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P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2012 A importância da ergonomia nos estudos de tempos e movimentos The importance of ergonomics in studies of times and movements 1 Universidade do Vale do Sapucaí – UNIVAS/Pouso Alegre - Departamento de Engenharia de Produção e Tecnologia em Gestão da Produção Industrial 2 Universidade do Vale do Sapucaí – UNIVAS/Pouso Alegre - Departamento Administração de Empresas lubrsilveira@hotmail.com; eleine_salustiano@hotmail.com Luciene de Barros Rodrigues Silveira 1 Eleine de Oliveira Salustiano 2 1. INTRODUÇÃO Com a globalização têm sido evidentes os esforços no ambiente empresarial em busca de melhores desempenhos em termos de qualidade e produtividade. Nesse contexto, as boas condições de trabalho vêm gradualmente sendo reconhecido como um dos elementos essenciais para que as organizações cumpram suas metas básicas de custo, prazo e atendimento às exigências do mercado. Conforme a Previdência Social (2010), as estatísticas de acidentes e doenças nos ambientes laborais retratam a necessidade da intensificação no conhecimento da ergonomia como fator de extrema RESUMO: As mudanças no cenário da produção nos últimos 20 anos trouxeram grandes desafios com relação ao entendimento dos fenômenos que direta e indiretamente afetam o trabalho das pessoas. Precisamente, trata-se de uma mudança organizacional que diz respeito às condições de trabalho, que nada mais é do que a ergonomia. A ergonomia vem assumindo um papel de destaque na concepção de modernos ambientes de trabalho, que envolvem a relação do homem com as diversas tecnologias presentes nesses ambientes e as necessidades de qualidade, de produtividade e de redução de custos inerentes à produção. Todo esse destaque é devido ao aumento dos acidentes relacionados ao ambiente de trabalho, na maioria das vezes esses acidentes é decorrente de imprudência do trabalhador ou até mesmo de más condições de trabalho. Este artigo traz uma retrospectiva do histórico e do conceito da ergonomia como também do estudo de movimentos e de tempos, tendo como objetivo mostrar que esses conceitos antigos estão sendo bastante destacados na atualidade. Para obter as referências necessárias ao entendimento do tema, este artigo foi baseado em um denso diagnóstico bibliográfico de autores consagrados que tratam do tema em questão. Palavras-chave: Ergonomia; Estudo de movimentos; Estudos de tempos. ABSTRACT: Alterations in the production in the last 20 years have brought significant challenges with regard to the understanding of phenomena that directly and indirectly affect people's work. Precisely, it is an organizational change with regard to working conditions, which is nothing more than ergonomics. Ergonomics has assumed a prominent role in the design of modern work environments that involve the relationship of man with the various technologies present in these environments and the needs of quality, productivity and reducing costs of production. All this attention is due to an increase in accidents related to work environment, most often these accidents are caused by carelessness of the worker or even poor working conditions. This article presents a retrospective of the history and the concept of ergonomics as well as the study of movement and time, aiming to show that these old concepts are being widely deployed today. Analyze what is the importance of ergonomics and its benefits in the study of movement and time. Also warns us of the importance of jobs suitable to increase the comfort and well-being of workers, not to mention that by providing suitable environments, therefore, will increase your productivity. Keywords: Ergonomics; Study of movements; Studies of time. 72 Silveira e Salustiano P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2012 importância para as organizações. A ergonomia é defendida como o “estudo do trabalho a não ser enquanto abordagens ou explicações mais ou menos superficiais, que devem ser mais cedo ou mais tarde aglutinadas num todo mais global e coerente” (MENDES, 2003, p. 1778). A tendência atual para o aumento da eficiência em todos os tipos de trabalho despertou interesse generalizado no estudo de movimentos e de tempos, esse estudo ganhou notoriedade quando Taylor percebeu que onde quer que se execute um trabalho manual existe sempre a necessidade de se encontrar o meio mais econômico de ser executada a tarefa e de determinar o tempo-padrão em que a mesma pode ser realizada. O objetivo de Taylor era obter o máximo de rendimento do homem no trabalho. O objetivo desse artigo é fazer com que as empresas percebam que proporcionar postos de trabalhos que atendam as necessidades dos trabalhadores é uma tendência que se firma cada vez mais, avançando em múltiplos setores e longe de representar um caminho momentâneo. E que o estudo de tempos e de movimentos foi um agravante para que as organizações adaptassem seus postos de trabalho as necessidades de seus trabalhadores, com o intuito de aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos e/ou serviço. Espera-se também que os acadêmicos e/ou pesquisadores utilizem esse artigo como uma fonte de pesquisa a fim de enriquecer e aprimorar seus conhecimentos. Segundo Marconi e Lakatos (2009), a pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc. até meios de comunicação oral. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que já foi escrito sobre determinado assunto. Para Severino (2010, p. 122): A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livro, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Portanto a metodologia utilizada para a realização deste artigo foi a da pesquisa exploratória com a finalidade de proporcionar maior familiaridade com o tema em questão. O levantamento de dados relevantes à pesquisa foi elaborado através de bibliografias, ou seja, a partir de material já elaborado, constituído de livros, sites e artigos científicos. Foram adotados autores consagrados, que possuem uma vasta experiência sobre o assunto abordado, tais como: Barnes, Iida, Dul e Weerdmeester como referência básica e autores/livros que abordem o tema e/ou afins como referência complementar. 2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ERGONOMIA A ergonomia, é considerada uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana, necessita de uma abordagem ampla em seu campo de ação. A ergonomia antes era aplicada exclusivamente na indústria e se concentrava no binômio homem- máquina. Esse conceito cresceu de uma forma impressionante neste último século e sua área de abrangência tornou-se bastante ampla estudando sistemas complexos, onde dezenas ou até mesmo centenas de homens, máquinas e matérias interagem continuamente entre si, na realização de um trabalho (IIDA, 2005). Másculo (2008) enfatiza que a ergonomia é uma disciplina de orientação sistêmica que atualmente estende-se por todos os aspectos da atividade humana. Dessa maneira Dul e Weerdmeest (2004, p. 2), acrescentam que: A ergonomia difere de outras áreas do conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada. O caráter interdisciplinar significa que a ergonomia se apóiaem diversas áreas do conhecimento humano. Já o caráter aplicado configura-se na adaptação do posto de trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador. 2.1. Origem e evolução Estabelecer as origens de uma disciplina é sempre uma tarefa complicada. O seu reconhecimento social, por meio da prática, e o seu reconhecimento institucional, por meio da criação de centros de ensino e de pesquisa, são quase sempre o resultado de um longo período de estudo e desenvolvimento. No entanto é interessante expressar de forma breve a reconstituição histórica da ergonomia a fim de tornar mais clara seu entendimento na atualidade. A importância da ergonomia nos estudos de tempos e movimentos 73 Derivado do grego ergon (trabalho) e nomos (leis/regras) seria então, a ergonomia o estudo das leis que regem o trabalho, a ergonomia promove uma abordagem holística (do grego holos = totalidade), na qual são considerados fatores físicos, cognitivos, sociais, organizacionais e ambientais. Para Dias Júnior [200?, p. 1]: A ergonomia no seu processo evolutivo enquanto disciplina científica incorpora atividades de caráter sistêmico e interdisciplinar, pois, ao tratar das condições de trabalho humano tem que dar conta de dimensões múltiplas na sua avaliação. O termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857 pelo polonês Woitej Yastembowky. Ele publicou um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza” (BARBOSA FILHO, 2010). De acordo com Másculo (2008), Woitej Yastembowky propôs uma disciplina com um escopo bastante extenso e com grande magnitude de interesses e aplicações, englobando todos os aspectos da atividade humana. A partir da Revolução Industrial é que se ressentiu da falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e o operador humano, o que se tornou questão estratégica de vital importância na II Guerra Mundial. Dul e Weerdmeester (2004, p. 1) apontam que: A ergonomia desenvolveu-se durante a II Guerra Mundial (1939-45). Pela primeira vez, houve uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia, ciências humanas e biológicas para resolver problemas de projeto. Médicos, psicólogos, antropólogos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço interdisciplinar foram gratificantes, a ponto de serem aproveitados pela indústria, no pós-guerra. Posteriormente, em 1949, foi criada na Inglaterra, a pioneira sociedade de ergonomia: a Ergonomics Research Society (ERS), que congregava psicólogos, engenheiros e fisiologistas com a pretensão de expressar o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho. Em 1957, surge nos EUA a Human Factors Society e em 1961 foi criada a Associação Internacional de Ergonomia (IEA), que atualmente representa as associações de ergonomia de 40 diferentes países, com um total de 19 mil sócios. Em 1970, realizou-se, em Estrasbrurgo, Áustria, o I Congresso Internacional de Ergonomia. Já em 1983, foi criada a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), entidade que congrega os profissionais nacionais com interesse na temática e que realiza encontros bienais para promovê-la por todo o Brasil, sendo ela também filiada a IEA. Em 1998, foi lançado o Núcleo de Ergonomia Aplicada do Recife (NEAR), cuja perspectiva é tornar-se o centro de referência estadual sobre as temáticas relacionadas à saúde, segurança do trabalho e correlatas (BARBOSA FILHO, 2010; MÁSCULO, 2008). Segundo Barbosa Filho (2010, p. 73): A ergonomia é tão antiga quando a própria existência humana, pois surgiu da necessidade concreta [...]. Quando o homem percebeu que com um tacape que se conformava bem à sua mão, poderia caçar e se defender melhor dos predadores – animais e outros homens, embora não tivesse idéia do que fazia, sem notar ou saber, exerceu a ergonomia. Quando vemos nas ruas um gari que, para reduzir o seu cansaço ao final do dia, alonga o cabo de sua vassoura com um pedaço de cano, intuitivamente também exerce a ergonomia. E assim surgem boas soluções, especialmente com aqueles que conhecem em detalhes o que realizam, cujo conhecimento jamais deve ser desprezado. 2.2. Conceituando ergonomia e suas necessidades De forma clara e objetiva procura-se nesse momento dar uma explicação de forma bem sucinta do que se compreende a ergonomia. Nesse contexto “as definições de ergonomia são marcadas por uma visão do trabalho centrada sobre a mobilização física do ser humano” (FALZON, 1996, p. 2). Ergonomia é o estudo do trabalho em relação ao ambiente em que é desenvolvido e com quem o desenvolve (trabalhador). A ergonomia nada mais é do que adequar ou adaptar o local de trabalho ao trabalhador, visando evitar acidentes ou doenças profissionais (OLIVEIRA NETTO; TAVARES, 2006). Dul e Weerdmeester (2004, p. 2) assinalam que: A ergonomia estuda vários aspectos: a postura e os movimentos corporais (sentados, em pé, empurrando, puxando e levantando cargas), fatores ambientais (ruídos, vibrações, iluminação, clima, agentes químicos), relações entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas (tarefas adequadas, interessantes). As conjugações adequadas desses fatores permitem projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. 74 Silveira e Salustiano P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2012 Nesse ponto Másculo (2008), menciona que o conselho da IEA adotou a definição de ergonomia como sendo uma disciplina científica interessada na compreensão das interações entre os humanos e outros elementos de um sistema, chegando à conclusão que esse campo objetiva aumentar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema. Por sua vez Barbosa Filho (2010, p. 69), afirma que a: Ergonomia é o termo designativo da aplicação multidisciplinar de conhecimento que trata de uma série de cuidados que envolvem o homem e as particularidades inerentes a cada tarefa que realiza na condição de trabalho, observadas as características e limitações individuais. Para tanto, esse trabalho deve ser entendido em sua forma mais ampla, não apenas relacionado ao esforço físico, mas em todas as suas dimensões. Só assim serão plenamente atingidos os objetivos de potencializar os resultados desse trabalho e de minimizar o esforço, o desgaste e os possíveis danos à integridade da saúde humana proveniente dessa condição. “Ergonomia: a ciência do conforto humano, a busca do bem-estar, a promoção da satisfação no trabalho, a maximização da capacidade produtiva e a segurança plena” (BARBOSA FILHO, 2011, p.70). “A ergonomia é um conjunto de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das relações entre o homem e a máquina. Sua aplicação serve também para minimizar os acidentes de trabalho” (OLIVEIRA NETTO; TAVARES, 2006, p. 12). Dul e Weerdmeester (2004) definem a ergonomia como sendo uma ciência aplicada ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas. Por fim, entende-se que a ergonomia nada mais é do que agrupar conhecimentos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados de forma mais confortável possível, levando em consideração a segurança e a eficiência ao trabalhador. A necessidade do estudo da ergonomia é decorrente das máquinas complexas e de sua utilização, o aumento da velocidade dos carros e aviões, a utilização de sofisticados aparelhos eletrônicos e computadores, o problema do ruído, da vibração, as condições térmicas do ambiente de trabalho e os trabalhos em série têm levado o trabalhador rapidamente à fadiga, os acidentes, os baixos rendimentos, asneuroses profissionais e as doenças psicossomáticas. Tudo isso incentivou o estudo da adaptação do trabalho ao homem (MINICUCCI, 1995, p.97). No mesmo contexto Dul e Weerdmeester (2004), relatam que com projetos de trabalhos inadequados e as situações cotidianas, as condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são algumas das situações que fizeram com que o estudo da ergonomia tenha sido intensificado. Falar de ergonomia, nada mais é do que falar de condições adequadas de trabalho, pois, o estudo da ergonomia é encontrar a melhor forma para que o trabalhador realize uma determinada tarefa, sem causar nenhum desconforto para si mesmo. 2.3. Objetivos da ergonomia Na perspectiva de Dul e Weerdmeester (2004), a ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas, tendo como objetivo melhorar a segurança, a saúde, o conforto e a eficiência no trabalho. Falando sobre a ergonomia Minicucci (1995, p. 97), demonstra que seu objetivo é estudar: • As características materiais do trabalho, como o peso dos instrumentos, a resistência dos comandos, a dimensão do posto de trabalho; • O meio ambiente físico (o ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico); • A duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho; • O modelo de treinamento e aprendizagem, e; • As lideranças e ordens dadas. O objetivo da ergonomia é proporcionar ao homem condições de trabalho que sejam favoráveis, com o intuito de torná-lo mais produtivo por meio de ambiente de trabalho saudáveis e seguros, que solicite dos trabalhadores menor exigência e, por consequência, concorra para um menor desgaste e um maior resultado (BARBOSA FILHO, 2010). A importância da ergonomia nos estudos de tempos e movimentos 75 O objetivo da ergonomia está voltado ao estudo das condições de trabalho que não apenas evitem a degradação da saúde, mas, também, favoreçam a construção da saúde. Esta perspectiva ativa é incapaz de ser focalizada prioritariamente pela ergonomia. Na maioria das vezes, ela é focalizada sobre uma visão instantânea do indivíduo (FALZON, 1996). Vale ressaltar a opinião de Barnes (1977), sobre o objetivo da ergonomia, ele afirma que a ergonomia pode ser definida como sendo o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Tendo como objetivo principal o estudo do ser humano, suas habilidades e limitações. A partir dessas informações se torna fácil identificar quais são as ferramentas, materiais e métodos de trabalho que melhor atendem as necessidades dos trabalhadores. O objetivo da ergonomia segundo Ernest (1957 apud BARNES, 1977, p. 169) é o estudo: Da adaptação das tarefas e do ambiente de trabalho às características sensoriais, perceptivas, mentais e físicas das pessoas. Essa adaptação leva a consecução de melhores projetos de equipamentos, de sistemas homem-máquina, de produtos de consumos, de métodos e ambientes de trabalho. De acordo com Daniellou e Nael (1995 apud MASCIA; SZNELWAR, 2010, p. 149): A melhoria das condições de trabalho e o projeto de dispositivos técnicos adaptados às características do homem, com base em critérios ergonômicos, têm um duplo objetivo. O primeiro refere-se ao conforto e a saúde dos operadores. Trata-se de evitar os riscos de acidentes e de doenças ligadas ao trabalho e de procurar diminuir, tanto quanto possível, todas as fontes de fadiga, sejam elas associadas ao metabolismo do corpo humano (trabalho em turnos, trabalho em altas temperaturas), à força muscular e das articulações, ou a exigências cognitivas do trabalho (tratamento de informação, resolução de problemas). O segundo objetivo da ergonomia visa à eficiência na utilização de produto ou na operação de um sistema de produção, que pode ser comprometida por exigências inadequadas ou excessivas das funções humanas. “O objetivo da ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Seu objetivo central é o estudo do homem, suas habilidades, capacidades e limitações” (FRANCISCHINI, 2010, p. 131). A ergonomia tem como objetivo primordial alavancar a eficiência do trabalhador em seu ambiente de trabalho, adaptando e desenvolvendo ferramentas que satisfaçam as necessidades do trabalhador em harmonia com os processos produtivos. Assim como a segurança do trabalho a ergonomia busca a proteção do trabalhador com o ambiente de trabalho. Resumidamente a ergonomia busca proporcionar ao homem o estreito equilíbrio entre si mesmo, o seu trabalho e o ambiente ao qual este é realizado. 2.4. Projeto ergonômico no posto de trabalho O posto de trabalho nada mais é do que a junção do sistema homem-máquina-ambiente. É uma unidade envolvendo um homem e o equipamento que ele utiliza para realizar seu trabalho, como também o ambiente que o trabalhador se encontra. Naturalmente para que uma fábrica/empresa funcione bem, é imprescindível que cada posto de trabalho funcione da melhor forma possível. Existem dois enfoques para analisar o posto de trabalho: o taylorista e o ergonômico. Portanto nesse momento será abordado o enfoque do posto de trabalho ergonômico. O enfoque ergonômico é baseado na análise biomecânica da postura e nas interações entre o homem, sistema e ambiente (IIDA, 2005). Para Martins e Laugeni (2005), o enfoque ergonômico preocupa-se em como a pessoa se relaciona com os aspectos físicos de seu local de trabalho, incluindo mesas, cadeiras, escrivaninhas, máquinas, computadores etc. O enfoque ergonômico tende a desenvolver postos de trabalhos que reduzem as existências biomecânicas e cognitivas, procurando colocar o operador em uma boa postura de trabalho. Os objetivos a serem manipulados ficam dentro da área de alcance dos movimentos corporais. As informações colocam-se em posições que facilitem a sua percepção (IIDA, 2005). Posto de trabalho consiste em proporcionar de forma adequada todos os materiais necessários para a realização da tarefa de forma confortável, eficiente e principalmente com segurança. Um modelo típico de como o posto de trabalho dever ser será mostrado na Figura 1, que corresponde a uma usina nuclear e seu operador. A fim de tornar o entendimento mais fácil, a Figura 2 mostra um posto de trabalho adequado. 76 Silveira e Salustiano P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2012 Figura 1 – Posto de trabalho de um centro de controle operacional de uma usina nuclear. Fonte: Iida (2005). Figura 2 – Ergonomia ideal no ambiente do escritório. Fonte: ENGTRAB (2005). No mesmo contexto Martins e Laugeni (2005), relatam que o trabalho e o local de trabalho devem se adequar ao homem e não o contrário. Um posto de trabalho corresponde ao local onde as atividades são executadas. Os materiais necessários para a realização das atividades devem estar ao alcance do trabalhador, como forma de evitar esforços desnecessários e também como uma forma de tornar mais ágil a atividade. Com todos os materiais ao alcance do trabalhador ele não precisará sair do seu posto de trabalho para buscar. De forma a ilustrar o conceito acima a Figura 3 deixa claro qual seria a disponibilização dos materiais adequadamente. No posto de trabalho ergonômico, as máquinas, equipamentos, ferramentas e materiais são adaptados às características do trabalho e a capacidade do trabalhador, objetivando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o estresse geral. Assim, pode-se garantir a satisfação, a segurança do trabalhador, a eliminação de tarefas repetitiva e o aumento da produtividade. A importância da ergonomia nos estudos de tempos e movimentos 77 Figura 3 – Área de alcances ótimos e máximos na mesa Fonte: Lima (2011). A grande dificuldade do enfoque ergonômicoé a variedade das dimensões da população, o que causa uma inadequação dos postos de trabalho, ocasionando esforços musculares estáticos e movimentos exagerados dos membros (braços, ombros e pernas) e do tronco. O objetivo do posto de trabalho é a perfeita adaptação das máquinas e equipamentos ao trabalhador, de modo a reduzir as posturas e movimentos desagradáveis, minimizando os estresses musculares. 2.5. Projeto ergonômico no ambiente O projeto ergonômico no ambiente envolve como uma pessoa relaciona-se com as condições ambientais de sua área de trabalho. Projeto ergonômico no ambiente refere-se a temperatura, iluminação, barulho etc. Slack et al. (1999, p. 218), relata que: O ambiente imediato no qual o trabalho acontece pode influenciar a forma como ele é executado. As condições de trabalho que são muito quentes ou frias, insuficientemente iluminadas, ou excessivamente claras, barulhentas ou irritantemente silenciosas. Todas vão influenciar a forma como o trabalho é levado avante. Para Martins e Laugeni (2005, p. 105), as principais condições que um bom ambiente de trabalho deve possuir são: • Temperatura: entre 20ºC e 24ºC; • Umidade relativa: entre 40% e 60%; • Ruído: até 80 decibéis não se observam danos ao aparelho auditivo do trabalhador, podendo haver danos a partir deste nível; • Iluminação: a iluminação pode variar em função do tipo de trabalho realizado, mas seja qual for o local de trabalho recomenda-se um mínimo de 300 lux como iluminação mínima de escritórios, 400 a 600 lux para trabalhos normais e 1.0000 até 2.000 lux para execução de trabalho de precisão. Note-se que não adianta ultrapassar os 2.000 lux, pois, não haverá melhora para o operador, podendo existir fadiga visual para níveis de iluminação acima de 2.000 lux. 3. ESTUDOS DE MOVIMENTOS E TEMPOS 3.1. Histórico Os termos estudos de tempos e estudos de movimentos receberam diversas interpretações desde sua origem. O estudo de tempos, introduzido por Taylor, foi usado principalmente na determinação de tempo- padrão, Taylor partia do pressuposto de que o trabalho precisava ser cientificamente observado de modo que, para cada tarefa, fosse estabelecido o método correto de executá-la, com um tempo determinado para que resultasse no maior aproveitamento em menor espaço de tempo, poupando assim o trabalhador, depois de calculado o tempo-padrão esse deveria ser seguido por todos os trabalhadores (BARNES, 1977; RIBEIRO, 2006; IIDA, 2005). No mesmo contexto Rocha (1995), menciona que ao final do século XIX, trabalhando em uma mineradora, Taylor teve sua atenção voltada para o serviço que alguns operários realizavam com uma pá. Taylor notou que alguns operários rejeitavam as pás oferecidas pela empresa, utilizando suas próprias pás em função da capacidade física de cada operário. Com base nessa observação, Taylor começou seus estudos 78 Silveira e Salustiano P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2012 cronometrando e identificando qual a quantidade e em quanto tempo uma pessoa realizava aquela tarefa. Concluindo que ao adaptar os equipamentos em função de cada operário a tarefa seria realizada de forma a aumentar a produtividade em um tempo predeterminado. Já o estudo de movimentos foi desenvolvido por Gilbreth, com o intuito de melhorar os métodos de trabalho. Taylor se empenhou em auxiliar os trabalhadores a alcançar o máximo de produção com o mínimo de esforço, com isso passou a empregar o estudo de movimento e de tempos o que viria mais tarde a fazer a fama de Gilbreth. Taylor e Gilbreth desenvolveram seus trabalhos na mesma época, porém, o que mais se destacou foi o estudo de tempos (Taylor). Somente em 1930 se iniciou conjuntamente o estudo de movimentos e de tempos, um completando o outro. Segundo Ribeiro (2006, p. 30): Os primeiros estudos de movimentos foram realizados por Vauban, nos idos de 1729, em serviços de terraplenagem. Mas o verdadeiro EMT começou mesmo com Taylor. Ganhou impulso com Gilbreth, Frank e Lilian, na primeira década do século XX, seguidos por Barnes e Maynard, com seus estudos, trouxeram à luz novos elementos. 3.2. Definição Estudos de movimentos e de tempos “é o estudo que visa racionalizar o trabalho e alcançar a otimização da relação tempo-esforço, procurando identificar os melhores movimentos e tempos na execução de uma tarefa” (RIBEIRO, 2006, P. 30). Barnes (1977) conceitua o EMT – Estudos de movimentos e de tempos, como sendo um estudo metódico do sistema de trabalho com o objetivo de projetar e padronizar o melhor método de trabalho, gerar menor custo e determinar o tempo gasto por uma pessoa qualificada e devidamente treinada, trabalhando em um ritmo normal, para executar uma operação específica. O estudo de movimentos e de tempos é o estudo sistemático dos sistemas de trabalho, e utiliza-se dos seguintes instrumentos: fluxograma, cronômetro, filmagem, observação direta e os gráficos (RIBEIRO, 2006). Seguindo a mesma linha de pensamento Martins e Laugeni (2005), determinam que os métodos mais utilizados atualmente para a determinação dos tempos de produção, são: cronômetro de hora centesimal; filmadora, folha de observações e prancheta para observações. Já Francischini (2010) considera apenas a cronometragem, a amostragem e o tempo predeterminado como sendo as técnicas utilizadas para a determinação do tempo-padrão. Porém, “no estudo de movimentos e de tempos, a principal ferramenta é o cronômetro – usado na medição do tempo” (ROCHA, 1995, p. 153). Ribeiro (2006) menciona algumas recomendações com o EMT: regras e critérios a serem observados. 1. Uso do corpo humano: • As mãos devem começar e terminar seu trabalho ao mesmo tempo; • A quantidade de movimentos a ser realizada deve ser a menor possível; e • O ritmo do trabalho deve ser natural. 2. Local de trabalho: • Ferramenta e materiais devem estar próximos; • Uso da gravidade para escoamento. Rocha (1995) salienta que sob a ótica de racionalização, visando encontrar meios mais simples de o homem realizar seu trabalho Gilbreth enumerou alguns princípios de simplificação dos movimentos, sintetizados a seguir: • Os dois braços devem iniciar e terminar seus movimentos juntos; A importância da ergonomia nos estudos de tempos e movimentos 79 • Movimentos suaves e contínuos são os perfeitos. Movimentos descontínuos e lineares com muitas mudanças devem ser evitados; • Uma mão não deve ficar parada enquanto a outra está trabalhando, sendo ideal que ambas comecem e terminem os movimentos juntas; • Uso da energia de movimentos (impulso); • A execução das operações deve seguir um ritmo suave, automático e natural; • Tarefas que possam ser realizadas pelos pés devem aliviar tarefas que são atribuídas às mãos; • As mãos devem ser mantidas em posição confortável, • O ritmo de execução das tarefas deve ser contínuo. Preferencialmente, o corpo não deve ter movimentos. • Pessoas que utilizam visão além do habitual não podem trabalhar continuamente. Nesse caso é aconselhável efetuar rodízio na função. 3.3. Finalidade Quando se deu o início dos estudos de movimentos e de tempos, sua finalidade era o de estudar o trabalho com o objetivo de descobrir métodos melhores e mais simples de executar uma tarefa, hoje a finalidade é mais ampla, tendo como objetivo determinar o método ideal ou o que mais se aproxima do ideal para ser usado na prática. Martins e Laugeni (2005) relatam que a: A eficiência e os tempos padrões de produção são influenciados pelo tipo do fluxo de material dentro da empresa, processo escolhido, tecnologia utilizada e características do trabalho que está sendo analisado [...]. As medidas de tempos padrões de produção são dados importantes para:• Estabelecer padrões para os programas de produção para permitir o planejamento da fábrica, utilizando com eficiência os recursos disponíveis e, também, para avaliar o desempenho de produção em relação ao padrão existente; • Fornecer os dados para a determinação dos custos padrões, para levantamento de custos de fabricação, determinação de orçamento e estimativas do custo de um produto novo; • Fornecer dados para o estudo de balanceamento de estruturas de produção, comparar roteiros de fabricação e analisar o planejamento de capacidade (p. 84). Pode-se verificar que para o estudo de movimentos e de tempos, o homem é considerado o elemento essencial na relação homem-máquina, tendo como principal objetivo encontrar o melhor método para executar uma tarefa em um determinado tempo, com o intuito de aumentar a produtividade, reduzir ou até mesmo eliminar o tempo ocioso e o trabalho desnecessário. 4. CONCLUSÃO O estudo proposto neste artigo, tendo como foco a ergonomia nos estudos de movimentos e de tempos, teve como objetivo mostrar a importância dessas vertentes no ambiente laboral. Fica evidente que as inovações no ambiente laboral vêm ocasionando consideráveis mudanças no trabalho, levando as organizações a rever a relação homem-máquina-ambiente e adaptar os postos de trabalhos para proporcionar um local confortável e que traga bem-estar aos trabalhadores que neles atuam. No decorrer deste artigo procurou-se expor de forma breve os benefícios da ergonomia e o estudo de tempos e movimentos, que contribui na análise de postos de trabalhos evitando métodos impróprios na execução das atividades, facilitando a adequação ergonômica dos trabalhadores. Tempos e movimentos corretos, podem diminuir a ocorrência de acidentes, fator que vem causando muitas preocupações no ambiente empresarial, melhorando a produtividade e a qualidade do produto e/ou serviço. REFERÊNCIAS BARBOSA FILHO, A. 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