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NARRATIVAS, SABERES E PRÁTICAS A TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO 
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO 
 
 
CRISTIANE NOBRE NUNES 
 
 
 
NARRATIVAS, SABERES E PRÁTICAS: 
A TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE 
CLASSE HOSPITALAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
 1 
CRISTIANE NOBRE NUNES 
 
 
 
 
NARRATIVAS, SABERES E PRÁTICAS: 
A trajetória de formação do professor de Classe Hospitalar 
 
 
 
 
 
 Dissertação de Mestrado apresentada 
 como requisito exigido para obtenção do 
 título de Mestre em Educação junto à 
 Universidade Cidade de São Paulo, 
 sob a orientação da Profª Drª Ecleide 
 Cunico Furlanetto. 
 
 
 
 
 
 
 
 SÃO PAULO 
2014 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID 
 
N972
n 
 
Nunes, Cristiane Nobre. 
 Narrativas, saberes e práticas: a trajetória de 
formação do professor de classe hospitalar / 
Cristiane Nobre Nunes --- São Paulo, 2014. 
 114 p.; Anexos 
 
 Bibliografia 
 Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade de 
São Paulo. Orientadora Profa. Dra. Ecleide Cunico 
Furlanetto. 
 
 1. Pedagogia hospitalar. 2. Classe especial 
hospitalar. 3. Formação de professores. I. Furlanetto, 
Ecleide Cunico orienta. II. Título. 
 
CDD 371.1 
 
 3 
CRISTIANE NOBRE NUNES 
 
 
NARRATIVAS, SABERES E PRÁTICAS: 
A trajetória de formação do professor de Classe Hospitalar 
 
 
 Dissertação de Mestrado apresentada 
 como requisito exigido para obtenção do 
 título de Mestre em Educação junto à 
 Universidade Cidade de São Paulo, 
 sob a orientação da Profª Drª Ecleide 
 Cunico Furlanetto. 
 
 
 
 
 
Área de concentração: 
Data da defesa: 20/05/2014 
 
Resultado: ____________________________ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Prof. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto ___________________________ 
Universidade Cidade de São Paulo 
 
 
Prof. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito ___________________________ 
Universidade Cidade de São Paulo 
 
 
Prof. Dr. Fabio Alberti Cascino __________________________ 
Pontificia Universidade Católica de São Paulo 
 
 4 
AGRADECIMENTOS 
 
À minha orientadora, Prof.ª Dra. Ecleide Cunico Furlanetto, pela orientação rigorosa, 
competente e segura, durante todo o percurso da realização desta investigação. 
 
À direção da Escola Especializada Schwester Heine, na pessoa da Pedagoga e 
Diretora Maria Genoveva Vello, pela seriedade, respeito pelo trabalho desenvolvido 
no Hospital AC Camargo, bem como as professoras, as quais contribuíram para a 
minha conquista e desenvolvimento intelectual. 
 
Aos professores examinadores desta pesquisa, Prof.ª Dra. Margaréte May 
Berkenbronk Rosito e Prof. Dr. Fabio Alberti Cascino pelas leituras criteriosas e 
importantes observações. 
 
Aos professores da UNICID, pelo trabalho sério e dedicado que realizam. 
 
Aos meus colegas do Curso de Mestrado em Educação, pelos incentivos, 
contribuindo na trajetória do curso. 
 
À minha família e meus verdadeiros amigos, que fizeram parte desses momentos 
sempre me ajudando e incentivando. 
 
Ao meu marido e filho pela paciência em me ouvir, pela força nos momentos difíceis 
e pela compreensão de minha ausência nos momentos necessários. 
 
 
 
 
 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É preciso criar pessoas que se atrevam a 
sair das trilhas aprendidas, com coragem de 
explorar novos caminhos. Pois a ciência 
construiu-se pela ousadia dos que sonham 
e o conhecimento é a aventura pelo 
desconhecido em busca da terra sonhada. 
 
(RUBEM ALVES) 
 6 
RESUMO 
 
Partindo do pressuposto que o Atendimento Pedagógico Hospitalar é uma 
modalidade de Ensino ainda pouco conhecida, esta pesquisa tem por objetivo 
investigar a trajetória de formação dos professores de Classe Hospitalar da escola 
Schwester Heine, no Hospital AC Camargo, com vistas a ampliar a compreensão a 
respeito das necessidades de formação dos professores que atuam nessas classes. 
Para alcançar o objetivo proposto, foram estabelecidos diálogos teóricos com 
autores que investigam a formação do professor para Classes Hospitalares, bem 
como com aqueles que discutem a Pedagogia Hospitalar. A pesquisa pautou-se na 
abordagem qualitativa sendo que o procedimento metodológico empregado foi o 
grupo focal. Participaram da pesquisa professores da escola Schwester Heine. Os 
resultados mostraram que eles consideram o cenário hospitalar desconhecido e 
conflituoso, o que sublinha a importância da formação inicial e continuada para o 
exercício da docência nesse tipo de instituição. Além da formação destacaram, 
também, a importância de uma atitude reflexiva por parte dos professores, pois a 
rotina da Classe Hospitalar é atravessada por acontecimentos que desestabilizam a 
ação pedagógica, tendo que ser constantemente flexibilizada e reorganizada. 
Destacam o valor das parcerias estabelecidas com os pares, bem como com a 
equipe multiprofissional, possibilitando a criação de grupos de referência que se 
transformam em espaços formativos. Por fim, enfatizam que a formação do docente 
para atuar em Classes Hospitalares deve ser repensada, considerando as 
especificidades dessa atuação, requerendo que temas como a doença, a morte, 
entre outros sejam aprofundados. 
 
Palavras-chave: Classe Hospitalar; Pedagogia Hospitalar; Atendimento Pedagógico 
Hospitalar; Formação de Professores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
ABSTRACT 
 
On the assumption that the Pedagogical Care Hospital is a teaching mode still little 
known, this research aims to investigate the course of training for teachers of the 
school Hospital Class Schwester Heine, the AC Camargo Hospital, with a view to 
broadening the understanding regarding the training needs of teachers who work in 
these classes. To achieve the objective proposed theoretical dialogues have been 
established with authors who investigate the formation of teacher to Hospital 
Classes, as well as those who argue the Hospital Pedagogy. The research was on a 
qualitative approach and the methodological procedure employed was the focal 
group. School teachers participated in the research Schwester Heine. The results 
showed that they consider the hospital scenario unknown and conflicting, which 
underlines the importance of initial and continuing training for the exercise of the 
teaching in this kind of institution. Besides the formation also highlighted the 
importance of a reflective attitude on the part of teachers, because the routine 
Hospital grade is traversed by events that destabilize the pedagogical action, having 
to be constantly streamlined and reorganized. Highlight the value of the partnerships 
established with peers as well as with the multiprofessional team enabling the 
creation of reference groups that become formative spaces. Finally, emphasize that 
the formation of the faculty member to act in Hospital Classes must be rethought, 
taking into account the specificities of this actuation, requiring that issues such as 
illness, death, among others are fleshed out. 
 
Keywords: Hospital; Hospital Pedagogy Class; Teaching Hospital Care; Teacher 
Training. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1. Comparativo das mudanças nos objetivos e características do 
hospital ...................................................................................................................... 18 
Quadro 2. Número de Escolas Hospitalares(EHs) por Região ................................. 33 
Quadro 3. Caracterização das participantes da pesquisa ......................................... 55 
Quadro 4. Eixos/Subcategorias ................................................................................. 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
SUMÁRIO 
RESUMO 
ABSTRACT 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 
 
 
2 CAPÍTULO 1 - UM POUCO DE HISTÓRIA ........................................................... 14 
2.1 Breve relato a respeito do lugar que o hospital vem ocupando no contexto 
social ........................................................................................................................ 14 
 
2.1.1 Esboço histórico ............................................................................................... 14 
2.1.2 Mudanças nos modelos de atenção à Saúde no Brasil .................................... 19 
2.1.3 O início da Escolarização Hospitalar até os dias atuais ................................... 21 
2.1.4 Das questões da hospitalização ....................................................................... 29 
2.1.5 Classes Hospitalares em hospitais no Brasil .................................................... 32 
 
3 CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE CLASSE HOSPITALAR NO 
BRASIL ..................................................................................................................... 34 
3.1 Saberes e práticas docentes: a escuta pedagógica no enredo da 
aprendizagem .......................................................................................................... 42 
 
 
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 52 
4.1 Procedimentos para o trabalho com o grupo focal ........................................ 53 
4.2 Colaboradores da Pesquisa: fragmentos de suas trajetórias 
profissionais ............................................................................................................ 54 
 
 
5 OLHARES SOBRE AS FALAS DAS PROFESSORAS ........................................ 56 
5.1 Eixos de Análise ................................................................................................ 59 
5.1.1 Desdobrando a Formação do Professor........................................................... 59 
5.1.2 Organização Pedagógica ................................................................................. 68 
5.1.3 Trabalho multidisciplinar ................................................................................... 74 
5.1.4 Experiências Desestabilizantes ........................................................................ 77 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 87 
 
 
7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 90 
 
8 ANEXOS ............................................................................................................... 97 
ANEXO A Mapeamento das escolas em hospitais em território nacional ................. 97 
ANEXO B Transcrição do Grupo Focal ................................................................... 104 
ANEXO C Diretrizes das ações de atendimento na Classe Hospitalar ................... 112 
 10 
INTRODUÇÃO 
 
 Há tempos trabalhando com formação profissional na área da saúde, 
praticamente desde o início da minha carreia profissional, em 1997, meus últimos 
seis anos de trabalho transitaram entre a escola e o hospital, mais especificamente o 
Hospital Nossa Senhora de Lourdes em São Paulo, capital. Como diretora 
pedagógica da Escola Técnica Nossa Senhora de Lourdes visitava o hospital 
frequentemente, local onde aconteciam as atividades práticas de estágio e eram 
desenvolvidos os trabalhos de gestão estratégica, financeira e pedagógica da 
escola, que mais tarde tornou-se também Instituição de Ensino Superior. 
Aos poucos, fui criando uma intimidade com o ambiente hospitalar e, 
naturalmente, as questões relacionadas à saúde foram sendo introduzidas no meu 
cotidiano. 
Em uma das visitas que fiz às dependências do hospital, mais 
especificamente à Pediatria, onde um grupo de alunos da referida escola realizava 
seus estágios supervisionados, pude conhecer a brinquedoteca 1, que lá funcionava 
sob a coordenação do Setor de Responsabilidade Social do Hospital da Criança - 
HCÇ. O objetivo deste espaço era minimizar o estresse das crianças frente à 
hospitalização e promover condições para o desenvolvimento infantil por meio de 
atividades pedagógicas, recreativas e lúdicas. 
Por dia, a brinquedoteca atendia, na época, trinta crianças que estavam 
internadas aguardando cirurgias, a maior parte delas cardíacas. 
Segundo a lei nº 11.104/2005, que dispõe sobre a obrigatoriedade de 
instalação de briquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento 
pediátrico em regime de internação, é importante destacar que: 
 
 Considerando que toda criança hospitalizada tem direitos especiais após a 
 promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (...), durante todo o 
 período de sua hospitalização, o direito de desfrutar de formas de 
 recreação, formas de educação para a saúde, acompanhamento de 
 currículo escolar durante sua permanência hospitalar, e o direito de receber 
 
1 As salas de recreação da brinquedoteca do HCC foram implantadas em 1998, desde a inauguração 
do Hospital da Criança, pela enfermeira Viviane Nascimento que trabalha na instituição desde 1997, 
A brinquedoteca se mantem por meio de doações em geral, material escolar, de laboratório e 
brinquedos em geral. 
 
 11 
 todos os recursos terapêuticos disponíveis para sua cura e reabilitação. 
 (MINISTÉRIO DA SAÙDE, 2005, Portaria 2261) 
 
 
De acordo com o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e de algumas 
leis específicas, o direito da criança de brincar é assegurado, prevendo a 
necessidade de brinquedotecas em hospitais que possuem internação em Pediatria. 
A resolução nº 41 do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional dos Direitos da 
Criança e do Adolescente, no seu art. 9º (Outubro de 1995), atrelada à Portaria 
GM/MS nº 881 de 19/06/2001 – PNHAH (Política Nacional da Humanização da 
Atenção Hospitalar) torna obrigatória a necessidade de implantar espaços e 
programas de recreação com brinquedoteca no serviço de Pediatria. 
 Diante do exposto, observei que existia uma preocupação com as 
necessidades básicas da criança, entre elas o direito de brincar e a preocupação 
com sua recuperação. A brinquedoteca contribuía para amenizar o sofrimento de 
tratamentos hospitalares, assim como acontecia no Hospital da Criança. 
No ano de 2010, enquanto pesquisava sobre a proposta de implantação da 
classe hospitalar no Hospital da Criança, foram iniciadas as atividades da Faculdade 
Nossa Senhora de Lourdes e fui convidada pela direção geral a montar um Curso de 
Pós-Graduação, lato sensu, em Pedagogia Hospitalar, como oferta de curso na 
grade da faculdade. 
Um dos objetivos do curso era levar conhecimento a diversos profissionais 
que buscavam compreender melhor algumas questões acerca da prática educativa 
dentro do hospital, tais como: 1 - Quem era o profissional que desempenhava o 
papel de educador num ambiente desconhecido e conflituoso? 2 - Como era 
trabalhado o currículo da escola de origem? 3 - Qual a formação do professor de 
classe hospital? 4 - Quais suas principais dificuldades? 5 - Como lidavam com as 
patologiasque as crianças apresentavam e inúmeras outras questões que pareciam 
pertinentes, já que se tratava de um tema pouco discutido entre os educadores. 
Fez-se necessário, então, um maior aprofundamento do tema. 
Na ocasião, iniciei uma revisão de literatura, na qual pude constatar que 
existiam alguns trabalhos publicados com o tema “Classes Hospitalares”. Autores 
como Ceccim e Carvalho (1997), Paula e Marcon (2001) e Wolf (2007) abordam, em 
suas obras, a necessidade da análise mais criteriosa das atividades desenvolvidas 
no âmbito hospitalar e as repercussões trazidas aos indivíduos enfermos, crianças e 
 12 
adolescentes, que ao adoecerem são encaminhados a instituições hospitalares. 
Para que a criança e o adolescente, durante o ano letivo, não fiquem prejudicados, 
os professores comprometem-se a seguir o currículo da escola de origem de cada 
aluno fazendo a ponte com a escola e a classe hospitalar. 
Outros trabalhos publicados remetem ao preparo do pedagogo para o 
atendimento necessário à educação de crianças e adolescentes hospitalizados, de 
modo a desenvolver uma atenção pedagógica singular aos escolares que se 
encontram em atendimento hospitalar. Segundo Matos (2009), Schilke (2008) e 
Medeiros da Silva (2010), sendo o pedagogo o profissional habilitado para esse 
acompanhamento, faz-se necessário um planejamento e ações específicas da área 
de educação. 
Foram encontradas, também, algumas publicações que evidenciam a historia 
da Pedagogia Hospitalar como um novo campo de atuação do pedagogo, no qual é 
destacado o espaço reservado pelas instituições de saúde à atenção às 
necessidades intelectuais próprias do desenvolvimento psíquico e cognitivo e do 
referenciamento social da criança. Trabalhos como os de Fontes (2005) e Schilke 
(2007) são exemplos vistos. 
 Além de se apropriar de referências teóricas, a fim de se aproximar da 
realidade, participei de um projeto desenvolvido por umas das instituições de saúde 
reconhecida pela excelência no tratamento oncológico no Brasil que oferecia um 
curso em Pedagogia Hospitalar. Assim, no ano de 2010, teve início em São Paulo 
um curso de Extensão em Pedagogia Hospital no Hospital A.C.Camargo 2, que 
possui uma escola cuja proposta é propiciar a continuidade dos estudos às crianças 
e adolescentes internados em razão do tratamento, Escola Especializada Schwester 
Heine, criada pela fundadora do Hospital A.C. Camargo, Carmem Prudente, com a 
colaboração da Pedagoga Maria Genoveva Vello, no ano de 1987. 
O objetivo deste curso de Extensão em Pedagogia Hospitalar é possibilitar 
aos participantes a vivência cotidiana de uma Classe Hospitalar de modo que eles 
possam construir e analisar criticamente estratégias de atuação pedagógica, 
considerando a realidade hospitalar, as condições dos pacientes e de sua família, 
 
2 Inaugurado em 23 de abril de 1953, o Hospital A. C. Camargo tem uma trajetória grandiosa no 
combate ao câncer. Líder em conhecimento científico sobre oncologia é um centro de referência 
internacional em ensino, pesquisa e tratamento multidisciplinar. Está localizado na cidade de São 
Paulo, SP, Brasil. Informações retiradas do site da instituição: – www.accamargo.org.br – Acesso em: 
05 de agosto de 2012. 
 13 
além de oferecer aos participantes, estágio junto às professoras responsáveis pelas 
classes hospitalares localizadas em diversos setores do hospital. 
Durante o tempo em que participei do estágio e estive em contato com as 
crianças e a equipe pedagógica da escola Schwester Heine, pude observar a 
dedicação das professoras no que se refere ao atendimento às crianças 
hospitalizadas, visando desenvolver os objetivos pedagógicos, mas também acolher 
as crianças, assim como seus familiares e acompanhantes. 
Observei as práticas utilizadas pelas professoras para ensinar o conteúdo a 
ser desenvolvido, buscando favorecer um atendimento humanizado e de qualidade 
para as crianças e adolescentes em tratamento. Refleti, também, sobre como a 
pedagogia hospitalar possibilitava aos alunos internados, oportunidades de 
aprendizagem e auxiliava na adesão aos tratamentos e na recuperação das crianças 
e dos adolescentes. Além disso, observei, ainda, a relação estabelecida entre os 
profissionais de educação com a equipe multiprofissional do hospital: os médicos; a 
equipe de enfermagem; os nutricionistas; os psicólogos; os fisioterapeutas; os 
fonoaudiólogos; os terapeutas ocupacionais; os assistentes sociais e todos os 
profissionais que compartilham os cuidados com os pacientes. 
 Após a finalização do Curso de Especialização algumas questões referentes 
ao tema classes hospitalares, apesar de discutidas, ainda necessitavam de maiores 
aprofundamentos: 1 - Qual o significado do trabalho na classe hospitalar para o 
professor atuante? 2 - De que maneira sua atuação contribui para a promoção da 
saúde de crianças e adolescentes que estão em tratamento de doenças 
oncológicas? 3 - O profissional de educação que atua no hospital vem buscando o 
reconhecimento do seu papel e de sua atuação específica nesse espaço? 4 - Esses 
profissionais fazem parte da equipe multidisciplinar dos hospitais? 
Desta forma nasceu o interesse pela elaboração de uma pesquisa cujo 
objetivo principal constituiu-se em: 
 Investigar os processos formativos dos professores de classe hospitalar da 
escola Schwester Heine, no Hospital AC Camargo, com vistas a ampliar a 
compreensão a respeitos das necessidades de formação dos professores 
que atuam em classes hospitalares. 
 
Como objetivos específicos a pesquisa se propôs a: 
 
 14 
 Estabelecer um diálogo teórico com os autores que investigam as classes 
hospitalares e a formação dos professores que atuam nesses espaços. 
 Compreender como atuam os professores nas classes hospitalares que 
possuem formação específica, bem como aqueles professores que atuam nas 
classes hospitalares e não possuem formação específica, com base no grupo 
focal. 
 Analisar os saberes e práticas dos professores e as maneiras como foram 
construídos. 
 
 Este trabalho está estruturado em quatro capítulos: 
O primeiro capítulo consta de um breve relato a respeito do lugar que o 
hospital vem ocupando nos diferentes contextos sociais e a história da Pedagogia 
Hospitalar, com o objetivo de traçar o entendimento da necessidade de criação e 
manutenção das classes hospitalares no Brasil. 
O segundo capítulo aborda a formação do professor de classe hospitalar no 
Brasil, a investigação dos saberes e práticas docentes e a escuta pedagógica no 
enredo da aprendizagem sob a perspectiva das classes hospitalares. 
O terceiro capítulo descreve o delineamento metodológico da pesquisa. 
O quarto capítulo trata da análise dos dados coletados. 
Considera-se que nessa perspectiva, este trabalho de pesquisa poderá 
contribuir para o entendimento das múltiplas formações possíveis do professor da 
classe hospitalar em sua atuação no ambiente hospitalar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
2 CAPÍTULO 1 - UM POUCO DE HISTÓRIA 
 
 A individualidade mais importante do hospital não é o seu diretor, nem o 
 contribuinte, nem o médico, nem a enfermeira, nem o secretário; a 
 individualidade mais importante do hospital é, sem dúvida, o enfermo. 
 
GOLDWALTER 
 
. 
2.1 Breve relato a respeito do lugar que o hospital vem ocupando 
no contexto social 
Com o objetivo de traçar o entendimento da necessidade de criação e 
manutenção das classes hospitalares no Brasil, considera-se oportuno desenvolver 
um breve relato da constituição dessa instituição chamada hospital, o 
desenvolvimento dos povos e das comunidadesque objetivavam a melhoria da 
qualidade de vida de sua população, o conhecimento documentado, a criação dos 
hospitais, os aspectos sanitários e o aparecimento de práticas exercidas pelos 
profissionais da área de saúde. 
2.1.1 Esboço histórico 
O hospital teve origem em época muito anterior à era cristã. Contudo, não há 
dúvida de que o cristianismo impulsionou e desvendou novos horizontes aos 
serviços de assistência, sob as mais variadas formas. Assim: 
 
 A história da medicina tem origem em época bem mais remota que a dos 
 hospitais. O homem preocupado em princípio apenas com o bem estar de 
 sua família, foi obrigado, com o correr dos tempos e para sua própria 
 defesa, a se interessar pela saúde dos seus semelhantes, quando o 
 aumento da população e a intensificação do tráfego demonstravam a 
 necessidade de proteção coletiva. (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 
 1944, p. 9). 
 
Nos tempos antigos, a prática da medicina fundia-se com a prática religiosa. 
Os hospitais mais pareciam santuários que se erguiam pelas cidades, orientados por 
religiosos. Era determinado que, ao lado das igrejas fossem construídas enfermarias 
ou organizações de assistência aos doentes. Associando a prática da saúde com a 
prática religiosa, o sacerdote exercia o papel de mediador entre os homens e os 
 16 
deuses. De acordo com Antunes (1991) a origem da medicina grega confunde-se 
com a religião. Apolo, o deus do sol, da mesma forma é o deus da saúde e da 
medicina. Seu filho Asclépio – Esculápio – foi o primeiro médico. 
Os primeiros hospitais, chamados de Asklepieia reuniam importantes atributos 
para a cura: o clima, a temperatura agradável, o esquecimento das preocupações do 
cotidiano, as músicas que lá se ouviam e os costumes moderados. Havia ainda de 
se considerar as condições psicológicas que atuariam em prol da recuperação dos 
doentes: a densa atmosfera de sugestão no interior do Abaton,3 estimulada por ritos 
e oferendas, e na esperança confiante no poder da divindade. Valdes (1987) estipula 
que, nessas ocasiões os sacerdotes se proviam de máscaras figurativas do Deus e 
de seus auxiliares, para reforçar a aceitação de seus conselhos e de suas práticas 
terapêuticas. 
A influência religiosa foi predominante, sobretudo na Idade Média. A alma 
precisava de tratamento e o corpo humano feito à imagem e semelhança de Deus, 
não podia ser tocado, pois era considerado sacrilégio. A chegada da era cristã foi, 
sem dúvida, determinante para o surgimento da multiplicidade das instituições 
hospitalares. 
De acordo com o Ministério da Saúde, (BRASIL, 1944) o decreto de 
Constantino, em 335 d.C., estimulou a criação dos hospitais cristãos durante os 
séculos IV e V. As primeiras figuras humanas a exercerem a “arte de curar” foram, 
portanto, os sacerdotes dos templos. Os templos foram os primeiros locais onde se 
reuniam os doentes. A seguir, o conceito de “hospedagem” foi sendo incorporado à 
rotina. Cada vez mais se fazia atendimento aos viajantes doentes. 
Não existia a preocupação com o aspecto humano e pessoal. Não demorou 
para que o Estado, ao lado da religião, desse início ao atendimento do doente com 
finalidades lucrativas; o diagnóstico e tratamentos estiveram sob o domínio das 
práticas mágicas, supersticiosas, de encantamentos, muito além da observação e 
análise dos pacientes e da doença. A fundamentação científica somente se firmou 
com Hipócrates, na Grécia. 
O hospital oriundo de épocas remotas, anteriores ao cristianismo, foi, 
portanto, desenvolvido por iniciativa de organizações religiosas que se converteram 
 
3
 Abaton = “lugar interdito, onde os doentes eram admitidos para o rito do sono sagrado” - São Paulo: 
Casa do Psicólogo, 2004. 
 
 17 
em instituições sociais de obrigação do Estado, que passou a fundá-los e mantê-los. 
Foi caracterizado como uma casa sob a proteção de Deus. Não era destinada à cura 
do corpo, e sim, à salvação da alma. 
O advento do cristianismo trouxe uma nova visão humanística que alterou a 
organização social e as responsabilidades do indivíduo: o conceito de serviços 
gerais de assistência aos menos favorecidos e aos enfermos, idosos, órfãos e 
viúvas desenvolveu-se mais rapidamente, da mesma maneira que a assistência aos 
viajantes e peregrinos sustentados pela contribuição dos cristãos, desde os tempos 
apostólicos. 
A administração pública começou a tomar a assistência médica sob sua 
responsabilidade, nos estabelecimentos hospitalares de frequência gratuita. A 
ascendência privada não desapareceu, pelo contrário, acompanhou o 
desenvolvimento das obras do governo, e passou a auxiliá-las por meio de 
subversões e regalias. 
Ainda no início da era cristã as ordens religiosas passaram a predominar na 
administração dos hospitais voltados à diminuição do sofrimento e das misérias 
humanas, mais da alma do que do corpo. Com a disseminação da lepra surgiram 
várias instituições voltadas para o atendimento dos doentes, localizadas fora das 
cidades, organizadas pelas congregações religiosas, intituladas de “lazareto”, locais 
em que se recolhem os leprosos. 
Mudanças na prestação da assistência social foram acontecendo após o 
declínio do sistema hospitalar cristão, trazendo modificações ao longo da Idade 
Moderna, apesar da permanência dos atendimentos religiosos relacionados ao 
conforto espiritual dos doentes internados. 
O nascimento do hospital moderno valorizou a presença do médico de forma 
efetiva. Novos procedimentos foram criados e sistematizados e o conhecimento que, 
anteriormente só era encontrado nos livros passou a ser uma prerrogativa do 
médico. 
 O médico passou a ser o principal responsável pela organização hospitalar. A 
valorização da ação do meio sobre o doente como instrumento para tratar as 
enfermidades ia além das aplicações farmacêuticas e cirúrgicas. As construções 
hospitalares eram planejadas e o aproveitamento racional dos recursos disponíveis 
visíveis. Essas ações refletiram a crescente aceitação do hospital e a diversidade 
de serviços que a instituição passou a oferecer. 
 18 
 Em meados do século XIX, novas descobertas acentuaram o 
desenvolvimento da medicina, como a teoria bacteriológica, métodos assépticos e 
anticépticos - que diminuíram o número de mortes por infecção - e a introdução da 
anestesia, contribuindo para que o hospital não fosse visto como um lugar no qual 
os pobres esperavam para morrer, mas sim um local onde os enfermos podiam ser 
curados. 
 A assistência tomou forma com a presença da Enfermagem, que adquiriu 
status técnico e contribuiu para a humanização do hospital e sua transformação 
numa instituição centrada no enfermo, graças aos esforços de Florence Nightingale 
(1820-1910). Florence possuía conhecimentos de Enfermagem adquiridos com as 
diaconisas de Kaiserwerth e, segundo a historiografia, era portadora de grande 
aptidão vocacional para tratar de doentes, sendo a precursora dessa nova 
Enfermagem que, como a Medicina, encontra-se vinculada à política e à ideologia da 
sociedade capitalista. 
Em seus dois livros, Notas sobre Hospitais (1858) e Notas sobre Enfermagem 
(1859), Florence enfatizou que a arte da Enfermagem consistia em cuidar tanto dos 
seres humanos sadios quanto dos doentes, entendendo como ações interligadas da 
Enfermagem o triângulo cuidar-educar-pesquisar. A cura era um privilégio da 
natureza, as ações de Enfermagem visavam à manutenção do doente em condições 
favoráveis à cura para que a natureza pudesse atuar sobre ela. 
Após a guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint 
Thomas que passou a servir de modelo para as demais escolas que foramfundadas 
posteriormente. Ao médico cabia o papel de ensinar e decidir quais das suas 
funções poderia colocar nas mãos das enfermeiras. 
A Enfermagem nasce, então, como uma profissão complementar à prática 
médica, como um suporte ao trabalho do médico. Na pirâmide hierárquica, o ápice 
é ocupado pelo profissional médico e o enfermeiro ocupa uma posição mediadora, 
um papel auxiliar. 
As estruturas organizacionais, a descentralização e a diversidade de funções 
compunham a complexidade do hospital na Idade Contemporânea: 
 
 [...] Muito embora os desenvolvimentos técnicos e científicos estivessem na 
 sua plenitude, observa-se certa austeridade daquela que administravam os 
 hospitais. Nos séculos seguintes, a pesquisa científica, direcionada para a 
 área farmacêutica e o controle de infecções, figura como meta de 
 19 
 atingimento para a obtenção de qualidade no atendimento hospitalar. 
 (LISBOA, 2002, p. 17) 
 
O doente, agora denominado paciente, tão logo ingressasse no hospital, era 
convocado à total perda de sua intimidade. Além da ruptura com o cotidiano, de 
imediato ficava exposto ao trabalho do médico. O paciente seguia as orientações 
médicas após o diagnóstico, como alvo de intervenção médico-hospitalar, a cura 
dependia de esforços alheios aos enfermos. Os pacientes sentiam na pele a 
situação de estar num local provedor da vida e, ao mesmo tempo, um local de 
aprendizado da morte. 
A seguir um quadro resumido apresentando um comparativo das mudanças 
nos objetivos e características do hospital entre o início do século XX e início do 
século XXI. 
 
QUADRO 1 - Comparativo das mudanças nos objetivos e características do 
hospital 
 
 
INÍCIO DO SÉCULO XX 
 
INÍCIO DO SECULO XXI 
Fonte: Organização pan-americana da saúde. A transformação da gestão de hospitais da América 
Latina e Caribe. Brasília, OPAS/OMS; 2004. 
 
01 Isolar o paciente da sociedade 01 Atender o paciente em regime aberto para 
a comunidade 
02 Estrutura rígida com missão e funções 
pouco variáveis 
02 Flexibilidade nas funções 
03 Auto-suficiente 03 Trabalho em rede: capaz de manter inter-
relação, cooperação e complementaridade. 
04 Regras e procedimentos 04 Com missão, visão estratégica, políticas e 
normas gerais. 
05 Relações de trabalho verticais 05 Relações de trabalho horizontais 
06 Aprendizado do trabalhador como 
forma de galgar postos nas 
organizações 
06 Aprendizado contínuo do trabalhador. Com 
crescimento pessoal e da própria 
organização 
07 Centralização de poder e decisões 07 Descentralização de poder e decisões com 
a finalidade de favorecer o desempenho e 
consecução dos objetivos 
08 Estilo gerencial autoritário cobrando 
resultados 
08 Estilo gerencial de coordenação, 
acompanhamento, controle das etapas e 
corresponsabilidade por resultados. 
09 Ausência de recursos tecnológicos 
sofisticados 
09 Presença de recursos tecnológicos 
sofisticados, que se bem usados podem 
favorecer a organização. 
10 Predominância de trabalho mais 
individualizado 
10 Estímulo para trabalho em grupo e 
desenvolvimento do potencial e criatividade 
da força de trabalho 
 20 
As constantes descobertas na área da saúde durante o século XX, o 
desenvolvimento da tecnologia, a crescente sofisticação da hotelaria, a necessidade 
de expansão de serviços de apoio à assistência e outros fatores, fizeram com que a 
organização hospitalar, gradualmente, se tornasse mais complexa, com 
características e objetivos diferentes. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no informe Técnico nº 122 de 
1957: 
 
 [...] O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde, cuja 
 função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto 
 curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família, em seu 
 domicilio e ainda um centro de formação para os que trabalham no campo 
 da saúde e para as pesquisa biossociais. (OMS, 1957) 
 
Assim, podemos verificar que, ao longo dos tempos a estrutura hospitalar e 
seus profissionais mudaram seus objetivos de atendimentos à população, garantindo 
assistência de melhor qualidade com o uso de recursos tecnológicos mais 
avançados. 
 
2.1.2 Mudanças nos modelos de atenção à Saúde no Brasil 
No Brasil, com o início da colonização no século XVI a assistência aos 
doentes estava sob a responsabilidade das Santas Casas de Misericórdia. Até o 
século XIX pouco se fazia pelos doentes. Com o advento da guerra Brasil - Paraguai 
muitas cirurgias passaram a ser realizadas no Brasil, mas o tratamento clínico era 
precário, assim como as condições de higiene. A população identificava o hospital 
como um lugar destinado à morte e por isso, alguns médicos passaram a oferecer 
quartos de suas próprias residências com leitos para tratamento dos enfermos que 
passaram a ser chamadas de “Casas de Saúde” que se constituíram nos embriões 
dos hospitais privados. 
As infecções, nessa época, eram constantes e as pessoas não esperavam 
muito dos hospitais. A organização dos serviços era precária e os conhecimentos 
científicos estavam baseados nas concepções miasmáticas4 das doenças. Os mais 
 
4
 Durante a Idade Média prevaleceu a teoria Miasmática, a qual considerava que a doença era 
causada por certos odores venenosos, gases ou resíduos nocivos (do grego miasma, mancha) que 
se originavam na atmosfera ou a partir do solo. Essas substâncias seriam posteriormente arrastadas 
 21 
pobres eram atendidos em instituições filantrópicas ligadas à igreja católica e o 
restante da população, procurava médicos particulares ou outros profissionais, como 
curandeiros. 
A enorme demanda por atendimentos devido a surtos epidêmicos deixou 
evidente a falta de leitos hospitalares. Os hospitais filantrópicos ficaram repletos, e 
dessa forma o Estado Imperial, a partir de 1850, se viu obrigado a inaugurar os 
primeiros hospitais de isolamento e enfermarias destinados à atenção e segregação 
dos enfermos. Para os mais pobres o atendimento era oferecido em hospitais de 
ordem religiosa e/ou entidades filantrópicas e para os mais abastados, em clinicas 
privadas. E foi entre o final do século XIX e início do XX que se multiplicaram as 
casas de saúde com fins lucrativos que, eventualmente, praticavam a gratuidade e, 
assim, foram sendo criados novos hospitais; contudo a carência destas instituições 
continuava persistindo. 
O SUS (Sistema Único de Saúde) foi criado em 1988 pela Constituição 
Federal, e oficializado pela Lei nº 8080/90. O objetivo era de garantir à população 
brasileira o acesso universal a assistência à saúde. 
A partir do final do século XX os hospitais deixaram de ser espaços para 
abrigar pobres e doentes. O aparecimento da Medicina científica, da tecnologia e de 
infraestruturas modernas propiciaram aos pacientes tratamentos que não tinham 
indicação para serem realizados em casa. A saúde torna-se curativa. 
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 1965), o hospital é definido como 
todo estabelecimento de saúde dotado de internação, meios diagnósticos e 
terapêuticos, com objetivo de prestar assistência médica curativa e de reabilitação, 
podendo dispor de atividades de prevenção, assistência ambulatorial, atendimento 
de urgência/emergência, de ensino e pesquisa: 
 
 [...] O Ministério da Saúde do Brasil define o hospital como parte integrante 
 de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em 
 proporcionar à população a assistência médica integral, curativa e 
 preventiva, sob qualquer regime de atendimento, inclusive o domiciliar. É 
 também centro de educação, capacitação de recursos humanos e de 
 pesquisas em saúde, bem como encaminhamentode pacientes. (NEDER 
 FILHA; MONTEIRO, 2003 p. 355). 
 
pelo vento até a um possível indivíduo, que acabaria por adoecer. Site - www.prof2000.org.acesso 
em outubro de 2012. 
 
 22 
Assim, a assistência à saúde combina inovações tecnológicas estruturadas 
para solução dos problemas e para o atendimento das necessidades de saúde 
individuais e coletivas. 
 
2.1.3 O início da Escolarização Hospitalar até os dias atuais 
 
O objetivo da Pedagogia Hospitalar - atendimento escolar em ambiente 
hospitalar é garantir às crianças e adolescentes hospitalizados a continuidade aos 
seus estudos independente do tempo de internação ou de acompanhamento 
domiciliar. A criação das classes hospitalares, uma modalidade de atendimento da 
educação especial, resulta da necessidade de que crianças e adolescentes , quando 
hospitalizados, têm necessidades educacionais e direito à escolarização. 
Segundo a política do Ministério da Educação (1994): 
 
 [...] Classe Hospitalar é um ambiente hospitalar que possibilita o 
 atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam 
 de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar (BRASIL, 
 1994, p. 20). 
 
A infância, cerceada de possibilidades de desenvolvimento cognitivo social e 
emocional, durante o período de internação hospitalar, pode romper a identidade de 
ser criança em sua amplitude. Para Fontes (2007, p. 277), “[...] a identidade de ser 
criança é muitas vezes diluída numa situação de internação hospitalar, na qual ela 
se vê imersa numa realidade diferente de sua vida cotidiana”. A hospitalização 
distancia as crianças de suas atividades diárias, dos amigos e parentes. O 
sentimento de impotência diante da enfermidade, a ausência e/ou falta de estímulos 
maternos podem provocar na criança o que Spitz5 (1980) denominou hospitalismo, 
ou seja, a vulnerabilidade dos parentes, a falta de perspectiva e o medo do 
desconhecido afetam sua autoestima, dificultando muitas vezes sua recuperação. 
 
5
 Renne Spitz (1980) observando crianças em hospitais de caridade, em 1965 denominou de 
hospitalismo o conjunto dos fenômenos apresentados por elas. Observou que nas crianças 
pequenas, a ausência e/ou falta de estímulos maternos são causadores de perturbações emocionais. 
Tais perturbações podem se manifestar por intermédio de três reações: a primeira, de protesto 
violento, choro intenso e agitação; a segunda, de desespero, revelado pelo silencio e aparente 
tranquilidade da criança; e a terceira, de resignação melancólica, resultado de uma adaptação 
patológica. 
 
 23 
 Além das mudanças físicas e emocionais decorrentes das patologias, 
crianças e adolescentes internados sofrem também pelo distanciamento do 
ambiente familiar, dos amigos e do ambiente social. Em casos de doenças graves, 
nas quais a internação acontece por longo tempo, existe uma ruptura no processo 
de aprendizagem curricular. A classe hospitalar tenta recuperar a socialização da 
criança e do adolescente por um processo de inclusão, e dar continuidade à 
escolarização com a valorização de seu novo processo de aprendizagem. 
Estes pacientes, que acometidos de doenças crônicas necessitam de uma 
permanência no hospital por longos períodos de tratamento e acompanhamento 
médico, se beneficiam da abordagem educacional proposta pela pedagogia 
hospitalar, que além de garantir a continuidade dos estudos, prepara a criança para 
o enfrentamento do seu cotidiano quando recebe alta hospitalar, tornando menos 
dura a sua readaptação à escola regular. Ao longo dos séculos muitos 
acontecimentos provocaram impactos importantes na qualidade de vida das crianças 
e adolescentes hospitalizados. Na Medicina, mais especificamente, os avanços 
tecnológicos têm contribuído para diagnósticos mais precisos e a utilização de 
medicações mais eficazes para a recuperação dos doentes. 
 Desta maneira Moraes e Salies (2010) referenciam que é impossível verificar 
mudanças de concepção em relação à saúde do paciente, aos profissionais que o 
atendem e de toda a organização hospitalar, sem ter o objetivo de qualidade. 
Decorre disso a entrada da educação no hospital, isto é, a possibilidade de uma 
criança hospitalizada dar continuidade a seus estudos no período em que estiver 
internado, o que pode favorecer suas condições emocionais e sociais. 
Muito desses avanços ocorreram em consequência de movimentos oriundos 
da sociedade civil no sentido de criar programas de saúde e educação, e da 
elaboração de leis que garantem os direitos das crianças e adolescentes 
hospitalizados. 
 A necessidade educativa de crianças e adolescentes hospitalizados corrobora 
com a criação e manutenção de classes hospitalares, para acompanhamento 
durante o período de permanência no hospital. 
Vasconcelos (2006) destaca que, os primeiros casos de intervenção escolar 
em hospitais aconteceram na França, em 1935, e posteriormente essa intervenção 
foi expandida para a Alemanha e Estada Unidos. Após a Segunda Guerra Mundial o 
atendimento à criança hospitalizada cresceu sensivelmente, quando alguns países 
 24 
da Europa receberam, como fruto do conflito, crianças mutiladas e/ou infectadas por 
doenças contagiosas, como a tuberculose, que na época era considerada fatal. Esse 
fato impulsionou a criação de um movimento dos médicos e voluntários religiosos no 
engajamento para concretização desse serviço. 
Em 1935, foi criada na França, nos arredores de Paris, por Henri Sellier a 
primeira escola para crianças inadaptadas, e mais tarde estendeu-se para 
Alemanha, Europa e Estados Unidos. O objetivo era suprir dificuldades de crianças 
tuberculosas. 
Em 1939, ainda na França, foi criado o Centro Nacional de Estudos e de 
Formação para a Infância Inadaptada de Suresnes - CNEFEI e tinha por objetivo a 
formação de professores para o trabalho em institutos especiais e em hospitais. 
Também foram criados, na França, cursos para formação de professores, com 
duração de dois anos, para o Cargo de Professor Hospitalar. 
No ano de 1945, Marguerite Perrin iniciou um trabalho com mulheres 
voluntárias conhecidas como “lês blouses roses” (as blusas cor-de-rosa), em 
Grenoble. O primeiro posto de professoras para atuação em hospitais foi criado em 
1948, em Lyon, no Serviço de Pediatria do Dr. Jeune do hospital J. Courmont. Anos 
mais tarde, o Dr. Alagille, diretor da Pediatria do Hospital Kremlin-Bicêtre, 
determinou que a nova construção do hospital de crianças tivesse um Maison de I’ 
enfant (Casa da Criança), sendo a primeira na França. (ROSENBERG-REINER, 
2003) 
No Brasil, a primeira ação educativa hospitalar aconteceu em 14 de agosto de 
1950, no Hospital Municipal Jesus, no Rio de Janeiro, que na ocasião tinha 
capacidade para 200 leitos e uma média de 80 crianças em idade escolar 
hospitalizadas. Em 1960, a Classe Hospitalar constituída no referido hospital 
contava com três professores e o Hospital Barata Ribeiro, também no Rio de 
Janeiro, tinha uma professora para esse tipo de trabalho (RITTMEYER; SILVA; 
IMBRÓSIO, 2001). 
A partir de essa iniciativa resultados satisfatórios no ambiente hospitalar 
serviram de estímulo para ampliação desse serviço em outros hospitais. Assim, em 
1960, o Hospital Barata Ribeiro, na cidade do Rio de Janeiro, inaugurou sua Classe 
Hospitalar. 
Naquele momento a Classe Hospitalar já apresentava um crescimento, mas 
esta ação educativa não contava com nenhum vínculo ou regulamentação junto à 
 25 
Secretaria de Educação.O desenvolvimento das Classes Hospitalares ocorreu pelo 
desejo e comprometimento dos profissionais 
Envolvidos na busca de reconhecimento desse trabalho, do professor no 
hospital, os diretores do Hospital Municipal Jesus, procuraram a Secretaria de 
Educação do antigo Estado da Guanabara, atual estado do Rio de Janeiro, na 
tentativa de regulamentá-lo. É importante ressaltar que por consequência da 
poliomielite, recorrente naquele tempo, o atendimento nas classes hospitalares era 
centralizado nos deficientes físicos. Este pode ser um dos motivos da ação 
educativa hospitalar ter sido entendida como uma modalidade da Educação 
Especial, apesar do investimento feito pela saúde na década de 1950 para garantir a 
legitimidade do trabalho pedagógico hospitalar. 
Em 1993, A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância 
(ABRAPIA), respaldada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e pela 
Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente (1991), publicou o Guia de 
Orientação para Educadores e Acompanhantes de Crianças e Adolescentes 
Hospitalizados. O Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 1994, assumiu 
responsabilidades quanto ao direito das crianças e adolescentes hospitalizados à 
escolarização, por meio do serviço da Classe Hospitalar. 
Por meio da Resolução nº 41, de outubro de 1995, e no item 9 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente Hospitalizado foram reconhecidos o “[...] Direito de 
desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, 
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. 
 Nas redações do Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 2002), o 
atendimento educacional em ambiente hospitalar apresenta-se como um serviço que 
faz parte da educação especial. 
A proposta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 
MEC, 1996) é de que toda criança disponha de todas as oportunidades possíveis 
para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem sejam contínuos. A 
presença do professor em hospital, propagando a escolarização da população 
internada em idade escolar, seguindo os moldes da escola regular, contribuindo para 
a diminuição do fracasso escolar, dos altos índices de evasão e repetência, é uma 
das vertentes da Classe Hospitalar. 
Em 2001 surgiu a Resolução n. 2 do CNE/CEB (Conselho Nacional de 
Educação/ Câmara de Educação Básica), no seu artigo 13, parágrafos 1º e 2º, 
 26 
 [...] Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de 
 saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos 
 impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde 
 que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou 
 permanência prolongada em domicílio. 
 
 
 [...] §1º As Classes Hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar 
 devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de 
 aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, 
 contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e 
 desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não 
 matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso 
 à escola regular. §2º Nos casos de que trata este artigo, a certificação de 
 frequência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo 
 professor especializado que atende o aluno. (BRASIL, CNE/CEB, 2001) 
 
Em 2002, o Ministério da Educação e Cultura, por meio da Secretaria de 
Educação Especial, regulamentou este tipo de trabalho com a publicação do 
documento intitulado “Classe Hospitalar e Atendimento pedagógico domiciliar: 
estratégias e orientações”, que tinha por objetivo estruturar ações políticas de 
organização do sistema de atendimento educacional em ambientes hospitalares e 
domiciliares. 
Ainda de acordo com o mesmo documento (BRASIL, MEC, 2002): 
 
 [...] Cumpre às classes hospitalares e ao atendimento pedagógico domiciliar 
 elaborar estratégias e orientações para possibilitar o acompanhamento 
 pedagógico-educacional do processo de desenvolvimento e construção do 
 conhecimento de crianças, jovens e adultos matriculados ou não nos 
 sistemas de ensino regular, no âmbito da educação básica e que se 
 encontram impossibilitados de frequentar escola, temporária ou 
 permanentemente e, garantir a manutenção do vínculo com as escolas por 
 meio de um currículo flexibilizado e/ou adaptado, favorecendo seu ingresso, 
 retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar correspondente, 
 como parte do direito de atenção integral. (BRASIL, MEC, 2002 p. 13) 
 
 Compõem as orientações e estratégias, encaminhamentos para a 
organização e funcionamento administrativo pedagógico das Classes Hospitalares, 
e, igualmente, aspectos físicos do espaço, das instalações e dos equipamentos, que 
afirmam a responsabilidade das Secretarias Estaduais, do Distrito Federal e 
Municipal de Educação, assim como, das direções clínicas nos sistemas e serviços 
de saúde em que se localizam, de acordo com a diretriz do Ministério da Educação: 
 
 27 
 [...] Compete às Secretarias de Educação, atender à solicitação dos 
 hospitais para o serviço de atendimento pedagógico e domiciliar, para 
 contratação e capacitação dos professores, provisão de recursos 
 financeiros e materiais para os referidos atendimentos (BRASIL, MEC, 
 2002, p. 15). 
 
Para o Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 2002, p.17), a Classe 
Hospitalar surge como uma maneira de proporcionar educação às crianças e 
adolescentes no ambiente hospitalar, indicando uma adaptação do currículo da 
escola de origem para o hospital, considerando a continuidade dos conteúdos como 
indispensável para a aprendizagem do aluno/paciente, defendendo, porém que “[...] 
a oferta curricular ou didático-pedagógica deverá ser flexibilizada, de forma que 
contribua com a promoção de saúde e ao melhor retorno ou continuidade dos 
estudos pelos educandos envolvidos”. 
Este serviço é direcionado aos educandos em “[...] condição clínica ou 
exigências de cuidados em relação à saúde que interferem na permanência escolar 
ou nas condições de construção do conhecimento, ou ainda, que impedem a 
frequência escolar” (BRASIL, 2002, p. 15). 
O documento recomenda que as classes hospitalares estejam em 
conformidade com a LDB nº 9.394/96 e pelas Diretrizes Nacionais da Educação 
Básica (CNE/CEB nº 2, de setembro de 2001). 
 
 [...] O atendimento poderá ser realizado numa sala específica, na 
 enfermaria, no leito ou no quarto de isolamento, a depender das condições 
 dos educandos, devendo ser orientado pelo processo de desenvolvimento e 
 construção do conhecimento correspondente à educação básica, exercido 
 numa ação integrada com os serviços de saúde (BRASIL, MEC/SEESP, 
 p.17, 2002). 
 
O documento faz referência quanto à estrutura organizacional da Classe 
Hospitalar, definindo como necessária a presença de um professor coordenador, 
que deve conhecer a dinâmica e o funcionamento desse trabalho, além das técnicas 
e terapêuticas que dele fazem parte, assim como as rotinas de assistência, da 
enfermaria e ambulatórios, tendo ainda como atribuição a articulação com a equipe 
de saúde da instituição com Secretarias de Educação e com a escola de origem da 
criança e/ou adolescente. 
Ainda como recomendação, o documento enfatiza que o professor deverá ter 
preferencialmente a formação em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia 
 28 
ou licenciaturas. Além disso, o profissional responsável pela classe hospitalar 
precisa ter noções das patologias apresentadas pelos educandos e os problemas 
emocionais decorrentes da hospitalização. Além de ser capaz de considerar o 
quadro de saúde, adaptando e flexibilizandoas atividades e os materiais, planejando 
diariamente, registrando e avaliando o trabalho pedagógico desenvolvido. 
As estratégias e orientação do Ministério da Educação (2002) indicam que 
devem ser levados em consideração os processos de integração da escola com o 
sistema de saúde, buscando um diálogo entre os seus profissionais de modo que 
ocorra um duplo acompanhamento – hospitalar e escolar – que tragam significado 
para as crianças e adolescentes hospitalizados. 
“Classes Hospitalares e Atendimento Pedagógico Domiciliar – Estratégias e 
Orientações” é o único documento elaborado pelo MEC/SEESP que esclarece os 
objetivos e a estrutura organizacional do serviço de Classe Hospitalar no Brasil. 
Apesar de esse serviço estar inserido na Educação Inclusiva, a Classe 
Hospitalar não tem tido muita expressão nessa área. Muitas vezes é esquecida pela 
própria Política Nacional de Educação Especial, a exemplo disso, em seu 
documento mais recente, denominado “Política Nacional de Educação Especial na 
Perspectiva da Educação Inclusiva” de 2008, não contempla a situação das crianças 
e adolescentes hospitalizados. 
 O documento indica que, para atuar na Educação Especial, o professor 
precisa dispor em sua formação inicial e continuada, conhecimentos gerais para o 
exercício da docência e conhecimentos específicos na área. Afirma que essa 
formação permite a atuação desse profissional no atendimento educacional 
especializado; aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da ação nas escolas 
regulares, nas salas de recursos, nas Classes Hospitalares - única parte do texto 
que faz referencia ao serviço - e nos ambientes domiciliares, dentre outros, para a 
oferta dos serviços e recursos da educação especial. (BRASIL, MEC, 2008 apud 
ROCHA, 2012, p. 52 - 53). 
Entender os caminhos percorridos pela Classe Hospitalar na inserção do 
serviço na Educação Especial demonstra as mudanças e benefícios para a 
instituição da escola inclusiva e permite, também, a compreensão histórica desse 
campo de conhecimento e as necessidades de rupturas e conquistas, pois se trata 
de um tema extremamente relevante na garantia da continuidade dos estudos da 
criança e adolescentes hospitalizados. 
 29 
As orientações do documento “Classe Hospitalar e Atendimento pedagógico 
domiciliar: estratégias e orientações” (BRASIL, MEC, 2002) surgiram em um 
momento significativo para construção do campo. Para compreender o conflito 
existente na Educação Hospitalar desde o início, é necessário entender os conceitos 
de Classe Hospitalar e o de Pedagogia Hospitalar. 
A palavra Classe, adotada na educação, aparece como sendo o espaço físico 
onde acontece a ação educativa. Para sua organização, a escola utiliza critérios de 
divisão como faixa etária e desempenho intelectual. 
A nomenclatura de Classe Hospitalar não atende à realidade pedagógica 
vivida no hospital. Muitas vezes, o trabalho educativo, por não ter espaço físico 
próprio, e/ou o aluno estar impossibilitado de se locomover, ocorre nos leitos ou nos 
corredores da enfermaria, utilizando-se a organização dos grupos na lógica 
multietária, isto é a organização do grupo escolar com crianças de várias idades. 
Esta abordagem, no que diz respeito à organização espacial conforme uma 
unidade escolar, possibilita a evidência, para as pessoas que transitam no hospital, 
que esta ação está diretamente relacionada a uma ação educativa formal, apesar da 
organização por faixa etária e currículo fugirem, substancialmente, ao grupo etário 
de crianças internadas e ao tempo total de cada internação. Defende a presença de 
o professor no ambiente hospitalar, atuando como agente educacional, colaborando 
para a continuidade dos estudos deixados para traz por conta da enfermidade 
acometida pela criança e pela necessidade de internação. 
O professor precisa adaptar o currículo escolar à realidade do espaço físico e 
da enfermidade de cada aluno paciente. A Classe Hospitalar desempenha um papel 
importante na formação educacional e moral da criança/adolescente hospitalizado, 
pois garante continuidade da educação tradicional acadêmica, tornando-se 
referência também para a família. 
A outra abordagem, a da Pedagogia Hospitalar surge com a construção de 
uma prática docente característica do espaço hospitalar, embasada na teoria da 
emoção, do médico Frances Henri Wallon (1879 -1962) e defendidos por estudiosos 
como Taam (1997), que prioriza a ideia de que a produção de conhecimento pode 
contribuir para o bem-estar físico, psíquico e emocional da criança enferma e que o 
conhecimento escolar é uma consequência da ação que visa à promoção da saúde, 
objetivo único de todos os profissionais de um hospital. 
 30 
Para Wallon o eixo principal do processo de desenvolvimento é uma 
integração em dois sentidos, integração organismo-meio e integração cognitivo-
afetivo-motora. Acredita que, para um estudo eficaz do desenvolvimento é 
necessário levar em conta os vários campos funcionais: afetividade, conhecimento 
(cognição/inteligência) e motricidade. Cada atividade da criança resulta, então, da 
integração do cognitivo com o afetivo e com o motor. (MAHONEY; ALMEIDA, 2004, 
p.18). 
 A afetividade se revela entre o professor e o aluno no processo de ensino- 
aprendizagem, levando em conta, principalmente, a relação que a criança mantém 
com as pessoas e com a realidade ao seu redor, valorizando a socialização entre 
outras crianças que naquele espaço apresentam características de enfermidade 
semelhantes. 
 
2.1.4 Das questões da hospitalização 
 
 A hospitalização é um período que pode modificar completamente a vida da 
criança e do adolescente, pois eles têm sua rotina alterada e sofrem intervenções 
que podem ser dolorosas e assustadoras (SAGATIO, 2007). Nesse novo espaço, a 
criança e o adolescente vivenciam medos, incertezas e inseguranças além da dor e 
do sofrimento. 
Assim, conforme esclarece Sagatio (2007): 
 
[...] As crianças e os adolescentes internados têm faixas etárias 
diferenciadas, o quadro clínico é variável, a medicação a ser utilizada é 
diferente de um para o outro, os aspectos emocionais do processo de 
internação podem variar de criança para criança, a aceitação da doença é 
vista de diversas maneiras, tanto pela família como pelo paciente, o tempo 
de internação é variável, entre outros aspectos (...). Portanto, o trabalho 
desenvolvido pelos profissionais de diversas áreas precisa ser integrado, 
dinâmico, capaz de perceber as diferenças da rotina da internação 
pediátrica (SAGATIO, 2007, p. 05). 
 
Ao serem hospitalizados, a criança e o adolescente encontram um espaço 
desconhecido, tanto para eles como para seus familiares. As rotinas são 
modificadas, surgem necessidades como, tomar medicamentos, submeterem-se a 
exames clínicos, dietas, manipulações, cirurgias e tantas outras situações que 
determinam uma rotina diferente da vida cotidiana. 
 31 
Neste cenário, toda prática educativa conta com o stress, situações de dor e 
necessidades primeiras de atendimento à doença, além do comum distanciamento 
da equipe multiprofissional que não valoriza a ação educativa. Não se trata de 
adaptar o modelo escolar ao hospital, mas de produzir modelos de ação pedagógica 
que respondam às peculiaridades do hospital e da situação existencial da criança. 
(TAAM, 2004, p. 134). Taam (2004) defende a ideia de que o conhecimento pode 
contribuir para o bem-estar físico psíquico e emocional da criança enferma, de 
acordo com a abordagem da Pedagogia Hospitalar. 
Neste sentido, o atendimento pedagógico no ambiente hospitalar deve ser 
entendido como uma escuta pedagógica às necessidades e interesses do aluno 
hospitalizado, buscando atendê-loso mais adequadamente possível, respeitando as 
limitações e possibilidades de aprendizagem daquele momento. 
Ao mesmo tempo em que a hospitalização é um evento mediado por 
situações de medo, tristeza e incerteza, que tem a capacidade de estagnar o 
processo de construção do conhecimento, na perspectiva da educação, o desejo de 
aprender projeta o desejo de viver no ser humano. 
De acordo com Ceccim (1998): 
 
 [...] Uma adequada possibilidade de acolhimento dos medos, desejos, 
 ansiedades, confusões e ambivalências, com adequado nível de 
 informação, permitirão, portanto, a produção de conhecimentos sobre si e 
 uma construção positiva a respeito da saúde; em que o corpo não se separe 
 do pensamento (CECCIM, 1998, p 34). 
 
Estudar é uma necessidade e um direito do escolar em tratamento de saúde. 
Sentir-se produzindo faz bem. A aprendizagem dos conteúdos curriculares é 
importante nas intervenções de longo prazo no que se refere à autoestima. O 
aluno/paciente em contato com situações do cotidiano escolar aceita de forma 
menos traumática o tratamento de saúde que está se submetendo. Assim sendo, 
 
 [...] O hospital-escola constitui-se num espaço alternativo que vai além da 
 escola e do hospital, haja vista que se propõe a um trabalho não somente 
 de oferecer continuidade de instrução. Ele vai além, quando realiza a 
 integração do escolar hospitalizado, prestando ajuda não só na 
 escolaridade e na hospitalização, mas em todos os aspectos decorrentes 
 do afastamento necessário do seu cotidiano e do processo, por vezes, 
 traumático da internação (MATTOS; MUGIATTI, 2007, p.73). 
 
 32 
Nesta perspectiva, a proposta da Classe Hospitalar pode ser entendida como 
um instrumento de suavização dos efeitos traumáticos da permanência no hospital 
como o impacto causado pelo distanciamento da criança da sua rotina, além da 
garantia da continuidade dos estudos nesse período. 
Essa abordagem demonstra uma ação diferente do professor no hospital, que 
pode ser confundida com uma ação recreativa, pois requer o efetivo envolvimento, 
modificação do ambiente em que estão envolvidos, modalidades de ação e 
intervenção, programas e conteúdos adaptados às capacidades e dificuldades das 
crianças e adolescentes enfermos. 
O compromisso com o currículo existe por meio da interação com a escola de 
origem do aluno/adolescente hospitalizado; a garantia da continuidade dos estudos 
corrobora com a necessidade do acompanhamento da escola, a fim de possibilitar, 
quando puderem, o retorno às suas atividades escolares. 
Autores como Fontes (2005) e Menezes (2004) acreditam que a Classe 
Hospitalar estaria contida na Pedagogia Hospitalar, como se pode ver em Fontes 
(2005): 
 
 [...] Podemos entender Pedagogia Hospitalar como uma proposta 
 diferenciada da Pedagogia tradicional, uma vez que se dá no âmbito 
 hospitalar e que busca atribuir conhecimentos sobre esse novo contexto de 
 aprendizagem que possa contribuir para o bem-estar da criança enferma. 
 (FONTES, 2005 p. 122) 
 
 
Nesse sentido, essa definição não exclui o conceito de Classe Hospitalar. 
Pelo contrário, parece mais abrangente, pois incorpora a escolarização da criança e 
do adolescente que se encontram internados por longos períodos. 
Embora a Pedagogia Hospitalar já seja uma modalidade de atendimento 
educacional reconhecida por lei como um direito da criança e adolescente 
hospitalizados e, portanto, distantes da escola, o Brasil ainda conta com poucos 
hospitais que desenvolvem esse tipo de atendimento e, em sua quase totalidade, 
com profissionais que não possuem formação específica para esse tipo de atuação. 
A Classe Hospitalar hoje atende a um número mínimo de 
crianças/adolescentes. É preciso haver uma mobilização cada vez maior de 
protagonistas desta ação, no sentido de fazer valer o que prevê a legislação, 
promovendo movimentos de ações sociais e de políticas públicas com o objetivo de 
 33 
cobrar das autoridades governamentais a criação e implantação da educação no 
hospital por meio das Classes Hospitalares. 
 
2.1.5 Classes Hospitalares em Hospitais no Brasil 
 
A Classe Hospitalar constitui uma necessidade para o hospital e um direito 
adquirido pelas crianças/adolescentes que estão internados e impossibilitados de 
frequentar a escola regular. A criação de Classes Hospitalares é uma questão social 
e deve ser vista com seriedade e engajamento pelas políticas públicas brasileiras. 
Segundo o documento do MEC (BRASIL, MEC, 2002) sobre estratégias e 
orientações para o atendimento nas Classes Hospitalares, assegurando o acesso à 
educação básica, a educação tem condições para reconstituir a integralidade e a 
humanização nas práticas de atenção à saúde, para efetivar e defender a 
autodeterminação das crianças diante do cuidado, para propor outro tipo de 
acolhimento das famílias nos hospitais, inserindo a sua participação como uma 
aposta no crescimento das crianças, embutindo na equipe de saúde uma educação 
do olhar e da escuta de forma mais significativa à afirmação da vida. 
A realidade das Classes Hospitalares no Brasil está muito longe de atingir 
toda a população hospitalizada em idade escolar, mesmo não sendo uma 
modalidade de ensino recente. 
Como citado no subcapítulo anterior, a partir das duas últimas décadas nosso 
país vem exercitando-se numa perspectiva democrática o que gerou este e outros 
avanços educacionais, assim como ganhos também no âmbito social e no político. 
Hoje, segundo Fonseca (1998) o quantitativo dessa modalidade de ensino, apesar 
de tímido, vem aumentando com o passar dos anos, principalmente após a segunda 
metade da década de 1990. 
Com o início do século XXI, ampliaram-se as possibilidades para o 
atendimento escolar no ambiente hospitalar. A possibilidade do contato com outras 
crianças e com temas relacionados à infância, como a escola, que por muitos é 
considerada estranha, gera uma energia positiva no corpo da criança. Isso colabora 
para uma recuperação mais rápida da condição de saúde, como demonstrado no 
estudo de Fonseca e Ceccim (1999) que apresentou significância estatística entre a 
frequência às aulas no hospital e a redução em 30% nos dias de internação. 
 34 
É preciso garantir que a escola no hospital exista para seu aluno paciente e 
esteja focada nesses processos. Essa modalidade de ensino mostra-se promissora, 
apesar das imensas dificuldades, garantindo a continuidade dos estudos e 
minimizando o sofrimento assim estabelecido. 
O levantamento do quantitativo de hospitais com atendimento escolar no 
Brasil está disponível na página da Escola Hospitalar 6Atendimento pedagógico- 
educacional para crianças e jovens hospitalizados. Esse levantamento é feito de 
acordo com as respectivas regiões e estados, realizado por meio ou intermédio de 
solicitação às Classes Hospitalares para que atualizem suas informações e, 
participem a outras escolas hospitalares sobre o preenchimento e envio pela internet 
do questionário específico. 
O quadro a seguir mostra, por região, o número de hospitais que dispõem de 
atendimento pedagógico educacional em hospitais no Brasil. 
 
QUADRO 2 - Número de Escolas Hospitalares (EHs) por Região 
 
 
 
Região Nº de Hospitais com Escolas 
 
 
Norte 10 
Nordeste 25 
Centro – Oeste 24 
Sudeste 53 
Sul 29TOTAL 141 
 Fonte: EHS-BR-ESF, outubro, 2012. 
 
Segundo Fonseca 7 (2012), o número de classes hospitalares no Brasil é 
ainda pequeno. Atualmente, em caráter oficial há 141 hospitais que oferecem a 
oportunidade de crianças e jovens prosseguirem com seus estudos, número 
pequeno se for considerada a imensidão do país; mas já é um começo bastante 
otimista. 
 
6
 Site http://www.escolahospitalar.uerj.br. Acesso em: 23 de julho de 2013 
7
 Pedagoga, mestre em Educação Especial, PhD em Desenvolvimento e Educação de Crianças 
Hospitalizados, docente da UERJ e da Classe Hospitalar Jesus/SME- RJ é também responsável pelo 
site sobre classe hospitalar: http://geodesia.ptr.usp.br/classe 
 35 
3 CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE CLASSE 
HOSPITALAR NO BRASIL 
 
A formação de professor desde o início de sua escolarização ou no 
transcorrer de sua vida profissional tem se apresentado como constante 
preocupação, ocupando um destaque no campo das produções acadêmicas como 
nos apresenta Tardif, (2002) e Furlanetto (2007). A formação do professor para 
atuação na Classe Hospitalar, apesar de discreta, também demonstra uma 
preocupação descrita em publicação de autores como Schilke (2008) e Silva (2010). 
O estado da arte8 da formação de professores no Brasil aponta que a 
produção discente, com base no exame de dissertações e teses defendidas entre 
90-96 quase que dobrou nesse período, incluindo estudos sobre formação inicial e 
formação continuada, conforme nos apresenta Almeida (2009, p.4): “[...] a formação 
de professores tem sido tema recorrente na preocupação de amplos setores da 
sociedade brasileira”. 
Algumas pesquisas apontam para a formação do pedagogo para atuação em 
Classe Hospitalar, demonstrados nos estudos de Fonseca (1999), Fontes (2005), 
Barros (2007). De acordo com a revisão de literatura sobre formação de professores, 
publicada no artigo sobre pesquisas apresentadas no Grupo de Trabalho Formação 
de Professores da Anped de 1992 a 1998 (1999), os estudos que expõem como 
tema a formação inicial, o conteúdo mais enfatizado é a avaliação dos cursos de 
formação de professores, seguido da priorização do professor com relação aos 
métodos e práticas. 
Nas pesquisas que têm como temática a formação continuada, os aspectos 
focalizados são bastante variados, incluindo os diferentes níveis de ensino, 
contextos diversos, meios e matérias diversificados. O tema identidade e 
profissionalização docente destacam conteúdos sobre a busca da identidade 
profissional e as concepções do professor sobre sua profissão. O tema ainda pouco 
 
8 O Estado da Arte é uma das partes mais importantes de todo trabalho científico, uma vez que faz 
referência ao que já se tem descoberto sobre o assunto pesquisado, evitando que se perca tempo 
com investigações desnecessárias. http://repositorium.sdum.uminho.pt. Acesso em: 02 de maio de 
2013. 
 
 36 
explorado, apesar de representar uma temática emergente é a formação do 
professor para atuar nos movimentos sociais e com crianças em situação de risco. 
 Assim, observa-se, então, que a preocupação central da formação docente 
está voltada para a formação de professores de séries iniciais no espaço escolar 
regular, demonstrando, portanto, que ainda pouco se discute sobre a formação de 
professores para atuar em outros espaços que não na escola convencional. 
 Segundo Matos e Mugiatti (2007): 
 
 [...] A experiência adquirida pela Pedagogia, em sua trajetória, permitiu-lhe 
 um acervo teórico-prático de ensino e de aprendizagem, credenciando-a a 
 auxiliar a Pedagogia Hospitalar, o que leva a apontar a necessidade da 
 existência de demandas por aperfeiçoamento, como condição de 
 desenvolvimento de uma prática educativa competente e comprometida. 
 (MATOS; MUGIATTI, 2007. p.13) 
 
Furlanetto (2007) destaca o espaço pouco explorado na formação dos 
professores, pois a maioria das práticas formativas baseia-se no fornecimento de 
recursos teóricos e técnicos aos professores. 
Nessa perspectiva, questões sobre atuação do professor no espaço hospitalar 
que envolvem as relações enfrentadas no cotidiano, de auxílio à criança/adolescente 
hospitalizados, a concepção e função do currículo neste novo espaço, a avaliação e 
estratégias de registro do processo educativo, os procedimentos para continuidade 
escolar dos enfermos, etc. apresentam-se como temas importantes a serem 
pesquisados para dar suporte a atuação dos pedagogos que atuam no hospital. 
Na busca de orientar os profissionais de educação para trabalhar na Classe 
Hospitalar foi publicado um documento, pelo Governo Federal, em 2002, 
denominado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e 
orientações”, já citado anteriormente, com a finalidade de orientar e estruturar os 
educadores acerca das ações de atendimento educacional, em ambientes 
hospitalares e domiciliares. O documento reafirma a importância do atendimento em 
Classe Hospitalar e a sua implantação, abordando os aspectos físicos, 
equipamentos, a integração com a escola regular e com o sistema de saúde, e a 
necessidade de formação do profissional de educação para atuar nessa Classe 
Hospitalar. Além disso, designa como Classe Hospitalar, de acordo com o Ministério 
da Educação (2002): 
 
 37 
 [...] O atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de 
 tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como 
 tradicionalmente conhecida seja na circunstância do atendimento em 
 hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde 
 mental. (BRASIL, MEC, 2002, p.13). 
 
 
 
Apesar de a Classe Hospitalar ter suas peculiaridades no atendimento à 
criança é importante o educador adequar a necessidade de desenvolvimento 
cognitivo com os interesses da criança, para favorecer a aprendizagem, promover a 
sua saúde, amenizar as suas angústias e contribuir para a sua formação como 
sujeito. 
No Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001), que tem como um dos seus 
desafios contribuir para a qualidade da formação docente, se verifica a conjectura de 
incluir nos currículos de formação de professores conteúdos e disciplinas específicas 
para a capacitação de atendimento a alunos especiais, o que no entendimento de 
órgãos governamentais e não governamentais estaria garantindo a formação dos 
professores para atuar no espaço hospitalar. 
A legislação educacional em vigor, por vezes, apresentando indefinições 
sobre a atuação do pedagogo em hospitais, e sua prática pedagógica dentro do 
ambiente hospitalar sugere estratégias e orientações para o atendimento 
pedagógico voltado para o desenvolvimento e continuidade da educação, antes 
oferecida em escola regular, de acordo com o documento do Ministério da 
Educação: 
 
 [...] O professor deverá ter a formação pedagógica preferencialmente em 
 Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, ter noções 
 sobre doenças e condições psicossociais vivenciadas pelo educando e as 
 características delas decorrentes, sejam do ponto de vista clínico, sejam do 
 ponto de vista afetivo (BRASIL, MEC, 2002, p. 22). 
 
No entanto, o entendimento sobre “especiais” quando incorporado nos cursos 
de formação focam os alunos com alguma deficiência, não se referindo aos alunos 
hospitalizados. 
Nessa direção, Barros (2007) ressalta a falta de preparo mais consistente, 
que prepare esse profissional para o ingresso na realidade hospitalar – esclarecendo 
suas rotinas, dinâmicas de funcionamento e especificidade dos quadros de

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