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CICLO 2MÓDULO COORDENADORA GERAL: CARMEN ELIZABETH KALINOWSKI DIRETORAS ACADÊMICAS: JUSSARA GUE MARTINI VANDA ELISA ANDRES FELLI P R O ENF | P o r t o A l e g r e | C i c l o 1 | M ó d u l o 2 | 2 0 0 6 PROENF PROGRAMAS DE ATUALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM SAÚDE DO ADULTO Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. E quem não estiver inscrito no Programa de Atualização em Enfermagem (PROENF) não poderá realizar as avaliações, obter certificação e créditos. Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Nacional SGAN, Conjunto “B”. CEP: 70830-030 - Brasília, DF Tel (61) 3226-0653 E-mail: aben@nacional.org.br http://www.abennacional.org.br Artmed/Panamericana Editora Ltda. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670. Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS – Brasil Fone (51) 3025-2550 – Fax (51) 3025-2555 E-mail: info@sescad.com.br consultas@sescad.com.br http://www.sescad.com.br Os autores têm realizado todos os esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material utilizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de na primeira oportunidade reparar as falhas ocorridas. As ciências da saúde estão em permanente atualização. À medida que as novas pesquisas e a experiência ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamentos farmacológicos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para assegurar-se de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de um erro humano ou de mudanças nas ciências da saúde, nem os autores, nem a editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste trabalho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omissões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Por exemplo, e em particular, recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de cada fármaco que lanejam administrar para certificar-se de que a informação contida neste livro seja correta e não tenha produzido mudanças nas doses sugeridas ou nas contra-indicações da sua administração. Esta recomendação tem especial importância em relação a fármacos novos ou de pouco uso. 117 PR OE NF SE SC AD CUIDADOS DE ENFERMAGEM AOS PORTADORES DE LESÕES CUTÂNEAS ELINE LIMA BORGES Enfermeira Estomaterapeuta. Professora Doutora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais INTRODUÇÃO Para os profissionais que atuam no atendimento a pacientes portadores de ferida é imprescindível conhecer a fisiologia da cicatrização, bem como os fatores sistêmicos e locais que interferem nesse processo. Para isso, o profissional deve fazer a avaliação do paciente e de sua ferida e acompanhar a evolução da cicatrização, norteada por princípios objetivos que auxiliem na implantação e na implementação do tratamento. As técnicas de cuidados com feridas têm sido registradas desde os tempos antigos pelos egípcios e gregos. Muitas dessas práticas foram baseadas em filosofia individual e dirigidas pelas necessidades do momento, como o tratamento de feridas de soldados durante as guerras. A partir do século XX, trabalhos de pesquisa foram elaborados visando não apenas a identificar o melhor tratamento, mas também a alcançar uma melhor compreensão do processo de cicatrização, entendido como bastante complexo. A compreensão do processo de cicatrização de feridas, em especial as localizadas na pele, é essencial na tomada de decisão do cuidar e na avaliação dos resultados alcançados. OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de: ■■■■■ sistematizar conhecimentos sobre a anatomia e a fisiologia da pele e o processo de cicatrização fisiológico; ■■■■■ estar a par dos conceitos e discussões sobre terapia tópica, incluindo a limpeza das lesões; ■■■■■ instrumentalizar-se quanto à indicação das coberturas. Destacam-se, neste capítulo, os cuidados a ser implementados aos pacientes portadores de úlceras por pressão e úlceras venosas de perna, amparados em diretrizes nacionais e internacionais. 118 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S ESQUEMA CONCEITUAL Cuidados de enfermagem aos portadores de lesões cutâneas Anatomia e fisiologia da pele Fase inflamatória ou defensiva Processo de cicatrização Fase proliferativa ou fibroblástica Fase de maturação ou remodelação Úlcera por pressão Lesões crônicas Avaliação de risco e implementação de condutas Recomendações para prevenção de úlcera por pressão em adultos em risco Recomendações para tratamento de úlcera por pressão Recomendações para tratamento de úlcera venosa de perna Úlcera venosa da perna Limpeza das feridas Terapia tópica Indicação de coberturas Filme de poliuretano Hidrocolóide Hidrofibra Espuma Alginato de cálcio Prata Carvão com prata Hidrofibra com prata Espuma com prata Prata nanocristalina Conclusão 119 PR OE NF SE SC ADANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE A pele, além de sua importância como cobertura cosmética, intimamente envolvida no conceito que temos sobre nós mesmos e de como os outros interagem conosco, também tem como importante papel a função de defesa do organismo.1 Assim, a pele tem como principais funções proteger o corpo de agressões externas, absorver e excretar líquidos, regular a temperatura, absorver luz ultravioleta, metabolizar vitamina D, detectar estímulos sensoriais, servir de barreira impedindo a penetração de microrganismos. Histologicamente, a pele é formada por três estruturas tissulares: ■■■■■ epiderme ou camada externa; ■■■■■ derme ou córion; ■■■■■ hipoderme ou tecido celular subcutâneo ou tecido adiposo. A epiderme é a camada superficial da pele com espessura em torno de 0,05mm, sendo mais espessa (6mm) nas regiões plantares e palmares. É constituída por epitélio ceratinizado, escamoso e estratificado e avascular. Essa camada está constantemente sendo renovada em um processo que dura, em média, 60 dias. Do ponto de vista funcional, o estrato córneo e o basal são considerados os mais importantes, pois o primeiro é responsável pela manutenção da integridade da pele, e o segundo produz as células que permitem o crescimento das demais camadas.2 O estrato córneo constitui uma barreira muito efetiva que previne a entrada de microrganismos e substâncias químicas do meio externo e a perda de água do organismo. Este estrato contém lipídeos entre suas camadas, o que mantém um ótimo nível de hidratação pela regulação dos níveis de fator natural de umidade, uma mistura heterogênea de componentes higroscópicos. Qualquer alteração nessa camada pode permitir a entrada de patógenos ou de irritantes do ambiente.2 A derme origina-se no mesoderma. É a camada intermediária da pele e dá estrutura de suporte a esse órgão. É constituída por denso tecido fibroso e elástico, no qual se situam os nervos e os vasos. A principal célula da derme é o fibroblasto, que é responsável pela produção de seus elementos e é muito importante no processo da cicatrização. Sua principal proteína é o colágeno, essencial no processo de formação do tecido de granulação na fase proliferativa do processo de cicatrização. O colágeno é sintetizado pelos fibroblastos. A derme possui, ainda, outras células, como histiócitos, macrófagos, linfócitos e mastócitos, que também atuam no processo de cicatrização, principalmente na faseinflamatória. A terceira estrutura da pele é formada pelo tecido celular subcutâneo ou hipoderme, originado do mesoderma. É a camada mais profunda da pele e é constituída por adipócitos (agrupamento de células adiposas) separados por tecido conectivo. Atua como isolante térmico e reserva nutritiva. Comporta-se como um amortecedor para os traumatismos externos, sustentando todas as camadas da pele.1 120 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S As estruturas anatômicas da pele estão apresentadas na Figura 1. A pele produz secreção sebácea, que atua como lubrificante, emulsificador, e forma o manto lipídico da superfície cutânea que tem atividade antibacteriana e antifúngica. A pele excreta água e eletrólitos e, sob a ação da luz solar, sintetiza a vitamina D, que tem efeitos sobre o metabolismo do cálcio e dos ossos. Atua também como órgão sensorial vital para a percepção de pressão, de dor e de temperatura, bem como participa da termorregulação.2 1. Caracterize os seguintes componentes da pele: A) Epiderme ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ B) Derme ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ C) Hipoderme ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 2. De que maneiras a pele cumpre seu papel de proteção do organismo? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Figura 1 – Estruturas anatômicas da pele Fonte: BORGES, E. L.; SAAR, S. R. C.; LIMA, V. L. A. N.; GOMES, F. S. L.; MAGALHÃES, M. B. B. Feridas: como tratar. Belo Horizonte: Coopmed, 2001 Pêlo Glândula sebácea Músculo eretor do pêlo Glândula sudorípara Folículo piloso Terminação nervosa Células adiposas Epiderme Derme Hipoderme 121 PR OE NF SE SC ADPROCESSO DE CICATRIZAÇÃO Pode-se considerar que a ferida é uma ruptura na pele, na membrana mucosa ou em qualquer outra estrutura do corpo causada por agente físico, químico ou biológico. Conforme a intensidade do trauma, a ferida pode ser considerada superficial, afetando apenas as estruturas da superfície, ou grave, envolvendo vasos sangüíneos mais calibrosos, músculos, nervos, fáscias, tendões, ligamentos ou ossos. As feridas da pele são rupturas estruturais e fisiológicas do tegumento que estimulam respostas reparadoras. Elas podem ser extremamente dolorosas, devido às extremidades dos nervos sensitivos da pele, e apresentar sangramentos intensos, em função da proximidade de áreas de intensa vascularização, como nas mãos ou no couro cabeludo.1 Os eventos químico, físico e biológico que ocorrem durante o processo de cicatrização, independentemente de sua natureza, podem variar de intensidade de um tecido para outro, tanto nas fases iniciais quanto no resultado final. Esse processo tem início no momento exato em que se dá o trauma, mas não se completa até que os fatores desencadeantes da lesão tenham sido neutralizados. O processo de cicatrização é caracterizado por três fases: ■■■■■ fase inflamatória ou defensiva; ■■■■■ fase proliferativa ou fibroblástica; ■■■■■ fase de maturação ou remodelação. Simultaneamente às três fases que constituem o processo de cicatrização, ele também é demarcado por outras duas etapas:3 ■■■■■ etapa catabólica – caracterizada pela degradação celular intensa; ■■■■■ etapa anabólica – caracterizada pela formação de novas células. FASE INFLAMATÓRIA OU DEFENSIVA A fase inflamatória reparadora é definida como a resposta do organismo à lesão tecidual. Envolve reações neurológicas, vasculares, humorais e celulares, que destroem ou barram o agente lesivo e substituem as células mortas ou danificadas por células sadias. A fase inflamatória caracteriza-se por: ■■■■■ alterações hemodinâmicas; ■■■■■ preenchimento da lesão por sangue; ■■■■■ formação de edema por extravasamento de líquido; ■■■■■ vasodilatação ativa. A resposta inflamatória reparadora envolve uma seqüência de eventos que são superpostos e interdependentes. Inicialmente, o organismo age defendendo-se contra a invasão de agentes externos e a perda de componentes internos, mediante alterações da microcirculação local ou modificação hemodinâmica. Essas ações são iniciadas pelas células lesadas, por meio da liberação de mediadores químicos. 122 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S O sangue extravasado preenche a lesão imediatamente e forma um coágulo de fibrina e de plaquetas que posteriormente se transforma em crosta, evitando a hemorragia e proporcionando um fechamento natural que previne a infecção. Ao mesmo tempo, ocorre a dilatação e o aumento do fluxo sangüíneo nos vasos, bem como o extravasamento de líquido para os tecidos adjacentes. Essas alterações explicam os sinais clínicos iniciais de um ferimento: hiperemia, edema, calor e dor. Logo após o trauma, é desencadeada a vasoconstrição, que dura de 5 a 20 minutos e tem por objetivo interromper a hemorragia e reduzir a exposição da lesão às bactérias. Nessa fase, os vasos de maior diâmetro sofrem contração das camadas musculares lisas, mantendo-se em espasmo. Essa alteração pode ser causada, em parte, por plaquetas que são ativadas pela lesão e secretam substâncias vasoconstritoras. Elas se agregam ao longo do endotélio dos vasos e desencadeiam a formação de coágulo para interromper o sangramento. Durante a formação do coágulo, o sistema proteína plasmática inicia a formação de uma rede fibrinosa. Quando as plaquetas entram em contato com essa rede, por meio de paredes celulares lesadas, tornam-se “pegajosas” e agregam-se às fibrinas, resultando na formação do tampão. A rede de sangue coagulado recobre a ferida, mantendo os microrganismos próximos ao local de maior atividade fagocitária.3 A etapa de vasoconstrição é seguida pela vasodilatação, quando passam a atuar os mediadores bioquímicos, que promovem o aumento da permeabilidade capilar, em especial das pequenas vênulas, permitindo o extravasamento de plasma no local da lesão. Uma variedade de substâncias quimiotáxicas atrai leucócitos para o local lesado nos 20 minutos após o trauma, com o intuito de livrar a ferida de contaminantes e iniciar a restauração do tecido. Os leucócitos migram por meio da parede vascular permeável, penetram no tecido danificado e realizam a fagocitose do material estranho. Os leucócitos polimorfonucleares (PMN) – neutrófilos ou granulócitos – são os primeiros leucócitos a se deslocar para o tecido traumatizado. Predominam nos primeiros três dias, pois sãoimportantes para a remoção de bactérias do local. Posteriormente, os neutrófilos são substituídos por macrófagos, células fundamentais na reparação dos tecidos. A presença contínua de grande quantidade de PMNs pode ser sugestiva de infecção ou ferimento de outro tecido. Nessa etapa, as plaquetas passam a liberar fatores de crescimento que atraem monócitos para a ferida, além de produzir outros fatores de crescimento que regulam a restauração tecidual.3 Na fase inflamatória, ocorre a formação do exsudato inflamatório, rico em fibrinogênio, que se transforma em fibrina. Esta, além das propriedades hemostáticas, forma uma rede em cujas malhas depositam os fibroblastos e fornece um alicerce sobre o qual rolam e assentam as células epiteliais. É importante ressaltar que a fibrina em excesso atua como uma barreira à migração das células. Entretanto, concomitantemente com a deposição de fibroblastos, ocorre o crescimento endotelial, cujas células produzem um fator ativante do plasminogênio que degrada a fibrina. No Quadro 1, apresentam-se os elementos clínicos e celulares da fase inflamatória. 123 PR OE NF SE SC ADQuadro 1 ELEMENTOS CLÍNICOS E CELULARES DA FASE INFLAMATÓRIA FASE PROLIFERATIVA OU FIBROBLÁSTICA A fase proliferativa ou fibroblástica é caracterizada, inicialmente, pela reparação epitelial, que consiste na migração das células epiteliais das bordas da ferida, com o objetivo de formar a ponte epitelial e fechar a área lesada. Nessa fase, também ocorrem o processo de deposição do colágeno, a criação de novos arcos capilares (angiogênese), a formação do tecido de granulação e a contração da ferida. Os macrófagos são células essenciais na transição da fase inflamatória para a fase proliferativa. São eles que produzem fatores de crescimento que atraem fibroblastos para a ferida e os estimulam a se dividirem posteriormente, para produzir fibras de colágeno. As células mesenquimais indiferenciadas, de disposição perivascular (adventícia), amadurecem em fibroblastos, que são as células mais importantes da fase proliferativa. Os fibroblastos, normalmente encontrados em tecidos conjuntivos, são trazidos para a ferida através de vários mediadores químicos e passam a sintetizar e secretar colágeno, elastina e proteoglicanos. Essas substâncias são reconstrutoras do tecido conjuntivo. Inicialmente, o tecido conjuntivo lembra uma geléia, e, com o passar dos meses, são reformadas as linhas de pressão mecânica, aumentando a resistência da ferida.1 Outro fenômeno que ocorre na fase proliferativa é o aumento da formação endotelial. Ele depende, basicamente, da presença de macrófagos, que promovem a neo-angiogênese. Pequenos brotos sólidos de células endoteliais crescem em extensão aos capilares remanescentes da lesão, mantendo o contato íntimo entre si. Eles seguem o trajeto dos fibroblastos, avançando aproximadamente na mesma velocidade desses. Os cordões sólidos de células endoteliais canalizam-se após dois a três dias, permitindo o afluxo de sangue entre as duas margens da ferida. A rede capilar que se forma é exuberante, porque tem múltiplas origens. As células endoteliais formam botões na terminação dos capilares e crescem por meio das feridas. Esse processo de angiogênese produz uma cadeia inter-relacionada de regeneração que, eventualmente, se une para restaurar o sistema capilar da derme.3 Observações clínicas Eritema, calor moderado, edema, dor Atividades celulares Vasoconstrição – plaquetas agregam-se ao longo do endotélio dos vasos lesados, liberam substâncias vasoconstritoras, assim como quimiotáxicas, promovendo o crescimento e produzindo a formação de coágulo de fibrina para prevenir o sangramento excessivo. Vasodilatação – causada pelo estímulo das terminações nervosas sensoriais locais; ação reflexa local e desprendimento de substâncias vasodilatadoras que permitem o extravasamento de plasma na área lesada. Migração de leucócitos – os neutrófilos são atraídos para a lesão, migram por meio das paredes dos vasos para fagocitar bactérias e material estranho. O monócito transforma-se em macrófago, substituindo os neutrófilos. O macrófago inicia o processo de restauração do tecido. 124 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S O conjunto recém-formado é intensamente vascularizado e contém elementos da exsudação inflamatória aguda. Ele é conhecido como tecido de granulação, pois se assemelha a numerosos e diminutos grânulos vermelhos. Ele é composto por uma densa variedade de macrófagos, fibroblastos, novos capilares e arcos em uma matriz de fibronectina, colágeno e ácido hialurônico.3 Outra etapa presente na fase proliferativa é a epitelização, que se inicia ainda quando o tecido de granulação está sendo formado. O primeiro sinal da atividade epitelial é a migração celular a partir das bordas. As células marginais arredondam-se, perdem suas conexões com a vizinhança e destacam-se da membrana basal. As células só se movimentam sobre tecidos viáveis e necessitam de um ambiente úmido para deslizar. Nas feridas abertas, é preciso que a cavidade delas seja preenchida com tecido de granulação antes de a epitelização iniciar-se. A presença de material estranho e a dissecação impedem a regeneração da epiderme. A etapa final da fase proliferativa consiste na contração da ferida, mecanismo por meio do qual as margens do ferimento são unidas em conseqüência das forças existentes em seu interior. Outra função dos fibroblastos é transformarem-se em miofibroblastos, que são células especializadas, com capacidade contrátil e de migração pela área do tecido restaurado. Possuem características peculiares, mas guardam semelhança com os fibroblastos e com as células do músculo liso.3 Os miofibroblastos contêm feixes de fibras paralelas em seu citoplasma, fazendo um entremeio no tecido de granulação recém-formado, facilitando-lhe a contração e auxiliando o fechamento da ferida. A etapa de contração da ferida pode demandar cerca de 24 horas, dependendo do tamanho da ferida, quando elas cicatrizam por primeira intenção. Nas feridas com cicatrização por segunda intenção, a epitelização de sua superfície só consegue avançar até 3cm a partir das bordas. A capacidade de migração do epitélio é limitada, isto é, se uma ferida tiver uma área maior, ela utiliza o processo de contração. O movimento de contração inicia-se nas bordas ou no fundo da ferida, mas também pode ocorrer concomitantemente. Ele reduz consideravelmente a área da superfície, podendo ser responsável por 40 a 80% de seu fechamento. Esse processo é de suma importância nas feridas profundas, extensas ou em ambas. Os miofibroblastos, encontrados no tecido de granulação, são essenciais nesse processo. 125 PR OE NF SE SC ADA Figura 2 apresenta ferida cirúrgica na fase proliferativa. As feridas cutâneas abertas contraem-se por retração da pele ao redor. Se o local apresenta pele frouxa, ou seja, não aderida às estruturas fixas, será possível a epitelização total sem grandes seqüelas. Caso a ferida esteja próxima às estruturas articulares, poderá levar a contraturas, que produzem profundas deformidades, desencadeando uma limitação funcional da área. A contratura também pode ocorrer em órgãos internos, como o intestino e o fígado. Outro risco é a formação de úlcera crônica, decorrente do insuficiente fechamento da ferida, para que se complete o processo de epitelização. O resultado final da cicatrização de ferida aberta será a formação de uma camada epidérmica superficial sobre uma base de colágeno profunda. Na ausência de papilas dérmicas e apêndices epidérmicos na união da epiderme-derme, há formação de um tecido frágil entre o epitélio e o tecido cicatricial que pode ser rompido, levando à perda tecidual quando submetido a pequenas agressões. A cicatriz é pouco resistente às trações etraumatismos e freqüentemente se ulcera, constituindo lesão crônica.3 No Quadro 2, apresentam-se os elementos clínicos e celulares da fase proliferativa. Figura 2 – Ferida cirúrgica na fase proliferativa Fonte: Arquivo de imagens da autora 126 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S Quadro 2 ELEMENTOS CLÍNICOS E CELULARES DA FASE PROLIFERATIVA FASE DE MATURAÇÃO OU REMODELAÇÃO A fase de maturação ou remodelação pode iniciar-se em torno de três semanas após o ferimento e continuar por vários meses, podendo levar até um ano nas feridas fechadas ou vários anos nas abertas. Nessa etapa de maturação, ocorre a formação da cicatriz resultante da proliferação progressiva de fibroblastos e conseqüente deposição de colágeno. Na fase anterior, proliferativa, ocorre uma superprodução de tecido cicatricial que, agora, na fase de maturação, passa por um processo de remodelagem, de quebra e de alinhamento de fibras, com o objetivo de reorganizar a arquitetura, aumentar a resistência e reduzir a espessura da cicatriz, diminuindo a deformidade. A redução gradual do suprimento sangüíneo e a contração da pele mudam lentamente a aparência do local, resultando na cicatriz definitiva.1 A cicatriz reduz de tamanho, afina-se e perde o tom de vermelho intenso em decorrência da regressão capilar. A ferida torna-se menos vascularizada, porque ocorre redução da necessidade de fornecimento de nutrientes e oxigênio para o local lesado. Em nível celular, ocorre a formação de extensa matriz e remodelação do tecido cicatricial. A matriz é reorganizada à medida que os fibroblastos deixam o local, e há o acúmulo de grandes feixes fibrosos de colágeno, que aumentam a força de elasticidade da cicatriz, constituída por colágeno, glicoproteínas e proteoglicanos, dentre outras proteínas. O tempo gasto para o aumento da força de elasticidade na cicatrização é variável, dependendo das características da ferida e do procedimento realizado. Durante as primeiras semanas de cicatrização, o tecido cicatricial é delicado – possui aproximadamente 10% da força normal da pele. Ao final da cicatrização, somente 80% da força original são recuperados. Observações clínicas Tecido de granulação vermelho (formado recentemente por colágeno e vasos sangüíneos) Camada epitelial fina prateada limitando o tecido granulado Encolhimento da ferida Atividades celulares Macrófago – secreta substâncias quimiotáticas que promovem o crescimento e intervêm na formação dos tecidos de granulação e nos processo de epitelização. As células mesenquimais, não diferenciadas, migram para dentro da margem da ferida e amadurecem em fibroblastos. Síntese de colágeno – uma cadeia vascular inter-relacionada produzida por botões de células nas terminações dos capilares. Epitelização – a célula epitelial migra e prolifera sobre a superfície da ferida. Contração – causada pelo fibroblasto que se transforma em miofibroblasto e tem propriedade de contração. Migram pela área do tecido restaurado. 127 PR OE NF SE SC ADA etapa final do processo de cicatrização é caracterizada pela transformação do colágeno: o colágeno gelatinoso, produzido durante a fase proliferativa, é substituído na fase de maturação por colágeno mais forte e altamente organizado, permitindo uma reconstrução dinâmica. Uma perfeita cicatrização requer equilíbrio entre a produção de colágeno e colagenase. O excesso de colágeno leva à formação de cicatriz hipertrófica, e o excesso da colagenase leva à perda da força cicatricial, propiciando seu rompimento. A Figura 3 apresenta ferida cirúrgica na fase de maturação. No Quadro 3, listam-se os pontos importantes sobre essa fase. Quadro 3 FASE DE MATURAÇÃO – PONTOS IMPORTANTES Uma ferida é considerada cicatrizada quando o processo de maturação restabelece a continuidade da superfície da pele e quando a força é suficiente para atividade normal. Uma vez que as fases de cicatrização são as mesmas para todos os pacientes, sua proporção e evolução dependem do estado do indivíduo. Figura 3 – Ferida cirúrgica na fase de maturação Fonte: Arquivo de imagens da autora ■■■■■ Pode iniciar em torno da terceira semana. ■■■■■ Ocorre a transformação do colágeno gelatinoso (fase proliferativa) em tecido mais forte e altamente organizado. ■■■■■ Resulta em fortalecimento e remodelagem das fibras colágenas. ■■■■■ A cicatriz reduz-se, afina-se e perde o tom vermelho intenso. ■■■■■ A perfeita cicatrização requer o equilíbrio entre colágeno e colagenase. 128 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S 3. Complete o quadro com os sinais, eventos e agentes observados nas diferentes fases do processo de cicatrização de feridas, conforme o modelo. A partir do estabelecimento de termos de cada fase, caracterize-a e sintetize sua importância nesse processo. Vasoconstrição – proliferativa ou fibroblástica – fibrina – edema – inflamatória – macrófago – neo-angiogênese – tecido de granulação – migração de leucócitos – epitelização – contração de feridas – transformação do colágeno gelatinoso, com fortalecimento e estruturação de suas fibras – exsudato inflamatório – equilíbrio entre colágeno e colagenase para perfeita cicatrização – maturação – tecido de granulação – camada epitelial fina prateada limitando o tecido granulado – miofibroblastos – vasodilatação – encolhimento da ferida – redução, afinamento e perda do tom de vermelho intenso da cicatriz – eritema – calor moderado – síntese de colágeno gelatinoso – dor – fibroblastos. Respostas das colunas referentes à observação clínica, fase do processo e eventos e componentes envolvidos no final do capítulo 4. Qual a função dos leucócitos polimorfonucleares na fase inflamatória do processo de cicatrização de feridas? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ A) B) C) Observação clínica ■■■■■ eritema ■■■■■ edema Fase do processo Maturação Eventos e agentes envolvidos ■■■■■ Neo- angiogênese Características e papel da fase no processo de cicatrização de feridas 129 PR OE NF SE SC AD5. Qual a importância do colágeno no processo de cicatrização de feridas? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 6. Marque a afirmativa INCORRETA referente ao processo de cicatrização. A) O processo de cicatrização inicia-se após 10 minutos em que se dá o trauma, mas não se completa até que os fatores desencadeantes da lesão tenham sido neutralizados. B) O processo de cicatrização é caracterizado por três fases: fase inflamatória ou defensiva, fase proliferativa ou fibroblástica e fase de maturação. A cicatrização é marcadapor duas etapas: a fase catabólica e a fase anabólica. C) A fase inflamatória envolve reações neurológicas, vasculares, humorais e celulares, que destroem ou barram o agente lesivo e substituem as células mortas ou danificadas por células sadias. D) A fase proliferativa é caracterizada pela reparação epitelial, angiogênese, formação de colágeno e contração da ferida. 7. A contração da ferida é um fenômeno mais bem observado em: A) cicatrização por segunda intenção. B) fechamento primário retardado. C) cicatrização por primeira intenção. D) área doadora de enxertos cutâneos. Respostas no final do capítulo 8. Que riscos devem ser ponderados na avaliação de feridas cutâneas abertas? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ LESÕES CRÔNICAS Atualmente, muitos profissionais da área da saúde engajaram-se no tratamento das feridas, diante do desafio crescente decorrente da magnitude e da complexidade desse agravo. Estima-se que nos Estados Unidos 25 milhões de pacientes necessitem de oneroso tratamento terapêutico para feridas agudas ou crônicas todos os anos. Está previsto que, em 2030, mais de 20% (60 milhões) dos americanos terão mais de 65 anos de idade, muitos dos quais estarão institucionalizados, imobilizados e, portanto, propensos ao desenvolvimento de feridas crônicas. 130 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S As úlceras de membros inferiores e as úlceras por pressão constituem as duas maiores categorias de feridas crônicas. Todo ano, estima-se que 1 milhão de americanos são tratados com úlceras por pressão e com úlceras venosas, e muitos desses pacientes são diabéticos. Nas próximas seções, serão abordados os cuidados que devem ser prestados aos pacientes portadores de úlceras por pressão e úlcera venosa de perna. ÚLCERA POR PRESSÃO Pode-se afirmar que algumas úlceras por pressão são decorrentes de fatores inerentes à doença e ao estado do paciente de alto risco. No entanto, a maior ocorrência desse agravo pode ser evitada mediante o uso de materiais e equipamentos corretos para alívio da pressão, cuidados adequados com a pele e atenção com os aspectos nutricionais. As úlceras por pressão representam um grave problema para os pacientes hospitalizados. A amplitude desse problema é definida com os índices de prevalência e incidência. Estudos internacionais apresentam taxas de incidência que variam de 0 a 14% em pacientes hospitalizados, alcançando índices mais elevados (55 a 66%) quando se trata de pacientes provenientes de clínicas especializadas como as ortopédicas e de reabilitação.4 No Brasil, os poucos estudos existentes a respeito do tema são isolados. Um estudo realizado em um Hospital Universitário na cidade de São Paulo, com pacientes considerados em risco internados em unidades médico-cirúrgicas, cuidado semi-intensivo e intensivo encontrou incidências entre 29,63 e 42,64%.4 Outro estudo realizado por Petrolino na mesma cidade, em uma unidade de terapia intensiva de hospital privado encontrou a incidência de 10,62%.5 O estudo realizado por Barros e colaboradores em hospital universitário apresentou incidência de 41,37%.4 A presença da úlcera por pressão tem sido considerada um indicador de qualidade de serviços de saúde na América do Norte e na Europa. Esforços têm sido feitos para o estabelecimento de diretrizes que norteiem a prática visando à redução do problema.5 A úlcera por pressão é conceituada como uma área localizada de necrose celular que tende a se desenvolver quando o tecido mole é comprimido entre uma proeminência óssea e uma superfície dura por um período prolongado de tempo, resultando em danos nos tecidos subjacentes – tecido subcutâneo, músculo, articulações e ossos.6 Outras denominações, como úlceras de decúbito e escara, usadas para definir esse agravo, são consideradas incorretas. A expressão “úlcera de decúbito” limita-se a lesões sobre proeminências ósseas, devido ao confinamento prolongado do paciente no leito. O termo “escara” deve ser utilizado para designar a parte necrótica ou crosta da ferida, e não como seu sinônimo. Portanto, por ser a pressão o agente principal para a formação da lesão, recomenda-se a adoção da expressão “úlcera por pressão”.6 131 PR OE NF SE SC ADAs úlceras por pressão não ocorrem em pessoas saudáveis, uma vez que a pressão prolongada e a isquemia, ao provocarem desconforto e dor, levam a pessoa a se movimentar em busca de alívio, mesmo quando em sono profundo. Nos indivíduos que, em decorrência de qualquer situação, ficam impossibilitados de se movimentar, ocorrem pressões excessivas que fazem os capilares se colapsarem. Conseqüentemente, o fluxo sangüíneo e de nutrientes é interrompido, o que pode levar à isquemia local e, eventualmente, à necrose celular, desencadeando, assim, a formação da úlcera por pressão. Considera-se que o nível de pressão necessário para que ocorra dano ao tecido possa ser variável de paciente para paciente, mas se aceita 32mmHg como o nível normal da pressão arteriolar.7 As úlceras por pressão, em geral, ocorrem nas regiões de proeminências ósseas e são encontradas mais freqüentemente na região sacral e nos calcâneos. Cerca de 60% das úlceras por pressão desenvolvem-se na área pélvica ou abaixo dela. De acordo com o Quadro 4, as úlceras são classificadas em estágios I, II, III e IV, conforme o grau de danos observados nos tecidos.5,8 Quadro 4 CLASSIFICAÇÃO DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO CONFORME O ESTADIAMENTO Estadiamento Estágio I Estágio II Estágio III Estágio IV Sinais clínicos Alteração observável relacionada com pressão na pele íntegra, cujos indicadores comparativos à área adjacente ou oposta do corpo podem incluir mudanças em uma ou mais das seguintes condições: temperatura da pele (aquecimento ou resfriamento), consistência tecidual (sensação de firmeza ou de amolecimento) e/ou sensibilidade (dor, prurido). A lesão apresenta-se como uma área definida de hiperemia persistente na pele pouco pigmentada, ao passo que, em peles mais escuras, a úlcera pode manifestar- se como tonalidades persistentes de vermelho, azul ou púrpura (Figura 4). Consiste na perda parcial da pele envolvendo a epiderme, a derme ou ambas. A úlcera é superficial e apresenta-se como uma abrasão, uma bolha ou uma cratera rasa (Figura 5). Trata-se de perda da pele na sua espessura total, envolvendo danos ou uma necrose do tecido subcutâneo que pode aprofundar-se, não chegando até a fáscia muscular. A úlcera apresenta-se clinicamente como uma cratera profunda (Figura 6). É uma perda da pele na sua total espessura com uma extensa destruição ou necrose dos músculos, ossos ou estruturas de suporte como tendões ou cápsulas das juntas (Figura 7). Fonte: SOUZA, D. M. S. T.; SANTOS, V. L. C. G. Úlcera por pressão e envelhecimento. Estima, v.4, n.1, p. 36-44, jan/ fev/mar. 2006. 132 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S Figura 4 – Úlcera em estágio I Fonte: Arquivo de imagens da autora Figura 5 – Úlcera em estágio II Fonte: Arquivo de imagens da autora Figura 6 – Úlcera em estágio III Fonte: Arquivo de imagens da autora 133 PR OE NF SE SC AD As úlceras recobertas com tecido necróticodo tipo escara só podem ser estadiadas após o desbridamento, possibilitando identificar a profundidade ou grau de comprometimento dos tecidos.5 As úlceras por pressão não necessariamente progridem do estágio I para o estágio IV e não cicatrizam do estágio IV para o I, já que a cicatrização, geralmente, realiza-se por segunda intenção, com a formação do tecido de granulação e epitelização. Portanto, as úlceras não devem ser classificadas na ordem reversa como forma de avaliar a cicatrização, pois as úlceras de estágio IV não se transformam nos estágios III, II ou I até cicatrizar. Uma úlcera de estágio IV permanece com a mesma classificação até cicatrizar. A avaliação da melhora ou piora da úlcera é feita pela mensuração de sua dimensão.7 Algumas situações na prática clínica podem dificultar a avaliação da úlcera por pressão, como em pacientes que estejam usando gesso ou aparelhos ortopédicos. A exposição da pele a uma pressão intensa e prolongada desencadeia o desenvolvimento de úlcera por pressão, independentemente da situação. No entanto, em certas circunstâncias, a tolerância dos tecidos à pressão estará reduzida, de maneira que as úlceras podem surgir quando as proeminências ósseas estiverem submetidas a pressões menores e forem de curta duração. As condições que colaboram para uma pressão prolongada e intensa podem ser consideradas, geralmente, amparadas nos conceitos de mobilidade, atividade e percepção sensorial. A expressão “tolerância do tecido” é usada para demonstrar a capacidade, tanto da pele como de suas estruturas de suporte, para agüentar os efeitos da pressão sem, contudo, levar à formação da úlcera. A tolerância dos tecidos à pressão e à isquemia depende da natureza dos próprios tecidos. É influenciada pela habilidade da pele e das estruturas de suporte (músculo, colágeno, fibras elastinas, redes vasculares e fluidos intersticiais) em redistribuir a pressão aplicada na superfície do tecido para estrutura do esqueleto. O tecido muscular, por exemplo, é mais sensível à pressão e à isquemia do que a pele; portanto, grande área de isquemia e necrose é esperada na interface osso- tecido, e a lesão visualizada na pele é considerada a ponta do iceberg.5 Figura 7 – Úlcera em estágio IV Fonte: Arquivo de imagens da autora 134 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S Vários fatores foram identificados como responsáveis pela redução da tolerância da pele à pressão. Eles podem ser agrupados em fatores intrínsecos e extrínsecos. No grupo de fatores extrínsecos, podem ser citados a exposição da pele à fricção, o cisalhamento e a umidade, conforme listado no Quadro 5. No grupo de fatores intrínsecos, listados no Quadro 6, encontra-se qualquer fator fisiológico, tal como a desnutrição, o envelhecimento e a baixa pressão arteriolar, que, adversamente, afete a arquitetura e a integridade da estrutura de suporte da pele, diminuindo a capacidade dos tecidos moles de absorver e distribuir a carga mecânica e, assim, tolerar a pressão. Quadro 5 FATORES EXTRÍNSECOS QUE REDUZEM A TOLERÂNCIA DOS TECIDOS À PRESSÃO Quadro 6 FATORES INTRÍNSECOS QUE REDUZEM A TOLERÂNCIA DOS TECIDOS À PRESSÃO Fatores extrínsecos Fricção Cisalhamento Umidade Ação É criada pela força de duas superfícies, movendo-se uma sobre a outra, provocando remoção das células epiteliais e causando abrasões e lesões do tipo queimaduras de 2º grau. Causas mais comuns: pacientes arrastados no leito ou cadeira, com movimentos involuntários, espásticos, em uso de aparelhos ortopédicos. É causado pela interação da gravidade com a fricção exercendo forças paralelas na pele. A gravidade traciona o corpo para baixo, e a resistência do paciente sobre a superfície da cama ou cadeira (fricção) impede que o corpo desça. Pode deformar e romper os tecidos e vasos sangüíneos. Atinge, mais comumente, a região sacra e a coccígena. Podem ser citadas como fontes de excessiva umidade a perspiração e as incontinências urinária e anal. A umidade, principalmente se associada à fricção e ao cisalhamento, macera e enfraquece as camadas externas da pele tornando-a vulnerável às lesões. A umidade aumenta a probabilidade da pele de aderir ao vestuário e roupas de cama. Destaca-se que a umidade proveniente da incontinência anal é mais lesiva, uma vez que ocorre o atrito mecânico da epiderme decorrente da limpeza, além do risco de infecção pela fissura na pele. Fatores intrínsecos Desnutrição Envelhecimento Baixos níveis pressóricos Ação Diminui a tolerância dos tecidos à pressão. O déficit protéico desencadeia a redução da proliferação de fibroblastos, da síntese de colágeno e da angiogênese. Também predispõe à cronificação da lesão, ao surgimento do tecido necrótico e à infecção. Desencadeia a perda da massa corpórea, a diminuição do nível de albumina sérica, a redução da resposta inflamatória, da coesão entre a epiderme e a derme. Ocorre perda da gordura subcutânea dos braços, pernas e proeminências ósseas, que prejudica a habilidade do tecido em distribuir a carga mecânica sem comprometer a circulação do sangue, favorecendo o surgimento da úlcera por pressão. O idoso, geralmente, convive com outros agravos, como fraturas, acidente vascular cerebral e infecções respiratórias. Diminui a perfusão dos tecidos, fragiliza a estrutura tecidual e inibe a cicatrização. 135 PR OE NF SE SC AD9. Caracterize os tipos de feridas crônicas. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 10. A partir da descrição dos sinais clínicos, classifique o estadiamento da úlcera por pressão. A) Perda da pele na sua espessura total, envolvendo danos ou uma necrose do tecido subcutâneo que pode aprofundar-se, não chegando até a fáscia muscular. A úlcera apresenta-se clinicamente como uma cratera profunda. ......................................................................................................................... B) Área definida de hiperemia persistente na pele pouco pigmentada, ao passo que, em peles mais escuras, a úlcera pode manifestar-se como tonalidades persistentes de vermelho, azul ou púrpura. ......................................................... C) Perda da pele na sua total espessura com uma extensa destruição ou necrose dos músculos, ossos ou estruturas de suporte como tendões ou cápsulas das juntas. ................................................................................................................. D) Perda parcial da pele envolvendo a epiderme, a derme ou ambas. A úlcera é superficial e apresenta-se como uma abrasão, uma bolha ou uma cratera rasa. .................................................................................................................... Respostas no final do capítulo 11. Que condições podem prejudicar a avaliação da úlcera por pressão? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 12. Caracterize a tolerância dos tecidos à pressão, mencionando as condições a serem consideradas nessa avaliação. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 136 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S 13. Utilize as linhas pontilhadas para classificar os fatores que reduzem a tolerância dos tecidos à pressão entre extrínsecos e intrínsecos e relacione-os às suas respectivas ações nesse contexto. Respostas no final do capítulo AVALIAÇÃO DE RISCO E IMPLEMENTAÇÃO DE CONDUTAS Para identificar os indivíduos em risco que necessitam de prevenção e os fatores específicos que os estão expondo ao risco, faz-se necessário avaliá-los no momento da admissão nas unidades de internação ou reabilitação hospitalar, nos asilos, nos programas de visita domiciliar e em outras situações de cuidado de saúde. Uma avaliação sistemática de risco pode ser obtida com o uso de um instrumento de avaliação de risco que tenha sido validado, como a escala de Braden (Quadro 7). A pontuação total obtida na escala irá predizer o risco do paciente para a úlcera e nortear a seleção das medidas preventivas necessárias. São considerados em risco pacientes adultos com pontuação igual ou menor do que 16 ou idosos com pontuação igual ou menor do que 17. O risco de úlcera por pressão deve ser reavaliado periodicamente e sempre que houver mudanças no estado do paciente. Todas as avaliações de risco devem ser documentadas no prontuário.5 Fatores ( 1 ) Baixos níveis pressóricos ...................................... ( 2 ) Umidade ...................................... ( 3 ) Fricção ...................................... ( 4 ) Envelhecimento ...................................... ( 5 ) Cisalhamento ...................................... ( 6 ) Desnutrição ...................................... Ação ( ) Desencadeia a perda da massa corpórea, a diminuição do nível de albumina sérica, a redução da resposta inflamatória, da coesão entre a epiderme e a derme. ( ) Diminui a tolerância dos tecidos à pressão. Desencadeia a redução da proliferação de fibroblastos, da síntese de colágeno e da angiogênese. ( ) Provoca remoção das células epiteliais e causa abrasões e lesões do tipo queimaduras de 2º grau, em função da força de duas superfícies, movendo-se uma sobre a outra. ( ) Macera e enfraquece as camadas externas da pele tornando-a vulnerável às lesões, principalmente se associada à fricção e ao cisalhamento. ( ) Pode deformar e romper os tecidos e vasos sangüíneos. Atinge, mais comumente, a região sacra e a coccígena. ( ) Diminui a perfusão dos tecidos, fragiliza a estrutura tecidual e inibe a cicatrização. 137 PR OE NF SE SC AD Po nt ua çã o Cr ité rio s Pe rc ep çã o se ns or ia l: ha bil ida de d e re sp on de r sig nif ica tiv am en te à pr es sã or ela cio na da co m o de sc on fo rto . Um id ad e: g ra u ao q ua l a pe le es tá e xp os ta à um ida de . At iv id ad e: G ra u de at ivi da de fí sic a. Mo bi lid ad e: h ab ilid ad e de m ud ar e co nt ro lar a s po siç õe s co rp or ais . Nu tri çã o: p ad rã o us ua l de in ge stã o ali me nt ar . Fr ic çã o e ci sa lh am en to 4. Ne nh um a lim ita çã o: R es po nd e ao s c om an do s v er ba is. N ão te m pr ob lem as se ns or iai s q ue p od er iam lim ita r s ua ca pa cid ad e de se nt ir ou ve rb ali za r d or o u de sc on fo rto . 4. Ra ra m en te ú m id a: A pe le ge ra lm en te e stá se ca . A ro up a de ca ma só é tr oc ad a no s h or ár ios d e ro tin a. 4. Ca m in ha fr eq üe nt em en te : Ca m inh a fo ra d o qu ar to p elo m en os du as ve ze s p or d ia e de nt ro d o qu ar to p elo m en os a ca da d ua s h or as du ra nt e as h or as e m qu e es tá ac or da do . 4. Ne nh um a lim ita çã o: F az mu da nç as g ra nd es e fr eq üe nt es n a po siç ão , s em a ss ist ên cia . 4. Ex ce le nt e: C om e a ma ior p ar te d e ca da re fe içã o. N un ca re cu sa a ali m en ta çã o. C om e ge ra lm en te u m to ta l d e qu at ro o u ma is po rç õe s d e ca rn e e de riv ad os d o lei te . D e ve z e m qu an do , c om e en tre a s r ef eiç õe s. Nã o ne ce ss ita d e su ple me nt o ali me nt ar . To ta l d e po nt os Qu ad ro 7 ES CA LA D E RI SC O BR AD EN 1. C om pl et am en te li m ita do : N ão re sp on de a es tím ulo d olo ro so (n ão g em e, n ão se e sq uiv a ou se a ga rra ), de vid o à dim inu içã o do n íve l d e co ns ciê nc ia ou se da çã o ou à lim ita çã o da ha bil ida de d e se nt ir do r n a ma ior p ar te d a su pe rfí cie co rp or al. 1. Co ns ta nt em en te ú m id a: A pe le é ma nti da úm ida / m olh ad a qu as e co ns tan tem en te po r s uo r, ur ina , e tc. A um ida de é pe rce bid a c ad a v ez qu e o pa cie nte é m ov im en tad o ou p os ici on ad o. 1. A ca m ad o: M an té m- se se mp re n o lei to . 1. C om pl et am en te im ob ili za do : N ão fa z ne nh um m ov im en to d o co rp o, p or m en or q ue se ja, o u da s e xtr em ida de s s em a jud a. 1. M ui to p ob re : N un ca co me to da a re fe içã o. É ra ro q ua nd o co me m ais d e 1/ 3 de q ua lqu er co mi da o fe re cid a. C om e du as p or çõ es o u me no s de p ro te ín a (c ar ne o u de riv ad os d e lei te ) p or d ia. To m a po uc o líq uid o. N ão to man en hu m su ple me nt o die té tic o líq uid o. E stá e m jej um o u ma nt ido e m die ta co m líq uid os cl ar os o u hid ra ta çã o en do ve no sa p or m ais d e cin co d ias . 1. P ro bl em a: N ec es sit a de a ss ist ên cia m od er ad a ou a ss ist ên cia m áx im a pa ra se m ov er . É im po ss íve l le va nt ar -s e co mp let am en te se m se es fre ga r c on tra o s l en çó is. E sc or re ga fre qü en te m en te n a ca m a ou n a ca de ira , ne ce ss ita nd o de a ss ist ên cia m áx im a pa ra fre qü en te re po siç ão d o co rp o. E sp as mo s, co nt ra çõ es o u ag ita çã o lev am a u ma fr icç ão qu as e co ns ta nt e. 3. Le ve m en te li m ita do : R es po nd e ao s c om an do s ve rb ais ; p or ém , n em se mp re co ns eg ue co mu nic ar o de sc on fo rto o u a ne ce ss ida de d e se r m ud ad o de po siç ão , o u te m alg um p ro ble ma se ns or ial q ue lim ita su a ca pa cid ad e de se nt ir do r o u de sc on fo rto em u ma o u du as e xtr em ida de s. 3. Oc as io na lm en te ú m id a: A p ele e stá oc as ion alm en te ú mi da /m olh ad a, n ec es sit an do d e um a tro ca d e ro up a de ca ma u ma ve z p or d ia ap ro xim ad am en te . 3. Ca m in ha o ca si on al m en te : C am inh a oc as ion alm en te d ur an te o d ia, m as p or d ist ân cia s be m cu rta s, co m ou se m as sis tê nc ia. P as sa a ma ior p ar te d o te mp o na ca ma o u ca de ira . 3. Le ve m en te L im ita do : F az m ud an ça s fre qü en te s, em bo ra p eq ue na s, na p os içã o do co rp o ou d as e xtr em ida de s, se m aju da . 3. Ad eq ua do : C om e m ais da m eta de da m aio r p ar te da s r efe içõ es . In ge re um to tal de qu atr o p or çõ es de pr ote ína (c ar ne , d er iva do s d o l eit e) po r d ia. Oc as ion alm en te, re cu sa um a r efe içã o, ma s, us ua lm en te, to ma um su ple me nto di eté tic o, se ofe re cid o; ou es tá re ce be nd o d iet a p or so nd a o u nu triç ão pa re nte ra l to tal , q ue pr ov av elm en te ate nd e à ma ior pa rte de su as ne ce ss ida de s n utr ici on ais . 3. Ne nh um p ro bl em a ap ar en te : M ov im en ta -s e ind ep en de nt em en te n a ca m a ou ca de ira e te m fo rç a mu sc ula r s uf ici en te p ar a lev an ta r o co rp o co mp let am en te d ur an te o m ov im en to . M an té m o te mp o to do u ma b oa p os içã o na ca ma o u ca de ira . 2. Mu ito li m ita do : R es po nd e so me nt e a es tím ulo s do lor os os . N ão co ns eg ue co mu nic ar o d es co nf or to a nã o se r p or g em ido s o u inq uie ta çã o, o u te m um pr ob lem a se ns or ial q ue lim ita a h ab ilid ad e de se nt ir do r o u de sc on fo rto e m ma is da m et ad e do co rp o. 2. Mu ito ú m id a: A pe le es tá m uit as ve ze s, ma s ne m se mp re , ú mi da /m olh ad a. A ro up a de ca ma pr ec isa se r t ro ca da , p elo m en os , u ma ve z d ur an te o pla nt ão . 2. R es tri to à c ad ei ra : A h ab ilid ad e de ca mi nh ar es tá se ve ra me nt e lim ita da o u nã o ex ist e. N ão ag üe nt a o pr óp rio p es o e/ ou p re cis a se r a jud ad o pa ra se se nt ar n a ca de ira o u ca de ira d e ro da s. 2. M ui to li m ita do : F az p eq ue na s m ud an ça s oc as ion ais n a po siç ão d o co rp o ou d as ex tre mi da de s n o en ta nt o é inc ap az d e fa ze r mu da nç as fr eq üe nt es o u sig nif ica nt es se m aju da . 2. Pr ov av el m en te in ad eq ua do : R ar am en te fa z um a re fe içã o co mp let a e ge ra lm en te co me a pe na s me ta de d e qu alq ue r a lim en to o fe re cid o. A ing es tã o de p ro te ín a inc lui so me nt e trê s p or çõ es d e ca rn e ou d e de riv ad os d e lei te . D e ve z e m qu an do , t om a um su ple me nt o ali me nt ar o u re ce be m en os d o qu e a qu an tid ad e ide al de d iet a líq uid a ou a lim en ta çã o po r s on da . 2. Po te nc ia l p ar a pr ob le m a: M ov im en ta -s e liv re me nt e ou n ec es sit a de u ma a ss ist ên cia m ín im a. D ur an te o m ov im en to , a p ele pr ov av elm en te e sfr eg a- se e m alg um a ex te ns ão co nt ra o s l en çó is, ca de ira s, ou e stá re str ito a ou tro s e qu ipa me nt os . D ur an te a m aio r p ar te d o te mp o, m an té m re lat iva me nt e bo a po siç ão n a ca de ira o u na ca ma ; p or ém , d e ve z e m qu an do , es co rre ga . Tr ad uç ão fe ita p or M ar ia He len a L. C ali ri, a ut or iza da p ela a ut or a Ba rb ar a Br ad en 138 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S 14. Quanto à avaliação do paciente em risco para úlcera por pressão, marque a afirmativa INCORRETA. A) A avaliação visa a identificar indivíduos em risco que necessitam de prevenção e os fatores específicos que estão colocando-os em risco. B) Todos indivíduos em risco devem teruma inspeção sistemática da pele pelo menos uma vez ao dia, prestando-se atenção particular às regiões com base maior. C) Os resultados da inspeção devem ser documentados no prontuário. D) Uma avaliação sistemática de risco pode ser obtida usando um instrumento de avaliação de risco que tenha sido validada, como a Escala de Braden. Resposta no final do capítulo RECOMENDAÇÕES PARA PREVENÇÃO DE ÚLCERA POR PRESSÃO EM ADULTOS EM RISCO As recomendações propostas apresentadas com o objetivo de prevenir a úlcera por pressão estão amparadas na diretriz proposta pela Wound Ostomy and Continence Nurses Society (WOCN) e Agency for Health Care Research and Quality (AHCRQ), publicada em 2003,6 uma vez que o Brasil ainda não dispõe de uma diretriz elaborada pelos profissionais, considerando as diferenças dos serviços e pacientes brasileiros. Segundo essa diretriz, deve-se: ■■■■■ considerar em risco à úlcera todas pessoas restritas ao leito ou à cadeira de rodas ou aquelas cuja capacidade de se reposicionar estiver comprometida; ■■■■■ adequar o posicionamento e usar técnicas adequadas para transferência do paciente da cama para cadeira e mudança de decúbito; assim, podem diminuir as úlceras causadas por fricção. O paciente precisa ser erguido ao ser movimentado, e nunca arrastado sobre o colchão; ■■■■■ reposicionar as pessoas restritas ao leito pelo menos a cada duas horas, se não houver contra- indicações relacionadas às condições gerais do paciente, e pessoas restritas à cadeira, de hora em hora; deve-se estabelecer um horário por escrito, para evitar esquecimentos; ■■■■■ evitar posicionar o paciente diretamente sobre o trocânter, quando esse estiver no leito na posição lateral; mantê-lo em posição lateralmente inclinada de 30º – nessa posição, a maior pressão corporal estará na região glútea, que poderá agüentar melhor o excesso de pressão; ■■■■■ manter a cabeceira da cama em um grau mais baixo de elevação possível, que seja compatível com as condições clínicas do paciente; se não for possível, manter a elevação máxima de 30º e limitar o tempo de elevação da cabeceira da cama; ■■■■■ colocar o paciente em um colchão que redistribua o peso corporal e reduza a pressão, como colchão de espuma, ar estático, ar dinâmico ou gel; 139 PR OE NF SE SC AD■■■■■ usar travesseiros ou almofadas de espuma para manter as proeminências ósseas, como os joelhos e calcâneos, fora do contato direto com a cama ou com outra proeminência do próprio corpo; os calcanhares devem ser mantidos levantados da cama com um travesseiro sob a panturrilha; ■■■■■ ensinar os indivíduos restritos à cadeira e capazes a levantar seu peso a cada 15 minutos; aqueles que não conseguem devem ser levantados por outra pessoa ou serem levados de volta para a cama; ■■■■■ usar uma almofada de ar, água ou gel, se a pessoa ficar sentada em cadeira de rodas ou poltrona; nunca usar almofadas que possuam um orifício no meio (roda d’água), pois elas favorecem o aumento da pressão e a presença da ferida; ■■■■■ inspecionar a pele diariamente e documentar as observações; ■■■■■ individualizar a freqüência do banho, usar um agente de limpeza suave, evitar água quente e fricção excessiva e usar hidratantes para pele seca. ■■■■■ avaliar e tratar a incontinência; quando a incontinência não puder ser controlada, limpar a pele no momento em que sujar; usar uma barreira tópica para umidade e selecionar absorventes higiênicos que forneçam uma superfície seca para a pele rapidamente; ■■■■■ evitar massagear as proeminências ósseas; ■■■■■ usar coberturas protetoras nas proeminências ósseas (tipo coberturas transparentes e barreiras cutâneas) para reduzir a lesão por fricção. RECOMENDAÇÕES PARA TRATAMENTO DE ÚLCERA POR PRESSÃO Quando, apesar da implementação das medidas preventivas, os pacientes desenvolverem úlcera por pressão, o tratamento deve visar: ■■■■■ à avaliação do paciente e da úlcera por pressão; ■■■■■ ao controle da sobrecarga nos tecidos e remoção do excesso de pressão; ■■■■■ ao cuidado da úlcera; ■■■■■ ao controle da colonização bacteriana e da infecção; ■■■■■ ao reparo operatório da úlcera por pressão; ■■■■■ à educação e melhoria da qualidade de vida. 140 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S 15. Avalie a situação clínica a seguir com base na escala de risco Braden, apresentada no Quadro 7. Paciente masculino, 45 anos, possui úlcera por pressão de estágio II com extensão significativa na região lombar. Responde somente a estímulos dolorosos, por meio de gemidos. A pele está muitas vezes, mas nem sempre, úmida/molhada. A roupa de cama precisa ser trocada, pelo menos, uma vez durante o plantão. Há alguns dias, o paciente passou a caminhar com assistência pequenas distâncias, mas ainda passa a maior parte do tempo na cama ou na cadeira. Busca realizar mudanças na posição do corpo e vem conseguindo fazê-las sem ajuda. Devido a seu quadro, raramente faz uma refeição completa, sendo necessário eventualmente ministrar suplemento alimentar. Em suas tentativas de locomoção, acaba esbarrando o ferimento contra lençóis e/ou cadeiras, por escorregar ao tentar manter uma boa posição. Respostas no final do capítulo 16. Complete o quadro com os cuidados a serem tomados e as medidas a serem evitadas para a prevenção da úlcera por pressão no serviço de enfermagem. Para a prevenção das úlceras por pressão, as seguintes medidas, no serviço de enfermagem, devem ser: 17. Quais as recomendações para o tratamento da úlcera por pressão? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Fator Descrição Pontuação Parecer Percepção sensorial Umid. Ativ. Mobil. Nutr. Fricção e cisalhamento Enfatizadas Evitadas 141 PR OE NF SE SC ADÚLCERA VENOSA DA PERNA Os diversos processos de doença, incluindo distúrbios e deficiências metabólicas, podem resultar na formação de uma úlcera na perna ou no pé. Esse agravo está associado freqüentemente à dor e à diminuição da qualidade de vida. As úlceras crônicas de perna, de acordo com a doença de base, podem ser categorizadas em, por exemplo: ■■■■■ vasculares; ■■■■■ metabólicas; ■■■■■ infecciosas; ■■■■■ neoplásicas; ■■■■■ traumáticas; ■■■■■ decorrentes de doença hematológica. A principal etiologia das úlceras de pernas, em vários países, é a doença vascular periférica de membros inferiores, principalmente a insuficiência venosa.9 A insuficiência venosa das extremidades inferiores é definida como a inversão do fluxo sangüíneo desde o sistema venoso profundo ao superficial, o que implica a insuficiência valvular das veias comunicantes. O transtorno fisiopatológico determina a hipertensão venosa, varizes secundárias, edema e alterações tróficas, cuja expressão máxima é a úlcera.9 As Figuras 8 e 9 apresentam um membro inferior com sinais de insuficiência venosa e perna com quadro de úlcera venosa deflagrado. Figura 8 – Membro inferior com sinais de insuficiência venosa – varizes, hiperpigmentação Fonte: Arquivo de imagens da autora Figura 9 – Perna com úlcera venosa – ferida superficial, bordas irregulares e muito exsudativa Fonte: Arquivo de imagens da autora 142 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE SD E L ES ÕE S C UT ÂN EA S As úlceras por insuficiência venosa geralmente são iniciadas por trauma. Na maioria dos casos, surgem em decorrência da insuficiência do sistema venoso profundo, têm caráter recorrente e dão-se normalmente no mesmo local. Na doença venosa, há também incompetência na bomba do músculo gastrocnêmio (músculo da panturrilha), pois a pressão venosa, durante a deambulação ou exercícios, não acontece, propiciando a ocorrência de fluxo retrógrado.10 O tratamento conservador, para o paciente que não está internado, deve estar amparado em quatro condutas:9 ■■■■■ tratamento da estase venosa, utilizando o repouso e a terapia compressiva; ■■■■■ terapia tópica, com escolha de coberturas locais que mantenham úmido e limpo o leito da ferida e sejam capazes de absorver o exsudato; ■■■■■ controle da infecção com antibioticoterapia sistêmica, conforme resultados de exames de gram, cultura e antibiograma; ■■■■■ prevenção da recidiva. O cuidado da úlcera venosa requer tratamento básico da hipertensão venosa. O fracasso do controle adequado da hipertensão contribui para altas taxas de recorrência associadas às úlceras venosas. Uma vez cicatrizada a úlcera, a ênfase deve ser dada à adoção de novos comportamentos, como o uso contínuo de terapia compressiva e alternância dos períodos de repouso com caminhadas que visam ao controle da insuficiência venosa para a prevenção da recorrência. Para os pacientes com doença venosa, a aplicação de compressão externa graduada pode minimizar ou reverter as mudanças que a hipertensão venosa crônica provoca na pele e na rede vascular, como as varizes, a hiperpigmentação, o eczema, a lipodermatoesclerose e a úlcera. O mecanismo de ação se dá por da pressão exercida sobre a perna, o que obriga o fluido dos espaços intersticiais a retornar para o compartimento vascular ou linfático. Como a pressão dentro das veias é em grande parte hidrostática, quando a pessoa está em pé, para reverter esse efeito, essa pressão no interior dos vasos requer que o nível necessário de pressão externa seja reduzido progressivamente, da parte inferior para a superior da perna, devendo a maior pressão ser aplicada na região do tornozelo.9 A terapia compressiva graduada para atingir esse requisito pode ser obtida com o uso de meias ou bandagens, que podem ser classificadas em elásticas ou inelásticas e ter uma ou mais camadas. A avaliação física para a indicação das meias visando à terapia compressiva deve incluir o exame do membro afetado, que pode ser realizado com o auxílio do ultra-som Doppler manual, para estimar o índice de pressão tornozelo/braço (ITB). Quando há significante comprometimento arterial (ITB < 0,8), são contra-indicados níveis de compressão elevados. Na avaliação física, também, deve-se considerar a idade do paciente, a destreza e quaisquer outras inaptidões que influenciem na escolha do tipo de meia. 143 PR OE NF SE SC ADO Quadro 8 apresenta as pressões recomendadas para o tratamento de distúrbios venosos. Quadro 8 PRESSÕES RECOMENDADAS PARA O TRATAMENTO DE DISTÚRBIOS VENOSOS A aplicação de bandagem é a forma mais comum de terapia de compressão, mas seu uso efetivo pode ser uma dificuldade, uma vez que exige habilidade perfeita em sua aplicação. As bandagens podem ficar franzidas, deslizar e cortar a pele. Além disso, elas também podem ser aplicadas firmemente sem adequada proteção das proeminências ósseas, provocando lesão na pele. A inapropriada aplicação de bandagem em um membro com circulação prejudicada pode até levar à amputação desse membro. A compressão contínua é fornecida pela bandagem, que é removida e reaplicada uma ou duas vezes na semana pelo enfermeiro, pelo médico ou, ocasionalmente, por um membro familiar treinado, dependendo da extensão do edema e da quantidade de exsudato. Esse tipo de bandagem é usado somente enquanto um paciente tem uma ferida aberta. Uma vez que a ferida esteja cicatrizada, o paciente deverá usar meia de compressão, que é a terapia mais adequada.9 As bandagens podem ser classificadas em três grupos distintos, cujas indicações clínicas são bastante precisas. Elas são de retenção, de suporte leve e de provisão de compressão de níveis variados. Segundo essa especificação, as bandagens podem ser classificadas nas classes 1, 2 e 3. A classe 3 subdivide-se em classes 3a, 3b, 3c e 3d (Quadro 9).9 Atualmente, no Brasil, podem ser encontrados três tipos de bandagens: o sistema de bandagem de multicamadas, as bandagens elásticas de longa extensão e a bandagem inelástica de pasta de Unna (bota de Unna). Pressão na região do tornozelo 14-17mmHg 18-24mmHg 25-35mmHg Indicações clínicas Tratar veias varicosas e edema moderado. Tratar veias varicosas mais graves e prevenir úlcera venosa. Tratar hipertensão crônica grave e veias varicosas graves, prevenir úlcera venosa de perna e membros pós-flebite. Fonte: BORGES, E. L. Tratamento tópico de úlcera venosa: proposta de uma diretriz baseada em evidências. 2005. 305f. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005. 144 CU IDA DO S D E E NF ER MA GE M AO S P OR TA DO RE S D E L ES ÕE S C UT ÂN EA S Quadro 9 CLASSIFICAÇÃO DAS BANDAGENS COMPRESSIVAS, CONFORME A INDICAÇÃO E A PRESSÃO EXERCIDA Para obter as pressões descritas, a técnica de aplicação da bandagem deve ser respeitada, isto é, a forma de espiral com 50% de sobreposição entre as voltas, produzindo, efetivamente, uma dupla camada em qualquer ponto do membro. Técnicas diferentes de aplicação, tais como a figura de oito, produzirão maiores números de camadas em qualquer ponto e, portanto, pressões de sub-bandagens mais altas. RECOMENDAÇÕES PARA TRATAMENTO DE ÚLCERA VENOSA DE PERNA As recomendações propostas visam ao tratamento de úlcera venosa e estão amparadas na diretriz proposta por Borges em 2005.9 ■■■■■ Realizar a história clínica completa e o exame físico tanto para um paciente que apresenta sua primeira úlcera venosa quanto para paciente com úlcera recidivada. Em ambas as situações, as avaliações devem ser contínuas. ■■■■■ Excluir doença não-venosa. Pesquisar a história familiar de etiologia não-venosa: doença cardiovascular, acidente vascular cerebral (AVC), episódio transitório isquêmico, diabetes melito, artrite reumatóide. Pesquisar doença arterial: dor isquêmica de repouso, claudicação intermitente (dor) com exercícios ou caminhadas, e/ou aumento da dor na elevação da perna, pulsos ausentes, pele fria, perda de pêlos na perna, palidez. Investigar relato de tabagismo. ■■■■■ Descrever a dor e o edema. Em contraste com a úlcera arterial, o edema e a dor devidos à ulceração venosa tendem a diminuir com a elevação da perna. Tipo de compressão Valor da pressão no tornozelo Indicação clínica Classe 3a Compressão leve 20mmHg ■■■■■ Varizes superficiais ou precoces; ■■■■■ varizes formadas durante a gravidez. Classe 3b Compressão moderada 30mmHg ■■■■■ Varizes médias; ■■■■■ varizes durante a gravidez; ■■■■■ prevenção e tratamento de úlceras; ■■■■■ controle de edema moderado. Classe 3c Compressão alta 40mmHg ■■■■■ Varizes grossas; ■■■■■ insuficiência venosa pós- trombótica; ■■■■■ tratamento de úlcera de perna; ■■■■■ edema acentuado. Classe 3d Compressão extra-alta Mais de 50mmHg ■■■■■ Sustentação de pressões extra-altas em membros maiores e mais edemaciados por períodos prolongados. Classificação das bandagens da classe 3 Fonte: BORGES, E. L. Tratamento tópico de úlcera venosa: proposta de uma diretriz baseada em evidências. 2005. 305f. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005. 145 PR OE NF SE SC AD■■■■■ Avaliar a presença de sinais de doença venosa,
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