Buscar

O ENFERMEIRO NO APH

Prévia do material em texto

Enfermeiro em Unidades Móveis de Atenção Pré-Hospitalar 
Aloísia Pimentel Barros. Enfermeira Assistencial do SAMU - Recife. Doutorado 
em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de 
Pernambuco. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Especialista em 
Saúde da Criança e do Adolescente. Coordenadora Pedagógica e Docente da 
Pós-Graduação Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de 
Ciências e Tecnologia (FAMEC). Preceptora do Programa de Residência em 
Enfermagem em Atendimento Pré-Hospitalar. 
Jackeline Maria Tavares Diniz. Enfermeira do Serviço de Educação Continuada 
da Central de Transplantes de Pernambuco. Mestre em Saúde da Criança e do 
Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Saúde 
da Criança e do Adolescente. Coordenadora Pedagógica e Docente da Pós-
Graduação Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de 
Ciências e Tecnologia (FAMEC). 
Cibele de Lima Souza Silveira. Enfermeira. Coordenadora Geral de 
Enfermagem do SAMU-Recife. Doutorado em Saúde da Criança e do 
Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Saúde da 
Criança e do Adolescente. Especialista em UTI. Docente da Pós-Graduação 
Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Ciências e 
Tecnologia (FAMEC). 
Introdução 
O crescimento da mortalidade por trauma se traduz hoje em um fenômeno 
mundial, atingindo tantos países desenvolvidos como os em desenvolvimento. 
O avanço da vida urbanizada, o acelerado ritmo econômico e as complexas 
relações sociais são fatores contribuintes para tal fenômeno. No Brasil, os 
acidentes e as violências configuram um problema de saúde pública de grande 
magnitude por alterar e ocasionar intenso impacto na morbidade e na 
mortalidade da população. 
A Política Nacional sobre o tema é recente, embora, existam iniciativas 
particulares de alguns estados, desde a década de 1980, em tentar alcançar 
estratégias de prevenção a esses agravos. Nessa referida época, a ausência 
de diretrizes nacionais para a área de emergência, particularmente de 
Atendimento Pré-Hospitalar (APH), levou alguns estados a criar seus próprios 
serviços, dissociados de uma linha mestra e de uma normalização típica de 
planejamento, instalação e operacionalização, surgindo assim diversos 
modelos, sendo a maioria deles com deficiências técnicas importantes, tanto no 
setor público, como no privado. A partir daí fez-se necessário então a 
normatização dos serviços de Atendimento Pré-Hospitalar (APH). A Portaria nº 
814/GM, de 01 de Junho de 2001, foi criada com o objetivo de regulamentar e 
normatizar os serviços de APH móvel de urgências, já existentes em todo 
território nacional, tantos os civis como os militares, públicos ou privados, bem 
como os que viessem a ser criados no país. 
O atendimento pré-hospitalar é, por definição, qualquer assistência realizada 
fora do ambiente hospitalar. O Ministério da Saúde define como sendo a 
assistência prestada em um primeiro nível de atenção, aos portadores de 
quadros agudos, de natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando 
ocorrem fora do ambiente hospitalar, podendo acarretar sequelas ou até 
mesmo a morte, sendo necessário prestar-lhe atendimento e/ou transporte 
adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao 
Sistema Único de Saúde (SUS). 
No Brasil e no mundo, o atendimento pré-hospitalar se tornou um componente 
fundamental do sistema de atendimento às urgências e, mais que isso, uma 
ferramenta fundamental no combate a morbi-mortalidade, recebendo para 
tanto, enormes incentivos. Com a regulamentação dos serviços de APH, O 
SUS passou a ter a responsabilidade de instrumentar e estimular a implantação 
de serviços que garantissem a assistência rápida e de qualidade aos cidadãos 
acometidos por agravos de urgência. É esperado que a organização desse tipo 
de atendimento auxilie ainda na ordenação da entrada dos pacientes nesses 
sistema, garantindo que as premissas de universalização, hierarquização e 
regionalização do atendimento , previstas na Constituição Federal, sejam 
atendidas. 
 
Objetivos: 
Ao final da leitura do presente capítulo, o leitor deverá ser capaz de: 
Identificar os marcos históricos e aspectos legais da atuação do enfermeiro no 
atendimento pré-hospitalar; 
Compreender a importância da avaliação no contexto global do atendimento do 
paciente politraumatizado; 
Sistematizar as etapas distintas envolvidas no atendimento inicial ao 
politraumatizado; 
Relacionar as etapas do atendimento inicial ao politraumatizado com a 
sistematização da assistência da enfermagem. 
 
Aspecto Históricos e Conceituais do APH 
O atendimento às emergências/urgências no local da ocorrência é relatado 
desde o período das grandes guerras, mais precisamente no século XVIII, 
período napoleônico. 
Neste período, os soldados feridos em campo de batalha eram transportados 
em carroças com tração animal, para serem atendidos por médicos, longe dos 
conflitos. Em 1792, o cirurgião e chefe militar Dominique Larrey, começa a "dar 
os cuidados iniciais", a soldados feridos, no próprio campo de batalha, a fim de 
prevenir possíveis complicações. A iniciativa de atendimento aos soldados no 
campo de batalha continuou no século XIX e levou à formação da Cruz 
Vermelha Internacional, em 1863, organização que, ao longo do tempo, 
demonstrou a necessidade de atendimento rápido aos feridos, tendo sua 
atuação destacada nas Guerras Mundiais do século XX(2,10,11). 
No Brasil, a idéia de atender as vítimas no local da emergência é tão antiga 
quanto em outros países. Data de 1893 a aprovação da lei, pelo Senado da 
República, que pretendia estabelecer o socorro médico de urgência na via 
pública, no Rio de Janeiro, que era a capital do país. Consta ainda que, em 
1899, o Corpo de Bombeiros da mesma localidade punha em ação a primeira 
ambulância (de tração animal) para realizar o referido atendimento, fato que 
caracteriza sua tradição histórica na prestação deste serviço(2,10,11). 
No Estado de São Paulo, com a promulgação do Decreto n.395 de 7 outubro 
de 1893, ficou sob a responsabilidade dos médicos do Serviço Legal da Polícia 
Civil do Estado o atendimento às emergências médicas. Em 1910, o Decreto 
n.1392, tornou obrigatória a presença de médicos no local de incêndios ou 
outros acidentes. Em 1950, instalou-se em São Paulo o Serviço de Assistência 
Médica Domiciliar de Urgência (SAMDU), órgão da então Secretaria Municipal 
de Higiene, pelo Decreto Estadual n.16629, ficando como responsabilidade do 
município, o atendimento de urgência na cidade de São Paulo. A atividade de 
atendimento pré-hospitalar no Brasil sempre foi muito diversificada; vários 
Estados, ao longo dos anos, desenvolveram um sistema de atendimento às 
urgências e emergências de caráter público e/ou privado(15). 
O Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA) foi um exemplo de serviço 
privado com interligação a órgãos e serviços públicos. Em 1976, implantou o 
Sistema de Ajuda ao Usuário nas rodovias sob sua jurisdição (Sistema 
Anchieta-Imigrantes, Sistema Anhanguera-Bandeirantes e Sistema dos 
Trabalhadores); estes serviços tinham como característica o posicionamento de 
uma ambulância, tripulada por um motorista e um atendente de primeiros 
socorros, a cada 30 km de rodovia, durante as 24 horas de todos os dias do 
ano. A supervisão, treinamento em serviço e reciclagem periódicos era 
realizadas por médicos, e o serviço era mantido com arrecadação dos 
pedágios e recursos da Previdência Social, o antigo INAMPS(16). 
Na tentativa de resgatar este sistema de atendimento pré-hospitalar, no ano de 
1979, foi assinado um "protocolo de intenções" entre a Prefeitura do Município 
de São Paulo e o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São 
Paulo, constituindo um serviço de ambulâncias da prefeitura, para o qual 
algunsfuncionários da Secretaria Municipal de Saúde foram treinados para 
atuar, junto com os bombeiros, no resgate aos acidentados. Com efeito, se de 
um lado era conhecida a morosidade do sistema municipal, por outro havia 
ainda grande resistência de parte do comando do Corpo de Bombeiros em 
assumir estas atividades, consideradas essencialmente médicas(17). 
Outro marco importante se deu em 1981, quando se constituiu informalmente 
um grupo de médicos, representantes do Pronto Socorro do Hospital das 
Clínicas, da Secretaria de Higiene e Saúde do Município de São Paulo, do 
Hospital Heliópolis e da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, com a 
finalidade de debater a assistência às urgências no município que, além do 
atendimento na via pública, propôs um sistema de referência para 
encaminhamento dos acidentados aos locais próximos das ocorrências, 
estabelecendo, pela primeira vez, uma proposta de territorialização e 
integração dos serviços de atendimento imediato e internação, com a 
elaboração de normas e ficha padrão para o encaminhamento de vítimas. Em 
1983 houve a oficialização deste grupo denominado Comissão de 
Coordenação de Recursos Assistenciais de São Paulo (CRAPS), que tinha 
como missão a definição e implantação de programas efetivos no Município de 
São Paulo(17). 
No Estado do Rio de Janeiro foi criado, por um decreto governamental, em 
dezembro de 1985, com efetivo funcionamento em 9 de julho de 1986, o Grupo 
de Emergências do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, da 
Secretaria de Estado da Defesa Civil. O Grupo de Socorro de Emergência era 
formado por 19 ambulâncias de Unidades Móveis de Terapia Intensiva. Sua 
equipe era composta de um médico e dois enfermeiros, além do condutor. Este 
serviço se vinculou a uma estrutura já existente, a do Resgate do Corpo de 
Bombeiros(16). 
Em 1989, na cidade de São Paulo, houve a criação do Projeto Resgate que era 
apoiado por uma resolução conjunta entre as Secretarias Estaduais de Saúde 
e de Segurança Pública (Corpo de Bombeiros e Grupamento de Rádio 
Patrulha) que possibilitou a implantação do Suporte Avançado de Vida através 
de 35 viaturas de resgate (UR) tripuladas cada uma por 3 bombeiros treinados 
a prestar os primeiros-socorros e 2 viaturas de unidades de salvamento (USA), 
semelhantes a UTI móvel, tripuladas por um médico e por uma enfermeira, 
que, nesse período, estava em fase de implantação e adaptação a esse tipo de 
atendimento. Além disso, havia 3 helicópteros que eram tripulados por dois 
pilotos, um médico e uma enfermeira e equipados com respirador mecânico, 
desfibrilador, materiais e medicamentos de primeiros-socorros(17). 
No Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergências (SIATE), 
proposto pelo Ministério da Saúde (MS) e implantado inicialmente em 1990, em 
Curitiba, numa ação conjunta entre as Secretarias Estaduais de Saúde e de 
Segurança Pública, o atendimento era realizado pelos socorristas de Corpo de 
Bombeiros e contava com "médicos dentro do sistema regulador que poderiam 
ser deslocados para o local da emergência quando necessário, dependendo da 
situação". O SIATE serviu de modelo para a estruturação do APH em nível 
nacional, iniciada a partir de 1990, com a criação do Programa de 
Enfrentamento às Emergências e Traumas (PEET) pelo MS(15). 
Somente em 2002, com a implantação da Política Nacional de Atenção às 
Urgências, o governo federal deu origem a um plano de enfretamento às 
urgências e emergências, que definiu para todo território nacional, as diretrizes 
para o funcionamento de sistemas de atendimento para as urgências, sendo o 
“Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)” o braço pré-hospitalar 
dessa portaria. Além desse componente pré-hospitalar , essa política acabou 
por abordar também outras temas necessários e que complementavam o 
atendimento às urgências e emergências no país. Dessa forma, sob o 
imperativo das Necessidades Humanas, foram elaborados Planos de Atenção 
às Urgências, de responsabilidade partilhada e compactuada entre governos 
municipais, estaduais e União, que contemplam os seguintes componentes 
fundamentais(7,9): 
a) Adoção de Estratégias Promocionais de Qualidade de Vida, buscando 
identificar os determinantes e condicionantes das urgências clínicas, 
traumáticas, obstétricas, pediátricas e psiquiátricas, enfrentando-as por meio 
de ações trans-setoriais de responsabilidade pública e da participação e 
responsabilização de toda a sociedade; 
b) Organização de redes locais e regionais de atenção às urgências, que 
atuem como elos da cadeia de manutenção da vida, envolvendo todos os 
componentes da rede assistencial do SUS: 
- Componente Pré-Hospitalar fixo: composto pela Atenção Primária à Saúde, 
que, por meio das Unidades Básicas, Programas de Saúde da Família, 
Unidades de Pronto Atendimentos (UPAS) e Policlínicas, devam estar 
estruturado e capacitado para o enfrentamento das urgências de menor 
complexidade, além de poder dar o primeiro atendimento ou suporte de vida a 
casos graves. As Redes de Atenção Especializada e a de Apoio Diagnóstico e 
Terapêutico também fazem parte desse componente. 
- Componente Pré-Hospitalar Móvel: composto pelo Serviço de Atendimento 
Móvel de Urgência (SAMU), é eleito pelo governo como primeira ação no 
enfrentamento às urgências por seu alto potencial de impacto de preservação 
da vida, de sua capacidade de observatório do sistema e da saúde da 
população e sua capacidade de intervenção nos fluxos de pacientes urgentes 
em todos os níveis do sistema, por meio da regulação médica. 
- Componente Hospitalar: composto pelas Portas de Urgências de Hospitais 
Gerais ou Especializados, de qualquer porte ou nível de complexidade, sendo 
incluídos aí todos os leitos do Sistema – os gerais, os especializados, os de 
longa permanência e os de terapia semi-intensiva e intensiva. 
- Componentes Pós-Hospitalar: composto pelas várias modalidades de 
Atenção Domiciliar, Hospitais Dia e Projetos de Reabilitação. 
c) Instalação e operação das Centrais de Regulação Médica de Urgências, que 
deverão atuar em íntima relação e integração com as demais Unidades de 
Trabalho do Complexo Regulador da Assistência no SUS; 
d) Capacitação e Educação Continuada das equipes de saúde de todos os 
âmbitos de atenção, envolvendo todos os trabalhadores do setor; 
e) Orientação segundo os princípios de Humanização da Atenção. 
Percebe-se então que a Política Nacional de Atenção às Urgências tenta 
envolver todos os segmentos que fazem parte do atendimento aos indivíduos 
em situações de agravos a saúde e não só o segmento de atenção pré-
hospitalar como imaginado por muitos. 
Na Portaria nº 2.048, de 05 de novembro de 2002, dessa referida Política 
Nacional, o Ministério da Saúde preconizou o Serviço de Atendimento Móvel de 
Urgência (SAMU) como sendo o componente referencial de atendimento pré-
hospitalar móvel no país, podendo o mesmo ser acionado nacionalmente e 
gratuitamente através do número 192. Entretanto, a Portaria não extinguiu a 
existência de serviços já estabelecidos por meio de convênios entre as 
Secretarias Estaduais de Saúde e de Segurança Pública presentes em alguns 
estados brasileiros. 
Com essa portaria, o governo federal estimula a implantação e a organização 
de serviços pré-hospitalares móveis para o atendimento às urgências em 
municípios e regiões do país. Essa organização inclui a implantação de acesso 
telefônico gratuito, de frota de veículos compatível, de pessoal habilitado e 
capacitado, de centrais de regulação médica, de rede de referência e contra-
referência e de núcleos de educação em urgências(9). 
Para garantir o programa, o governo federal prevê investimentos de recursos 
financeiros para(7,10): 
- Aquisição de veículos e seus respectivos equipamentos de SBV e SAV, todos 
devidamente padronizados, para serem transferidos aos estadose municípios 
sob cessão a ser estabelecida em termo de convênio; 
- Repasse as secretarias municipais e estaduais para investimento na 
implantação e custeio na manutenção do SAMU – 192. 
Para participar do programa, os municípios devem formular e apresentar um 
plano municipal ou regional de atenção às urgências explicitando inúmeras 
ações,informações e providências. Uma vez aprovado o plano de implantação 
é estabelecido o termo de convênio, onde são relacionados os condicionantes, 
e pré-requisitos e compromissos entre as partes. Ressalta-se que no que tange 
ao custeio dos serviços, a responsabilidade será compartilhada igualmente 
entre a União, os Estados e os Municípios envolvidos, cabendo a União, 
através do Fundo Nacional de Saúde, realizar os repasses regulares, pré-
determinados e automáticos para o fundo de saúde municipal(9,10). 
Composição e Normatização dos Serviços Pré-Hospitalares 
Atualmente, no Brasil, o atendimento pré-hospitalar está estruturado em duas 
modalidades: o Suporte Básico de Vida (SBV) e o Suporte Avançado de Vida 
(SAV). O SBV consiste na preservação da vida, sem manobras invasivas, em 
que o atendimento é realizado por pessoas treinadas em primeiros-socorros e 
atuam sob supervisão médica. Já o SAV tem como características manobras 
invasivas, de maior complexidade e, por este motivo, esse atendimento é 
realizado exclusivamente por médicos e profissionais de enfermagem. 
Apesar de estar estruturado dessa forma, ainda é bastante comum, tanto para 
a população leiga e, infelizmente, também para alguns profissionais de saúde, 
a confusão entre os conceitos adequados para os termos “resgate”, 
“atendimento pré-hospitalar”, “primeiros-socorros”, paramédico”, sendo estes 
utilizados indiscriminada e aleatoriamente, evidenciando não uma confusão 
meramente semântica, mas um certo desconhecimento sobre como, o que, e 
quem procurar em determinadas situações de segurança ou agravos à saúde(9,). 
 
O termo “resgate” deve ser atribuído aos serviços cujas equipes são treinadas e 
habilitadas para executar a retirada de vítimas de um local de difícil acesso do qual elas 
não possam sair em segurança e/ou por si mesmas, tais como vítimas presas em 
veículos, em áreas de incêndio, desabamentos ou de situações de risco diversas, como 
afogamentos. São ações quase exclusivamente realizadas pelo Corpo de Bombeiros, 
Polícia Civil ou Militar, Defesa Civil(7,9). 
 
“Primeiros-Socorros” refere-se a um conjunto de procedimentos simples que pode ser 
realizado por qualquer indivíduo em situação de emergência até a chegada do socorro 
profissional e não designa corretamente a ampla gama de conhecimentos e habilidades 
necessárias à execução dos procedimentos de SBV(7,9). 
 
A profissão de “paramédico” não é regulamentada no Brasil, essa condição só é aplicável 
nos Estados Unidos e Canadá. As pessoas que atuam nessa área são chamadas de 
Técnicos em Emergências Médicas ou Paramédicos e atuam sem supervisão médica 
direta. Nos Estados Unidos o treinamento é realizado em 3 níveis distintos, quanto maior o 
nível de treinamento, maior a qualificação profissional. Para o nível mais elevado de 
complexidade são permitidos os procedimentos de intubação, punção torácica e 
administração de medicamentos dentre outros(9). 
 
Em relação aos modelos existentes de APH, basicamente dois servem de 
referência para o restante do mundo: o francês e o americano. O modelo 
francês nasceu da necessidade sentida dos médicos “anestesistas –
reanimadores”, responsáveis pelo atendimento às urgências, que começaram a 
sair nas ambulâncias, pois perceberam que tanto nos casos clínicos como no 
trauma, se medidas terapêuticas fossem tomadas no local, as chances de 
sobrevida e redução de seqüelas aumentavam. Este tem como pilar o médico, tanto 
na Regulação do Sistema como no atendimento e monitoramento do paciente, 
até a recepção hospitalar e é um serviço ligado ao Sistema de Saúde, 
hierarquizado e regionalizado, sempre ligado aos Centros Hospitalares(9). 
O modelo americano trabalha com paramédicos, que tem um programa de 
formação extenso (3 anos após o término do 2º grau). A guerra do Vietnã, 
resultou em uma grande experiência para os EUA na formação de 
paramédicos, por ser uma guerra de guerrilha, e ser, portanto, impossível 
contar com profissionais em todas as frentes de combates. Soldados foram 
treinados no primeiro atendimento, foram delegadas ações até então 
exclusivamente médicas, e equipamentos de fácil transporte também foram 
desenvolvidos(9). 
Esse modelo francês que mescla os profissionais no atendimento direto e que 
se baseia na regulação médica, é a raiz do modelo brasileiro atual que recebeu 
inclusive, nomenclatura semelhante ao francês, já que nesse país, em especial 
nas cidades de Paris e Lion, o serviço é chamado de Sistema de Atenção 
Médica às Urgências (SAMU). 
Essa opção de modelo começou a se tornar vigente no Brasil a partir da 
década de 90 após o estabelecimento de um Termo de Cooperação Técnico-
Científica entre os governos brasileiro e francês. Ressalta-se que na mesma 
época, devida a ausência de regulamentação na área pré-hospitalar, o Corpo 
de Bombeiros, baseado no modelo americano, criou o “Resgate” onde as 
atividades pré-hospitalares eram realizadas por bombeiros treinados, que já 
executavam ações de salvamento e foram treinados para as ações de suporte 
básico de vida. 
Apesar desse acordo com a França, a realidade brasileira não permitia a 
predominância do sistema no molde francês devido a escassez de recursos 
havendo a necessidade de adaptações à realidade do país, daí a explicação 
para a mistura dos moldes francês e norte-americano em vários sistemas de 
atendimento pré-hospitalar em todo Brasil. 
Os profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) 
brasileiro, em moldes do francês, atuam sob regulação médica, a qual pode ser 
entendida como uma forma de organizar a porta de entrada do cidadão no 
sistema de saúde, garantindo-lhe acesso, o envio de melhor recurso e o 
encaminhamento ao mais adequado e mais próximo serviço de saúde. A 
central de regulação médica é um dos componentes que formam um sistema 
pré-hospitalar, além de outros como: um dígito de telefone gratuito (exemplo: 
192, no caso do SAMU; 193, Corpo de Bombeiros); equipes de atendimentos 
treinados, com recursos materiais, equipamentos e ambulâncias adequadas; e 
transporte seguro para uma unidade de retaguarda, se necessário. 
De acordo com o Ministério da Saúde, a Regulação Médica das Urgências é 
um processo de trabalho por meio do qual se garante escuta permanente pelo 
médico regulador, com acolhimento de todos os pedidos de ajuda que chegam 
a central, bem como a estimativa inicial do grau de urgência de cada caso, 
desencadeando a resposta mais adequada e equânime a cada solicitação. A 
solicitação pode ser proveniente de um cidadão em agravo de urgência ou 
proveniente de um serviço de saúde(7,10). 
Diante da identificação da gravidade, é possível definir o recurso necessário ao 
atendimento da solicitação, seja uma orientação verbal ou a disponibilização de 
uma ambulância com ou sem médico. O acionamento de recursos adicionais 
(polícia, bombeiros, por exemplo) também pode ser realizado nesse momento. 
Uma vez determinada a complexidade do recurso necessário é estabelecido a 
comunicação com a equipe de intervenção disponível, seja por via telefônica ou 
radiocomunicação, a fim de repassar os dados que permitam localização da 
vítima. Nessa comunicação também é repassado dados acerca do agravo 
identificado ou presumido para que a equipe possa programar os 
procedimentos iniciais que serão efetuados. 
O controle desses procedimentos iniciais pela equipe se baseia no 
acompanhamento do atendimento local, à luz dos protocolos previamente 
estabelecidos para cada situação e deve considerar, inclusive, apossibilidade 
das equipes de intervenção necessitarem de orientação sobre outras condutas 
para serem realizadas ou mesmo autorização para executá-las. Nos modelos 
com Regulação Médica, essa é uma atribuição exclusiva do profissional 
médico. 
As equipes de atendimento devem ser devidamente treinadas, habilitadas e 
capacitadas a prestar assistência pré-hospitalar em qualquer tipo de agravo 
considerando o nível de complexidade de sua atuação, o modelo pré-hospitalar 
adotado e a legislação profissional vigente. 
Ainda nesse contexto das equipes que prestam atendimento pré-hospitalar, 
além dos profissionais de saúde, policiais, bombeiros e paramédicos, também 
deve ser entendido o ‘voluntário”, que é figura comum em todo o mundo nas 
ações de socorro. O “voluntário” é aquele que atua sem vínculo de trabalho e 
não remunerado, ainda que deva estar igualmente certificado, qualificado ou 
habilitado, dentro das mesmas regras daquele que realiza a atividade com 
vínculo de trabalho. Vários países adotam normas específicas para a atuação 
do “voluntário” sendo, por vezes, esse cidadão, seu principal agente na 
composição das equipes de socorro. Chile e Bolívia são exemplos dessa 
condição(9). 
Para um atendimento adequado à população, deve ser entendida a 
necessidade constante de buscar um cuidado seguro. Para isso, são 
fundamentais o treinamento continuado e a formulação de protocolos de 
intervenção. Tais protocolos devem ser desenvolvidos e constantemente 
revisados em conjunto com as equipes de intervenção e treinamento, criando 
mecanismos que assegurem que os profissionais tenham conhecimentos e 
habilidades necessárias a sua realização. 
No Brasil, ainda carecemos de protocolos nacionais que norteiem a prática da 
assistência pré-hospitalar à nossa realidade, o que faz com que protocolos 
internacionais como o Advanced Trauma Life Support (ATLS) e o Prehospital 
Trauma Life Support (PHTLS) sejam bastante utilizados pelos profissionais de 
saúde que exercem suas atividades nesse tipo de serviço, mas que nem 
sempre são condizentes com as nossas necessidades. 
Uma vez devidamente atendida, a vítima poderá vir a precisar de remoção para 
uma unidade hospitalar. O ideal é que esse transporte seja o mais rápido 
possível, principalmente nas vítimas de trauma.Nas grandes cidades espera-se 
que esse deslocamento não seja superior a 30 minutos, incluindo aí o 
acionamento da viatura pela central de regulação médica, o deslocamento até 
o local, o atendimento inicial e o transporte até o hospital(6). É de vital 
importância a segurança dos tripulantes da viatura em todas essas etapas. Nos 
modelos de APH com central de regulação médica a definição para qual 
hospital a vítima será removida é atribuição do médico regulador. Na prática, o 
hospital mais adequado e próximo da ocorrência deve ser o escolhido. 
A organização de uma rede de atenção integral para atendimento às urgências, 
organizando o fluxo dos pacientes da atenção básica até a alta complexidade, 
é uma das prioridades do Ministério da Saúde. Nesse contexto, o SAMU tem 
forte potencial ordenador da assistência no que se refere à forma de responder 
a todas as demandas de urgências, seja ela no domicílio, no local de trabalho, 
em vias públicas, seja onde o paciente vier a precisar do SUS. Todos os 
recursos necessários podem ser oferecidos, independentemente de sua 
complexidade. 
A Enfermagem e o Atendimento Pré-Hospitalar 
A inserção da enfermagem no atendimento pré-hospitalar não é recente, pelo 
contrário, é bastante antiga, para tanto basta mencionar a participação do 
ícone mundial da enfermagem, Florence Nightingale, na Guerra da Criméia no 
século XIX. 
Ainda no século XX, a enfermeira também teve sua presença registrada 
participando ativamente no atendimento aos feridos, na I e II Guerras Mundiais 
e nas Guerras do Vietnã e da Coréia. Experiências em guerras, nesse tipo de 
atendimento, no local da ocorrência, conjugadas a um transporte rápido, 
diminuíram a morbimortalidade por causas externas; mas isto só ficaria 
evidenciado décadas depois(17). 
Esta incorporação da enfermeira no atendimento pré-hospitalar, mesmo não 
sendo nova, só veio se tornar evidente na década de 90, quando a 
estruturação do atendimento às urgências e emergências ganhou um novo 
foco. 
No Brasil, a atuação do enfermeiro e a sua capacitação está em atraso, se 
comparados com outros países como, por exemplo, Estados Unidos e França, 
que possuem um sistema de APH mais desenvolvido, nos quais os enfermeiros 
têm sua função consolidada e reconhecida em seus sistemas de atendimento. 
Mas, mesmo nos países desenvolvidos, a função do enfermeiro é 
constantemente repensada. 
A questão da atuação de profissionais não-médicos com treinamento 
específico e a atuação de médicos e enfermeiros, que possuem maior grau de 
conhecimento e especificidade para prestar atendimento às vítimas, é discutida 
e questionada em todos os países que possuem sistemas de atendimento pré-
hospitalar. A problemática se iguala: se por um lado fica a dúvida - até que 
ponto profissionais não-médicos pode ser treinados e se tornarem capazes de 
realizarem procedimentos médicos, por delegação do mesmo, por outro lado, 
fica a restrição de sustentar um sistema exclusivamente por médicos e 
enfermeiras, cuja remuneração é mais alta do que os para-profissionais(9). 
Na França, os governantes partiram do seguinte princípio: nenhum treinamento 
pode substituir o currículo das escolas médicas e de enfermagem que ensinam, 
durante anos, a reconhecer as doenças, a indicar e a realizar o seu tratamento. 
Contudo, eles enfrentam alguns problemas, como a falta de recursos para 
manter o sistema, que tem custo muito elevado, e a falta de médicos para 
manter o sistema ativo(7,9,10). 
Já para os norte-americanos, que se baseiam em pesquisas quantitativas, o 
paramédico bem treinado é capaz de oferecer os mesmos cuidados de 
emergência que um médico, desde que as condutas médicas de emergência 
sejam sistematizadas. No entanto, o paramédico deve estar em contato com a 
central de comunicação recebendo instruções do médico responsável(7,9,10). 
Perante essas situações, o profissional de enfermagem pode se deparar com 
questionamentos e dilemas envolvendo sua atuação. O atendimento pré-
hospitalar sempre envolve aspectos éticos e legais, considerando-se que as 
vítimas de trauma são atendidas, muitas vezes, não só por profissionais de 
saúde, mas também por bombeiros, socorristas e outros em ambiente extra-
hospitalar e nem sempre com recursos e materiais adequados. 
No âmbito da Enfermagem, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 
instituiu Resoluções a fim de amparar legalmente a atuação da enfermagem no 
atendimento pré-hospitalar. A Resolução n. 225 de 28 de fevereiro de 2000, 
dispôe sobre o cumprimento de prescrição medicamentosa/terapêutica à 
distância, tornando legal, para os profissionais da enfermagem, a prática de 
cumprir prescrições médicas via rádio ou telefone em casos de urgência(19). Um 
ano após, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo editou a 
Resolução DIR/01/2001, que discorre sobre a regulação da assistência de 
enfermagem no atendimento pré-hospitalar e demais situações relacionadas 
com o Suporte Básico e Suporte Avançado à Vida(20). 
O COFEN, por sua vez, incluiu o atendimento pré-hospitalar no rol de 
especialidades de enfermagem, mas não deu as diretrizes para a formação 
desses profissionais, que foram deixadas implícitas pelo MS, na Resolução 
260/2001, na descrição de atribuições desse profissional ao atuar no 
atendimento pré-hospitalar(7). 
A Resolução 300/2005 do COFEN dispôs sobre a atuação do profissional de 
enfermagem no APH e Inter-Hospitalar, onde prevê como privativo do 
enfermeiro o atendimento de enfermagem em suporte avançado de vida, 
conferindo ainda a possibilidade de técnicose auxiliares de enfermagem 
atuarem de acordo com a complexidade da ação, após avaliação do 
enfermeiro(18). No entanto, essa Resolução foi revogada pela 375/2011 que 
dispõe que a assistência de enfermagem em qualquer tipo de unidade móvel 
(terrestre, aérea ou marítima) destinada ao atendimento pré-hospitalar e inter-
hospitalar em situações de risco conhecido ou desconhecido, somente deve 
ser desenvolvida na presença do enfermeiro(21). Ainda como inciso nesse artigo 
refere que a assistência, em qualquer serviço pré-hospitalar, prestada por 
auxiliares ou técnicos de enfermagem somente poderá ser realizada sob 
supervisão direta do enfermeiro. A Resolução 379/2011 dispôs uma data para 
que a Resolução 375 entrasse em vigor: 01 de janeiro de 2012. 
Diante então dessa situação, uma Comissão Interinstitucional foi formada entre 
o Ministério da Saúde e COFEN com o objetivo de analisar e formatar uma 
proposta de implementação das Resoluções COFEN 375/2011 e COFEN 
379/2011 para toda a atenção pré-hospitalar móvel na rede pública e privada. 
Esta comissão propôs ao COFEN a aplicação progressiva destas resoluções 
com o intuito de tornar possível a efetiva presença do enfermeiro em 100% das 
ambulâncias de Suporte Básico de Vida da rede SAMU em todo país até 
dezembro de 2015. 
Ainda vale salientar, que no tocante a atuação do enfermeiro no Brasil, no 
atendimento pré-hospitalar, pesa sobre a sua realidade uma falta de 
regulamentação sobre rotinas e protocolos a serem desenvolvidos sem a 
presença do médico no atendimento. Uma possível explicação para tal situação 
pode ser a formação desse profissional, segundo as Diretrizes Curriculares do 
Ministério da Educação, que não preconizou o preparo e capacitação para 
atendimento pré-hospitalar. As propostas de protocolos existentes derivam 
quase sempre de modelos estrangeiros, como citado anteriormente, em geral 
americanos, onde o enfermeiro dispõe de autonomia distinta da autonomia do 
enfermeiro no Brasil. 
O Atendimento Pré-Hospitalar no Trauma 
A precocidade na abordagem e no tratamento do trauma pode maximizar a 
sobrevivência das vítimas e, com essa finalidade, dentre todas as tecnologias 
incorporadas ao atendimento, talvez tenha sido o APH aquela que mais se 
desenvolveu e se disseminou por todo o mundo. Tempo é um fator crítico no 
atendimento a vítima politraumatizada, há muita controvérsia sobre removê-la 
rapidamente da cena do trauma para o hospital ou promover os cuidados na 
cena do acidente e, com isso, atrasar a chegada ao tratamento definitivo. 
Dentro do atendimento pré-hospitalar, os 60 minutos iniciais após o evento 
traumático são cruciais para o sucesso das intervenções e, consequentemente, 
chances de sobrevivência da vítima, devendo ser consumidas entre o APH e o 
atendimento definitivo no hospital. Por isso esses primeiros minutos são 
denominados de “Hora de Ouro”(6,12). 
Durante o tempo consumido na fase pré-hospitalar, espera-se que as medidas 
de reanimação e estabilização possam impedir o agravamento do quadro 
clínico ou manter a vítima em condições de chegar com vida até o tratamento 
definitivo ser possível. Os tempos consumidos e considerados críticos, na fase 
de atendimento pré-hospitalar são(9,14): 
- Tempo resposta: tempo consumido entre o acionamento da viatura para o 
atendimento até a chegada no local do acidente. Variação internacional de 6,4 
a 8,0 minutos. 
- Tempo de cena: tempo consumido desde à chegada ao local e realização do 
atendimento até a saída da cena para o hospital de destino. Variação 
internacional de 10,3 a 23 minutos. 
- Tempo de desencarceramento: tempo consumido para a realização de 
procedimentos de retirada das ferragens. 
- Tempo de transporte: tempo consumido desde a saída da cena até a 
chegada ao hospital de destino: Variação internacional entre 7,7 e 16 minutos. 
- Tempo total: tempo consumido desde o acionamento até a chegada no 
hospital de destino. Valores internacionais entre 36 e 35 minutos. 
Vários autores defendem que o tempo total de APH deve consumir no máximo 
30 minutos, reservando os 30 minutos restantes da “hora de ouro” ao 
atendimento definitivo dentro do hospital. O tempo de cena é o aspecto mais 
avaliado e discutido na fase de APH, pesquisas demonstram que o suporte 
avançado de vida consome mais tempo de cena que o suporte básico devido o 
maior número de procedimentos na busca pela estabilização da vítima, o que 
por essa razão pode haver atraso ao cuidado definitivo. 
Em relação ao tempo de desencarceramento e de transporte, poucos autores 
descrevem esses períodos. No desencarceramento a dificuldade da 
abordagem é devido a ausência de um parâmetro que determine o conceito de 
vítima encarcerada e os padrões mínimos de atendimento. Sugere-se que um 
tempo superior a 20 minutos seja um importante fator de gravidade da vítima. 
No transporte, vários fatores devem ser considerados: ambiente (rural ou 
urbano), condições de trânsito, velocidade desenvolvida pela viatura e, 
sobretudo, a distância até o local do acidente e o centro hospitalar mais 
adequado para o atendimento à vítima. 
Quando a trauma acontece, o sistema pré-hospitalar existente na cidade deve 
ser acionado por indivíduos que presenciaram a ocorrência. Com a chegada da 
equipe de APH, devem ser tomadas as medidas de segurança na cena e de 
avaliação da necessidade de recursos adicionais. Somente quando esses 
princípios estiverem garantidos, se inicia o atendimento pré-hospitalar 
propriamente dito. Os objetivos principais no atendimento pré-hospitalar a 
vítima de trauma são(6,12): 
1) Avaliar rapidamente as condições do paciente; 
2) Intervir e estabilizar rapidamente as condições que imponham risco de 
morte como a hipóxia, hemorragias e hipotermia; 
3) Decidir pelo transporte rápido e seguro para o hospital mais adequado e 
mais próximo. 
 
A boa avaliação é a base para que o atendimento pré-hospitalar seja de 
qualidade e é extremamente dependente do julgamento clínico, dos 
conhecimentos técnicos e das habilidades do profissional no domínio da 
técnica. 
Porém, antes dessa avaliação inicial da vítima, a avaliação da cena deve ser a 
primeira prioridade da equipe pré-hospitalar, principalmente em eventos de 
natureza traumática. Ela antecede o início da abordagem e das intervenções às 
vítimas. 
Avaliar uma cena é muito mais que olhar a área ao redor de uma ou mais 
vítima, é observar a cena com atenção, usando os sentidos, a experiência 
anterior, a vivência, o julgamento, o conhecimento técnico e científico. Uma das 
ferramentas mais úteis na avaliação da cena é a comunicação entre os 
profissionais, duas ou três pessoas usando simultaneamente sua capacidade 
de observação e percepção e que troquem informações podendo assim 
produzir informações consistentes acerca da situação. A preocupação principal 
de todos deve ser a segurança da equipe, os profissionais devem executar 
apenas aquilo para o qual foram preparados e estão aptos a fazer em 
segurança. Atos heróicos não devem ser incentivados. A abordagem da vítima 
só deve ser iniciada depois da garantia de que a cena está segura. 
Muitos são os fatores de risco aos quais os profissionais de APH são 
submetidos: riscos biológicos (sangue, secreções), riscos ambientais e 
climáticos (chuvas, inundações, deslizamentos, fogo, fumaça, baixa iluminação, 
etc.) e riscos diversos (instabilidade de estruturas, fios elétricos, explosivos, 
óleo na pista, presença de agressor, etc.). Identificar esses fatores e 
desencadear ações de controle é fundamental para que a equipe possa iniciar 
o atendimento pré-hospitalar(6). 
A avaliação inicial, ou primária, consiste na identificação e tratamento imediatos 
das condições ameaçadoras da vida, estabelecendo-se prioridades de acordo 
com as lesões, com os sinais vitais da vítima e o mecanismo de lesão. É 
composta por uma sequêncialógica de etapas que identifica as condições que 
implicam risco de morte, sendo o método de avaliação mnemônico do ABCDE 
a forma universalmente utilizada pelos protocolos que envolvem atendimento 
pré-hospitalar ao trauma e pelos protocolos do Advanced Trauma Life Support 
(ATLS) e do Prehospital Trauma Life Support (PHTLS). Esse método resume 
de forma simples, ordenada e em sequencia de prioridades, a progressão 
lógica de avaliação e tratamento. 
Essa avaliação já deve começar no momento da aproximação da equipe. Se a 
cena do evento está segura e os profissionais estão portando equipamentos de 
proteção individual, a observação geral da vítima e da cena, além da análise da 
cinemática do trauma, podem produzir as primeiras informações sobre as 
condições da vítima. 
Cinemática do trauma é o processo de avaliação da cena do acidente, para 
determinar as lesões resultantes das forças e movimentos envolvidos. No 
momento em que a equipe de socorro chega à cena do acidente e observa os 
danos no veículo, a distância da frenagem, a posição das vítimas, se usavam 
cinto de segurança, suas lesões aparentes, etc., está analisando a cinemática 
do trauma. O conjunto dessas informações permite identificar lesões 
inaparentes e estimar a gravidade do estado da vítima. Saber onde procurar 
lesões é tão importante quanto saber o que fazer após encontrá-las(6). 
Se possível, antes de se apresentar e abordar a vítima com perguntas, o 
profissional deve buscar posicionar-se de tal forma a realizar essa abordagem 
de frente para a vítima, para não incentivá-la a se movimentar na direção da 
chegada do profissional e do som da sua voz(6,9). 
 
1) Por que no APH os 60 minutos iniciais após o evento traumático são 
denominados de “hora de ouro”? 
2) Qual o tempo preconizado como crucial para que o atendimento a vitima 
politraumatizada ocorra? 
a) 60 min 
b) 50 min 
c) 40 min 
d) 30 min 
 
3) Em relação a avaliação primária, assinale a alternativa correta: 
a) Consiste em primeiro lugar na identificação das vítimas de trauma 
que estão em boas condições físicas 
b) É realizada de imediato a chegada da equipe no local da ocorrência, 
sem levar em consideração a avaliação da cena 
c) A abordagem deve ser falando com a vítima, antes mesmo de se 
posicionar ao seu lado, para incentivá-la a se movimentar na direção 
do profissional 
d) É composta por uma sequência lógica de etapas que identifica as 
condições que implicam risco de morte, sendo o método mnemônico 
do ABCDE a forma universalmente utilizada pelos protocolos que 
envolvem APH. 
 
ETAPA A – VIAS AÉREAS COM CONTROLE CERVICAL 
Avaliação em primeiro lugar: permeabilidade de vias aéreas. As vias aéreas 
devem ser rapidamente verificadas para assegurar que estão abertas e limpas 
e que não existe perigo de obstrução. Atentar para possíveis sinais de fraturas 
faciais, mandibulares e de obstrução das vias aéreas por corpos estranhos: 
sangue, secreções, dentes, próteses, ossos, etc. Se há suspeita de lesão 
raquimedular, deve-se executar o controle manual da coluna cervical 
simultaneamente a abertura das vias aéreas. 
Na estabilização manual da coluna cervical na vítima consciente, o profissional 
utiliza as duas mãos para assegurar a cabeça e, com ajuda de uma leve tensão 
no sentido axial, executa o alinhamento em posição neutra. Essa técnica pode 
ser realizada em diversas abordagens (pela frente, pela lateral ou por trás da 
vítima) e deve ser mantida até que a imobilização do tronco e da cabeça seja 
finalizada. O alinhamento só deve ser evitado ou interrompido se houver 
resistência ou dor ao movimento, piora das condições ventilatórias ou 
ocorrência de espasmos musculares no pescoço e parestesias(6,8,9). 
Na vítima de trauma inconsciente, a principal causa de obstrução de vias 
aéreas é o relaxamento da base da língua, por perda do tônus muscular, 
podendo obstruir a hipofaringe. Dessa forma a manobra de elevação do queixo 
(chin lift) (figura 1) ou manobra de tração da mandíbula (jaw thrust) (figura 2) 
devem ser realizadas para promover a permeabilização das vias aéreas sem 
causar movimentação da coluna cervical, e ainda permitir a abertura da boca 
para a inspeção da cavidade oral(6,8,9). 
 
Figura 1. Manobra de chin lift Figura 2. Manobra de jaw trust 
Fonte: Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT). 
A instalação do colar cervical não é prioridade máxima no APH enquanto o 
controle manual da cabeça puder ser realizado de forma eficiente por um 
socorrista. No entanto esse dispositivo é importante para a imobilização pois 
limita os movimentos da coluna cervical e ajuda a sustentar o pescoço, 
protegendo a coluna da compressão. Para a instalação do colar cervical são 
necessários dois profissionais: um para realizar a manobra de controle manual 
da coluna ininterruptamente e o outro para a avaliação, medição e instalação 
do colar(6). 
Na vítima consciente, com boa ventilação e circulação e na vítima inconsciente 
sem comprometimento das vias aéreas, o colar cervical pode ser aplicado 
concomitantemente ao controle manual na etapa A. Na vítima que apresenta 
comprometimento nas etapas A, B e C, deve receber as intervenções de 
correção desses problemas antes do colar(6). O uso do colar não dispensa a 
estabilização manual da cabeça até que seja instalado um dispositivo de 
fixação, bastante conhecido no Brasil como estabilizadores ou imobilizadores 
laterais da cabeça. 
Quando a vítima apresenta ventilação espontânea após a abertura da via 
aérea, dispositivos podem ser usados para mantê-la aberta. Esses dispositivos 
também podem ser usados para auxiliar na manutenção da permeabilidade das 
vias aéreas durante a ventilação artificial. No paciente com nível de consciência 
rebaixado e sem reflexo de tosse ou náusea, pode ser utilizada uma cânula 
orofaríngea (figura 3), também conhecida como cânula de guedel. No adulto, 
ela deve ser introduzida com a concavidade voltada para cima (figura 5), 
devendo ser rodada em 180º apenas quando se aproximar da rede posterior da 
faringe. Na criança, a cânula de guedel é introduzida diretamente sobre a 
língua, com a concavidade para baixo, sem a rotação de 180º(6). 
Em vítimas com nível de consciência menos rebaixado e que não tolere a 
cânula orofaríngea, uma nasofaríngea pode ser usada (figura 6). Após 
lubrificação da cânula, essa deve ser inserida suavemente, podendo ser feita 
leve rotação do tubo para facilitar a passagem pelo ângulo entre a cavidade 
nasal e a nasofaringe (figura 7). Pode haver sangramento na sua passagem 
em até 30% dos casos, e seu uso é contra-indicado em suspeita de fratura de 
base de crânio(6,9). 
A cânula de guedel é de plástico semi-curvo e com lúmen, permitindo a 
passagem de ar e mantendo a língua afastada da parede posterior da faringe. 
A escolha do tamanho correto é feita pela medida da distância entre a 
comissura labial e o lóbulo inferior da orelha do mesmo lado (figura 4). Erros 
na indicação, medição e no posicionamento podem ativar o reflexo de tosse, 
causar obstrução completa das vias aéreas ou gerar laringoespasmos e 
vômitos(6,9). 
A cânula nasofaríngea é pouco utilizada, estando indicada principalmente nas 
lesões buco-maxilo-faciais e no trismo, mesmo em pacientes com algum grau 
de consciência, quando não há acesso pela boca. É feita de borracha macia e 
flexível com até 15 cm e a técnica de medição consiste na avaliação da 
distância entre a ponta do nariz e o ângulo da mandíbula(6,9). 
 
Figura 3. Cânulas orais Figura 4. Medição da cânula oral 
 
Figura 5. Introdução da cânula oral Figura 6.Cânulas nasais 
 
Figura 7. Introdução da cânula nasal 
Fonte das figuras: Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT). 
A via aérea definitiva através da intubação endotraqueal deve ser considerada 
para a vítima em apnéia ou que apresenta comprometimento iminente das vias 
aéreas como nos casos de traumatismo facial grave, traumatismo craniano, 
traumatismo raquimedular, escala de coma de glasgow ≤ 8 ou secreção 
abundante. É um procedimento médico, onde um tubo vai ser introduzido pela 
boca (intubação orotraqueal) ou pelo nariz (intubação nasotraqueal) até a 
traquéia e através do mesmo vai se dar prosseguimento a ventilação artificial 
do paciente por meio da conexão do tubo com o balão auto-inflável (ambú) ou 
com o respirador mecânico(6,9,13). 
Se a vítima é pouco colaborativa ou os métodos para obtenção de uma via 
aérea definitiva falharam, o uso de agentes farmacológicos devem ser 
considerados. Nesses casos, sob decisão médica, podem ser administrados 
benzodiazepínicos ou opióides endovenosos, de forma isolada ou combinada, 
apenas para relaxar a vítima. Esses medicamentos tem ação rápida, curta 
duração e são potencialmente reversíveis. Curares endovenosos é outra 
possibilidade, sendo a succinilcolina o medicamento mais utilizado entre os 
curares. A mesma provoca relaxamento muscular e paralisia de curta duração 
podendo culminar em apnéia após paralisia completa da musculatura e retirada 
dos reflexos de proteção, exigindo por isso muita atenção, cuidado e habilidade 
ao ser utilizada(6,9). 
Se a opção é o uso de medicamentos, é recomendável providenciar antídotos 
específicos, tais como naloxone e flumazenil, acesso venoso, monitorização 
cardíaca e oximetria. A grande limitação dos procedimentos de intubação 
utilizando medicamentos é a possibilidade de ocorrências de complicações 
como a hipotensão e a hipoventilação, que exige ventilação assistida até que a 
medicação seja eliminada(6,9). 
A confirmação da existência de ventilação, a exposição e inspeção do tórax e a 
administração de oxigênio, marcam didaticamente o início da etapa B na 
avaliação inicial ao politraumatizado. 
4) Na estabilização manual da coluna cervical na vítima consciente, o 
profissional utiliza as duas mãos para assegurar que a cabeça não 
movimente alinhando-a em posição neutra. Esse alinhamento só deve 
ser evitado ou interrompido quando: 
a) não houver resistência ao movimento 
b) o paciente melhorar das condições ventilatórias 
c) houver espasmos musculares no pescoço e parestesias 
d) não houver dor ao movimento 
 
5) A via aérea definitiva através da intubação endotraqueal deve ser 
considerada para a vítima de trauma em apneia ou que apresenta 
comprometimento iminente das vias aéreas como nos casos abaixo, 
exceto: 
a) Traumatismo facial grave 
b) Traumatismo craniano 
c) Traumatismo raquimedular 
d) Escala de coma de glasgow ≥ 8 
 
ETAPA B – RESPIRAÇÃO 
Vias aéreas pérvias somente não garantem ventilação e troca gasosa 
adequada. Boa ventilação envolve o funcionamento adequado dos pulmões, da 
parede torácica e do músculo diafragma. 
O tórax deve ser exposto para se realizar inspeção visual, percussão, palpação 
e ausculta. Olhe agitação, torpor, cianose, tiragem intercostal, uso da 
musculatura acessória. Escute ruídos aéreos anormais e respiração ruidosa 
(significa obstrução). Sinta movimento do ar durante o esforço respiratório. A 
hipóxia é a causa mais rápida de morte devido o não suprimento de sangue 
oxigenado. Portanto garanta via aérea protegida e desobstruída através da 
oferta adequada de O2. 
Para a vítima que recebeu via aérea definitiva, deve-se buscar a confirmação 
primária da localização do tubo endotraqueal (figura 8) através das seguintes 
medidas(6,9): 
- Visualização da passagem do tubo pelas cordas vocais; 
- Visualização da condensação do ar no tubo; 
- Ausculta dos 5 pontos seqüenciais padronizados após a insuflação do cuff 
(região epigástrica, base e ápice pulmonar à esquerda e à direita). Espera-se 
encontrar presença de murmúrio vesicular bilateral e ausência de sons aéreos 
no epigástrio; 
- Visualização de expansão torácica simétrica durante a ventilação. 
A oximetria é um indicador indireto do sucesso da intubação e também pode 
ser utilizado. O cuff não deve ser insuflado com pressão superior a 25 mmHg 
sob risco de lesão irreversível à traquéia, podendo a checagem dessa pressão 
ser realizada a caminho do hospital com dispositivos próprios ou uma simples 
adaptação do manômetro de pressão arterial (figura 9)(9). 
Se o tubo está corretamente posicionado, ele deve ser fixado evitando 
excessiva pressão sobre os lábios. Se houver posicionamento incorreto, o tubo 
deve ser retirado e recolocado em nova tentativa, não esquecendo de 
desinsuflar o cuff antes de puxar o tubo e de reinsuflá-lo após seu 
posicionamento correto. 
 
 Figura 8. Tubo endotraqueal Figura 9. Verificação da pressão do cuff 
fonte: www.viaaereadificil.com.br 
Na impossibilidade de intubação endotraqueal, outros métodos alternativos e 
temporários podem ser considerados como o combitube (cânula duplo lúmen), 
a máscara laríngea, a intubação retrógrada e a ventilação percutânea 
transtraqueal(6,8,9,13). 
Conhecido também por obturador esofágico, combitubo esofágico ou 
combitube (figura 12), esse dispositivo para ventilação combina as funções de 
obturador esofágico e tubo endotraqueal. É um dispositivo composto por dois 
lumens independentes: a ventilação pela via de número 1 (azul) leva ar a um 
lúmen ocluído distalmente (obturador esofágico) e com orifícios laterais , 
enquanto a ventilação pela via número 2 (branca) leva ar a um lúmen aberto 
distalmente(6,8,9). 
Encontrado em dois tamanhos, um para vítimas de 1,40 a 1,80 m (37 F) e outro 
para vítimas acima de 1,80 (41 F), esse dispositivo é introduzido às cegas (sem 
o auxílio do laringoscópio e com isso sem visualização direta das cordas 
vocais) e permite ventilação ao paciente onde estiver posicionado, seja no 
esôfago (onde é posicionado 95% das vezes) seja na traqueia (como ocorre 
em 5% dos casos). Possui ainda dois balonetes: 1 proximal orofaríngeo e 1 
distal. Quando no esôfago, ventila-se o paciente pela via número 1 (azul): o ar 
sai pelos orifícios laterais dessa via e vai a traqueia. Se em posição traqueal, a 
ventilação pela via número 2 (branca) permitirá a passagem do ar diretamente 
as vias aéreas, como um tubo endotraqueal comum (figura 10)(8,9). 
É possível a utilização do combitube associado com ventilação mecânica, 
porém não deve permanecer na via aérea do paciente por mais de 8 h, 
devendo ser trocado por outro dispositivo (tubo endotraqueal) se 
necessário(8,9). 
A máscara laríngea (ML) é outro dispositivo invasivo de vias aéreas que pode 
ser inserido às cegas. Trata-se de um dispositivo com um anel de silicone 
inflável, conectado a um tubo de silicone, encontrado em diversos tamanhos 
(figura 11). Quando bem posicionada a ML se acomoda na hipofaringe criando 
uma vedação hermética onde sua face posterior (convexa) se sobrepõe à 
laringe permitindo a passagem do ar para o interior da laringe até a traquéia. 
Outro dispositivo muito parecido com a ML é a cânula perilaríngea, também 
chamada de cânula supraglótica(8,9). 
 
 Figura 10. Combitube Figura. 11 Máscara laríngea Figura 12. Combitube 
Fonte: www.medtech.com.br 
Na intubação retrógrada, uma agulha de grosso calibre é introduzida através da 
membrana cricotireóidea e através dela será inserida um fio-guia às cegas em 
direção a orofaringe. O tubo endotraqueal é então introduzido com a ajuda do 
fio-guia para dentro da orofaringe. Essa técnica é mais apropriada para 
situações eletivas e deve ser evitada em situaçõesde emergência(6,9). 
A ventilação percutânea transtraqueal é também chamada de traqueostomia 
por punção, cricotireoidostomia por punção ou ventilação a jato transtraqueal. 
Esse procedimento é realizado com um cateter de teflon de grosso calibre no 
qual deve ser instalado um conector em “Y” em que uma via será conectado o 
oxigênio e a outra é conectada ao cateter. O profissional deve acionar o jato de 
forma intermitente na relação de 1 segundo de entrada de ar para cada 4 
segundos de saída(6,9). 
Na cricotireoidostomia cirúrgica será realizada uma abertura cirúrgica da 
membrana cricotireoidea em sua linha média, com o objetivo de acessar 
diretamente a via aérea. Esse deve ser o último recurso na abordagem pré-
hospitalar por ser um recurso demorado e de risco(6,9). 
Diante de alguns traumas torácicos detectados no atendimento pré-hospitalar, 
outros procedimentos além de abertura de vias aéreas e oxigenoterapia, 
podem ser necessários: 
Nas fraturas de costelas ou tórax instável (duas ou mais costelas adjacentes 
são fraturadas em pelo menos dois lugares), o controle da dor através de 
administração de medicações vai ser de vital importância. Na presença de 
pneumotórax aberto, o curativo de três pontas deve ser prontamente 
providenciado (figura 13). Esse tipo de curativo consiste na abertura de um dos 
seus lados, sem fixar com esparadrapo evitando a entrada de ar na cavidade 
torácica durante a inspiração ao mesmo tempo que permite o escape de ar 
pelo lado aberto durante a expiração(6). 
 
Figura 13. Curativo de três pontas 
 Fonte: Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT). 
Na presença de pneumotórax fechado, a correção imediata dever ser efetivada 
com a punção torácica por agulha para a descompressão, ao término do 
procedimento o cateter é fechado e mantido sob fixação na pele para evitar seu 
deslocamento durante o transporte e para permitir nova descompressão se 
necessário. Na presença de hemotórax ou tamponamento cardíaco detectado 
as intervenções previstas são: oxigenoterapia, reposição volêmica e transporte 
rápido para o atendimento definitivo(6,9). 
A drenagem torácica e a pericardiocentese não devem ser incentivados na fase 
pré-hospitalar devido a possibilidade de infecção e as dificuldades técnicas fora 
de ambiente hospitalar e durante o transporte. Além disso, o maior tempo de 
cena e a possibilidade de pouca habilidade do profissional são outros fatores 
que contra-indicam esses procedimentos(9). 
6) Para a vítima que recebeu via aérea definitiva, deve-se buscar a 
confirmação primária da localização do tubo endotraqueal através das 
seguintes medidas, exceto: 
a) Visualização da passagem do tubo pelas cordas vocais; 
b) Visualização da condensação do ar no tubo; 
c) Ausculta dos 5 pontos seqüenciais padronizados após a insuflação 
do cuff (região epigástrica, base e ápice pulmonar à esquerda e à 
direita). Espera-se encontrar presença de murmúrio vesicular 
bilateral e ausência de sons aéreos no epigástrio; 
d) Visualização de expansão torácica assimétrica durante a ventilação. 
 
7) O cuff do tubo endotraqueal não deve ser insuflado com pressão 
superior a: 
a) 15 mmHg 
b) 20 mmHg 
c) 25 mmHg 
d) 30 mmHg 
 
8) Na impossibilidade de intubação endotraqueal, quais os outros métodos 
alternativos e temporários podem ser considerados como alternativas de 
ventilação artificial? 
 
ETAPA C – CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DE HEMORRAGIA 
O objetivo principal dessa etapa é estimar as condições de oxigenação dos 
tecidos (perfusão) através da verificação do pulso; tempo de enchimento 
capilar; coloração da pele, temperatura e umidade da pele; e da presença de 
grande hemorragia. Nessa fase, todos os procedimentos efetuados nas etapas 
A e B são mantidos. Diante do comprometimento circulatório, as medidas 
possíveis na fase pré-hospitalar são: 
-Suporte Básico de Vida: compressão direta da lesão sangrante e torniquete 
-Suporte Avançado de Vida: além das medidas de suporte básico, reposição de 
volume. 
Qualquer sangramento externo observado deve receber compressão direta. O 
torniquete só deve ser considerado se a hemorragia externa em uma 
extremidade for grave e não for controlada por pressão. Embora haja o risco de 
isquemia, o uso correto do torniquete pode preservar a vida. O dispositivo mais 
utilizado para esse tipo de procedimento é o chamado “cabresto espanhol”, 
onde uma bandagem larga é posicionada na porção proximal ao ferimento 
hemorrágico e é feito um nó e, sobre este nó, é posicionado um bastão, sobre 
o qual é feito outro nó. O bastão é torcido até produzir uma pressão que cesse 
completamente e sangramento e o fluxo arterial. Nesse momento o dispositivo 
é fixado, identificado com a hora de início e mantido descoberto para permitir a 
avaliação constante. O tempo máximo de permanência do torniquete não deve 
exceder 120 minutos, o que é suficiente para a chegada ao hospital de destino 
na maioria das vezes(9). 
A compressão indireta e a elevação do membro ferido na contensão de 
hemorragias não são mais incentivados no atendimento pré-hospitalar por não 
haver evidências suficientes para comprovar a eficácia desses recursos, assim 
como o uso da calça pneumática anti-choque e de agentes hemostáticos 
tópicos(6,9). 
Uma condição que contribui para o controle de hemorragia em extremidades é 
a imobilização do membro fraturado, desde que não atrase o transporte da 
vítima ao hospital. Se a vítima é grave, não se deve consumir tempo com 
imobilizações, posicionamento anatômico e o uso de prancha rígida são 
suficientes(6,9). 
A reposição volêmica é de vital importância no tratamento da hemorragia e na 
prevenção do choque. As vítimas de trauma grave e com estado de choque 
instalado devem receber dois acessos venosos calibrosos no antebraço ou na 
fossa antecubital com cateter de teflon curto nº 14 ou nº 16. A meta deve ser 
iniciar a reposição já a caminho do hospital, exceto nas vítimas encarceradas 
ou que aguardam transporte aeromédico. Acessos venosos centrais e 
dissecção de veia não boas opções no APH devido a possíveis dificuldades 
técnicas e do alto tempo consumido(8,9). 
Se o tempo de transporte for demorado, a punção intra-óssea (figura 15) deve 
ser considerada como opção para a vítima que não tem condições de acesso 
periférico, tanto para adultos como para crianças. A indicação para esse tipo de 
procedimento deve ser considerada nas seguintes condições: duas tentativas 
frustradas de acesso venoso e 90 segundos consumidos para tal tentativa sem 
sucesso. No Brasil, já é possível encontrar dispositivos semi-automáticos bem 
efetivos que facilitam a punção intra-óssea por enfermeiros e médicos(8,9). 
 
 
Figura 14. Agulha intra-óssea Figura 15. Punção intra-óssea 
 
Fonte: www.3bscientific.com.br 
 
O ringer lactato é a solução isotônica preferida no APH devido a sua 
composição mais próxima do plasma. O volume reposto deve corresponder 
aproximadamente a 3 partes para cada parte perdida, preferencialmente com 
soluções aquecidas para evitar a hipotermia. No entanto, o aquecimento de 
soluções é um aspecto delicado no APH, pois os aquecedores comerciais não 
se adaptam às viaturas e são muito caros. Outros métodos como o uso de 
lâmpadas e o banho-maria levam a certo empirismo no controle da temperatura 
e por isso, são duvidosos e arriscados. O aquecimento deve ser 
desconsiderado se não for possível o controle sobre a temperatura das 
soluções(9). 
 
A quantidade de volume a ser reposto tem sido bastante discutido pois a 
elevação da pressão arterial com a expansão de volume pode culminar em 
risco de aceleração hidráulica da hemorragia e deslocamento mecânico de 
coágulos sanguíneos gerando dessa forma novo sangramento atravésde uma 
lesão que foi corretamente tratada o que pode agravar o estado de choque. Até 
o tratamento cirúrgico ser possível, guidelines internacionais incentivam, 
sobretudo nos traumas torácicos e abdominais, que os fluídos devam ser 
administrados ate a pressão arterial sistólica alcançar 90 mmHg a 100 mmHg 
ou até o aparecimento de pulso radial. Para os traumatismos cranianos onde a 
hipotensão pode levar a uma diminuição da perfusão cerebral, a manutenção 
de uma pressão arterial sistólica superior a 100 mmHg é a opção(9). 
 
A elevação dos membros inferiores na vítima de choque não deve ser 
incentivada por não haver comprovação que esse procedimento leve ao 
aumento do retorno venoso ao coração e melhora na perfusão, além disso 
essa posição pode piorar a ventilação e a pressão intracraniana. Segundo os 
novos guidelines internacionais, durante o transporte o paciente em choque 
deve ser mantido em posição dorsal horizontal e sob aquecimento externo com 
a ajuda de cobertores laminados(6,9). 
 
9) O objetivo principal da etapa C é estimar as condições de oxigenação 
dos tecidos (perfusão) através: 
a) da verificação do pulso e do tempo de enchimento capilar; 
b) da coloração da pele e da temperatura 
c) da umidade da pele e da presença de grande hemorragia 
d) todas as alternativas acima estão corretas 
 
10) Até o tratamento cirúrgico ser possível, guidelines internacionais 
incentivam, sobretudo nos traumas torácicos e abdominais, que os 
fluídos devam ser ser administrados ate a pressão arterial sistólica 
alcançar: 
a) 90 a 100 mmHg 
b) 80 a 90 mmHg 
c) 100 a 110 mmHg 
d) 110 a 120 mmHg 
 
ETAPA D – AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA 
 
Tendo avaliado e corrigido, na medida do possível, os fatores envolvidos no 
transporte do oxigênio aos pulmões e na sua circulação pelo corpo, a próxima 
etapa do exame primário é a medida da função cerebral, que é uma medida 
indireta da oxigenação cerebral. O exame neurológico deve ser rápido e 
objetivo para que as medidas de avaliação complementar ou de tratamento 
sejam tomadas com a rapidez necessária que a situação muitas vezes exige. 
Esse exame inclui: avaliação do nível de consciência, padrão de resposta 
motora e avaliação das pupilas. 
 
A Escala de Coma de Glasgow (ECGla) (figura 16) facilita quantificar o nível de 
consciência momento a momento, possibilitando uma análise objetiva da 
evolução do paciente e detecção precoce de qualquer deterioração 
neurológica. Um nível de consciência diminuído deve alertar para quatro 
possibilidades: oxigenação cerebral diminuída (por hipóxia ou hipoperfusão), 
lesão do SNC, intoxicação por droga ou álcool, distúrbio metabólico (diabetes, 
convulsão, parada cardíaca). A pontuação máximo na ECG é 15, indicando um 
paciente sem dano neurológico, e a menor é 3, um sinal de péssimo 
prognóstico(6). 
 
 
Figura 16. Escala de Coma de Glasgow 
Fonte: http://prinlove.blogspot.com.br 
 
Uma pontuação menor que 8 indica uma lesão grave; de 9 a 12 lesão 
moderada e de 12 a 15 lesão mínima. Uma pontuação igual ou menor que 8 é 
indicação para intubação do paciente. 
 
Durante muito tempo foi usado o acrônimo AVDI, que significa A – alerta, V – 
responde a estímulo verbal, D – responde a estímulo de dor, I – inconsciente. 
Essa abordagem embora muito simples, não informa como o paciente 
responde aos estímulos verbais ou dolorosos. Por ser pouco precisa, essa 
avaliação rápida neurológica, deve ser abandonada(6). Embora a ECGla seja 
mais difícil de ser memorizada do que o AVDI, a prática acaba tornando essa 
avaliação útil, um hábito. 
Na avaliação das alterações motoras deve-se inicialmente observar a 
movimentação espontânea do paciente, se existem assimetrias ou déficits 
completos. Nas vítimas que obedecem a comandos, pode-se testar o grau de 
força muscular nos quatro membros. 
Na avaliação das pupilas deve-se observar o diâmetro, a simetria e o reflexo ao 
estímulo luminoso. A alteração pupilar mais importante encontradas nas 
vítimas de trauma é a anisocoria, que é a diferença de diâmetro entre as 
pupilas. Uma pupila midriática pode ser um sinal de compressão do nervo 
oculomotor por herniação do uncus do lobo temporal sobre o mesencéfalo. 
11) Ao avaliar o paciente utilizando a ECG foram obtidos os valores 2/4/3. 
Estes valores demonstram que o paciente: 
a) abre os olhos espontaneamente, emite palavras incompreensíveis e localiza 
dor 
b) abre os olhos à dor, emite respostas verbais confusas e flexiona 
anormalmente os membros 
c) não abre os olhos, emite palavras inapropriadas e faz extensão anormal dos 
membros 
d) abre os olhos a voz, emite resposta verbal confusa e não obedece 
comandos 
 
 
ETAPA E – EXPOSIÇÃO 
Nessa etapa o corpo da vítima é exposto para se pesquisar lesões não 
aparentes. É uma etapa onde predominantemente o exame físico e entrevista 
detalhada serão realizados, sendo uma das preocupações nessa fase o 
controle da hipotermia. Durante a exposição medidas simples como retirada de 
roupas molhadas e o uso de cobertores aquecidos e/ou laminados (auxiliam na 
retenção do calor), associados a oxigenoterapia aquecida e/ou fluidos 
aquecidos ajudam a proteger a vítima da hipotermia. 
12) Paciente do sexo masculino, 30 anos, vítima de acidente automobilístico, 
encontra-se em via pública, apresentando desorientação, dispnéia, cianose, 
PA= 60x40 mmHg e ferida aberta no hemitórax E com sangramento ativo. O 
primeiro procedimento para este paciente é: 
a) iniciar reposição com solução cristalóide 
b) iniciar reposição com sangue total 
c) ocluir a ferida no tórax 
d) avaliar as vias aéreas 
 
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E O 
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR 
A sistematização da assistência de enfermagem poderia ser considerada a 
conquista profissional mais importante para a Enfermagem nas últimas 
décadas. Esta prática permitiu que o Enfermeiro atuasse com embasamento 
científico próprio de sua profissão, e atendeu o seu fundamento primordial que 
a prática do cuidar. 
O cuidar tem sua definição baseada no dar atenção ao outro, em preocupar-se 
e observar. E à medida que o Enfermeiro realiza sua assistência utiliza-se 
desse conceito constantemente. Independente do nível de atuação na saúde 
seja primário, secundário ou terciário, o foco permanece o mesmo, a saúde do 
outro. No atendimento pré-hospitalar essa necessidade torna-se mais evidente, 
pois existe um evidente risco da morte da vítima. Exigindo assim, habilidades 
exímias dos profissionais que prestam essa assistência. 
O cenário vivenciado pelas equipes de APH são os mais adversos que um 
profissional de saúde pode desenvolver a sua profissão, não tendo as suas 
mãos os mesmos recursos que um hospital possa ter. Este terá que realizar 
uma assistência de alta qualidade, ser rápido, organizado, seguro, calmo e 
tecnicamente qualificado para salvar a vida da vítima em meio ao desafio das 
fronteiras extra-hospitalares. Para estes profissionais a ferramenta mais 
importante é a sua agilidade de seu raciocínio clínico. Enfatizando essa 
perspectiva Fernandes Junior descreve que “as intervenções de enfermagem 
nestas situações é decisiva no prognóstico e sobrevida do indivíduo, infere-se 
que o emprego das fases do processo de enfermagem e a sistematização das 
ações contribuiriam para a melhora da qualidade do atendimento prestado, 
tanto quanto para o aumento de chances de sobrevida e redução significativa 
de sequelas” (22). 
Desde a época de Florence que a Enfermagem busca uma linguagem e 
padronização profissional que atenda ao seu perfil. Com a Resolução 272\2002 
do COFEN determina-se que a SAE é privativa do enfermeiro, sendo 
obrigatória em qualquer âmbito da assistência à saúde (incluindo-se o 
atendimento pré-hospitalar) e que esta deverá ser registrada no prontuário do 
paciente(5). 
Na práticaexiste um abismo entre a determinação da Resolução do COFEN 
sobre a SAE e a realidade em sua aplicação, o Brasil apresenta diversas 
realidades, influenciada pelo desenvolvimento da Enfermagem em cada região. 
Porém a literatura descreve inúmeros motivos para sua não concretização, 
sendo múltiplas as razões impeditivas para a “implementação da metodologia 
da assistência de enfermagem, evidenciando o despreparo do grupo, a falta de 
interesse, tempo e vontade das gerentes dos serviços e da instituição, a 
complexidade do processo de enfermagem, falta de conscientização, a 
acomodação, a desmotivação, além de outros motivos com menor relevância, 
como: número de pessoal, instabilidade e inconsciência de paciente, 
inadequação da estrutura física da unidade, estresse” (1). 
 
A sistematização da assistência de enfermagem poderá acontecer em qualquer 
contexto, mas para isso é necessário conhecer a dinâmica e organização do 
serviço, além de escolher uma Teoria de Enfermagem que se adeque a cada 
realidade(5). 
O que acontece em algumas situações é a aplicação de um mesmo processo 
em várias realidades. É impossível um processo ambulatorial de consulta de 
enfermagem adequar-se a agilidade da assistência em APH, e vice-versa. 
Vemos então que é importante a composição de uma Sistematização 
particularizada a um grupo que tenha características semelhantes, 
impulsionando o enfermeiro a buscar compreender melhor o público que 
assiste. Caso o enfermeiro não busque esse caminho, será muito provável que 
a SAE torne a assistência de enfermagem um fardo a ser carregado, com 
grande possibilidade de sensação de fracasso. 
O leitor deve estar se perguntando, como seria implantar a SAE numa 
assistência tão decisiva como a desenvolvida pelo serviço de atendimento 
móvel de urgência? A primeira impressão para a maioria dos estudantes e 
profissionais de enfermagem é que é impossível. Porém, vê-se com certa 
frequência que a implantação da SAE está relacionada ao entendimento de seu 
objetivo. O processo de enfermagem tem como meta estruturar a tomada de 
decisões, tornando a prática menos intuitiva; diminuir a repetição de 
procedimentos desnecessários; aproximar o enfermeiro do seu cliente; atender 
as necessidades mais importantes em curto intervalo de tempo; proteger 
legalmente todas as ações da equipe; atuar com bases científicas para o 
crescimento profissional (5). 
Imagine-se num atendimento às 9 horas da manhã a uma vítima de acidente 
automobilístico numa avenida de grande fluxo. Possivelmente, um profissional 
do SAMU capacitado teria a seguinte reflexão-atuação ao chegar ao local: 
 
 
O objetivo principal desse enfermeiro é salvar a vida dessa vítima. Todavia, os 
objetivos de cada conduta tomada acima foi: 
 
 
Fica claro que o raciocínio é sistematizado mesmo sendo uma elaboração em 
pensamento, medida esta fundamental para a decisão adequada à 
necessidade de cada situação. Observa-se que além de prestar uma 
assistência de alta complexidade, este profissional deve preocupar-se com o 
ambiente, característica esta também contemplada pelo processo de 
enfermagem que integra indivíduo e comunidade. Ao comparar esse raciocínio 
ao processo de Enfermagem mais adotado no Brasil, a partir da Teoria de 
Wanda Horta, vê-se que o profissional reconhece em seu intelecto uma 
sistematização organizada e necessária, faltando uma implantação mais sólida 
em questões de registro. Outro desafio parte da motivação para executar tal 
prática(3,4) 
 
A literatura chama muito a atenção do enfermeiro em sua liderança, sendo esta 
uma característica fundamental para este profissional, porém a atualidade e a 
evolução da enfermagem exige muito mais do ser Enfermeiro. O advento da 
NANDA implicou em uma dedicação direcionada para a avaliação clínica do 
paciente, exigindo assim a utilização da semiologia e semiotécnica nas atitudes 
a serem tomadas pelo enfermeiro. No APH essa exigência é ainda mais 
preponderante, pois é preciso uma avaliação e raciocínio rápidos para atender 
as necessidades de urgência desse cliente. 
 
Não imaginamos o Enfermeiro do APH fazendo um exame físico minucioso, 
nem tão pouco escrevendo um diagnóstico de enfermagem antes de executar 
suas intervenções, mas acreditamos que devemos construir um processo que 
tenha as mesmas características de tempo-resposta que o APH. Para isso 
precisamos investir mais em pesquisas. 
 
O SAMU Recife implementou a SAE em sua dinâmica assistencial conforme a 
Resolução do COFEN, porém como todas as instituições tem dificuldades em 
concretizar sua utilização. O instrumento (anexo A) utilizado nesta instituição 
poderá guiar a prática de profissionais de enfermagem nessa área. 
 
A reflexão sobre o entrelace entre SAE e APH é sempre oportuno, não 
cabendo aqui a citação de diversos diagnósticos de enfermagem relacionados 
aos principais tipos de ocorrências no Brasil, sabe-se que os traumas são 
considerados uma epidemia no mundo, onde sua fisiopatologia já é bem 
definida na literatura. À Enfermagem segue o desafio de progredir sua ciência e 
buscar meios de tornar forte entre entrelace, reflexão esta finalizada por Cyrillo: 
 
“A enfermagem, como uma profissão fundamentada em bases científicas 
está em evolução ao longo de sua história, percorrendo trajetória marcadas por 
diretrizes de uma sociedade cada vez mais exigente do ponto de vista 
profissional. Atualmente, os profissionais dessa categoria devem considerar-se 
privilegiados por poder assistir o ponto de inflexão, em todos os sentidos, onde 
estarão sustentadas as bases da enfermagem do futuro. Para tanto, não 
podemos nos limitar a desempenhar o papel de meros espectadores, e sim, 
temos a responsabilidade e obrigação de sermos protagonista direto dessa 
mudança”(2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERENCIAS 
 
1. Freitas MC, Queiroz, TA, Sousa, JAV. O Processo de Enfermagem sob a 
ótica de enfermeiras de uma maternidade. Rev Bras Enferm 2007; mar-
abr; 60(2):207-12. 
 
2. Cyrillo RMZ. Diagnósticos de enfermagem em vítimas de trauma no 
Atendimento Avançado Pré-hospitalar Móvel. [dissertação] Ribeirão 
Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2005. 
 
3. Foschiera F, Viera CS. O diagnóstico de enfermagem no contexto das 
ações de enfermagem: percepção dos enfermeiros docentes e 
assistenciais. Rev Eletr de Enferm [serial on-line] 2004; 6(2):189-198. 
Disponível em http://www.fen.ufg.br. (20 abr, 2012). 
 
4. Villegas CAS, Kramatschek RLN, Tavares RLG, Brasileiro ME. 
Politraumatismo com acidentados no trânsito e o papel do enfermeiro 
em hospitais de Urgência/Emergência. Revista Eletrônica de 
Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial 
on-line] 2010; jan-jul; 1(1):1-15. Disponível em: 
http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>. (02 abr, 2012). 
 
 
5. Tanure MC, Gonçalves AMP. SAE - Sistematização da Assistência de 
Enfermagem: Guia Prático. Rio de Janeito: Guanabara Koogan; 2009. 
 
6. Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical 
Technicians (NAEMT) em cooperação com o Comitê de Trauma do 
Colégio Americano de Cirurgiões. Atendimento Pré-Hospitalar ao 
Traumatizado: básico e avançado. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. 
7. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n.2048 de 05 de dezembro de 2002. 
Dispõe sobre o regulamento técnico dos sistemas estaduais de urgência 
e emergência. 
8. Timerman S, Gonzales MM, Quilici AP. Guia Prático do ACLS. São 
Paulo: Manole; 2008. 
9. Souza RMC, Calil AM, Paranhos WY, Malvestio MA. Atuação no trauma: 
uma abordagem para a enfermagem. São Paulo: Atheneu; 2009. 
10. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção a Saúde. 
Departamento de Atenção Especializada. Regulação Médica das 
Urgências. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2006. 
11. Skandalakis PN, Lainas P, Zoras O, Skandalakis JE,

Outros materiais