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Da personalidade e da capacidade

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Direito Civil I – 2012 - Prof. Robson Moraes dos Santos
DAS PESSOAS NATURAIS
Da personalidade e da capacidade (artigos 1º e 2º do Código Civil)
	Segundo a doutrina pátria, persona ou pessoa tem sua origem descrita na figura de uma máscara utilizada por atores dos teatros romanos, a qual tinha a propriedade de ressoar as palavras por eles ditas, a fim de que fossem ouvidas pelos transeuntes que apreciavam o espetáculo (homo plures personae sustinet).
	O saudoso Washington de Barros Monteiro, eminente civilista ao lado de outro monumento jurídico como Silvio Rodrigues, assentava que a expressão “pessoa” é composta de três acepções. A vulgar, como ser humano; a filosófica, como ente dotado de razão com um objetivo moral e a jurídica, como ente suscetível de direitos e obrigações, ou seja, é a entidade dotada de personalidade à qual o ordenamento confere direitos e obrigações.
	Já para Roberto Senise Lisboa, a pessoa pode ser: a) físcia ou moral, que é o ser humano; e b) jurídica ou moral, que é a entidade constituída pela vontade humana para determinado objetivo.
	Pois bem, o novel código ao dispor sobre a capacidade civil da pessoa, apresenta em seu artigo 1º uma inovação de aspecto lingüístico, visto que o CC/16 dispunha que todo “homem” tinha capacidade de direitos e obrigações na ordem civil. Assim, atendendo aos reclamos da Constituição Federal de 1988, que proibiu haver discriminações entre homens e mulheres, bem como propiciou a isonomia entre as pessoas físicas e jurídicas, assentou que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”.
	Vê-se, portanto, que já era finda a controvérsia inserta no referido artigo, posto que todo ser humano possui a chamada capacidade de direito, isto é, a aptidão para contrair obrigações (deveres) e de ser sujeito de direitos na seara civil.
	Com efeito, pois, o aludido dispositivo anuncia a personalidade jurídica, declarando que toda pessoa é dotada de personalidade civil, ou seja, tem capacitação para integrar uma relação jurídica.
	Entretanto, antes de adentrarmos no que vem a ser personalidade, necessário é discorrermos sobre o início da existência da pessoa física. Pois bem, o início dá-se com o nascimento com vida; contudo, para que haja nascimento com vida, impõe-se a necessária e completa separação do novo ser com o de sua genitora, que se dá através do rompimento do cordão umbilical, passando o neonato a respirar de forma independente. Ademais, pouco importa se o neonato, por infortúnio, venha a falecer logo depois ao seu nascimento, visto que o sistema jurídico pátrio não exige a viabilidade, como determinava o direito romano, para fins de reconhecimento da personalidade do recém-nascido. Logo, no caso do natimorto (não houve nascimento com vida) não se iniciou a existência da pessoa física em qualquer momento.
	Procedido ao intróito sobre o nascimento com vida, que na verdade faz iniciar a personalidade civil, vamos examinar as expressões personalidade, capacidade e legitimação.
	O Cultor Senise Lisboa, bem explica as aludidas expressões. Vejamos.
	‘Diferencia-se a personalidade da capacidade. Conforme anteriormente mencionado, personalidade é atributo do sujeito, inerente à sua natureza, desde o início de sua existência. Capacidade é a aptidão para o exercício de atos e negócios jurídicos. (...) Não se confunde a personalidade ou a capacidade com a legitimação. Legitimação é autorização legal para a prática de um ato ou negócio jurídico’.
	A doutrina clássica apresenta duas espécies de capacidade, examinemo-las.
	A primeira, que diz respeito a capacidade de fato ou de exercício, apresenta-se no sentido de que toda pessoa que, por si própria, de acordo com os critérios definidos pelo legislador (idade, estado psíquico e aculturação), possuir discernimento ou aptidão para a realização de atos e negócios jurídicos é considerada capaz.
	Por sua vez, a segunda espécie apontada é a capacidade de direito ou de gozo, a qual dispõe que todos os sujeitos possuem desde o início de sua existência, posto que é inerente à personalidade humana.
	Examinando ambas as espécies, verificamos que a primeira pressupõe a segunda, visto que não se concebe capacidade sem personalidade.
	De outro norte, não podemos confundir a personalidade ou a capacidade com a legitimação. Observamos nas definições ut supra que elas são diferentes.
	É que, em princípio, toda pessoa se encontra legitimada para adquirir direitos por si ou através de seu representante. Todavia, a legislação impede que algumas pessoas, em determinadas situações, possam fazer parte de uma relação jurídica que lhes colocariam em uma situação mais favorável. Exemplo disso ocorre quando o tutor não pode comprar bens do tutelado. 
Observação:
A personalidade decorre da existência humana, é inerente a esta, não podendo dela dissociar-se, bastando o nascimento com vida para que seja adquirida, e mantenha-se com o ser humano até que surja uma causa de extinção. Basta nascer com vida para ter personalidade, porém a capacidade depende de requisitos, sem os quais o ser humano fica restrito ou proibido de praticar alguns ou todos os atos da vida civil.
Da incapacidade.
	Ensinam-nos os doutrinadores que sobre a incapacidade é necessário ressaltar que não existe no direito pátrio a chamada incapacidade de direito, pois os seres humanos ao nascerem são capazes de adquirir direitos e contrair obrigações (lembrar dos comentários sobre a personalidade da aula anterior, vimos que a capacidade pode ser de fato ou de exercício e de gozo ou de direito).
	Os artigos 3º e 4º, que estudaremos agora, referem-se a capacidade de fato ou de exercício, posto que o legislador adotou basicamente quatro critérios para determinação da capacidade, quais sejam, a idade, a integridade psíquica, a aculturação e a localização da pessoa.
	Pois bem, incapacidade é a restrição ou proibição legal ao exercício dos atos da vida civil. Infere-se, pois, que os incapazes possuem direitos, mas não podem exercê-los direta e pessoalmente (devemos buscar interpretar de maneira excepcional, uma vez que a capacidade deve ser considerada como regra geral).
	O critério de idade, de acordo com o qual, somente o ser humano maior de dezoito anos é considerado plenamente capaz perante a lei civil.
Interessante: o direito romano adotava dois períodos referentes à idade cronológica, a saber, o anterior à puberdade (prima aetas – se subdividia em duas etapas: a infância, até os sete anos, para ambos os sexos; e a puerícia) que se encerrava aos doze anos, para a mulher, e aos catorze, para o home; e o posterior à puberdade, reconhecido formalmente através de uma cerimônia realizada anualmente, na qual se despia o indivíduo de uma roupa bordada de púrpura chamada praetexta, passando a vestir a toga virilis (a puberdade não é atualmente considerado critério válido para se fixar o limite da incapacidade). 
	O critério da integridade psíquica, de acordo com o qual algumas pessoas com atitudes anormais ou atípicas à normalidade social não possuem a plena capacidade civil (princípio da razoabilidade), como no caso dos portadores de enfermidade ou retardo mental que não tiverem o necessário discernimento para a prática de atos jurídicos, bem assim os pródigos, os que ainda que por motivo transitório, não puderem exprimir a sua vontade, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo e os que, por fraqueza mental, têm o discernimento reduzido.
	O critério da aculturação à civilização colonizadora, uma que não há o que falar em capacidade para o exercício do direito, por parte de quem não possui grau suficiente de civilidade, nos moldes concebidos pela sociedade. Exemplo disso, o silvícola não aculturado à civilização, cuja capacidade deve ser fixada conforme a legislação especial.
	E, por último, o critério da localização do indivíduo, segundo o qual desaparecimento do sujeito que possuibens e negócios sucessíveis a herdeiros enseja a necessidade de nomeação de pessoa plenamente capaz para geri-los, até que se determine a sucessão patrimonial em prol dos beneficiários, nos termos da lei.
Incapacidade absoluta
Artigo 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessários discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
	Ensina o saudoso Professor Silvio Rodrigues que “os absolutamente incapazes são aqueles que têm a sua vontade desprezada pelo direito”.
	Neste diapasão, a incapacidade absoluta é a total proibição do exercício do direito pelo incapaz. E violar esta proibição faz acarretar a nulidade do ato praticado. Os atos, por sua vez, devem ser praticados por um representante legal. Exemplo de fácil compreensão acontece quando o contrato assinado pelo absolutamente incapaz, sem a devida representação é nulificado.
	Bom. Examinando o artigo 3º, frente ao artigo correspondente do Código Civil de 1916, observamos algumas modificações relevantes do ponto de vista jurídico. A saber:
a) os menores de 16 anos – o antigo codex, ao tratar da incapacidade absoluta, considerou, como critério etário, a idade de até 16 anos, no que não foi modificado pela novel código.
Interessante: verifica-se que, até esta idade, o menor não possui necessário discernimento, não tem desenvolvimento completo a ponto de permitir-lhe atuar na vida jurídica. Por tal motivo, para que sejam considerados válidos os atos da vida civil, necessitam ser representados pelo pai, mãe ou por um tutor (no caso de ausência ou impossibilidade dos dois primeiros).
b) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessários discernimento para a prática desses atos – neste ponto o novel código apresenta nova estrutura ao incluir a enfermidade ou deficiência mental que impeça ou comprometa a livre manifestação da vontade na realização de um ato jurídico, ao passo que a legislação anterior referia-se tão somente aos casos de loucos de todo gênero.
Interessante: a enfermidade ou doença pode ser permanente, duradoura, transitória, passageira e, também, é interrompida por intervalos de lucidez, ainda assim podendo dar causa à incapacidade.
c) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade – novamente o atual código propicia maior amplitude, abrindo um leque para abranger qualquer causa que possa a impedir a pessoa exprimir a sua vontade. 
Interessante: é importante realçar que este inciso não abrange os casos previstos no inciso imediatamente anterior, que estão relacionados a enfermidades ou problema mental, pois este inciso refere-se a estados não-ligados a uma doença ou enfermidade, mas a qualquer outra causa.
Incapacidade relativa
Artigo 4. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
	É a proibição de praticar atos da vida civil, sem que seja o relativamente incapaz assistido por quem de direito. Eventual violação acarretará a anulabilidade do ato praticado.
Interessante: dependendo da causa da incapacidade, alguns atos podem ser praticados pelo relativamente incapaz, sem a necessidade de assistência, como ser testemunha (artigo 228, I), aceitar mandato (artigo 666), fazer testamento (artigo 1.860, parágrafo único), exercer empregos públicos (artigo 5º, parágrafo único, III), casar (artigo 1.517) desde que autorizado, ser eleitor, celebrar contrato de trabalho etc...
	Com o advento da nova lei, sensíveis foram as modificações, a saber:
a) menores de 18 anos e maiores de 16 anos – de imediato vê-se que a diminuição da incapacidade, no que se refere ao aspecto etário, que era de 21 anos, passa a ser de 18 anos. Pacificou-se, então, a maioridade civil e penal, afastando algumas divergências doutrinárias e jurisprudenciais.
Interessante: eventuais práticas de atos pelos menores relativamente incapazes, sem as devidas assistências, tornam os atos jurídicos anuláveis (artigo 171); todavia, por se tratar de anulabilidade, e não nulidade, a lei civil prevê casos em que o ato praticado pode ser ratificado ou confirmado.
b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido – o presente inciso inova ao particularizar os casos de embriaguez patológica e de toxicômanos, os quais estavam enquadrados na legislação anterior, segundo o grau da doença, na incapacidade absoluta ou relativa.
Interessante_1: os usuários eventuais de substancias alcoólicas ou psicotrópicas (drogas em geral), que por efeito transitório ficarem impedidos de exprimir plenamente a sua vontade, estão incluídos no rol dos absolutamente incapazes (artigo 3º, III), não se enquadrando neste inciso.
Interessante_2: é importante frisar que a intenção do legislador foi de abranger todos os casos, sem se ater a critérios taxativos. Desse modo, de acordo com a circunstância, qualquer evento pode originar uma incapacidade absoluta ou relativa.
c) Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo – neste ponto o novo código foi mais amplo, pois inseriu não somente os surdos-mudos, mas todos os excepcionais sem desenvolvimento completo. Verifica-se que condicionou a incapacidade absoluta ao desenvolvimento incompleto, motivo porque aqueles que conseguirem se adaptar ao meio, estarão excluídos do rol, contudo, necessário é haver processo de interdição.
d) Os pródigos – que são aqueles que dissipam o patrimônio, dilapidando-o desvairada e descontroladamente. Esta incapacidade diz respeito ao aspecto patrimonial, no qual ficam submetidos à curatela. Eventual processo de interdição declarará a incapacidade do pródigo.
e) Os silvícolas – estes eram considerados relativamente incapazes, de acordo com o seu grau de adaptação à sociedade. Agora, deixam de ser regulados, no aspecto da capacidade, pelo código civil, ficando sob a tutela de legislação específica, que definirá a matéria relativa à capacidade.
Considerações finais: As incapacidades absoluta e relativa são supridas pela representação e pela assistência (artigo 1.634, V). Na representação, o incapaz não participa do ato, que é realizado unicamente pelo seu representante. Na assistência, o incapaz pratica o ato, porém acompanhado, isto é, assistido pelo seu representante.
	INCAPACIDADE ABSOLUTA
	INCAPACIDADE RELATIVA
	Supre-se pela representação
	Supre-se pela assistência
	Torna nulo o ato praticado
	Torna anulável o ato praticado
Cessação da Incapacidade
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
	A regra geral sobre a extinção da incapacidade é que este é interrompida quando cessar a sua causa. É o que alguns doutrinadores dizem quando a incapacidade deixa de existir com o término de sua causa geradora. Desse modo, a incapacidade pela menoridade interromper-se-áquando o menor atingir a maioridade. De outro lado, em se tratando de incapacidade decorrente de moléstia mental esta cessará com a conseqüente recuperação do interdito ou interditado.
	Mais uma vez lembrando, e nunca é demais, a incapacidade por idade, no novel código, cessa aos dezoito anos, visto que se presume que a pessoa, a partir de então, é capaz de exercer atos e negócios jurídicos. E a por deficiência da integridade psíquica cessa com o fim da respectiva doença.
	Entrementes, há no Código Civil hipóteses outras em que o término da incapacidade dos menores pode ser antecipado, por meio voluntário, judicial ou legal, fazendo com que o menor atinja a plena capacidade civil antes de completar os dezoito anos. Dentre os casos de cessação da incapacidade civil, destaca-se a emancipação.
	A emancipação é a declaração irrevogável de maioridade civil. Logo, verifica-se que não se refere a todos os incapazes, mas tão-somente aos que a causa da incapacidade seja a menoridade.
	Pois bem, pela emancipação sucede a isenção irrevogável do poder familiar sobre o menor, decorrente da vontade de quem o detém (emancipação expressa), ou da lei (emancipação tácita).
	A emancipação expressa, também conhecida como voluntária, deve ser concedida por ambos os pais e, quando um deles não tiver condições de exprimir sua vontade, ainda que transitoriamente, por apenas um deles. Explica-se, é concedida pelos pais, e o menor já contar com dezesseis anos completos, independendo de qualquer pronunciamento judicial, a não ser por motivo relevante, como a ausência de um dos pais, ou por divergências entre estes, caso em que será preciso levar ao conhecimento do Juiz. Importante, ainda lembrar, é que deve ser realizada através de instrumento público, a fim de ser inscrita no registro civil.
	Em havendo a necessidade de ser concedida por sentença, chamar-se-á de judicial. Nesta o juiz de direito determinará o encaminhamento da sentença ao cartório, que providenciará a transcrição.
	A emancipação tácita ou legal decorre do enquadramento em determinadas hipóteses previstas em lei, como o casamento (união solene entre pessoas de sexo oposto para a constituição de uma família, mediante inscrição no registro civil), o exercício de emprego público efetivo (não abrange o cargo comissionado ou eventual, como o diarista), a colação de grau em curso superior (é de difícil praticidade, levando-se em conta que uma pessoa normalmente ingressa no ensino fundamental aos sete anos e termina o segundo grau aos dezessete anos), o estabelecimento civil ou comercial com economia própria (desde que o menor, nas referidas hipótese, já conte com dezesseis anos de idade, e pelo vínculo laboral). Estes casos aqui referidos, proporcionam ao menor obter, independentemente de registro ou apreciação do juiz, a emancipação.
	Contudo, em havendo a necessidade do registro de emancipação este deverá conter os seguintes elementos: nome, prenome (ou sobrenome dos pais), idade, filiação, profissão, naturalidade (local onde nasceu) e domicílio dos pais ou do tutor (no caso de emancipação judicial); e a data do registro e da emancipação.
Importante quadro sinótico para fixação das aulas 1, 2 e 3:
	INCAPACIDADE ABSOLUTA
	INCAPACIDADE RELATIVA
	Menor de 16 anos
	Menor de 18 anos e maior de 16 anos
	Loucura
	Pródigo
	Surdo-mudo sem vontade válida
	Silvícola
	Ausente
	Toxicômano
	Toxicômano
	Psicopata
	Psicopata
	Assistência
	Representação
	
	Absolutamente incapaz
	Relativamente incapaz
	ATO PRATICADO POR
	EFICÁCIA DO ATO
	Absolutamente incapaz
	Ex tunc
	Relativamente incapaz
	Ex nun
Extinção da personalidade natural
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
	Ao examinarmos os dispositivos acima transcritos, observamos que a personalidade natural do ser humano chega ao seu fim através da morte real, que poderá dar-se de forma simultânea (chamada comoriência), isto é, em razão de duas pessoas que, ligadas por um vínculo jurídico, falecem na mesma ocasião.
	Pois é, a morte faz cessar a personalidade jurídica, fazendo acarretar a dissolução do vínculo matrimonial, do poder familiar (conhecido anteriormente como pátrio poder, tal nomenclatura ainda persiste por exemplo no Estatuto da Criança e do Adolescente), de direitos pessoais (no que tange aos contratos personalíssimos), de alimentos e etc...
	Sob este prisma, infere-se que o artigo 6º do Código Civil, prevê a morte real que, por sua vez, é provada pela certidão de óbito ou em caso de desastre e não logrado êxito na localização do corpo, pela justificação.
	A morte simultânea, também denominada comoriência, encontra guarida no artigo 8º, que cuidadosamente prevê a hipótese de dois indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo constatar qual deles precedeu o outro, fazendo, desta forma, presumir terem falecido simultaneamente. Esta questão tem muita relevância para fins sucessórios, posto que se a morte é conjunta, os comorientes não são herdeiros uns dos outros, não havendo transferência de direitos e, por conseguinte, não se falando em sucessão, motivo pelo qual serão chamados os herdeiros de cada um dos comorientes para suceder.
Obs.1. Não se preocupem com as questões sobre herança, sucessão, inventário pois no momento oportuno vocês serão orientados (últimos semestres antes da conclusão do curso).
Obs.2. A morte civil, bastante utilizada em ordenamentos jurídicos anteriores, era reservada para os escravos e outros indivíduos considerados “coisas”, res. Entretanto, ainda há resquícios de morte civil no artigo 1.816, o qual trata da exclusão do herdeiro por indignidade, em que este é considerado morto para efeitos sucessórios.
	Finalmente, há que se comentar o artigo 7º, que trata, em caso de ausência, da morte presumida. Contudo, tal artigo propicia declarar-se a morte presumidamente, sem decretação de ausência, nos seguintes casos: a) se provável, de forma extrema, a morte de quem estava em perigo de vida; e b) se alguém estiver desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
	Importante ressaltar que se condiciona tal declaração ao esgotamento de todas as buscas e averiguações, devendo a decisão judicial (neste caso, a sentença) indicar a data provável do falecimento.
	Com isso, acadêmicos encerramos a presente aula, espero que tenham recobrado os ensinamentos dos professores da graduação, posto que a matéria é muito importante. 
	A atividade consiste na realização do seguinte questionário.
1. Qual o significado jurídico da palavra pessoa?
2. O que é pessoa natural?
3. O que é personalidade jurídica?
4. Quando se inicia e quando termina a personalidade jurídica?
5. O que é nascituro e como são protegidos os seus direitos?
6. O que se entende por morte?
7. O que é morte simultânea ou comoriência?
8. O que se entende por capacidade jurídica?
9. O que se entende por legitimidade?
10. O que se entende por incapacidade? Qual a sua classificação?
11. Qual a diferença entre representação e assistência?
12. O que significa emancipação e quais são as suas formas?
	O importante é ler e refletirsobre o que foi apresentado. Lembre-se que a matéria será utilizada para a sua vida, seja ou não operador (intérprete) do direito.
	
Dos direitos da personalidade
1. Introdução.
	A doutrina civilista assenta que a previsão expressa no Código Civil de um capítulo dedicado aos direitos de personalidade parte do princípio de que o ser humano ostenta, em sua existência, elementos materiais ou patrimoniais, com valor econômico imediato, mas também um conjunto de elementos desprovidos de conteúdo econômico direto, motivo pelo qual o patrimônio de uma pessoa compreenderia não somente bens suscetíveis de apreciação econômica, mas outros que não possuem tal projeção.
	Entretanto, é bom lembrar que o fato de somente com novel código terem sido expressamente citados os direitos que examinaremos não implica dizer que não eram amparados em momentos jurídicos anteriores. Até porque estes direitos são contemplados e amparados de forma exemplificativa no próprio texto constitucional e em legislações internacionais. A título de exemplo podemos nominá-los como instrumentos jurídicos específicos (garantias constitucionais) de proteção, como o habeas corpus, instrumento de proteção ao direito de liberdade, e o mandado de segurança (mandamus), como instrumento protetor de direito líqüido e certo.
2. Conceito.
	Direitos da personalidade são os atributos inerentes à própria condição humana, ou de outro lado, aqueles que não possuem conteúdo econômico imediato e não se destacam da pessoa de seu titular, por serem inerentes ao ser humano e ligados a este de maneira perpétua.
	Sustenta com muita propriedade o doutrinador Renan Lotufo, que os direitos da personalidade são o mínimo imprescindível para o ser humano desenvolver-se dignamente, até porque se trata, em rigor, do patrimônio mínimo da pessoa.
3. Classificação.
	Podem ser classificados da seguinte forma:
direito à integridade física: 1) direito à vida e aos alimentos; 2) direito sobre o próprio corpo, vivo; 3) direito sobre o próprio corpo, morto; 4) direito sobre o corpo alheio, vivo; 5) direito sobre o corpo alheio, morto; 6) direito sobre as partes separadas do corpo, vivo; 7) direito sobre partes separadas do corpo, morto.
Direito à integridade intelectual: 1) direito à liberdade de pensamento; 2) direito pessoal do autor científico; 3) direito pessoal do autor artístico; 4) direito pessoal do inventor.
Direito à integridade moral: 1) direito à liberdade civil, política e religiosa; 2) direito à honra; 3) direito à honorificência; 4) direito ao recato; 5) direito ao segredo pessoal, doméstico e profissional; 6) direito à imagem; 7) direito à identidade pessoal, familiar e social. 
	Importante ressaltar que do ponto de vista do direito público, alguns desses direitos integram as chamadas liberdades públicas clássicas, pois protegem o homem enquanto pessoa humana, limitando o arbítrio do Estado.
	Com efeito, imprescindível que os direitos acima classificados também devem ser analisados sob a ótica do direito privado, razão porque o atual código civil merece, sem sombras de dúvidas, aplausos por ter disciplinado o assunto, estipulando proibições e garantindo o ressarcimento de danos que porventura sejam causados.
4. Caracteres.
	Analisando os itens anteriores, podemos concluir que os direitos da personalidade são absolutos (porque oponíveis erga omnes, i.e. devem ser respeitados por todas as pessoas, independentemente de qualquer relação jurídica anterior), extrapatrimoniais (porque incidem sobre bens jurídicos insuscetíveis de avaliação pecuniária – entretanto, alguns desses direitos, como exemplo, à imagem de uma pessoa famosa, podem ser mensurados economicamente de acordo com os critérios estabelecidos por publicitários, anunciantes e meios de comunicação de massa – logo, observa-se que, conquanto a regra seja a existência de direitos à personalidade extrapatrimoniais, excepcionalmente depara-se com alguns patrimoniais), intransmissíveis (porque inerentes à própria pessoa – assim, enquanto os direitos patrimoniais, como a propriedade, podem ser separados da pessoa de seu titular, mediante alienação do bem, os direitos da personalidade não ser destacados da pessoa que os titulariza; todavia, não se deve confundir a intransmissibilidade com o direito do sucedido, em vida ou após o falecimento, nestes casos admitindo-se, inclusive, que a lei torne um direito indisponível, transmissível, como, por exemplo, o direito à imagem, pelo menos no que diz respeito à sua defesa. A titularidade dos filhos para defender a imagem paterna é exemplo de transmissibilidade de um direito indisponível), indisponíveis (porque o seu exercício não pode ser cedido nem limitado pela vontade da pessoa – jamais poderão ser penhorados ou transmitidos por ato inter vivos ou causa mortis), vitalícios (porque os direitos da personalidade acompanham a pessoa por toda a vida), irrenunciáveis (porque a pessoa não pode abdicar desses direitos da personalidade – a eventual renúncia será nula) e imprescritíveis (porque o direito da personalidade, com o passar do tempo, não pode se convalidar, de modo que a qualquer tempo será cabível a ação judicial destinada a fazer cessar a ameaça ou lesão a direito da personalidade – a imprescritibilidade emana do fato de esses direitos serem irrenunciáveis).
Da proteção dos direitos da personalidade
	Ensina o Professor Carlos Roberto Gonçalves que “o respeito à dignidade humana encontra-se em primeiro plano, entre os fundamentos constitucionais pelos quais se orienta o ordenamento jurídico brasileiro na defesa dos direitos da personalidade (CF, art. 1º, III)”.
	Com base na sapiência do aludido cultor do direito, comentando a previsão expressa no artigo 12 e parágrafo único, do Código Civil, entende-se imprescindível transcrever algumas considerações a respeito do presente tema.
	Vejamos.
	“Como se observa, destinam-se os direitos da personalidade a resguardar a dignidade humana, por meio de medidas judiciais adequadas , que devem ser ajuizadas pelo ofendido ou pelo lesado indireto. Estas podem ser de natureza preventiva, cautelar, objetivando suspender os atos que ofendam a integridade física intelectual e moral, ajuizando-se em seguida a ação principal, ou de natureza cominatória, com fundamento nos arts. 287m 461 e 644 do Código de Processo Civil, destinadas a evitar a concretização da ameaça de lesão.
	Pode também ser movida desde logo a ação de indenização por danos materiais e morais, de natureza repressiva, com pedido de antecipação de tutela, com tem sido admitido. Em ação movida contra administradora de plano de saúde, que se negava a autorizar tratamento médico-hospitalar do associado, decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo: ´ Nos casos de urgência urgentíssima, em que o julgador é posto ante a alternativa de prover ou perecer o direito que no momento apresenta-se apenas provável, ou confortado com prova de simples verossimilhança, se o índice de plausibilidade do direito for suficientemente consistente, entre permitir irremediável destruição ou tutelá-lo como simples aparência, esta última solução torna-se perfeitamente legítima’.
	Em caso símile, em que foi alegada exclusão de cobertura, concedeu o mesmo Tribunal a pretendida antecipação de tutela para que a paciente pudesse realizar transplante autólogo, ante diagnóstico de mal conhecido com doença de Hodgkin, por considerá-lo meio terapêutico necessário para consecução de quimioterapia autorizada pela ré, havendo verossimilhança do alegado e perigo de dano irreparável.
	A violação do direito da personalidade que causa dano à pessoa acarreta, pois, a responsabilidade civil extracontratual do agente, decorrente da prática do ato ilícito. O direito subjetivo à sua reparação é interpretado de acordo com os ditames constitucionais, pois a responsabilidade pela violação do direito de personalidade não permanece exclusivamente no nível civil.
	Pode-se afirmar que, além do próprioofendido, quando este sofre o gravame, poderão reclamar a reparação do dano, dentre outros, seus herdeiros, seu cônjuge ou companheira e os membros de sua família a ela ligados afetivamente, provando o nexo de causalidade, o prejuízo e a culpa, quando não se tratar de hipótese de culpa presumida ou de responsabilidade independente de culpa”.
	Com efeito, infere-se que aquele que for ameaçado ou lesado em seus direitos da personalidade poderá exigir que cesse a ameaça ou lesão e reclamar perdas e danos, sem prejuízos de outras sanções, como dispõe o artigo 12.
	Examinando os comentários acima transcritos, podemos observar que o Código de Processo Civil fornece instrumentos eficazes para que a vítima obtenha com rapidez decisão judicial capaz de cessar a ameaça ou lesão a direito personalíssimo. E mais, propicia ao juiz utilizá-lo com toda cautela e prudência a fim de estancar eventuais lesões dos interessados que procuram a tutela jurisdicional para resolver seus problemas, inclusive para defender a honra do morto.
	Ademais, vislumbra-se que caberá a jurisprudência a repressão às ofensas aos direitos da personalidade, que não poderá agir com timidez, principalmente nestes tempos em que os meios de comunicação mais facilmente difundem transgressões a essa classe de direito.
Dos atos de disposição do próprio corpo
	De modo geral ninguém pode ser constrangido a invasão de seu corpo contra a sua vontade.
	À par disso, o legislador infraconstitucional trouxe inovação quanto aos atos de disposição do próprio corpo, apresentando limites morais e éticos, os quais sem dúvida são recepcionados pelo direito.
	Segundo o Código Civil, em seu artigo 13, “salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”. O seu parágrafo único, por sua vez, acrescenta que “o ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial”.
	Ora, em nosso cotidiano recebemos notícias da evolução da medicina, a qual paulatinamente vem alcançando técnicas de transplantes. Questão esta que tem levantado inúmeras dúvidas éticas, morais, religiosas e jurídicas.
	Há lei regulamentando o aludido dispositivo, cuida-se da Lei Federal n.º 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, posteriormente alterada pela Lei Federal n.º 10.211, de 23 de março de 2001, que condiciona a doação inter vivos, contudo, limitando-a a órgãos duplos e partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, além de corresponder a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
	Ocorrendo qualquer das situações acima transcritas, imprescindível será obter o consentimento do receptor a fim de que a intervenção cirúrgica seja levada a efeito.
	Logo não há que se falar em disposição onerosa de órgãos, partes ou tecidos do corpo humano. Ocorrendo eventual prática a lei considera como sendo um ilícito penal, apresentando dispositivos neste sentido. 
	Outra questão problemática diz respeito a retirada de órgãos genitais em virtude da transexualidade que, segundo entendimento da Professora Maria Helena Diniz, “é a condição sexual da pessoa que rejeita sua identidade genética e a própria anatomia de seu gênero, identificando-se psicologicamente com o sexo oposto”.
	Para a maioria da população brasileira e a igreja (dados doutrinários) tal questão (possibilidade de mudança de sexo) não pode ser admitida pelo nosso ordenamento jurídico.
	Os doutrinadores mais modernos, por sua vez, têm entendimento diverso, eles assentam que talvez seja a hora de mudar a concepção a respeito do assunto, pondo preconceitos de lado, até porque o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana não autoriza o juiz, e à sociedade em geral, desprezarem o enfrentamento de situações como a transexualidade ou o homossexualismo. 
	Arrematam, ainda, que a alegação de que a cirurgia realizada no transexual violaria os bons costumes, não se justifica, visto que a intervenção médica do interessado é ditada por superiores razões, inclusive de ordem psicológica.
	Mudando de assunto, mas ainda discutindo o presente tópico, observamos que o código civil também se preocupou com o direito ao corpo morto (cadáver).
	É o que se observa do artigo 14 e seu parágrafo único, que diz: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo”.
	Vislumbra-se, pois, tratar-se de situação incentivada pelo próprio Estado, a fim de propiciar a vida com órgãos dos que já se foram. 
	As leis federais anteriormente descritas também prevêem a devida regulamentação deste tema em relação à disposição de tecidos, órgãos e partes do corpo humano vivo para fins de transplante ou tratamento.
	O importante aqui é deixarmos claro que eventual doação post mortem não deve ter qualquer cunho pecuniário não só por ser imoral e ferir os bons costumes, mas, sobretudo, por ser nula, por ausência de objetivo lícito.
	Para encerrarmos, oportuna transcrição de pensamento do jurista João Carlos Simões Gonçalves Loureiro, para quem “a minha responsabilidade perante o outro exige a minha disponibilidade para que a minha morte possa manter acesa a centelha de outras vidas. Implica assumir no espaço público, na ética civil da comunidade, a dádiva de órgãos como responsabilidade cívica, respeitando, no entanto, aqueles que, em virtude de suas crenças, perfilham outra opinião”.
Do tratamento médico
	O novo código civil especifica em seu artigo 15, que “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”.
	A doutrina assenta que a regra contida no aludido artigo, embora singela, traz consigo uma gigantesca problemática sobre ética médica, o dever de informação do paciente e a responsabilidade civil dos médicos.
	Tal a relevância do assunto que, nos casos mais graves, os médicos são obrigados a não atuarem sem prévia autorização do paciente que, por sua vez, tem a prerrogativa de se recusar a submeter-se a tratamento perigoso.
	No mesmo sentido, situam-se tratamentos e medicamentos experimentais, ainda não aprovados pela comunidade médica. 
	Entretanto, na impossibilidade de o doente manifestar a sua vontade, deve-se obter a autorização escrita de qualquer parente maior, da linha reta ou colateral até o 2º grau ou do cônjuge.
	Agora, se não houver tempo hábil para ouvir o paciente ou para tomar as providencias do parágrafo anterior, e tratando-se de hipótese de parada cardíaca, por exemplo, terá o profissional a obrigação de realizar o tratamento, independentemente de autorização, eximindo-se de qualquer responsabilidade por não tê-la obtido.
	Lembrando que haverá responsabilidade se a sua conduta mostrar-se inadequada, fruto da imperícia, que resulte na causa ou no agravamento do dano sofrido pelo paciente. 
Do direito à identidade pessoal
	O professor Flávio Augusto Monteiro de Barros, citando o festejado cultor do direito Limongi França, assenta que direito à identidade pessoal como “é o conferido à pessoa de ser conhecida como aquela que é e a de não ser confundida com outrem”.
	Observa-se, pois, que o direito à identidade traduz a idéia de proteção jurídica aos elementos distintivos da pessoa, natural ou jurídica, no seio da sociedade.
	Com efeito, para melhor compreendermos a importância do tema, passaremos a analisar o seu conteúdo, o qual subdivide-se da seguinte forma:
a) direito ao nome;
b) direito ao pseudônimo;
c) direito ao título: consiste na faculdade quetem a pessoa de, em lugares próprios, ser identificada através de seus títulos científicos, honoríficos ou militares, como complemento de seu nome civil;
d) direito ao signo figurativo: consiste no uso e brasões e insígnias correspondentes aos títulos que detém, como forma de identificação pessoal.
	Nome pode ser definido como sendo o sinal que identifica a pessoa e indica a sua procedência familiar.
	A sua natureza jurídica é, pois, o sinal distintivo revelador da personalidade, posto que se trata de direito da personalidade.
	Nesta esteira, infere-se que o direito ao nome é composto por elementos essenciais, que são aqueles necessários para o registro do nome no Cartório competente que são os seguintes:
prenome ou nome próprio, cujo objetivo é identificar a pessoa dentro da própria família;
patronímico ou sobrenome, que o sinal indicativo da procedência familiar, cujo objetivo é identificar a pessoa no seio da sociedade.
	Em nosso país, o prenome antecede o patronímico, o que é o inverso, por exemplo, na Itália.
	O prenome, por sua vez, pode ser simples (é formado por um só vocábulo – Pedro Carvalho) ou completo (é o formado por mais de um vocábulo – Pedro Paulo Carvalho).
	Importante ressaltar que os irmãos não poderão ter prenomes idênticos, salvo em duas hipóteses, previstas na Lei de Registros Públicos (artigo 63). Exemplo disso se dá em relação ao prenome composto (Pedro Paulo Carvalho e João Paulo Carvalho) e ao nome completo diverso (Pedro Carvalho e Pedro Carvalho Oliveira).
	O patronímico tanto pode ser o paterno como o materno, ou ainda de ambos, por força do princípio da isonomia. À exceção do infante exposto (que é o recém-nascido abandonado pelos pais – em sendo desconhecido os genitores, o registro do nascimento far-se-á apenas com o prenome, sem qualquer referência ao patronímico), toda pessoa necessariamente deverá ter prenome e patronímico.
	Aos pais incumbe a indicação do nome completo do filho. Caso queiram poderão optar só pelo patronímico paterno ou então só pelo materno. O comum é o de indicarem ambos, por força do princípio da isonomia. Com efeito, a Lei de Registros Públicos prevê que se os pais não indicarem o nome completo, será ordenado que o sobrenome será o do genitor, na falta deste, será o da mãe.
	Os elementos facultativos ou secundários, por sua vez, dispensáveis que são para o registro do nome, apresentam-se da seguinte forma:
Agnome, definido como sendo o sinal acrescentado no final do nome para distinguir membros da mesma família. Por exemplo, Robson Moraes dos Santos Júnior; Ayrton Senna da Silva Neto; Edson Arantes do Nascimento Filho; Cezar Roberto Bitencourt Sobrinho. 
A partícula, que é a preposição da, das, de, do, dos.
Cognome, conhecido como o apelido que, por sentença judicial, passa a integrar o nome. Exemplo disso é o nome do atual Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. 
	Entretanto, é bom lembrar que o princípio da imutabilidade (freio) consiste na impossibilidade da alteração do nome civil, sendo aplicável tanto ao prenome quanto ao patronímico. Como toda regra pode ter “exceções”, no presente caso há três categorias que excepcionam a regra inserta no aludido princípio. São elas as causas comuns de mudança do prenome e patronímico, as causas específicas da mudança do prenome e as causas específicas de mudança do patronímico.
	As primeiras podem ser autorizadas quando ocorrer às situações de erro gráfico (Varte, ao invés de Walter; José da Sirva, ao invés de José da Silva etc...), erro no registro (quando o nome declarado pelos pais é registro de forma diferente pelo oficial registrador), nome posto por agente incapaz ou sem legitimação, nome ridículo (Armando Pinto Longo etc..), vítimas e testemunhas criminais (no caso de serem coagidas ou expostas a grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal, adoção plena e vontade do titular no primeiro ano seguinte a maioridade civil (até os 19 anos o interessado poderá não só alterar o prenome, podendo consistir na sua transformação de simples em composto, como também em patronímico ou sobrenome, que possibilitaria a inclusão de sobrenome materno ou de avoengo).
	No erro gráfico, a corrigenda necessita de decisão judicial, motivo porque é vedada ao registrador a retificação, ainda que o erro seja grosseiro.
	Ocorrendo o erro de registro, os pais poderão mover ação anulatória de registro, no prazo de dois anos, e com base no artigo 138 e seguintes do Código Civil.
	Se o agente que efetuou o registro for incapaz ou não tiver legitimação, os pais pleitearam a anulação com base no artigo 104, inciso I, do Código Civil.
	Dispõe a legislação de registros públicos ser proibido o registro de nome ridículo, contudo, se os pais insurgirem contra a recusa poderão obter a sua inserção através de ordem judicial. A mesma ordem judicial servirá nos casos em que por equivoco fora registrado prenome ridículo. Importante ressaltar que a jurisprudência tem admitido a retificação de patronímico ridículo, como, por exemplo, Natalício Carnaval Quaresma.
	No caso das vítimas e testemunhas criminais que se encontram amparadas pela Lei Federal n.º 9.807/99, a alteração do nome completo poderá ser estendida ao cônjuge ou companheiro, ascendentes ou descendentes e dependentes que tenham convivência habitual com a vítima ou testemunha, conforme seja a necessidade do caso. Lembrando que somente ocorrerão tais mudanças depois de autorizadas pelo Poder Judiciário. Com efeito, em havendo a cessação da ameaça ou coação, os protegidos terão a faculdade de solicitar ao Juiz o retorno do nome anterior.
	Na adoção, tema importantíssimo admite-se a pedido do adotando ou do adotante a mudança do prenome do adotando, que, querendo, poderá conservar o prenome de origem. É imprescindível saber que a mudança do patronímico é sempre obrigatória, de modo que na sentença constará ordem de confecção de novo registro de nascimento, o qual constará o patronímico dos adotantes, afastando, desta forma, por vedação legal (Lei n.º 8.069/90) a manutenção do sobrenome dos pais biológicos.
	A inserção do sobrenome do padrasto ou da madrasta ao nome do enteado ou enteada, havendo motivo ponderável e a expressa concordância daqueles, bem assim sem prejudicar os apelidos de família destes (Lei de Registros Públicos – 6.015/73 - §8º, do artigo 57).
	Por último, resta-nos tecer comentários sobre a hipótese do titular externar sua vontade no primeiro ano ao da maioridade, que poderá ocorrer para acrescentar um dos prenomes, ou a suprimir um deles, quando composto (a supressão total só poderá ocorrer quando justificar gravidade ao interessado), ou, ainda, quando for o caso de inserir o matronímico (não há necessidade de se aguardar o aludido prazo, posto que enquanto menor poderá formular o pedido, desde que assistido ou representado pelo representante legal) ou outro patronímico de ascendente.
	Para concluirmos com a presente aula, abordaremos ainda algumas definições. A saber:
nome vocatório: é aquele pelo qual a pessoa é comumente chamada, por exemplo, “Rui” é nome vocatório de Rio Barbosa, “Venosa” o de Silvio de Salvo Venosa etc..
pseudônimo: é um nome independente do nome civil, que é registrado e usado pela pessoa especialmente para fins leteratos, artísticos, políticos, científicos, etc. “Di Cavalcanti”, é o pseudônimo pelo qual ficou conhecido o famoso pintor Emiliano de Albuquerque Melo. Obs.: o pseudônimo não integra o nome civil, contudo, goza de proteção que se dá ao nome quando é adotado para atividades lícitas – artigo 19 CC.
Hipocorístico: é o tratamento carinhoso. Por exemplo, meu nome é Robson, mas no seio familiar sou conhecido como “Binho”, outro exemplo, “Nando”, ao invés de Fernando. Entretanto, nada obsta que o hipocorístico figure como prenome.
	Concluídas as considerações quanto ao tema direito da personalidade, necessário será ainda examinar as doutrinas indicadas.
	Umabraço a todos.
E-mail: � HYPERLINK "mailto:robson.ms@dourados.br" �robson.ms@dourados.br� – � HYPERLINK "mailto:robson.moraes@tjms.jus.br" �robson.moraes@tjms.jus.br�

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