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Fundac¸a˜o Centro de Cieˆncias e Educac¸a˜o Superior a Distaˆncia do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educac¸a˜o Superior a Distaˆncia do Estado do Rio de Janeiro EP10 – Me´todos Determin´ısticos I – 2017-1 Neste EP vamos trabalhar o conteu´do estudado na Aula 12, pa´ginas 149 a 155, do Caderno Dida´tico. Prezados alunos, Este EP procura complementar a teoria contida no Caderno Dida´tico, trazendo uma visa˜o amplifi- cada do conteu´do. Procuramos enfatizar a parte pra´tica, mas sem descuidar dos aspectos teo´ricos envolvidos, o que julgamos essencial para evitar que erros acontec¸am. Procuramos ilustrar cada discussa˜o abaixo com muitos e variados exemplos. Estes exemplos devem, na medida do poss´ıvel, ser pensados como exerc´ıcios. Procure pensar sozinho sobre cada um deles antes de comec¸ar a ler sua resoluc¸a˜o. Os exerc´ıcios esta˜o distribu´ıdos ao longo das sec¸o˜es. E´ fundamental que voceˆ tente resolveˆ-los antes de ler o gabarito... do contra´rio, eles na˜o adiantara˜o de nada! Sugerimos tambe´m que sejam resolvi- dos a` medida em que o texto e´ lido, evitando-se seguir para uma nova sec¸a˜o sem que os exerc´ıcios das anteriores tenham sido resolvidos. Tudo bem que podem ser muitos exerc´ıcios, enta˜o tente resolver pelo menos alguns enquanto leˆ o texto... mas depois, volte e resolva todos! Abrac¸os, Denise e Leonardo 1 A equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0 O conteu´do desta semana e´ algo que, certamente, esta´ entre os assuntos mais lembrados da Ma- tema´tica do Ensino Me´dio. A cla´ssica expressa˜o −b±√∆ 2a so´ rivaliza em apelo pop a` igualmente famosa a2 = b2 + c2! Claro que tudo isso dito assim, sem qualquer sentido ou utilidade... Sa˜o expresso˜es lembradas mas, como todas as outras, na˜o necessariamente entendidas. Esta expressa˜o e´ parte da famosa ”Fo´rmula de Bhaskara”para soluc¸a˜o da equac¸a˜o do segundo grau. De maneira geral, se uma equac¸a˜o de varia´vel x puder ser escrita na forma ax2 + bx + c = 0, com a 6= 0, ela sera´ chamada de equac¸a˜o de grau 2 na varia´vel x. Esta equac¸a˜o tem como soluc¸a˜o, falando de forma bem descuidada, os nu´meros x1 = −b +√b2 − 4ac 2a e x2 = −b−√b2 − 4ac 2a . Quando dizemos que os valores acima sa˜o as duas soluc¸o˜es da equac¸a˜o, estamos dizendo que ax2 + bx + c = 0⇔ x = −b + √ b2 − 4ac 2a ou x = −b−√b2 − 4ac 2a . Como os dois valores de x acima diferem apenas por um sinal (aquele entre o −b e o √b2 − 4ac), e´ comum escrevermos que as soluc¸o˜es x1 e x2 da equac¸a˜o sa˜o dadas por Me´todos Determin´ısticos I EP10 2 x = −b±√b2 − 4ac 2a , isto e´, uma soluc¸a˜o e´ dada lendo o ± como + e a outra e´ dada lendo ± como −. Ou seja, ax2 + bx + c = 0⇔ x = −b± √ b2 − 4ac 2a . Atenc¸a˜o!!! Estamos falando de forma bem descuidada! Ha´ muitas armadilhas no que esta´ escrito acima, principalmente no fato de os nu´meros x1 e x2 poderem na˜o existir! Mas por agora, vamos ficar felizes com o que temos e tentar utilizar essa (velha) ferramenta! Observac¸a˜o!!! Daqui para a frente, nos referiremos a` expressa˜o “x = −b±√b2 − 4ac 2a ”como Fo´rmula de Bhaskara ou fo´rmula ma´gica, para banalizar a coisa e quebrar seu encanto. Exemplo 1: Resolver a equac¸a˜o 4x2 + 4x− 3 = 0. Antes de continuar a ler, tente resolver sozinho! A equac¸a˜o 4x2 + 4x+ 3 = 0 esta´ na forma ax2 + bx+ c = 0, com a = 4, b = 4 e c = −3. Aplicando levianamente o que vimos acima, as soluc¸o˜es sa˜o dadas enta˜o por x = −b±√b2 − 4ac 2a = −4±√42 − 4 · 4 · (−3) 2 · 4 = −4±√16 + 48 8 = −4±√64 8 = −4± 8 8 . Temos enta˜o duas soluc¸o˜es, uma obtida lendo a expressa˜o com +, que sera´ x = −4 + 8 8 = 4 8 = 1 2 , e uma obtida com o −, x = −4− 8 8 = −12 8 = −3 2 . Assim, resumindo, 4x2 + 4x− 3 = 0⇔ x = 1 2 ou x = −3 2 . Agora vamos comec¸ar a entender por que precisamos ter cuidado com a fo´rmula ma´gica. No´s dissemos que os nu´meros x1 e x2 obtidos eram as soluc¸o˜es da equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0. Isto e´ muito forte. Estamos dizendo que sa˜o as u´nicas soluc¸o˜es, isto e´, que na˜o havera´ uma outra soluc¸a˜o da equac¸a˜o que na˜o seja escrita na forma −b±√b2 − 4ac 2a . Em linguagem da Lo´gica, ax2 + bx + c = 0⇔ x = −b± √ b2 − 4ac 2a . (lembre-se de que o “⇔”e´ um “se, e somente se”). Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 3 Existe uma forma de garantirmos que, de fato, so´ existem estas duas ra´ızes (quando existirem... espere um pouco para entender do que estamos falando), mas deixaremos esta discussa˜o para o final, quando apresentaremos uma demonstrac¸a˜o da fo´rmula ma´gica. Uma maneira inicial de pensar e´ verificar que o trinoˆmio 4x2 + 4x − 3 pode ser escrito como 4 ( x− 1 2 ) · ( x + 3 2 ) , ou ainda como 4 ( x− 1 2 ) · ( x− ( −3 2 )) . Com isso, a equac¸a˜o 4x2 + 4x− 3 = 0 e´ equivalente a` 4 ( x− 1 2 ) · ( x− ( −3 2 )) = 0, porque a segunda e´ simplesmente a primeira reescrita. Para que o produto de treˆs nu´meros deˆ 0, e´ necessa´rio e suficiente que um deles seja igual a 0, logo 4 ( x− 1 2 ) · ( x− ( −3 2 )) = 0⇔ 4 = 0 ou x− 1 2 = 0 ou x− ( −3 2 ) = 0. A primeira condic¸a˜o, 4 = 0 nunca acontecera´, a segunda acontecera´ quando x = 1 2 e a terceira quando x = −3 2 . Assim, 4 ( x− 1 2 ) · ( x− ( −3 2 )) = 0⇔ x = 1 2 ou x = −3 2 . Mas repare que essa discussa˜o apenas esta´ tentando te convencer de que as duas ra´ızes encon- tradas sa˜o realmente as duas u´nicas. Esta forma de proceder na˜o e´ uma te´cnica aplica´vel de soluc¸a˜o na maior parte dos casos; no´s so´ conseguimos aplica´-la pois ja´ sab´ıamos de antema˜o que 4x2 + 4x − 3 = 4 ( x− 1 2 ) · ( x− ( −3 2 )) . E como sab´ıamos disso? Ora, no´s que elaboramos o exemplo... Ate´ e´ poss´ıvel resolvermos uma equac¸a˜o de segundo grau “adivinhando”uma fatorac¸a˜o como essa, mas deixaremos essa discussa˜o para mais tarde. Por agora, vejamos outro exemplo, que nos mostra como a fo´rmula ma´gica pode ser bastante travessa. Exemplo 2: Resolver a equac¸a˜o x2 + 6x + 9 = 0. Antes de continuar a ler, tente, novamente, resolver sozinho! A equac¸a˜o x2 + 6x + 9 = 0 esta´ na forma ax2 + bx + c = 0, com a = 1, b = 6 e c = 9 (Por que a = 1? Note que x2 = 1x2.). Aplicando a fo´rmula ma´gica, temos as soluc¸o˜es x = −6±√62 − 4 · 1 · 9 2 · 1 = −6±√36− 36 2 = −6±√0 2 = −6± 0 2 . Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 4 E agora??? Lendo a expressa˜o com + e com−, temos um u´nico valor para x, dado por x = −6 2 = −3, pois a soluc¸a˜o obtida lendo a expressa˜o com +, que sera´ x = −6 + 0 2 = −6 2 = −3, que e´ a obtida com o −, x = −6− 0 2 = −6 2 = −3. Isto e´, x2 + 6x + 9 = 0⇔ x = −3. Isto faz sentido? Note que x2 + 6x + 9 = (x + 3)2, logo x2 + 6x + 9 = 0⇔ (x + 3)2 = 0⇐ x + 3 = 0⇔ x = −3. Ou seja, x = −3 e´ a u´nica soluc¸a˜o da equac¸a˜o. Ningue´m prometeu que seriam necessariamente duas soluc¸o˜es diferentes! Como bem mostra o exemplo acima, a equac¸a˜o do segundo grau pode ter uma u´nica soluc¸a˜o. Ou, como dizem alguns, pode ter “duas soluc¸o˜es iguais”. Para no´s, absolutamente tanto faz a forma que voceˆ utilize. Equac¸o˜es como a do primeiro exemplo (4x2 + 4x − 3 = 0), diremos explicitamente duas soluc¸o˜es distintas ou duas soluc¸o˜es diferentes. Mas podemos ir ale´m e encontrar situac¸o˜es ainda mais interessantes. Veja o exemplo abaixo. Exemplo 3: Resolver a equac¸a˜o x2 + 4x + 5 = 0 Antes de continuar a ler... ja´ sabe, tente resolver o exemplo acima! A equac¸a˜o x2 + 4x + 5 = 0 e´ do segundo grau com a = 1, b = 4 e c = 5, Aplicando a fo´rmula ma´gica, x2 + 4x + 5 = 0⇔ x = −4± √ 42− 4 · 1 · 5 2 · 1 ⇔ x = −4±√16− 20 2 ⇔ x = −4± √−4 2 Ops... melhor parar e tentar entender o que apareceu! A Matema´tica e´ bem clara... vamos ler. Esta´ escrito que x2 +4x+5 sera´ igual a 0 quando, e apenas quando, x = −4±√−4 2 . Mas x e´ um nu´mero real, e −4±√−4 2 na˜o representa um nu´mero real, pois na˜o foi definida, nos reais, √−4. Assim, para que x2 +4x+5 = 0, o x na˜o pode ser um nu´mero real, ou seja, a equac¸a˜o x2 + 4x + 5 = 0 na˜o tem soluc¸a˜o em R. Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 5 Voceˆ pode dizer que a equac¸a˜o x2 + 4x+ 5 = 0 “na˜o tem soluc¸a˜o em R”, ou, como nesta disciplina so´ estamos trabalhando com nu´meros reais, poderia dizer simplesmente que “a equac¸a˜o na˜o tem soluc¸a˜o”. Nosso contexto, ou seja, o conjunto universo com o qual trabalhamos nesta disciplina, e´ bem claro e na˜o ha´ necessidade de ficar dizendo a toda hora que estamos buscando soluc¸o˜es apenas em R. Tentando englobar as treˆs situac¸o˜es acima em uma u´nica explicac¸a˜o, dada a equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0, chamamos ∆ = b2 − 4ac e • Se ∆ > 0, a equac¸a˜o tem duas soluc¸o˜es distintas, dadas por x1 = −b + √ ∆ 2a e x2 = −b−√∆ 2a • Se ∆ = 0, a equac¸a˜o tem uma u´nica soluc¸a˜o (ou duas soluc¸o˜es iguais, se preferir), dada por x = −b +√∆ 2a = −b 2a . • Se ∆ < 0, a equac¸a˜o na˜o tem soluc¸o˜es reais. Posto isso, vamos ao trabalho! Exerc´ıcio 1 Resolva as equac¸o˜es a seguir: a) x2 − 6x + 5 = 0 b) 3x2 − 12x + 6 = 0 c) x2 − 4x = 0 d) x2 − 49 = 0 e) 2|x2|+ 3|x| − 2 = 0 2 Uma forma simples de resolver equac¸o˜es simples Lembre-se, primeiramente, que dados dois nu´meros reais, r1 e r2, temos que (x− r1) · (x− r2) = x2 − xr2 − r1x + r1r2 = x2 − (r1 + r2)x + r1r2. Com isso, a equac¸a˜o x2 − (r1 + r2)x + r1r2 = 0, pode ser reescrita como Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 6 (x− r1) · (x− r2) = 0. Para que o produto do lado esquerdo da equac¸a˜o acima resulte em 0, precisamos ter x− r1 = 0 ou x− r2 = 0. Assim, temos x = r1 ou x = r2, ou seja, r1 e r2 sa˜o as soluc¸o˜es da equac¸a˜o x 2 − (r1 + r2)x + r1r2 = 0. Se chamarmos de S a soma r1 + r2 e de P o produto r1r2, isto e´, S = r1 + r2 e P = r1r2, a equac¸a˜o x2 − Sx + P = 0, tera´, como soluc¸a˜o, x = r1 ou x = r2. Isto fornece uma forma simples de resolvermos equac¸o˜es (simples) do segundo grau, sem termos que utilizar a fo´rmula ma´gica. Exemplo 4: Resolver a equac¸a˜o x2 − 6x + 5 = 0 Se pensarmos na equac¸a˜o acima como sendo x2 − Sx + P = 0, teremos S = 6 e P = 5. Voceˆ consegue pensar em dois nu´meros cuja soma seja 6 e o produto seja 5? Sim, 1 e 5. Assim, temos, como soluc¸a˜o x = 1 ou x = 5. Observe que, realmente temos (x− 1)(x− 5) = x2 − 5x− 1x + 5 = x2 − 6x + 5, logo a equac¸a˜o x2 − 6x + 5 = 0 equivale mesmo a (x− 1)(x− 5) = 0. Exemplo 5: Resolver a equac¸a˜o x2 + 5x + 6 = 0. Se pensarmos na equac¸a˜o acima como sendo x2 − Sx + P = 0, teremos S = −5 e P = 5. Na˜o percebeu por que S = −5? Note que x2 + 5x+ 6 = 0⇔ x2− (−5)x+ 6 = 0, logo, S = −5 (repare que a forma geral x2 − Sx + P = 0 tem um − antes do S). Agora precisamos pensar em dois nu´meros cuja soma seja −5 e o produto seja 6? Eles precisam ter ambos o mesmo sinal, para que o produto deˆ o nu´mero positivo 6. Ale´m disso, como a soma e´ −5, ambos teˆm de ser negativos. Assim, temos −2 e −3. Veja que x2 + 5x + 6 = 0⇔ (x− (−2)) · (x− (−3)) = 0, pois (x− (−2)) · (x− (−3)) = (x + 2) · (x + 3) = x2 + 3x + 2x + 6 = x2 + 5x + 6. Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 7 A soluc¸a˜o da equac¸a˜o sera´ enta˜o x = −2 ou x = −3. Exemplo 6: Resolver a equac¸a˜o x2 − 3x− 10 = 0. Se pensarmos na equac¸a˜o acima como sendo x2 − Sx + P = 0, teremos S = 3 e P = −10. Agora precisamos pensar em dois nu´meros cuja soma seja 3 e o produto seja −10? Eles precisam ter sinais contra´rios, para que o produto deˆ o nu´mero negativo −10. Ale´m disso, como a soma e´ 3, o que tiver maior mo´dulo devera´ ser positivo. Assim, temos 5 e −2. Veja que x2 − 3x + 10 = 0⇔ (x− 5) · (x− (−2)) = 0, pois (x− 5) · (x− (−2)) = (x− 5) · (x + 2) = x2 − 5x + 2x− 10 = x2 − 3x− 10. A soluc¸a˜o da equac¸a˜o sera´ enta˜o x = 5 ou x = −2. Exemplo 7: Resolver a equac¸a˜o x2 + 4x− 5 = 0. Se pensarmos na equac¸a˜o acima como sendo x2 − Sx + P = 0, teremos S = −4 e P = −5. As soluc¸o˜es precisam ter sinais contra´rios, para que o produto seja −5. E, como a soma e´ −4, o que tiver maior mo´dulo devera´ ser negativo. Assim, temos −5 e 1. Veja que x2 + 4x− 5 = 0⇔ (x− 1) · (x− (−5)) = 0, pois (x− 1) · (x− (−5)) = (x− 1) · (x + 5) = x2 + 5x− x− 5 = x2 + 4x− 5. A soluc¸a˜o da equac¸a˜o sera´ enta˜o x = 1 ou x = −5. Exemplo 8: Resolver a equac¸a˜o 3x2 + 12x− 15 = 0. Observe que 3x2 + 12x− 15 = 0⇔ 3(x2 + 4x− 5) = 0⇔ x2 + 4x− 5 = 0, que e´ a equac¸a˜o que acabamos de resolver! Assim, 3x2 + 12x− 15 = 0⇔ x2 + 4x− 5 = 0⇔ x = 1 ou x = −5. Para verificar se fizemos a coisa certa, note que 3x2 + 12x− 15 = 3(x2 + 4x− 5) = 3(x− 1)(x + 5), logo a equac¸a˜o 3x2 + 12x− 15 = 0 realmente equivale a 3(x− 1)(x+ 5) = 0, cujas soluc¸a˜o e´ x = 1 ou x = −5. Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 8 Exerc´ıcio 2 Resolva as equac¸o˜es a seguir, utilizando a soma e o produto das ra´ızes, conforme feito acima: a) x2 − 6x + 5 = 0 b) 3x2 + 18x + 24 = 0 c) x2 − 3x− 10 = 0 d) −2x2 + 20x− 50 = 0 3 Fatorando o trinoˆmio ax2 + bx + c Resolver uma equac¸a˜o do segundo grau e´, na realidade descobrir, para que valores de x, o trinoˆmio ax2 + bx + c se anula. Vimos, nas sec¸o˜es anteriores que, se r1 e r2 sa˜o soluc¸o˜es da equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0, enta˜o podemos escrever ax2 + bx + c = a(x− r1)(x− r2). Isto nos permite fatorar o trinoˆmio ax2 + bx + c = 0, isto e´, escreveˆ-lo na forma de um produto de fatores de primeiro grau da forma x − k. Isto sera´ especialmente importante na resoluc¸a˜o de inequac¸o˜es de segundo grau, que veremos logo abaixo. Exemplo 9: Fatorar o polinoˆmio x2 + 2x− 3. Repare que na˜o estamos tentando resolver uma equac¸a˜o do segundo grau, mas sim fatorar um polinoˆmio. Pore´m, resolver a equac¸a˜o x2 + 2x− 3 = 0 nos ajudara´ a descobrir como sa˜o os fatores de primeiro grau do polinoˆmio. Resolvendo x2 + 2x − 3 = 0 (pode ser por Bhaskara ou soma e produto), encontramos x = −3 e x = 1 (verifique!). Assim, x2 + 2x− 3 = (x− (−3))(x− 1) = (x + 3)(x− 1). Exemplo 10: Fatorar o polinoˆmio 4x2 + 4x− 3. Resolvendo a equac¸a˜o 4x2 +4x−3 = 0, encontramos x = −3 2 ou x = 1 2 (veja no Exemplo 1). Logo 4x2 + 4x− 3 = 4 ( x− ( −3 2 ))( x− 1 2 ) = 4 ( x + 3 2 )( x− 1 2 ) . Exemplo 11: Fatorar o polinoˆmio −2x2 + 12x− 18. Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 9 Resolvendo a equac¸a˜o −2x2 + 12x− 18, encontramos a soluc¸a˜o u´nica x = 3. Com isso −2x2 + 12x− 18 = −2 (x− 3) (x− 3) = −2 (x− 3)2 . Exerc´ıcio 3 Escreva os trinoˆmios ax2 + bx + c abaixo na forma a(x− r1)(x− r2): Atenc¸a˜o! Neste exerc´ıcio na˜o estamos resolvendo uma equac¸a˜o (observe que na˜o ha´ sinal de igual)!, apenas fatorando um trinoˆmio, mas talvez ajude se pensarmos na equac¸a˜o ax2 + bx+ c = 0. a) x2 − 6x + 5 b) 3x2 + 18x + 24 c) 3x3 − 4x + 1 d) 4x2 + 4x + 1 4 Inequac¸o˜es do segundo grau Agora vamos tentar resolver inequac¸o˜es que possam ser (re)escritas em uma das formas abaixo: ax2 + bx + c > 0 ax2 + bx + c > 0 ax2 + bx + c < 0 ax2 + bx + c 6 0 Ja´ vimos anteriormente que resolver a equac¸a˜o do segundo grau ax2 + bx + c = 0, quando ela possui soluc¸a˜o, se resume a reescreveˆ-la na forma a(x− r1)(x− r2) = 0, e concluir que a soluc¸a˜o e´ dada por x = r1 ou x = r2. Para uma inequac¸a˜o de um dos tipos acima,o que faremos e´ exatamente reescreveˆ-la em uma das formas a(x− r1)(x− r2) > 0 a(x− r1)(x− r2) > 0 a(x− r1)(x− r2) < 0 a(x− r1)(x− r2) 6 0 e estudar o sinal do lado esquerdo da inequac¸a˜o. Observe que os nu´meros r1 e r2 acima sa˜o as soluc¸o˜es da equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0, e podem ser obtidos como na sec¸a˜o anterior, por soma e produto, ou utilizando a fo´rmula de Bhaskara, isto e´ r1 = −b +√∆ 2a e r2 = −b−√∆ 2a . Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 10 Exemplo 12: Resolver a inequac¸a˜o x2 − 5x + 6 > 0. As soluc¸o˜es da equac¸a˜o de segundo grau x2 − 5x + 6 = 0 sa˜o x = 2 e x = 3. Isto pode ser visto utilizando soma e produto, como na sec¸a˜o anterior, ou vendo que x2 − 5x + 6 = 0⇔ x = −(−5)± √ (−5)2 − 4 · 1 · 6 2 · 1 = 5±√1 2 = 5± 1 2 ⇔ x = 2 ou x = 3 Assim, podemos escrever o trinoˆmio x2−5x+6 como (x−3)(x−2). Com isso, voltando a` inequac¸a˜o que estamos resolvendo, temos x2 − 5x + 6 > 0⇔ (x− 3)(x− 2) > 0. Observe que estamos lidando com um produto com dois fatores. Desta forma, o produto sera´ positivo se, e somente se, os dois fatores (x− 3) e (x− 2) tiverem ambos os mesmos sinais; sera´ negativo se, e somente se, os dois fatores (x− 3) e (x− 2) tiverem sinais opostos e sera´ nulo de um dos fatores for nulo. Sendo assim, precisamos determinar quando os fatores (x− 3) e (x− 2) sa˜o positivos, negativos ou nulos. Ana´lise do fator (x− 3): • O fator (x− 3) e´ positivo se, e somente se, x− 3 > 0⇔ x > 3. • O fator (x− 3) e´ negativo se, e somente se, x− 3 < 0⇔ x < 3. • O fator (x− 3) e´ nulo se, e somente se, x− 3 = 0⇔ x = 3. Ana´lise do fator (x− 2): • O fator (x− 2) e´ positivo se, e somente se, x− 2 > 0⇔ x > 2. • O fator (x− 2) e´ negativo se, e somente se, x− 2 < 0⇔ x < 2. • O fator (x− 2) e´ nulo se, e somente se, x− 2 = 0⇔ x = 2. Assim, o produto (x− 3)(x− 2) sera´ Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 11 • positivo quando x < 2 ou x > 3, pois ambos os fatores sa˜o negativos para x < 2 e ambos sa˜o positivos para x > 3; • zero quando x = 2 ou x = 3, pois um dos fatores e´ zero quando x = 2 ou x = 3; • negativo quando 2 < x < 3, pois um dos fatores e´ negativo e o outro e´ positivo. Repare que so´ utilizamos a regrinha de sinal do produto, retratada no quadrinho abaixo! 2 3 x− 3 − − − 0 + x− 2 − 0 + + + (x− 3)(x− 2) + 0 − 0 + Assim, para que x2 − 5x + 6 > 0, temos x < 2 ou x > 3, isto e´, x2 − 5x + 6 > 0⇔ x < 2 ou x > 3⇔ x ∈ (−∞, 2) ∪ (3,+∞). Note que os nu´meros 2 e 3 na˜o entram na soluc¸a˜o acima, pois, para x = 2 ou x = 3, temos x2 − 5x + 6 = 0 e queremos x2 − 5x + 6 > 0. Exemplo: Resolver a inequac¸a˜o 3x2 + 12x− 15 6 0. Ja´ vimos que 3x2 + 12x − 15 = 0 se, e somente se x = 1 ou x = −5 (verifique!). Assim, 3x2 + 12x− 15 = 3(x2 + 4x− 5) = 3(x− 1)(x + 5). Com isso, 3x2 + 12x− 15 6 0⇔ 3(x− 1)(x + 5) 6 0. O fator x− 1 e´ positivo para x > 1, negativo para x < 1 e zero quando x = 1. O fator x + 5 e´ positivo para x > −5, negativo para x < −5 e zero quando x = 5. Assim, o produto (x− 1)(x + 5) sera´ • positivo quando x < −5 ou x > 1, pois ambos os fatores sa˜o negativos para x < −5 e ambos sa˜o positivos para x > 1; • zero quando x = −5 ou x = 1, pois um dos fatores e´ zero quando x = −5 ou x = 1; • negativo quando −5 < x < 1, pois um dos fatores e´ negativo e o outro e´ positivo. −5 1 x− 1 − − − 0 + x + 5 − 0 + + + (x− 1)(x + 5) + 0 − 0 + Multiplicar por 3 na˜o altera os sinais acima, pois 3 > 0. Assim, o produto 3(x− 1)(x + 5) sera´ • positivo quando x < −5 ou x > 1; • zero quando x = −5 ou x = 1; Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 12 • negativo quando −5 < x < 1. −5 1 x− 1 − − − 0 + x + 5 − 0 + + + 3 + + + + + 3(x− 1)(x + 5) + 0 − 0 + Assim, para que 3(x2 + 4x− 5) 6 0, temos −5 6 x 6 1, isto e´, 3x2 + 12x− 15 6 0⇔ −5 6 x 6 1⇔ x ∈ [−5, 1]. Note que os nu´meros −5 e 1 entram na soluc¸a˜o acima, pois, para x = −5 ou x = 1, temos 3x2 + 12x− 15 = 0 e queremos 3x2 + 12x− 15 6 0. Exemplo 13: Resolver a inequac¸a˜o 3x2 + 12x− 15 > 0. Ja´ vimos que 3x2 + 12x− 15 > 0⇔ 3(x− 1)(x + 5) > 0. Pelo estudo de sinais feito no exemplo anterior, percebemos que 3x2 + 12x − 15 > 0 para x < −5 ou x > 1. Assim, 3x2 + 12x− 15 > 0⇔ x < −5 ou x > 1⇔ x ∈ (−∞,−5) ∪ (1,+∞). Exemplo 14: Resolver a inequac¸a˜o −2x2 − 4x + 16 6 0. Observe que −2x2 − 4x + 16 = 0 se, e so´ se, x = 2 ou x = −4 (verifique!). Com isso, −2x2 − 4x + 16 = −2(x2 + 2x− 8) = −2(x− 2)(x + 4) Assim, −2x2 − 4x + 16 6 0⇔ −2(x− 2)(x + 4) 6 0. O fator x− 2 e´ positivo para x > 2, negativo para x < 2 e zero quando x = 2. O fator x + 4 e´ positivo para x > −4, negativo para x < −4 e zero quando x = 4. Assim, o produto (x− 2)(x + 4) sera´ • positivo quando x < −4 ou x > 2, pois ambos os fatores sa˜o negativos para x < −4 e ambos sa˜o positivos para x > 2; • zero quando x = −4 ou x = 2, pois um dos fatores e´ zero quando x = −4 ou x = 2; • negativo quando −4 < x < 2, pois um dos fatores e´ negativo e o outro e´ positivo. −4 2 x− 2 − − − 0 + x + 4 − 0 + + + (x− 2)(x + 4) + 0 − 0 + Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 13 Multiplicar por −2 altera os sinais acima, pois −2 < 0. Assim, o produto −2(x− 2)(x + 4) sera´ −4 2 x− 2 − − − 0 + x + 4 − 0 + + + −2 − − − − − −2(x− 2)(x + 4) − 0 + 0 − • negativo quando x < −4 ou x > 2; • zero quando x = −4 ou x = 2; • negativo quando −4 < x < 2. Com isso, −2x2 − 4x + 16 6 0⇔ x 6 −4 ou x > 2⇔ x ∈ (−∞,−4] ∪ [2,+∞). Note que os nu´meros −4 e 2 entram na soluc¸a˜o acima, pois, para x = −5 ou x = 2, temos −2x2 − 4x + 16 6 0 e queremos −2x2 − 4x + 16 6 0 6 0. Exemplo 15: Resolver a inequac¸a˜o −2x2 − 4x + 16 > 0. Como no exemplo acima, podemos escrever −2x2 − 4x + 16 > 0⇔ −2(x− 2)(x + 4) > 0. Pelo estudo de sinais feito, podemos ver que −2(x− 2)(x+ 4) e´ positivo para −4 6 x 6 2. Assim, −2x2 − 4x + 16 > 0⇔ −4 < x < 2⇔ x ∈ (−4, 2). Exemplo 16: Resolver a inequac¸a˜o x2 + 4x + 5 > 0 Vamos tentar escrever x2 + 4x + 5 na forma de um trinoˆmio, como feito nos exemplos anteriores. Para isso, buscamos as soluc¸o˜es de x2 + 4x + 5 = 0. Note, pore´m, que ∆ = 42 − 4 · 1 · 5 = −4 < 0, logo a equac¸a˜o na˜o tem soluc¸a˜o! Isto indica que na˜o podemos escrever x2+4x+5 na forma (x−r1)(x−r2). E agora, o que fazemos? A inequac¸a˜o ainda precisa ser resolvida... Vamos pensar no que ocorre. O que significa o fato de a equac¸a˜o x2 + 4x+ 5 = 0 na˜o ter soluc¸a˜o? Significa que x2 + 4x + 5 nunca e´ igual a zero. Com isso, o trinoˆmio x2 + 4x + 5 nunca muda de sinal, isto e´, ou e´ positivo para todo x real, ou negativo para todo x. E qual e´ o caso? Escolha um valor para x (qualquer um!) e descubra! Fazendo x = 0, por exemplo, temos 02 + 4 · 0 + 5 = 5, Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 14 logo o trinoˆmio e´ sempre positivo. Com isso, x2 + 4x + 5 > 0 para todo x ∈ R. Assim, temos x2 + 4x + 5 > 0⇐ x ∈ R. Exemplo 17: Resolver a inequac¸a˜o x2 + 4x + 5 < 0 Pelo visto acima, x2 + 4x + 5 sera´ sempre positivo, portanto na˜o existe valor de x para o qual x2 + 4x + 5 < 0. Exemplo 18: Resolver a inequac¸a˜o x2 + 4x + 5 6 0 Pelo visto acima, x2 +4x+5 sera´ sempre positivo (logo tambe´m diferente de 0), portanto na˜o existe valor de x para o qual x2 + 4x + 5 6 0. Exemplo 19: Resolver a inequac¸a˜o x2 + 4x + 5 > 0 Pelo visto acima, x2 + 4x + 5 sera´ sempre positivo, isto e´, x2 + 4x + 5 > 0 para todo x ∈ R. Com isso, para todo x ∈ R, x2 + 4x + 5 > 0 (lembre-se de que todo nu´mero maior que zero e´ tambe´m maior ou igual a zero!). x2 + 4x + 5 > 0⇔ x ∈ R. Exemplo 20: Resolver a inequac¸a˜o −3x2 + x− 2 6 0 A equac¸a˜o −3x2 + x − 2 = 0 na˜o tem soluc¸a˜o (pois ∆ = 12 − 4 · (−3)(−2) = −23 < 0). Com isso, o trinoˆmio−3x2 + x − 2 e´ sempre positivo ou sempre negativo. Para x = 0, temos −3(0)2 + 0− 2 = −2 < 0, logo o trinoˆmio sempre e´ negativo. Assim, −3x2 + x− 2 6 0 para todo x ∈ R, isto e´, −3x2 + x− 2 6 0⇔ x ∈ R. Exemplo 21: Resolver a inequac¸a˜o −3x2 + x− 2 > 0 Pelo exemplo anterior, o trinoˆmio −3x2 + x− 2 e´ sempre negativo. Assim, na˜o existe x ∈ R tal que −3x2 + x− 2 > 0. Exemplo 22: Resolver a inequac¸a˜o x2 − 2x + 1 > 0 Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 15 A equac¸a˜o x2−2x+1 = 0 tem soluc¸a˜o u´nica, dada por x = 1 (verifique!). Assim, podemos escrever x2 − 2x + 1 = (x− 1)(x− 1) = (x− 1)2. Com isso, x2 − 2x + 1 > 0⇔ (x− 1)2 > 0. Como (x− 1)2 e´ um quadrado, ele sera´ maior ou igual a zero para todo x ∈ R, logo x2 − 2x + 1 > 0⇔ x ∈ R. Exemplo 23: Resolver a inequac¸a˜o x2 − 2x + 1 > 0 Vimos acima que x2 − 2x + 1 > 0⇔ (x− 1)2 > 0. A desigualdade da direita so´ na˜o vale quando x− 1 = 0, isto e´, quando x = 1 (para qualquer outro valor de x, temos x− 1 6= 0, logo (x− 1)2 > 0). Assim, x2 − 2x + 1 > 0⇔ x 6= 1. Exemplo 24: Resolver a inequac¸a˜o x2 − 2x + 1 < 0 Como vimos anteriormente (dois exemplos acima), x2 − 2x + 1 = (x − 1)2 > 0 para todo x ∈ R, logo nunca teremos x2 − 2x + 1 < 0. Assim, na˜o existe x ∈ R tal que x2 − 2x + 1 < 0. Exemplo 25: Resolver a inequac¸a˜o x2 − 2x + 1 6 0 Como ja´ vimos (treˆs exemplos acima), x2 − 2x + 1 = (x − 1)2 > 0 para todo x ∈ R. Portanto, a u´nica forma de termos x2 − 2x + 1 6 0 e´ quando x2 − 2x + 1 = 0, ou seja, quando x = 1. Assim, x2 − 2x + 1 6 0⇔ x = 1. Exerc´ıcio 4 Resolva as inequac¸o˜es a seguir: Atenc¸a˜o! Voceˆ precisara´ trabalhar um pouco algumas das inequac¸o˜es a seguir para que fiquem nas formas estudadas acima. a) − ( x + 1 2 ) (x− 3) + 1 2 (29− 5x) ≤ 0 b) −1 5 (10x2 − 60x + 30)− 12 > 0 c) (x− 1)2 ≥ −x + 3 d) 2x2 − 2x + 10 > 0 e) 2x2 − 2x + 10 < 0 f) x2 ≥ |5x + 6| Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 16 Voceˆ pode estar se perguntando onde, na vida de um administrador, ele encontrara´ uma equac¸a˜o ou inequac¸a˜o do segundo grau e, mais ainda, quando ele precisara´ resolveˆ-la. Pois bem, uma situac¸a˜o pra´tica em que nos deparamos com trinoˆmios do segundo grau se da´ quando queremos obter a re- ceita, considerando o prec¸o e a quantidade comercializada de um certo produto. A receita R decorrente da venda de um produto e´ dada por R = p.q, onde p representa o prec¸o unita´rio do produto e q sua quantidade comercializada. Por exemplo, se considerarmos que o prec¸o da garrafa de vinho de uma determinada marca e´ dado por p = −3q + 600, onde q e´ a quantidade de garrafas comercializadas, temos que a receita decorrente da venda do vinho e´ dada por R = (−3q + 600)q = −3q2 + 600q. noindentObs: Observe que na pra´tica, p e´ sempre maior do que zero, pois na˜o existe quantidade comercializada que fac¸a o prec¸o ser nulo, muito menos negativo! Contudo, por questo˜es dida´ticas, vamos considerar que, quando q = 200, temos p = 0. Se considerarmos que o custo C na fabricac¸a˜o do vinho e´ dado por C = 30q + 18.000, teremos que o lucro L obtido na comercializac¸a˜o do vinho e´ dado por L = R− C = −3q2 + 600q − (30q + 18.000) = −3q2 + 570q − 18.000 Neste caso, poderemos querer saber quando o lucro e´ zero, i.e. quando a receita e´ igual ao custo, que recaira´ na resoluc¸a˜o de uma equac¸a˜o do segundo grau; quando o lucro e´ maior que um determinado valor, que recaira´ na resoluc¸a˜o de uma inequac¸a˜o do segundo grau, etc. [O texto acima se baseia no livro Matema´tica Aplicada a` Administrac¸a˜o, Economia e Contabilidade, de Murolo e Boneto.] Vamos a uns exemplos nesta linha. Exerc´ıcio 5 Numa situac¸a˜o idealizada de um certo come´rcio foi estabelecido dois grupos de vende- dores, A e B, para a venda de x unidades de um produto. Sabendo-se que os lucros dos grupos A e B sa˜o medidos, respectivamente, por LA = 5 2 x ( 4 5 x− 38 5 ) + 75 e LB = −(x + 2)(x− 10) + 13, onde as unidades x do produto pertencem ao conjunto {x ∈ Z | 0 ≤ x ≤ 11}. Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 17 a) Determine a quantidade vendida pelo grupo A quando o lucro deste grupo e´ de 30 reais. b) Determine para quais quantidades vendidas, o lucro do grupo A e´ igual ao do grupo B. c) Determine para quais quantidades, o lucro do grupo A e´ menor que o do grupo B. Exerc´ıcio 6 Sabe-se que o lucro de uma empresa e´ dado pela relac¸a˜o L = R−C, onde L representa o lucro, R a receita total e C o custo total da produc¸a˜o. Em uma empresa que produziu x unidades de um produto, verificou-se que R = 600x − x2 e C = x2 − 200x. Nestas condic¸o˜es: i) Obtenha a expressa˜o em x que define o lucro dessa empresa. ii) Considerando que essa empresa teve um lucro nulo, qual foi a quantidade de unidades que ela produziu? iii) Qual o significado da situac¸a˜o considerada no item ii) em termos da receita R e do custo C? 5 Sobre a fo´rmula de Bhaskara Neste EP, voceˆ viu como resolver a equac¸a˜o do segundo grau, e esperamos que tenha praticado bastante! Em grande parte dos casos, sera´ utilizada a famosa “Fo´rmula de Bhaskara”, que diz que as soluc¸o˜es da equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0 sa˜o dadas por x = −b±√∆ 2a , com ∆ = b2 − 4ac. Isto quando ∆ > 0, pois, no caso em que ∆ < 0, a equac¸a˜o na˜o possui soluc¸a˜o (em R, pelo menos, que e´ o conjunto que nos interessa nesta disciplina). Vamos tentar entender de onde vem esta fo´rmula, ate´ agora de existeˆncia quase que sobrenatural. Partindo da equac¸a˜o ax2 + bx + c = 0, como a 6= 0, vamos reescreveˆ-la na forma a ( x2 + b a x + c a ) = 0. O pro´ximo passo e´ tentar escrever o x2 + b a x + c a como um quadrado perfeito, isto e´, na forma (x + k)2 (se for poss´ıvel!). Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 18 Como (x + k)2 = x2 + 2kx + k2, precisamos que 2kx seja igual a b a x, isto e´, 2k = b a ∴ k = b 2a . Com isso, o quadrado perfeito seria (x + k)2 = ( x + b 2a )2 = x2 + 2 · b 2a x + ( b 2a )2 = x2 + b a x + b2 4a2 . Mas isso na˜o e´ igual a x2 + b a x + c a ... e agora? Na equac¸a˜o que temos, a ( x2 + b a x + c a ) = 0, podemos somar e subtrair b2 4a2 dentro do pareˆntese, o que na˜o altera a equac¸a˜o. Obtemos enta˜o a ( x2 + b a x + c a + b2 4a2 − b 2 4a2 ) = 0. Agrupando dentro dos pareˆnteses, temos a (( x2 + b a x + b2 4a2 ) + c a − b 2 4a2 ) = 0, ou, equivalentemente, a (( x + b 2a )2 − b 2 4a2 ) = 0. Multiplicando o a pelos termos de dentro dos pareˆnteses, a ( x + b 2a )2 + a · c a − a · b 2 4a2 = 0, ou ainda a ( x + b 2a )2 + c− b 2 4a = 0. Com isso, a ( x + b 2a )2 = b2 4a − c, que equivale a (colocando o lado direito sobre o mesmo denominador 4a) a ( x + b 2a )2 = b2 − 4ac 4a . Lembrando que ∆ = b2 − 4ac, temos a ( x + b 2a )2 = ∆ 4a , Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ Me´todos Determin´ısticos I EP10 19 que, dividindo por a, equivale a ( x + b 2a )2 = ∆ 4a2 . Assim, x + b 2a = ± √ ∆ 4a2 . A raiz quadrado existira´ se, e somente se, o que estiver dentro dela for maior ou igual a zero. Mas, como o denominador 4a2 e´ sempre positivo, isto equivale a ∆ > 0. Assim, a equac¸a˜o tem soluc¸a˜o se, e somente se, ∆ > 0. Neste caso, temos x + b 2a = ± √ ∆ 4a2 = ± √ ∆ 2a , que equivale a x = ± √ ∆ 4a2 = ± √ ∆ 2a − b 2a , ou ainda x = ± √ ∆ 4a2= −b±√∆ 2a . Eis a raza˜o de ser da Fo´rmula de Bhaskara! Fundac¸a˜o CECIERJ Conso´rcio CEDERJ
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