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Mineralogia I Versão 2017 Departamento de Mineralogia e Petrologia Quartzo euédrico em rocha vulcânica, observado em lâmina delgada ao Microscópio Petrográfico a Nicóis Cruzados.. SUMÁRIO Tópicos Introdutórios 01. Bibliografia............................................3 02. História de Mineralogia ........................5 03. Definição de Mineral.............................7 04. Gênese dos Cristais..............................9 05. Classificações de Minerais..................13 Cristalografia 06. Elementos Geométricos e de Simetria..17 07. Classes e Sistemas Cristalinos.............18 08. Leis Cristalográficas............................. 21 09. Holoedria e Hemiedria ........................ 22 10. Goniometria.......................................... 23 11. Projeções Cristalográficas.................... 25 12. Notações Cristalográficas.................... 28 13. Formas Cristalinas............................... 31 14. O Sistema Tetragonal.......................... 35 15. O Sistema Hexagonal ......................... 39 16. O Sistema Trigonal ............................ 42 17. O Sistema Cúbico .............................. 44 18. O Sistema Ortorrômbico ................... 50 19. O Sistema Monoclínico .........................54 20. O Sistema Triclínico .............................57 Mineralogia Física 21. Estrutura dos Cristais ........................59 22. Defeitos Cristalinos ............................63 23. Isomorfismo e Polimorfismo ...............69 24. Simetria e Singonia ............................70 25. Isotropia e Anisotropia .......................72 26. Hábito .................................................72 27. Grau de Perfeição ...............................73 28. Propriedades Físicas ..........................73 29. Agrupamentos Cristalinos ................. 85 30. Imperfeições e Deformações ..............91 31. Pseudomorfismo .................................92 32. Pseudosimetria ...................................93 Mineralogia Óptica 33. O Microscópio Polarizador ...................94 34. Indicatrizes Óticas ................................97 35. Observações a Nicóis Descruzados ....99 36. Observações a Nicóis Cruzados ........103 37. Observações a Luz Convergente .......110 3 01. BIBLIOGRAFIA Para a disciplina de Mineralogia 1 não existe um livro-texto único. Os assuntos apresentados neste polígrafo aparecem normalmente na porção introdutória de livros de mineralogia. Os livros iniciam com uma introdução em Geometria Cristalina, posteriormente apresentam (ou não) noções de microscopia e finalmente abordam os minerais mais comuns formadores de rocha, apresentando suas propriedades físicas e químicas bem como algumas localidades famosas. Freqüentemente estes livros de mineralogia usam notações cristalográficas diferentes e nomenclaturas diferentes entre si e daquelas usadas em sala de aula, principalmente no tocante às formas geométricas dos cristais. Por isso, a bibliografia abaixo citada deve ser usada com certa cautela, nunca se prendendo a um único livro e evitando descobrir problemas onde não existem. Portanto, recomenda-se não adquirir nenhum livro de Mineralogia por enquanto. Devem ser evitados principalmente os livros de “Minerais e Rochas” dedicados a leigos, abordando minerais de coleção e de esoterismo. Apesar das muitas figuras coloridas, são pouco adequados para quem se dedica à Geologia. Alguns livros-texto tradicionais da Mineralogia são: Berry, L.G. & Mason, B. 1959. Mineralogy: Concepts, Descriptions, Determinations. W.H. Freeman and Co. San Francisco, California. Dana, J.D. 1959. Dana's Manual of Mineralogy. Revised by C.S. Hurlbut. 7th Ed. John Wiley and Sons, Inc. NY. Dana, J.D. 1969. Manual de Mineralogia, revisto por C.S. Hurlbut Jr. Traduzido por Rui Ribeiro Franco. Ao Livro Técnico, SA. Flint, E. 1965 - Princípios de Cristalografia. Editorial Paz. Moscou. Fujimori, S. & Ferreira, Y.A. 1985. Introdução ao Uso do Microscópio Petrográfico – Editora da Universidade Federal da Bahia. Klockmann, E. & Ramdohr P. 1947. Tratado de Mineralogia. 2a ed. Editorial Gustavo Gili SA, Barcelona. Lapadu-Hargues, P. 1954. Précis de Minéralogie. Masson et Cia, Éditeurs. Luna, I.R. 1955. Cristalografia. Publicaciones de la Escuela Especial de Ingenieros de Minas, 2ª ed. Olsacher, J. 1946. Introduccion a la Cristalografia. Imprenta de la Universidad, Córdoba, Argentina. Phillips, F.C. 1956 - An Introduction to Cristallography - 2nd Ed.. Longman, Green and Co Ltd, London. Wahlstrom, E.E. 1956. Optical Crystallography - 3rd Ed. John Wiley & Sons, Inc. New York. Wahlstrom, E.E. 1960. Cristalografia Ótica - Traduzido por Rui Ribeiro Franco. Ao Livro Técnico. Winchell, A.N. 1937. Elements of Optical Mineralogy, John Wiley and Sons, London. Pichler, H. & Schmitt-Riegraf, C. 1997. Rock-forming Minerals in Thin Section. Chapman & Hall. 4 A internet naturalmente se oferece com uma fonte inesgotável de informações e de excelentes imagens de minerais, bem como textos e apresentações de excelente qualidade a respeito de todos os assuntos tratados neste poligrafo. Com apenas três sites é possível dispor de muito mais informações que aqueles constantes nos livros de mineralogia, excetuando as características individuais dos minerais ao microscópio polarizador: www.webmineral.com é um site indispensável, completo e constantemente atualizado sobre todas as espécies minerais que existem. Traz um rol muito completo das características dos minerais, com muito mais dados do que qualquer livro de Mineralogia. www.mindat.org é outro site indispensável, especializado em fornecer as localidades em que os minerais já foram encontrados, com as respectivas referências bibliográficas. http://www.handbookofmineralogy.org/ é um site de referência, com fichas individuais (um arquivo pdf de uma página) de cada uma das espécies minerais já conhecidas. www.galleries.com fornece informações adicionais, com vários detalhes que os outros não discutem. Sites que fornecem um conjunto de informações sobre os colecionadores de minerais são, entre muitos outros, www.rockhounds.com, www.minerant.org e www.vfmg.de. Um site com material educacional é www.mii.org, e inúmeros outros podem ser úteis, dependendo do interesse individual. Mesmo com esta enorme disponibilidade de informações qualificadas, sempre há espaço para a produção de outros materiais didáticos, visando atender às nossas necessidades específicas. Neste contexto, foram produzidos dois materiais que estão disponíveis em arquivos pdf : “Guia de Minerais Transparentes” é uma listagem com 200 páginas contendo as fichas padronizadas das características ao microscópio petrográfico de 114 minerais mais comuns. As fichas foram elaboradas a partir das melhores bibliografias disponíveis e contêm uma série de imagens de boa qualidade desses minerais ao microscópio. “Chave de Minerografia” é um guia do tipo passo-a-passo para identificar mais facilmente ao microscópio petrográfico os 80 minerais formadores de rocha mais comuns; Uma ferramenta nova, inaugurada em 2015, é uma coleção de vídeos no YouTube, mostrando as propriedades dos minerais ao microscópio e as características individuais de cada um. Trata-se de uma primeira geração de vídeos, que serão substituídos por vídeos de melhor qualidade àmedida que equipamentos melhores estiverem disponíveis. Não substituem, sob hipótese alguma, as aulas práticas, devendo ser considerados apenas um auxílio didático que a(o) discente pode acessar fora do ambiente universitário. 5 02. BREVES TÓPICOS DA HISTÓRIA DA MINERALOGIA Estas breves notas sobre alguns personagens da evolução da Mineralogia destinam-se a ilustrar o tempo e a maneira como esta ciência evoluiu, a fim de compreender alguns dos passos que conduziram ao estado atual de conhecimentos. Um dos registros mais antigos de mineralogia está no livro chinês San-Hey-Din ("Contos Antigos de Montanhas e Mares"), datado de 500 AC, que descreve 17 minerais, incluindo a maioria dos minerais nativos. Aristóteles (384-322 BC), filósofo grego, o mais importante e mais influente cientista natural da antiguidade, escreveu "Sobre as Pedras", o primeiro estudo científico do mundo mineral. Ao invés de especulações, ele fez observações precisas. Dividiu o Reino Mineral em "Metais" e "Fósseis". Segue-se Theoprastus, um filósofo grego, discípulo de Aristóteles, 372 a 287 AC, que escreveu o livro "Das Pedras", livro que é considerado o primeiro tratado específico sobre minerais, com 16 minerais descritos. Plínio, o Velho, 23-79, foi um almirante romano e cientista do século I que fez o primeiro comentário sobre forma cristalina e qualidade de faces cristalinas, no Volume XXXVII da "História Natural". Faleceu em uma erupção do Vesúvio. Al Biruni (Tadjiks Al Biruni), 972 a 1048, foi a primeira autoridade da história da Mineralogia que forneceu dados precisos sobre densidade e outras constantes físicas de 18 pedras preciosas e metais. Al Khazini foi outra autoridade da época. Avicena (Ibn Sîna), médico, filósofo e cientista de Chorasau (Usbequistão) (AD 970-1037), separou, dos metais, uma divisão de minerais sulfúricos, melhorando o agrupamento dos minerais conhecidos. Seu agrupamento (Pedras, Minerais Sulfúricos, Metais, Sais) persistiu com pequenas variações por quase 8 séculos. Este foi seu grande mérito. Albertus Magnus, na realidade Albert von Bollstaedt (1193 a 1280), classificou os minerais em 3 classes: pedras, metais e misturas. Georg Bauer (Georgius Agrícola) 1494 a 1555, médico de Chemnitz, distanciou-se da alquimia. Escreveu "De Natura Fossilium" em 1546 e "De Re Metallica" em 1556. São clássicos que reúnem os conhecimentos da época sobre mineralogia, geologia, mineração e metalurgia. Leonardo da Vinci foi autor, em 1502, de um Tratado Mineralógico sobre forma, grau de transparência, dureza, densidade, ocorrência e outros caracteres de minerais, incluindo avisos sobre como diferenciar pedras preciosas falsas de verdadeiras. Nesta época dominava na Europa a Alquimia que gerou a procura pela maneira de fazer ouro e pela pedra filosofal. Nicolaus Steno, aliás Niels Stensen, dinamarquês, 1638 a 1686, elaborou um texto sobre a constância dos ângulos interfaciais do quartzo. A Lei da Constância dos Ângulos foi a 1ª Lei Fundamental da Cristalografia. Em 1669, na Florença, também reconheceu a anisotropia. Erasmus Bortholinus, 1625 a 1698, descreveu pela primeira vez o fenômeno da dupla refração, que descobriu na calcita da Islândia. Christian Huygens, 1629 a 1695, físico holandês, concluiu pela estrutura anisotrópica dos cristais. Romé de L´Isle, francês, 1736 a 1790, escreveu em 1772 uma descrição completa de todas as formas cristalinas conhecidas à época, usando em suas pesquisas, pela primeira vez, um goniômetro. 6 Torbern Olaf Bergmann, sueco, 1735 a 1784, reconheceu na calcita a "decrescência das moléculas", que permitira calcular todas as faces possíveis em um cristal. Renée Just Haüy, 1743 a 1826, foi autor do "Traité de Mineralogie", versando sobre o significado da cristalografia no estudo dos minerais. Christian S. Weiss, 1780 a 1856, é autor da Lei dos Coeficientes Parametrais Racionais, sobre a possibilidade do cálculo exato das faces cristalinas. Com ela, tornou-se possível relacionar todas as relações parametrais das faces que ocorrem em um cristal. I. F. C. Hessel, em 1830, provou matematicamente que, no domínio dos cristais, só podem existir 32 classes cristalinas. M. A. Bravais, francês, 1811 a 1863, determinou em 1850 os 14 Retículos de Bravais, fundamentais para o estudo da estrutura da matéria. Axel Gadolin, russo, em 1867, escreveu sobre as 32 classes cristalinas possíveis. E. S. Fedorov, 1843 a 1919, em 1890 abordou as 230 formas cristalinas possíveis. A. M. Schönflies (1853 a 1928), em 1891 escreveu sobre o mesmo tema. Estes autores escreveram especificamente sobre cristalografia. Abaixo estão os autores que abordaram especificamente a química mineral. Após Agrícola, a evolução do estudo da química mineral evoluiu com Lomonossow (1711 a 1765), russo que fez análises químicas detalhadas dos mais variados minerais e reconheceu que o âmbar era uma resina vegetal fóssil. Abraham Gottlob Werner, 1749 a 1817, professor da Academia de Minas de Freiberg, (Alemanha), acreditou que o basalto colunar era um cristal, devido à forma definida. Considerou que todas as rochas e os minerais se formaram a partir de águas superficiais, criando a escola dos "Werneristas". Esta escola se opôs aos "Netunistas", que achavam que tudo se originava a partir do interior da terra. Estabeleceu os fundamentos para uma sistemática mineral exata. James Hutton, escocês, (1726-1797), estabeleceu a "Teoria da Terra" em 1788, dando uma origem ígnea a tudo. Os "Huttonistas" eram, portanto, plutonistas. Breithaupt (1791- 1873), escreveu em 1849 "A Paragênese dos Minerais", onde estabelece o conceito da paragênese mineral. J. J. Berzelius (1779-1848), químico sueco, foi autor de "Noveau Système de Minéralogie" em 1819 e Eilhard Mitscherlich (1794-1863), químico alemão, reconheceram a isomorfia e a polimorfia. W.H. Miller, inglês, 1801 a 1880, melhorou o goniômetro de reflexão de Wollaston e introduziu os "indices de Miller" para nomear faces cristalinas. Viktor Goldschmidt, 1853 a 1933, melhorou ainda mais o goniômetro, estabelecendo os fundamentos para a moderna cristalografia. Friedrich Mohs, mineralogista austríaco, estabeleceu a "Escala de Mohs" em 1822. Henry Clifton Sorby, inglês, 1826 a 1909, descobriu a técnica de lâminas delgadas de rochas em 1858. Com isto, mudou toda a petrografia. James Dwight Dana, americano, 1813 a 1895, lançou seu Manual de Mineralogia em 1837, com uma sistemática mineral moderna, tornando-se indispensável para qualquer estudioso: o "Dana`s System of Mineralogy". Na Europa surgiu a classificação de minerais do Prof. Hugo Strunz, alemão, muito semelhante à de Dana. Muitos outros contribuíram e contribuem para tornar a Mineralogia cada vez mais completa e complexa. 7 03. A DEFINIÇÃO DE MINERAL “Um mineral é um elemento ou composto químico que normalmente é cristalino e que é resultado de processos geológicos.” Esta definição é ampla o suficiente para incluir a grande maioria das substâncias geralmente aceitas como minerais. Algumas substâncias, entretanto, não se encaixam inteiramente nestes requisitos. Portanto temos que traçar uma linha divisória entre mineral e não-mineral, definindo quais exceções à regra devem ser permitidas. O termo “cristalino”, como usado geralmente em mineralogia, significa um ordenamento cristalino numa escala que possa produzir um padrão indexável de difração (isto é, com índices de Miller) quando a substância é atravessada por uma onda com um comprimento adequado (raios-x, elétrons, nêutrons, etc.). Entretanto,algumas substâncias de ocorrência natural não são cristalinas. Tais substâncias podem ser divididas em duas categorias: - amorfas, que são aquelas substâncias que nunca foram cristalinas e que não difratam raios-x nem elétrons, e - metamictas, que são aquelas substâncias que já foram cristalinas, mas cuja cristalinidade foi destruída por radiação. Há certa relutância, por parte de alguns mineralogistas, de aceitar substâncias amorfas como minerais devido à impossibilidade de caracterizá-las completamente, mas algumas substâncias amorfas foram aceitas como minerais pela Comissão Internacional responsável pela análise e nomenclatura dos novos minerais propostos (CNMMN). As bases para a aceitação de uma fase amorfa de ocorrência natural como um mineral poderiam ser: - uma série de análises químicas quantitativas completas suficientes para revelar a composição química de todas as partículas do material, - informação físico-química (geralmente por espectroscopia) que prove que a fase é única, e - evidência de que o material não pode produzir um padrão de difração “indexável”, tanto em estado natural como depois de tratamento por algum processo físico-químico em estado sólido, como por exemplo por aquecimento. Um caso especial de substâncias não-cristalinas de ocorrência natural são aquelas que são líquidas em condições normais de temperatura e pressão: a água não é considerada cristalina, mas sua forma sólida, o gelo, o é. O mercúrio, no entanto, é reconhecido como um mineral mesmo não ocorrendo em estado cristalino na Terra. O petróleo e suas manifestações betuminosas não-cristalinas não são consideradas minerais. Há vários casos especiais a considerar com conceito de “mineral”: 1) Estabilidade sob condições ambientais Muitos minerais foram formados em condições de alta temperatura e pressão (ou ambas) e são meta-estáveis sob condições ambientais, outras tendem a hidratar ou desidratar quando retiradas de seu lugar de origem. Tais minerais podem requerer procedimentos especiais para prevenir a sua 8 decomposição antes de terminada a investigação. O uso de procedimentos especiais na investigação não impede a aceitação de uma substância meta-estável ou instável como mineral se ela puder ser adequadamente caracterizada e se ela preencher outros critérios para ser um mineral. 2) Substâncias Extraterrestres Substâncias extraterrestres como meteoritos, pedras da lua, etc..., foram, aparentemente, produzidos por processos similares àqueles da Terra e, por isso, tais processos agora são chamados de geológicos, mesmo que o termo “geologia” significasse originalmente o estudo de rochas neste planeta. O estudo das feições geológicas dos planetas, por exemplo, pela NASA, é chamado de “astrogeologia”. Portanto, componentes de ocorrência natural de rochas extraterrestres e poeiras cósmicas são consideradas minerais, como, por exemplo, o mineral lunar tranquilitita. 3) Substâncias Antropogênicas Substâncias antropogênicas são aquelas produzidas pelo homem e não são consideradas minerais. Se tais substâncias forem idênticas a minerais, podem ser chamadas de “equivalentes sintéticos” dos respectivos minerais. 4) Substâncias Antropogênicas modificadas geologicamente Compostos químicos formados pela ação de processos geológicos sobre substâncias antropogênicos tem sido aceitos, até agora, como minerais, como o mineral Laurita, formado pela reação da água do mar com sobras metalúrgicas antigas. No entanto, atualmente muitos materiais exóticos são produzidos e é grande a possibilidade de que tais substâncias possam ser colocadas em um ambiente geológico onde gerem novos produtos que poderiam ser considerados novos minerais. Por isso a CNMMN estipulou que, no futuro, compostos químicos formados pela ação de processos geológicos em substâncias antropogênicas não podem ser consideradas como minerais. Alguns compostos químicos formados pela ação de processos geológicos em rochas ou minerais que foram expostos a tais processos pela atividade do Homem (abertura de minas, entulhos de minérios, abertura de estradas, etc..) foram aceitas como minerais no passado e, se a exposição não foi intencional (não foi feito com o propósito expresso de criar novos minerais), estas substâncias podem ser aceitas como minerais. Compostos químicos formados por incêncios em minas são considerados como um caso especial, porque nem sempre é claro se houve ou não envolvimento humano na causa do incêndio, e por issoais substâncias não são aceitas como minerais. 5) Substâncias Biogênicas São aqueles compostos químicos produzidos inteiramente por processos biológicos sem nenhum componente geológico: cálculo urinário, cristais de oxalato em tecidos vegetais e conchas de moluscos marinhos, etc.. Estes materiais não são considerados minerais. No entanto, se processos geológicos foram envolvidos na gênese do composto, então o produto pode ser aceito como mineral. Exemplos de minerais aceitáveis deste tipo são: - substâncias cristalizadas de matéria orgânica em xisto negro, - guano de morcegos em cavernas - constituintes de pedras calcárias ou fosfóricas originadas de organismos marinhos. 9 04. A GÊNESE DOS CRISTAIS O termo "cristal" vem do grego e significa “gelo transparente”, porque se acreditava que era a forma permanente do gelo endurecido pelo intenso frio das montanhas. Hoje em dia, o público leigo associa o termo a reflexões de luz e transparência. A existência de superfícies planas e as formas simétricas indicam que os sólidos cristalinos (minerais) possuem um arranjo regular e preciso em sua estrutura interna, que será abordada em outro capítulo do polígrafo. 1. Como os cristais se formam ? - por solidificação de material antes em estado de fusão; - a partir de soluções, por precipitação de material dissolvido na água; - a partir de gases, como no caso da neve e das fumarolas vulcânicas. Na formação de cristais, temos que considerar dois fatores: a) O primeiro é o Movimento Browniano, descoberto por um botânico de nome Brown em 1827, que consiste no deslocamento contínuo e irregular das partículas que formam uma determinada substância. Com o aquecimento da mesma, ou seja, fornecendo energia à substância, este movimento molecular é acelerado, o inverso acontecendo com o abaixamento da temperatura. A passagem das substâncias do estado sólido para o líquido e depois para gás mostra isso claramente. A quantidade de calor em uma substância é a quantidade de movimento molecular. b) O segundo fato são as forças de atração molecular, que estão associadas à estrutura elétrica da matéria. São elas que mantêm unidas as moléculas de água, os átomos de ferro, etc. Nos cristais existe muito menos energia de movimento molecular que nos líquidos. Aqui as moléculas colocaram-se, após o rebaixamento da temperatura, em posições "confortáveis", ou seja, se dispõe de acordo com suas cargas elétricas em relação às cargas das outras moléculas. Se cada molécula assume a mesma atitude em relação às demais, isto resulta na formação de um arranjo regular, porque a mesma configuração geométrica se repetirá inúmeras vezes. Em outras palavras, o cristal se forma. Portanto, um cristal se forma a baixas temperaturas porque será ali que as moléculas se colocam em posições mais estáveis (com menos energia livre), assumindo uma certa atitude umas em relação com as outras. Este arranjo regular é o "estado cristalino".Algumas substâncias possuem 2 ou 3 arranjos que contém aproximadamente a mesma quantidade de energia livre e assim a substância pode existir em duas ou três formas cristalinas diferentes (polimorfismo). Em condições desfavoráveis, tais como o abaixamento rápido da temperatura, os metais e sais simples sempre cristalizam enquanto que as moléculas grandes e complicadas apresentam problemas na cristalização e geram massas semelhantes a vidro, com uma disposição desordenada das moléculas. 2. Como inicia a cristalização ? A formação de cristais a partir de uma massa em fusão dá-se através de um processo de germinação. 10 Este processo consiste no aparecimento, dentro da massa em fusão, de pequenos cristais espalhados caoticamente, a partir dos quais se formam depois os cristais grandes. Estes cristais pequenos iniciais chamam-se germes cristalinos. Aparecem normalmente um pouco abaixo da temperatura de solidificação oficial do cristal (uns poucos graus a menos), caracterizando um líquido super-resfriado, mostrando que mesmo em substâncias que sempre se cristalizam, existe alguma dificuldade para iniciar o processo de germinação. Em outras palavras, existe grande dificuldade de passar do estado desordenado das moléculas, onde estas estão se chocando a todo o momento, para o estado ordenado. Só algumas têm um choque favorável que lhes possibilita uma acomodação no espaço, surgindo um germe cristalino. Uma vez formados, o crescimento se dá nos germes cristalinos, pois é mais fácil para as moléculas adicionarem-se a cristais já constituídos do que formar novos germes. Este crescimento é causado pela não-saturação (valências atômicas não satisfeitas) da película externa da rede (do germe). Uma vez iniciado o processo de germinação, os cristais crescem até que toda a substância se solidifique, ou seja, quando os cristais se encontram uns aos outros. Por isso, na solidificação não temos normalmente cristais bem formados. Podemos formar cristais por: - evaporação de uma solução; - resfriamento de uma solução, em ambiente não perturbado, com crescimento lento. A dificuldade na formação de germes é uma conseqüência de contínuas flutuações locais de energia, como numa mesa de sinuca: uma bola rápida, ao colidir com outra, às vezes perde quase toda a sua energia, quase parando, enquanto que uma segunda bola se move rapidamente, tendo ganhado a energia perdida da primeira. Imaginando isto com bilhões de moléculas, é fácil ver a dificuldade de formar um germe e a manutenção do mesmo no contínuo bombardeio ao qual o mesmo é submetido. A partir de um tamanho mínimo, o germe é estável. Mas é bem mais fácil os germes se formar sobre pequenas partículas sólidas, por acaso presentes no líquido, tais como poeira ou cristais de impurezas. O comportamento de massas fundidas e das soluções é muitas vezes errático, porque: - a nucleação depende da pequena probabilidade das moléculas se arranjarem ordenadamente; - a presença de partículas de poeira é apenas acidental. Quando uma dada substância é aquecida, funde-se sempre à mesma temperatura, mas quando se resfria, nem sempre produz os germes naquela mesma temperatura. Isso porque a nucleação é uma questão de probabilidade e não uma certeza absoluta. A probabilidade cresce com o abaixamento da temperatura até que quase todas as substâncias finalmente se cristalizarem. Um resfriamento muito rápido pode levar uma substância a vitrificar, ocorrendo a desvitrificação (uma cristalização) por um rearranjo muito lento das partículas (uma cristalização) no estado sólido. 3. Como os cristais crescem a partir dos germes ? O crescimento dos cristais pode-se dar em camadas moleculares ou multimoleculares. Estas camadas iniciam seu crescimento no centro das faces e não nas arestas e vértices. 11 12 Para reger este crescimento, Pierre Curie enunciou a seguinte lei: "Os acréscimos perpendiculares às faces do cristal são diretamente proporcionais às suas constantes capilares". Esta constante capilar foi chamada por Wulff de "energia superficial específica" e pode ser definida como "a energia necessária para que um corpo cresça de uma unidade, na superfície que o separa do meio ambiente". Mas o crescimento e a velocidade de crescimento de um germe cristalino dependem: - da forma e dos tamanhos das moléculas ou íons; - da intensidade das forças que as unem; - se a energia liberada pelas moléculas na cristalização é transferida às moléculas vizinhas em solução, que por sua vez tem que se liberar desse calor antes de poder cristalizar; - da velocidade com que a energia de movimento se transfere por colisões sucessivas ao acaso (velocidade com que o calor se difunde). Portanto, quanto mais frio o líquido, mais rápido o crescimento dos cristais. - da quantidade de material que está disponível em solução (extremos: NaCl e SiO2) - da velocidade de difusão da substância dissolvida em direção ao cristal, em meio à fusão ou solução. O processo é complicado, principalmente porque o processo de difusão em torno dos cristais deve adaptar-se a situações geométricas estranhas. O processo de crescimento cristalino a partir de soluções é tão complexo que não se conseguiu calcular as velocidades de crescimento dos cristais. Mesmo o empilhamento de camadas moleculares está sujeito a alterações pela ação de moléculas mais violentas (que precisam sobrepujar uma grandeza crítica). O crescimento das faces se dá em condições de forte supersaturação do líquido. Mas não devemos esquecer que os cristais apresentam faces imperfeitas, com fendas, discordâncias e escorregamentos, que podem ser responsáveis pelo crescimento, quando os cálculos teóricos, lidando com faces perfeitas, indicam um não crescimento. Uma imperfeição, por exemplo, é uma discordância em espiral. A camada não se completa e o cristal cresce em espiral. Pode haver duas espirais opostas (direita e esquerda) que formam camadas concêntricas. Neste caso parece que cresceu por planos. O modo pelo qual as camadas se iniciam provavelmente também varia de uma espécie cristalina para outra, e mesmo de indivíduo para outro da mesma espécie. O grau de supersaturação necessário para o início de novas camadas sobre faces perfeitas provavelmente varia muito de uma substância para outra e também de uma face para outra do mesmo cristal. Só em cristais de estrutura compacta há dificuldade na formação inicial de novas camadas. Na maioria dos cristais, de moléculas de forma irregular, nenhuma face é realmente compacta - todos possuem vazios, onde facilmente novas moléculas se colocam criando, por sua vez, mais espaços vazios. Mas porque as camadas novas iniciam seu crescimento no centro das faces? Aparentemente porque numa solução em repouso, na qual os gradientes de concentração tiveram tempo de se desenvolver de acordo com as leis da difusão e não foram perturbados por correntes de convecção, maior quantidade de substância dissolvida chega ao centro da face por difusão, quantidade essa maior do que nos outros pontos. Mas nem todos os cristais crescem pelo processo de superposição de camadas. Alguns crescem como estrutura em esqueleto, por rápido avanço de ramificações em diferentes direções. Neste caso, as 13 moléculasse empilham de maneira indiscriminada e se colocam na posição correta, sem formar camadas planas. 05. CLASSIFICAÇÕES DE MINERAIS Muitas foram as tentativas de classificar os minerais. Não é possível nem necessário discutir todas estas tentativas de classificação. Abaixo, são apresentadas apenas três classificações. A primeira é histórica, a classificação de Dana é aquela oriunda da escola norte-americana e a classificação de Strunz teve origem na Europa. 5.1 A classificação de Georgius Agricola Quando a peste voltou a Chemnitz em 1552-53, instalou um “Lazarett”, uma espécie de hospital, reduzindo a mortalidade. Latinizou seu nome para Georgius Agricola, escrevendo “De Re Metallica”, 12 volumes que, por 300 anos, foram a “bíblia” da mineração e da metalurgia. Georgius Agrícola nasceu em 24 de março de 1494 na cidade de Glochau, na Alemanha, como Georg Bauer (= “Jorge Agricultor”). Estudou Filosofia em Leipzig e foi à Itália em 1523, completar seus estudos em medicina. A partir de 1527 trabalhou em Joachimsthal, o centro da mineração da Idade Média. Lá escreveu sobre as doenças relacionadas ao trabalho, como problemas dermatológicos em trabalhadores de minas de sal de pedra. A partir de 1533 trabalhou em Chemnitz, lá vivendo os anos da peste e escrevendo o texto “A Peste”. Não reconheceu o rato como transmissor da doença, mas recomendou higiene no armazenamento de alimentos. 14 A classificação de Georgius Agricola: 1. Simple Fossils a. Terrae (argilla, creta, terra medica) b. Succi Concreti I. (sal, nitrum) II. (alumen) III. (sulfur, bitumen) IV. (alumen) V. (chrysocolla,aerugo,auripigmentum) c. Lapides I. Communi (magnes, haematites, aetites) II. Gemmae (adamas, smaragdus, carbunculus) III. Marmora (porphyrites, ophites, Parium) IV.Saxa (arenarium, calcarium) d. Metalla I. (aurum, argentum, plumbum) II. (ferrum) III. (argentum vivum) 2. Mixed and Composite Fossils a. Lapis et Succus Concretus b. Metallum et Terra c. Lapis et Metallum in partibus aequa libus d. Lapis et Metallum abundans e. Lapis abundans et Metallum f. Lapis et Metallum et Succus Concretus 5.2 A classificação de James Dwight Dana James Dwight Dana (1813-95) nasceu em Utica, no estado de New York, USA. Geólogo, mineralogista e naturalista, formou-se em Yale em 1833. Seus estudos no Pacífico Sul, no NW dos USA e na Europa, entre outras localidades, modificaram as idéias correntes sobre a formação de montanhas, vulcanismo e origem de continentes e oceanos. Em 1837 Dana publicou “A System of Mineralogy”, que continua sendo padrão até os dias de hoje. Foi o geólogo e mineralogista da expedição norte-americana para a região antártica e mares do Sul, comandada por Charles Wilkes (1838-42). Os relatórios de Dana, publicados em grandes volumes com ilustrações elaboradas e um atlas, incluíram Zoophytas (1846), Geologia (1849) e Crustáceos (1852-55). 15 Uma de suas posições mais importantes foi como co-editor, com Benjamin Silliman, do American Journal of Science, onde suas idéias influenciaram grandemente no desenvolvimento da geologia norte- americana. Em 1846 tornou-se sucessor de Silliman em Yale como professor de História Natural e Geologia. Outros escritos seus incluem o Manual de Geologia (1862), o Manual de Mineralogia (1843), Corais e Ilhas de Coral (1872) e Características de Vulcões (1890). 5.3 A classificação de Hugo Strunz Hugo Strunz nasceu em 24 de fevereiro de 1910 em Weiden, Oberpfalz, Alemanha. Em 1929 iniciou o estudo de Ciências Naturais em Munique, especialmente Mineralogia. Formou-se 1933 em Dr. Phil. E em 1935 Dr. Sc. Techn. Trabalhou em 1933 no Instituto de W.H. Bragg na Universidade de Manchester e em 1935-37 na Universidade de Zurique, com Paul Niggli. Depois trabalhou na Universidade de Berlin com Paul Ramdohr. Em 1941 foi impressa a primeira edição das “Tabelas Mineralógicas”, atualizadas até hoje: referência básica para a classificação cristaloquímica-estrutural sistemática dos minerais em nível internacional. Prof. Hugo Strunz publicou mais de 200 trabalhos individuais. Uma obra, especialmente, Classificação Dana Velha Classificação Dana Nova I Elementos Nativos Classe 1 II Sulfetos Classes 2 & 3 III Óxidos e Hiodróxidos Classes 4, 5, 6, 7, & 8 IV Halóides Classes 9, 10, 11, & 12 V Carbonatos, Nitratos, Boratos Classes (13, 14, 15, 16a, 16b, 17)Carbonatos (18, 19, 20)Nitratos (21, 22, 23)Iodatos (24, 25, 26, & 27)Boratos VI Sulfatos, Cromatos, Molibdatos Classes (28, 29, 30, 31, 32)Sulfatos (33)Selenatos & Telluratos (34)Selenitos - Telluretos - Sulfitos (35, & 36)Cromatos VII Fosfatos, Arsenaitos, Vanadatos Classes (37, 38, 39, 40, 41, 42, 43)Fosfatos (44, 45, 46)Antimoniatos (47)Vanadatos et. al. (48, & 49)Molibdatos & Tungstatos IX Minerais Orgânicos Classe 50 VIII Silicatos Nesosilicatos Classes 51, 52, 53, & 54 Sorosilicatos Classes 55, 56, 57, & 58 Cyclosilicatos Classes 59, 60, 61, 62, 63, & 64 Inosilicatos Classes 65, 66, 67, 68, 69, & 70 Fillosilicatos Classes 71, 72, 73, & 74 Tectosilicatos Classes 75, 76, & 77 Silicatos Não-Classificados Classe 78 16 foi marcada por Strunz: o Tratado de Mineralogia de Klockmann, Ramdohr e Strunz, agora em sua 17ª edição. Participou intensamente da Federação Alemã de Colecionadores de Minerais. Realizou viagens de estudos para todos os continentes, com exceção da Antártida. Recebeu um grande número de honrarias, medalhas e outros, também de outras federações de colecionadores (russa, francesa e inglesa). A classificação de Hugo Strunz: I Elementos Nativos II Sulfetos III Halóides IV Óxidos e Hidróxidos V Nitratos, Carbonatos e Boratos VI Sulfatos, Cromatos, Molibdatos e Tungstatos VII Fosfatos, Arseniatos and Vanadatos VIII Silicatos Tectosilicatos Filosilicatos Inosilicatos Ciclosilicates Sorosilicatos Nesosilicatos Silicates Não-Classificados IX Compostos Orgânicos 17 CRISTALOGRAFIA 06. ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DOS CRISTAIS Os elementos geométricos dos cristais são as faces, arestas, os ângulos planos (formados por duas arestas), os ângulos diedros (formados por duas faces) e os vértices (ângulos formados por 3 ou mais arestas ou faces). Um poliedro sempre apresentará estes elementos, pois é um sólido em 3 dimensões. Os cristais sempre são poliedros convexos. Podemos então aplicar a Lei de Euler, derivada de um dos maiores matemáticos do mundo, o suíço Leonhard Euler (1707-1783): Faces + Vértices = Arestas + 2 ELEMENTOS DE SIMETRIA DOS CRISTAIS Há 4 tipos diferentes de simetria: a) simetria no espaço: é a simetria de translação, quando um elemento se repete num intervalo regular. b) simetria por um plano: é a simetriapor reflexão (por planos), quando um lado é o "espelho" do outro. O plano de simetria é um plano imaginário que divide o cristal em duas porções idênticas e simétricas em que uma é a imagem especular (de espelho) da outra. Anota-se por P, colocando-se como coeficiente o número de planos de mesma espécie existentes no cristal. c) simetria por uma linha: é a simetria de rotação, com eixos de simetria, quando um ponto comanda os outros, todos iguais. Eixo de simetria é uma linha imaginária em torno da qual o cristal, girando em 360º, repetirá "n" posições idênticas no espaço. "n" é a ordem do eixo, que pode ser 2, 3, 4 ou 6. Aqui temos a representação de um cubo com 3 dos seus planos de simetria (em tons de cinza). Anota-se os 3 planos de simetria como “3P”. O rombododecaedro do Sistema Cúbico, representado ao lado, possui 12 faces, 14 vértices e 24 arestas. A granada é um mineral que frequentemente exibe essa forma. Pela Lei de Euler: 12 + 14 = 24 + 2 18 Anotam-se os eixos de simetria por "E" (eixo) ou "A" (axis), colocando-se como índice a ordem do eixo e como coeficiente o número de eixos de mesma ordem e de mesma espécie existentes no cristal. d) simetria por um ponto: é a simetria de inversão, pelo centro de simetria, quando a imagem pode ser invertida por um ponto. Centro de simetria é um ponto imaginário no interior de um cristal a partir do qual, em sentidos opostos e a iguais distâncias, encontraremos elementos idênticos. É anotado por "C" . Há 5 regras de simetria: 1) eixo de ordem par com centro de simetria exige plano perpendicular a e ele. 2) eixo de ordem par com plano de simetria perpendicular a ele exige centro de simetria. 3) eixo ternário com centro de simetria exclui plano de simetria perpendicular ele. 4) eixo ternário com plano de simetria perpendicular a ele exclui o centro de simetria. 5) 2 eixos de ordem par perpendiculares exigem um terceiro eixo de ordem par a eles ortogonal. 07. CLASSES E SISTEMAS CRISTALINOS Trabalhando com os elementos de simetria dos cristais, já observamos que cada cristal possui um conjunto de elementos de simetria. Este conjunto de elementos de simetria chama-se Grupo Ponto de Simetria. Ex.: o cubo possui um grupo ponto de simetria 3E4 4E3 6E2 C 3P 6P Demonstrou-se que existem somente 32 combinações possíveis dos vários elementos de simetria, ou seja, existem apenas 32 grupos pontos de simetria. Eixos de rotação em um prisma tetragonal: na vertical, um eixo de ordem 4 ou eixo quaternário (repete a mesma imagem 4 vezes ao giro de 360º) na horizontal, 4 eixos de ordem 2 ou eixos binários (repetem a mesma imagem 2 vezes ao giro de 360º) Notação completa: E4 4E2 Forma combinada triclínica com um pinacóide (faces triangulares pequenas) repetindo-se pelo centro de simetria. Observe que a posição do triângulo está invertida através do centro do cristal. Notação: C 19 Estes 32 grupos pontos de simetria foram chamados de classes de simetria ou classes cristalinas. Definição completa: “classe de simetria ou classe cristalina é o conjunto de cristais diferentes que apresentam o mesmo grupo ponto de simetria”. Embora existam 32 classes, a maioria dos cristais comuns cristaliza em apenas 15 classes. A partir destas 15 classes surgiram os 7 Sistemas Cristalinos. Em muitos livros os sistemas hexagonal e trigonal são apresentados como um só, havendo, neste caso, apenas 6 Sistemas Cristalinos. Sistemas Cristalinos são grupos distintos de classes cristalinas, agrupadas pela natureza análoga dos elementos de simetria que se combinam ou pelo modo com que esta combinação se efetua: 1 - Sistema cúbico 2 - Sistema hexagonal 3 - Sistema trigonal 4 - Sistema tetragonal 5 - Sistema ortorrômbico 6 - Sistema monoclínico 7 - Sistema triclínico Estes sistemas caracterizam-se: - pela presença indispensável de certos elementos de simetria - pela possibilidade de serem referidos a uma mesma cruz axial. A cruz axial, fundamental para a caracterização dos cristais, é o conjunto de eixos cristalográficos aos quais são referidas as faces dos cristais. Consideram-se, nesta cruz, 2 fatores: - inclinação mútua dos eixos - comprimento relativo dos eixos Por exemplo, a cruz axial do Sistema Cúbico caracteriza-se por possuir 3 eixos de comprimento igual e que possuem, entre si, ângulos de 90 graus. Cruzes axiais do Sistema Cúbico, do Sistema Tetragonal, dos Sistemas Hexagonal e Trigonal, do Sistema Ortorrômbico, do Sistema Monoclínico e do Sistema Triclínico. Devido à semelhança entre os 2 Sistemas, muitos livros apresentam o Sistema Trigonal como uma classe do Sistema Hexagonal. 20 Os Sistemas Cristalinos Nome do Sistema Número de eixos da cruz axial do sistema Inclinação relativa entre os eixos da cruz axial do sistema Comprimento relativo dos eixos da cruz axial do sistema Elementos de simetria indispensáveis do sistema Cúbico (ou Isométrico) 3 90o 90o 90o x = y = z 4E3 Hexagonal 4 90o 90o 120o x = y = z ≠≠≠≠ u E6 Trigonal (ou Romboédrico) 4 90o 90o 120o x = y = z ≠≠≠≠ u E3 Tetragonal (ou Quadrático) 3 90o 90o 90o x = y ≠≠≠≠ z E4 Ortorrômbico (ou Rômbico) 3 90o 90o 90o x ≠≠≠≠ y ≠≠≠≠ z 3E2 Monoclínico (ou Clinorrômbico) 3 90o ββββ 90o x ≠≠≠≠ y ≠≠≠≠ z E2 Triclínico (ou Anórtico) 3 αααα ββββ γγγγ x ≠≠≠≠ y ≠≠≠≠ z C 21 08. LEIS CRISTALOGRÁFICAS a) Lei da Constância dos Ângulos (Lei de Steno / Romé de l´Isle 1772) "Numa determinada espécie mineral, o ângulo diedro formado entre duas faces definidas (homólogas), independente das irregularidades de crescimento presentes, é sempre constante nos diferentes cristais de uma mesma espécie mineral". Em outras palavras, a igualdade dos ângulos permanece preservada nas variações de uma mesma forma cristalina, como no exemplo abaixo, de cristais de quartzo. Todos os quatro cristais possuem a mesma forma (um prisma hexagonal e dois romboedros trigonais), muda apenas o tamanho das faces individuais: Este ângulo é a única característica real da simetria cristalográfica. Uma face qualquer, portanto, é definida pela sua posição espacial e pode ser substituída por outra qualquer, paralela, uma vez que os ângulos entre faces adjacentes permanecem constantes. Esta Lei é aplicável a todas as propriedades direcionais, não somente às faces (clivagem, por exemplo). Quando as faces análogas de um cristal tiverem o mesmo desenvolvimento, tendo a mesma dimensão, diz-se que a forma resultante é regular. Se o crescimento dasfaces é perturbado, desenvolvendo-se algumas faces mais que as outras, fala-se em formas distorcidas. Mas, cristalograficamente, as duas formas são equivalentes, pois os ângulos diedros são iguais e a relação das distâncias a que as faces das duas formas cortam os eixos, são as mesmas. 22 b) Lei da Racionalidade dos Índices (Lei de Renée Haüy 1881) "Se tomarmos como eixos coordenados as arestas convergentes num vértice do cristal e considerarmos uma face que intercepte esses eixos, a relação entre os parâmetros desta face e os de outra face qualquer, possível ou existente, sempre será expressa por números inteiros, racionais e simples". Parâmetros da face ABC: OA, OB e OC Parâmetros da face A´B´C´: OA´, OB´ e OC´ OA/OA´ : OB/OB´ : OC/OC` = m, n, p. A face ABC determina intersecções sobre os 3 eixos coordenados, sendo arestas de um paralelepípedo primitivo. Como Haüy determinou experimentalmente, os parâmetros m, n e p são números inteiros, simples e pequenos e a relação entre eles é sempre simples e racional (Princípio dos Pequenos Números). 09. HOLOEDRIA E HEMIEDRIA Forma holoédrica é aquela que apresenta o grau de simetria máximo do sistema ao qual pertence. Forma hemiédrica é aquela que apresenta um número menor de faces que o sólido holoédrico correspondente. Portanto, as formas hemiédricas apresentarão simetria reduzida em relação às formas holoédricas de seu sistema. Assim, no sistema cúbico, há 5 classes. A classe da fluorita (ou hexaoctaédrica) possui a simetria máxima do sistema e é a classe holoédrica: 3E4 4E3 6E2 C 3P 6P´ As outras quatro classes apresentam simetria menor e são, portanto, as classes hemiédricas, como a classe da cuprita: 3E4 4E3 6E2. O octaedro da classe da fluorita será um sólido holoédrico e o tetraedro da classe da esfalerita será um sólido hemiédrico. Esta situação se repete em todos os outros sistemas: uma classe possui a simetria máxima e é chamada de holoédrica, as outras, de simetria menor, são as hemiédricas. Mesmo no Sistema Triclínico, onde há apenas um Centro de Simetria na classe holoédrica, existe uma classe hemiédrica de simetria menor: não tem simetria nenhuma, as formas são constituídas por pédions combinados. 23 10. GONIOMETRIA É a parte da Cristalografia que se ocupa da medição dos ângulos entre faces e arestas que os cristais apresentam. Constitui o ponto de partida para operaçòes cristalográficas como projeções, cálculo de constantes e pesquisa morfológica dos cristais. Goniômetro chama-se qualquer aparelho construído para medir ângulos - sejam cristalográficos, astronômicos, topográficos ou outros. A Goniometria foi uma técnica muito importante na Mineralogia durante muito tempo, tendo sido substituída nos últimos 50 anos, aproximadamente, pelos métodos analíticos modernos, muito mais precisos e cujos resultados substituem integralmente aqueles obtidos pela Goniometria. Existem os seguintes tipos de goniômetros: a) Goniômetros de Contato - de um círculo . - de dois círculos b) Goniômetros de Reflexão - de um círculo inventado por W. Wollaston em 1809, passou por aperfeiçoamentos sucessivos. Baseia- se no princípio da percepção sucessiva dos rais de luz refletidos nas faces de um cristal. Consiste de uma fonte de luz, uma ocular, uma platina horizontal com limbo (nônio) e um dispositivo de ajuste e centragem do cristal. O sinal de luz refletido chama-se sinal de Websky, homenagem a um cristalógrafo que aperfeiçoou o aparelho. Mas o uso deste tipo de Goniômetro é complicado e trabalhoso quando o cristal é pequeno (3 a 4 mm) ou quando possui um número elevado de faces (25 a 30). Nesses casos é destina-se a medir ângulos em cristais de tamanho maior. Embora não tenha precisão muito elevada, forneceu resultados muito satisfatórios. Um exemplo é o Goniômetro de Penfield. Consiste de um semicírculo com um limbo impresso (de 0 a 180º), em cujo centro pode-se girar um braço de celulóide transparente. Inventado por Caracgeot por 1783, serviu para trabalhos clássicos da Cristalografia. Podem ser metálicos, com braços deslocáveis para cristais muito grandes, e pontas afiadas para permitir o trabalho com faces situadas em concavidades. É mais usado para finalidades didáticas usado a partir de 1892, por Victor Goldschmidt, tem substituído os de um círculo. Sua vantagem é a maior rapidez. Consiste de um círculo horizontal, um círculo vertical, um aparelho de ajuste e um pé. Uma vez colocado o cristal, obtém-se a distância polar phi e a latitude rô. 24 necessário mudar várias vezes a posição do cristal, de tal maneira que as novas zonas a serem medidas interceptem uma ou duas zonas de faces já medidas. - de dois círculos c) Goniômetro de Raio X (ou de Weissenberg) Consiste de um dispositivo de fixação rotatório. O cristal gira tendo como envoltório um filme fotográfico, no qual são registrados os espectros. Seu uso é limitado porque requer um longo tempo de exposição, porque a interpretação das fotografias demora mais e porque um movimento mais preciso controlando seu filme requer aparelhos mais caros e sofisticados. d) Outros Goniômetros para medir cristais grandes para medir cristais pequenos para medir cristais a altas temperaturas para medir cristais a baixas temperaturas para preparar cristais lapidados e orientados para medir cristais na solução durante o crescimento. Uma coleção de magníficos goniômetros antigos pode ser visualizada em www.mineralogy.be Para evitar esta contínua mudança de posição, W. Miller, em 1874, criou este segundo tipo, aperfeiçoado depois por E. Fiódorov e por E. Flint. Consiste de um círculo vertical, um círculo horizontal, uma ocular, uma fonte de luz e um dispositivo para ajuste e centragem do cristal. São fáceis de instalar e conservam esta posição com exatidão. É que a instalação de um goniômetro de reflexão, seja de um ou de dois círculos, é bastante trabalhosa. Devendo-se evitar repeti-lo o quanto menos. Este tipo de goniômetro difundiu-se rapidamente a partir de 1893. 25 11. PROJEÇÕES CRISTALOGRÁFICAS Para representar os cristais foi necessário desenvolver uma sistemática própria, cuja essência consiste em mostrar um cristal tridimensional numa superfície plana bidimensional. Isso se chama “projeção de um cristal”. Há 4 tipos de projeções: A projeção esférica é usada para localizar as faces estritamente de acordo com suas relações angulares e sem consideração pelo tamanho ou configuração. A construção desta projeção pode ser imaginada da seguinte maneira: imaginemos um modelo oco de um cristal contendo uma fonte de luz brilhante. Dentro desde modelo se coloca a fonte de luz e o conjunto é colocado dentro de uma grande esfera oca, de tal modo que a fonte de luz fique no centro da esfera. Se fizermos agora um furo em cada centro de face, emergirá ali um raio de luz perpendicular à face, que cairá sobre a superfície interna da esfera, fazendo surgir ali pontos brilhantes (como no Planetário). Os pontos brilhantes serão os pólos das faces. Zona é um conjunto de faces paralelas a uma direção e esta direção é o eixo da zona. Veja a representaçãona próxima página. A projeção esférica representa as relações angulares essenciais entre as faces de um cristal e independe do tamanho das faces do mesmo. A projeção clinográfica é uma espécie de projeção em perspectiva que representa uma imagem semelhante a um retrato de um cristal em duas dimensões. É um desenho de perspectiva sem ponto de fuga, e é o melhor meio de representar um cristal para leigos. Ao lado você tem a projeção clinográfica de um cristal de magnetita (Fe3O4), que apresenta forma combinada cúbica: cubo {100} + octaedro {111} + rombododecaedro {110} + trapezoedro {hll}. Também podemos imaginar que a projeção de dá por "projetar esfericamente um cristal deslocando suas faces paralelamente a si mesmas até tangenciarem uma esfera, sendo este ponto de tangência denominado pólo da face" ("explodir o cristal até que contorne a esfera"). 26 A projeção estereográfica usa os conceitos de: - achatamento polar da esfera - longitude (meridianos, coordenada angular, colatitude rô) - latitude (paralelos, coordenada angular fi) - plano equatorial Quando um cartógrafo representa a superfície da Terra usando os conceitos acima, preocupa-se com a preservação das configurações e área tanto quanto em manter relações que possam ser reproduzidas entre pontos separados. Entretanto, para fazer o mapa das faces de um cristal, não estamos preocupados com a configuração ou com a área. Queremos, na realidade: - dispor da possibilidade de fazer cálculos a partir da projeção - recuperar da projeção os dados angulares usados quando foi feita - fazer desenhos de perspectiva do cristal com base na sua projeção. A projeção estereográfica surge da projeção, sobre o plano equatorial, de todos os pólos de faces determinadas através da projeção esférica. Podemos imaginar retas que unem os pólos do hemisfério norte com o pólo sul e vice versa. A interseção destas retas com o plano equatorial produz, ali, vários pontos que representam as faces do cristal neste plano equatorial. A rede estereográfica, também chamada de REDE DE WULFF, facilita grandemente a medição e a localização dos ângulos na projeção: os ângulos fi são determinados aonde uma linha reta, vinda do centro da projeção e passando pelo pólo da face, corta o primitivo, e os ângulos rô são diretamente lidos na rede, girando-se a projeção até que o pólo da face fique em um dos círculos máximos verticais (meridianos). O giro é feito em torno do centro, usando um papel transparente. A projeção gnomônica possui um plano de projeção tangente à esfera e o centro da esfera serve como ponto de partida para as projeções. As retas que unem o centro da esfera com os polos das faces se prolongam até o plano tangente sobre o qual se obtém a projeção gnomônica do cristal. 27 Diagrama de Wulff: Posição dos eixos da cruz axial no Diagrama de Wulff. A extremidade negativa do eixo z não é visível porque fica embaixo da extremidade positiva do eixo z, pois o eixo z está na vertical. 28 12. NOTAÇÕES CRISTALOGRÁFICAS Existem várias maneiras de representar os elementos de simetria dos cristais, como a Notação de Weiss, a Notação de Naumann e a Notação de Schoenflies, esta última usada em espectroscopia. A Notação Internacional é a Notação de Hermann-Maughin, que recebeu seu nome do cristalógrafo alemão Carl Hermann e do mineralogista francês Charles-Victor Maughin. Opera com os seguintes elementos: - eixos de rotação : "n" - são iguais aos eixos de simetria, mas só se menciona a ordem. Por exemplo: E6 = 6. - planos de reflexão : "m" - iguais aos planos de simetria. - eixos de inverso-rotação : x - são os eixos que operam rotação e inversão (ou de inversão) Na notação de Hermann-Mauguin há 4 combinações destes seus elementos de simetria que são usados: 1. eixo de rotação com plano perpendicular a ele : xm 2. eixo de rotação com plano que o contém : x/m 3. eixo de rotação com plano perpendicular e com plano que o contém : xm/m 4. eixo de inversão com plano que o contém : 3m Em três dimensões, existem 32 Grupos Pontos de Simetria: • 1, 1 • 2, m, 2⁄m • 222, mm2, mmm • 4,4, 4⁄m, 422, 4mm, 42m, 4⁄mmm • 3, 3, 32, 3m, 3m • 6, 6, 6⁄m, 622, 6mm, 62m, 6/mmm • 23, m3, 432, 43m, m3m Alguns exemplos de uso da notação de Hermann-Maughin: E3 3P = 3m E6 3E2 3E2 C P 3P 3P = 6/m 2/m 2/m E6 3E2 3E2 = 6 2 2 E2 E2 E2 C P P P = 2/m 2/m 2/m 3E2 4E3 C = 2/m -3 3E4 4E3 6E2 C 3P 6P = 4/m -3 2/m 29 A Notação de Miller será usada devido à sua simplicidade e seu caráter auto-explicativo. Baseia-se no fato de que, sendo quaisquer as duas faces relacionadas através da Lei de Haüy, obtêm-se sempre números racionais que comprovarão a Lei, mas que não caracterizarão face alguma. Em função disso, Miller propôs que se relacionassem todas as faces existentes a uma só, a face parametral unitária (face com parâmetros 1:1:1), assim obtendo índices fixos para cada face e índices diferentes para as diferentes faces. Através destes índices posicionaremos as faces no espaço. OA = 1 = OB = OC Parâmetros da face ABC : 1 1 1 OA/OA´ : OB/OB´ : OC/ OC´ = 1 / OA´ : 1/OB´ : 1/OC´ = h : k : l (Ìndices de Miller) Temos aqui 3 convenções: a) a ordem de chamada dos eixos cristalográficos sempre será x, y e z, quando tratarmos de um índice de determinada face. b) quando trabalhamos com índices literais, h > k > l. c) ao menor índice de Miller corresponde sempre o maior parâmetro (distância parametral) e vice versa: "l" será a menor, "k" será intermediário e "h" será o maior. Veja os sete exemplos abaixo, que ilustram as posições mais comuns das faces: 1º exemplo: hkl Face que intercepta os três eixos a distâncias diferentes 2º exemplo: hll: face que intercepta dois eixos à mesma distância da origem e um terceiro a uma distância menor. 3º exemplo: hhl face que intercepta dois eixos à mesma distância da origem e um terceiro a uma distância maior 30 4º exemplo: 111 face que intercepta os três eixos à mesma distância da origem; 5º exemplo: hk0 face que é paralela a um dos eixos e intercepta os outros dois a distâncias desiguais. 6º exemplo: 110 face que é paralela a um dos eixos e intercepta os outros dois a distâncias iguais. 7º exemplo: 100 face que intercepta apenas um dos três eixos e é paralela aos outros dois. 31 13. FORMAS CRISTALINAS Forma é um conjunto de faces que compõe o cristal. Em seu significado mais comum, o termo forma é usado paraindicar a aparência externa geral, mas na cristalografia esta aparência externa é indicada pela palavra hábito. Forma simples é um conjunto de faces equivalentes repetidas pelos elementos de simetria do cristal. Forma combinada é aquela formada por mais de uma forma simples. Forma aberta é um conjunto de faces que não limita espaço. Forma fechada é um conjunto de faces equivalentes que limitem uma porção do espaço. Assim, um cristal normalmente exibe diversas formas em combinação umas com as outras, mas pode ser apenas uma, desde que esta seja uma forma fechada. No caso de formas abertas, necessita- se pelo menos duas delas para formar o cristal, já que qualquer combinação de formas deve encerrar espaço. São formas abertas: 1. Pédion : uma face única 2. Pinacóide : duas faces paralelas 3. Domo : duas faces não paralelas simétricas em relação a um plano de simetria (“telhadinho”). 4. Esfenóide : duas faces não paralelas simétricas em relação a um eixo de simetria binário (“telhadinho torto”) 5. Prisma : forma composta por 3,4,6, 8 ou 12 faces, todas paralelas a um dos eixos, geralmente um dos eixos cristalográficas. 6. Pirâmide : forma composta por 3,4,6,8 ou 12 faces, simétricas a um mesmo eixo, geralmente um dos eixos cristalográficos. São formas fechadas: 1. Bisfenóide : forma de 4 faces, na qual duas faces do esfenóide superior se alternam com as do esfenóide inferior. 2. Bipirâmide : forma de 6,8,12,16 ou 24 faces, que podem ser consideradas como formadas por pirâmides mediante reflexão sobre um plano de simetria horizontal. 3. Escalenoedro : forma de 8 ou 12 faces, cada uma com a forma de um triângulo escaleno (apelido: “zig igual ao zag”). 4. Trapezoedro : forma com 6, 8 ou 12 faces, com forma de trapezóide (apelido: “zig diferente do zag”). 5. Romboedro : forma composta por 6 faces cujas arestas de interseção não formam ângulos retos entre si. É do sistema trigonal e parece um cubo deformado. 6. Todas as formas do sistema cúbico. 32 33 34 Exemplo de uma forma combinada do Sistema Tetragonal, com 4 formas simples: 35 14. O SISTEMA TETRAGONAL Não existe nenhum mineral importante e comum, formador de rocha, cristalizando neste sistema. Há, entretanto, alguns minerais conhecidos, principalmente o zircão, que você vai encontrar como mineral acessório em rochas ígneas plutônicas. Além disso, a apofilita e a vesuvianita. O Zircão é um silicato do grupo dos nesosilicatos, como as granadas e as olivinas. . A) Prisma de Primeira Ordem Prisma de Primeira Ordem Prisma de Segunda Ordem Encontrar um zircão com estas formas bem definidas é muito difícil, normalmente ele aparece, pequeno e anédrico em lâmina delgada ao microscópio. Dominam no Sistema Tetragonal os prismas, as bipirâmides, os pinacóides e algumas outras formas abertas e fechadas. 36 Bipiramide de Primeira Ordem Bipiramidade de Segunda Ordem No Sistema Tetragonal há 6 Classes de Simetria: - a classe holoédrica: Classe Bipiramidal Ditetragonal (o nome vem da forma com o maior número de faces desta classe, que é a bipirâmide ditetragonal, com 16 faces) - e as classes hemiédricas: Classe trapezoédrica tetragonal - E4 2E2 2E´2 (cristobalita) Classe escalenoédrica tetragonal - E2 2E2 2P´´ (o mineral mais conhecido desta classe é a calcopirita CuFeS2) Classe bipiramidal tetragonal - E4 C P (a scheelita e a wulfenita cristalizam nesta classe). Classe piramidal ditetragonal - E4 2P´ 2P´´ (só 5 minerais cristalizam nesta classe) Classe piramidal tetragonal - E4 (só 5 minerais cristalizam nesta classe) Classe bisfenoidal tetragonal - E2(4) (9 minerais cristalizam nesta classe, todos raros.) 37 Sistema Tetragonal Classe Bipiramidal Ditetragonal Simetria: _______________________________________ Formas: Prisma tetragonal de 1a ordem Prisma tetragonal de 2a ordem Prisma ditetragonal Formas: Bipirâmide tetragonal de 1a ordem Bipirâmide tetragonal de 2a ordem Bipirâmide ditetragonal Pinacóide 38 Classe Trapezoédrica Tetragonal Simetria: _________________________________ Formas: Trapezoedro tetragonal Trapezoedro tetragonal Classe Escalenoédrica Tetragonal: Simetria: _____________________________________ Formas: Escalenoedro tetragonal Bisfenóide tetragonal 20 minerais cristalizam nesta classe, como a cristobalita. 38 minerais cristalizam nesta classe, como a calcopirita. 39 15. O SISTEMA HEXAGONAL O representante mais famoso do Sistema Hexagonal é sem dúvida o berilo, um ciclosilicato, onde os tetraedros de silício e oxigênio formam anéis. É um importante minério do metal berílio. Mas, se verde, é a famosa esmeralda. Se azul, é a não menos famosa água marinha. Há muitas outras cores, como variedades douradas e ultimamente um berilo vermelho, com césio, lítio e manganês, de Madagascar, chamado de Pezzottaita, Água-marinha do Paquistão Esmeralda da Colômbia Uma forma combinada de berilo: 40 Sistema Hexagonal Classe Simetria: ________________________________________ Formas: Prisma hexagonal de 1ª ordem: Prisma hexagonal de 2ª ordem: Prisma dihexagonal: Formas: Pirâmide hexagonal de 1ª ordem: Pirâmide hexagonal de 2ª ordem: Pirâmide dihexagonal: Pinacóide: 41Sistema Hexagonal Classe Simetria: ___________________________________ Formas: Sistema Hexagonal Classe Simetria: ____________________________________ Formas: Demais formas singônicas às formas da classe holoédrica. Demais formas singônicas às formas da classe holoédrica. 42 16. O SISTEMA TRIGONAL Há três minerais famosos e comuns que vão nos servir de exemplo: calcita, quartzo e turmalina, que possuem uma série de características fascinantes. A calcita, por exemplo, apresenta 2400 formas diferentes, o quartzo possui uma longa história de coleta e aproveitamento e a turmalina alcança preços altíssimos no mercado internacional. A calcita, um mineral do grupo dos carbonatos com a composição CaCO3, possui como forma fundamental o romboedro, que possui mais de 80 formas com graus de “achatamento” diferentes. Variam desde formas aciculares (semelhantes a agulhas) até formas discóides: Aqui temos a representação das formas individuais que compõe um cristal de calcita de forma combinada. São : - 2 prismas hexagonais - 4 romboedros - 2 escalenoedros trigonais 43 Sistema Trigonal Classe Escalenoédrica Trigonal Simetria: ____________________________________ Formas: Romboedro Escalenoedro (existem mais de 200 escalenoedros de inclinações diferentes) Outras classes: Piramidal E3 (36 minerais cristalizam nesta classe) Romboédrica E3C (aqui há 75 minerais) Ditrigonal Piramidal E3 3P (aproximadamente 100 minerais estão aqui) Trapezoédrica E3 3E2 (uns 40 minerais ocorrem aqui, incluindo quartzo) 44 17. O SISTEMA CÚBICO Poucos minerais conhecidos e comuns cristalizam no Sistema Cúbico. Os mais comuns são os representantes do Grupo das Granadas, importantes minerais metamórficos. A Fluorita (CaF2) é outro mineral importante, um minério estratégico de flúor. Também a Halita (NaCl), o sal de cozinha. Entre os acessórios, a Magnetita (Fe2O3), a Galena (PbS) e a Pirita (FeS2). Mais raros, uma zeolita chamada Analcima e um feldspatóide chamado Leucita. E, para não deixar passar, o Diamante também cristaliza no Sistema Cúbico. Elementos de Simetria do Sistema Cúbico: Três planos principais, coincidindo com os eixos: Seis planos secundários, diagonais: Três eixos de ordem 4: Quatro eixos de ordem 3: Seis eixos de ordem 2: Fluorita em cubos 45 Sistema Cúbico Classe da Fluorita (CaF2) Simetria: _______________________________________ Formas: Cubo ou Hexaedro Octaedro Formas: Trioctaedro Hexaoctaedro 46 Classe da Fluorita (CaF2) (continuação) Simetria: _______________________________ Formas: Rombododecaedro Trapezoedro ou Icositrapezoedro trapezoidal Formas: Tetrahexaedro ou Cubo Piramidado 47 Sistema Cúbico Classe da Esfalerita (ZnS) Simetria: __________________________ Formas: Tetraedro Tritetraedro Formas: Hexatetraedro Deltóide-Dodecaedro 48 Sistema Cúbico Classe da Ullmanita (NiSbS) Simetria: _________________________________ Formas: Dodecaedro Pentagonal Tetraédrico (tetartoedro) Sistema Cúbico Classe da Pirita (FeS2) Simetria: ____________________________________ Formas: Didodecaedro (ou Diploedro) Pentagonododecaedro (ou Piritoedro) Sistema Cúbico Demais formas singônicas às formas da classe holoédrica 49 Classe da Cuprita (Cu2O) Simetria: _______________________________ Formas: Giroedro Positivo (ou icositetraedro pentagonal) Giroedro Negativo Demais formas singônicas às formas da classe holoédrica 50 18. O SISTEMA ORTORRÔMBICO Um grande número de minerais formadores de rocha cristaliza neste sistema como, por exemplo, os piroxênios ortorrômbicos (também chamados de ortopiroxênios). Desta maneira, as características deste sistema serão decisivas na observação destes minerais – macro e micro. Um bom exemplo de um mineral ortorrômbico é o topázio: Topázio do Paquistão Topázio de Thomas Range, USA Topázio de Ouro Preto, Minas Gerais. Formas dos topázios de Thomas Range, USA Neste sistema há três classes: A Classe Holoédrica - Classe Bipiramidal Rômbica : São quase 500 minerais catalogados nesta classe, com muitos minerais conhecidos e importantes. As Classes Hemiédricas : Classe Biesfenoidal Classe Piramidal 51 Sistema Ortorrômbico Classe ___________________________ Simetria: _____________________________ Prisma rômbico de 1a ordem Prisma rômbico de 2a ordem Prisma rômbico de 3a ordem Pinacóide frontal Pinacóide lateral Pinacóide basal Bipirâmide rômbica 52 Sistema Ortorrômbico Classe Biesfenoidal Simetria: _____________________________ Cristais de Epsomita, um sulfato de magnésio hidratado 53 Sistema Ortorrômbico Classe Piramdal Simetria:
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