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COORDENADORA GERAL: CARMEN ELIZABETH KALINOWSKI DIRETORAS ACADÊMICAS: JUSSARA GUE MARTINI VANDA ELISA ANDRES FELLI PROENF | SAÚDE DO ADULTO | Porto Alegre | Ciclo 2 | Módulo 1 | 2007 PROENF PROGRAMAS DE ATUALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM SAÚDE DO ADULTO proenf-sa_0_Iniciais.p65 4/6/2007, 15:493 Associação Brasileira de Enfermagem ABEn Nacional SGAN, Conjunto “B”. CEP: 70830-030 - Brasília, DF Tel (61) 3226-0653 E-mail: aben@nacional.org.br http://www.abennacional.org.br Artmed/Panamericana Editora Ltda. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670. Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS – Brasil Fone (51) 3025-2550 – Fax (51) 3025-2555 E-mail: info@sescad.com.br consultas@sescad.com.br http://www.sescad.com.br Os autores têm realizado todos os esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material utilizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de na primeira oportunidade reparar as falhas ocorridas. As ciências da saúde estão em permanente atualização. À medida que as novas pesquisas e a experiência ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamentos farmacológicos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para assegurar-se de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de um erro humano ou de mudanças nas ciências da saúde, nem os autores, nem a editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste trabalho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omissões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Por exemplo, e em particular, recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de cada fármaco que lanejam administrar para certificar-se de que a informação contida neste livro seja correta e não tenha produzido mudanças nas doses sugeridas ou nas contra-indicações da sua administração. Esta recomendação tem especial importância em relação a fármacos novos ou de pouco uso. Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Os inscritos aprovados na Avaliação de Ciclo do Programa de Atualização em Enfermagem (PROENF) receberão certificado de 180h/aula, outorgado pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e pelo Sistema de Educação em Saúde Continuada a Distância (SESCAD) da Artmed/ Panamericana Editora, e créditos a serem contabilizados pela Comissão Nacional de Acreditação (CNA), para obtenção da recertificação (Certificado de Avaliação Profissional). proenf-sa_0_Iniciais.p65 4/6/2007, 15:492 131 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA D GERENCIAMENTO DO CUIDADO EM SAÚDE DO ADULTO RAQUEL RAPONE GAIDZINSKI ANTÔNIO FERNANDES COSTA LIMA Raquel Rapone Gaidzinski – Enfermeira. Diretora do Departamento de Enfermagem do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). Professora Associada do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da USP Antônio Fernandes Costa Lima – Enfermeiro. Diretor da Divisão de Enfermagem Clínica do Departamento de Enfermagem do Hospital Universitário da USP. Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP INTRODUÇÃO As profundas transformações que estão ocorrendo na economia mundial, geradas por uma crescente integração e socialização dos meios de comunicação e dos recursos de informática, exigem, cada vez mais, uma rápida adaptação dos setores da indústria e de serviço, que precisam desenvolver novas habilidades e atitudes para conseguirem alcançar seus objetivos por meio das pessoas. Nesse contexto, os principais problemas enfrentados nas organizações de saúde, prestadoras de serviços, têm sido a má alocação dos recursos, a desigualdade nas condições de acesso, a ineficiência e os custos crescentes. A assistência à saúde do adulto consiste em um sistema complexo de cuidados no qual alguns fatores contribuintes podem ser listados:1 ■■■■■ aumento da população de idosos; ■■■■■ maior diversidade étnica; ■■■■■ doenças crônicas, passíveis de prevenção; ■■■■■ quantidade cada vez maior de adultos idosos com doenças cognitivas, como a doença de Alzheimer; ■■■■■ adultos jovens infectados pelo vírus causador da imunodeficiência adquirida (aids); ■■■■■ ampliação da aplicação da engenharia genética; ■■■■■ maior sucesso dos transplantes de órgãos; ■■■■■ aumento de custos dos cuidados à saúde com grandes esforços para a contenção de custos; ■■■■■ número crescente de cidadãos sem cobertura de seguro-saúde; proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51131 132 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O ■■■■■ aumento dos cuidados a pacientes externos ou ambulatoriais; ■■■■■ hospitalizações mais curtas; ■■■■■ menor uso de formas invasivas de tratamento; ■■■■■ tendência à prestação de cuidados no domicílio; ■■■■■ foco maior na prevenção da doença, na promoção e na manutenção da saúde; ■■■■■ movimento em direção ao autocuidado. Diante da realidade da assistência à saúde do adulto, e para corresponder aos desafios da sobrevivência mercadológica, a enfermagem precisa criar perspectivas de trabalho, com aquisição de novos conhecimentos e habilidades que permitam à enfermeira desempenhar melhor sua função gerencial.2 Dessa forma, visando contribuir com o favorecimento da capacitação das pessoas, temos buscado instrumentos que possibilitem uma melhor gerência dos profissionais de enfermagem, por meio de conhecimentos, habilidades e competências que permitam realizar um melhor planejamento do cuidado de enfermagem. A gerência pode ser definida como a arte de pensar, de decidir e de agir; a arte de fazer acontecer, de obter resultados. Resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e avaliados, mas que têm de ser alcançados por meio de pessoas e por uma interação humana constante.3 Não há mais como negar a importância da função gerencial como instrumento de trabalho da enfermeira, entendida numa lógica que privilegie os interesses coletivos, de forma a concretizar uma assistência segura que leve em consideração às necessidades da clientela. Podemos inclusive afirmar que a enfermeira é o elemento da equipe de saúde que gerencia o cuidado prestado ao cliente/paciente. O gerenciamento não implica apenas um processo científico e racional no domínio dos conhecimentos técnicos-administrativos, mas também consiste em um processo de interação humana que lhe confere a capacidade de compreender a dinâmica maior das determinações sociais presentes nas organizações e, portanto, uma dimensão psicológica, calcada no intuitivo, no emocional e no espontâneo.3 A atividade gerencial é extremamente dinâmica, dialética, em que as dimensões técnica, política e comunicativa estão permanentemente exigindo constante reflexão/ tomada de decisão por parte do agente executor da mesma.4 A dimensão técnica da gerência refere-se aos aspectos mais gerais e instrumentos do próprio trabalho, tais como o planejamento, a coordenação, a supervisão, o controle e a avaliação, no que diz respeito ao manejo de recursos humanos, físicos (equipamentos e instalações) adequados à finalidade que direciona o processo de trabalho. A dimensão política da gerência articula o trabalho gerencial ao projeto que se tem a empreender, implicando uma articulação do processo interno de trabalho e as determinações externas deste, que dizem respeito às políticas sociais e de saúde em específico e às contradições e conflitos presentes na sociedade parasua efetivação. A dimensão comunicativa da gerência compreende o caráter de negociação presente ao lidar com as relações de trabalho na equipe e nas relações da unidade com a comunidade.4,5 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51132 133 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DPara a operacionalização do trabalho gerencial utiliza-se um conjunto de instrumentos técnicos próprios da gerência, como exemplo: ■■■■■ planejamento; ■■■■■ dimensionamento de pessoal de enfermagem; ■■■■■ recrutamento e seleção de pessoal; ■■■■■ favorecimento de capacitação por meio da educação continuada e/ou da educação permanente; ■■■■■ supervisão; ■■■■■ avaliação dos resultados e do desempenho profissional. Ao conjunto de instrumentos técnicos próprios da gerência somam-se outros saberes relativos ao gerenciamento de materiais, equipamentos e instalações, bem como o desenvolvimento de habilidades sobre custos, como mais uma ferramenta a ser utilizada nos processos decisórios.6 O gerenciamento do cuidado tem como foco o paciente e envolve o planejamento, a direção, a supervisão e a avaliação das atividades desenvolvidas pela equipe de enfermagem. Abrange a coordenação das atividades desenvolvidas com os pacientes por pessoas de outros serviços, bem como a coordenação das atividades do pessoal de apoio no que se refere aos recursos materiais.7 O exercício da função gerencial centralizada na assistência ao paciente, norteado pela compreensão e pelo conhecimento do mesmo como pessoa e de suas necessidades específicas, deve orientar as ações do(a) enfermeiro(a) na implementação de um método para sistematizar o cuidado de enfermagem. Dentre os métodos propostos para o planejamento da assistência de enfermagem, o mais difundindo na formação da enfermeira é o processo de enfermagem, também denominado de sistematização da assistência de enfermagem, que se fundamenta na resolução de problemas. O processo de enfermagem é um método de organização dos cuidados, por meio de uma série de passos: ■■■■■ coleta de dados; ■■■■■ diagnóstico de enfermagem; ■■■■■ planejamento; ■■■■■ implementação; ■■■■■ avaliação. O processo de enfermagem focaliza a individualização do cuidado, cuja efetiva operacionalização depende da participação ativa do paciente e/ou de seus familiares.8 Quando é praticado como uma forma de investigação, conduz o(a) enfermeiro(a) ao desenvolvimento de um estilo de pensamento que direciona os julgamentos na forma de diagnósticos de enfermagem, fornecendo base para o gerenciamento do cuidado.9 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51133 134 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Muitos estudiosos da enfermagem deram suas contribuições por meio de estudos sobre o processo, suas etapas ou sobre a metodologia de assistência de enfermagem, contextualizando a problemática e os desafios a serem superados em cada cenário analisado.10 Para implementar o processo de enfermagem, há pelo menos dois grandes desafios para serem superados: um relacionado à escolha do modelo conceitual e o outro à sua operacionalização no contexto da prática.8 Os modelos teóricos têm contribuído como referencial para a sistematização do cuidado. A teoria guia e aprimora a prática, dirigindo a observação dos fenômenos, a intervenção de enfermagem e os resultados esperados. A sistematização dos cuidados, com base em modelos teóricos, proporciona meios para organizar as informações e os dados dos clientes para analisar os resultados do processo de cuidar. Assim, os processos de cuidar da enfermagem refletem os resultados daquilo que se conhece, do que se pesquisa e de como os profissionais são formados nas escolas.11 Isso porque, as teorias de enfermagem: ■■■■■ buscam o saber específico, a identidade e a autonomia profissional; ■■■■■ elaboram conceitos centrais da enfermagem; ■■■■■ relacionam conceitos com o objetivo de explicar, predizer e controlar a prática; ■■■■■ norteiam o planejamento, implementação e avaliação da assistência de enfermagem; ■■■■■ trabalham com valores explícitos e implícitos e servem de base para a elaboração do processo de enfermagem. No que se refere à operacionalização do processo de enfermagem na prática, há na literatura inúmeras publicações que se referem às condições necessárias, bem como às barreiras a serem enfrentadas no cotidiano do trabalho de enfermagem. Nossa experiência profissional tem nos mostrado que, geralmente, os(as) enfermeiros(as) possuem conhecimento teórico em relação ao processo de enfermagem, contudo, a maioria alega pouca ou nenhuma experiência na sua execução prática. Este capítulo tem por finalidade sensibilizar os(as) enfermeiros(as) para as oportunidades de intervenção e de transformação na sua prática assistencial, por meio do planejamento sistematizado, ou seja, pela utilização do processo de enfermagem como forma de gerenciar o cuidado em saúde do adulto. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51134 135 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA D 1. Leia as afirmações abaixo e assinale verdadeiro (V) ou falso (F). Considerando as profundas transformações que estão ocorrendo na economia mundial, é possível afirmar que: A) ( ) são geradas por uma crescente integração e socialização dos meios de comunicação e dos recursos de informática. B) ( ) exigem adaptação gradativa dos setores da indústria que precisam desenvolver novas habilidades e atitudes para conseguirem alcançar seus objetivos. C) ( ) os objetivos dos setores da indústria e de serviço são alcançados por meio das pessoas. D) ( ) os principais problemas enfrentados nas organizações de saúde gerados pelas transformações na economia mundial têm sido a má alocação dos recursos, a desigualdade nas condições de acesso, a ineficiência e os custos crescentes. 2. A partir das atividades próprias da gerência, relacione as colunas. Respostas no final do capítulo 3. Quais os fatores envolvidos pelo gerenciamento do cuidado com foco no paciente, e o que este tipo de gerenciamento abrange? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ( 1 ) Dimensão técnica da gerência ( 2 ) Dimensão política da gerência ( 3 ) Dimensão comunicativa da gerência ( ) articula o trabalho gerencial ao projeto que se tem a empreender. ( ) refere-se aos aspectos mais gerais e instrumentos do próprio trabalho. ( ) compreende o caráter de negociação presente ao lidar com as relações de trabalho na equipe e nas relações da unidade com a comunidade. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51135 136 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O 4. Quais os dois grandes desafios que devem ser superados para a implementação do processo de enfermagem? A) A supervisão e o recrutamento e seleção de pessoal. B) O dimensionamento de pessoal de enfermagem e o planejamento. C) A escolha do modelo conceitual e a sua operacionalização no contexto da prática. D) A avaliação dos resultados e do desempenho profissional. Resposta no final do capítulo 5. O que proporciona a sistematização dos cuidados com base em modelos teóricos? ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, espera-se que leitor seja capaz de: ■■■■■ reconhecer o processo de enfermagem como o principal instrumento do gerenciamento do cuidado; ■■■■■ perceber as oportunidades de intervenção e de transformação na sua prática assistencial; ■■■■■ entender as mudanças ocorridas no processo de gerenciamento do cuidado. ESQUEMA CONCEITUAL Gerenciamento do cuidado em saúde do adulto O processo de enfermagem: operacionalização do gerenciamento do cuidado em saúde do adulto Desafios organizacionais Desafios grupais e individuais O processo de enfermagem como instrumento gerencial do cuidado de enfermagem na prática A trajetória percorrida rumo à mudança no gerenciamento do cuidado A realização do estudo preliminar Monitorando a mudança no processo de gerenciamento do cuidado O subprojeto 1 O subprojeto 2 O subprojeto 3 Conclusão proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51136 137 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DO PROCESSO DE ENFERMAGEM: OPERACIONALIZAÇÃO DO GERENCIAMENTO DO CUIDADO EM SAÚDE DO ADULTO A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN nº 272, de 27 de Agosto de 2002,12 ao dispor sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) nas Instituições de Saúde Brasileiras, resolve que: Artigo 1º – Ao enfermeiro incumbe privativamente a implantação, planejamento, organização, execução e avaliação do Processo de Enfermagem. Para a implementação da assistência de enfermagem devem ser considerados os aspectos essenciais das seguintes etapas: histórico de enfermagem; exame físico; diagnóstico de enfermagem; prescrição de enfermagem; evolução de enfermagem. Artigo 2 – A implementação da SAE deve ocorrer em toda instituição de saúde, pública e privada. Artigo 3 – A SAE deverá ser registrada formalmente no prontuário do paciente/cliente/usuário, devendo ser composta por: histórico de enfermagem, exame físico, diagnóstico de enfermagem, evolução da assistência de enfermagem e relatório de enfermagem. No cenário que se apresenta, em que o(a) enfermeiro(a) é responsabilizado(a) legalmente pela SAE, percebe-se que a lacuna referente ao ensino e à prática da operacionalização do processo de enfermagem representa uma deficiência que precisa ser sanada. Essa responsabilidade deve ser compartilhada não só pelos profissionais, que devem buscar meios para o seu próprio desenvolvimento, mas, também, pelas instituições de saúde que, por sua vez, deverão colaborar na capacitação desses profissionais. Para viabilizar a operacionalização do processo de enfermagem como instrumento do gerenciamento do cuidado na prática cotidiana é necessário enfrentar vários desafios organizacionais, grupais e individuais.7 DESAFIOS ORGANIZACIONAIS Em relação aos desafios organizacionais, podem ser observadas dificuldades decorrentes da cultura, da política, das diretrizes, dos objetivos, da estrutura administrativa, dos recursos (pessoas, materiais e equipamentos) e da dinâmica institucional.7 Para a compreensão da realidade organizacional, há necessidade de se captar o maior número de elementos da estrutura formal e informal, analisando-os de maneira conjunta, tanto em relação aos regulamentos, regimentos e organogramas, como também no que se refere aos padrões culturais específicos e aos processos e às relações de poder que determinam a dinâmica organizacional.13 Dessa forma, valores e princípios que norteiam uma prática participativa possibilitam a implementação do processo de enfermagem pelo envolvimento e aplicação de habilidades de vários profissionais.7 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51137 138 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Participação é um processo compartilhado no qual ocorre o envolvimento emocional das pessoas em situações de grupo, que as encorajam a contribuir para os objetivos do grupo, e a assumir a responsabilidade de alcançá-los. Dessa forma, as decisões devem ser do grupo, mediante consenso e o máximo envolvimento e comprometimento das pessoas.14 As pessoas envolvidas no processo decisório devem ser consultadas, individualmente ou em grupo, sobre a solução de problemas no âmbito do seu local de trabalho. Esse envolvimento das pessoas no processo decisório pode ocorrer por meio de decisões participativas, equipes autogeridas – um grupo de pessoas com um objetivo que pode decidir como fazer para alcançá- lo, e que trabalha dentro de uma área de autonomia definida de comum acordo com a administração – e participação na direção, isto é, participar institucionalmente da estrutura de poder da organização.15 Contudo, para que o processo decisório ocorra, é necessário que diferentes atores envolvidos em uma situação acumulem poder (político, econômico, administrativo, técnico), pois, caso contrário, são ínfimas ou inexistentes as possibilidades de promover mudanças.4 Outros aspectos organizacionais que interferem na implementação do processo de enfermagem são:10 ■■■■■ composição da equipe de enfermagem; ■■■■■ métodos e instrumentos utilizados na gestão dos serviços, unidades, equipes e assistência de enfermagem; ■■■■■ existência de um plano estratégico alinhado à missão institucional; ■■■■■ monitoramento de todo o processo da introdução, aperfeiçoamento e manutenção do proces- so de enfermagem; ■■■■■ existência de lideranças que promovam às equipes o que elas necessitam para suas ações. O dimensionamento da equipe de enfermagem é um dos maiores desafios a ser enfrentado quando se deseja implementar o processo de enfermagem. Na maioria das instituições de saúde, a equipe de enfermagem representa, quantitativamente, o percentual mais significativo de pessoal dessas instituições. Por isso, essa equipe é a mais visada quando o problema em questão é a redução de custos. A inadequação numérica e qualitativa dos recursos humanos da enfermagem lesa a clientela no seu direito de assistência à saúde livre de riscos. Essa inadequação também pode comprometer legalmente a instituição de saúde, devido às falhas ocorridas na assistência. O profissional de enfermagem tem aceitado, de forma quase acrítica, em ser administrador do impossível na sua unidade de internação, intencionando fazer escalas de pessoal adequadas sem ter número necessário de profissionais suficientes, e sujeitando-se a realizar requisições de materiais sobrepostas para obter o mínimo necessário para o cuidado. Esse estilo de atuação demanda grandes investimentos profissionais sem a obtenção de resultados significativos para o cuidado de enfermagem, fazendo com que, apenas, não deixe aflorar a desordem institucional.16 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51138 139 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DÉ preciso que o enfermeiro assuma uma postura ético-política, denunciando e compromissando os responsáveis pela aprovação do quadro de pessoal de enfermagem da instituição de saúde, quanto aos riscos que os pacientes estão expostos quando não são providos os recursos necessários para a prestação de uma assistência segura. Para viabilizar o gerenciamento do cuidado é necessário projetar o quadro da equipe de enfermagem levando-se em consideração a carga de trabalho, o índice de segurança técnica e a carga horária de trabalho diária. A carga de trabalho daunidade corresponde ao produto da quantidade média diária de pacientes assistidos, segundo o grau de dependência da equipe de enfermagem, pelo tempo médio de assistência de enfermagem preconizado pela Resolução nº 293/04,17 do Conselho Federal de Enfermagem, de acordo com o grau de dependência de assistência do paciente. O índice de segurança técnica é utilizado para cobertura das ausências previstas (folgas por descanso remunerado semanal; folgas por feriados não-coincidentes aos domingos e férias) e das ausências não-previstas (absenteísmo por faltas e por licenças) dos profissionais. O Quadro 1 mostra o índice de segurança técnica esperado nas unidades com assistência ininterrupta. Quadro 1 ÍNDICE DE SEGURANÇA TÉCNICA A carga horária de trabalho diária normalmente corresponde a 6 ou 8 horas nos turnos diurnos e de 12 por 36 horas nos turnos noturnos. Há de se considerar que os profissionais de enfermagem não dedicam essa jornada integralmente ao cuidado, uma vez que estão previstos intervalos para descanso e atendimento de necessidades pessoais. Desde os primeiros estudos sobre o trabalho, considera-se que os trabalhadores não são “produtivos” igualmente durante todo o tempo do turno de trabalho, por realizarem uma série de atividades não diretamente relacionadas às suas tarefas profissionais, como o atendimento de suas necessidades fisiológicas, períodos de descanso, troca de informações não ligadas ao trabalho, deslocamentos, comemorações e outros. Não é possível esperar que uma pessoa trabalhe o dia inteiro sem interrupções e, por isso, devem ser previstas interrupções no trabalho para que sejam atendidas as denominadas necessidades pessoais e para proporcionar um descanso, aliviando os efeitos da fadiga no trabalho.18 Cobertura de ausências previstas e imprevistas Carga horária semanal 30 ou 40 horas 36 horas Média do índice de segurança 62% 35% Folgas semanais por descanso remunerado Duas folgas 40% Uma folga 17% Dias de feriados não-coincidentes aos domingos 3,5% 3,5% Dias de férias 7,5% 7,5% Faltas e licenças 4% 4% proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51139 140 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Cabe ressaltar que a produtividade com valores entre 75% a 85% do tempo de trabalho é considerada, universalmente, como excelente.19 6. Descreva as ações a serem tomadas para que possa ser feita a compreensão da realidade organizacional? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 7. Qual o benefício que a participação das pessoas em processos decisórios pode trazer para a implementação do processo de enfermagem? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ DESAFIOS GRUPAIS E INDIVIDUAIS Na dimensão grupal e/ou individual pode haver dificuldades na condução da implementação do processo de enfermagem referentes aos seguintes fatores:10 ■■■■■ crenças e valores; ■■■■■ metodologia incorporada e validada no decorrer do tempo, para se prestar assistência de en- fermagem; ■■■■■ resistência a mudanças; ■■■■■ medo do desconhecido; ■■■■■ despreparo técnico, psicológico e ético-político; ■■■■■ nível de comprometimento e motivação. O planejamento, como um instrumento de trabalho gerencial, pode ser definido como a arte de fazer escolhas e de elaborar planos para favorecer um processo de mudança.4 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51140 141 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DAs pessoas que conduzirão o processo de mudança necessitam ser capacitadas para que compreendam os processos de diagnóstico, planejamento, intervenção e resistência à mudança. O preparo individual dessas pessoas deve considerar alguns princípios,3 que constam no Quadro 2. Quadro 2 PREPARO INDIVIDUAL PARA A CONDUÇÃO DO PROCESSO DE MUDANÇA A resistência à mudança tem sido encarada como algo tão natural quanto à própria mudança. Grande parte das manifestações de resistências à mudança é originada nas percepções individuais sobre a novidade. Tais percepções estão relacionadas à imaginação a respeito do futuro, a experiências passadas e ao ônus do próprio processo de mudança. Princípio Sistematizar e problematizar sua própria experiência e conhecimento Ampliar a perspectiva da própria profissão ou especialidade Aprimoramento constante Objetivo Produzir algumas proposições sobre a mudança. Para testar sua própria habilidade crítica, o condutor de mudanças pode questionar-se a respeito dos diferentes meios para alcançar o mesmo fim. Quanto maior for a sua capacidade crítica, maior será sua habilidade em lidar com a diversidade inerente à mudança. Este princípio deve ser realizado por meio da interdisciplinaridade e da multiprofissionalidade (envolvimento de pessoas de diversas profissões na análise de um mesmo fenômeno), uma vez que a pluralidade de perspectivas facilita a compreensão e o controle dos efeitos colaterais e imprevistos no processo de mudança. O profissional deve aprimorar constantemente sua atenção a alguns valores humanos no trato da diversidade, a fim de evitar conflitos e resistências desnecessários. Ressaltam-se os valores da tolerância, porque as pessoas são diferentes; da compreensão, porque os comportamentos administrativos têm causa; da cautela, porque pessoas e conhecimentos novos ameaçam o existente e do reconhecimento da capacidade dos funcionários, porque recursos de criatividade e inovação existem na própria organização. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51141 142 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Fato Receio do futuro Recusa do ônus de transição Acomodação ao status funcional Receio do passado Conseqüência O desconhecimento acerca do futuro faz com que o ser humano desenvolva imagens diversas sobre o que está por vir. Temendo imagens que possam ameaçar o equilíbrio presente, mesmo que essas se constituam em fantasias ou fantasmas que não se justificam nas condições reais, as pessoas optam pelo familiar, conhecido e experimentado. Quando ocorre a recusa do ônus da transição, a mudança pode representar um futuro promissor, porém o alcance desse futuro de melhores resultados, de maior eficiência e de satisfação pessoal requer a passagem por caminhos difíceis, incertos e conflitivos nos quais reativam-se problemas, reacendem-se oposições, revelam-se iniqüidades, além de evidenciarem-se desatualizações de habilidades e competências individuais. A acomodação ao conhecido provém tanto da dificuldade dos seres humanos em enfrentar assuntos não-rotineiros, quanto do tempo de permanência na empresa e de fatores inerentes à divisãodo trabalho. À medida que permanecem em uma mesma instituição, as pessoas tendem a se apegar a certas conquistas, como a estabilidade, a regularidade de renda, o poder, o prestígio e a menor pressão no trabalho. Acomodam-se aos seus direitos e conveniências e vêem a mudança como um risco de perdas, em vez de uma oportunidade de ganhos. O receio do passado ocorre quando pessoas que foram afetadas negativamente por experiências anteriores adquirem bloqueios, resistências e rebeldias contra a idéia de mudar, pois receiam a repetição de eventos anteriores, mesmo quando as ameaças pareçam infundadas. No Quadro 3, estão listadas as origens mais comuns da resistência à mudança.3 Quadro 3 AS ORIGENS MAIS COMUNS DA RESISTÊNCIA À MUDANÇA Há duas formas de as pessoas evidenciarem sua resistência à mudança: manifestando contrariedade ou por meio de ações reativas concretas, sendo as ações opositoras mais difíceis de lidar do que a simples manifestação de desacordo. Para se compreender os comportamentos de restrição à mudança torna-se necessário, além do exame das atitudes individuais frente à novidade, a análise dos comportamentos, que poderão variar desde a indiferença e formas sutis de contrariedade até ações radicais de oposição.3 Tentar decodificar o conflito gerado pela implementação de uma nova forma de gerenciar o cuidado, nos seus componentes emocionais e racionais, buscar diferentes formas de abordá-lo, bem como entender o próprio fenômeno do conflito no contexto em que ele ocorre, pode ter um efeito construtivo, se bem administrado.4 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51142 143 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DÉ preciso buscar e ampliar o leque de competências para além das habilidades técnicas inerentes ao processo do gerenciamento do cuidado, pois apenas as habilidades relacionadas ao saber-fazer não são suficientes para a ocupação efetiva e qualificada de um espaço profissional, o alcance de autonomia correspondente e o reconhecimento profissional em uma dada organização de saúde. As competências do aprender a aprender, do aprender a ser e do aprender a relacionar-se e melhor conviver, são essenciais no gerenciamento do cuidado.4 Com a finalidade de manter a equipe de enfermagem com elevado grau de qualificação técnico- científica e ético-política, a implementação, a manutenção e a avaliação do processo de enfermagem devem ser desenvolvidas em parceria com a educação continuada, como forma de impulsionar a transformação da organização, criando oportunidades de capacitação e de desenvolvimento pessoal e profissional, dentro de uma visão crítica e responsável da realidade, resultando na construção de conhecimentos importantes para a organização, para a profissão e para a sociedade.10,20 Portanto, é papel da educação continuada assumir uma posição estratégica nas instituições de saúde, adotando uma gestão participativa que flexibiliza as relações de poder, compartilha planos de decisões e sensibiliza as pessoas quanto à responsabilidade pelo autodesenvolvimento, por meio da disseminação do conhecimento e do aprendizado de novos valores.20 Acreditamos que todo profissional de enfermagem, ao ingressar no quadro de pessoal de uma instituição pública ou privada, deveria participar de um programa de treinamento admissional para resgatar seu conhecimento e sua experiência em relação ao processo de enfermagem. Geralmente, esses profissionais, com freqüência recém-formados, possuem relativo conhecimento teórico do processo de enfermagem, contudo, a maioria alega pouca ou nenhuma experiência na sua execução. Por meio de programas específicos de treinamento e desenvolvimento, enfermeiros(as), demais profissionais de enfermagem e o próprio processo de enfermagem devem ser aprimorados continuamente, visando à incorporação de evidências científicas desenvolvidas nessa área de saber. Associada a esse desafio, apresenta-se a necessidade de identificar a melhor maneira de compartilhar os conhecimentos e de desenvolver habilidades que permitam aos profissionais ajustarem-se às realidades correntes, e participar intencionalmente das transformações futuras no gerenciamento do cuidado de enfermagem em saúde do adulto. 8. Quais são as origens mais comuns da resistência à mudança? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51143 144 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O 9. Em relação ao preparo individual para a condução do processo de mudança (seus princípios e objetivos) e as origens mais comuns da resistência à mudança (seus fatos e conseqüências), relacione as colunas. Resposta no final do capítulo 10. Qual é o papel da educação continuada nas instituições de saúde? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ( 1 ) sistematização e problematização ( 2 ) ampliação da perspectiva ( 3 ) aprimoramento constante ( 4 ) receio do futuro ( 5 ) recusa do ônus da transição ( 6 ) acomodação ao status funcional ( 7 ) receio do passado ( ) Atenção a alguns valores humanos no trato da diversidade a fim de evitar conflitos e resistências desnecessários. ( ) Faz com que o ser humano desenvolva imagens diversas sobre o que está por vir. ( ) Para testar sua própria habilidade crítica o condutor de mudanças pode questionar-se a respeito dos diferentes meios para alcançar o mesmo fim. ( ) A pluralidade de perspectivas facilita a compreensão e o controle dos efeitos colaterais e imprevistos no processo de mudança. ( ) A mudança pode representar um futuro promissor, porém, o alcance desse futuro de melhores resultados, de maior eficiência e de satisfação pessoal requer a passagem por caminhos difíceis. ( ) Pessoas que foram afetadas negativamente por experiências anteriores adquirem bloqueios, resistências e rebeldias. ( ) À medida que permanecem em uma mesma instituição as pessoas tendem a se apegar a certas conquistas. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51144 145 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DO PROCESSO DE ENFERMAGEM COMO INSTRUMENTO GERENCIAL DO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA PRÁTICA Este é um tema polêmico e importante que será apresentado a partir de nossa vivência no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), acreditando que a trajetória percorrida possa ser compartilhada com o leitor, no entendimento dos desafios enfrentados no cotidiano do gerenciamento do cuidado, por meio da aplicação do processo de enfermagem. O HU é um órgão complementar da USP destinado ao ensino e pesquisa, oferecendo assistência multidisciplinar integral,de média complexidade, com base no perfil epidemiológico do Distrito de Saúde do Butantã. Localizado no campus da USP, numa área física de 36.000m2, na zona oeste da cidade de São Paulo, o HU dispõe de 246 leitos, distribuídos nas quatro especialidades básicas: ■■■■■ médica; ■■■■■ cirúrgica; ■■■■■ obstétrica; ■■■■■ pediátrica. O HU é o campo de estágio das faculdades de Medicina, Saúde Pública, Enfermagem, Farmácia e Odontologia da USP. A população atendida pelo hospital é constituída pela comunidade USP que compreende docentes, discentes e servidores da universidade, incluindo seus dependentes, e pela comunidade residente na região do Butantã, pertencentes ao Núcleo 1 (Diretório Regional de Saúde – Capital/DIR I), servindo de referência às Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região. O quadro de pessoal do Departamento de Enfermagem (DE) do HU-USP é composto por 672 profissionais, são eles: ■■■■■ 1 enfermeira-diretora de departamento; ■■■■■ 4 enfermeiros-diretores de divisão; ■■■■■ 1 enfermeira-diretora de serviço; ■■■■■ 14 enfermeiras-chefes de unidade; ■■■■■ 169 enfermeiros-assistenciais; ■■■■■ 271 técnicos de enfermagem; ■■■■■ 212 auxiliares de enfermagem. Os profissionais do quadro de pessoal do DE do HU-USP estão distribuídos em quatro divisões: ■■■■■ Divisão de Enfermagem Cirúrgica (DEC); ■■■■■ Divisão de Enfermagem Clínica (DECLI); ■■■■■ Divisão de Enfermagem Materno-Infantil (DEMI); ■■■■■ Divisão de Pacientes Externos (DEPE). O DE agrega também, o Serviço de Apoio Educacional (SEd), que desde a inauguração do HU- proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51145 146 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O USP em 1981, auxilia no desenvolvimento das atividades assistenciais, de ensino e de pesquisa na área de enfermagem, tendo como missão manter a equipe de enfermagem com elevado nível de qualificação pessoal, ética e técnica bem como envolver a equipe com as propostas e resultados institucionais, em sintonia com os diferentes setores do hospital e com as necessidades da clientela. O DE conta, ainda, com órgãos de assessoria como a Comissão de Ética de Enfermagem e Grupos de Estudos. O processo de enfermagem foi implementado no HU-USP, desde a sua inauguração em agosto de 1981, por docentes da Escola de Enfermagem da USP (EEUSP) sendo posteriormente denominado Sistema de Assistência de Enfermagem (SAE). Para operacionalização dessa proposta assistencial e gerencial foram adotadas, do referencial de Horta,21 três fases: histórico, evolução e prescrição de enfermagem e o conceito de autocuidado de Orem.22 O processo de gerenciamento do cuidado vem sendo objeto de discussões entre os(as) enfermeiros(as), ao longo desses anos de aplicação diária do SAE a todos os pacientes atendidos no HU-USP, visando à qualidade da assistência prestada, tornando-se ferramenta imprescindível no gerenciamento do cuidado de enfermagem. A construção do conhecimento, nas várias áreas do cuidado, sobre o processo de enfermagem desenvolvido no HU-USP tem sido amplamente divulgada pelos(as) enfermeiros(as) por meio da participação em eventos técnico-científicos, de publicações em periódicos e livros e compar- tilhamento das experiências vividas na prática com visitantes de instituições hospitalares e de ensino, públicas e privadas. Ao longo de 26 anos é inegável o sucesso e a eficácia do modelo de gerenciamento do cuidado implementado no HU-USP, que tem a qualidade como elemento essencial. No entanto, os(as) enfermeiros(as) vêm evidenciando as dificuldades para o seu desenvolvimento, bem como a necessidade de mudanças que agilizem os processos de trabalho assistencial e gerencial, e que otimizem, cada vez mais, a qualidade das ações de cuidado e de educação. Os seguintes fatos desencadearam processos de mudanças: ■■■■■ o fato de os(as) enfermeiros(as) referirem dificuldades na operacionalização do SAE frente ao dispêndio de grande parte da jornada de trabalho nos registros do processo; ■■■■■ os resultados da auditoria retrospectiva interna apontarem deficiências na qualidade das infor- mações referentes à evolução dos problemas apresentados pelos pacientes, bem como na forma de seu registro; ■■■■■ a crescente necessidade de informatizar todo o processo assistencial da instituição. Buscando superar as dificuldades, a gerência do DE tem desenvolvido, sistematicamente, atividades técnico-científicas que propiciam e fundamentam o aprimoramento desse modelo assistencial. Sensível às necessidades expressas pelos(as) enfermeiros(as) e visando favorecer a informatização do SAE, o processo de implementação do Sistema de Classificação de Diagnóstico de Enfermagem iniciou, em dezembro de 2001, como segunda fase do SAE, preocupando-se com a discussão e criação de um plano de ação que propiciasse e estimulasse a participação efetiva dos enfermeiros assistenciais. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51146 147 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA D11. Por que o processo de gerenciamento do cuidado implementado no HU-USP vem sendo objeto de discussões entre os(as) enfermeiros(as)? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 12. Quais dificuldades os(as) enfermeiros(as) vêm evidenciando no processo de gerenciamento do cuidado implementado no HU-USP? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ A TRAJETÓRIA PERCORRIDA RUMO À MUDANÇA NO GERENCIAMENTO DO CUIDADO O primeiro passo rumo às mudanças no HU-USP foi a decisão de adotarmos um sistema de linguagem padronizada no SAE. O processo de mudança foi coordenado pela diretoria do DE, sob a orientação de expert de reconhecido saber na área de classificação de diagnósticos de enfermagem. Em dezembro de 2001, realizamos um seminário abordando o tema da informatização do processo de enfermagem, com o objetivo de conhecer experiências do uso de linguagem padronizada em outras instituições hospitalares e sensibilizarmos o grupo de enfermeiros(as) para o enfrentamento da nova situação. No seminário, tivemos a oportunidade de conhecer as várias classificações de linguagem para assistência de enfermagem. Ao final do evento, com a expressiva participação dos(as) enfermeiros(as) (60%) atuantes no HU-USP, nos comprometemos a implementar o diagnóstico de enfermagem, optando por usar a classificação proposta pela North American Nursing Diagnosis Association International (NANDA-I).23 A padronização de linguagem pressupõe a utilização de um conjunto de termos pré-estabelecidos que expressam: ■■■■■ situações do processo saúde/doença que podem ser modificadas por intervenções de enfer- magem; ■■■■■ ações de enfermagem que modificam as situações do processo saúde/doença; ■■■■■ resultados obtidoscom a efetivação dessas ações. O diagnóstico de enfermagem pode ser analisado sob várias perspectivas, sendo uma delas, a que o define como uma das etapas do processo de enfermagem. Nesse contexto, o diagnóstico de enfermagem é a conclusão do levantamento dos dados, uma vez que o propósito primordial desse levantamento é a identificação das necessidades de cuidados de enfermagem a serem prestados aos pacientes.24 proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51147 148 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Em março de 2002, como segundo momento, foi realizado um curso teórico-prático de 16 horas, ministrado por expert no tema, em parceria com o SEd, com a participação das enfermeiras- diretoras de divisão, enfermeiras-chefes ou representantes de todas Unidades do DE e de duas docentes da EEUSP. A proposta desse curso foi a de capacitar os participantes para se tornarem agentes multiplicadores do conteúdo teórico-prático sobre diagnóstico de enfermagem junto a todos enfermeiros assistenciais do DE. Ao término do curso foi constituído um grupo, denominado Grupo Facilitador para a Implementação do Diagnóstico de Enfermagem (GFIDE), que passou a se reunir, sistematicamente, para discussão e condução do plano de ação. Esse grupo concebeu um curso para abordar e discutir o diagnóstico em enfermagem visando à sensibilização dos(as) enfermeiros(as) para a sua implementação; enfatizando a importância do diagnóstico para o desenvolvimento do raciocínio clínico do(a) enfermeiro(a) e para a qualidade da assistência de enfermagem; enfocando o diagnóstico como segunda etapa do SAE e estudando a estrutura dos diagnósticos proposta pela NANDA-I. 23 Um modelo proposto para a implementação do diagnóstico de enfermagem recomenda que a condução do processo compreenda quatro níveis de mudança sendo, inicialmente, focada no conhecimento; a seguir, nas atitudes; após, no comportamento individual; e, finalmente, na mudança organizacional.25 Foram realizados dois cursos de diagnóstico de enfermagem, em junho e julho de 2002, durante três dias, com duração total de seis horas. Foram abordados tópicos sobre: ■■■■■ introdução do diagnóstico de enfermagem no HU-USP; ■■■■■ importância do diagnóstico como etapa do SAE; ■■■■■ história do diagnóstico em enfermagem; ■■■■■ padronização da linguagem; ■■■■■ estrutura da classificação proposta pela NANDA; ■■■■■ etapas do raciocínio clínico; ■■■■■ estudo de caso para a elaboração de diagnóstico de enfermagem, e considerações sobre os benefícios e tendências do diagnóstico na profissão de enfermagem. Nos dois cursos de diagnóstico de enfermagem, foi apresentado o esboço de um cronograma para a implementação do diagnóstico no SAE, para que os participantes pudessem opinar e propor sugestões. Dos 161 enfermeiros-assistenciais (100%) que faziam parte do quadro de pessoal do DE, 157 (97%) participaram desses cursos. É importante ressaltar que durante a realização dos cursos pôde-se constatar que emergiram sentimentos conflitantes entre os participantes. Alguns enfermeiros demonstraram interesse na nova proposta de trabalho e a grande maioria não tinha conhecimento prévio sobre o conteúdo abordado, referindo sentir-se preocupado com as mudanças que seriam necessárias para a implementação do diagnóstico no SAE. Outros, ainda, posicionaram-se com resistência à nova proposta enfatizando que essa traria sobrecarga de trabalho para os enfermeiros. Considerando as manifestações de restrições à mudança proposta, os membros do GFIDE elaboraram um cronograma para a implementação do diagnóstico de enfermagem no SAE do HU-USP, e estabeleceram um plano de trabalho para o segundo semestre de 2002. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51148 149 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DA partir de julho de 2002, tiveram início reuniões semanais nos diferentes plantões, coordenadas pela enfermeira-chefe de cada unidade, quando os enfermeiros deveriam elaborar e apresentar estudos de caso levantando os diagnósticos de enfermagem mais freqüentes nas respectivas unidades. Nessas reuniões, a enfermeira-chefe deveria também identificar as expectativas do grupo e registrar as propostas sugeridas para a implementação do diagnóstico de enfermagem. Para viabilizar a realização dos estudos de caso, foi elaborado um roteiro no qual o enfermeiro deveria: ■■■■■ registrar breve histórico do paciente, com dados do exame físico e entrevista; ■■■■■ listar as características definidoras ou fatores de risco observados; ■■■■■ formular possíveis diagnósticos de enfermagem; ■■■■■ escolher os diagnósticos de enfermagem definitivos, o que entende-se por aqueles que os enfermeiros, após análise e discussão dos diagnósticos possíveis, consideram como mais adequados para expressar as respostas apresentadas pelos pacientes a problemas de saúde/ processos de vida; ■■■■■ propor atividades de enfermagem em relação aos diagnósticos correspondentes. No roteiro elaborado para viabilizar a realização de estudos de caso havia um campo para o registro de sugestões e observações acerca do processo diagnóstico. Após a apresentação e discussão dos estudos de caso, a enfermeira-chefe deveria encaminhar os roteiros ao SEd para a criação de um banco de dados com os diagnósticos mais freqüentes encontrados na unidade. Em agosto de 2002, foram realizadas reuniões científicas sobre o diagnóstico de enfermagem com os profissionais de nível médio do quadro de pessoal do DE, com a duração média de duas horas, em três horários distintos, para profissionais dos diferentes turnos de trabalho. As reuniões científicas sobre o diagnóstico de enfermagem tiveram como objetivo apresentar aos técnicos e auxiliares de enfermagem, a proposta de implementação do diagnóstico de enfermagem no SAE, e enfatizar a importância da participação efetiva de cada um no processo de levantamento de dados e no planejamento da assistência. Em setembro de 2002, foi realizada uma oficina de trabalho em que cada divisão do DE apresentou um caso com os respectivos diagnósticos de enfermagem elaborados. Participaram desse evento especialistas convidados que discutiram e trocaram experiências sobre o processo diagnóstico adotado em cada caso. Pôde-se observar que os enfermeiros que participaram desse evento demonstravam estar comprometidos com a implementação do diagnóstico no SAE, apesar das dificuldades e dúvidas evidenciadas. Concomitantemente ao desenvolvimento do processo de implementação do diagnóstico de enfermagem e sua melhor inserção no SAE, havia uma proposta da gerência do DE para a adoção de um novo sistema de trabalho, denominado Primary Nursing. O Primary Nursing é um sistema para a aplicação de serviços de enfermagem, constituído por quatro elementos estruturais: 26 ■■■■■ alocação e aceitação de responsabilidade individual pela tomada de decisões por uma pessoa; ■■■■■ designação de cuidados diários pelo método de casos; ■■■■■ comunicação direta pessoa/pessoa; ■■■■■ uma pessoa operacionalmente responsável pela qualidade de cuidados administrados a pacientes, em uma unidade 24 horas por dia, sete dias por semana. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51149 150 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O O sistema para aplicação de serviços de enfermagem prevê a existência de uma equipe de enfermagem responsável pelas atividades de enfermagem, bem como pela avaliação dos resultados da assistência prestada a determinados pacientes durante toda a internação. Outra oficina de trabalho foi então realizada, em outubro, aberta a todos os membros da equipe de enfermagem, relacionando o Primary Nursing com o diagnóstico de enfermagem, buscando-se ressaltar a pertinência desse sistema. Todos esses eventos e a aproximação daimplementação do diagnóstico de enfermagem evidenciaram a necessidade premente de serem revisadas as diretrizes vigentes para a condução e documentação do SAE. De acordo com a necessidade de revisão de diretrizes, foi realizada uma oficina de trabalho com os membros do GFIDE quando, partindo de estudos de casos vividos, tiveram inicio as discussões sobre mudanças necessárias nas diferentes etapas do SAE. Para tanto, os participantes foram divididos em grupos que ficaram responsáveis pela discussão e análise de uma etapa específica, propondo as mudanças que considerassem importantes e apresentando-as ao GFIDE. Desde o início da oficina de trabalho, os membros do GFIDE tiveram a clareza da necessidade de participação dos enfermeiros-assistenciais nas discussões para revisão das diretrizes do SAE, principalmente, porque esses se queixavam, freqüentemente, do tempo que era gasto para sua operacionalização. No entanto, pelas dificuldades que acompanham todo processo participativo, considerou-se mais adequado que, a princípio, fossem elaboradas algumas propostas para posterior apresentação e discussão com os enfermeiros-assistenciais. Dessa forma, os mesmos poderiam posicionar-se a respeito dessas propostas e sugerir outras, participando, efetivamente, das mudanças mais pertinentes. Decidiu-se que seriam realizadas visitas a outras instituições que já tivessem o diagnóstico de enfermagem implementado, com a finalidade de conhecer sua operacionalização e compartilhar das experiências de outros(as) enfermeiros(as) nesse processo. Após visitas a duas instituições, os membros do GFIDE começaram a estruturar um instrumento provisório para o registro dos diagnósticos de enfermagem no SAE e continuaram, paralelamente, a revisar as diretrizes do SAE com o propósito de agilizar essas atividades e apresentá-las aos enfermeiros-assistenciais, para que juntos, buscassem consenso. Em janeiro de 2003, com vistas à criação de um instrumento para a operacionalização do diagnóstico de enfermagem no SAE, que se adequasse à filosofia do DE, e à realidade dos enfermeiros assistenciais do HU-USP, optou-se pelo levantamento de todos os diagnósticos de enfermagem apresentados pelos pacientes nas diversas unidades, durante 30 dias. Ao final do período estabelecido, os diagnósticos identificados foram lançados em banco de dados para que se pudesse computar as freqüências das categorias diagnósticas apresentadas pelos pacientes nas diferentes Unidades do HU-USP. Tendo início a construção do banco de dados percebeu-se que essa etapa demandaria um tempo maior do que o previsto, devido à complexidade da conversão dos dados obtidos para a linguagem informatizada. Vale registrar que para a criação desse banco de dados havia necessidade de alguém que possuísse ampla experiência em informática e conhecimento do processo diagnóstico em enfermagem, sendo indicada uma enfermeira do SEd que, em virtude de outras atribuições, não pôde ser designada somente para essa atividade. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51150 151 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DEm abril de 2003, após uma reunião do GFIDE, decidiu-se que os enfermeiros deveriam prosseguir com o levantamento dos diagnósticos de enfermagem apresentados por dois pacientes sob seus cuidados, por semana, com a finalidade de estimular a manutenção e desenvolvimento da atividade diagnóstica, até que se viabilizasse a implementação do diagnóstico de enfermagem no SAE. Ao final de cada mês, as enfermeiras-chefes encaminhavam os diagnósticos elaborados pelos(as) enfermeiros(as) da unidade para o SEd, para que fossem agregados ao banco de dados em construção. Concomitantemente a essas atividades, foi propiciado a algumas enfermeiras, representantes de diferentes Unidades do DE, a participação em eventos científicos externos relacionados ao diagnóstico de enfermagem. As discussões sobre as mudanças necessárias no SAE prosseguiram, principalmente, em relação à evolução e anotação de enfermagem. Avaliando-se vários prontuários, percebia-se que em algumas unidades as evoluções de enfermagem eram muito extensas, demandando um tempo maior do enfermeiro para sua realização. Na maioria das unidades, as evoluções de enfermagem repetiam informações contidas nos demais impressos tais como gráficos, resultados de exames, anotação de enfermagem e evolução médica. Havia ainda unidades nas quais o conteúdo descritivo da anotação de enfermagem era muito semelhante ao da evolução de enfermagem. Após a conclusão da revisão das diretrizes para o registro da evolução e anotação de enfermagem foi decidido que as mesmas deveriam ser apresentadas aos membros da equipe de enfermagem. Em maio de 2003, a Diretora do DE realizou reuniões com os membros da equipe de enfermagem, quando foram compartilhadas as propostas de mudanças nas diretrizes do SAE. Durante as reuniões, vários participantes manifestaram sua aprovação às propostas referindo que essas direcionariam melhor a documentação dos registros de enfermagem. Após as reuniões, decidiu- se que as diretrizes revisadas do SAE vigorariam a partir de junho de 2003. Paralelamente a essas conclusões, alguns membros do GFIDE prosseguiam com a discussão sobre a criação de um instrumento para o registro dos diagnósticos de enfermagem. Com a intenção de listar, nesse instrumento, os diagnósticos de enfermagem mais freqüentes em cada unidade, com as respectivas atividades de enfermagem, deixando-se um espaço para o acréscimo de outros diagnósticos e atividades que o(a)enfermeiro(a) julgasse necessários. Percebeu-se que o instrumento para registro dos diagnósticos de enfermagem deveria contemplar as especificidades das unidades, sendo importante a realização de um estudo preliminar em uma unidade na qual os diagnósticos de enfermagem, elaborados pelos enfermeiros, já estivessem inseridos no banco de dados. Nessa época, os diagnósticos de enfermagem das unidades de clínica médica (CM), pronto-socorro infantil, terapia intensiva adulto e terapia intensiva infantil já estavam contidos no banco de dados. Ao se analisar as características dessas unidades, optou-se pela realização do estudo preliminar na CM que, por ser destinada à internação de pacientes adultos, poderia ter os resultados replicados em outras unidades da instituição. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51151 152 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O 13. Quais são os quatro elementos estruturais do Primary Nursing? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 14. Assinale a alternativa que corresponde aos fatores que contribuem para tornar a assistência na saúde do adulto em um sistema complexo de cuidados. A) Aumento da população de idosos; maior diversidade étnica; doenças crônicas, passíveis de prevenção; quantidade cada vez maior de adultos-idosos com doenças cognitivas e, adultos-jovens infectados pelo vírus causador da imunodeficiência adquirida. B) Aumento de custos dos cuidados à saúde com grandes esforços para a contenção de custos; número crescente de cidadãos sem cobertura de seguro- saúde; aumento dos cuidados a pacientes externos ou ambulatoriais; hospitalizações mais curtas. C) Menor uso de formas invasivas de tratamento; tendência à prestação de cuidadosno domicílio; foco maior na prevenção da doença, na promoção e na manutenção da saúde; movimento em direção ao autocuidado. D) Todas as alternativas estão corretas. 15. Com relação à atividade gerencial, é INCORRETO afirmar que: A) a atividade gerencial é extremamente dinâmica, dialética, em que as dimensões técnica, política e comunicativa estão permanentemente exigindo constante reflexão e tomada de decisão por parte do seu agente executor. B) a dimensão técnica da gerência refere-se aos aspectos mais gerais e instrumentos do próprio trabalho, tais como o planejamento, a coordenação, a supervisão, o controle e a avaliação, no que diz respeito ao manejo de recursos humanos, físicos (equipamentos e instalações) adequados à finalidade que direciona o processo de trabalho. C) a dimensão política articula o trabalho gerencial ao projeto que se tem a empreender, implicando uma articulação do processo interno de trabalho e as determinações externas deste, que dizem respeito às políticas sociais e de saúde em específico, e às contradições e conflitos presentes na sociedade para sua efetivação. D) a dimensão política compreende, também, o caráter de negociação presente ao lidar com as relações de trabalho na equipe e nas relações da unidade com a comunidade. Respostas no final do capítulo proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51152 153 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA D 16. Para a implementação e o aprimoramento do processo de enfermagem são imprescindíveis mudanças organizacionais, grupais e pessoais. É correto afirmar que o preparo individual das pessoas que conduzirão as mudanças necessárias nestas dimensões, deve considerar: A) sistematização e problematização da sua própria experiência e conhecimento, de forma a produzir algumas proposições sobre a mudança. B) ampliação da perspectiva da própria profissão ou especialidade por meio da interdisciplinaridade e multiprofissionalidade. C) aprimoramento constante da sua atenção a alguns valores humanos no trato da diversidade, a fim de evitar conflitos e resistências desnecessários. D) Todas as alternativas estão corretas. Resposta no final do capítulo 17. Quais são as formas pelas quais os profissionais manifestam resistência à mudança? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Comentário no final do capítulo A REALIZAÇÃO DO ESTUDO PRELIMINAR Os autores deste capítulo assumiram, juntamente com a Diretora da DECLI, a responsabilidade de desenvolver as estratégias para a realização do estudo preliminar sobre o gerenciamento do cuidado. Nesse sentido: ■■■■■ inicialmente, todos os diagnósticos de enfermagem, elaborados pelos enfermeiros da CM, foram distribuídos nos domínios preconizados pela classificação da NANDA-I23 para a averi- guação das peculiaridades apontadas, conforme sugestão de uma docente da EEUSP; ■■■■■ a seguir, foi enviada para todos(as) enfermeiros(as) da referida Unidade, uma listagem com o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, elaborados no período de janeiro a fevereiro de 2003, juntamente com uma carta solicitando que cada um(a) deles(as) escolhesse, indivi- dualmente, os diagnósticos que considerasse mais significativos, ou seja, que representassem a clientela por ele(a) atendida; ■■■■■ os(as) enfermeiros(as) foram orientados(as) que poderiam acrescentar outros diagnósticos que julgassem necessários. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51153 154 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Na carta que acompanhava o levantamento havia um convite para que os(as) enfermeiros(as) participassem de uma reunião, na própria CM, poucos dias após a entrega do material, quando seriam apresentados e discutidos os resultados obtidos. Os responsáveis pela coordenação da reunião e condução do estudo preliminar tinham a consciência de que deveriam favorecer a reflexão dos temas evidenciados, respeitando e acolhendo as escolhas do grupo. A reunião ocorreu em maio de 2003, com a participação de sete dos(as) dez enfermeiros(as) integrantes do quadro da CM, sendo apresentado o resultado da análise anteriormente descrita. Em seguida foi compartilhada, com os(as) mesmos(as), a intenção de envolvê-los(as) em oficinas de trabalho para a criação de um instrumento que considerassem adequado às demandas dos pacientes por eles(as) atendidos, e feito o convite para que participassem do projeto proposto. Foi explicado que para a realização das oficinas seria preciso marcar alguns encontros e enfatizou- se a importância da participação espontânea. Chamou à atenção o entusiasmo demonstrado por esses(as) enfermeiros(as) que aceitaram, prontamente, o desafio da construção do instrumento. Realizaram-se, então, sete oficinas de trabalho, nas datas e horários escolhidos pelos participantes, com duração de duas horas, em que foram discutidos, em profundidade, 13 diagnósticos de enfermagem selecionados com base na classificação da NANDA-I.23 Posteriormente, os(as) enfermeiros(as), fundamentados(as) no conhecimento orientador da sua prática assistencial e em protocolos existentes na instituição, escolheram as atividades de enfermagem correspondentes aos diagnósticos selecionados e construíram o instrumento denominado, consensualmente, diagnóstico evolução/prescrição de enfermagem. Apesar das dúvidas e incertezas que surgiram durante as oficinas de trabalho, o grupo demonstrava constantemente sua empolgação em participar de um estudo preliminar que poderia ser um marco para a implementação do diagnóstico de enfermagem como etapa do SAE, no HU-USP. O instrumento, válido para 48 horas de internação, foi estruturado conforme apresenta o Quadro 4. Quadro 4 DIAGNÓSTICO EVOLUÇÃO/PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM 48 HORAS DE INTERNAÇÃO ■■■■■ De um lado da folha de papel utiliza-se uma coluna com os 13 diagnósticos de enfermagem impressos e três colunas em branco para o registro, por meio de siglas, da evolução realizada diariamente pelo enfermeiro após avaliação dos pacientes sob seus cuidados: • (P) presente; • (Me) melhorado; • (Pi) piorado; • (I) inalterado; • (R) resolvido. ■■■■■ Abaixo da relação dos diagnósticos foram deixadas linhas para serem acrescentados novos diagnósticos e, abaixo dessas, um quadro para o controle dos dias de permanência de sondas, drenos e cateteres. ■■■■■ Do outro lado da folha, utiliza-se uma coluna com as atividades de enfermagem impressas, em que cada atividade é precedida pelo(s) número(s) do(s) diagnóstico(s) correspondente(s), e há três colunas em branco para o estabelecimento da freqüência ou horário da realização das atividades selecionadas pelo enfermeiro. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51154 155 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DRealizaram-se reuniões com os técnicos e auxiliares de enfermagem da CM para apresentação e apreciação do novo instrumento. Em diferentes momentos dessas reuniões foi reforçada a necessidade e a importância da participação de todos, juntamente com os(as) enfermeiros(as), no planejamento da assistência, na seleção das atividades mais adequadas para cada paciente e na avaliação dos resultados alcançados. Ponderou-se que para a concretização da proposta apresentada,durante as reuniões com os técnicos e auxiliares de enfermagem, seria imprescindível a mudança de comportamento e a coesão de todos os membros da equipe de enfermagem, com vistas a uma atuação complementar e sem cisões. Durante as reuniões, os presentes posicionaram-se favoravelmente, e alguns referiram ser a mudança bem-vinda, uma vez que, de modo geral, não vinham participando diretamente do planejamento da assistência, cabendo-lhes, apenas, a execução dos cuidados prescritos. Não houve sugestões de alteração em relação ao conteúdo e ao formato do instrumento, e alguns explicitaram, ainda, a concordância com os diagnósticos de enfermagem e as atividades impressas no instrumento que retratavam, realmente, o que era típico entre os pacientes que cuidavam no dia-a-dia. Posteriormente, estabeleceu-se a data do início do teste do novo instrumento, tendo sido decidido que, a princípio, o mesmo seria utilizado somente para os pacientes admitidos após uma data estabelecida. Decidiu-se, ainda, que a duração do teste só seria determinada depois que todos os pacientes internados na CM estivessem com seu plano de cuidados elaborado, de acordo com o instrumento diagnóstico/evolução/prescrição de enfermagem. A avaliação da etapa inicial do processo de implementação do diagnóstico de enfermagem evidencia a importância da realização do levantamento de necessidades e a mobilização de recursos para o atendimento dessas necessidades, tanto de ordem técnica, disponibilizando recursos estruturais e tempo para propiciar a capacitação das pessoas envolvidas, como de ordem ético-política, promovendo a participação efetiva das pessoas envolvidas com a valorização do seu conhecimento e potencial criativo. Esses elementos subsidiaram a avaliação positiva do início desse processo em construção, e têm permitido a sua continuidade, que se pretende divulgar posteriormente. MONITORANDO A MUDANÇA NO PROCESSO DE GERENCIAMENTO DO CUIDADO Concomitantemente à condução do estudo preliminar na CM, foram realizadas reuniões com os membros do GFIDE para divulgação dos resultados obtidos nas oficinas de trabalho. As enfermeiras- chefes das unidades de pronto-socorro infantil, terapia intensiva adulto e terapia intensiva infantil interessaram-se em desenvolver as mesmas estratégias, uma vez que o banco de dados das respectivas unidades já estava concluído. Decidiu-se, então, que essas unidades iniciariam as oficinas de trabalho sob a condução do enfermeiro-coordenador do GFIDE, e com a participação da enfermeira-chefe e da enfermeira-diretora da divisão correspondente. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51155 156 GE RE NC IAM EN TO D O CU IDA DO EM SA ÚD E D O A DU LT O Com vistas à uniformização da construção do instrumento e à composição de um banco de atividades de enfermagem foi estabelecido pelos membros do GFIDE, que as próximas unidades a realizarem as oficinas de trabalho, ao selecionarem diagnósticos de enfermagem comuns a outras unidades, manteriam as atividades propostas pelos enfermeiros que já tivessem construído o instrumento, quando essas fossem pertinentes à realidade dos clientes assistidos na unidade. Novas atividades de enfermagem seriam propostas e acrescentadas, para um mesmo diagnóstico selecionado, somente diante de necessidades específicas. À medida que os instrumentos eram construídos e testados, gradativamente, as atividades de enfermagem foram lançadas em banco de dados de acordo com o(s) respectivo(s) diagnóstico(s). Nesse momento, percebeu-se a necessidade de mudanças no formato dos mesmos, para que pudessem favorecer a continuidade das atividades de enfermagem para um mesmo cliente, quando fosse transferido de uma unidade para outra dentro do HU-USP. Foram realizadas reuniões com enfermeiros-assistenciais representantes de unidades afins, para que pudessem decidir, conjuntamente, as mudanças no conteúdo e no formato do instrumento que garantissem a otimização da sua utilização. Finalmente, em maio de 2004, a maioria das unidades do DE estava com o sistema de classificação de diagnóstico de enfermagem implementado. Em diferentes momentos da condução do processo, a implementação do diagnóstico de enfermagem foi concebida pelos(as) enfermeiros(as) do DE como uma imposição, uma vez que não tinham optado por essa proposta de mudança, gerando reações de resistência e sentimentos de desconforto. Contudo, em decorrência da gradativa capacitação teórico-prática e do aumento da participação, os(as) enfermeiros(as) tornaram-se agentes de mudança, evidenciando uma transformação em seus sentimentos a partir do desconforto inicial e de uma percepção desfavorável em relação à implementação do diagnóstico de enfermagem no SAE, até a explicitação de satisfação profissional com a vivência desse processo. Durante a realização das oficinas de trabalho nas unidades do DE pôde-se constatar que os sentimentos compartilhados pelos(as) enfermeiros(as) foram sendo trabalhados com mais facilidade, uma vez que passaram a assumir uma atitude pró-ativa em relação a eles, confiantes no lidar com esses sentimentos e superando, juntos, as dificuldades. A experiência vivida mostrou que o resultado traduziu-se em crescimento individual e, conseqüentemente, em efetivo produto coletivo. A apropriação do processo propiciou-lhes, além do compartilhamento das decisões, a responsabilidade pelos resultados. A metodologia de trabalho descrita tem mostrado que a capacitação técnico-científica e a criação de espaços que valorizem a participação fortalecem a dimensão emocional dos profissionais frente a mudanças. Os(as) enfermeiros(as) do DE têm consciência de que uma das finalidades do processo de implementação dos diagnósticos de enfermagem, como sistema padronizado de linguagem, é a de propiciar condições para a informatização do SAE. proenf-sa_3_Gerenciamento do cuidado.p65 4/6/2007, 15:51156 157 PR OE NF SA ÚD E D O A DU LT O S ES CA DOs instrumentos construídos por meio de estratégias participativas nas diferentes unidades representam a concretização de uma etapa intermediária entre o SAE, anteriormente desenvolvido, e a meta a ser alcançada, ou seja, o SAE informatizado. Dessa forma, podemos afirmar que o processo continua sendo construído no HU-USP, e ainda se configura como um grande desafio a ser vivenciado pelos enfermeiros e pelos demais profissionais da equipe de enfermagem do DE. Sem dúvida, todas essas mudanças que apresentamos no SAE do HU-USP geraram uma série de dificuldades e incertezas que deveriam ser criteriosamente acompanhadas e avaliadas. Para tanto, foi proposto um projeto de pesquisa denominado impacto de sistema padronizado de linguagem na prática clínica do enfermeiro, formado por três subprojetos, cada um sob a coordenação de uma docente da EEUSP, com a finalidade de estudar os efeitos da introdução do sistema de classificação de diagnósticos de enfermagem na prática assistencial e gerencial do(a) enfermeiro(a). 18. O que fortalece a dimensão emocional dos profissionais frente a mudanças? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 19. O que tornou necessário o projeto de pesquisa denominado impacto de sistema padronizado de linguagem na prática clínica do enfermeiro? .......................................................................................................................................................
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