1000 moléculas sintetizadas, 1 chega a ensaios clínicos e apenas 1 em cada 100 chega a ser comercializada. 1.1.1. Objectivos dos ensaios clínicos • Confirmar os efeitos farmacológicos; • Avaliar se o efeito farmacológico determina efeitos terapêuticos úteis; • Demonstrar a segurança do fármaco. 1.1.2. Factores a considerar nos ensaios clínicos • História natural da doença; • Presença de outras doenças; o Ex.: Doentes com Alzeimer ou Parkinson são doentes que tipicamente apresentam outras patologias características da idade em que estas doenças se manifestam geralmente (ex.: hipertensão, hipercolesterolémia, diabetes, etc.). • Factores de risco para outras doenças; 0 anos 8-9 anos Descoberta de novas aplicações terapêuticas 20 anos Patente cai no domínio público Produtos Naturais Sintese Química Composto Leader 2 anos Fase I Fase II Estudos em animais Eficácia? Selectividade? Mecanismo? 4 anos Estudo da segurança e do metabolismo Fase III Fase IV Ensaios clínicos Marketing P ro d u çã o d e G en ér ic o s É seguro? Farmacocinética? É eficaz em Humanos? É eficaz? Estudos duplamente cegos Estudos in vitro Fa rm a co vi g il ân ci a A P O N T A M E N T O S 4 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I • Influência do doente a observar; • A noção de que não existem doentes padrão; o Por regra, os ensaios clínicos são ensaios rigorosos, cujos critérios de selecção dos doentes envolvidos são bastante específicos. No entanto, devido às próprias características da patologia em estudo, das condições socio-económicas e variabilidade inerente a cada indivíduo, não existem doentes modelo/padrão. Isto é, os resultados obtidos nos ensaios clínicos nem sempre reflectem as características da população, devido ao grande número de variáveis não controláveis que podem interferir nos outcomes. Para além disso, o efeito placebo tem grande importância em várias áreas como na área da psicopatologia. Já na área da oncologia, este efeito não seguirá os mesmos «parâmetros» que o modelo anterior. Em todo o caso, é extremamente importante estudar o efeito placebo sempre que possível. 1.1.3. Ensaios clínicos de Fase I Estes estudos seguem uma metodologia de ensaios abertos, sendo realizados em centros de investigação sob orientação de Farmacologistas clínicos experientes que procuram estudar a segurança do fármaco, envolvendo a participação de um grupo pequeno de voluntários saudáveis (20-25 indivíduos). Caso seja prevista elevada toxicidade, os ensaios poderão ser realizados em doentes voluntários que não possuam outras opções terapêuticas. É administrada, por via parentérica, uma única dose de fármaco, calculada a partir dos resultados obtidos em estudos de toxicidade animal, estudando-se vários parâmetros farmacocinéticos do fármaco no Homem (ex.: absorção, semi-vida, metabolismo, intervalo toxicidade, entre outras). Inerente ao número de participantes neste estudo, a probabilidade de ocorrer e serem registados efeitos tóxicos é bastante reduzida. Como tal, o estudo da farmacocinética é essencial nesta fase de ensaios clínicos, aproveitando-se toda a informação que possa ser recolhida (alterações da função hepática, hematológica, renal, entre outras). A P O N T A M E N T O S 5 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 1.1.4. Ensaios clínicos de Fase II Nesta fase, os estudos seguem uma metodologia de ensaios cegos simples (placebo, controlo positivo, fármaco novo), sendo realizados em grandes centros clínicos especializados como hospitais universitários. Incidem sobre um grupo maior de voluntários (100 a 200) que sofrem da patologia para a qual o fármaco demonstrou potencial, pretendendo-se estudar a sua eficácia. Existem critérios rigorosos de selecção que avaliam os doentes com grande detalhe antes de entrarem nos ensaios. Está ainda presente um grupo controlo sujeito à administração de placebo ou da melhor medicação disponível no mercado até ao momento para a patologia em causa. Como o número de indivíduos implicados no estudo é maior, os investigadores estão também atentos à possível toxicidade do fármaco. Esta fase pode demorar vários anos e, caso seja demonstrada eficácia, o fármaco prossegue para estudos posteriores. 1.1.5. Ensaios clínicos de Fase III Estes estudos visam estabelecer a segurança e eficácia do fármaco em causa. Constituem a última grande fase de estudos antes da terapêutica ser aprovada pelas entidades competentes, envolvendo milhares de pacientes dispersos por vários centros hospitalares. Os estudos são realizados através da execução de ensaios duplamente cegos e cruzados. O operador desconhece o que está a administrar, assim como o paciente desconhece o que está a receber. Por outro lado são cruzados uma vez que todos os grupos recebem placebo, o fármaco em estudo e o melhor fármaco disponível no mercado para a patologia em causa. *Semana de washout – semana de lavagem necessária para remover o fármaco do organismo. Como nas fases anteriores, os investigadores estão atentos ao aparecimento de reacções adversas. Alguns efeitos tóxicos, como os mediados por processos imunológicos, tornam-se normalmente evidentes nesta fase. Semana 1 *Semana 2 Semana 3 Grupo 1 Aspirina Placebo Fármaco em estudo Grupo 2 Placebo Fármaco em estudo Aspirina Grupo 3 Fármaco em estudo Aspirina Placebo A P O N T A M E N T O S 6 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I O esquema posológico é escolhido de acordo com a informação obtida nas fases anteriores, seleccionando-se o mais semelhante ao esquema a ser utilizado no mercado. Os investigadores envolvidos nesta fase são, normalmente, especialistas nas doenças alvo do novo medicamento. 1.1.6. Ensaios clínicos de Fase IV O medicamento, após sujeito aos processos de aprovação, entra no mercado, sendo activados os mecanismos de farmacovigilância. Estessão constituídos por estudos que monitorizam a segurança do novo fármaco na população alvo, estando atentos às eventuais reacções adversas raras (1 para 10 000) não detectadas durante as fases anteriores. Ex.: A substância activa Tolcapone foi aprovada como fármaco administrado no tratamento de Doença de Parkinson. Detectou-se posteriormente efeitos hepatotóxicos em estudos de farmacovigilância tendo sido retirado do mercado. Actualmente apenas é utilizado como última opção em casos de resistência à terapêutica. Tabela Resumo Fase Duração da amostra Quem? Porquê? Fase I 1ª Administração em Humanos (ensaios abertos) 3-6meses n=20-50 Voluntários saudáveis; Por vezes doentes (ex.: oncológicos, HIV, etc.); Tolerância, dosagem, cinética, metabolismo, segurança, efeitos farmacológicos; Fase II Investigação clínica (ensaios cegos) 6-12 meses N= 60-300 Voluntários doentes; Necessário existir um grupo controlo; Eficácia na patologia, gama de doses adequadas, estimativa da magnitude e variabilidade do efeito; Fase III Ensaios clínicos formais (ensaios duplamente cegos e cruzados) 1-3 anos N= 250-1000 Voluntários doentes; Eficácia, taxa de ocorrência de efeitos adversos, análise farmacoeconómica; Fase IV Ensaios pós-mercado (Farmacovigilância) ∞ Doentes tratados com o fármaco; Padrões de utilização, eficácia e toxicidade adicionais, procurar e investigar as possíveis diferenças farmacogenéticas entre as populações (ex.:diferentes graus de metabolismo); A indústria responsável pelo desenvolvimento destes novos medicamentos, pode explorar a título exclusivo a comercialização destes no mercado, sob a tutela de uma patente, durante um determinado período de tempo. Findado este prazo, a patente cai e outras indústrias podem A P O N T A M E N T O S 7 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I explorar a substância activa em causa. Existem no entanto excepções de fármacos em que estes prazos podem ser drasticamente encurtados, como no caso de medicamentos retrovíricos, entre outros. 1.1.7. Tipo de ensaios clínicos • Ensaios de ocultação simples ou ensaios cegos; o É uma metodologia de ensaios clínicos onde apenas os indivíduos participantes desconhecem o que lhes está a ser administrados • Ensaios com ocultação dupla ou duplamente cegos; o É uma metodologia de ensaios clínicos onde nem os indivíduos participantes nem o pessoal técnico sabem quais os participantes que estão a ser administrados com o fármaco experimental, nem os que estão a ser administrados com placebo ou outra terapêutica. Esta metodologia produz resultados objectivos, uma vez que as expectativas dos investigadores e dos participantes não afectam os resultados clínicos. • Ensaios abertos; o Metodologia de ensaios clínicos onde os indivíduos participantes e pessoal técnico sabem quais os participantes que estão a ser administrados com o fármaco experimental, placebo ou outra terapêutica. 1.1.8. Escolha dos controlos • Controlo activo ou placebo. • Estudos intra ou inter-pacientes. 1.1.9. Teste da Hipótese nula A hipótese nula é uma hipótese que se presume verdadeira até que provas estatísticas sob a forma de testes de hipóteses indiquem o contrário. Trata-se de uma hipótese em que se pretende confrontar com os factos. Por exemplo, podemos ter uma afirmação relativamente a um determinado parâmetro/característica da população. Uma vez que é impossível estudar toda a população, A P O N T A M E N T O S 8 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I realiza-se um teste baseado na observação de uma amostra aleatória, procurando-se negar a afirmação através dos dados obtidos. 1.1.10. Testes e ensaios disponíveis Existe uma enorme bateria de ensaios disponíveis actualmente (ver tabela na pág.10). A - Ensaios in vitro Os ensaios moleculares (ensaios de binding) estudam a afinidade e selectividade dos compostos para os receptores celulares. Estes ensaios fornecem cada vez mais informação. Através da sua realização, o composto líder pode ser encontrado. As alterações que estes fármacos produzem eventualmente no sistema citocromo P450, encontram-se na base da criação de fármacos selectivos e que melhor se adaptam às características fisiológicas de cada indivíduo. É a partir deste conceito que tem sido desenvolvido a farmacogenómica. O metabolismo difere de indivíduo para indivíduo. Como tal, é errado falar de uma dose universal de um determinado fármaco para uma população afectada por uma determinada patologia. Existem indivíduos com metabolismo acelerado, normal e lento, produzindo respostas completamente diferentes aos fármacos e alterando os outcomes da terapêutica. B - Testes de segurança B1 - Toxicidade aguda Estuda os efeitos de uma dose elevada de fármaco administrada por duas vias diferentes, em pelo menos duas espécies animais, determinando-se a dose para a qual 50% dos animais morrem - DL50. Por razões óbvias, este tipo de estudos não podem ser realizado em seres Humanos, não existindo DL50 Humana. Se a DL50 e a dose terapêutica (DT50) forem semelhantes, então a evolução da investigação para fases posteriores estará comprometida. A P O N T A M E N T O S 9 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Normalmente, a DL50 é estudada em ratinhos, uma vez que estas cobaias são fáceis de criar e requerem uma menor concentração de fármaco (doses menores), o que em termos económicos é relevante para o laboratório. B2 - Toxicidade sub-aguda São ensaios executados num período de 4 semanas a 3 meses, que estudam as alterações de comportamento de pelo menos duas espécies animais (coelho, ratinho, rato, etc.), resultantes da administração de três doses diferentes de fármaco. Posteriormente, todos os órgãos são isolados e estudados. Quanto maior for o tempo de utilização previsto para o fármaco, maior será o tempo necessário para a realização destes ensaios. B3 – Toxicidade crónica Estes testes possuem a duração de cerca de 6 meses ou mais, sendo executados em roedores e não roedores. Estudam-se os eventuais efeitos sobre o aparelho reprodutor, efeitos carcinogénicos e mutagénicos (teste de Ames – estuda a estabilidade genética e as mutações de culturas bacterianas sobre as quais se inocula os compostos em estudo). A P O N T A M E N T O S 10 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Métodos experimentais ou órgãos alvo Tecidos ou espécies Administração Estudo Molecular Ligação ao receptor Ex.: β-adrenoceptores Fracções de membrana celular provenientes de órgãos ou culturas celulares; Receptores clonados. In vitro Selectividade e afinidade a receptores; Actividade enzimática Ex.: Tirosina hidroxilase, dopamina-3-hidroxilase, monoaminoxidase Nervos simpáticos; Glândula adrenal; Enzimas purificadas; In vitro Selectividade e inibição de enzimas; Citocromo P450 Veias sanguíneas, coração, pulmões, ílio (rato e porquinhos da Índia); In vitro Inibição enzimática; Efeitos no metabolismo do fármaco; Celular Função celular In vitro Evidencias de actividade no receptor - agonismo ou antagonismo; Tecidos isolados In vitro Efeitos na contracção e relaxamento vascular, selectividade para os receptores vasculares, efeitos noutros músculos lisos; Modelos de doenças/sistemas Pressão sanguínea Cães e gatos (anestesiados) Parentérica Alterações diastólicas e sistólicas; Ratos hipertensos (conscientes) Oral Efeitos antihipertensivos; Efeitos cardíacosCães (conscientes) Oral Electrocardiografia; Cães (anestesiados) Parentérica Efeitos inotrópicos, efeitos cronotrópicos, output cardíaco, resistência periférica total; Sistema nervoso autónomo periférico Cães (anestesiados) Parentérica Efeitos na resposta de um fármaco conhecido, estimulação eléctrica dos nervos autonómicos centrais e periféricos; Efeitos respiratórios Cães e porquinhos da Índia Parentérica Efeitos na taxa de respiração, efeitos na amplitude do tónus bronquial; Actividade diurética Cães Parentérica e oral Natriurese, diurese de potássio, diurese de água, fluxo sanguíneo renal, taxa de filtração glomerular; Efeitos gastrointestinais Ratos Oral Secreção e mobilidade gastrointestinal; Hormonas circulantes, colesterol, açúcar sanguíneo Ratos e cães Parentérica e oral Concentração sérica; Coagulação sanguínea Coelhos Oral Tempo de coagulação, retracção do coágulo, tempo da protrombina; Sistema nervoso central Ratos e ratinhos Parentérica e oral Grau de sedação, relaxamento muscula, actividade motora, estimulação; A P O N T A M E N T O S 11 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Questionário 1. Complete o seguinte quadro: Fase Duração da amostra Quem? Porquê? Fase I Fase II Fase III Fase IV 2. O que entende por hipótese nula? 3. O que entende por ensaios clínicos duplamente cegos? 4. O que entende por ensaios clínicos abertos? 5. Onde são realizados os ensaios clínicos de fase II? A P O N T A M E N T O S 12 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 6. Onde são realizados os ensaios clínicos de fase IV? 7. Que tipo de testes de segurança conhece? Quais as suas características? 8. Quais os factores a considerar quando se realizam ensaios clínicos? 9. O que entende por semana washout? 10. O que entende por ensaios de ocultação simples ou ensaios cegos? A P O N T A M E N T O S 13 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I CAPITULO II PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Perturbações do humor Depressão no contexto da doença bipolar Perturbações da ansiedade Psicoses Epilepsia Doença de Parkinson Demência tipo Alzheimer A P O N T A M E N T O S 14 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2 - PERTURBAÇÕES DO HUMOR A definição de humor abrange diferentes conceitos como a disposição vital, o estado de ânimo, passando pelo afecto fundamental e actividade holotímica de base. O humor é capaz de alterar todas as restantes funções do organismo humano. Normalmente existe uma variação de humor natural ao longo do dia, estação do ano, etc. No entanto, quando uma das fases se prolonga ou quando existe uma mudança brusca do humor, este comportamento é considerado anormal. Como tal, a intensidade e o tempo são dois aspectos extremamente importantes na avaliação do estado de humor. 2.1. Tipos de perturbações do humor • Depressão major; • Doença bipolar; • Desordens distímicas; • Desordens ciclotímicas; • Perturbações de humor desencadeadas por fármacos. o Bloqueadores β; o Reserpina – provoca depressão reactiva ao diminuir as reservas de aminas nas vesículas presentes nos terminais sinápticos; o Interferão α2b – utilizado na terapêutica da Hepatite C, podendo causar depressão e tendências suicidas nos doentes. Normalmente são prescritos a estes pacientes antidepressivos como profiláticos de possíveis episódios depressivos que possam insurgir; o Corticóides; o Ribavirina; o Outros; A P O N T A M E N T O S 15 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2.2. Etiologia 2.2.1. Hipóteses fisiopatológicas • Aminas biogénicas (serotonina, noradrenalina e dopamina) A teoria monoaminérgica [1968] estabelece uma relação entre a concentração de aminas no organismo e o humor. Esta teoria foi elaborada quando se registou que a administração de reserpina (um inibidor do armazenamento de aminas neurotransmissoras nas vesículas dos terminais neuronais pré-sinápticos) induzia diminuição do humor. Assim sendo, quando existe uma diminuição na concentração de aminas ocorre uma diminuição do humor e vice-versa. No entanto, foi registado posteriormente que esta relação não era linear. Em indivíduos deprimidos ocorre diminuição da percentagem dos metabolitos dos neurotransmissores excretados pela urina (ex.: diminuição do ácido 5- hidroxiindolacético, metabolito da serotonina). • Regulação neuroendócrina Existe uma regulação neuroendócrina do humor. Verifica-se que indivíduos deprimidos possuem o eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal muito excitado, resultando no aumento da concentração plasmática de cortisol. • Sono Depressão Recorrente Episódio único Persistente Distímica Bipolar Unipolar Severa: desordem bipolar afectiva Moderada: ciclotímica Doença depressiva recorrente Desordem afectiva sazonal Pequenos episódios depressivos recorrentes Episódio depressivo (diferentes graus de severidade) Mistura de depressão com ansiedade + Ansiedade (+) Mania (-) Mania A P O N T A M E N T O S 16 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Existem várias fases durante o sono, das quais se sobressai a fase REM (rapid eye movement). Indivíduos que sofrem de depressão vêem o seu tempo de sono diminuído. Ocorre uma diminuição do período de tempo entre o início do sono e a entrada na fase REM. Estes doentes sofrem constantes interrupções do sono durante a noite. Consequentemente, este não é reparador. Ex.: Insónia do deprimido – insónia tardia. Insónia inicial – típica da ansiedade. Na doença bipolar, fase maníaca, encontra-se descrita redução do tempo de sono, consequência da própria doença. Esta redução não é semelhante ao que ocorre com os indivíduos depressivos. Isto porque os indivíduos com mania afirmam não precisar de dormir uma vez que não sentem falta. Na fase maníaca estes doentes chegam a dormir apenas 2 a 3 horas por dia. • Genética Existe uma relação directa das patologias, do foro psiquiátrico com factores hereditários. Verifica-se que filhos de pais com depressão apresentam 10-15% de probabilidades de a desenvolver. Nos gémeos unizigóticos e bizigóticos esta probabilidade sobe para 50% e 20% respectivamente. Alterações do Humor Probabilidade de desenvolvimento na criança Doenças depressivas • Um dos pais • Gémeo monozigótico • Gémeo dizigótico 10-13% 50% 10-25% Doenças bipolares • Um dos pais • Pais • Gémeo monozigótico • Gémeo dizigótico 25% 50-75% 30-90% 5-25% • Neuroanatomia Alterações anatómicas (ex.: cancro) do sistema límbico provocam alterações do humor. A P O N T A M E N T O S 17 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I • Kindling Termo que designa uma irritabilidade eléctrica neuronal. Ao sujeitar ratinhos a um estímulo eléctrico diário de baixa voltagem, gera-se uma perturbação no sistema nervoso por alteração da condutância das membranas. Esta é uma das formas, utilizadaspelos investigadores, para induzir epilepsia em cobaias. Na depressão parecem existir também alterações eléctricas muito subtis em pessoas facilmente irritáveis. Este fenómeno estará provavelmente relacionado com as alterações do humor e da personalidade. 2.2.2. Hipóteses ou teorias psicossociais • Teoria Psicanalítica (Psicanálise); • Teoria Psicodinâmica; • Teoria Cognitiva (Triad of Aaron Beck) – o negativismo do Próprio, o negativismo do Mundo e o negativismo do Futuro; • «Learned helplessness» – pessoas que aprendem a viver sem esperança e a não sonhar ou esperar algo de bom na vida. • «Stressfull life events» – situações de stress intenso como a morte de um pai ou mãe, representa um evento extremamente marcante, sobretudo quando ocorre na infância (idade <11anos). A forma como os indivíduos lidam com eventos stressantes prepara-os para os problemas futuros. Assim como os eventos negativos contribuem para as alterações do humor, também o excesso de eventos positivos o pode perturbar. Alturas de grandes desafios sociais, mentais ou fisiológicos como os de transição entre estados de maturação (ex.: adolescência), podem levar à alteração do humor. Sigmund Freud (1856 – 1939) Pai da Psicanálise A P O N T A M E N T O S 18 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2.3. Depressão Na União Europeia, as formas mais comuns de doença mental são os sindromas ansiosos e a depressão. Segundo alguns estudos, em 2020 a depressão constituirá a primeira causa de morbilidade no mundo desenvolvido. Contudo, existem variações importantes entre os estados membros. Como exemplo cita-se o número de suicídios por 100 000 habitantes, que vai de 44 na Lituânia para 3,6 na Grécia, enquanto que o número de internamentos não voluntários em estabelecimentos psiquiátricos é 40 vezes mais elevado na Finlândia que em Portugal. Tendo em consideração a sua elevada prevalência (cerca de 10% da população) e a sua gravidade, a depressão constitui um importante problema de saúde pública. O primeiro episódio ocorre normalmente entre os 30-40 anos de idade. O diagnóstico da depressão não é linear uma vez que existem doenças orgânicas que podem mimetizar sintomatologia depressiva. Torna-se então necessário excluir todas as possibilidades antes de iniciar a terapêutica antidepressiva. Existem guidelines que ajudam ao diagnóstico correcto. Estas referem que num intervalo de 2 semanas devem estar presentes 5 ou mais sintomas, existindo uma alteração do humor em relação ao passado (ver pág. 153). Uma depressão reactiva é uma depressão que se deve a algo perfeitamente identificável (ex.: morte de alguém querido). No entanto, na depressão major (endógena), o doente desconhece a causa dos sentimentos e sintomas que apresenta. A depressão pode ainda atingir determinados patamares de gravidade, assumindo características psicóticas. “On the Threshold of Eternity” Vincent Van Gohg A P O N T A M E N T O S 19 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Nota: 15% dos indivíduos com depressão major tentam o suicídio. Normalmente resolve-se espontaneamente, mas em 50% dos casos ocorre recorrência após um período de 2 anos. Como tal, o tratamento da depressão é extremamente importante, de forma a precaver recaídas. 2.3.1. Sintomatologia • Humor deprimido; • Anedonia – corresponde à perda da capacidade de sentir prazer, característica dos estados gravemente depressivos; • Redução do peso (se o indivíduo não estiver a praticar dieta) – pode também ocorrer aumento do peso, mas a primeira situação é a mais comum; • Insónia ou hipersónia durante o dia; • Alterações psicomotoras; • Perda de energia ou fadiga; • Sensação que “não vale nada”; • Dificuldade de concentração; • Pensamentos recorrentes de morte. O perfil das doenças mentais segue um de dois caminhos: • Doenças neuróticas ou neuroses – o doente identifica e sabe que está doente; • Doenças psicóticas ou psicoses – o doente não reconhece a sua doença; No entanto, este aspecto nem sempre é tão linear. Em certos casos, doentes neuróticos passam a ter sintomas de doenças psicóticas (ex.: delírios, alucinações). Tipo Características do diagnóstico Notas Reactiva Perda (eventos marcantes), doença (enfarte do miocárdio, cancro), fármacos e outras substâncias (antihipertensivos, álcool, hormonas), outras desordens psiquiátricas (doença senil). Corresponde a mais de 60% de todas as depressões. Sindrome depressivo usual: depressão, ansiedade, queixas corporais, tensão, culpa. Pode resolver-se espontaneamente ou após tratamento. Depressão major (endógena) Eventos adversos não adequados ao grau de depressão. Autónomo (não responde às mudanças na vida). Pode ocorrer em qualquer idade (desde a infância até à 3ª idade). Pode ser determinada biologicamente (história familiar). Corresponde a cerca de 25% de todas as depressões. Sindrome depressivo usual mais sinais vitais: ritmos de sono, actividade motora, libido e apetite anormais. Normalmente responde especificamente a antidepressivos ou a electroconvulsoterapia. Tem tendência a ocorrer recorrências durante a vida. A P O N T A M E N T O S 20 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2.3.2. O Suicídio - Existência de um plano já formulado, muitas vezes baseado em filmes; - As tentativas sérias anteriores de suicídio constituem um forte factor de risco; - Sintomas psicóticos; - Ingestão simultânea de medicamentos e álcool; - Mais frequente em indivíduos caucasianos do sexo masculino, em idade mais avançada; - Indivíduos com doenças graves; - Perda recente de alguém querido e/ou profundo desespero; - Isolamento social. Por vezes, a própria terapia pode ser uma faca de dois gumes. Os doentes com depressão avançada não possuem forças nem vontade para nada, nem mesmo para cometer suicídio. Quando o diagnóstico é realizado, iniciam normalmente uma terapêutica farmacológica com antidepressivos. Nas fases iniciais do tratamento estes pacientes tornam-se mais activos, mas mantêm os sintomas de depressão. Como tal, a terapêutica, se por um lado os ajuda a terem mais forças para seguir na vida, por outro pode constituir o impulso que o doente necessitava para cometer suicídio. Isto verifica-se em vários hospitais, onde existem doentes que concretizam o suicídio, geralmente 2 semanas após o início da terapêutica. Bipolar afectiva (depressão- mania) Caracterizado por episódios de mania cíclicos. Apenas mania (raro), apenas depressão (ocasional), depressão e mania (mais comum). Corresponde a cerca de 10-15% de todas as depressões. Pode ser mal diagnosticado como endógena se os episódios maníacos forem “ocultados”. O carbonato de lítio estabiliza o humor. A mania pode também requerer fármacos antipsicóticos. A fase depressiva é tratada com antidepressivos. A P O N T A M E N T O S 21 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2.3.3. Caso Clínico M.J. é uma mulher de 38 anos que se dirigiu ao Centro de Saúde da sua área de residência com queixas de dores nas costas e fadiga, com 2 meses de duração. Um exame físico e laboratorial completo não demonstrou qualquer anormalidade. Um diálogo mais aprofundado revelou que M.J. começou a perder o interesse por quase todas as suas actividades usuais (igreja, lavores, jogos de bridge semanais, etc.) durante o mesmo período. O facto de ter ganho o último torneio de bridge não trouxe qualquer melhora para o seu espírito. M.J. também tem tido dificuldades em preparar diariamenteo jantar para a sua família, por se sentir exausta e «de qualquer forma, nada sabe bem»; como resultado, M.J. perdeu cerca de 6 kg no último mês. A família comentou a sua irritabilidade crescente, que ela própria atribui ao facto de não dormir bem e acordar regularmente às 4h da manhã. M.J. sente-se mal por andar sempre tão irritada e não desempenhar as suas tarefas domésticas como era costume, dizendo mesmo que «não merece ser mãe». A paciente não tem ideação suicida, nem história de distúrbio emocional. A sua história clínica anterior não é significativa e não faz actualmente qualquer medicação. Diagnóstico: Depressão, episódio isolado, com melancolia. 2.3.4. Tratamento O tratamento tem como objectivo principal a redução dos sintomas, das recorrências e eventualmente do suicídio. Em todo o caso, a relação do doente com o seu médico, familiares e amigos é de extrema importância para o sucesso da terapêutica instituída. Apenas em casos muito severos se recorre à hospitalização destes doentes. O doente deve ser informado sobre todos os aspectos da sua doença e tratamento. Para além disso, deve ser feito um aconselhamento ao doente, no sentido de diminuir o stress, o consumo de álcool, entre outros. A escolha do tratamento deve ser baseada em vários aspectos. Experiência do doente Farmacogenética • História familiar de resposta aos antidepressivos Situação: • Depressão reaccional ligeira Psicoterapia de suporte; Farmacoterapia de curta duração; A P O N T A M E N T O S 22 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I • Depressões graves, com grande inibição psicomotora, risco de suicídio ou depressões resistentes à terapêutica Electroconvulsoterapia; • Predomínio da insónia, inquietação e ansiedade Fármacos sedativos; • Grande inibição psicomotora Fármacos mais desinibidores; • Características do doente Actividade anticolinérgica; • Depressões melancólicas Antidepressores tricíclicos (TCAs), inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs) e electroconvulsoterapia; • Depressões atípicas Inibidores da monoaminoxidase (iMAOs); • Depressões psicóticas Electroconvulsoterapia ou combinação de antidepressivo com antipsicóticos ; Potencial de interacções medicamentosas Reacções adversas Custos Prioridades: • Rapidez do efeito Farmacoterapia e electroconvulsoterapia; • Eficácia A eficácia é sempre a longo prazo. Pode ser necessário combinar farmacoterapia com psicoterapia; • Toxicidade do tratamento • Custo Farmacoterapia e electroconvulsoterapia; 2.3.4.1. Tratamento farmacológico Os antidepressivos são fármacos com potencial de habituação e dependência praticamente nulos, que possuem várias indicações terapêuticas: • Depressão; • Ansiedade; • Neurose obcessiva-compulsiva; • Stress pós-traumático; • Fobias; • Ataques de pânico; • Distúrbios alimentares; • Dor crónica. Os seus efeitos (aumento dos níveis de noradrenalina, serotonina e dopamina em menor escala) apenas se fazem sentir ao fim de 2 a 3 semanas, devido à necessidade de ocorrer alterações adaptativas secundárias (ex.: dow-regulation e up-regulation). A P O N T A M E N T O S 23 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Os antidepressivos possuem uma taxa de eficácia na ordem dos 60%. No entanto, sabe-se que 30 a 40% dos resultados obtidos resultam de efeito placebo. A duração média do tratamento à base de antidepressivos depende da resposta e da história clínica anterior, devendo a terapêutica ser reavaliada ao fim de 2 meses. Normalmente é registada uma resposta favorável de 75%. O tratamento pode prolongar-se por 4 a 9 meses após o registo da remissão dos sintomas ou tornar-se crónico em doentes com dois ou mais episódios de depressão. Neste último caso, devido ao prolongamento da terapêutica, a dose de antidepressivo instituído deve ser diminuída. A) Antidepressivos tricíclicos (TCAs) Constituem fármacos eficazes em todos os tipos de depressão, sobretudo na depressão major severa com melancolia, actuando através da inibição não selectiva das bombas de recaptação das monoaminas (noradrenalina, serotonina e dopamina em menor escala). Antagonizam ainda os receptores adrenérgicos α1, histaminérgicos e muscarínicos pós- juncionais. Dentro desta classe, as aminas secundárias (Nortriptilina, Doxepina) são as mais potentes inibidoras da recaptação de noradrenalina. Distinguem-se ainda pelas diferenças farmacocinéticas. Relativamente às aminas terciárias, estas são mais potentes na inibição da recaptação de serotonina. Como reacções adversas citam-se: sedação; efeitos anticolinérgicos (retenção urinária, quadros confusionais, aumento da pressão intra-ocular, mucosas secas, obstipação); efeitos simpaticomiméticos (tremor e insónia); hipotensão ortostática, alterações do ritmo cardíaco; agravamento de diabetes pré-existente, aumento de peso (devido ao bloqueio dos receptores histamínicos H1), sudação excessiva, disfunção sexual. As intoxicações agudas são frequentes e potencialmente fatais. Etanol e outros depressores do SNC Hipertensão, hiperpirexia, convulsões e coma TCAs iMAOs Sedação tóxica ASSOCIAÇÃO A P O N T A M E N T O S 24 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Como provocam sedação, devem ser administrados à noite. Quanto aos efeitos simpaticomiméticos, poderá ser administrado um Bloqueador β (ex.: Propranolol) ou Lorazepam. Para contrariar o aumento do peso, a alimentação deverá ser devidamente controlada. Já no que diz respeito à disfunção sexual, poderá ser negociado com o paciente a possibilidade de fazer uma pausa durante alguns dias (week end-holiday). Interacções: simpaticomiméticos, hormonas tiroideias, pimozida, antiarritmicos, anti- histamínicos, anticolinérgicos, fenotiazinas, entre outros. B) Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs) Estes fármacos possuem eficácia semelhante aos TCAs na depressão major. São mais seguros em casos de intoxicação, não antagonizando os receptores α1, histaminérgicos ou muscarínicos pós-juncionais. Possuem um tempo de semi-vida elevada, devendo decorrer pelo menos 5 semanas de washout para a fluoxetina (restantes: 2 semanas) entre a interrupção da terapêutica e o início da terapêutica com um iMAO. Dados sobre um elevado número de mulheres grávidas expostas não indicam um efeito teratogénico da fluoxetina. A fluoxetina pode ser utilizada durante a gravidez, mas com precaução, especialmente durante o final da gravidez ou imediatamente antes do início do trabalho de parto, visto terem sido notificados os seguintes efeitos no recém- nascido: irritabilidade, tremor, hipotonia, choro persistente, dificuldade de sucção e em dormir. Os SSRIs possuem menos efeitos secundários que os TCAs e os iMAOs (ausência de efeitos colaterais de natureza anticolinérgica e cardiovascular). No entanto, podem causar alterações gastrointestinais e sexuais. Como reacções adversas citam-se então: alterações gastrointestinais, anorexia, perda de peso, reacções de hipersensibilidade (incluindo anafilaxia), xerostomia, ansiedade e irritabilidade, disfunção sexual (impotência); mais raramente convulsões, doenças do movimento (discinésia oromandibular com Paroxetina); Amitriptilina, Amoxapina, Clomipramida, Desipramina , Doxepina, Imipramina, Nortriptilina, Protriptilina, Trimipramina A P O N T A M E N T O S 25 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I síndroma da serotonina (mioclonos, agitação, cãibras abdominais, hiperpirexia, hipertensão, potencialmente fatal) e prolongamento do tempo de protrombina.Estão descritas interacções com fármacos neurolépticos (ex.: Haloperidol), TCAs, alguns antagonistas β e antiarritmicos, devido à inibição do citocromo P450 pela fluoxetina. C) Inibidores selectivos da recaptação da noradrenalina Parecem ser mais eficazes no que diz respeito à reinserção social de doentes em remissão. Possui fraco efeito sobre a recaptação de 5-HT, moderada acção anticolinérgica e efeitos secundários menos graves. Pode constituir uma alternativa aos SSRIs. D) Inibidores selectivos da recaptação da dopamina Estes fármacos possuem fraca acção sobre a recaptação de NA ou 5-HT e moderado efeito anticolinérgico. São estimulantes do SNC, utilizados na depressão e na desabituação tabágica. As reacções adversas aumentam com a dose, citando-se: enjoo, xerostomia, sudação, tremor, agravamento da psicose, E) Inibidores selectivos da recaptação da noradrenalina e serotonina Possuem baixa afinidade para os receptores adrenérgicos, histaminérgicos e muscarínicos pós-juncionais. Como tal, apresentam um bom perfil para os casos de pacientes que não respondem à terapêutica com TCAs. Como reacções adversas citam-se: náuseas, vómitos, obstipação, xerostomia, insónia, tonturas, trémula, hipertensão e alterações sexuais. Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Sertralina Maprotilina (antidepressivo de 2ªgeração), Reboxetina (Edronax®) Bupropiona (antidepressivo de 2ª geração) A P O N T A M E N T O S 26 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I F) Inibidores irreversíveis da MAO não selectivos Inibem os enzimas MAO (monoaminoxidase A e B), aumentando as reservas citosólicas de noradrenalina e serotonina nos terminais neuronais. Quando aplicados num quadro normal sem depressão não exercem os seus efeitos. Apenas são activos em estados de depressão séria, humor reactivo, irritabilidade, hiperinsónia, hiperfagia, agitação psicomotora, hipersensibilidade à rejeição, depressão atípica. As principais reacções adversas deste grupo prendem-se com a inibição da MAO hepática. Quando esta é bloqueada, as aminas da dieta não são metabolizadas, podendo atingir o SNC onde causam hipertensão aguda descontrolada grave, que pode culminar em morte por hemorragia cerebral. Esta reacção adversa é conhecida pela reacção do queijo, uma vez que este é rico em aminas simpaticomiméticas como a tiramina. Deve-se alertar os pacientes para adoptarem uma dieta que exclua alimentos ricos em aminas como queijo, enchidos, favas, entre outros. Para além disso, podem também ser incompatíveis com outros fármacos metabolizados pela MAO. Isto porque ao serem co-administrados existe risco de overdose (ex.: anfetaminas ou petidina) e por outro lado, pode ocorrer interacção com fármacos que possuam ou promovam a libertação de aminas simpaticomiméticas (ex.: Antidepressivos tricíclicos, antigripais). Por isso, os inibidores da MAO são raramente utilizados como 1ª opção no tratamento de quadros de depressão. Outras reacções adversas descritas incluem: perturbações do sono, aumento do peso, hipotensão postural e perturbações sexuais (Fenelzina). G) Inibidores reversíveis da MAO-A A inibição selectiva da MAOA permite aumentar os níveis de noradrenalina, serotonina e dopamina. É provável que apresentem melhor resposta em doentes com humor reactivo, irritabilidade, hiperinsónia, hiperfagia, agitação psicomotora, hipersensibilidade à rejeição, depressão atípica. Clorgilina, Fenelzina, Iproniazida, Isocarboxazida, Tranilcipromina Milnaciprano, Venlafaxina (antidepressivo de 3ª geração) A P O N T A M E N T O S 27 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Tal como os inibidores não selectivos da MAO, apresentam também risco de desencadear crises hipertensivas com a ingestão de alimentos ricos em tiramina, mas em menor grau, uma vez que a inibição é selectiva. Como reacções adversas citam-se: boca seca, vertigens, aumento de peso, insónia, hipotensão ortostática, disfunção sexual, agitação, estados confusionais, aumento das transaminases. Não devem ser co-administrados com SSRIs pelo risco de síndroma da serotonina (que pode assemelhar-se ao síndrome neuroléptico maligno e ser diagnosticado como tal), nem com TCAs pelo risco de efeitos hiperadrenérgicos. H) Outros antidepressivos FÁRMACO CARACTERÍSTICAS Mirtazapina (antidepressivo de 3ª geração) - Antagonista dos auto- e hetero-receptores α2 pré-juncionais centrais e dos receptores 5-HT2 e 5- HT3 e histaminérgicos; - Pode causar sonolência, aumento do apetite e do peso (devendo-se por isso fazer uma dieta alimentar) e enjoo. Trazodona (antidepressivo de 2ª geração) - Inibe a recaptação de serotonina; - Antagonista dos receptores 5-HT2A pós-juncionais e histamínicos; - Provoca sonolência, enjoo, insónia, náuseas e agitação. Mianserina - Antagonista dos auto- e hetero-receptores α2 pré-juncionais centrais; - Reacções adversas semelhantes às dos antidepressivos tricíclicos; - Podem surgir alterações hematológicas, principalmente nos idosos. Nefazodona (antidepressivo de 3ª geração) - Antagonista da recaptação de noradrenalina e serotonina; - Antagonista dos receptores 5-HT2A pós-juncionais; - Provoca sonolência, enjoo, insónia, náuseas e agitação. Moclobemida, Pirlindol A P O N T A M E N T O S 28 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Bloqueia a recaptação de: Fármaco Sedação Acção antimuscarinica 5-HT NA Dopamina AMITRIPTILINA +++ +++ +++ ++ 0 AMOXAPINA ++ ++ + ++ + BUPROPIONA 0 0 +,0 +,0 + CITALOPRAM 0 0 0 0 0 CLOMIPRAMINA +++ ++ +++ +++ 0 DESIPRAMINA + + +++ +++ 0 DOXEPINA +++ +++ + + 0 FLUOXETINA + + 0,+ 0,+ 0,+ FLUVOXAMINA 0 0 +++ 0,+ 0,+ IMIPRAMINA ++ ++ +++ ++ 0 MAPROTILINA ++ ++ 0 +++ 0 MIRTAZAPINA +++ 0 0 0 0 NEFAZODONA ++ +++ 0,+ 0 0 NORTRIPTILINA ++ ++ +++ ++ 0 PAROXETINA + 0 +++ 0 0 PROTRIPTILINA 0 ++ ? +++ ? SERTRALINA + 0 +++ 0 0 TRAZODONA +++ 0 ++ 0 0 VENLAFAXINA 0 0 ++ ++ 0,+ A P O N T A M E N T O S 29 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 2.3.4.1.1. Riscos da utilização de antidepressivos na gravidez e lactação Fármaco BIO DISP (%) Ligação a Prot. Plasm. (%) T1/2 (H) Metabolitos activos [Terapêuticas] plasmáticas (ng/mL) AMITRIPTILINA 31-61 82-96 31-46 Nortriptilina 80-200 AMOXAPINA n.d. n.d. 8 7-,8-Hidroxi n.d. BUPROPIONA 60-80 85 14-37 Hidroxi, triohidro, eritrohidro 25-100 CITALOPRAM 51-93 70-80 23-75 Desmetil n.d. CLOMIPRAMINA n.d. n.d. 22-84 Desmetil 240-700 DESIPRAMINA 60-70 73-90 14-62 Hidroxi, triohidro,eritrohidro >125 DOXEPINA 13-45 n.d. Ago-24 Desmetil 30-150 ESCITALOPRAM 80 56 27-59 5-Desmetil n.d. FLUOXETINA 70 94 24-96 Norfluoxetina n.d. FLUVOXAMINA >90 77 Jul-63 Nenhum n.d. IMIPRAMINA 29-77 76-95 Set-24 Desipramina >180 MAPROTILINA 66-75 88 21-52 Desmetil 200-300 MIRTAZAPINA n.d. n.d. 20-40 Desmetil n.d. NEFAZODONA 15-23 98 02-Abr Hidroxi, m-clorofenil, piperazina n.d. NORTRIPTILINA 32-79 93-95 18-93 10-hidroxi 50-150 PAROXETINA 50 95 24 Nenhum n.d. PROTRIPTILINA 77-93 90-95 54-198 n.d. 70-170 SERTRALINA n.d. 98 22-35 Desmetil n.d. TRAZODONA n.d. n.d. 04-Set m-cloro-, fenil-, piperazina n.d. VENLAFAXINA n.d. 23-30 04-Out O-Desmetil n.d. A P O N T A M E N T O S 30 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I A – Teratogénese Nem os antidepressivos tricíclicos nem os inibidores selectivos da recaptação de serotonina são associados a efeitos teratogénicos sérios. A exposição à fluoxetina oua TCAs não parece afectar o QI global, o desenvolvimento comportamental nem a linguagem das crianças. Existe pouca informação disponível acerca da segurança dos inibidores da monoaminoxidase, bupropiona, nefazodona, trazodona e outros antidepressivos mais novos na gravidez. Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 B - Toxicidade neonatal Os neonatos expostos no útero a TCAs podem apresentar sintomas usualmente leves e transitórios. O tratamento com TCAs ao longo da gravidez pode ocasionar síndrome de retirada no neonato com mioclonias, convulsões transitórias, taquipnéia, taquicardia, irritabilidade e sudorese profusa. Pode ser ainda registado obstipação intestinal e retenção urinária como consequência de efeitos anticolinérgicos. Os SSRIs podem ocasionar hipotonia, dificuldade na alimentação, hipoglicémia, hipotermia e agitação. Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 C – Lactação A paroxetina, sertralina e nortriptilina apresentam, normalmente, níveis plasmáticos no recém-nascido extremamente baixos ou indetectáveis. Não foram registadas reacções adversas nos lactentes com essas medicações. A fluoxetina pode atingir níveis plasmáticos altos no recém-nascido, causando vómitos, diarreia, cólicas e diminuição do sono. Existem evidências de que a fluoxetina que passa para o leite materno pode causar diminuição da curva peso-crescimento, com uma média de 392 gramas a menos no 6º. mês. Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 2.3.4.1.2. Perda de eficácia com o tempo A P O N T A M E N T O S 31 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I • Avaliação da adesão à terapêutica; • Aumentar a dose do antidepressivo; • Descontinuação do fármaco escolhido, por outro; • Associar à terapêutica, fármacos que aumentem a eficácia da terapêutica farmacológica seleccionada: o Amantadina; o Buspirona; o Pindolol. 2.3.4.2. Tratamento não farmacológico A) Fototerapia Estudos demonstraram existir uma relação entre a exposição à luz solar e as variações do humor. Isto porque a luz estimula a produção de melatonina, uma substância que interfere no humor. Devido à localização geográfica, os países Nórdicos são abrangidos por períodos longos sem luz solar alternados com períodos sem noite, favorecendo o aparecimento de depressões sazonais. Estas condições parecem estar relacionadas com as elevadas taxas de depressão nestes países. A fototerapia é recomendada em indivíduos que possuem desordens afectivas sazonais, perturbações do ritmo-circadianas ou problemas oftalmológicos ligeiros. B) Electroconvulsoterapia A electroconvulsoterapia é a melhor terapêutica disponível para doentes com depressão em fase muito avançada, quando existe necessidade de resposta rápida (risco de suicídio) ou quando existem riscos (gravidez) ou falha da resposta de outros tratamentos, possuindo eficácia e segurança comprovadas. Electroconvulsoterapia Fototerapia A P O N T A M E N T O S 32 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Os choques induzidos provocam libertação de aminas no organismo humano, melhorando o prognóstico da patologia. Indivíduos com pressão intracraneana elevada, lesões cerebrais, enfarte do miocárdio recente, hemorragia intracerebral recente ou condições vasculares instáveis não podem ser submetidos a esta terapêutica. As principais reacções adversas descritas são transitórias, citando-se entre elas: disfunções cognitivas (confusão e perturbações da memória), disfunções cardiovasculares, apneia prolongada, mania, cefaleia, náuseas e miopatia. Podem surgir recorrências frequentes na ausência de farmacoterapia de manutenção. C) Psicoterapia A psicoterapia é outra opção terapêutica que deve ser instituída sempre que exista possibilidade e motivação. Dependendo da fase e do tipo de depressão, nem sempre corresponde à terapêutica de primeira opção. Pode ser instituída em simultâneo com a farmacoterapia quando se registam respostas parciais às terapêuticas instituídas ou quando as alterações do humor são crónicas. D) Erva-de-São-João - Hipericum perforatum Tradicionalmente esta planta foi utilizada durante muitos séculos, por mulheres «sábias», para combater a melancolia e ansiedade. É considerado um suplemento dos antidepressivos na melhoria do humor, aumentando a disponibilidade da serotonina, noradrenalina e dopamina nas sinapses neuronais. É também popular no tratamento de insónia, fadiga e sintomatologia associada à menopausa. O hipericão é o composto natural presente nesta planta responsável pelas propriedades citadas. Hipericum perforatum Erva de S. João A P O N T A M E N T O S 33 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 3 - DEPRESSÃO NO CONTEXTO DA DOENÇA BIPOLAR A doença bipolar é uma patologia caracterizada pela existência de episódios de mania alternados com episódios de depressão. Esta desordem afecta cerca de 1% da população dos EUA. Normalmente surge por volta dos 20 a 30 anos. No entanto, podem existir sintomas que indiciam o inicio desta doença na adolescência. A prevalência é igual nos dois sexos. No entanto, uma vez diagnosticada a doença, homens e mulheres parecem sofrer mais de episódios maníacos e depressivos, respectivamente. Existem critérios de diagnóstico que permitem identificar esta patologia (ver anexos, pág. 154). No episódio maníaco o estado de humor é marcado por uma elevação anormal e sustentada, caracterizada por autoestima exacerbada, diminuição do sono, distracção, excessivo envolvimento em actividades, entre outros. O diagnóstico diferencial é extremamente importante para identificar e separar os efeitos tóxicos causados pela administração de estimulantes simpaticomiméticos e a mania secundária induzida por hipertiroidismo, SIDA, desordens neurológicas (doenças de Huntington e Wilson) e acidentes cerebrovasculares. 3.1. Sintomatologia (ver pág.154) • Elação do humor; • Irritabilidade; • Redução do sono (2h/dia); • Verborreicos – abundância de palavras com poucas ideias; • Fuga de ideias – referem não conseguir acompanhar a velocidade do pensamento; • Distractibilidade - não são capazes de manter uma tarefa; • Agitação psicomotora; • Desinibição; A P O N T A M E N T O S 34 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I “Starry Night”, pintado em 1889 por Vincent van Gogh, é um quadro bastante associado às fases maníacas deste pintor. • Indiscrição sexual; • Envolvimento excessivo em actividades que lhes dão prazer; 3.2. Caso clínico J. M., uma professora solteira de 30 anos de idade, natural de Inglaterra, foi arrastada pelos pais ao Hospital, cada um deles puxando por um braço. Quando o médico entra na sala da consulta, a doente anda sem parar, cantando alto o «We Are The Champions». A atenção da doente transfere-se rapidamente para outra coisa e fala sobre 8 assuntos diferentes durante os 2 primeiros minutos da consulta. Embora à primeira vista J.M. se mostre amistosa e atrevida, oferecendo-se para mostrar ao médico uma contusão no cimo da coxa, quando ele sugere a sua hospitalização, enfurece- se e ameaça agredi-lo. Este episódio teve início súbito há 10 dias, pouco tempo depois de J.M. ter rompido com o seu namorado. Desde essa altura passou a dormir somente algumas horas por noite, perdeu cerca de 4 quilos, encomendou livros escolares na ordem de vários milhõesde euros para os seus alunos e tem feito dúzias de telefonemas interurbanos. Faltou às reuniões escolares de preparação do novo ano lectivo e iria começar as aulas durante a semana seguinte. Contudo, na altura em que se realizou o exame inicial, tinha reservado um bilhete de avião para o Brasil, com partida marcada para algumas horas mais tarde. Diagnóstico: Doença bipolar, episódio de mania. A P O N T A M E N T O S 35 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 3.3. Tratamento 3.3.1. Lítio O tratamento da mania é realizado através da administração oral de um ião inorgânico na forma de carbonato de lítio. O mecanismo de acção não é totalmente compreendido, suspeitando-se que este possa interferir com a formação de inosiltrifosfato e AMPc. Trata-se de um fármaco importante, não só no tratamento mas também na profilaxia, apresentando uma taxa de eficácia de 70 a 80% em 1 a 2 semanas. Os efeitos terapêuticos podem ser observados ao fim de 7-10 dias de tratamento. Durante este período, poderá ser administrado Lorazepam (1 a 2mg a cada 4 horas) ou Clonazepam (0,5 a 1mg a cada 4 horas) para controlar a agitação. Esta terapêutica apresenta bastantes inconvenientes, obrigando à monitorização sanguínea semanal do fármaco, devido à estreita janela terapêutica, especialmente quando os doentes apresentam concomitantemente doença renal. As reacções adversas graves são raras. Como principais reacções adversas citam-se: náuseas, sede, poliúria, hipotiroidismo, hipercalcémia, tremor, fraqueza, confusão mental, dificuldades de concentração, incoordenação, ataxia e teratogénese. A dose excessiva aguda causa confusão, convulsões e disritmias cardíacas. Estão ainda descritas interacções com IECAS, analgésicos, anti-hipertensores, cisapride, diuréticos, agonistas 5-HT1, metoclopramida, domperidona, relaxantes musculares, parassimpático-miméticos e teofilina. 3.3.2. Outros fármacos Estas terapêuticas possuem bastantes efeitos adversos, como apatia excessiva, entre outros, pelo que os doentes tendem a rejeitar estes medicamentos. A - Carbamazepina A carbamazepina é um anticonvulsivante que apresenta um espectro de reacções adversas descritas relacionadas essencialmente com o tubo digestivo, a pele e o sistema nervoso central. Deve-se realizar controlo hematológico antes e durante o tratamento, uma vez que existe risco de estabelecimento de anemia aplástica e agranulocitose. A carbamazepina possui ainda acção A P O N T A M E N T O S 36 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I anticolinérgica, podendo desencadear ou agravar situações de glaucoma e sindromas confusionais em doentes idosos. B – Valproato Fármaco utilizado em pacientes que não respondem, respondem pouco ou não toleram a terapêutica com lítio. Verificou-se que a sua administração é vantajosa em pacientes que experimentam ciclos rápidos (ex.: mais de 4 episódios por ano) ou em pacientes que apresentam mania disfórica. É hepatotóxico e como tal, a função hepática deve ser avaliada antes e depois do início da medicação, a intervalos curtos, durante os primeiros seis meses. Como reacções adversas comuns citam-se: náuseas, vómitos, tremor aumento do peso e trombocitopenia. Encontram-se descritas interacções com o álcool e outros depressores do SNC, que levam à potenciação do efeito depressor. Anticonvulsivantes e barbitúricos aumentam os seus níveis plasmáticos quando co-administrados com valproato. A co-administração com ácido acetilsalicílico, dipiridamol e varfarina pode elevar o risco de hemorragia. A associação com clonazepam pode precipitar-se crises de ausências. Os salicilatos e a cimetidina podem aumentar os níveis do valproato e a colestiramina reduz a sua absorção. C – Antipsicóticos típicos Os antipsicóticos atípicos podem ser importantes no tratamento da mania aguda (para mais informações consultar pág.73), para controlar a agitação em doentes refractários às benzodiazepinas. Como efeitos adversos indesejáveis citam-se: reacções extrapiramidais, Parkinsonismo induzido, distonia, acatísia e discinésias. Como tal, a utilização destes fármacos encontra-se limitada. Cloropromazina, Haloperidol A P O N T A M E N T O S 37 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I D – Antipsicóticos atípicos Os antipsicóticos atípicos podem ser importantes no tratamento da mania aguda (para mais informações consultar pág. 73), para controlar a agitação em doentes refractários às benzodiazepinas. Parece existir maior tolerância, relativamente aos sintomas extrapiramidais, registando-se melhorias na qualidade de vida destes doentes. São eficazes em doses baixas, não induzindo efeitos adversos neurotóxicos. Podem ser utilizados em monoterapia ou em combinação com estabilizadores do humor tradicionais (lítio, valproato de sódio) ou carbamazepina, registando-se um aumento da adesão à terapêutica por parte dos doentes bipolares. 3.3.3. Terapêuticas experimentais • Outros anticonvulsivantes: levetiracetam, fenitoína; • Tamoxifeno; • Mexiletine (antiarrítmico, anticonvulsivante, analgésico); • Ácidos gordos W3 - constituintes naturais das gorduras animais e vegetais. • Calcitonina; Nota: Na mania podem ainda ser utilizados: a Lamotrigina, Gabapentina, Topiramato, Benzodiazepinas como adjuvante (causando sedação), antidepressivos nas fases de depressão severa, devendo ser evitados no tratamento de manutenção uma vez que existe risco de precipitarem mania ou acelerarem a frequência dos ciclos. A perda da eficácia com o tempo obriga a adopção de uma terapêutica combinada. Clozapina, Olanzapina, Quetiapina, Risperidona e Ziprazidona A P O N T A M E N T O S 38 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I “The Scream” - Edvard Munch 4 - PERTURBAÇÕES DA ANSIEDADE 4.1. Ansiedade Trata-se de uma sensação benéfica e fundamental para a competência social e profissional. No entanto, quando esta sensação é constante e exagerada, podem-se gerar conflitos que perturbam gravemente o indivíduo, evoluindo para uma situação patológica. A ansiedade, enquanto estado patológico, corresponde a 15-20% das diferentes situações clínicas apresentadas em psiquiatria. É uma desordem com mais semelhanças às neuroses que às psicoses, uma vez que o indivíduo é capaz de identificar a causa. A ansiedade reactiva é uma ansiedade que se inicia devido a um acontecimento/situação perturbadora. Por exemplo, quando é diagnosticada uma doença os pacientes geram apreensão em relação ao prognóstico da mesma. Por outro lado, existem fármacos, como os antidepressivos (ex.: fluoxetina) que são altamente ansiogénicos durante as primeiras semanas de administração. É por este motivo que muitos clínicos optam por fazer uma associação entre ansiolíticos e antidepressivos. Caso a ansiedade seja focalizada em algo, pode evoluir para uma fobia. A fobia é algo muito subjectivo que se caracteriza por um medo intenso focalizado num objecto/situação/espaço. 4.2. Ataques de pânico Por definição, são imprevisíveis e recorrentes. Surgem instantaneamente e caracterizam- se por um aumento progressivo e abrupto dos sintomas durante 10 minutos. Passado cerca de 60 minutos estes sintomas desaparecem. Podem ser facilmente confundidos com problemas A P O N T A M E N T O S 39 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I cardiovasculares, respiratórios, neurológicos e endócrinos sendo fundamental a realização de diagnóstico diferencial. Parece existir prevalência de ataques de pânico em determinados períodos da vida, nomeadamente após a adolescênciae nos adultos jovens. No entanto, existem casos onde se registam vários ataques de pânico no mesmo ano. Com o aumento da frequência dos ataques, estes indivíduos referem conseguir prevê-los através da identificação do aumento da ansiedade. O doente estabelece uma ligação entre o local, situação ou acontecimento em que surgem os ataques de pânico, passando a evitá-los. Este comportamento é designado por comportamento de evitamento e, quando generalizado, pode conduzir à restrição severa dos estilos de vida destes indivíduos. 4.2.1. Sintomatologia (ver pág.154) - Palpitações; - Sensação de morte iminente; - Hipersudorese; - Tremor; - Sensação de falta de ar e asfixia; - Sensação de choque eminente; - Sintomatologia GI: náuseas, cólicas, entre outros; - Alteração no equilibro motor; - Parestesias – alteração da percepção táctil; - Arrepios; - O indivíduo sente-se impotente para controlar os sintomas; - Rubor; - Sensação de levitação – os doentes relatam que durante os ataques de pânico, parecem «sair do seu próprio corpo» e observar a situação de cima; - Tensão muscular; - Formigueiro nas mãos. A P O N T A M E N T O S 40 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 4.2.2. Agorafobia Patologia frequente nos pacientes que sofrem de ataques de pânico, muito embora existam indivíduos com ataques de pânicos mas sem agorafobia. Corresponde a um aumento da ansiedade ou medo adquirido e irracional relacionado com locais ou situações onde o indivíduo se sente desprotegido e inseguro. Os doentes relatam a sensação de que não vão conseguir escapar com vida dessas situações. Tratam-se de medos agorafóbicos que envolvem, tipicamente, determinados grupos característicos de situações: estar fora de casa não acompanhado, estar no meio de uma multidão ou permanecer numa fila, estar numa ponte, viajar de autocarro, comboio ou automóvel. 4.2.3. Caso clínico B. é uma mulher de negócios com 27 anos de idade e uma história de 3 anos de ataques de pânico. O seu primeiro ataque de pânico ocorreu subitamente quando estava em casa a ver televisão. Este facto passou-se 3 meses após a morte do avô paterno e 1 mês depois de ela ter anunciado a sua intenção de se casar. O ataque começou por uma sensação de choque eléctrico que lhe subia pela coluna vertebral, acompanhada por sensação de terror. O coração começou a bater rapidamente, as mãos crisparam-se e mal podia respirar. A doente sentia-se quente, trémula e desorientada, convencida de que ia morrer rapidamente. Embora quase não conseguisse falar, chamou um médico. Cerca de 10 minutos depois, a sensação de terror tinha-se desvanecido e os outros sintomas estavam a desaparecer, mas ainda se sentia fraca e atemorizada. Um exame médico completo excluiu qualquer estado físico geral, não existindo evidência do uso de substâncias. Durante a semana seguinte, B. teve mais 5 episódios de pânico que ocorreram inesperadamente em diferentes situações. Os episódios caracterizavam-se por súbito aparecimento de sensações de choque eléctrico na coluna vertebral, palpitações cardíacas, tonturas, formigueiros nos dedos, medo de enlouquecer e sensação de irrealidade. B. Aceitou a prescrição de uma benzodiazepina, mas recusou-se a consultar o psiquiatra recomendado pelo médico de família. Determinada a não deixar que os sintomas interferissem com a sua vida, compeliu-se a continuar a trabalhar. Algumas semanas mais tarde, a frequência e a intensidade dos ataques começaram a diminuir, mas B. continuou a ter episódios de pânico intermitentes A P O N T A M E N T O S 41 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I várias vezes por mês, durante os 2 anos seguintes. Estes ocorriam normalmente quando estava no metro ou no autocarro superlotados, quando se estava a exercitar numa bicicleta estática, quando se encontrava na expectativa de uma confrontação ou quando estava relaxada na cama, durante a noite. Depois de uma promoção profissional recente, a frequência dos ataques de pânico aumentou para um ritmo de várias vezes por semana. Passou a ficar 14h/dia no emprego, embora sentisse que a sua ansiedade a estava a tornar indecisa e a diminuir a sua eficiência. Andava permanentemente preocupada com o facto de poder ser despedida. Embora se sinta muitas vezes desconfortável em lojas, no cinema e em restaurantes superlotados, B. continua a forçar-se a ir a estes lugares; todavia, evita andar de metro e conduzir em túneis. B. veio à consulta porque os seus sintomas pioraram e o noivo leu algures que existiam novos tratamentos para os sintomas de pânico. Não obstante, parece pouco empenhada no exame médico. Reservada e desconfiada, replica frequentemente às questões com “Para que interessa tudo isso?”. Parece sensível às críticas e confessa ter receio de que discutir os seus problemas com um terapeuta apenas sirva para lhe agravar a ansiedade. Diagnóstico: Perturbação de pânico sem agorafobia. 4.2.4. Etiologia A etiologia destas patologias é desconhecida, mas sabe-se que existe uma predisposição genética. Por outro lado, indivíduos que sofrem de ataques de pânico parecem dispor de alterações ao nível do sistema nervoso autónomo. Isto é, o limiar da estimulação do SN periférico encontra-se diminuído. Em cerca de 65% dos pacientes (≈2/3) é possível evocar ataques de pânico através da infusão de lactato de sódio, iombina e dióxido de carbono. A activação noradrenérgica no locus coeruleus e dos neurónios serotoninérgicos na “dorsal raphe” encontra-se também descrita nestes casos. 4.2.5. Tratamento Nas situações agudas deve-se proceder à administração de benzodiazepinas e outros ansiolíticos como definem as guidelines. A P O N T A M E N T O S 42 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I As benzodiazepinas não tratam a doença. Apenas aliviam os sintomas nas situações agudas. Isto porque quer a biodisponibilidade quer a lipossolubilidade são maiores nestes fármacos, atingindo rapidamente o SNC onde exercem os seus efeitos ao potenciar os efeitos inibitórios do GABA. O tratamento da patologia é realizado recorrendo à administração de SSRIs, isto é, inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ex.: fluoxetina, paroxetina, entre outros). O tratamento tem como objectivo diminuir a frequência e intensidade dos ataques de pânico. Se o doente reconhece as situações ou sensações que antecedem os ataques de pânico, deve utilizar as benzodiazepinas como tratamento sintomático no ataque agudo. No entanto, nem todas as benzodiazepinas devem ser utilizadas no tratamento de situações agudas (ex.: Clonazepam – actua mais lentamente). A buspirona, ao contrário das benzodazepinas, não causa dependência nem sonolência, sendo também utilizada no tratamento desta desordem. É essencial a existência de pareceres especializados na área da psiquiatria, quando se registam estas patologias. Abordagem cognitiva O doente deve conhecer a sua patologia. Abordagem comportamental Tentar expor o indivíduo ao medo de forma a existir confrontamento e respectiva dessensibilização Fármacos Antidepressivos + Benzodiazepinas A P O N T A M E N T O S 43 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Fármaco Acção T ½ ,h Outras características Estrutura molecular Benzodiazepinas Diazepam (Valium®) Rápida 20-70 Possui metabolitos activos; causa alguma sedação; Flurazepam (Dalmane®) Rápida 30-100 Flurazepam é um pró-farmaco; possui metabolitos activos; causa alguma sedação; Triazolam (Halcion®) Intermédia 1.5-5 Sem metabolitos activos; pode induzirconfusão e delírio especialmente nos idosos; Lorazepam (Ativan®) Intermédia 10-20 Sem metabolitos activos; conjugação directa com glucuronídos no fígado; Alprazolam (Xanax®) Intermédia 12-15 Possui metabolitos activos; pouca sedação; pode ter actividade antidepressiva e antipânico; causa dependência e tolerância facilmente; Clordiazepóxido (Librium®) Intermédia 5-30 Possui metabolitos activos; causa sedação moderada; A P O N T A M E N T O S 44 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I Oxazepam (Serax®) Lenta 5-15 Sem metabolitos activos; conjugação directa com glucuronídos; quase sem efeito sedativo; Temazepam Lenta 9-12 Sem metabolitos activos; causa sedação moderada; Clonazepam (Klonopin®) Lenta 18-50 Sem metabolitos activos; causa sedação moderada; Outros ansiolíticos Buspirona (BUSPAR®) 2 semanas 2-3 Possui metabolitos activos dose 10-20mg tid; não causa sedação; o álcool não potencia os seus efeitos; útil em pacientes com demência ou traumatismo craniano; 4.3. Desordem de ansiedade generalizada Corresponde a uma preocupação irreal, com grande incidência familiar, em que o paciente não consegue identificar a causa aparente dos seus sintomas. Crianças com muitos medos, em adultos tornam-se indivíduos particularmente afectados por estas desordens. Pode ser observado, em 80% dos casos, agregação a desordens como fobias sociais, depressão, entre outras, abuso de álcool ou de fármacos sedativos e ansiolíticos. Os sintomas característicos dos ataques de pânico como palpitações, taquicardia, falta de ar, entre outros, não estão presentes nesta patologia. O indivíduo identifica que tudo o perturba, mesmo as coisas mais insignificantes, gerando-se uma irritabilidade e preocupação excessiva não A P O N T A M E N T O S 45 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I controlável. Esta desordem pode constituir um factor predisponente para outras patologias como doenças cardiovasculares. Muitos dos indivíduos com desordens de ansiedade generalizada afirmam que sempre sofreram de ansiedade e nervosismo durante a sua vida. Embora mais de metade dos que se apresentam para tratamento relatem início na infância ou adolescência, não é raro o início dar-se após os 20 anos. O curso desta patologia é crónico, embora flutuante, piorando durante os períodos de stress. Os sintomas surgem e permanecem durante 6 meses. 4.3.1. Sintomatologia - Inquietação; - Insónia inicial; - Irritabilidade; - Distúrbios GI; - Cansaço, fadiga; - Humor; - Tensão muscular; - Dificuldade em concentrar-se numa actividade; 4.3.2. Caso clínico C.A., é uma mulher de 31 anos, empregada bancária há 5 anos. Tem desempenhado as suas funções de forma irrepreensível. Há 3 meses atrás começou a faltar ao emprego e a irritar-se facilmente com alguns clientes e colegas de trabalho. Durante a consulta no médico da empresa queixou-se de cansaço e tensão, problemas de estômago e diarreia frequentes. Não tem história anterior de doença mental; admite enervar-se com «pequenas coisas». Para contrariar este estado, a paciente diz tomar longos banhos de imersão. O exame físico revelou-se normal. Não tem história familiar de doença mental. O exame mental foi baseado na sua apresentação e comportamento, humor, componente sensorial e pensamentos: A P O N T A M E N T O S 46 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I - Apresentação e comportamento: a paciente apresenta-se cuidadosamente vestida e com bom aspecto, fala com discurso coerente mas abana constantemente a perna direita, batendo com o pé direito, suavemente, na mesa. Refere que, ocasionalmente, tem dificuldade em adormecer, apesar de dormir bem durante o resto da noite. - Humor: ansiosa e preocupada com a avaliação clínica. - Exame sensorial: orientado em relação ao tempo, ao lugar e à sua pessoa. - Pensamentos: nega ter qualquer tipo de alucinações visuais ou auditivas. Declara ter, por vezes, dificuldade em falar, ser incapaz de relaxar e ficar agitada e irrequieta facilmente. Admite ser difícil para ela trabalhar, actualmente, e pretende melhorar a sua performance. Mostra boa capacidade de auto-análise e avaliação e está motivada para tratamento. Nega ter ideação suicida. Diagnóstico: Desordem de ansiedade generalizada. 4.3.3. Tratamento O tratamento de desordens de ansiedade é realizado através da administração de benzodiazepinas. Estas actuam em receptores específicos, localizados na estrutura do receptor GABAA, sendo ansiolíticas. Podem modificar o sono desde que se atinjam as doses eficazes. As benzodiazepinas distinguem-se essencialmente pelas propriedades farmacocinéticas. Nesta patologia, não existem preocupações que os fármacos actuem imediatamente. A dose deve ser a mínima necessária, não se recomendando a administração prolongada por mais de 1 mês (risco de dependência). Nota: o diazepam (Valium ®) é também utilizado como relaxante muscular, pré- anestésico, ansiolítico e anticonvulsivante, estando disponíveis formulações para administração rectal (útil quando se pretende administrar a crianças ou doentes cujas características impeçam a administração do fármaco por outras vias). 4.3.3.1. Benzodiazepinas A – Metabolismo • Oxidação hepática e conjugação com ácido glucorónico. Lorazepam, lormetazepam, oxazepam e temazepam apenas sofrem conjugação; clonazepam e nitrazepam sofrem nitroredução; A P O N T A M E N T O S 47 FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I • O compromisso da oxidação (idoso, doença hepática, inibidores metabólicos) favorece a elevação das concentrações plasmáticas de benzodiazepinas e/ou dos seus metabolitos; • Clobazepam (desmetilclobazepam), clorazepato, clordiazepóxido, diazepam e prazepam (desmetildiazepam), flunitrazepam (desmetilflunitrazepam), flurazepam (desalquilflurazepam) e quazepam (oxoquazepam e desalquilflurazepam) originam metabolitos activos com acção muito longa (T½ ≈ 100h); • O clorazepato é um pró-fármaco (DMDZ) activado em meio ácido. B – Acção/Distribuição • Quanto à velocidade de absorção as benzodiazepinas são lipofílicas sendo rapidamente absorvidas e distribuídas pelo SNC. Possuem um início de acção rápido (30-60 min) e intenso; • A distribuição é favorecida pela lipofilicidade, nomeadamente pelo tecido adiposo. Consequentemente o efeito é curto; • Quanto ao potencial de abuso, alguns doentes sentem rápido início de acção, ao passo que outros sentem tonturas ou perda de controlo e euforia; • Diazepam, clorazepato > lorazepam, oxazepam > clordiazepóxido • A via IM deve ser evitada para o diazepam e clordiazepóxido uma vez que pode provocar absorção variável (velocidade e extensão). C – Excreção renal • Tempo de semi-vida curto (alprazolam, lorazepam, oxazepam), atingindo rapidamente Css, sendo o risco de acumulação mínimo; • Devem ser administrados em várias tomas diárias de dose parcial; • As benzodiazepinas de tempo de semi-vida longo devem ser administradas 1x/dia ao deitar. D – Ligação a proteínas plasmáticas • Elevada ligação às proteínas plasmáticas, especialmente nas de tempo de semi-vida e tempo de eliminação longo. E – Reacções adversas • Depressão do SNC, tonturas, sedação, compromisso psicomotor, ataxia, desorientação, confusão, irritabilidade, agressão e excitação; • Compromisso da memória anterógrada (deficiente armazenamento da memória), sobretudo com benzodiazepinas de elevada afinidade para o receptor (midazolam, lorazepam). A P O N T A M E N T O S 48 FISIOPATOLOGIA
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