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COORDENADORA GERAL: CARMEN ELIZABETH KALINOWSKI DIRETORAS ACADÊMICAS: JUSSARA GUE MARTINI VANDA ELISA ANDRES FELLI P R O ENF | P o r t o A l e g r e | C i c l o 1 | M ó d u l o 3 | 2 0 0 7 PROENF PROGRAMAS DE ATUALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM SAÚDE DO ADULTO Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. E quem não estiver inscrito no Programa de Atualização em Enfermagem (PROENF) não poderá realizar as avaliações, obter certificação e créditos. Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Nacional SGAN, Conjunto “B”. CEP: 70830-030 - Brasília, DF Tel (61) 3226-0653 E-mail: aben@nacional.org.br http://www.abennacional.org.br Artmed/Panamericana Editora Ltda. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670. Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS – Brasil Fone (51) 3025-2550 – Fax (51) 3025-2555 E-mail: info@sescad.com.br consultas@sescad.com.br http://www.sescad.com.br Os autores têm realizado todos os esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material utilizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de na primeira oportunidade reparar as falhas ocorridas. As ciências da saúde estão em permanente atualização. À medida que as novas pesquisas e a experiência ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamentos farmacológicos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para assegurar-se de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de um erro humano ou de mudanças nas ciências da saúde, nem os autores, nem a editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste trabalho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omissões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Por exemplo, e em particular, recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de cada fármaco que lanejam administrar para certificar-se de que a informação contida neste livro seja correta e não tenha produzido mudanças nas doses sugeridas ou nas contra-indicações da sua administração. Esta recomendação tem especial importância em relação a fármacos novos ou de pouco uso. 127 PR OE NF SE SC AD A ENFERMAGEM, A PESSOA COM OSTOMIA INTESTINAL E SEUS FAMILIARES MARGARETH LINHARES MARTINS VALÉRIA CYRILLO PEREIRA ANITA FANGIER RODE DILDA MACHADO DA SILVA Margareth Linhares Martins – Mestre em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em estomaterapia (ET) pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem da UFSC e Coordenadora do Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada (GAO) Valéria Cyrillo Pereira – Especialista em estomaterapia (ET) pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Enfermeira do Setor de Ostomizados do Centro Catarinense de Reabilitação da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina. Membro do GAO Anita Fangier – Graduada em Administração e Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do GAO e membro da Associação da Pessoa Ostomizada da Regional Grande Florianópolis (ARPO) Rode Dilda Machado da Silva – Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialização em Gerontologia pela UFSC. Aluna do Curso de Especialização em Gestão Hospitalar da UFSC, Graduada em Filosofia pela UFSC. Técnica de Enfermagem do Hospital Universitário da UFSC e Membro do GAO INTRODUÇÃO O conhecimento sobre a pessoa com ostomia intestinal requer a compreensão sobre o que é viver nesta condição e a perspectiva de sua inclusão no meio ambiente. “A pessoa ostomizada é aquela que, por determinada circunstância, teve seu trânsito intestinal e/ou urinário cirurgicamente desviado de seu caminho natural (através de uma ostomia), não exercendo mais o controle sobre aquelas eliminações. Esta pessoa passa a depender, necessariamente, de uma bolsa coletora (para fezes e/ou urina) e de atendimento sistematizado e multiprofissional, podendo ser a ostomia provisória ou definitiva.”1 A inclusão social da pessoa com ostomia está diretamente relacionada ao conceito que a pessoa tem de si ligado à sua imagem corporal. O enfrentamento à nova condição exige dela a reelaboração dessa nova imagem com o apoio dos profissionais de saúde. 128 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S “A imagem corporal de uma pessoa ostomizada implica, para algumas delas, profundas mudanças em seu estilo de vida, podendo, inclusive, levar à ruptura das relações sociais pela visão estigmatizada que a sociedade faz da pessoa ostomizada, com repercussões em seu cotidiano. Sentimentos de invalidez, baixa auto-estima, insegurança, ansiedade e medo podem ser gerados com necessidade de renovação das experiências com o próprio corpo, construção de novos significados em relação à própria imagem e reformulação dos papéis sociais.”2-15 À imagem corporal alterada na reformulação dos papéis sociais acresce a perda da continência das eliminações fecais, determinada pelo desvio cirúrgico, gerando sentimentos de impotência e de incapacidade. Cada pessoa, diante do desafio de viver nesta nova condição, reage de forma singular no uso de suas forças, com base principalmente em crenças, valores, faixa etária, personalidade e poder interno de enfrentamento. “Para prestar assistência que possa contribuir para um viver mais saudável, é preciso ir além do conhecimento sobre as alterações físicas e psíquicas e compreender as experiências construídas por essas pessoas no seu processo de viver a doença.”3 No Brasil, existe um número estimado de 170 mil pessoas com ostomia que dependem dos profissionais de saúde para a assistência nos vários segmentos da atenção à saúde.4 O objeto desta comunicação são as ostomias intestinais, predominantes em participação no total estimado. As demandas da assistência para este segmento têm um grande vulto e englobam ações com os focos na muldimensionalidade da pessoa com ostomia intestinal e de seus familiares, bem como na multiprofissionalidade, com base no exercício interdisciplinar. As ostomias intestinais são realizadas na abordagem terapêutica por várias razões, entre elas:5 ■■■■■ câncer colorretal; ■■■■■ doença diverticular; ■■■■■ doença inflamatória intestinal; ■■■■■ incontinência anal; ■■■■■ colite isquêmica; ■■■■■ polipose adenomatosa familiar; ■■■■■ trauma; ■■■■■ megacólon; ■■■■■ infecções; ■■■■■ infecções perianais graves; ■■■■■ proctite actínica. Este texto não pretende esgotar o conhecimento sobre a enfermagem na relação com a pessoa ostomizada intestinal e seus familiares. Salientamos a importância de aprofundar este conhecimento para sustentação da prática assistencial, com leituras complementares indicadas, visto que a assistência em foco requer competência e habilidades para o atendimento integral. Apresentamos questões básicas que devem abrir outras possibilidades de aprendizagem. Ao refletir sobre a prática assistencial, será necessário atualizar conhecimentos na perspectiva de novas abordagens do cuidado humano. 129 PR OE NF SE SC ADOBJETIVOS Este texto pretende contribuir com a reflexão sobre a prática assistencial à pessoa com ostomia e a seus familiares, por meio da apresentação dos aspectos fundamentais do conhecimento produzido na área específica deEnfermagem, para auxiliar a sistematização do fazer cotidiano, a fim de orientar o processo de apoio à decisão. Neste sentido, são objetivos deste estudo: ■■■■■ caracterizar a pessoa com ostomia intestinal, conhecendo sua problemática; ■■■■■ reconhecer a importância da participação dos familiares da pessoa ostomizada como su- porte social; ■■■■■ conhecer as causas que geram as ostomias intestinais; ■■■■■ conhecer a fisioanatomia intestinal; ■■■■■ identificar os sinais e sintomas indicativos do diagnóstico de câncer do reto; ■■■■■ identificar os diferentes tipos de ostomias intestinais; ■■■■■ avaliar, selecionar e indicar dispositivos para os diversos tipos de ostomias; ■■■■■ identificar complicações periostomais e promover o cuidado adequado; ■■■■■ fazer relações entre o conhecimento apresentado e a prática assistencial; ■■■■■ reorientar a prática por meio da sistematização da assistência, com foco na interdisciplinaridade, visando à multidimensionalidade da pessoa ostomizada e de seus familiares; ■■■■■ reconhecer a necessidade da utilização dos sete princípios que norteiam a prática assistencial. 130 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S ESQUEMA CONCEITUAL Diagnóstico Pré-operatório Transoperatório Processualidade A pessoa com ostomia intestinal e a especificidade do cuidado de enfermagem Definições Definição lexicográfica e científica Definição jurídica A enfermagem, a pessoa com ostomia intestinal e seus familiares Definição construída no Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada Breve revisão da fisioanatomia intestinal Principais causas de doenças intestinais que levam à ostomia Classificação das ostomias intestinais O Papel da enfermagem na prevenção do câncer intestinal Cuidados de enfermagem específicos à pessoa ostomizada e seus familiares Singularidade Fases de desencadeamento Enfoque biopsicossocial Competências do profissional de enfermagem Complicações dos ostomas intestinais Escolha de dispositivos Prática educativa Complementaridade Erros freqüentes e adequação do cuidado Casos clínicos Conclusão Caso 1: Lesão periostoma grave por contato com efluente Caso 2: Grupo de convivência Caso 3: Comprovação da eficácia de protetor de pele para dermatite alérgica 131 PR OE NF SE SC ADA PESSOA COM OSTOMIA INTESTINAL E A ESPECIFICIDADE DO CUIDADO DE ENFERMAGEM DEFINIÇÕES Definição lexicográfica e científica A palavra “estoma” origina-se do grego stóma, que significa boca ou abertura de qualquer víscera oca através do corpo por diversas causas. Dependendo da origem do segmento corporal, dá-se nomes diferenciados, como, por exemplo, gastrostomia (abertura no estômago), traqueostomia (abertura na traquéia). Nas ostomias intestinais, temos, por exemplo, as ileostomias e colostomias, sendo definidas, respectivamente, pela abertura de segmento ileal e cólico na parede abdominal com o intuito de desviar o conteúdo fecal para o meio externo.6 Em 2004, a Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest) fez consulta à Academia Brasileira de Letras (ABL) sobre o uso dos termos “estomia” e “ostomia”, tendo em vista o uso corrente da palavra ostomia. A ABL, em resposta, esclareceu que as expressões estoma e estomia provêm do grego stóma, que significa boca. Associado à colo(n) mais o sufixo -ia, por exemplo, o grego stóma forma a palavra colostomia. O lexicógrafo-chefe, Sergio Pachá, observa que a letra “o”, presente na palavra “colostomia” não pertence à estoma, e sim à palavra colo(n). “Daí, não há sentido em se falar em ostoma. Tal palavra não existe.”7 Desta forma, a Sobest passa a adotar o termo estomia, enquanto a Associação Brasileira de Ostomizados (Abraso) permanece utilizando o termo ostomia, deviso ao uso freqüente e sua visibilidade na indicação para políticas públicas. O Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada (GAO) adota o termo ostomia, em decorrência de seu uso predominante, e em processo de afirmação, no sentido da disseminação desse conhecimento ainda muito incipiente em nossa sociedade. A estomaterapia é uma especialidade da área da enfermagem destinada a enfermeiros, que, a partir da formação, recebem o título de estomaterapeuta. O curso capacita técnica e cientificamente para cuidar de pessoas com ostomias, feridas, incontinências fecal e urinária e fístulas. Esta especialidade surgiu no Brasil em 1990, na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), e atualmente conta com vários cursos no Brasil. Para saber mais: Informações mais detalhadas sobre a estomaterapia podem ser encontradas no site da Sobest: www.sobest.org.br 132 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S Definição jurídica De acordo com o Decreto 5.296, de 02 de dezembro de 2004, a pessoa com ostomia é considerada como portadora de deficiência física,8 e o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE) posteriormente adotou o termo pessoa portadora de deficiência. Refletindo sobre o conceito de a pessoa com ostomia ser considerada como portadora de deficiência, vê-se que: “Ser designado pessoa com deficiência é estratégia válida para a construção de políticas públicas. A distinção entre a diferença e a deficiência não tem nada de mera retórica, pois é conceitual, teórica e quanto mais solidamente enfrentada mais fornece possibilidades de densidade para a construção de políticas públicas em defesa dos direitos humanos essenciais. “Fora dessa estratégia, designar as pessoas ostomizadas como pessoas com deficiência é defini-las por sua diferença marcante, contribuindo para que se sintam ‘tadinhas’, vitimizadas, tenham baixa auto-estima e assim aceitem ser passivamente ‘paternalizadas’, sem forças para usar seu poder interno no enfrentamento do desafio de ser e estar no mundo na condição de pessoa ostomizada.”9-64 Definição construída no Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada O GAO é um grupo interinstitucional e interdisciplinar com o foco na parceria e com sede em Florianópolis, Santa Catarina. São parceiros o Departamento de Enfermagem e o Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); o Setor de Ostomizados do Centro Catarinense de Reabilitação, da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina; a Associação Catarinense da Pessoa Ostomizada (ACO). Estão envolvidos no trabalho grupal os profissionais, voluntários, pessoas ostomizadas e familiares. Durante a sua trajetória, o GAO adotou as seguintes definições operacionais de pessoa com ostomia: 1. “O ser humano é um ser que tem potencialidades a explorar, para decidir, enfrentar e evoluir reciprocamente com o meio ambiente; é um cidadão de direitos e deveres; toma decisões e desenvolve estratégias para enfrentar as situações de vida e pode ser saudável mesmo em condição crônica de saúde. O ser humano ostomizado, além das características de ser humano, é aquele que, por determinadas circunstâncias vivenciais, sofre a perda do seu controle esfincteriano (anal e/ou vesical) e, por intervenção cirúrgica, passa a ter um estoma.”10 2. Pessoa com ostomia pode ser criança, adulto jovem, adulto idoso com desvio de eliminação fecal e/ou urinária, usuária de bolsa coletora e que exige cuidados especiais. Essas definições de pessoa com ostomia são recursos efetivos para a prática assistencial cotidiana, seja para os registros, seja para a própria concepção teórica. É um recurso metodológico que não se esgota em si, mas que apresenta características que acentuam o protagonismo na construção da vida saudável. 133 PR OE NF SE SC ADBREVE REVISÃO DA FISIOANATOMIA INTESTINAL A compreensão sobre a fisiologia e anatomia humana é necessáriapara a identificação dos tipos de ostomias intestinais, do efluente e dos cuidados específicos implicados, considerando a abordagem educacional complementar condição obrigatória para sistematizar a prática visando à autonomia destas pessoas.11 A exteriorização da ostomia intestinal no abdome, quase sempre, tem relação com a situação anatômica do intestino. O intestino delgado (Figura 1) divide-se em três regiões: duodeno, jejuno e íleo. ■■■■■ O duodeno é a porção mais alta e mede cerca de 26cm: tem formato da letra “C”, contornando a cabeça do pâncreas, recebendo o suco pancreático e a bile. Na porção mais alta estão localizadas as glândulas de Brunner que secretam substâncias ricas em bicarbonato, cujo pH varia entre 8,2 e 9,3 com a função de neutralizar o quimo, imprescindível para atuação das enzimas pancreáticas, produzindo meio alcalino. ■■■■■ O jejuno e o íleo formam a porção média do intestino delgado; o jejuno participa com dois quintos superiores, e o íleo, com três quintos inferiores. O intestino delgado mede cerca de 7m no adulto, podendo variar de 9 a 5,5m. O intestino delgado tem como função complementar a digestão e a absorção de substâncias procedentes dos alimentos e direcionadas para o meio interno, onde vão servir na renovação constante da estrutura corporal, bem como no fornecimento de energia de que necessita o ser vivo. A absorção de vitamina B12, de sais biliares e grande quantidade de água (500 a 1.000ml) ocorrem no íleo. O intestino delgado possui vilosidades (mucosa), pequeninos órgãos de absorção, já que a maioria das células que o revestem é de absorção. Abaixo da mucosa há a submucosa, formada por tecido conjuntivo. A túnica muscular logo abaixo tem duas camadas – a interna, constituída por quatro camadas com fibras anulares (circulares), e a externa, formada por fibras longitudinais. Finalmente, na externa, túnica serosa é formada de tênue túnica peritoneal. O intestino grosso (Figura 2) divide-se em ceco com apêndice, o cólon ascendente, transverso, descendente e sigmóide, o reto e o canal anal. Mede, em média, um metro e meio, sendo o seu calibre maior do que o do intestino delgado. Na parede do cólon há três tênias cólicas, que são três faixas de tecido musculares iniciadas no ceco, na base do apêndice, percorrendo todo o cólon e confluindo na região do sigmóide. As tênias são mais curtas do que a superfície externa do intestino, tendo por conseqüência aparência saculada típica, denominada haustros. Os haustros aumentam a área de absorção e servem de reservatório das fezes. Presos ao intestino grosso, existem os apêndices epiplóicos, que são os apêndices gordurosos do peritônio. A continência é dada pelos esfíncteres externos e internos. O muco produzido pelo cólon é oriundo das células caliciformes. O cólon ascendente e ceco têm capacidade de absorção maior e recebem de 800 a 1.000ml de líquido ileal, e destes são eliminados pelas fezes apenas o volume aproximado de 150ml; absorvem em torno de 400 a 500ml de água e eletrólitos e atuam como reservatório de material fecal. 134 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S O intestino é um órgão de grande importância, tanto quanto o estômago, mas não é imprescindível à vida humana. A flora bacteriana normal do cólon, escherichia coli, previne o crescimento de microrganismos patogênicos. PRINCIPAIS CAUSAS DE DOENÇAS INTESTINAIS QUE LEVAM À OSTOMIA Dentre as doenças intestinais responsáveis pela necessidade de derivação intestinal (ostoma) estão:5 ■■■■■ câncer colorretal; ■■■■■ doença diverticular; ■■■■■ doença inflamatória intestinal; ■■■■■ incontinência anal; ■■■■■ colite isquêmica; ■■■■■ polipose adenomatosa familiar; ■■■■■ trauma; ■■■■■ megacólon; ■■■■■ infecções; ■■■■■ infecções perianeais graves e proctite actínica. As ostomias intestinais são realizadas por diversas razões, sendo o câncer de cólon e reto (colorretal) a causa mais freqüente. Flexura hepática Ceco Cólon transverso Intestino delgado Sigmóide Flexura esplênica Cólon ascendente Reto Cólon sigmóide Cólon descendente Cólon transverso Figura 1 – Localização anatômica do intestino delgado e intestino grosso Figura 2 – Anatomia do intestino grosso 135 PR OE NF SE SC ADDados epidemiológicos do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam para um aumento das neoplasias no Brasil, que ocupam o 2o lugar como causa de óbito, em que o câncer de intestino encontra-se entre os 10 primeiros tipos de câncer mais incidentes.12 Ele é o 5o mais comum, o 2o na região sudeste e incide mais freqüentemente em pessoas com idade acima de 50 anos. O câncer de intestino grosso (cólon e reto), quando detectado precocemente, a sobrevida ultrapassa a 90% e pode ser curado através de cirurgia. Em estágios avançados, exige um tratamento mais radical associado com quimioterapia e/ou radioterapia. Com a cirurgia, remove- se o tumor, e, na maioria dos casos, é possível interligar as porções sadias do cólon ou do reto, não havendo necessidade de derivação intestinal. A localização do tumor muitas vezes pode definir a necessidade da ostomia, principalmente em tumores localizados na porção baixa do reto, exigindo a realização de uma colostomia temporária ou permanente. É importante destacar a alta incidência de câncer nas regiões do reto (43%) e de sigmóide (25%), e 10 a 20% dos pacientes com câncer de reto necessitam de colostomia permanente.12 Geralmente, os sinais e sintomas aparecem precocemente e, pela manifestação desses, podem ser facilmente identificados pelas pessoas. Os seguintes sinais e sintomas podem levar à suspeita de diagnóstico de câncer do reto e tendem ao agravamento à medida que a doença progride: ■■■■■ sangramento anal; ■■■■■ sangue vermelho vivo nas fezes; ■■■■■ alteração do hábito intestinal por constipação ou diarréia; ■■■■■ fezes em formato de fita; ■■■■■ sensação de evacuação incompleta (tenesmo); ■■■■■ dor ou desconforto abdominal. 1. Resuma as considerações lingüísticas e jurídicas apresentadas no capítulo. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 2. Quais as duas definições de pessoa com ostomia utilizadas pelo Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada (GAO)? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 3. Caracterize o intestino delgado e o intestino grosso do ponto de vista fisioanatômico: A) intestino delgado ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 136 AE NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S B) intestino grosso ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 4. Quais as principais causas de doenças intestinais que levam à ostomia? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 5. Assinale a alternativa adequada para os sintomas do câncer do reto. A) Dor abdominal, esteatorréia e lombalgia. B) Sangramento anal, alteração do hábito intestinal e tenesmo. C) Sangramento anal, anemia e cefaléia. D) Desconforto abdominal, sangramento anal e mialgia. Resposta no final do capítulo CLASSIFICAÇÃO DAS OSTOMIAS INTESTINAIS A enfermagem, de posse do conhecimento sobre a anatomia e fisiologia do intestino, terá facilidade para identificar o segmento intestinal exteriorizado. Além deste dado, acresce o tipo de efluente. Denomina-se efluente as fezes excretadas pelo ostoma intestinal. Desse modo, será necessário conhecer o tipo de cirurgia realizada e as características do efluente para identificar os tipos de ostomia (Quadro 1). Quadro 1 CLASSIFICAÇÃO DAS OSTOMIAS INTESTINAIS, LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO EFLUENTE Tipo de ostomia intestinal Ileostomia Ostomia de cólon ascendente Ostomia de cólon transverso Ostomia de cólon Descendente e sigmóide Localização no abdome Quadrante inferior direito Quadrante inferior direito Quadrante inferior direito, podendo localizar-se também no quadrante superior direito ou esquerdo Quadrante inferior esquerdo Características do efluente Consistência inicial líquida passando à pastosa. Efluente com pH alcalino, altamente corrosivo à pele. Eliminação freqüente e de grande volume. Apresenta efluente liquido à pastoso Efluente pastoso a semiformado. Efluente sólido e formado. 137 PR OE NF SE SC ADA localização da ostomia no abdome nem sempre se apresenta do modo descrito; fatores internos e externos levam o cirurgião a fixar a ostomia de acordo com as condições presentes no ato cirúrgico. As ostomias intestinais são habitualmente classificadas como: ■■■■■ temporárias ou definitivas; ■■■■■ terminais ou em alça. As derivações em alça geralmente são provisórias e possibilitam a reconstrução do trânsito intestinal sem a necessidade de intervenção cirúrgica maior. Entre outras situações, derivações em alça são indicadas para: ■■■■■ proteção de anastomose de alto risco de deiscência, ■■■■■ derivação do trânsito fecal para casos de trauma anorretoperineal importante. A escolha da localização do ostoma é um direito da pessoa com ostomia e deve ser respeitado, desde que dentro das condições cirúrgicas possíveis. O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER INTESTINAL A enfermagem, ao identificar a presença de fatores de risco (Quadro 2) entre os familiares da pessoa ostomizada, deve realizar encaminhamento aos serviços de saúde, assumindo a responsabilidade nas orientações quanto a mudanças de hábitos alimentares, ambientais e comportamentais. Se houver um programa de prevenção e educação para a saúde de sua referência, ela deve encaminhar o familiar. A própria pessoa ostomizada deverá contar com suporte de saúde que lhe ajude no processo de aquisição de novos hábitos. Pessoas acima de 50 anos com histórico familiar de câncer devem submeter-se ao rastreamento para o câncer de intestino. O protocolo inclui a pesquisa de sangue oculto nas fezes; se o resultado for positivo, é feito o toque retal e colonoscopia ou retosigmoidoscopia. O diagnóstico precoce e o rastreamento do câncer de intestino na população de risco para a doença pode diminuir a incidência e a mortalidade na população-alvo em relação à população-controle não-rastreada. Para saber mais: Maiores conhecimentos sobre a prevenção podem ser encontrados no site www.combateaocancer.org.br 138 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S Os Quadros 2 e 3 apresentam, respectivamente, os fatores de risco e de proteção ao câncer do intestino.12-14 Quadro 2 FATORES DE RISCO AO CÂNCER DE INTESTINO Quadro 3 FATORES DE PROTEÇÃO AO CÂNCER DE INTESTINO CUIDADOS DE ENFERMAGEM ESPECÍFICOS À PESSOA OSTOMIZADA E SEUS FAMILIARES A abordagem do cuidado à pessoa com ostomia e seus familiares possui uma especificidade, a qual pressupõe a existência de princípios norteadores, sem os quais a assistência à saúde torna- se pouco efetiva. Assim, optou-se pela apresentação dos sete princípios do cuidado à pessoa com ostomia,13 a saber: ■■■■■ processualidade; ■■■■■ singularidade; ■■■■■ fases de desencadeamento; ■■■■■ enfoque biopsicossocial; ■■■■■ competências técnicas do profissional de enfemagem; ■■■■■ prática educativa; ■■■■■ complementaridade. PROCESSUALIDADE A processualidade é o exercício vivenciado pelo profissional e a pessoa ostomizada. Nesta vivência, é valorizada a experiência dos protagonistas deste processo no presente: profissionais e pessoa com ostomia intestinal. Neste sentido, é necessário considerar o momento em que o usuário se encontra, sem desconsiderar o passado, estabelecendo metas de superação da condição vivenciada. O significado da condição vivenciada pelo profissional e pela pessoa com ostomia intestinal decorre do entrelaçamento de suas histórias de vida e de suas experiências passadas. ■■■■■ Legumes, verduras e frutas ■■■■■ Carotenóides e fibras ■■■■■ Atividade física ■■■■■ Idade superior a 60 anos ■■■■■ Parentes de primeiro grau com câncer do intestino ■■■■■ Síndrome genética (polipose adenomatosa familiar e câncer corretal hereditário sem polipose) ■■■■■ Doença inflamatória do intestino (colite ulcerativa ou doença de Crohn) ■■■■■ Consumo excessivo de bebidas alcoólicas e gordura animal ■■■■■ Tabagismo ■■■■■ Obesidade 139 PR OE NF SE SC ADSINGULARIDADE A singularidade compreende as crenças e valores do profissional e da pessoa com ostomia intestinal, cada qual com um modo de ser específico, fazendo-se, assim, únicos. A unicidade é o modo como cada pessoa se vê na sua relação com os outros e como os outros a vêem. Cada pessoa estabelece relações e tem reações muito específicas, pessoais, e este dado deve estar agregado ao cuidado. É necessário cuidar diferentemente os iguais diante de uma sociedade, cuja prática a tudo padroniza. Não estamos aqui defendendo o rompimento de normas e de rotinas assistenciais, mas as normas e rotinas como meio, e não como um fim em si mesmo. O que se encontra são pessoas que reagem diferentemente frente aos eventos de suas vidas e ainda modos específicos para aplicar normas e rotinas para cada pessoa. Por exemplo, a higiene é uma necessidade e deve ser suprida. Ora, o modo como cada pessoa elabora este ritual é diferente quanto à temperatura da água, à freqüência dos banhos, ao horário. Portanto, poder atender a pessoa com ostomia intestinal negociando com forma própria é fundamental. FASES DE DESENCADEAMENTO Em cada uma das fases de desencadeamento da doença eseus desdobramentos, devem ser feitos encaminhamentos efetivos a serem compartilhados naquele momento específico. A tomada de decisão do paciente em se tornar ostomizado ou não é muito complexa, e não devem ser queimadas etapas nesse processo. Ou seja, cada pessoa precisa de um tempo mínimo para realizar essa escolha, mas deve estar ciente de que o tempo investido nesta decisão pode contribuir para o agravamento da doença. Os suportes familiar e de saúde são indispensáveis para esclarecer as perdas, ganhos e riscos referentes à escolha do paciente em ser ostomizado ou não. Cabe à família estar junto ao paciente e apoiá-lo em sua decisão. Os profissionais têm um papel decisivo no esclarecimento sobre a doença e as suas conseqüências. Devem ser esgotadas todas dúvidas com base nos conhecimentos científicos, sem desconsiderar a processualidade e singularidade das pessoas envolvidas. O câncer, após ser diagnosticado, geralmente leva a pessoa a passar por fases de negação e isolamento, ira, barganha, depressão e aceitação.14 Pessoas com ostomia intestinal, com diagnóstico de câncer, além de poder passar por essas fases, passam a viver dois estigmas sociais: o câncer e a ostomia. Como as pessoas reagem diferentemente a situações desse tipo, elas podem queimar ou não essas fases. Muitas vezes, uma pessoa vive na mesma fase por uma longa data. O profissional deve identificar a fase pela qual a pessoa com ostomia intestinal passa, para compreender suas reações, respeitando seu momento de vida e podendo assim auxiliá-la e, se necessário, encaminhá-la, juntamente com sua família, para outros profissionais. 140 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S É comum encontrar o usuário irado com sua condição clínica. Na cobrança por parte do profissional de uma atitude positiva para a vida, a pessoa com ostomia responde: “Porque não é em você”, ou ainda: “Você não é ostomizado”. Nessas ocasiões, o profissional de saúde deve contar com um suporte social muito eficaz que é o visitador domiciliar e hospitalar, credenciado, membro da Associação da Pessoa Ostomizada, ou de um familiar treinado por uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de se mostrar na sua condição de ajustado social naquela condição. A pessoa recém-ostomizada está sofrendo com suas perdas e dificilmente estará receptiva para aprender sobre o manuseio de sua bolsa coletora. Os profissionais devem sensibilizar-se para esta etapa vivida e identificar um familiar que possa assumir temporariamente as funções de um cuidador, que exercerá essa função na alta hospitalar. ENFOQUE BIOPSICOSSOCIAL O enfoque biopsicossocial pressupõe ver a pessoa na sua totalidade. Ela é sujeito de sua história, é protagonista de sua vida que não deve ser reduzida a uma ostomia. Encontramos com freqüência profissionais que ainda utilizam o paradigma biológico. É comum, no meio médico, tratar a pessoa como uma doença, e, então, o profissional refere-se à pessoa com ostomia como “Vou ver a colostomia”. “O GAO defende outro paradigma que, ao contrário do biomédico, concebe a pessoa na perspectiva da sua multidimensionalidade, unicidade, integralidade, engajada no mundo como agente de sua história. A sua inserção na sociedade se dá por meio da troca, da partilha.”15 6. De acordo com os tipos de ostomias intestinais, assinale a alternativa não adequada. A) Nas ileostomias, a porção exteriorizada da alça intestinal é o íleo, cujo efluente é líquido e altamente corrosivo à pele. B) Nas colostomias, a porção exteriorizada da alça intestinal é o cólon, cujo efluente é sempre sólido, sem poder irritativo à pele. C) Nas colostomias de cólon ascendente, a porção exteriorizada da alça intestinal é o cólon ascendente, cujo efluente é de líquido a pastoso, apresentando alto poder irritativo. D) Nas colostomias de cólon sigmóide, a porção exteriorizada da alça intestinal é o cólon sigmóide, cujo efluente é sólido apresentando baixo poder irritativo. Resposta no final do capítulo 141 PR OE NF SE SC AD7. Quais as indicações para a derivação em alça? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 8. Qual o papel da enfermagem na prevenção do câncer intestinal? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 9. Assinale a alternativa correta quanto aos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer intestinal. A) Ambos os sexos, idade entre 30 a 40 anos, tabagista, e com baixa atividade física. B) Sexo masculino, idade superior a 50 anos, dieta rica em gordura animal e atividade física regular. C) Ambos os sexos, idade superior a 60 anos, parentes de primeiro grau com câncer do intestino, tabagismo e obesidade. D) Sexo feminino, idade superior a 60 anos, dieta rica em gordura animal e pobre em fibras, de constituição física magra. Resposta no final do capítulo 10. Sintetize os seguintes cuidados de enfermagem específicos à pessoa ostomizada e a seus familiares: A) processualidade ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ B) singularidade ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ C) fases de desencadeamento ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ D) enfoque biopsicossocial ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 142 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S 11. Qual o princípio do cuidar que se contrapõe à afirmação comumente encontrada na prática assistencial: “Vou ver a colostomia”. A) Processualidade. B) Enfoque biopsicossocial. C) Singularidade. D) Complementaridade. 12. Assinale a alternativa FALSA para esta afirmação: “Estar na condiçãode pessoa com ostomia intestinal é...”: A) não poder mais sair de casa, viajar, dançar e comer o que gosta. B) envolver-se temporariamente com sua imagem corporal, procurando dar conta das profundas mudanças ocorridas em seu estilo de vida. C) acolher sentimentos de invalidez, baixa auto-estima, insegurança, ansiedade e medo, renovando suas experiências com o próprio corpo. D) perder a continência das eliminações fecais, através do desvio cirúrgico, vivenciando sentimentos de impotência e de incapacidade; porém, mobilizando seu poder interno de enfrentamento para o desafio de estar no mundo nesta condição. Respostas no final do capítulo COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM A competência do profissional exige atualização permanente para atender os cuidados especiais demandados. Esses cuidados especiais incluem atenção diferenciada desde o diagnóstico, passando pela hospitalização até o segmento ambulatorial. Diagnóstico No diagnóstico, é necessário ter cuidado com a informação, principalmente se estiver relacionado ao câncer. É comum que a pessoa, de posse do diagnóstico de câncer, desespere-se e apresente dificuldade na adesão ao tratamento. Quem vai dar a notícia, como e para quem é uma decisão tomada no coletivo dos profissionais e deve estar acordado com o médico responsável pelo paciente. A família e o próprio paciente, nesta fase, estão ávidos por informações que lhes ofereçam elementos para atenuar a ansiedade e o medo do que é desconhecido para eles. Nesta fase, em especial, os profissionais devem ser eficientes para promover condições de enfrentamento na pessoa a se submeter à cirurgia de ostomia e também em seus familiares. Conhecer a teoria do enfrentamento neste momento é indispensável.10 143 PR OE NF SE SC ADPré-operatório No pré-operatório, a pessoa é submetida a uma série de procedimentos terapêuticos e de complementações diagnósticas, quando necessário. Essa série compreende cuidados gerais e específicos. Dentre os específicos, estão: ■■■■■ dieta; ■■■■■ preparo colônico; ■■■■■ seleção e demarcação do local de confecção do ostoma intestinal na parede abdominal; ■■■■■ teste de sensibilidade; ■■■■■ suporte emocional. O preparo colônico consiste em medidas adotadas para remoção das fezes, habitualmente prescrito pelo cirurgião coloproctologista. A dieta alimentar sem resíduos é iniciada antes do preparo colônico. O intestino está limpo quando, em suas eliminações, não há nenhum resíduo fecal. Este procedimento visa a minimizar a contaminação bacteriana. A manutenção do intestino limpo é condição obrigatória no pré- operatório, e, se eventualmente o usuário alimentar-se com resíduos, a cirurgia será cancelada. A demarcação do local de confecção do ostoma intestinal na parede abdominal deve, sempre que possível, ser executada pelo enfermeiro habilitado ou estomaterapeuta em conjunto com o cirurgião e com a pessoa a se tornar ostomizada. Este procedimento facilitará a adesão, a remoção e manutenção da bolsa coletora no local, a higiene, fatores que contribuem para evitar complicações e favorecem para a sua reintegração social.16 Os suportes emocional e social contribuem através das orientações dos vários profissionais da equipe de saúde no sentido de melhor esclarecer o ato cirúrgico e suas prováveis conseqüências. O planejamento do visitador ostomizado, suporte social, poderá ser executado, se o usuário concordar com a necessidade da visita. Transoperatório No transoperatório, após a ostomia, destaca-se a adaptação ao sistema coletor drenável (que serve para esvaziar efluente e gases), de plástico transparente (para o monitoramento do ostoma e do seu efluente) e com barreira protetora de pele (para prevenir lesões e facilitar a aderência do dispositivo). Dispositivos são todos os produtos destinados a prover ou abastecer a pessoa com ostomia intestinal na sua condição específica. O pós-operatório é delicado e compreende cuidados pontuais quanto ao ostoma: ■■■■■ cor, que deve ser rosa vivo brilhante. ■■■■■ tamanho em milímetros, que varia com o tipo de segmento, com o biotipo, com o trauma tecidual; 144 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S ■■■■■ localização para seleção de dispositivos; ■■■■■ tipo de ostomia para avaliar o efluente, as perdas e sua reposição; ■■■■■ grau de protrusão da exteriorização da alça e a forma, que pode ser redonda, regular e ovala- da, irregular; ■■■■■ umidade e integridade da mucosa. Se a cor do ostoma estiver vermelho escuro ou pálido é sinal de isquemia e deve ser solicitada a avaliação médica. Complicações dos ostomas intestinais Dentre as complicações dos ostomas intestinais, as mais freqüentes são hemorragias, necrose, estenose, retração, prolapsos, hérnias paraostomais, dermatites. São complicações precoces dos ostomas intestinais: sangramento, isquemia, necrose, edema e retração. As complicações tardias podem manifestar-se meses ou anos após a cirurgia. Serão tratadas em detalhe as seguintes complicações: ■■■■■ prolapso; ■■■■■ hérnia paraostomal; ■■■■■ retração; ■■■■■ dermatites. O prolapso é a exteriorização ou protrusão de segmento de alça intestinal, em extensão variável, através do ostoma, além do plano cutâneo do abdome. Pode ocorrer em associação com a hérnia paraostomal. ■■■■■ Em caso de prolapso, são indicados dispositivos com barreira de proteção de pele flexível, com área para recorte e fixação maior do que a média usual, capacidade maior do que a média dos dispositivos convencionais, utilização de barreiras protetoras de resina em pasta ou protetores cutâneos na região periostoma. A hérnia paraostomal consiste na protrusão das alças intestinais pelo trajeto do ostoma, dentro do tecido subcutâneo, criando um abaulamento ao redor do mesmo. Pode ocorrer devido à infecção da ferida operatória, fragilidade da musculatura abdominal, grande alteração na parede abdominal resultante de cirurgias anteriores e obesidade. A demarcação do local da confecção do estoma no período pré-operatório, a técnica cirúrgica adequada (através do músculo reto abdominal) são facilitadores para a prevenção de hérnia paraostomal. Além desses fatores, deve-se evitar esforços e exercícios físicos. ■■■■■ A correção da hérnia paraostomal é cirúrgica e indicada quando houver dor abdominal intensa, impossibilidade de adaptação adequada de equipamento, obstrução intestinal devido ao encarceramento da hérnia. ■■■■■ Na hérnia paraostomal, os dispositivos indicados devem ser de barreira flexível e uso de cintas elásticas para contenção abdominal ou de cintos de proteção para essa patologia. 145 PR OE NF SE SC ADOutra complicação é a retração que compreende a penetração da alça intestinal para a cavidade abdominal devido ao segmento intestinal curto ou exteriorizado sob tensão. As retrações dificultam a colocação e manutenção adequada dos dispositivos, favorecendo o contato do efluente com a pele. ■■■■■ O tratamento da retração é cirúrgico, com o reposicionamento do ostoma e indicado quando há dificuldade de permanência dos dispositivos, com risco de lesões extensas e graves. ■■■■■ Em caso de retração, recomendam-se como dispositivos o uso de sistema coletor com bar- reira convexa, barreiras associadas na apresentação de pó e pasta, e cintos auxiliares para fixação. As complicações com a pele do periostoma denominadas dermatites são muito freqüentes e podem estar relacionadas às complicações descritas anteriormente. Dentre os cuidados, destaca- se a manutenção de sua integridade, sendo para isso necessária a higiene e o uso adequado dos dispositivos. A identificação do agente causal das dermatites periostoma é o primeiro passo a ser dado para então, proceder a conduta. São encontradas várias dermatites, como: por irritação, poralergia, por trauma mecânico e por infecção, conforme o Quadro 4. Quadro 4 TIPOS DE DERMATIDE QUE OCORREM NA PELE PERIOSTOMA Tipo de dermatite Por irritação Por alergia Por trauma mecânico Características A dermatite irritativa ocorre pelo contato do efluente com a pele e é mais freqüente em ostomas planos ou retraídos e em ileostomias, ostomias de cólon ascendente ou transverso. Conduta: A conduta na dermatite irritativa compreende: ■■■■■ revisar das ações de cuidado; ■■■■■ limpar adequadamente a pele com água morna e sabão neutro; ■■■■■ evitar contato do efluente com a pele através do uso de bolsa drenável, com barreira protetora de pele, com necessidade inclusive de uso de barreiras cutâneas adicionais em forma de pó, pastas e placas; ■■■■■ trocar o dispositivo a cada sinal de vazamento. A dermetite alérgica pode instalar-se devido a reações de contato da pele com produtos. Neste caso, a área cutânea comprometida tem a forma da área de contato com dispositivo. Conduta: A conduta na dermatite alérgica está amparada: ■■■■■ na investigação da causa da alergia; ■■■■■ na troca de dispositivos, preferencialmente os hipoalergênicos; ■■■■■ no uso de inibidores da ação alérgica, para atenuar o desconforto. A dermatite por trauma mecânico ocorre pela retirada abrupta da bolsa coletora, pela troca freqüente ou na limpeza exagerada. Conduta: A conduta na dermatite por trauma mecânico consiste em: ■■■■■ evitar ações inadequadas que provoquem trauma mecânico; ■■■■■ rever ações de cuidado; ■■■■■ usar de dispositivos com protetor de pele (bolsa com 2 peças). Continua ➜➜➜➜➜ 146 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S 13. Quais as principais orientações quanto ao cuidado na fase de diagnóstico? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 14. Sintetize as orientações de cuidado de enfermagem no pré-operatório em enfermagem quanto aos seguintes itens A) dieta ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ B) preparo colônico ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ C) seleção e demarcação do local de confecção do ostoma intestinal na parede abdominal ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ D) suporte emocional ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 15. Assinale a alternativa INCORRETA. A) A ostomia intestinal permanece do mesmo tamanho desde a sua confecção. B) Nem sempre a forma das ostomias intestinais é arredondada. C) A ostomia intestinal saudável apresenta coloração rosa vivo, brilhante e mucosa úmida. D) A ostomia deve ser medida periodicamente, pois altera de tamanho desde a sua confecção. Resposta no final do capítulo Tipo de dermatite Por infecção Características A dermatite por infecção é secundária às causas anteriormente citadas neste Quadro. As infecções mais freqüentes são foliculite (estafilococos) e candidíase (Candida albicans). Conduta: A conduta na dermatite por infecção está associada ao uso de medicamentos tópicos específicos, como fungicidas, corticóides e/ou antibióticos. 147 PR OE NF SE SC AD 16. Se a cor do ostoma estiver vermelho escuro ou pálido, a conduta mais correta é: A) acompanhar por 24 horas após o ato cirúrgico. B) pré-avaliar que tipo de dermatite pode estar sendo desencadeada. C) solicitar imediatamente avaliação médica. D) nenhuma das respostas acima. 17. Correlacione as colunas, quanto às caracterizações das complicações dos ostomas intestinais. Complete com as informações sobre cuidado, tratamentos e dispositivos indicados em cada complicação, conforme o caso. 18. A limpeza adequada da pele com água morna e sabão neutro é conduta específica de dermatite causada por: A) trauma mecânico. B) infecção. C) alergia. D) irritação. Respostas no final do capítulo ( 1 ) Prolapso – Tratamento e dispositivos indicados: ....................................... ....................................... ....................................... ( 2 ) Hérnia paraostomal – Tratamento e dispositivos indicados: ....................................... ....................................... ....................................... ( 3 ) Retração – Tratamento e dispositivos indicados: ....................................... ....................................... ....................................... ( 4 ) Dermatites – cuidados gerais: ....................................... ....................................... ....................................... ( ) Penetração da alça intestinal para a cavidade abdominal devido ao segmento intestinal curto ou exteriorizado sob tensão. ( ) A identificação do agente causal dessa complicação no periostoma é o primeiro passo a ser dado para então, proceder a conduta. são muito freqüentes, e podem estar relacionadas a outras complicações. ( ) Exteriorização ou protrusão de segmento de alça intestinal, em extensão variável, através do ostoma, além do plano cutâneo do abdômen. ( ) Protrusão das alças intestinais pelo trajeto do ostoma, dentro do tecido subcutâneo, criando um abaulamento ao redor do mesmo. 148 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S Escolha de dispositivos Para a avaliação e seleção dos equipamentos utilizados na pessoa com ostomia intestinal é obrigatório levar em conta as características da pessoa ostomizada, dos dispositivos, da ostomia e dos recursos sociopolíticos. Para a avaliação, seleção e indicação de dispositivos para a pessoa com ostomia intestinal, a idade, sexo, biotipo, atividade laboral devem ser observadas pelo profissional de enfermagem. Quanto à ostomia, deve-se observar o tipo e a consistência do efluente, a localização na parede abdominal, o tamanho e o nível de protrusão. Referente aos dispositivos, deve-se considerar a segurança, proteção, conforto, barreira protetora de pele e plástico à prova de odor, ser hipoalergênico, com adesividade e de fácil manuseio. Devem ser indicados preferencialmente aqueles dispositivos disponíveis no mercado, de acesso à pessoa com ostomia. No Brasil, a saúde é direito de todos e dever do Estado,e a assistência, assim como a distribuição dos dispositivos, são de responsabilidade deste, por meio de programas públicos de assistência hospitalar e ambulatorial. Existem no mercado várias marcas e diferentes modelos de dispositivos para as pessoas com ostomia. A pessoa com ostomia intestinal pode experimentar e decidir pelo melhor dispositivo para si, e, para isso, ela conta com o suporte profissional. Comumente, são utilizados produtos descartáveis que após o uso são eliminados. Os sistemas coletores para ostomia intestinal são apresentados na forma de uma ou duas peças drenável ou fechada, com barreira de proteção de pele de resina natural (karaya), resina sintética ou mista, plana ou convexa, recortável ou pré-cortada (com diâmetro preestabelecido), nos tamanhos adulto ou pediátrico, confeccionado em plástico transparente ou opaco, com presilha de fechamento (Figura 3). Figura 3 – Tipos de sistemas coletores para ostomia Bolsa coletora de 2 peças drenável e recortável Bolsa coletora de 1 peça drenável e pré-cortada Bolsa coletora de 1 peça drenável e recortável Bolsa coletora de 1 peça fechada e pré-cortada 149 PR OE NF SE SC ADAlém destes, existem dispositivos na forma de barreiras cutâneas sob a forma de pasta, pó, placa e líquida. São encontrados ainda outros materiais que auxiliam na segurança e conforto, tais como filtros, protetores e oclusores para colostomia, cintos e desodorizantes. As bolsas drenáveis de uma peça devem ser esvaziadas quando o efluente ocupar no máximo metade da sua capacidade, evitando o excesso de peso que pode levar ao seu descolamento precoce da pele. A média de duração da adesividade de bolsas coletoras é de aproximadamente dois a três dias. As bolsas drenáveis de duas peças tem uma durabilidade maior, de quatro a cinco dias em média, e são indicadas para um grande volume de efluente, devendo ser esvaziadas sempre que completadas com até a metade de sua capacidade. Bolsas coletoras fechadas, de uma peça, devem ser descartadas sempre que completadas com dois terços de efluente. Nas bolsas coletoras fechadas, com duas peças, deve ser mantida a placa aderente à pele e deve ser descartada a bolsa coletora quando a mesma estiver com dois terços da sua capacidade ocupada. Em seguida, deve-se adaptar àquela placa uma nova bolsa coletora compatível. Para melhor compreensão e eficácia do processo de adaptação do dispositivo na pessoa com ostomia, o profissional deve conhecer as etapas da troca adequada da bolsa coletora, conforme o Quadro 5. Quadro 5 PASSOS PARA TROCA DA BOLSA COLETORA16 Pode haver indicação do controle da eliminação intestinal através da irrigação intestinal. A irrigação intestinal consiste na lavagem intestinal feita através da colostomia (esquerda) para esvaziar o intestino com regularidade diária. Para realizá-la, serão necessários o conjunto de materiais, com reuso, com média de tempo de uso variável para cada elemento do conjunto. Trata-se de um procedimento com indicação restrita, especializada.16, 17 1) Limpar a pele ao redor do ostoma com água morna e sabão neutro, enxaguar abundantemente e secar bem com um tecido macio. 2) Medir o ostoma, utilizando um medidor específico, e marcar o tamanho no papel (proteção) que recobre a placa protetora da bolsa. 3) Antes de recortar, afastar a parte plástica anterior da posterior, tomando o cuidado de não perfurar a bolsa (Figura 4a). 4) Recortar a abertura inicial da placa protetora, de acordo com o tamanho e forma da ostomia (Figura 4b). 5) Retirar o papel protetor da placa e posicionar a bolsa com a abertura sobre a ostomia, pressionando-a levemente contra a pele (Figura 4c). 6) Remover o papel protetor do adesivo lateral (quando existir) e fixá-lo na pele com uma leve pressão sem formar rugas (Figura 4d). 7) Proceder a remoção da bolsa. Indica-se preferencialmente a retirada durante o banho, pois o umedecimento do adesivo e o deslocamento da placa protetora suavemente da pele facilitam o procedimento. Indica-se que a troca ocorra pela manhã ou entre as refeições, pois nestes horários há uma diminuição da eliminação do conteúdo intestinal (Figura 4e). 150 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S A competência técnica, evidenciada no cotidiano do profissional, leva-o às habilidades humanas desenvolvidas para bem atender a pessoa com ostoma intestinal e seus familiares. Quanto mais experiência adquire o profissional, mais hábil ele se torna para avaliar, selecionar e indicar os dispositivos, além da educação para a saúde. Essas habilidades requerem responsabilidade, busca do conhecimento, atenção e dedicação. A competência em responder às necessidades de diagnóstico, cuidado, conforto e tratamento adequado, segundo às necessidades do usuário, é de fundamental importância. São essenciais ao profissional no exercício do cuidado a flexibilidade, paciência, confiança, sinceridade, humildade, esperança e coragem delineando relações interpessoais saudáveis, motivando a todos para a qualidade de vida esperada. PRÁTICA EDUCATIVA A prática educativa é uma grande aliada da enfermagem e dela emerge a experiência, saberes e vivências. O espaço de discussão em grupo prevê o saber popular e o saber técnico profissional, como essência para a troca e a aprendizagem. A prática educativa hospitalar ainda é muito insipiente, considerando o modelo pedagógico ainda predominante em uma relação verticalizada, em que os profissionais “sabem tudo” e pessoa a ser cuidada “não sabe nada”. A sobrecarga de trabalho nem sempre propicia espaços, tempos e recursos para assistir a pessoa com ostomia e sua família por meio da utilização da prática educativa como ferramenta de cuidado. Nestes tempos de Sistema Único de Saúde (SUS), vem à tona essa discussão e se reafirma a necessidade de essa ferramenta ser incluída na assistência. A autonomia do usuário está relacionada à educação em saúde que valoriza o ser humano como sujeito da sua história, com saberes, capacidades e potencialidades a serem exploradas. Figura 4 – Passos para a troca da bolsa coletora A B D E C 151 PR OE NF SE SC ADQuanto ao segmento ambulatorial, em Santa Catarina, utiliza-se este recurso desde a década de 1990, quando um grupo de docentes do Departamento de Enfermagem da UFSC identificou a necessidade de fazer pesquisa utilizando grupos de convivência,18 fundamentado no pressuposto de que toda a pessoa com doença crônica pode levar uma vida saudável. Esses grupos vêm acontecendo em vários momentos e, em 1997, passaram a incorporar a prática assistencial da pessoa ostomizada e de seus familiares no então Programa de Assistência à Pessoa Ostomizada, da Secretaria de Estado da Saúde, em Florianópolis. O grupo tem a coordenação de uma enfermeira e assume como pressupostos:19 ■■■■■ relação dialógica entre o facilitador e os usuários; ■■■■■ respeito aos saberes dos educandos; ■■■■■ aceitação do novo; ■■■■■ rejeição a qualquer forma de discriminação; ■■■■■ crença na possibilidade de mudança com base no enfrentamento; ■■■■■ comprometimento; ■■■■■ estética; ■■■■■ ética. O grupo terapêutico (referido como grupo de convivência) tem a finalidade de “reunir pessoas com a mesma condição crônica de saúde e de doença para discutir, trocar idéias, compartilhar experiências de vida e proporcionar auto-ajuda, apoio e crescimento, de modo que os participantes possam desenvolver estratégias para enfrentar situações particulares e coletivas”.20 As trocas de experiências verbalizadas pelos participantes iniciantes do grupo de convivência revelam o quanto o participante aprende e assume um papel ativo, com independência e autonomia frente à sua vida. O participante, ao chegar, traz a informação de que não poderá mais sair de casa, comer o quegosta, usar roupas justas; acha que é o fim do mundo e, passado um tempo de convivência no grupo, ele altera seu discurso para “a troca de experiências entre as pessoas ostomizadas é um grande aprendizado, nós mesmos ensinamos”.21 COMPLEMENTARIDADE A complementaridade é o princípio que nos lembra a continuidade do cuidado, e nele se incluem a família, profissionais, grupo de ajuda e todos suportes, em rede. Essa rede funciona com responsabilidade mútua com vistas ao autocuidado. A estimulação ao usuário no desenvolvimento de suas potencialidades para a aprendizagem de seu autocuidado é função do profissional. A pessoa com ostomia, assim como suas famílias, são capazes de assimilar sua nova condição e desenvolver suas habilidades para o cuidar de si. Assim, todos os envolvidos possuem capacidades que devem ser exploradas para potencializar ações que levem à autonomia para o autocuidado. Uma pessoa internada, após se submeter a cirurgia e tendo como conseqüência a ostomia intestinal, aguarda a vinda de um visitador credenciado. 152 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S O visitador traz consigo uma novidade – a de viver com qualidade naquela situação –, e, na conversa entre os dois, surgem elementos que complementam uma cadeia de eventos facilitadores para o enfrentamento do paciente internado prestes a sair de alta, aquietando medos, dúvidas e insegurança, visto que deixará de receber os cuidados hospitalares até então assegurados. ERROS FREQÜENTES E ADEQUAÇÃO DO CUIDADO No Quadro 6, apresentam-se alguns erros freqüentes e adequação do cuidado Quadro 6 ERROS FREQÜENTES E ADEQUAÇÃO DO CUIDADO NA CONDUTA COM PACIENTES OSTOMIZADOS ■■■■■ Alguns profissionais de saúde sobrepõem os cuidados à ostomia aos cuidados do usuário como ser humano. É necessário utilizar a abordagem do ser humano multidimensional e, nesta, sua ostomia intestinal. ■■■■■ Na prática hospitalar, é comum encontrar profissionais de saúde que, ao realizar a limpeza da ostomia, pensam que esta, exteriorizada, dói. Fazer analogia com a mucosa oral facilita a percepção de que a mucosa intestinal manuseada não dói. ■■■■■ Ao sair do hospital, o usuário, geralmente, não é orientado quanto à melhor posição da bolsa coletora que facilite o manuseio no seu dia-dia. É comum encontrá-lo mantendo a bolsa na posição verticalizada após a alta hospitalar. Durante a internação, devido à freqüência com que fica deitado, a bolsa coletora é ajustada de modo a facilitar seu esvaziamento em uma cuba rim, com a abertura verticalizada. ■■■■■ É comum o usuário manter o mesmo tamanho da abertura da bolsa coletora feita no hospital para adaptação na ostomia. O recorte da bolsa coletora deve levar em consideração a medida do ostoma que, ao longo do tempo, sofre modificações em seu tamanho. ■■■■■ O usuário, geralmente, deixa sua bolsa coletora encher mais do que deve e, com isso, ela descola da pele. A bolsa fechada deve ser removida, e a drenável esvaziada após o preenchimento de um terço ou da metade de sua capacidade. ■■■■■ Geralmente o usuário, ao retornar a casa, leva consigo à memória da técnica asséptica: os profissionais de saúde, rotineiramente, realizam a limpeza do ostoma com soro fisiológico, gazes estéreis e luvas. A higiene do ostoma não requer técnica asséptica. A higiene local pode ser realizada com uso de sabão neutro e água, a ajuda de uma esponja macia, ou de um paninho, ou no banho, com água corrente. ■■■■■ Muitas vezes, as pessoas com ostomia intestinal saem do hospital sem orientação sobre os suportes de saúde e sociais disponíveis. A falta de conhecimento sobre esses recursos gera, principalmente, insegurança e isolamento social. É necessário encaminhá-las para os serviços de saúde de segmento ambulatorial para que haja provisão de dispositivos, assistência à saúde – pessoas com doença crônica – e educação em saúde visando à sua reintegração social. Continua ➜➜➜➜➜ 153 PR OE NF SE SC AD 19. Que fatores devem ser observados na escolha de um dispositivo utilizados na pessoa com ostomia intestinal com base na avaliação: A) do paciente ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ B) da ostomia ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ C) do dispositivo ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 20. Caracterize as bolsas drenáveis de uma peça e as bolsas drenáveis de duas peças. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ■■■■■ É recorrente, na prática do cuidado de enfermagem às pessoas com ostomia intestinal, que apresentam lesão periostoma por contato com o efluente na pele. Isso ocorre porque é feita a adaptação da bolsa coletora com tamanho de sua abertura maior do que a lesão, mantendo-a desprotegida. O profissional deve identificar a lesão – dermatite irritativa/por contato – e fazer o recorte ajustado ao tamanho do ostoma, protegendo-a do efluente. ■■■■■ Durante a hospitalização, alguns profissionais não consideram importante o papel do familiar cuidador no restabelecimento da pessoa com ostomia intestinal. É preciso identificar este familiar que auxiliará o usuário a criar estratégias de enfrentamento para desenvolver habilidades de autocuidado em sua nova condição. ■■■■■ A falta de planejamento para a troca da bolsa coletora pode acarretar constrangimento social, problemas com odor, vazamento e surgimento de lesões na pele periostoma. Esse planejamento deve considerar, no mínimo, o horário com drenagem menor de efluente, local apropriado para troca e o tempo que antecede a perda de aderência da bolsa coletora. ■■■■■ É comum generalizar as ostomias intestinais como colostomias. Ileostomias e colostomias exigem cuidados diferentes quanto à indicação e seleção da bolsa coletora, efluente, ingesta hídrica, suporte nutricional, esvaziamento e troca da bolsa coletora. É necessário identificar o segmento intestinal exteriorizado e suas especificidades. ■■■■■ As pessoas com ostomia intestinal, freqüentemente, saem do hospital pensando que não terão mais vida normal quanto à alimentação, sexualidade, sociabilidade, vestuário, atividade física, dentre outras. Com o tempo e a orientação adequada, essas pessoas desenvolvem habilidades para cuidar de si, se adaptarem e viverem uma vida normal com sua diferença. 154 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S 21. Ordene os passos a seguir para a troca da bolsa coletora. Respostano final do capítulo 22. Qual a importância do grupo de convivência como prática educativa para pacientes com ostomia intestinal? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 23. Caracterize o papel do visitador à luz do princípio de complementaridade na conduta frente ao paciente ostomizado. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ( ) Recortar a abertura inicial da placa protetora, de acordo com o tamanho e forma da ostomia. ( ) Limpar a pele ao redor do ostoma com água morna e sabão neutro, enxaguar abundantemente e secar bem com um tecido macio. ( ) Remover o papel protetor do adesivo lateral (quando existir) e fixá-lo na pele com uma leve pressão sem formar rugas. ( ) Retirar o papel protetor da placa e posicionar a bolsa com a abertura sobre a ostomia, pressionando-a levemente contra a pele. ( ) Medir o ostoma utilizando um medidor específico, e marcar o tamanho no papel (proteção) que recobre a placa protetora da bolsa. ( ) Proceder a remoção da bolsa. Indica-se preferencialmente a retirada durante o banho, pois o umedecimento do adesivo e o deslocamento da placa protetora suavemente da pele facilitam o procedimento. Indica-se que a troca ocorra pela manhã ou entre as refeições, pois nestes horários há uma diminuição da eliminação do conteúdo intestinal. ( ) Antes de recortar, afastar a parte plástica anterior da posterior, tomando o cuidado de não perfurar a bolsa. 155 PR OE NF SE SC AD 24. Com base no Quadro 6, referente a erros freqüentes e adequação do cuidado na conduta com pacientes ostomizados, associe V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir. Resposta no final do capítulo CASOS CLÍNICOS CASO 1: LESÃO PERIOSTOMA GRAVE POR CONTATO COM EFLUENTE E.R., sexo feminino, 56 anos, procedente do interior do Estado de Santa Catarina, internada há dois meses em instituição hospitalar pública da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, em Florianópolis, por motivo de irritação periostoma, devido à ileostomia à direita, realizada por recidiva de tumor maligno de ovário. Foi solicitado o acompanhamento de enfermeira estomaterapeuta pela enfermeira do serviço, com o acordo de familares da paciente. Na primeira avaliação, a paciente apresentava-se insatisfeita com sua situação quando nos verbalizou: “Minha filha, vocês caíram do céu, porque já fizeram de tudo comigo e não fico boa nunca”. Identificou-se na pele periostoma lesão extensa, profunda e úmida, com comprometimento da epiderme e derme, em virtude do contato constante do efluente com a pele, que era líquido, com fluxo contínuo e altamente lesivo à pele, impedindo a aderência adequada do dispositivo. A equipe de enfermagem utilizava no local pasta d’água, na tentativa de proteger a pele periostoma, recurso utilizado na época pela falta de conhecimento da enfermagem, sobre os novos dispositivos adequados para esta situação. ( ) A limpeza da ostomia causa dor. ( ) A bolsa fechada deve ser removida, e a drenável esvaziada, após o preenchimento de um terço ou da metade de sua capacidade. ( ) O recorte da bolsa coletora deve levar em consideração a medida do ostoma que, ao longo do tempo, sofre modificações em seu tamanho. ( ) Após a alta hospitilar, deve-se orientar o paciente quanto a manutenção da bolsa coletora na posição verticalizada. ( ) É importante ajustar a adaptação da bolsa coletora de forma que fique com sua abertura um pouco maior do que a lesão, para evitar o contato da pele com o efluente. ( ) A higiene do ostoma não requer técnica asséptica. A higiene local pode ser realizada com uso de sabão neutro e água. ( ) É preciso identificar um familiar que auxilie o usuário a criar estratégias de enfrentamento para desenvolver habilidades de autocuidado em sua nova condição. 156 A E NF ER MA GE M, A PE SS OA C OM O ST OM IA INT ES TIN AL E SE US FA MI LIA RE S A enfermeira estomaterapeuta acompanhada de uma estudante de enfermagem ficou chocada com a situação e sentiu-se desafiada com relação à resposta quanto à conduta a ser adotada. A dificuldade com adesividade dos dispositivos na pele comprometida aliada ao sofrimento da paciente gerava uma sensação de angústia de ambas as partes. 25. A partir do exposto até o momento no caso 1, qual seria sua conduta? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Foi avaliada a necessidade de uso de protetores cutâneos à base de hidrocolóide para o isolamento do efluente, objetivando evitar o contato deste com a lesão, facilitando a recuperação tecidual. A conduta adotada foi de uso de soro fisiológico para a higiene local com leves toques sem esfregar a região. Após a higiene, foram aplicadas barreiras protetoras sob a forma de pó, para absorver a umidade, pasta para auxiliar na adesão da placa e esta última, para cobrir toda a região lesionada. Sobre a placa, adaptou-se a bolsa coletora em modelo drenável e recortável, favorecendo respectivamente seu esvaziamento e o ajuste ao tamanho da ostomia. Planejou-se nova avaliação para o dia seguinte, considerando a gravidade da lesão e a suspeita da possibilidade de pouca aderência dos dispositivos no local. Orientou-se a equipe local para manter a conduta em caso de descolamento. No segundo dia, a aluna retornou e soube que a permanência do dispositivo durou apenas uma hora. À medida que os dias passavam, o dispositivo durava mais tempo. No segundo dia, a permanência foi de 6 horas, e a paciente apresentava-se mais confiante: “Que coisa boa, logo vai colar bem e eu vou poder ir para minha casa”. No 27o dia, a lesão havia regredido significativamente decorrente da conduta adotada e os dispositivos permaneciam aderidos, em média, por dois dias. Depois deste tempo, a enfermagem local assumiu o cuidado. Fica evidente, através do relato 1, a importância da indicação de dispositivos adequados para a proteção periostoma e a necessidade de acompanhamento especializado quando a situação é grave. De algum modo, mais importante é prevenir lesões e, para isto, é fundamental o acesso ao conhecimento e a sua aplicabilidade. 26. Comente o caso 1, trazendo
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