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fisiopatologia e farmacoterapia

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A P O N T A M E N T O S 
 1 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO I 
 INVESTIGAÇÃO DE NOVOS FÁRMACOS 
 
 
 
A P O N T A M E N T O S 
2 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
1 - INVESTIGAÇÃO DE NOVOS FÁRMACOS 
 
1.1. Desenvolvimento e autorização de novos fármacos 
O desenvolvimento de novos fármacos constitui um dos principais motores revolucionários 
da prática clínica, diminuindo a morbilidade e mortalidade das populações em todo mundo. No 
entanto, os processos inerentes à descoberta, manipulação e autorização de novas substâncias 
farmacológicas são extremamente morosos e dispendiosos. 
Circuito interactivo do Medicamento de Uso Humano: 
Adaptado de www.infarmed.pt, 14 de Setembro de 2006 
A investigação nesta área segue normalmente a seguinte ordem de acontecimentos: 
1- Síntese de novas substâncias (realizado quase exclusivamente através de planeamento 
racional); 
2- Obtenção de um grande número de moléculas (± 1000); 
3- Triagem farmacológica; 
4- Selecção do composto líder; 
5- Início da bateria de ensaios (culturas celulares, membranas celulares, tecidos, entre 
outros); 
A P O N T A M E N T O S 
 3 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
6- Realização de ensaios em modelos animais adequados aos estudos (estudo da 
tolerância, toxicidade, selectividade do composto, mecanismo de acção, entre outros); 
7- Ensaios clínicos que visam confirmar os efeitos farmacológicos, toxicológicos, entre 
outros, no Homem. 
Nota: Para cada 1000 moléculas sintetizadas, 1 chega a ensaios clínicos e apenas 1 em cada 100 chega a ser comercializada. 
 1.1.1. Objectivos dos ensaios clínicos 
• Confirmar os efeitos farmacológicos; 
• Avaliar se o efeito farmacológico determina efeitos terapêuticos úteis; 
• Demonstrar a segurança do fármaco. 
 
1.1.2. Factores a considerar nos ensaios clínicos 
• História natural da doença; 
• Presença de outras doenças; 
o Ex.: Doentes com Alzeimer ou Parkinson são doentes que tipicamente 
apresentam outras patologias características da idade em que estas doenças 
se manifestam geralmente (ex.: hipertensão, hipercolesterolémia, diabetes, 
etc.). 
• Factores de risco para outras doenças; 
0 anos 8-9 anos 
Descoberta de 
novas aplicações 
terapêuticas 
20 anos 
Patente cai no 
domínio público 
Produtos 
Naturais 
Sintese 
Química 
Composto 
Leader 
2 anos 
Fase I 
Fase II 
Estudos em 
animais 
 
 Eficácia? 
 Selectividade? 
 Mecanismo? 
 
4 anos 
Estudo da segurança e do metabolismo 
Fase III 
Fase IV 
Ensaios clínicos Marketing 
P
ro
d
u
çã
o
 d
e
 
G
en
ér
ic
o
s 
É seguro? 
Farmacocinética? 
É eficaz em 
Humanos? 
É eficaz? Estudos 
duplamente cegos 
Estudos 
in vitro 
Fa
rm
a
co
vi
g
il
ân
ci
a
 
A P O N T A M E N T O S 
4 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
• Influência do doente a observar; 
• A noção de que não existem doentes padrão; 
o Por regra, os ensaios clínicos são ensaios rigorosos, cujos critérios de 
selecção dos doentes envolvidos são bastante específicos. No entanto, 
devido às próprias características da patologia em estudo, das condições 
socio-económicas e variabilidade inerente a cada indivíduo, não existem 
doentes modelo/padrão. Isto é, os resultados obtidos nos ensaios clínicos 
nem sempre reflectem as características da população, devido ao grande 
número de variáveis não controláveis que podem interferir nos outcomes. 
Para além disso, o efeito placebo tem grande importância em várias áreas 
como na área da psicopatologia. Já na área da oncologia, este efeito não 
seguirá os mesmos «parâmetros» que o modelo anterior. Em todo o caso, é 
extremamente importante estudar o efeito placebo sempre que possível. 
 
1.1.3. Ensaios clínicos de Fase I 
Estes estudos seguem uma metodologia de ensaios abertos, sendo realizados em centros 
de investigação sob orientação de Farmacologistas clínicos experientes que procuram estudar a 
segurança do fármaco, envolvendo a participação de um grupo pequeno de voluntários saudáveis 
(20-25 indivíduos). Caso seja prevista elevada toxicidade, os ensaios poderão ser realizados em 
doentes voluntários que não possuam outras opções terapêuticas. 
É administrada, por via parentérica, uma única dose de fármaco, calculada a partir dos 
resultados obtidos em estudos de toxicidade animal, estudando-se vários parâmetros 
farmacocinéticos do fármaco no Homem (ex.: absorção, semi-vida, metabolismo, intervalo 
toxicidade, entre outras). 
Inerente ao número de participantes neste estudo, a probabilidade de ocorrer e serem 
registados efeitos tóxicos é bastante reduzida. Como tal, o estudo da farmacocinética é essencial 
nesta fase de ensaios clínicos, aproveitando-se toda a informação que possa ser recolhida 
(alterações da função hepática, hematológica, renal, entre outras). 
 
 
A P O N T A M E N T O S 
 5 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
1.1.4. Ensaios clínicos de Fase II 
Nesta fase, os estudos seguem uma metodologia de ensaios cegos simples (placebo, 
controlo positivo, fármaco novo), sendo realizados em grandes centros clínicos especializados 
como hospitais universitários. Incidem sobre um grupo maior de voluntários (100 a 200) que 
sofrem da patologia para a qual o fármaco demonstrou potencial, pretendendo-se estudar a sua 
eficácia. Existem critérios rigorosos de selecção que avaliam os doentes com grande detalhe 
antes de entrarem nos ensaios. 
Está ainda presente um grupo controlo sujeito à administração de placebo ou da melhor 
medicação disponível no mercado até ao momento para a patologia em causa. 
Como o número de indivíduos implicados no estudo é maior, os investigadores estão 
também atentos à possível toxicidade do fármaco. 
Esta fase pode demorar vários anos e, caso seja demonstrada eficácia, o fármaco 
prossegue para estudos posteriores. 
 
1.1.5. Ensaios clínicos de Fase III 
Estes estudos visam estabelecer a segurança e eficácia do fármaco em causa. 
Constituem a última grande fase de estudos antes da terapêutica ser aprovada pelas 
entidades competentes, envolvendo milhares de pacientes dispersos por vários centros 
hospitalares. 
Os estudos são realizados através da execução de ensaios duplamente cegos e cruzados. 
O operador desconhece o que está a administrar, assim como o paciente desconhece o que está a 
receber. Por outro lado são cruzados uma vez que todos os grupos recebem placebo, o fármaco 
em estudo e o melhor fármaco disponível no mercado para a patologia em causa. 
*Semana de washout – semana de lavagem necessária para remover o fármaco do organismo. 
Como nas fases anteriores, os investigadores estão atentos ao aparecimento de reacções 
adversas. Alguns efeitos tóxicos, como os mediados por processos imunológicos, tornam-se 
normalmente evidentes nesta fase. 
 Semana 1 *Semana 2 Semana 3 
Grupo 1 Aspirina Placebo Fármaco em estudo 
Grupo 2 Placebo Fármaco em estudo Aspirina 
Grupo 3 Fármaco em estudo Aspirina Placebo 
A P O N T A M E N T O S 
6 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
O esquema posológico é escolhido de acordo com a informação obtida nas fases 
anteriores, seleccionando-se o mais semelhante ao esquema a ser utilizado no mercado. 
Os investigadores envolvidos nesta fase são, normalmente, especialistas nas doenças alvo 
do novo medicamento. 
 
1.1.6. Ensaios clínicos de Fase IV 
O medicamento, após sujeito aos processos de aprovação, entra no mercado, sendo 
activados os mecanismos de farmacovigilância. Estessão constituídos por estudos que 
monitorizam a segurança do novo fármaco na população alvo, estando atentos às eventuais 
reacções adversas raras (1 para 10 000) não detectadas durante as fases anteriores. 
Ex.: A substância activa Tolcapone foi aprovada como fármaco administrado no 
tratamento de Doença de Parkinson. Detectou-se posteriormente efeitos hepatotóxicos em 
estudos de farmacovigilância tendo sido retirado do mercado. Actualmente apenas é utilizado 
como última opção em casos de resistência à terapêutica. 
 
Tabela Resumo 
Fase Duração da amostra Quem? Porquê? 
Fase I 
1ª Administração em Humanos 
(ensaios abertos) 
3-6meses 
n=20-50 
Voluntários saudáveis; 
Por vezes doentes (ex.: 
oncológicos, HIV, etc.); 
Tolerância, dosagem, cinética, metabolismo, 
segurança, efeitos farmacológicos; 
Fase II 
Investigação clínica 
(ensaios cegos) 
6-12 meses 
N= 60-300 
Voluntários doentes; 
Necessário existir um 
grupo controlo; 
Eficácia na patologia, gama de doses 
adequadas, estimativa da magnitude e 
variabilidade do efeito; 
Fase III 
Ensaios clínicos formais 
(ensaios duplamente cegos e 
cruzados) 
1-3 anos 
N= 250-1000 
Voluntários doentes; 
Eficácia, taxa de ocorrência de efeitos 
adversos, análise farmacoeconómica; 
Fase IV 
Ensaios pós-mercado 
(Farmacovigilância) 
∞ 
Doentes tratados com o 
fármaco; 
Padrões de utilização, eficácia e toxicidade 
adicionais, procurar e investigar as possíveis 
diferenças farmacogenéticas entre as 
populações (ex.:diferentes graus de 
metabolismo); 
 
A indústria responsável pelo desenvolvimento destes novos medicamentos, pode explorar 
a título exclusivo a comercialização destes no mercado, sob a tutela de uma patente, durante um 
determinado período de tempo. Findado este prazo, a patente cai e outras indústrias podem 
A P O N T A M E N T O S 
 7 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
explorar a substância activa em causa. Existem no entanto excepções de fármacos em que estes 
prazos podem ser drasticamente encurtados, como no caso de medicamentos retrovíricos, entre 
outros. 
 
1.1.7. Tipo de ensaios clínicos 
 
• Ensaios de ocultação simples ou ensaios cegos; 
o É uma metodologia de ensaios clínicos onde apenas os indivíduos 
participantes desconhecem o que lhes está a ser administrados 
• Ensaios com ocultação dupla ou duplamente cegos; 
o É uma metodologia de ensaios clínicos onde nem os indivíduos participantes 
nem o pessoal técnico sabem quais os participantes que estão a ser 
administrados com o fármaco experimental, nem os que estão a ser 
administrados com placebo ou outra terapêutica. Esta metodologia produz 
resultados objectivos, uma vez que as expectativas dos investigadores e dos 
participantes não afectam os resultados clínicos. 
• Ensaios abertos; 
o Metodologia de ensaios clínicos onde os indivíduos participantes e pessoal 
técnico sabem quais os participantes que estão a ser administrados com o 
fármaco experimental, placebo ou outra terapêutica. 
 
1.1.8. Escolha dos controlos 
• Controlo activo ou placebo. 
• Estudos intra ou inter-pacientes. 
 
1.1.9. Teste da Hipótese nula 
A hipótese nula é uma hipótese que se presume verdadeira até que provas estatísticas sob 
a forma de testes de hipóteses indiquem o contrário. Trata-se de uma hipótese em que se 
pretende confrontar com os factos. 
Por exemplo, podemos ter uma afirmação relativamente a um determinado 
parâmetro/característica da população. Uma vez que é impossível estudar toda a população, 
A P O N T A M E N T O S 
8 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
realiza-se um teste baseado na observação de uma amostra aleatória, procurando-se negar a 
afirmação através dos dados obtidos. 
 
1.1.10. Testes e ensaios disponíveis 
Existe uma enorme bateria de ensaios disponíveis actualmente (ver tabela na pág.10). 
A - Ensaios in vitro 
Os ensaios moleculares (ensaios de binding) estudam a afinidade e selectividade 
dos compostos para os receptores celulares. Estes ensaios fornecem cada vez mais 
informação. Através da sua realização, o composto líder pode ser encontrado. 
As alterações que estes fármacos produzem eventualmente no sistema citocromo 
P450, encontram-se na base da criação de fármacos selectivos e que melhor se 
adaptam às características fisiológicas de cada indivíduo. É a partir deste conceito 
que tem sido desenvolvido a farmacogenómica. 
O metabolismo difere de indivíduo para indivíduo. Como tal, é errado falar de uma 
dose universal de um determinado fármaco para uma população afectada por uma 
determinada patologia. Existem indivíduos com metabolismo acelerado, normal e 
lento, produzindo respostas completamente diferentes aos fármacos e alterando os 
outcomes da terapêutica. 
 
 B - Testes de segurança 
B1 - Toxicidade aguda 
Estuda os efeitos de uma dose elevada de fármaco administrada por duas vias 
diferentes, em pelo menos duas espécies animais, determinando-se a dose para a 
qual 50% dos animais morrem - DL50. 
Por razões óbvias, este tipo de estudos não podem ser realizado em seres 
Humanos, não existindo DL50 Humana. 
Se a DL50 e a dose terapêutica (DT50) forem semelhantes, então a evolução da 
investigação para fases posteriores estará comprometida. 
A P O N T A M E N T O S 
 9 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Normalmente, a DL50 é estudada em ratinhos, uma vez que estas cobaias são 
fáceis de criar e requerem uma menor concentração de fármaco (doses menores), 
o que em termos económicos é relevante para o laboratório. 
B2 - Toxicidade sub-aguda 
São ensaios executados num período de 4 semanas a 3 meses, que estudam as 
alterações de comportamento de pelo menos duas espécies animais (coelho, 
ratinho, rato, etc.), resultantes da administração de três doses diferentes de 
fármaco. Posteriormente, todos os órgãos são isolados e estudados. Quanto maior 
for o tempo de utilização previsto para o fármaco, maior será o tempo necessário 
para a realização destes ensaios. 
B3 – Toxicidade crónica 
Estes testes possuem a duração de cerca de 6 meses ou mais, sendo executados 
em roedores e não roedores. Estudam-se os eventuais efeitos sobre o aparelho 
reprodutor, efeitos carcinogénicos e mutagénicos (teste de Ames – estuda a 
estabilidade genética e as mutações de culturas bacterianas sobre as quais se 
inocula os compostos em estudo). 
 
 
 
A P O N T A M E N T O S 
10 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Métodos experimentais 
ou órgãos alvo 
Tecidos ou espécies Administração Estudo 
Molecular 
Ligação ao receptor 
Ex.: β-adrenoceptores 
Fracções de membrana celular 
provenientes de órgãos ou culturas 
celulares; 
Receptores clonados. 
In vitro 
Selectividade e afinidade a 
receptores; 
Actividade enzimática 
Ex.: Tirosina hidroxilase, 
dopamina-3-hidroxilase, 
monoaminoxidase 
 
Nervos simpáticos; 
Glândula adrenal; 
Enzimas purificadas; 
In vitro 
 
 
Selectividade e inibição de 
enzimas; 
Citocromo P450 
Veias sanguíneas, coração, pulmões, 
ílio (rato e porquinhos da Índia); 
In vitro 
Inibição enzimática; 
Efeitos no metabolismo do 
fármaco; 
Celular 
Função celular In vitro 
Evidencias de actividade no 
receptor - agonismo ou 
antagonismo; 
Tecidos isolados In vitro 
Efeitos na contracção e 
relaxamento vascular, 
selectividade para os receptores 
vasculares, efeitos noutros 
músculos lisos; 
Modelos de doenças/sistemas 
Pressão sanguínea 
Cães e gatos (anestesiados) Parentérica Alterações diastólicas e sistólicas; 
Ratos hipertensos (conscientes) Oral Efeitos antihipertensivos; 
Efeitos cardíacosCães (conscientes) Oral Electrocardiografia; 
Cães (anestesiados) Parentérica 
Efeitos inotrópicos, efeitos 
cronotrópicos, output cardíaco, 
resistência periférica total; 
Sistema nervoso 
autónomo periférico 
Cães (anestesiados) Parentérica 
Efeitos na resposta de um 
fármaco conhecido, estimulação 
eléctrica dos nervos autonómicos 
centrais e periféricos; 
Efeitos respiratórios Cães e porquinhos da Índia Parentérica 
Efeitos na taxa de respiração, 
efeitos na amplitude do tónus 
bronquial; 
Actividade diurética Cães 
Parentérica e 
oral 
Natriurese, diurese de potássio, 
diurese de água, fluxo sanguíneo 
renal, taxa de filtração 
glomerular; 
Efeitos gastrointestinais Ratos Oral 
Secreção e mobilidade 
gastrointestinal; 
Hormonas circulantes, 
colesterol, açúcar 
sanguíneo 
Ratos e cães 
Parentérica e 
oral 
Concentração sérica; 
Coagulação sanguínea Coelhos Oral 
Tempo de coagulação, retracção 
do coágulo, tempo da 
protrombina; 
Sistema nervoso central Ratos e ratinhos 
Parentérica e 
oral 
Grau de sedação, relaxamento 
muscula, actividade motora, 
estimulação; 
A P O N T A M E N T O S 
 11 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Questionário 
 
 
 
1. Complete o seguinte quadro: 
 
Fase 
Duração da 
amostra 
Quem? Porquê? 
Fase I 
 
 
 
 
 
Fase II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fase III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fase IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O que entende por hipótese nula? 
 
 
 
 
3. O que entende por ensaios clínicos duplamente cegos? 
 
 
 
 
4. O que entende por ensaios clínicos abertos? 
 
 
 
 
5. Onde são realizados os ensaios clínicos de fase II? 
 
A P O N T A M E N T O S 
12 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
 
 
6. Onde são realizados os ensaios clínicos de fase IV? 
 
 
 
 
 
 
 
7. Que tipo de testes de segurança conhece? Quais as suas características? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. Quais os factores a considerar quando se realizam ensaios clínicos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
9. O que entende por semana washout? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10. O que entende por ensaios de ocultação simples ou ensaios cegos? 
A P O N T A M E N T O S 
 13 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO II 
PATOLOGIAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 
 
 
 
Perturbações do humor 
Depressão no contexto da doença bipolar 
Perturbações da ansiedade 
Psicoses 
Epilepsia 
Doença de Parkinson 
Demência tipo Alzheimer 
 
A P O N T A M E N T O S 
14 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
2 - PERTURBAÇÕES DO HUMOR 
 
 
A definição de humor abrange diferentes conceitos como a disposição vital, o estado de 
ânimo, passando pelo afecto fundamental e actividade holotímica de base. 
O humor é capaz de alterar todas as restantes funções do organismo humano. 
Normalmente existe uma variação de humor natural ao longo do dia, estação do ano, etc. No 
entanto, quando uma das fases se prolonga ou quando existe uma mudança brusca do humor, 
este comportamento é considerado anormal. Como tal, a intensidade e o tempo são dois aspectos 
extremamente importantes na avaliação do estado de humor. 
 
2.1. Tipos de perturbações do humor 
• Depressão major; 
• Doença bipolar; 
• Desordens distímicas; 
• Desordens ciclotímicas; 
• Perturbações de humor desencadeadas por fármacos. 
o Bloqueadores β; 
o Reserpina – provoca depressão reactiva ao diminuir as reservas de 
aminas nas vesículas presentes nos terminais sinápticos; 
o Interferão α2b – utilizado na terapêutica da Hepatite C, podendo 
causar depressão e tendências suicidas nos doentes. Normalmente 
são prescritos a estes pacientes antidepressivos como profiláticos de 
possíveis episódios depressivos que possam insurgir; 
o Corticóides; 
o Ribavirina; 
o Outros; 
A P O N T A M E N T O S 
 15 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
2.2. Etiologia 
2.2.1. Hipóteses fisiopatológicas 
• Aminas biogénicas (serotonina, noradrenalina e dopamina) 
A teoria monoaminérgica [1968] estabelece uma relação entre a concentração 
de aminas no organismo e o humor. Esta teoria foi elaborada quando se registou 
que a administração de reserpina (um inibidor do armazenamento de aminas 
neurotransmissoras nas vesículas dos terminais neuronais pré-sinápticos) induzia 
diminuição do humor. Assim sendo, quando existe uma diminuição na concentração 
de aminas ocorre uma diminuição do humor e vice-versa. No entanto, foi registado 
posteriormente que esta relação não era linear. 
Em indivíduos deprimidos ocorre diminuição da percentagem dos metabolitos 
dos neurotransmissores excretados pela urina (ex.: diminuição do ácido 5-
hidroxiindolacético, metabolito da serotonina). 
• Regulação neuroendócrina 
Existe uma regulação neuroendócrina do humor. Verifica-se que indivíduos 
deprimidos possuem o eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal muito excitado, 
resultando no aumento da concentração plasmática de cortisol. 
• Sono 
Depressão 
Recorrente Episódio único Persistente 
Distímica Bipolar 
Unipolar 
Severa: 
desordem bipolar 
afectiva 
Moderada: 
ciclotímica 
Doença 
depressiva 
recorrente 
Desordem 
afectiva sazonal 
Pequenos 
episódios 
depressivos 
recorrentes 
Episódio depressivo 
(diferentes graus 
de severidade) 
Mistura de 
depressão com 
ansiedade 
+ Ansiedade 
 
(+) Mania 
 
(-) Mania 
A P O N T A M E N T O S 
16 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Existem várias fases durante o sono, das quais se sobressai a fase REM (rapid 
eye movement). Indivíduos que sofrem de depressão vêem o seu tempo de sono 
diminuído. Ocorre uma diminuição do período de tempo entre o início do sono e a 
entrada na fase REM. Estes doentes sofrem constantes interrupções do sono 
durante a noite. Consequentemente, este não é reparador. 
Ex.: Insónia do deprimido – insónia tardia. 
 Insónia inicial – típica da ansiedade. 
Na doença bipolar, fase maníaca, encontra-se descrita redução do tempo de 
sono, consequência da própria doença. Esta redução não é semelhante ao que 
ocorre com os indivíduos depressivos. Isto porque os indivíduos com mania 
afirmam não precisar de dormir uma vez que não sentem falta. Na fase maníaca 
estes doentes chegam a dormir apenas 2 a 3 horas por dia. 
• Genética 
 Existe uma relação directa das patologias, do foro psiquiátrico com factores 
hereditários. Verifica-se que filhos de pais com depressão apresentam 10-15% de 
probabilidades de a desenvolver. Nos gémeos unizigóticos e bizigóticos esta 
probabilidade sobe para 50% e 20% respectivamente. 
Alterações do Humor 
Probabilidade de 
desenvolvimento na criança 
Doenças depressivas 
• Um dos pais 
• Gémeo monozigótico 
• Gémeo dizigótico 
 
10-13% 
50% 
10-25% 
Doenças bipolares 
• Um dos pais 
• Pais 
• Gémeo monozigótico 
• Gémeo dizigótico 
 
25% 
50-75% 
30-90% 
5-25% 
 
• Neuroanatomia 
Alterações anatómicas (ex.: cancro) do sistema límbico provocam alterações do 
humor. 
 
A P O N T A M E N T O S 
 17 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
• Kindling 
Termo que designa uma irritabilidade eléctrica neuronal. Ao sujeitar ratinhos a 
um estímulo eléctrico diário de baixa voltagem, gera-se uma perturbação no 
sistema nervoso por alteração da condutância das membranas. Esta é uma das 
formas, utilizadaspelos investigadores, para induzir epilepsia em cobaias. Na 
depressão parecem existir também alterações eléctricas muito subtis em pessoas 
facilmente irritáveis. Este fenómeno estará provavelmente relacionado com as 
alterações do humor e da personalidade. 
 
2.2.2. Hipóteses ou teorias psicossociais 
• Teoria Psicanalítica (Psicanálise); 
• Teoria Psicodinâmica; 
• Teoria Cognitiva (Triad of Aaron Beck) – o negativismo 
do Próprio, o negativismo do Mundo e o negativismo 
do Futuro; 
• «Learned helplessness» – pessoas que aprendem a 
viver sem esperança e a não sonhar ou esperar algo de 
bom na vida. 
• «Stressfull life events» – situações de stress intenso 
como a morte de um pai ou mãe, representa um evento 
extremamente marcante, sobretudo quando ocorre na 
infância (idade <11anos). A forma como os indivíduos lidam com eventos 
stressantes prepara-os para os problemas futuros. Assim como os eventos 
negativos contribuem para as alterações do humor, também o excesso de eventos 
positivos o pode perturbar. Alturas de grandes desafios sociais, mentais ou 
fisiológicos como os de transição entre estados de maturação (ex.: adolescência), 
podem levar à alteração do humor. 
 
 
 
 
 
 
Sigmund Freud (1856 – 1939) 
Pai da Psicanálise 
A P O N T A M E N T O S 
18 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
2.3. Depressão 
Na União Europeia, as formas mais comuns de doença mental são os sindromas ansiosos e 
a depressão. Segundo alguns estudos, em 2020 a depressão constituirá a primeira causa de 
morbilidade no mundo desenvolvido. Contudo, existem variações importantes entre os estados 
membros. Como exemplo cita-se o número de suicídios por 100 000 habitantes, que vai de 44 na 
Lituânia para 3,6 na Grécia, enquanto que o número de internamentos não voluntários em 
estabelecimentos psiquiátricos é 40 vezes mais elevado na Finlândia que em Portugal. 
Tendo em consideração a sua elevada prevalência (cerca de 10% da população) e a sua 
gravidade, a depressão constitui um importante problema de saúde pública. O primeiro episódio 
ocorre normalmente entre os 30-40 anos de idade. 
O diagnóstico da depressão não é linear uma vez que existem doenças orgânicas que 
podem mimetizar sintomatologia depressiva. 
Torna-se então necessário excluir todas as 
possibilidades antes de iniciar a terapêutica 
antidepressiva. Existem guidelines que ajudam 
ao diagnóstico correcto. Estas referem que 
num intervalo de 2 semanas devem estar 
presentes 5 ou mais sintomas, existindo uma 
alteração do humor em relação ao passado 
(ver pág. 153). 
 Uma depressão reactiva é uma 
depressão que se deve a algo perfeitamente 
identificável (ex.: morte de alguém querido). 
No entanto, na depressão major (endógena), o 
doente desconhece a causa dos sentimentos e 
sintomas que apresenta. A depressão pode 
ainda atingir determinados patamares de 
gravidade, assumindo características psicóticas. 
“On the Threshold of Eternity” 
Vincent Van Gohg 
A P O N T A M E N T O S 
 19 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Nota: 15% dos indivíduos com depressão major tentam o suicídio. 
Normalmente resolve-se espontaneamente, mas em 50% dos casos ocorre recorrência 
após um período de 2 anos. Como tal, o tratamento da depressão é extremamente importante, 
de forma a precaver recaídas. 
 
2.3.1. Sintomatologia 
• Humor deprimido; 
• Anedonia – corresponde à perda da capacidade de sentir prazer, característica dos 
estados gravemente depressivos; 
• Redução do peso (se o indivíduo não estiver a praticar dieta) – pode também 
ocorrer aumento do peso, mas a primeira situação é a mais comum; 
• Insónia ou hipersónia durante o dia; 
• Alterações psicomotoras; 
• Perda de energia ou fadiga; 
• Sensação que “não vale nada”; 
• Dificuldade de concentração; 
• Pensamentos recorrentes de morte. 
 
 
O perfil das doenças mentais segue um de dois caminhos: 
• Doenças neuróticas ou neuroses – o doente identifica e sabe que está doente; 
• Doenças psicóticas ou psicoses – o doente não reconhece a sua doença; 
No entanto, este aspecto nem sempre é tão linear. Em certos casos, doentes neuróticos 
passam a ter sintomas de doenças psicóticas (ex.: delírios, alucinações). 
Tipo Características do diagnóstico Notas 
Reactiva 
Perda (eventos marcantes), doença (enfarte 
do miocárdio, cancro), fármacos e outras 
substâncias (antihipertensivos, álcool, 
hormonas), outras desordens psiquiátricas 
(doença senil). 
Corresponde a mais de 60% de todas as depressões. 
Sindrome depressivo usual: depressão, ansiedade, 
queixas corporais, tensão, culpa. Pode resolver-se 
espontaneamente ou após tratamento. 
Depressão 
major 
(endógena) 
Eventos adversos não adequados ao grau de 
depressão. Autónomo (não responde às 
mudanças na vida). Pode ocorrer em 
qualquer idade (desde a infância até à 3ª 
idade). Pode ser determinada biologicamente 
(história familiar). 
Corresponde a cerca de 25% de todas as depressões. 
Sindrome depressivo usual mais sinais vitais: ritmos de 
sono, actividade motora, libido e apetite anormais. 
Normalmente responde especificamente a 
antidepressivos ou a electroconvulsoterapia. Tem 
tendência a ocorrer recorrências durante a vida. 
A P O N T A M E N T O S 
20 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
2.3.2. O Suicídio 
- Existência de um plano já formulado, muitas vezes baseado em filmes; 
- As tentativas sérias anteriores de suicídio constituem um forte factor de risco; 
- Sintomas psicóticos; 
- Ingestão simultânea de medicamentos e álcool; 
- Mais frequente em indivíduos caucasianos do sexo masculino, em idade mais 
avançada; 
- Indivíduos com doenças graves; 
- Perda recente de alguém querido e/ou profundo desespero; 
- Isolamento social. 
Por vezes, a própria terapia pode ser uma faca de dois gumes. Os doentes com depressão 
avançada não possuem forças nem vontade para nada, nem mesmo para cometer suicídio. 
Quando o diagnóstico é realizado, iniciam normalmente uma terapêutica farmacológica com 
antidepressivos. Nas fases iniciais do tratamento estes pacientes tornam-se mais activos, mas 
mantêm os sintomas de depressão. Como tal, a terapêutica, se por um lado os ajuda a terem 
mais forças para seguir na vida, por outro pode constituir o impulso que o doente necessitava 
para cometer suicídio. Isto verifica-se em vários hospitais, onde existem doentes que concretizam 
o suicídio, geralmente 2 semanas após o início da terapêutica. 
 
 
 
 
 
 
 
Bipolar afectiva 
(depressão-
mania) 
Caracterizado por episódios de mania 
cíclicos. Apenas mania (raro), apenas 
depressão (ocasional), depressão e mania 
(mais comum). 
Corresponde a cerca de 10-15% de todas as depressões. 
Pode ser mal diagnosticado como endógena se os 
episódios maníacos forem “ocultados”. O carbonato de 
lítio estabiliza o humor. A mania pode também requerer 
fármacos antipsicóticos. A fase depressiva é tratada com 
antidepressivos. 
A P O N T A M E N T O S 
 21 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
2.3.3. Caso Clínico 
 
M.J. é uma mulher de 38 anos que se dirigiu ao Centro de Saúde da sua área de 
residência com queixas de dores nas costas e fadiga, com 2 meses de duração. Um exame físico 
e laboratorial completo não demonstrou qualquer anormalidade. Um diálogo mais aprofundado 
revelou que M.J. começou a perder o interesse por quase todas as suas actividades usuais 
(igreja, lavores, jogos de bridge semanais, etc.) durante o mesmo período. O facto de ter ganho 
o último torneio de bridge não trouxe qualquer melhora para o seu espírito. M.J. também tem 
tido dificuldades em preparar diariamenteo jantar para a sua família, por se sentir exausta e «de 
qualquer forma, nada sabe bem»; como resultado, M.J. perdeu cerca de 6 kg no último mês. A 
família comentou a sua irritabilidade crescente, que ela própria atribui ao facto de não dormir 
bem e acordar regularmente às 4h da manhã. M.J. sente-se mal por andar sempre tão irritada e 
não desempenhar as suas tarefas domésticas como era costume, dizendo mesmo que «não 
merece ser mãe». A paciente não tem ideação suicida, nem história de distúrbio emocional. A sua 
história clínica anterior não é significativa e não faz actualmente qualquer medicação. 
Diagnóstico: Depressão, episódio isolado, com melancolia. 
 
2.3.4. Tratamento 
O tratamento tem como objectivo principal a redução dos sintomas, das recorrências e 
eventualmente do suicídio. Em todo o caso, a relação do doente com o seu médico, familiares e 
amigos é de extrema importância para o sucesso da terapêutica instituída. 
Apenas em casos muito severos se recorre à hospitalização destes doentes. 
O doente deve ser informado sobre todos os aspectos da sua doença e tratamento. Para 
além disso, deve ser feito um aconselhamento ao doente, no sentido de diminuir o stress, o 
consumo de álcool, entre outros. 
A escolha do tratamento deve ser baseada em vários aspectos. 
Experiência do doente 
Farmacogenética 
• História familiar de resposta aos antidepressivos 
Situação: 
• Depressão reaccional ligeira 
Psicoterapia de suporte; 
Farmacoterapia de curta duração; 
A P O N T A M E N T O S 
22 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
• Depressões graves, com grande inibição 
psicomotora, risco de suicídio ou depressões 
resistentes à terapêutica 
Electroconvulsoterapia; 
• Predomínio da insónia, inquietação e ansiedade Fármacos sedativos; 
• Grande inibição psicomotora Fármacos mais desinibidores; 
• Características do doente Actividade anticolinérgica; 
• Depressões melancólicas 
Antidepressores tricíclicos (TCAs), inibidores 
selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs) 
e electroconvulsoterapia; 
• Depressões atípicas Inibidores da monoaminoxidase (iMAOs); 
• Depressões psicóticas 
Electroconvulsoterapia ou combinação de 
antidepressivo com antipsicóticos ; 
Potencial de interacções medicamentosas 
Reacções adversas 
Custos 
Prioridades: 
• Rapidez do efeito Farmacoterapia e electroconvulsoterapia; 
• Eficácia 
A eficácia é sempre a longo prazo. Pode ser 
necessário combinar farmacoterapia com 
psicoterapia; 
• Toxicidade do tratamento 
• Custo Farmacoterapia e electroconvulsoterapia; 
 
2.3.4.1. Tratamento farmacológico 
Os antidepressivos são fármacos com potencial de habituação e dependência praticamente 
nulos, que possuem várias indicações terapêuticas: 
• Depressão; 
• Ansiedade; 
• Neurose obcessiva-compulsiva; 
• Stress pós-traumático; 
• Fobias; 
• Ataques de pânico; 
• Distúrbios alimentares; 
• Dor crónica. 
Os seus efeitos (aumento dos níveis de noradrenalina, serotonina e dopamina em menor 
escala) apenas se fazem sentir ao fim de 2 a 3 semanas, devido à necessidade de ocorrer 
alterações adaptativas secundárias (ex.: dow-regulation e up-regulation). 
A P O N T A M E N T O S 
 23 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Os antidepressivos possuem uma taxa de eficácia na ordem dos 60%. No entanto, sabe-se 
que 30 a 40% dos resultados obtidos resultam de efeito placebo. 
A duração média do tratamento à base de antidepressivos depende da resposta e da 
história clínica anterior, devendo a terapêutica ser reavaliada ao fim de 2 meses. Normalmente é 
registada uma resposta favorável de 75%. O tratamento pode prolongar-se por 4 a 9 meses após 
o registo da remissão dos sintomas ou tornar-se crónico em doentes com dois ou mais episódios 
de depressão. Neste último caso, devido ao prolongamento da terapêutica, a dose de 
antidepressivo instituído deve ser diminuída. 
 
A) Antidepressivos tricíclicos (TCAs) 
Constituem fármacos eficazes em todos os tipos de depressão, sobretudo na depressão 
major severa com melancolia, actuando através da inibição não selectiva das bombas de 
recaptação das monoaminas (noradrenalina, serotonina e dopamina em menor escala). 
Antagonizam ainda os receptores adrenérgicos α1, histaminérgicos e muscarínicos pós-
juncionais. 
 
 
 
Dentro desta classe, as aminas secundárias (Nortriptilina, Doxepina) são as mais 
potentes inibidoras da recaptação de noradrenalina. Distinguem-se ainda pelas diferenças 
farmacocinéticas. Relativamente às aminas terciárias, estas são mais potentes na inibição 
da recaptação de serotonina. 
Como reacções adversas citam-se: sedação; efeitos anticolinérgicos (retenção urinária, 
quadros confusionais, aumento da pressão intra-ocular, mucosas secas, obstipação); 
efeitos simpaticomiméticos (tremor e insónia); hipotensão ortostática, alterações do ritmo 
cardíaco; agravamento de diabetes pré-existente, aumento de peso (devido ao 
bloqueio dos receptores histamínicos H1), sudação excessiva, disfunção sexual. As 
intoxicações agudas são frequentes e potencialmente fatais. 
 
Etanol e outros 
depressores do SNC 
 
 
Hipertensão, hiperpirexia, 
convulsões e coma 
 
 
TCAs 
 
iMAOs 
 
Sedação 
tóxica 
 
ASSOCIAÇÃO 
A P O N T A M E N T O S 
24 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Como provocam sedação, devem ser administrados à noite. Quanto aos efeitos 
simpaticomiméticos, poderá ser administrado um Bloqueador β (ex.: Propranolol) ou 
Lorazepam. Para contrariar o aumento do peso, a alimentação deverá ser devidamente 
controlada. Já no que diz respeito à disfunção sexual, poderá ser negociado com o 
paciente a possibilidade de fazer uma pausa durante alguns dias (week end-holiday). 
Interacções: simpaticomiméticos, hormonas tiroideias, pimozida, antiarritmicos, anti-
histamínicos, anticolinérgicos, fenotiazinas, entre outros. 
 
 
 
B) Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs) 
Estes fármacos possuem eficácia semelhante aos TCAs na depressão major. São mais 
seguros em casos de intoxicação, não antagonizando os receptores α1, histaminérgicos ou 
muscarínicos pós-juncionais. 
Possuem um tempo de semi-vida elevada, devendo decorrer pelo menos 5 semanas de 
washout para a fluoxetina (restantes: 2 semanas) entre a interrupção da terapêutica e o 
início da terapêutica com um iMAO. 
Dados sobre um elevado número de mulheres grávidas expostas não indicam um 
efeito teratogénico da fluoxetina. A fluoxetina pode ser utilizada durante a gravidez, mas 
com precaução, especialmente durante o final da gravidez ou imediatamente antes do 
início do trabalho de parto, visto terem sido notificados os seguintes efeitos no recém-
nascido: irritabilidade, tremor, hipotonia, choro persistente, dificuldade de sucção e em 
dormir. 
Os SSRIs possuem menos efeitos secundários que os TCAs e os iMAOs (ausência de 
efeitos colaterais de natureza anticolinérgica e cardiovascular). No entanto, podem causar 
alterações gastrointestinais e sexuais. Como reacções adversas citam-se então: alterações 
gastrointestinais, anorexia, perda de peso, reacções de hipersensibilidade (incluindo 
anafilaxia), xerostomia, ansiedade e irritabilidade, disfunção sexual (impotência); mais 
raramente convulsões, doenças do movimento (discinésia oromandibular com Paroxetina); 
Amitriptilina, Amoxapina, Clomipramida, Desipramina , Doxepina, Imipramina, Nortriptilina, 
Protriptilina, Trimipramina 
 
A P O N T A M E N T O S 
 25 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
síndroma da serotonina (mioclonos, agitação, cãibras abdominais, hiperpirexia, 
hipertensão, potencialmente fatal) e prolongamento do tempo de protrombina.Estão descritas interacções com fármacos neurolépticos (ex.: Haloperidol), TCAs, 
alguns antagonistas β e antiarritmicos, devido à inibição do citocromo P450 pela 
fluoxetina. 
 
 
C) Inibidores selectivos da recaptação da noradrenalina 
Parecem ser mais eficazes no que diz respeito à reinserção social de doentes em 
remissão. 
Possui fraco efeito sobre a recaptação de 5-HT, moderada acção anticolinérgica e 
efeitos secundários menos graves. 
Pode constituir uma alternativa aos SSRIs. 
 
 
D) Inibidores selectivos da recaptação da dopamina 
Estes fármacos possuem fraca acção sobre a recaptação de NA ou 5-HT e moderado 
efeito anticolinérgico. São estimulantes do SNC, utilizados na depressão e na desabituação 
tabágica. As reacções adversas aumentam com a dose, citando-se: enjoo, xerostomia, 
sudação, tremor, agravamento da psicose, 
 
 
 
E) Inibidores selectivos da recaptação da noradrenalina e serotonina 
Possuem baixa afinidade para os receptores adrenérgicos, histaminérgicos e 
muscarínicos pós-juncionais. Como tal, apresentam um bom perfil para os casos de 
pacientes que não respondem à terapêutica com TCAs. 
Como reacções adversas citam-se: náuseas, vómitos, obstipação, xerostomia, insónia, 
tonturas, trémula, hipertensão e alterações sexuais. 
Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Sertralina 
Maprotilina (antidepressivo de 2ªgeração), Reboxetina (Edronax®) 
Bupropiona (antidepressivo de 2ª geração) 
A P O N T A M E N T O S 
26 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
F) Inibidores irreversíveis da MAO não selectivos 
Inibem os enzimas MAO (monoaminoxidase A e B), aumentando as reservas citosólicas 
de noradrenalina e serotonina nos terminais neuronais. Quando aplicados num quadro 
normal sem depressão não exercem os seus efeitos. Apenas são activos em estados de 
depressão séria, humor reactivo, irritabilidade, hiperinsónia, hiperfagia, agitação 
psicomotora, hipersensibilidade à rejeição, depressão atípica. 
As principais reacções adversas deste grupo prendem-se com a inibição da MAO 
hepática. Quando esta é bloqueada, as aminas da dieta não são metabolizadas, podendo 
atingir o SNC onde causam hipertensão aguda descontrolada grave, que pode culminar em 
morte por hemorragia cerebral. Esta reacção adversa é conhecida pela reacção do queijo, 
uma vez que este é rico em aminas simpaticomiméticas como a tiramina. Deve-se alertar 
os pacientes para adoptarem uma dieta que exclua alimentos ricos em aminas como 
queijo, enchidos, favas, entre outros. Para além disso, podem também ser incompatíveis 
com outros fármacos metabolizados pela MAO. Isto porque ao serem co-administrados 
existe risco de overdose (ex.: anfetaminas ou petidina) e por outro lado, pode ocorrer 
interacção com fármacos que possuam ou promovam a libertação de aminas 
simpaticomiméticas (ex.: Antidepressivos tricíclicos, antigripais). Por isso, os inibidores da 
MAO são raramente utilizados como 1ª opção no tratamento de quadros de depressão. 
Outras reacções adversas descritas incluem: perturbações do sono, aumento do peso, 
hipotensão postural e perturbações sexuais (Fenelzina). 
 
 
 
G) Inibidores reversíveis da MAO-A 
A inibição selectiva da MAOA permite aumentar os níveis de noradrenalina, serotonina 
e dopamina. É provável que apresentem melhor resposta em doentes com humor 
reactivo, irritabilidade, hiperinsónia, hiperfagia, agitação psicomotora, hipersensibilidade à 
rejeição, depressão atípica. 
Clorgilina, Fenelzina, Iproniazida, Isocarboxazida, Tranilcipromina 
Milnaciprano, Venlafaxina (antidepressivo de 3ª geração) 
A P O N T A M E N T O S 
 27 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Tal como os inibidores não selectivos da MAO, apresentam também risco de 
desencadear crises hipertensivas com a ingestão de alimentos ricos em tiramina, mas em 
menor grau, uma vez que a inibição é selectiva. 
Como reacções adversas citam-se: boca seca, vertigens, aumento de peso, insónia, 
hipotensão ortostática, disfunção sexual, agitação, estados confusionais, aumento das 
transaminases. 
Não devem ser co-administrados com SSRIs pelo risco de síndroma da serotonina (que 
pode assemelhar-se ao síndrome neuroléptico maligno e ser diagnosticado como tal), nem 
com TCAs pelo risco de efeitos hiperadrenérgicos. 
 
 
 
H) Outros antidepressivos 
FÁRMACO CARACTERÍSTICAS 
Mirtazapina 
(antidepressivo 
de 3ª geração) 
- Antagonista dos auto- e hetero-receptores α2 pré-juncionais centrais e dos receptores 5-HT2 e 5-
HT3 e histaminérgicos; 
- Pode causar sonolência, aumento do apetite e do peso (devendo-se por isso fazer uma dieta 
alimentar) e enjoo. 
Trazodona 
(antidepressivo 
de 2ª geração) 
- Inibe a recaptação de serotonina; 
- Antagonista dos receptores 5-HT2A pós-juncionais e histamínicos; 
- Provoca sonolência, enjoo, insónia, náuseas e agitação. 
Mianserina 
- Antagonista dos auto- e hetero-receptores α2 pré-juncionais centrais; 
- Reacções adversas semelhantes às dos antidepressivos tricíclicos; 
- Podem surgir alterações hematológicas, principalmente nos idosos. 
Nefazodona 
(antidepressivo 
de 3ª geração) 
- Antagonista da recaptação de noradrenalina e serotonina; 
- Antagonista dos receptores 5-HT2A pós-juncionais; 
- Provoca sonolência, enjoo, insónia, náuseas e agitação. 
 
 
 
 
 
Moclobemida, Pirlindol 
A P O N T A M E N T O S 
28 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
 
 Bloqueia a recaptação de: 
Fármaco Sedação 
Acção 
antimuscarinica 
5-HT NA Dopamina 
AMITRIPTILINA +++ +++ +++ ++ 0 
AMOXAPINA ++ ++ + ++ + 
BUPROPIONA 0 0 +,0 +,0 + 
CITALOPRAM 0 0 0 0 0 
CLOMIPRAMINA +++ ++ +++ +++ 0 
DESIPRAMINA + + +++ +++ 0 
DOXEPINA +++ +++ + + 0 
FLUOXETINA + + 0,+ 0,+ 0,+ 
FLUVOXAMINA 0 0 +++ 0,+ 0,+ 
IMIPRAMINA ++ ++ +++ ++ 0 
MAPROTILINA ++ ++ 0 +++ 0 
MIRTAZAPINA +++ 0 0 0 0 
NEFAZODONA ++ +++ 0,+ 0 0 
NORTRIPTILINA ++ ++ +++ ++ 0 
PAROXETINA + 0 +++ 0 0 
PROTRIPTILINA 0 ++ ? +++ ? 
SERTRALINA + 0 +++ 0 0 
TRAZODONA +++ 0 ++ 0 0 
VENLAFAXINA 0 0 ++ ++ 0,+ 
A P O N T A M E N T O S 
 29 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
 
 
 
2.3.4.1.1. Riscos da utilização de antidepressivos na gravidez e lactação 
Fármaco BIO DISP (%) 
Ligação a 
Prot. Plasm. 
(%) 
T1/2 (H) Metabolitos activos 
[Terapêuticas] 
plasmáticas (ng/mL) 
AMITRIPTILINA 31-61 82-96 31-46 Nortriptilina 80-200 
AMOXAPINA n.d. n.d. 8 7-,8-Hidroxi n.d. 
BUPROPIONA 60-80 85 14-37 
Hidroxi, triohidro, 
eritrohidro 
25-100 
CITALOPRAM 51-93 70-80 23-75 Desmetil n.d. 
CLOMIPRAMINA n.d. n.d. 22-84 Desmetil 240-700 
DESIPRAMINA 60-70 73-90 14-62 
Hidroxi, 
triohidro,eritrohidro 
>125 
DOXEPINA 13-45 n.d. Ago-24 Desmetil 30-150 
ESCITALOPRAM 80 56 27-59 5-Desmetil n.d. 
FLUOXETINA 70 94 24-96 Norfluoxetina n.d. 
FLUVOXAMINA >90 77 Jul-63 Nenhum n.d. 
IMIPRAMINA 29-77 76-95 Set-24 Desipramina >180 
MAPROTILINA 66-75 88 21-52 Desmetil 200-300 
MIRTAZAPINA n.d. n.d. 20-40 Desmetil n.d. 
NEFAZODONA 15-23 98 02-Abr 
Hidroxi, m-clorofenil, 
piperazina 
n.d. 
NORTRIPTILINA 32-79 93-95 18-93 10-hidroxi 50-150 
PAROXETINA 50 95 24 Nenhum n.d. 
PROTRIPTILINA 77-93 90-95 54-198 n.d. 70-170 
SERTRALINA n.d. 98 22-35 Desmetil n.d. 
TRAZODONA n.d. n.d. 04-Set 
m-cloro-, fenil-, 
piperazina 
n.d. 
VENLAFAXINA n.d. 23-30 04-Out O-Desmetil n.d. 
A P O N T A M E N T O S 
30 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
A – Teratogénese 
Nem os antidepressivos tricíclicos nem os inibidores selectivos da recaptação de 
serotonina são associados a efeitos teratogénicos sérios. 
A exposição à fluoxetina oua TCAs não parece afectar o QI global, o 
desenvolvimento comportamental nem a linguagem das crianças. 
Existe pouca informação disponível acerca da segurança dos inibidores da 
monoaminoxidase, bupropiona, nefazodona, trazodona e outros antidepressivos mais 
novos na gravidez. 
Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 
 
B - Toxicidade neonatal 
Os neonatos expostos no útero a TCAs podem apresentar sintomas usualmente 
leves e transitórios. O tratamento com TCAs ao longo da gravidez pode ocasionar 
síndrome de retirada no neonato com mioclonias, convulsões transitórias, taquipnéia, 
taquicardia, irritabilidade e sudorese profusa. Pode ser ainda registado obstipação 
intestinal e retenção urinária como consequência de efeitos anticolinérgicos. 
Os SSRIs podem ocasionar hipotonia, dificuldade na alimentação, hipoglicémia, 
hipotermia e agitação. 
Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 
 
C – Lactação 
 A paroxetina, sertralina e nortriptilina apresentam, normalmente, níveis 
plasmáticos no recém-nascido extremamente baixos ou indetectáveis. Não foram 
registadas reacções adversas nos lactentes com essas medicações. 
A fluoxetina pode atingir níveis plasmáticos altos no recém-nascido, causando 
vómitos, diarreia, cólicas e diminuição do sono. Existem evidências de que a fluoxetina 
que passa para o leite materno pode causar diminuição da curva peso-crescimento, com 
uma média de 392 gramas a menos no 6º. mês. 
Adaptado de http://virtualpsy.locaweb.com.br/destaque_janela.php?cod=537&cor=#D3E5D0, 30 de Outubro de 2006-10-30 
 
2.3.4.1.2. Perda de eficácia com o tempo 
A P O N T A M E N T O S 
 31 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
• Avaliação da adesão à terapêutica; 
• Aumentar a dose do antidepressivo; 
• Descontinuação do fármaco escolhido, por outro; 
• Associar à terapêutica, fármacos que aumentem a eficácia da terapêutica 
farmacológica seleccionada: 
o Amantadina; 
o Buspirona; 
o Pindolol. 
2.3.4.2. Tratamento não farmacológico 
A) Fototerapia 
 Estudos demonstraram existir uma relação entre a 
exposição à luz solar e as variações do humor. Isto porque 
a luz estimula a produção de melatonina, uma substância 
que interfere no humor. 
Devido à localização geográfica, os países Nórdicos 
são abrangidos por períodos longos sem luz solar 
alternados com períodos sem noite, favorecendo o 
aparecimento de depressões sazonais. Estas condições 
parecem estar relacionadas com as elevadas taxas de 
depressão nestes países. 
 A fototerapia é recomendada em indivíduos que 
possuem desordens afectivas sazonais, perturbações do 
ritmo-circadianas ou problemas oftalmológicos ligeiros. 
 
B) Electroconvulsoterapia 
A electroconvulsoterapia é a melhor terapêutica disponível para doentes com depressão 
em fase muito avançada, quando existe necessidade de resposta rápida (risco de suicídio) ou 
quando existem riscos (gravidez) ou falha da resposta de outros tratamentos, possuindo eficácia 
e segurança comprovadas. 
Electroconvulsoterapia 
Fototerapia 
A P O N T A M E N T O S 
32 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Os choques induzidos provocam libertação de aminas no organismo humano, melhorando 
o prognóstico da patologia. 
Indivíduos com pressão intracraneana elevada, lesões cerebrais, enfarte do miocárdio 
recente, hemorragia intracerebral recente ou condições vasculares instáveis não podem ser 
submetidos a esta terapêutica. 
As principais reacções adversas descritas são transitórias, citando-se entre elas: 
disfunções cognitivas (confusão e perturbações da memória), disfunções cardiovasculares, apneia 
prolongada, mania, cefaleia, náuseas e miopatia. 
Podem surgir recorrências frequentes na ausência de farmacoterapia de manutenção. 
 
C) Psicoterapia 
 A psicoterapia é outra opção terapêutica que deve ser instituída sempre que exista 
possibilidade e motivação. Dependendo da fase e do tipo de depressão, nem sempre corresponde 
à terapêutica de primeira opção. 
Pode ser instituída em simultâneo com a farmacoterapia quando se registam respostas 
parciais às terapêuticas instituídas ou quando as alterações do humor são crónicas. 
 
D) Erva-de-São-João - Hipericum perforatum 
Tradicionalmente esta planta foi utilizada durante 
muitos séculos, por mulheres «sábias», para combater a 
melancolia e ansiedade. É considerado um suplemento dos 
antidepressivos na melhoria do humor, aumentando a 
disponibilidade da serotonina, noradrenalina e dopamina 
nas sinapses neuronais. É também popular no tratamento 
de insónia, fadiga e sintomatologia associada à menopausa. 
O hipericão é o composto natural presente nesta planta responsável pelas propriedades citadas. 
 
 
 
Hipericum perforatum 
Erva de S. João 
A P O N T A M E N T O S 
 33 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
3 - DEPRESSÃO NO CONTEXTO DA DOENÇA BIPOLAR 
 
A doença bipolar é uma patologia caracterizada pela 
existência de episódios de mania alternados com 
episódios de depressão. Esta desordem afecta cerca de 
1% da população dos EUA. 
Normalmente surge por volta dos 20 a 30 anos. No 
entanto, podem existir sintomas que indiciam o inicio 
desta doença na adolescência. 
A prevalência é igual nos dois sexos. No entanto, uma 
vez diagnosticada a doença, homens e mulheres 
parecem sofrer mais de episódios maníacos e depressivos, respectivamente. 
Existem critérios de diagnóstico que permitem identificar esta patologia (ver anexos, pág. 
154). No episódio maníaco o estado de humor é marcado por uma elevação anormal e 
sustentada, caracterizada por autoestima exacerbada, diminuição do sono, distracção, excessivo 
envolvimento em actividades, entre outros. 
O diagnóstico diferencial é extremamente importante para identificar e separar os efeitos 
tóxicos causados pela administração de estimulantes simpaticomiméticos e a mania secundária 
induzida por hipertiroidismo, SIDA, desordens neurológicas (doenças de Huntington e Wilson) e 
acidentes cerebrovasculares. 
 
 3.1. Sintomatologia (ver pág.154) 
• Elação do humor; 
• Irritabilidade; 
• Redução do sono (2h/dia); 
• Verborreicos – abundância de palavras com poucas ideias; 
• Fuga de ideias – referem não conseguir acompanhar a velocidade do pensamento; 
• Distractibilidade - não são capazes de manter uma tarefa; 
• Agitação psicomotora; 
• Desinibição; 
A P O N T A M E N T O S 
34 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
“Starry Night”, pintado em 1889 por Vincent van Gogh, é um quadro 
bastante associado às fases maníacas deste pintor. 
• Indiscrição sexual; 
• Envolvimento excessivo em actividades que lhes dão prazer; 
 
3.2. Caso clínico 
J. M., uma professora solteira de 30 anos de idade, natural de Inglaterra, foi arrastada 
pelos pais ao Hospital, cada um deles puxando por um braço. Quando o médico entra na sala da 
consulta, a doente anda sem parar, cantando alto o «We Are The Champions». A atenção da 
doente transfere-se rapidamente para 
outra coisa e fala sobre 8 assuntos 
diferentes durante os 2 primeiros minutos 
da consulta. Embora à primeira vista J.M. 
se mostre amistosa e atrevida, 
oferecendo-se para mostrar ao médico 
uma contusão no cimo da coxa, quando 
ele sugere a sua hospitalização, enfurece-
se e ameaça agredi-lo. Este episódio teve 
início súbito há 10 dias, pouco tempo 
depois de J.M. ter rompido com o seu 
namorado. Desde essa altura passou a 
dormir somente algumas horas por noite, perdeu cerca de 4 quilos, encomendou livros escolares 
na ordem de vários milhõesde euros para os seus alunos e tem feito dúzias de telefonemas 
interurbanos. Faltou às reuniões escolares de preparação do novo ano lectivo e iria começar as 
aulas durante a semana seguinte. Contudo, na altura em que se realizou o exame inicial, tinha 
reservado um bilhete de avião para o Brasil, com partida marcada para algumas horas mais 
tarde. 
Diagnóstico: Doença bipolar, episódio de mania. 
 
 
 
 
 
 
 
A P O N T A M E N T O S 
 35 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
3.3. Tratamento 
 3.3.1. Lítio 
O tratamento da mania é realizado através da administração oral de um ião inorgânico na 
forma de carbonato de lítio. O mecanismo de acção não é totalmente compreendido, 
suspeitando-se que este possa interferir com a formação de inosiltrifosfato e AMPc. 
Trata-se de um fármaco importante, não só no tratamento mas também na profilaxia, 
apresentando uma taxa de eficácia de 70 a 80% em 1 a 2 semanas. Os efeitos terapêuticos 
podem ser observados ao fim de 7-10 dias de tratamento. Durante este período, poderá ser 
administrado Lorazepam (1 a 2mg a cada 4 horas) ou Clonazepam (0,5 a 1mg a cada 4 horas) 
para controlar a agitação. 
Esta terapêutica apresenta bastantes inconvenientes, obrigando à monitorização 
sanguínea semanal do fármaco, devido à estreita janela terapêutica, especialmente quando os 
doentes apresentam concomitantemente doença renal. 
As reacções adversas graves são raras. Como principais reacções adversas citam-se: 
náuseas, sede, poliúria, hipotiroidismo, hipercalcémia, tremor, fraqueza, confusão mental, 
dificuldades de concentração, incoordenação, ataxia e teratogénese. A dose excessiva aguda 
causa confusão, convulsões e disritmias cardíacas. Estão ainda descritas interacções com IECAS, 
analgésicos, anti-hipertensores, cisapride, diuréticos, agonistas 5-HT1, metoclopramida, 
domperidona, relaxantes musculares, parassimpático-miméticos e teofilina. 
 
3.3.2. Outros fármacos 
Estas terapêuticas possuem bastantes efeitos adversos, como apatia excessiva, entre 
outros, pelo que os doentes tendem a rejeitar estes medicamentos. 
 
A - Carbamazepina 
A carbamazepina é um anticonvulsivante que apresenta um espectro de reacções adversas 
descritas relacionadas essencialmente com o tubo digestivo, a pele e o sistema nervoso central. 
Deve-se realizar controlo hematológico antes e durante o tratamento, uma vez que existe risco 
de estabelecimento de anemia aplástica e agranulocitose. A carbamazepina possui ainda acção 
A P O N T A M E N T O S 
36 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
anticolinérgica, podendo desencadear ou agravar situações de glaucoma e sindromas 
confusionais em doentes idosos. 
 
B – Valproato 
Fármaco utilizado em pacientes que não respondem, respondem pouco ou não toleram a 
terapêutica com lítio. Verificou-se que a sua administração é vantajosa em pacientes que 
experimentam ciclos rápidos (ex.: mais de 4 episódios por ano) ou em pacientes que apresentam 
mania disfórica. 
É hepatotóxico e como tal, a função hepática deve ser avaliada antes e depois do início da 
medicação, a intervalos curtos, durante os primeiros seis meses. 
Como reacções adversas comuns citam-se: náuseas, vómitos, tremor aumento do peso e 
trombocitopenia. 
Encontram-se descritas interacções com o álcool e outros depressores do SNC, que levam 
à potenciação do efeito depressor. Anticonvulsivantes e barbitúricos aumentam os seus níveis 
plasmáticos quando co-administrados com valproato. A co-administração com ácido 
acetilsalicílico, dipiridamol e varfarina pode elevar o risco de hemorragia. A associação com 
clonazepam pode precipitar-se crises de ausências. Os salicilatos e a cimetidina podem aumentar 
os níveis do valproato e a colestiramina reduz a sua absorção. 
 
C – Antipsicóticos típicos 
Os antipsicóticos atípicos podem ser importantes no tratamento da mania aguda (para 
mais informações consultar pág.73), para controlar a agitação em doentes refractários às 
benzodiazepinas. 
Como efeitos adversos indesejáveis citam-se: reacções extrapiramidais, Parkinsonismo 
induzido, distonia, acatísia e discinésias. Como tal, a utilização destes fármacos encontra-se 
limitada. 
 
 
 
 
 
 
Cloropromazina, Haloperidol 
A P O N T A M E N T O S 
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FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
D – Antipsicóticos atípicos 
Os antipsicóticos atípicos podem ser importantes no tratamento da mania aguda (para 
mais informações consultar pág. 73), para controlar a agitação em doentes refractários às 
benzodiazepinas. Parece existir maior tolerância, relativamente aos sintomas extrapiramidais, 
registando-se melhorias na qualidade de vida destes doentes. 
São eficazes em doses baixas, não induzindo efeitos adversos neurotóxicos. 
Podem ser utilizados em monoterapia ou em combinação com estabilizadores do humor 
tradicionais (lítio, valproato de sódio) ou carbamazepina, registando-se um aumento da adesão à 
terapêutica por parte dos doentes bipolares. 
 
 
 
3.3.3. Terapêuticas experimentais 
• Outros anticonvulsivantes: levetiracetam, fenitoína; 
• Tamoxifeno; 
• Mexiletine (antiarrítmico, anticonvulsivante, analgésico); 
• Ácidos gordos W3 - constituintes naturais das gorduras animais e vegetais. 
• Calcitonina; 
 
Nota: 
Na mania podem ainda ser utilizados: a Lamotrigina, Gabapentina, Topiramato, 
Benzodiazepinas como adjuvante (causando sedação), antidepressivos nas fases de depressão 
severa, devendo ser evitados no tratamento de manutenção uma vez que existe risco de 
precipitarem mania ou acelerarem a frequência dos ciclos. A perda da eficácia com o tempo 
obriga a adopção de uma terapêutica combinada. 
 
 
 
 
Clozapina, Olanzapina, Quetiapina, Risperidona e Ziprazidona 
A P O N T A M E N T O S 
38 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
“The Scream” - Edvard Munch 
 
4 - PERTURBAÇÕES DA ANSIEDADE 
 
4.1. Ansiedade 
Trata-se de uma sensação benéfica e 
fundamental para a competência social e 
profissional. No entanto, quando esta sensação é 
constante e exagerada, podem-se gerar conflitos 
que perturbam gravemente o indivíduo, 
evoluindo para uma situação patológica. 
A ansiedade, enquanto estado patológico, 
corresponde a 15-20% das diferentes situações 
clínicas apresentadas em psiquiatria. É uma 
desordem com mais semelhanças às neuroses 
que às psicoses, uma vez que o indivíduo é 
capaz de identificar a causa. 
A ansiedade reactiva é uma ansiedade 
que se inicia devido a um acontecimento/situação perturbadora. Por exemplo, quando é 
diagnosticada uma doença os pacientes geram apreensão em relação ao prognóstico da mesma. 
Por outro lado, existem fármacos, como os antidepressivos (ex.: fluoxetina) que são altamente 
ansiogénicos durante as primeiras semanas de administração. É por este motivo que muitos 
clínicos optam por fazer uma associação entre ansiolíticos e antidepressivos. 
Caso a ansiedade seja focalizada em algo, pode evoluir para uma fobia. A fobia é algo 
muito subjectivo que se caracteriza por um medo intenso focalizado num 
objecto/situação/espaço. 
 
4.2. Ataques de pânico 
 Por definição, são imprevisíveis e recorrentes. Surgem instantaneamente e caracterizam-
se por um aumento progressivo e abrupto dos sintomas durante 10 minutos. Passado cerca de 60 
minutos estes sintomas desaparecem. Podem ser facilmente confundidos com problemas 
A P O N T A M E N T O S 
 39 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
cardiovasculares, respiratórios, neurológicos e endócrinos sendo fundamental a realização de 
diagnóstico diferencial. 
Parece existir prevalência de ataques de pânico em determinados períodos da vida, 
nomeadamente após a adolescênciae nos adultos jovens. No entanto, existem casos onde se 
registam vários ataques de pânico no mesmo ano. 
Com o aumento da frequência dos ataques, estes indivíduos referem conseguir prevê-los 
através da identificação do aumento da ansiedade. 
O doente estabelece uma ligação entre o local, situação ou acontecimento em que surgem 
os ataques de pânico, passando a evitá-los. Este comportamento é designado por 
comportamento de evitamento e, quando generalizado, pode conduzir à restrição severa dos 
estilos de vida destes indivíduos. 
 
4.2.1. Sintomatologia (ver pág.154) 
 - Palpitações; 
 - Sensação de morte iminente; 
 - Hipersudorese; 
 - Tremor; 
 - Sensação de falta de ar e asfixia; 
 - Sensação de choque eminente; 
 - Sintomatologia GI: náuseas, cólicas, entre outros; 
 - Alteração no equilibro motor; 
 - Parestesias – alteração da percepção táctil; 
 - Arrepios; 
- O indivíduo sente-se impotente para controlar os sintomas; 
 - Rubor; 
- Sensação de levitação – os doentes relatam que durante os ataques de pânico, parecem 
«sair do seu próprio corpo» e observar a situação de cima; 
 - Tensão muscular; 
 - Formigueiro nas mãos. 
A P O N T A M E N T O S 
40 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 4.2.2. Agorafobia 
Patologia frequente nos pacientes que sofrem de ataques de pânico, muito embora 
existam indivíduos com ataques de pânicos mas sem agorafobia. Corresponde a um aumento da 
ansiedade ou medo adquirido e irracional relacionado com locais ou situações onde o indivíduo se 
sente desprotegido e inseguro. Os doentes relatam a sensação de que não vão conseguir escapar 
com vida dessas situações. Tratam-se de medos agorafóbicos que envolvem, tipicamente, 
determinados grupos característicos de situações: estar fora de casa não acompanhado, estar no 
meio de uma multidão ou permanecer numa fila, estar numa ponte, viajar de autocarro, comboio 
ou automóvel. 
 
 4.2.3. Caso clínico 
B. é uma mulher de negócios com 27 anos de idade e uma história de 3 anos de ataques 
de pânico. O seu primeiro ataque de pânico ocorreu subitamente quando estava em casa a ver 
televisão. Este facto passou-se 3 meses após a morte do avô paterno e 1 mês depois de ela ter 
anunciado a sua intenção de se casar. O ataque começou por uma sensação de choque eléctrico 
que lhe subia pela coluna vertebral, acompanhada por sensação de terror. O coração começou a 
bater rapidamente, as mãos crisparam-se e mal podia respirar. A doente sentia-se quente, 
trémula e desorientada, convencida de que ia morrer rapidamente. Embora quase não 
conseguisse falar, chamou um médico. Cerca de 10 minutos depois, a sensação de terror tinha-se 
desvanecido e os outros sintomas estavam a desaparecer, mas ainda se sentia fraca e 
atemorizada. Um exame médico completo excluiu qualquer estado físico geral, não existindo 
evidência do uso de substâncias. Durante a semana seguinte, B. teve mais 5 episódios de pânico 
que ocorreram inesperadamente em diferentes situações. Os episódios caracterizavam-se por 
súbito aparecimento de sensações de choque eléctrico na coluna vertebral, palpitações cardíacas, 
tonturas, formigueiros nos dedos, medo de enlouquecer e sensação de irrealidade. B. Aceitou a 
prescrição de uma benzodiazepina, mas recusou-se a consultar o psiquiatra recomendado pelo 
médico de família. Determinada a não deixar que os sintomas interferissem com a sua vida, 
compeliu-se a continuar a trabalhar. Algumas semanas mais tarde, a frequência e a intensidade 
dos ataques começaram a diminuir, mas B. continuou a ter episódios de pânico intermitentes 
A P O N T A M E N T O S 
 41 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
várias vezes por mês, durante os 2 anos seguintes. Estes ocorriam normalmente quando estava 
no metro ou no autocarro superlotados, quando se estava a exercitar numa bicicleta estática, 
quando se encontrava na expectativa de uma confrontação ou quando estava relaxada na cama, 
durante a noite. 
Depois de uma promoção profissional recente, a frequência dos ataques de pânico 
aumentou para um ritmo de várias vezes por semana. Passou a ficar 14h/dia no emprego, 
embora sentisse que a sua ansiedade a estava a tornar indecisa e a diminuir a sua eficiência. 
Andava permanentemente preocupada com o facto de poder ser despedida. Embora se sinta 
muitas vezes desconfortável em lojas, no cinema e em restaurantes superlotados, B. continua a 
forçar-se a ir a estes lugares; todavia, evita andar de metro e conduzir em túneis. 
B. veio à consulta porque os seus sintomas pioraram e o noivo leu algures que existiam 
novos tratamentos para os sintomas de pânico. Não obstante, parece pouco empenhada no 
exame médico. Reservada e desconfiada, replica frequentemente às questões com “Para que 
interessa tudo isso?”. Parece sensível às críticas e confessa ter receio de que discutir os seus 
problemas com um terapeuta apenas sirva para lhe agravar a ansiedade. 
Diagnóstico: Perturbação de pânico sem agorafobia. 
4.2.4. Etiologia 
 A etiologia destas patologias é desconhecida, mas sabe-se que existe uma predisposição 
genética. Por outro lado, indivíduos que sofrem de ataques de pânico parecem dispor de 
alterações ao nível do sistema nervoso autónomo. Isto é, o limiar da estimulação do SN periférico 
encontra-se diminuído. 
Em cerca de 65% dos pacientes (≈2/3) é possível evocar ataques de pânico através da 
infusão de lactato de sódio, iombina e dióxido de carbono. 
A activação noradrenérgica no locus coeruleus e dos neurónios serotoninérgicos na “dorsal 
raphe” encontra-se também descrita nestes casos. 
 
4.2.5. Tratamento 
Nas situações agudas deve-se proceder à administração de benzodiazepinas e outros 
ansiolíticos como definem as guidelines. 
A P O N T A M E N T O S 
42 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
As benzodiazepinas não tratam a doença. Apenas aliviam os sintomas nas situações 
agudas. Isto porque quer a biodisponibilidade quer a lipossolubilidade são maiores nestes 
fármacos, atingindo rapidamente o SNC onde exercem os seus efeitos ao potenciar os efeitos 
inibitórios do GABA. 
O tratamento da patologia é realizado recorrendo à administração de SSRIs, isto é, 
inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ex.: fluoxetina, paroxetina, entre outros). 
O tratamento tem como objectivo diminuir a frequência e intensidade dos ataques de 
pânico. Se o doente reconhece as situações ou sensações que antecedem os ataques de pânico, 
deve utilizar as benzodiazepinas como tratamento sintomático no ataque agudo. No entanto, nem 
todas as benzodiazepinas devem ser utilizadas no tratamento de situações agudas (ex.: 
Clonazepam – actua mais lentamente). 
 A buspirona, ao contrário das benzodazepinas, não causa dependência nem sonolência, 
sendo também utilizada no tratamento desta desordem. 
É essencial a existência de pareceres especializados na área da psiquiatria, quando se 
registam estas patologias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abordagem cognitiva 
O doente deve conhecer 
a sua patologia. 
Abordagem comportamental 
Tentar expor o indivíduo ao medo de 
forma a existir confrontamento e 
respectiva dessensibilização 
Fármacos 
Antidepressivos + Benzodiazepinas 
A P O N T A M E N T O S 
 43 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
 
Fármaco Acção T ½ ,h Outras características 
Estrutura 
molecular 
 
Benzodiazepinas 
Diazepam 
(Valium®) 
Rápida 20-70 
Possui metabolitos activos; causa alguma 
sedação; 
 
Flurazepam 
(Dalmane®) 
Rápida 30-100 
Flurazepam é um pró-farmaco; possui 
metabolitos activos; causa alguma 
sedação; 
 
Triazolam 
(Halcion®) 
Intermédia 1.5-5 
Sem metabolitos activos; pode induzirconfusão e delírio especialmente nos 
idosos; 
 
Lorazepam 
(Ativan®) 
Intermédia 10-20 
Sem metabolitos activos; conjugação 
directa com glucuronídos no fígado; 
 
Alprazolam 
(Xanax®) 
Intermédia 12-15 
Possui metabolitos activos; pouca sedação; 
pode ter actividade antidepressiva e 
antipânico; causa dependência e tolerância 
facilmente; 
 
Clordiazepóxido 
(Librium®) 
Intermédia 5-30 
Possui metabolitos activos; causa sedação 
moderada; 
 
A P O N T A M E N T O S 
44 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
Oxazepam 
(Serax®) 
Lenta 5-15 
Sem metabolitos activos; conjugação 
directa com glucuronídos; quase sem efeito 
sedativo; 
 
Temazepam Lenta 9-12 
Sem metabolitos activos; causa sedação 
moderada; 
 
Clonazepam 
(Klonopin®) 
Lenta 18-50 
Sem metabolitos activos; causa sedação 
moderada; 
 
Outros ansiolíticos 
Buspirona 
(BUSPAR®) 
2 semanas 2-3 
Possui metabolitos activos dose 10-20mg 
tid; não causa sedação; o álcool não 
potencia os seus efeitos; útil em pacientes 
com demência ou traumatismo craniano; 
 
 
4.3. Desordem de ansiedade generalizada 
Corresponde a uma preocupação irreal, com grande incidência familiar, em que o paciente 
não consegue identificar a causa aparente dos seus sintomas. Crianças com muitos medos, em 
adultos tornam-se indivíduos particularmente afectados por estas desordens. 
Pode ser observado, em 80% dos casos, agregação a desordens como fobias sociais, 
depressão, entre outras, abuso de álcool ou de fármacos sedativos e ansiolíticos. 
Os sintomas característicos dos ataques de pânico como palpitações, taquicardia, falta de 
ar, entre outros, não estão presentes nesta patologia. O indivíduo identifica que tudo o perturba, 
mesmo as coisas mais insignificantes, gerando-se uma irritabilidade e preocupação excessiva não 
A P O N T A M E N T O S 
 45 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
controlável. Esta desordem pode constituir um factor predisponente para outras patologias como 
doenças cardiovasculares. 
Muitos dos indivíduos com desordens de ansiedade generalizada afirmam que sempre 
sofreram de ansiedade e nervosismo durante a sua vida. 
Embora mais de metade dos que se apresentam para tratamento relatem início na infância 
ou adolescência, não é raro o início dar-se após os 20 anos. 
O curso desta patologia é crónico, embora flutuante, piorando durante os períodos de 
stress. Os sintomas surgem e permanecem durante 6 meses. 
 
4.3.1. Sintomatologia 
- Inquietação; 
 - Insónia inicial; 
 - Irritabilidade; 
 - Distúrbios GI; 
 - Cansaço, fadiga; 
 - Humor; 
 - Tensão muscular; 
 - Dificuldade em concentrar-se numa 
 actividade;
4.3.2. Caso clínico 
C.A., é uma mulher de 31 anos, 
empregada bancária há 5 anos. Tem 
desempenhado as suas funções de forma 
irrepreensível. Há 3 meses atrás começou 
a faltar ao emprego e a irritar-se 
facilmente com alguns clientes e colegas 
de trabalho. Durante a consulta no médico 
da empresa queixou-se de cansaço e 
tensão, problemas de estômago e diarreia 
frequentes. Não tem história anterior de doença mental; admite enervar-se com «pequenas 
coisas». Para contrariar este estado, a paciente diz tomar longos banhos de imersão. O exame 
físico revelou-se normal. Não tem história familiar de doença mental. 
O exame mental foi baseado na sua apresentação e comportamento, humor, componente 
sensorial e pensamentos: 
A P O N T A M E N T O S 
46 
FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
- Apresentação e comportamento: a paciente apresenta-se cuidadosamente vestida 
e com bom aspecto, fala com discurso coerente mas abana constantemente a perna 
direita, batendo com o pé direito, suavemente, na mesa. Refere que, ocasionalmente, tem 
dificuldade em adormecer, apesar de dormir bem durante o resto da noite. 
- Humor: ansiosa e preocupada com a avaliação clínica. 
- Exame sensorial: orientado em relação ao tempo, ao lugar e à sua pessoa. 
- Pensamentos: nega ter qualquer tipo de alucinações visuais ou auditivas. Declara 
ter, por vezes, dificuldade em falar, ser incapaz de relaxar e ficar agitada e irrequieta 
facilmente. Admite ser difícil para ela trabalhar, actualmente, e pretende melhorar a sua 
performance. Mostra boa capacidade de auto-análise e avaliação e está motivada para 
tratamento. Nega ter ideação suicida. 
Diagnóstico: Desordem de ansiedade generalizada. 
4.3.3. Tratamento 
O tratamento de desordens de ansiedade é realizado através da administração de 
benzodiazepinas. Estas actuam em receptores específicos, localizados na estrutura do receptor 
GABAA, sendo ansiolíticas. Podem modificar o sono desde que se atinjam as doses eficazes. 
As benzodiazepinas distinguem-se essencialmente pelas propriedades farmacocinéticas. 
Nesta patologia, não existem preocupações que os fármacos actuem imediatamente. 
A dose deve ser a mínima necessária, não se recomendando a administração prolongada 
por mais de 1 mês (risco de dependência). 
Nota: o diazepam (Valium ®) é também utilizado como relaxante muscular, pré-
anestésico, ansiolítico e anticonvulsivante, estando disponíveis formulações para administração 
rectal (útil quando se pretende administrar a crianças ou doentes cujas características impeçam a 
administração do fármaco por outras vias). 
 
4.3.3.1. Benzodiazepinas 
A – Metabolismo 
• Oxidação hepática e conjugação com ácido glucorónico. Lorazepam, lormetazepam, 
oxazepam e temazepam apenas sofrem conjugação; clonazepam e nitrazepam sofrem 
nitroredução; 
A P O N T A M E N T O S 
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FISIOPATOLOGIA E FARMACOTERAPIA I 
• O compromisso da oxidação (idoso, doença hepática, inibidores metabólicos) favorece a 
elevação das concentrações plasmáticas de benzodiazepinas e/ou dos seus metabolitos; 
• Clobazepam (desmetilclobazepam), clorazepato, clordiazepóxido, diazepam e prazepam 
(desmetildiazepam), flunitrazepam (desmetilflunitrazepam), flurazepam (desalquilflurazepam) e 
quazepam (oxoquazepam e desalquilflurazepam) originam metabolitos activos com acção muito 
longa (T½ ≈ 100h); 
• O clorazepato é um pró-fármaco (DMDZ) activado em meio ácido. 
 
B – Acção/Distribuição 
• Quanto à velocidade de absorção as benzodiazepinas são lipofílicas sendo rapidamente 
absorvidas e distribuídas pelo SNC. Possuem um início de acção rápido (30-60 min) e intenso; 
• A distribuição é favorecida pela lipofilicidade, nomeadamente pelo tecido adiposo. 
Consequentemente o efeito é curto; 
• Quanto ao potencial de abuso, alguns doentes sentem rápido início de acção, ao passo que 
outros sentem tonturas ou perda de controlo e euforia; 
• Diazepam, clorazepato > lorazepam, oxazepam > clordiazepóxido 
• A via IM deve ser evitada para o diazepam e clordiazepóxido uma vez que pode provocar 
absorção variável (velocidade e extensão). 
 
C – Excreção renal 
• Tempo de semi-vida curto (alprazolam, lorazepam, oxazepam), atingindo rapidamente Css, 
sendo o risco de acumulação mínimo; 
• Devem ser administrados em várias tomas diárias de dose parcial; 
• As benzodiazepinas de tempo de semi-vida longo devem ser administradas 1x/dia ao deitar. 
 
D – Ligação a proteínas plasmáticas 
• Elevada ligação às proteínas plasmáticas, especialmente nas de tempo de semi-vida e tempo 
de eliminação longo. 
 
E – Reacções adversas 
• Depressão do SNC, tonturas, sedação, compromisso psicomotor, ataxia, desorientação, 
confusão, irritabilidade, agressão e excitação; 
• Compromisso da memória anterógrada (deficiente armazenamento da memória), sobretudo 
com benzodiazepinas de elevada afinidade para o receptor (midazolam, lorazepam). 
A P O N T A M E N T O S 
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FISIOPATOLOGIA

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