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Vinicius de Moraes

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Vinicius de Moraes: o poeta branco mais negro do Brasil
Anderson Rosa da Silva[1: Graduando do curso de Letras-português da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]
O poeta da paixão
Com o nome de batismo Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes (apenas aos nove anos registra o Vinicius de Moraes), filho de Lydia Cruz de Moraes e de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, nasceu no dia 19 de outubro de 1913, na Rua Lopes Quintas nº114, no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Vinicius começa a vida acadêmica aos quatro anos na escola primária Afrânio Peixoto no bairro Botafogo. Torna-se Maçom aos sete anos de idade e em 1922, ano da semana da arte moderna, aos 13 anos ele começa a escrever seus primeiros poemas. Em 1927 compõe “Loura ou Morena” e “Canção da noite” (um "fox-trot brasileiro" e uma "berceuse", segundo a definição do próprio Vinicius) ao lado de seus irmãos Paulo, Haroldo e Oswaldo. Torna-se bacharel em Letras no ano de 1929 e com apenas 17 anos, seguindo o caminho natural de muitos jovens que aspiravam as letras, entra na Faculdade de Direito da Rua do Catete, no Rio de Janeiro. No ano de 1932 publica pela primeira vez um poema de sua autoria na revista A Ordem, edição de outubro. A publicação é um poema bíblico de 152 versos intitulado “A transfiguração da montanha”, no ano seguinte termina o curso de direito e de formação de reservas e publica seu primeiro livro de poemas: “O caminho para a distância”. Após dois anos publica seu segundo livro “Forma e Exegese” muito reconhecido pela crítica e ganha o prêmio Felipe d’Oliveira e comentários positivos do escritor Manuel Bandeira. Em 1939, Vinicius retorna ao Brasil por Portugal acompanhado de sua mulher, Tati, e do amigo dela Oswald de Andrade. Ainda em Portugal, esperando a partida do navio, escreve o “Soneto de Fidelidade”.
Em 1943 publica sua quinta obra com parceria de Manuel Bandeira, Cinco Elegias, o livro é bem recebido como a obra que aponta para uma maturidade do poeta e do homem, agora com 30 anos. Em 1945 escreve o poema “A manhã do morto” em razão da morte de seu amigo Mário de Andrade. No mesmo ano torna-se vice-cônsul de Los Angeles viajando para o local com sua esposa e seus filhos. No ano seguinte retorna ao Brasil e se aproxima de músicos como Carmem Miranda e Seu Bando da Lua. No ano da morte de seu pai, 1950, viaja até o México para visitar seu amigo e Cônsul-geral do Chile no país, Pablo Neruda. Foi um período em que Neruda, que se encontrava doente, lançava também no México o seu aclamado Canto Geral. Ainda no país, reencontra o amigo de juventude, e pintor, Di Cavalcanti. Em novembro de 19553 é indicado para o posto de segundo-secretário na Embaixada do Brasil em Paris, cidade em que lançava, em edição francesa de Pierre Seghers, as Cinq elégies. Logo depois, passa a trabalhar na delegação brasileira junto a UNESCO, também na capital francesa. Mesmo ano em que compõe seu primeiro samba com música e letra de sua autoria, intitulado “Quando tu passas por mim”. A canção foi gravada por Aracy de Almeida. A partir dessa experiência, Vinicius escreve outros poemas que anos mais tarde virariam canções. Em 1979 o poeta comemora a parceria com Toquinho e tem o seu poema “Operário em construção” lido por Luís Inácio Lula da Silva na assembleia dos metalúrgicos em São Bernardo, São Paulo. No mesmo ano, ao voltar da Europa, sofre um derrame decorrente de suas diabetes e perde os originais do seu nunca terminado e acalentado livro Roteiro lírico e sentimental da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Vinicius de Moraes morre aos 66 anos de edema pulmonar no dia 9 de julho de 1980 em sua casa na Gávea, ao lado de seu parceiro Toquinho e de Gilda Mattoso.
O poeta em estado de poesia
Através de sua linguagem simples, temas claros, ritmo e inspirações, Vinicius é um poeta que conquista o “popular”. Ele atravessa o místico para alcançar o corpóreo. Valoriza o cotidiano, aberto ao social e explorador da banalidade, atinge o leitor com suas formas clássicas escritas para serem cantadas. O escritor, poeta e, porque não, compositor faz uso do simples para ser lido por pessoas simples e que entendam a sua linguagem. 
No documentário “Vinicius”, Caetano Veloso afirma que assistiu Vinicius de Moraes pela televisão, mas o confundira com um ator negro da peça Orfeu da Conceição, pois o mesmo falava com muita propriedade da obra, tendo em vista que Vinicius era um homem diplomata e muito culto, mas também um apaixonado pela simplicidade, assim como escrevera:
“Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil [...]
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração”
A poesia de Vinicius define-se, sem dúvida, por uma generosa abertura afetiva e estética, obedecendo à inclinação do poeta para o diálogo, o convívio e a liberdade. Muito de seus versos vêm passando de mão em mão, de boca em boca e ainda de geração em geração, formando uma rara aliança em ter poesia e leitor.
Para que tal efeito surgisse é necessário levar em conta diversos aspectos fundamentais da poesia viniciana: o apreço pela experiência comum, a opção pela clareza, bem como a incorporação de temas e temas contrários a tradição da busca pela inovação formal ininterrupta. 
O amor expresso em seus poemas é incondicionalmente humilde, declarado e franco, seja como philia – amor fraterno – como eros – amor carnal, erótico – ou como ágape – amor a Deus. O crítico Sérgio Milliet diz que, com Vinicius, “estamos sempre a beira do abismo”. Em três de suas canções mais populares - “Chega de saudade”, “Eu sei que vou te amar” e “Garota de Ipanema” – contém alguns dos mais importantes tratamentos que o poeta deu às formas de amar. O amor saudade, o amor desejo, o amor carência e o amor paixão. 
“Eu sei que vou te amar” começa:
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar [...]
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver a espera
De viver ao lado teu
Por Toda a minha vida.
Aqui Vinicius explora a ideia da mulher como objeto de adoração, outra noção marcadamente romântica, mas novamente tratada pelo poeta em dicção ora romântica, ora simbolista, ora modernista. O Romantismo, em seu exercício permanente de idealização da mulher, adora-a e declara o desejo de fundir-se a ela eternamente, o que só faz aguçar seu sofrimento. 
Vinicius, como poeta transeunte nas estruturas poéticas, se aventura em uma elegia – peça Orfeu da Conceição – baladas – Balada feroz – e sonetos. À esta Vinicius dedicou boa parte de sua inventividade criadora, conferindo-a nuances estilísticas marcantes, em consonância com as vertentes centrais de sua obra. Em o “poeta do futuro” – título original - encontra-se uma “profissão de fé” em forma de soneto, cuja feição assumiu a marca própria de Vinicius, que imprimiu um novo rosto a essa forma:
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
— Meu tempo é quando.
	
	Vinicius inova ao dispor de modo alternado, na primeira estrofe, versos pentassílabos e tetrassílabos, mantendo essa metrificação ao longo de todo o poema. É possível observar que a musicalidade é reforçada por um esquema de rimas flexível. Em outras obras de Vinicius é possível notar também assonâncias, aliterações e repetições, outras, ainda, são compostas em redondilha maior.

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