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A FUNÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (Arts. 81 a 85 CPC). O Ministério Público, órgão de origem Francesa, surgiu com a instituição da Justiça Publica que tem como um dos princípios basilares a imparcialidade da jurisdição. Sendo imparcial a função estatal de dirimir os conflitos, houve necessidade de se criar um órgão que velasse pela aplicação da lei, mormente no campo penal, onde o interesse público sobrepõe ao do particular. De mero acusador criminal e defensor do rei e do Estado, evolui o Ministério Público para defensor de interesses sociais. Modernamente não representa o Estado, nem as partes. Atua em defesa da sociedade para: “instituição permanente, essencial á função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF/88, art. 127). No Processo Civil, especificamente, é o órgão incumbido de tutelar o interesse público, que compreende os interesses sociais e individuais indisponíveis, e a ordem jurídica, na relação processual e nos procedimentos de jurisdição voluntária. FUNÇÕES E FORMAS DE ATUAÇÃO Vicente Greco Filho, com vista a se definir a verdadeira posição do Ministério Público no processo civil, argumenta com costumeira exatidão: "Com efeito, todo aquele que está presente no contraditório perante o juiz é parte. Portanto, dizer que o Ministério Público ora é parte, ora é fiscal da lei, não define uma verdadeira distinção de atividades, porque seja como autor ou como réu, seja como interveniente equidistante a autor e réu, o Ministério Público, desde que participante do contraditório, também é parte." (in "Direito Processual Civil Brasileiro, volume 1, 13ª edição, 1998, Saraiva, São Paulo, pág. 156). No exercício das múltiplas tarefas que lhe confere a ordem jurídica, o Ministério Público ora atua como parte (art.81 CPC) se da quando exerce o direito de ação nos casos previstos em lei, ora atua como fiscal da lei (custos legis) nas hipóteses elencadas na lei (art.82CPC). Como parte, o Ministério Público, quase sempre, tem legitimidade, apena ativa, isto é, só pode propor ações, visto que nunca pode ser demandado como sujeito passivo ou réu. Pode, no entanto, eventualmente assumir a defesa de terceiros, como na interdição e na curatela especial de revéis citados por edital ou com hora certa. Inicialmente há de que se distinguir parte material de parte processual. Parte processual é também a parte do direito material controvertido. Ocorre, todavia, de a lei, em casos extraordinários, autorizar certas pessoas e órgãos, inclusive o Ministério Público, a pleitear em nome próprio direto alheio (art.6ºCPC). Na primeira hipótese, temos a parte material, que também pode figurar como parte no processo, na segunda a ideia de parte num sentido meramente processual. Assim, quando o Ministério Público age na qualidade de Estado (como órgão estatal, compõe o próprio Estado), por exemplo, exercendo a titularidade da ação penal, ou, no processo civil, propondo ação de anulação de casamento (art. 1.549 CC), ou fazendo requerimento por meio de procedimento de jurisdição voluntaria, sua atuação se dá como parte material. Quando pleiteia em nome próprio direto alheio, seja de pessoas ou da coletividade, como, por exemplo, na ação civil pública, na ação civil ex delicto, diz que é parte apenas no sentido processual (substituto processual). De qualquer forma, nas duas hipóteses sua atuação é como parte. Como fiscal da lei (custos legis), não tem compromisso nem como parte ativa nem como a passiva da relação processual, e só defende a prevalência da ordem jurídica e do bem comum. Qualquer que seja o interesse justificador da intervenção do Ministério Público incumbe ao órgão, à defesa da ordem jurídica. Pouco importa se figure num dos polos da relação processual um incapaz ou a Fazenda Pública, ou verse a demanda sobre uma das causas elencadas no inciso II do art.82 CPC. O primeiro aspecto a ser tutelado é a ordem jurídica, até porque, preservada esta, na demanda, preservado estará o regime democrático, os interesses sociais e individuais indisponíveis (CF/88, art.127). O Ministério Público nunca atua como mandatário ou procurador da parte. Intervém no processo na qualidade de parte ou fiscal da lei. Mesmo nas hipóteses em que a lei prevê a defesa de terceiros (art.1.182,§ 1º), a atuação é no sentido de tutelar a ordem jurídica ou interesses sociais e individuais indisponíveis. CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO Se não for intimado: Nulidade do processo, a menos que a decisão tenha sido favorável ao interesse justificador de atuação. Sentença favorável ao incapaz, á manutenção do casamento etc. Se houve intimação: (oportunidade para manifestar), não há nulidade, ainda que não tenha havido manifestado. Atuando como parte, não se pode falar em ausência do Ministério Público no processo, até porque, nessa qualidade, cabem-lhe os mesmos poderes e ônus que as partes (art.81 CPC). Atuando coo fiscal da lei, o Ministério Público: “terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos do processo” (art.83, I CPC). A despeito disso, ocorre de não intervir no processo. Nesse caso, a consequência vai depender de ter ou não havido prévia intimação, bem como do desfecho da demanda, não obstante os termos do art. 246 do CPC atual. PODERES, ÔNUS E RESPONSABILIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO Tem o Ministério Público os mesmos poderes e prerrogativas das partes. Atuando como parte ou fiscal da lei, a intimação do Ministério Público é pessoal, a vista dos autos é fora da secretaria, o prazo para contestar é computado em quádruplo e, em dobro, o prazo recursal (art.188, CPC). Quanto ao ônus, vale lembrar que o Ministério Público não esta sujeito ao adiantamento das despesas processuais (art.19,§2ºCPC), nem á condenação nestas (art.27CPC). O membro do Ministério Público não pode se recusar a intervir no processo, quando assim for ordenado pelo Juiz. Se a determinação não tem amparo legal, poderá utilizar- se de correição parcial, a fim de restabelecer a ordem do processo. O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude (art.82 CPC). O comportamento culposo, decorrente de imprudência, imperícia, negligencia, não é suficiente para caracterizara responsabilidade pessoal d representante do Ministério Público, a teor do dispositivo legal citado, embora não exima a Fazenda Pública da responsabilidade objetiva. IMPEDIMENTO, SUSPEIÇÃO E INCOMPETÊNCIA. Ao órgão do Ministério Público, quando como funcionar como fiscal da lei, aplicam- se todos os motivos de impedimento e suspeição previstos nos arts. 134 e 135. Quando for parte, aplicam-se os motivos de suspeição nos incisos I a IV do art. 135 e art.138, I, CPC. Não se pode falar em incompetência do Ministério Público, a competência, do ponto de vista jurídico, é a limitação da jurisdição. Como o Ministério Público, não tem jurisdição, mas sim atribuições, improprio seria falar em incompetência. O STJ vem firmando entendimento no sentido deque os Ministérios Públicos vinculam-se as respectivas Justiças. Isto é, no âmbito da Justiça Federal, atuará o MPF (Ministério Público Federal), na Justiça Estadual, o MPE (Ministério Público Estadual), e na Justiça do Trabalho, o MPT (Ministério Público do Trabalho). LEGITIMIDADE PARA RECORRER. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer, assim, no processo, em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei (art.499,§2°). Legitimidade não se confunde com interesse. O Ministério Público pode ter legitimidade, porque interveio no processo, mas não tem interesse para recorrer no caso concreto, em razão de o desfecho da demanda ter sido favorável ao interesse justificador de sua intervenção. Assim, se a sentença foi favorável ao incapaz, carece o Ministério Público de interesse para recorrer. O mesmo se dá quando, nas ações de divorcio e de anulação de casamento, a decisão preserva o vinculo matrimonial. O Ministério Público, exercendo a função de fiscal da lei, não tem legitimidade para recorrer adesivamente. Isso porque a interposição de recurso adesivo pressupõe mútua sucumbência, o que não ocorre quando o Ministério Público atua com0 custos legis. E também porque, no caso, o Ministério Público não é parte e, nos termos do art. 500, caput CPC atual somente quem figura nessa qualidade pode recorrer adesivamente. O Ministério Público tem legitimidade para propor ação rescisória de sentença de mérito transitada em julgado, se não foi ouvido no processo em que cabia sua intervenção. O prazo decadencial, para propor ação rescisória, tem como termo inicial o dia em que tomou ciência inequívoca da sentença rescindenda. ALGUMAS HIPÓTESES DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO E SÚMULAS Ação de investigação de paternidade e alimentos (ECA, art. 201, III e Lei n° 8.560/92, art.3°, § 4°). Insolvência Civil Jurisdição Voluntária (art.1.105). Somente nos casos explicitados nos capítulos (da separação consensual, por exemplo – art. 1.122, § 1º). Ação de Acidente de Trabalho Ação de Nulidade de Compra e Venda que fora objeto de registro imobiliário Atuando como custos legis, não tem legitimidade para arguir incompetência relativa, salvo se a fizer em benefício do incapaz. Sumula 643 do STF: O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento seja à ilegitimidade de reajuste de mensalidade escolar. Sumula 99 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte. Súmula 116 do STJ: A Fazenda Pública e o Ministério Público tem prazo em dobro para interpor agravo instrumental no Superior Tribunal de Justiça. Súmula 189 do STJ: É desnecessária a intervenção do Ministério Público nas execuções penais. Súmula 226 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente de trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado. Súmula 329 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público. Súmula 470 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado. REFERENCIAS Santos, Moacyr Amaral, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Volume I/ Moacyr Amaral Santos – 29. ed. atual. São Paulo: Saraiva 2012. Donizetti, Elpídio Curso didático de direito processual civil/ Elpídio Donizetti. - 18. ed. ver.,ampl.e atual. especialmente de acordo com leis n°12.424/2011, 12.431/2011 e Lei n° 12.810/2013 – São Paulo: Atlas, 2014. Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo desconhecimento – vol. I – Humberto Júnior – Rio de Janeiro: Forense, 2014. Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/ Anne Joyce Angher, organização. – 13 . ed. atual. E ampl. São Paulo : Rideel, 2011. – ( Serie Vade Mecum). BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
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