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Matéria orgânica nem sempre fornece nitrogênio

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Matéria orgânica nem sempre fornece nitrogênio!
	
Dentre os efeitos favoráveis da adição de matéria orgânica ao solo, o fornecimento de nutrientes às plantas é um dos mais destacados (ver o artigo "A importância da matéria orgânica em áreas de pastagens", publicado em 26/05/02). A dinâmica da matéria orgânica no solo, no entanto, é bastante complexa. O nitrogênio, por exemplo, pode ser liberado ou indisponibilizado para as plantas, a depender das condições do ambiente e de características do material orgânico. A relação entre carbono e nitrogênio (C:N) tem sido um dos parâmetros mais utilizados para caracterizar o material orgânico, no entanto, outros compostos (ex: lignina; polifenóis) também parecem interferir na taxa de decomposição e de liberação de nutrientes. 
Monteiro et al. (2002) avaliaram a dinâmica de decomposição e mineralização de nitrogênio em material vegetal de gramíneas e leguminosas e tentaram correlacionar os resultados obtidos com algumas características dos materiais analisados. Os autores compararam resíduos de Brachiaria humidicola, Brachiaria brizantha, Arachis pintoi, Centrosema pubescens, Stilosanthes guianensis, Leucaena leucocephala e Desmodium ovalifolium. Considerando o período total (7 semanas), todos os resíduos apresentaram mineralização líquida de nitrogênio, sendo que esta foi maior no resíduo de A. Pintoi e menor nos de B. humidicola, B. Brizantha e S. Guianensis (Figura 1). Os resíduos de C. pubescens , L. Leucocephala e D. Ovalifolium apresentaram valores intermediários de mineralização (Figura 1). Os teores de polifenóis e a capacidade destes em complexarem proteínas foram, dentre os parâmetros avaliados, os que mais afetaram os processos de decomposição e mineralização líquida de nitrogênio.
Figura 1: Mineralização e imobilização líquida de N (mg/kg N) expressa pela variação nos teores de N inorgânico (NH4+ + NO3-), entre duas amostragens subsequentes, ao longo de sete semanas de incubação do solo (S1, S2, S3, S4, S5, S6 e S7) com os diferentes resíduos.
Comentário dos autores: Apesar da matéria orgânica exercer grande influência sobre o potencial produtivo do solo, suas características ainda são pouco conhecidas. O desenvolvimento de estudos que auxiliem na caracterização da matéria orgânica do solo e na determinação da dinâmica de decomposição dos resíduos orgânicos irá auxiliar em muito no planejamento de práticas como, por exemplo, a adubação nitrogenada. De modo geral, os minerais do solo não apresentam nitrogênio em sua composição, sendo a matéria orgânica a principal fonte natural deste nutriente para as plantas. Estudos envolvendo a adubação nitrogenada muitas vezes não apresentam os resultados esperados devido à influência da matéria orgânica no sistema. No entanto, o conhecimento existente sobre este componente do solo ainda não é suficiente para explicar os resultados obtidos.
	Adubação com nitrogênio pode ser reduzida ao longo dos anos
	
A intensificação do uso de pastagens em sistemas de produção animal reduz a pressão pela abertura de novas áreas e o potencial de desflorestamento, aumentando a possibilidade de preservação ambiental. Pode ainda tornar a pecuária mais competitiva diante de outras alternativas de uso do solo, especialmente nas regiões de terras mais valorizadas como a Sudeste.
A adubação nitrogenada é uma das principais técnicas utilizadas para a intensificação do uso de pastagens tropicais. Primavesi et al. (2008) desenvolveram um estudo para determinar a quantidade de nitrogênio a ser utilizada para alcançar elevada produtividade de forragem em pastagem de capim-braquiária (Brachiaria decumbens). O experimento foi realizado em área de capim-braquiária formada há 25 anos em solo do tipo latossolo vermelho-amarelo distrófico. Foram testadas as combinações entre duas fontes e duas doses de nitrogênio e duas doses de calcário. As doses anuais de N para máxima produção de forragem foram estimadas em 662 kg/ha (132 kg/ha por aplicação de N), 553 kh/ha (111 kg/ha por aplicação de N) e 467 kg/ha (94 kg/ha por aplicação de N), no primeiro, segundo e terceiro ano, respectivamente (Primavesi et al., 2008). 
Com base nestes resultados, os autores concluíram que há uma redução de 10 a 15% na necessidade de aplicação anual de nitrogênio, com estabilização da dose após cerca de 7 anos de adubação intensiva (Gráfico 1).
Gráfico 1. Curva de decréscimo de necessidade de N ao longo dos anos em pastagem de Brachiaria decumbens. A equação linear sugere a possibilidade de redução anual de 98 kg/ha de N (ou 19,5 kg/ha por aplicação de N), ao longo de 6,2 anos (equação quadrática), para se manter a produção máxima.
Com base nos resultados obtidos, Primavesi et al. (2008) recomendam a aplicação de 100 kg/ha de N, por período de pastejo nos primeiros dois anos. No anos seguintes, os autores sugerem que a dose de nitrogênio seja reduzida em 10% ao ano, até o sétimo ano. Os autores recomendam ainda que seja feita a análise dos teores de nitrogênio na forragem; valores acima de 20 a 24 mg/kg de nitrogênio indicariam a necessidade de redução da dosagem de nitrogênio e valores abaixo, a necessidade de manter a dose do ano anterior.
Comentário: Áreas de pastagem extensivas, de modo geral, apresentam baixos teores de matéria orgânica no solo. Com a adubação e ajuste do manejo, inicia-se um processo de recuperação das propriedades físicas e químicas do solo, inclusive com o aumento dos teores de matéria orgânica. A redução da necessidade de aplicação de nitrogênio ao longo dos anos pode ser decorrente da intensa imobilização inicial de nitrogênio pela biomassa microbiana e sua posterior liberação, após a estabilização do nível de matéria orgânica do solo. Os resultados obtidos por Primavesi et al. (2008) mostram que as doses de aplicação de nitrogênio podem ser reduzidas ao longo dos anos. Novos estudos com outras espécies e por períodos mais longos são necessários para se confirmar as recomendações dos autores.

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