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Universidade Federal do ABC 
Bacharelado em Ciências e Humanidades 
 
 
 
 
Temas e Problemas em 
Filosofia 
 
 
Introdução à disciplina 
 
 
Filosofia: Em busca de uma 
caracterização 
 
 
Prof. Valter A. Bezerra (CCNH) 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
2 
 
Alguns dos ‘Grandes Temas’ da Filosofia 
(e não só da Filosofia): 
 
 
• O Indivíduo, o Sujeito, o Eu 
• A Existência 
• O Conhecimento 
• A Razão 
• O Método científico 
• A natureza do Pensamento 
• A existência e os atributos de Deus 
• A natureza do Belo e da Arte 
• A natureza do Espaço e do Tempo 
• A História e a possibilidade do Progresso 
• A possibilidade e a natureza da Mudança 
• A Consciência e a Mente... 
 
 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
3 
 
 
 
 
 
Porém esses “grandes temas” podem ser abordados segundo maneiras e 
enfoques muito diferentes. 
 
Eles não são, por si sós, “intrinsecamente filosóficos”. 
 
 
Quando eles se tornam filosóficos? 
 
O que os torna filosóficos? 
 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
4 
 
 
 
 
Antes de falar de Filosofia propriamente dita, 
consideremos, primeiro, alguns exemplos típicos das 
chamadas “Grandes Questões” que têm interessado 
o ser humano ao longo dos séculos (porém, ao 
mesmo tempo, em certo sentido já estamos falando 
da Filosofia): 
 
 
 
 
 
 
Alguns problemas que são (também) filosóficos: 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
5 
 
• O que há? Por que existe algo, ao invés de nada? 
• O que significa existir? 
• É possível a metafísica — isto é, é possível uma investigação do “ser enquanto 
ser”? 
• É possível conhecer o mundo? Caso afirmativo, como podemos conhecê-lo? 
• Podemos confiar nos dados dos sentidos como guias para conhecermos o mundo? 
• De que o mundo é constituído? (Nas palavras do filósofo Mário Bunge, qual é o 
“mobiliário do mundo”?) 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
6 
 
• O que é o tempo? 
• O que é o infinito? Ele pode ser pensado? 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Aliás, o que é pensar? Como é possível o pensamento? 
• E a lógica, corresponde às “leis do pensamento”? Será ela única ou serão várias? 
• O que é o acaso? Qual é o seu papel no funcionamento do mundo? 
• Existem o certo e o errado? Existe o bem? 
• Em que consiste a justiça? E a virtude? 
• Existe o Belo? Que papel ele tem a desempenhar na Arte, se é que tem? 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
8 
 
• Como o ser humano (finito, mortal e limitado) se posiciona (deve se posicionar) 
frente ao mundo? E frente à sociedade? E frente à guerra? E frente à morte? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Umberto Boccioni 
Visões simultâneas (1912) 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
9 
 
• O que é o ser humano? O que somos? 
• O ser humano é genuinamente livre? 
• A vida tem um sentido? 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
10 
 
 
 
 
O que torna uma investigação especificamente filosófica? 
 
 
 
 
 
 
• Não é apenas o fato de discutir as “grandes questões” — pois 
constatamos que isso a arte e a literatura também fazem. 
 
 
 
 
Exemplo: contrastar duas abordagens — uma poética, outra filosófica — ao tema da existência: 
• por um lado, poemas de Drummond e Paulo Henriques Britto; 
• e, por outro lado, um trecho de “Sobre o que há”, importante ensaio sobre ontologia de Quine. 
 
[Ontologia = estudo do ser; ver adiante] 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
11 
A suposta existência 
Carlos Drummond de Andrade 
 
 
Como é o lugar 
quando ninguém passa por ele? 
Existem as coisas 
sem ser vistas? 
 
O interior do apartamento desabitado, 
a pinça esquecida na gaveta, 
os eucaliptos à noite no caminho 
três vezes deserto, 
a formiga sob a terra no domingo, 
os mortos, um minuto 
depois de sepultados, 
nós, sozinhos 
no quarto sem espelho? 
 
Que fazem, que são 
as coisas não testadas como coisas, 
minerais não descobertos — e algum dia 
o serão? 
 
Estrela não pensada, 
palavra rascunhada no papel 
que nunca ninguém leu? 
Existe, existe o mundo 
apenas pelo olhar 
que o cria e lhe confere 
espacialidade? 
 
Concretitude das coisas: falácia 
de olho enganador, ouvido falso, 
mão que brinca de pegar o não 
e pegando-o concede-lhe 
a ilusão de forma 
e, ilusão maior, a de sentido? 
 
Ou tudo vige 
planturosamente, à revelia 
de nossa judicial inquirição 
e esta apenas existe consentida 
pelos elementos inquiridos? 
Será tudo talvez hipermercado 
de possíveis e impossíveis possibilíssimos 
que geram minha fantasia de consciência 
enquanto 
exercito a mentira de passear 
mas passeado sou pelo passeio, 
que é o sumo real, a divertir-se 
com esta bruma-sonho de sentir-me 
e fruir peripécias de passagem? 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
12 
Eis se delineia 
espantosa batalha 
entre o ser inventado 
e o mundo inventor. 
Sou ficção rebelada 
contra a mente Universal 
e tento construir-me 
de novo a cada instante, a cada cólica, 
na faina de traçar 
meu início só meu 
e distender um arco de vontade 
para cobrir todo o depósito 
de circunstantes coisas soberanas. 
 
A guerra sem mercê, indefinida 
prossegue, 
feita de negação, armas de dúvida, 
táticas a se voltarem contra mim, 
teima interrogante de saber 
se existe o inimigo, se existimos 
ou somos todos uma hipótese 
de luta 
ao sol do dia curto em que lutamos. 
 
In: A Paixão Medida (1980), pp. 14-16 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
13 
Ontologia sumaríssima 
Paulo Henriques Britto 
 
 
Umas quatro ou cinco coisas, 
no máximo, são reais. 
 
A primeira é só um gás 
que provoca a sensação 
de que existe no mundo 
uma profusão de coisas. 
 
A segunda é comprida, 
aguda, dura e sem cor. 
Sua única serventia 
é instaurar a dor. 
 
A terceira é redondinha, 
macia, lisa, translúcida, 
e mais frágil do que espuma. 
Não serve para coisa alguma. 
 
A quarta é escura e viscosa, 
como uma tinta. Ela ocupa 
todo e qualquer espaço 
onde não se encontre a quinta 
(se é que existe mesmo a quinta), 
a qual é uma vaga suspeita 
de que as quatro acima arroladas 
sejam tudo o que resta 
de alguma coisa malfeita 
torta e mal-ajambrada 
que há muito já apodreceu. 
 
Fora essas quatro ou cinco 
não há nada, 
nem tu, leitor, 
nem eu. 
 
 
In: Mínima lírica (1989),pp. 97-98. 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
14 
W. V. Quine 
Sobre o que há 
(Parte final — pp. 226-229) 
 
«Como decidir diante de ontologias rivais? A resposta não é certamente proporcionada pela fórmula semântica 
"Ser é ser o valor de uma variável"; pelo contrário, essa fórmula serve antes para testar a conformidade de uma 
certa afirmação ou doutrina com respeito a um critério ontológico prévio. Atentamos a variáveis ligadas no 
contexto da ontologia não a fim de saber o que há, mas a fim de saber o que uma certa afirmação ou doutrina, 
nossa ou de outrem, diz que há; enquanto tal, esse é propriamente um problema que diz respeito à linguagem. 
Mas o que há é uma outra questão. 
 Na discussão acerca do que há, ainda há razões para operarmos num plano semântico. Uma razão é 
escapar do embaraço apontado no início deste ensaio: o fato de não poder eu admitir que há coisas que McX 
sustenta e eu não. Enquanto eu estiver ligado à minha ontologia, oposta que é à de McX, não poderei permitir 
que minhas variáveis ligadas se refiram a entidades que pertençam à ontologia de McX e não à minha. Posso, 
no entanto, descrever coerentemente nossa divergência, caracterizando os enunciados que McX afirma. Desde 
que minha ontologia simplesmente admita formas lingüísticas, ou ao menos inscrições concretas e emissões, 
posso falar a respeito das sentenças de McX. 
 Outra razão para retirarmo-nos a um plano semântico é encontrar terreno comum para argumentar. 
Divergências quanto à ontologia envolvem divergências básicas, quanto a esquemas conceituais; entretanto, a 
despeito dessas divergências básicas, McX e eu damo-nos conta de que nossos esquemas conceituais 
convergem em suas ramificações intermediárias e superiores o bastante para capacitar-nos a uma comunicação 
proveitosa a respeito de tópicos como política, tempo e, em particular, linguagem. Na medida em que nossa 
controvérsia básica sobre ontologia puder ser transformada numa controvérsia semântica acerca de palavras e 
do que fazer com elas, a degeneração da controvérsia em petições de princípios poderá ser adiada. 
 Não é de admirar, pois, que controvérsias ontológicas devam levar a controvérsias sobre linguagem. 
Mas não devemos saltar à conclusão de que o que há depende de palavras. A tradutibilidade de' uma questão em 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
15 
termos semânticos não é uma indicação de que a questão seja lingüística. Ver Nápoles é carregar um nome que, 
anteposto às palavras "vê Nápoles", produz uma sentença verdadeira; ainda assim, não há nada de lingüístico 
em ver Nápoles. 
 Nossa aceitação de uma ontologia é, creio eu, semelhante em princípio a nossa aceitação de uma teoria 
científica, digamos, de um sistema de física: adotamos, ao menos na medida em que somos razoáveis, o 
esquema conceitual mais simples no qual os fragmentos desordenados da experiência bruta podem ser 
acomodados e organizados. Nossa ontologia fica determinada uma vez fixado o esquema conceitual global 
destinado a acomodar a ciência no sentido mais amplo; e as considerações que determinam uma construção 
razoável de qualquer parte desse esquema conceitual, por exemplo, da parte física ou da biológica, não são 
diferentes em espécie das considerações que determinam uma construção razoável do todo. Tanto quanto a 
adoção de qualquer sistema de teoria científica pode ser dita uma questão de linguagem, o mesmo — mas não 
mais — pode ser dito da adoção de uma ontologia. 
 A simplicidade, porém, enquanto princípio orientador da construção de esquemas conceituais, não é 
uma idéia clara e despida de ambigüidade; e ela é perfeitamente capaz de apresentar um critério duplo ou 
múltiplo. Imaginem, por exemplo, que tenhamos arquitetado o conjunto de conceitos mais econômico e 
adequado ao relato ponto-por-ponto da experiência imediata. As entidades determinadas por esse esquema — 
os valores das variáveis ligadas — são, suponhamos, eventos subjetivos individuais de sensação e reflexo. 
Ainda assim, concluiríamos, sem dúvida nenhuma, que um esquema conceitual fisicalista, que pretende falar de 
objetos externos, oferece muitas vantagens ao simplificar nossos relatos globais. Reunindo os eventos sensíveis 
dispersos e tratando-os como percepções de um objeto, reduzimos a complexidade de nosso fluxo de 
experiência a uma simplicidade conceitual manipulável. A regra da simplicidade é, na verdade, a máxima que 
nos orienta na atribuição de dados sensíveis a objetos: associamos uma sensação anterior de redondo e uma 
sensação posterior de redondo à mesma assim chamada moeda, ou a duas assim chamadas moedas diferentes, 
obedecendo às exigências de simplicidade máxima para nosso quadro global do mundo. [...] 
 Em páginas anteriores empenhei-me em mostrar que alguns argumentos comuns em favor de certas 
ontologias são falaciosos. Adiantei, em seguida, um critério explícito para decidir quais os compromissos 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
16 
ontológicos de uma teoria. Mas a questão de saber que ontologia efetivamente adotar permanece ainda aberta, e 
o conselho óbvio é tolerância e espírito experimental. Usemos de todos os meios para verificar quanto do 
esquema conceitual fisicalista pode ser reduzido a um fenomenalista; ainda assim, a física também requer, 
naturalmente, ser levada adiante, mesmo se irredutível in toto. Verifiquemos como e em que grau pode-se 
tornar a ciência natural independente da matemática platônica; mas também levemos adiante a matemática, e 
aprofundemo-nos em seus fundamentos platônicos. 
 Dentre os vários esquemas conceituais mais apropriados a essas várias empresas, um deles — o 
fenomenalista — reivindica prioridade epistemológica. Encaradas do interior do esquema conceitual 
fenomenalista, as ontologias dos objetos físicos e dos objetos matemáticos são mitos. A qualidade de mito, no 
entanto, é relativa; relativa, nesse caso, ao ponto de vista epistemológico. Esse ponto de vista é um entre vários, 
correspondendo a um entre vários de nossos interesses e propósitos.» 
 
W. V. Quine, “Sobre o que há”, in: From a logical point of view (De um ponto de vista lógico) (Harvard University Press, 
1953). Trad. port. por Luiz Henrique L. dos Santos, in: Os Pensadores – Ryle / Strawson / Austin / Quine, pp. 217-229. 
São Paulo: Abril Cultural, 1980. 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
17 
Um artista considerado “filosófico” — Maurits Cornelius Escher: 
 
 
 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
18 
Outro artista: René Magritte: 
 
 
 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
19 
 
 
 
 
 
 
 
• A especificidade da Filosofia também não reside apenas o fato de 
pensar de modo sistemático — pois isso a ciência, a teoria 
literária e o direito, por exemplo, também fazem. 
 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
20 
 
É essencial notar que podermos detectar a existência de uma superposição 
importante entre os campos da Filosofia, da Arte, da Literatura e da 
Ciência, porém são formas de conhecimento distintas, que não se 
confundem. 
 
 
 
Fil
Cie 
Lit
Art
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemasem Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
21 
 
Para “piorar” um pouco as coisas, um dos problemas perenes da Filosofia é, precisamente... 
 
 
O que é a Filosofia? Qual o seu objeto? Quais os seus 
métodos? Qual a sua validade? 
 
 
A Filosofia é o único campo do conhecimento que elege como uma de suas questões 
prioritárias a sua própria natureza. 
• Ela problematiza a si mesma. 
• Ela repensa constantemente o seu próprio objeto de estudo e os seus métodos. 
• Em outras palavras, ela é reflexiva. 
 
 
A Filosofia da Filosofia é ainda Filosofia! 
O falar sobre a Filosofia é filosofar. É filosofante. 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
22 
 
Karl Popper: 
 
«Antes de desenvolver meu plano desejo reafirmar a convicção de que os filósofos devem filosofar 
— devem tentar resolver problemas filosóficos, em vez de falar sobre a filosofia. Se a doutrina de 
Wittgenstein fosse verdadeira, ninguém poderia filosofar, nesse sentido. Se pensasse assim, 
abandonaria a filosofia. Acontece, porém, que não só estou profundamente interessado em certos 
problemas filosóficos (não me importa muito se é "correto" chamá-los assim), mas alimento a 
esperança de poder contribuir — um pouco, e mediante muito trabalho — para a sua solução. A 
única desculpa que posso dar por estar aqui falando a respeito da filosofia, em vez de filosofar, é a 
esperança de que, ao cumprir o programa que me propus para o preparo desta conferência, poderei 
encontrar uma oportunidade para filosofar.» 
 
[Popper, “A natureza dos problemas filosóficos e suas raízes científicas”] 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
23 
 
Martin Heidegger: 
 
«Por esta via [isto é, considerando as diferentes maneiras pelas quais se tentou definir a Filosofia ao 
longo de sua história] nunca chegaremos a uma resposta autêntica, isto é, legítima, para a questão: 
Que é isto — a filosofia? A resposta somente pode ser uma resposta filosofante, uma resposta que 
enquanto res-posta filosofa por ela mesma. Mas como compreender esta afirmação? Em que 
medida uma resposta pode, na medida em que é res-posta, filosofar? [...] 
 Quando é que a resposta à questão: Que é isto — a filosofia? é uma resposta filosofante? 
Quando filosofamos nós? Manifestamente apenas então quando entramos em diálogo com os 
filósofos. Disto faz parte que discutamos com eles aquilo de que falam. Este debate em comum 
sobre aquilo que sempre de novo, enquanto o mesmo, é tarefa específica dos filósofos, é o falar, o 
légein no sentido do dialégesthai, o falar como diálogo. Se e quando o diálogo é necessariamente 
uma dialética, isto deixamos em aberto. 
 Uma coisa é verificar opiniões dos filósofos e descrevê-las. Outra coisa bem diferente é 
debater com eles aquilo que dizem, e isto quer dizer, do que falam.» 
 
[M. Heidegger, “Que é isto — A Filosofia?”, trad. por Ernildo Stein, in Os Pensadores — Heidegger, p. 19. SP: Abril 
Cultural, 1980.] 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
24 
 
Gilles-Gaston Granger: 
 
«O conhecimento científico exige e suscita um metaconhecimento que o examina, descreve, critica 
ou fundamenta, mas que não poderia, sem impostura, pretender-se inteiramente científico; é, ao 
mesmo tempo, lógica e filosofia da ciência. A filosofia, ao contrário, qualquer que seja seu ponto de 
apoio primeiro, exige e suscita um reconhecimento de si mesma, que se deve admitir como 
homogêneo a ela. O operador “filosofar”, de modo semelhante aos operadores idempotentes da 
álgebra, por mais que seja reiterado, não produz nada diverso de si mesmo.» 
 
[Por um conhecimento filosófico, pp. 10-11. Trad. por Constança M. Cesar e Lucy M. Cesar. 
Campinas, SP: Papirus, 1989.] 
 
 
 SImbolicamente: 
ϕ x = ϕ( x ) 
 
 
ϕ ϕ = ϕ 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
25 
 
 
Então, o que é a Filosofia? 
Algumas propostas de definição ou caracterização: 
 
 
 
Aristóteles: aquilo que começa com o assombro? 
 
«Foi, com efeito, pela admiração [“espanto” / “assombro”] que os homens, assim hoje como no 
começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e 
progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores: por exemplo, as 
mudanças da Lua, as do Sol e dos astros e a gênese do Universo. Ora, quem duvida e se admira 
julga ignorar: por isso, também quem ama os mitos é, de certa maneira, filósofo, porque o mito 
resulta do maravilhoso. Pelo que, se foi para fugir da ignorância que filosofaram, claro está que 
procuraram a ciência pelo desejo de conhecer, e não em vista de qualquer utilidade.» 
 
(Aristóteles, Metafísica, Livro I, Capítulo II, trad. por Vincenzo Cocco, em Os Pensadores - 
Aristóteles (II), p. 14.) 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
26 
 
Heidegger, ecoando a visão de Aristóteles: 
 
«Já os pensadores gregos, Platão e Aristóteles, chamaram a atenção para o fato de que a filosofia e 
o filosofar fazem parte de uma dimensão do homem, que designamos dis-posição (no sentido de 
uma tonalidade afetiva que nos harmoniza e nos convoca por um apelo). 
 Platão diz (Teeteto, 155d): [...] "É verdadeiramente de um filósofo este páthos o espanto; pois 
não há outra origem imperante da filosofia que este”. 
 O espanto é, enquanto páthos, a arkhé da filosofia. Devemos compreender, em seu pleno 
sentido, a palavra grega arkhé. Designa aquilo de onde algo surge. Mas este "de onde" não é 
deixado para trás no surgir; antes, a arkhé torna-se aquilo que é expresso pelo verbo arkhein, o que 
impera. O páthos do espanto não está simplesmente no começo da filosofia, como, por exemplo, o 
lavar das mãos precede a operação do cirurgião. O espanto carrega a filosofia e impera em seu 
interior. 
 Aristóteles diz o mesmo (Metafísica, I, 2, 982b12 ss.): [...] "Pelo espanto os homens chegam 
agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar" (àquilo de onde nasce o filosofar e 
que constantemente determina sua marcha).» 
 
[M. Heidegger, “Que é isto — A Filosofia?”, trad. por Ernildo Stein, in Os Pensadores — Heidegger, p. 21. SP: Abril 
Cultural, 1980.] 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
27 
 
Olgária Matos: 
 
«Inventores da palavra “filosofia”, os gregos não se teriam enganado. Se é preciso pensar bem, é 
para viver melhor. (...) A filosofia forma almas fortes pelo exercício da análise de si e do pensamento 
autônomo. (...) Nas páginas que se seguem, a filosofia é apresentada como uma pedagogia da 
razão e uma medicina do espírito. (...) A filosofia como uma paidéia (educação formadora) nasce de 
uma reflexão sobre a racionalidade, pois o espírito “tem sempre a idade de todos os seus 
preconceitos”. Neste sentido, a educação da razão é, para a filosofia, uma das mais nobres tarefas 
do pensamento. (...) Filosofia e educação guardam, hoje, preocupações comuns porque tomam o 
homem como enigma a ser decifrado diante das incertezas da vida e as da história. Em sentido 
amplo, preparam os homens para enfrentar infortúnio e boa sorte. Os autores aqui referidos reúnem-
se em torno de um tema central: o da construção da filosofia como medicina da alma, suas 
possibilidades e seus limites.» 
 
[O. Matos — Filosofia, a polifonia da razão: Filosofia e educação. São Paulo: Scipione, 1997, pp. 7-
11.]Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
⇒ Marilena Chauí, prefácio a 
Ensaios de Filosofia Ilustrada de 
Rubens R. Torres Filho, ed. 
Iluminuras. 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
29 
 
A relação da Filosofia com a realidade empírica é apenas indireta: 
 
 
 Filosofia 
 
 
 
 
 
 Ciência 
 
 
 
 
 
 
 Experiência 
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
30 
 
Kant: 
 
«A razão jamais se refere diretamente a um objeto, mas unicamente ao entendimento e através dele 
ao seu próprio uso empírico; portanto, não produz conceitos (de objetos), mas apenas os ordena e 
dá-lhes aquela unidade que podem ter na máxima extensão possível, a qual não é absolutamente 
considerada pelo entendimento, que se ocupa só com a conexão pela qual por toda parte as séries 
das condições são produzidas segundo conceitos. Logo, a razão propriamente tem por objeto só o 
entendimento e o seu emprego adequado; e assim como o entendimento reúne o múltiplo no objeto 
mediante conceitos, a razão por sua vez reúne o múltiplo dos conceitos mediante idéias ao pôr uma 
certa unidade coletiva como objetivo das ações do entendimento, que do contrário só se ocupam 
com uma unidade distributiva.» 
 
[Kant, Crítica da Razão Pura, B 671, trad. bras. Rohden-Moosburger, in: Os Pensadores – Kant (I), 
p. 319]» 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
Temas e Problemas em Filosofia — Prof. Valter Alnis Bezerra — UFABC 
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Gilles-Gaston Granger: 
 
«As ciências visam construir modelos abstratos dos fenômenos. [...] A filosofia, ao contrário, nunca 
chegou a propor verdadeiros modelos dos fenômenos, pela simples razão de que este não pode ser 
o seu objetivo. [...] A filosofia, contrariamente às diversas ciências, também não pretende explicar 
fatos. [...] Não se poderia, com certeza, exigir das ciências uma definição universal de ‘fato’. [...] 
Desejamos, aqui, só sublinhar o contraste, quanto a este ponto, com a perspectiva dos filósofos, 
para quem a questão “O que é, em geral, um fato?” é, ao contrário, um verdadeiro e fundamental 
problema. [...] Mesmo que um filósofo chegue a elucidar, a seu modo, a noção de ‘fato’, não terá 
contudo determinado nenhum fato que pudesse explorar, à maneira do cientista. 
 Assim, pode-se dizer que a filosofia não tem objeto, por menos que se tenha a preocupação 
de dar a esta palavra um alcance racionalmente rigoroso, embora bastante amplo, para ser aplicado 
ao mesmo tempo aos objetos do senso comum e aos objetos da ciência. A crença, muito difundida 
em geral, de que “a filosofia fala de tudo” é perfeitamente correta, no fundo: o campo de aplicação 
de seu exercício é, com efeito, o conjunto da experiência humana. Mas a filosofia não poderia tratar 
esta experiência como um mosaico de diferentes classes de fatos, que lhe caberia definir e explicar, 
colocando-se num nível de generalidade superior ao das ciências.» 
 
[Por um conhecimento filosófico, pp. 13-14. Trad. por Constança M. Cesar e Lucy M. Cesar. 
Campinas, SP: Papirus, 1989.] 
 
 
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Jay Rosenberg: 
 
«Um filósofo é, entre outras coisas, alguém que procura encontrar repostas 
para [as “grandes questões”]. Parte da atividade dos filósofos profissionais 
consiste em ir além da sensação [algo frustrante] de que se trata de 
questões importantes, com repostas que seriam também importantes, e 
trazer tais questões para o âmbito da atividade racional. [...] Parte da tarefa 
do filósofo é justamente tomar as “grandes questões” e transformá-las em 
questões acerca das quais se pode pensar [de maneira sistemática] — e 
então, passar a pensar sobre elas. [...] 
 Talvez seja mais frutífero pensar na filosofia enquanto disciplina como 
distinguindo-se pelo seu método, mais do que pelo seu assunto [subject 
matter]. É, na melhor das hipóteses, extremamente difícil — senão 
impossível — dar uma descrição sucinta daquilo que a filosofia estuda.» 
 
Jay F. Rosenberg — The Practice of Philosophy: A Handbook for Beginners. [2nd edition.], p. 6. 
Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1984. 
 
 
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As “grandes áreas” da Filosofia: 
 
Epistemologia e
Filosofia da Ciência
Metafísica e Ontologia
Lógica, Semântica e
Metamatemática
Ética
Estética e Filosofia da
Arte
Filosofia Política
 
 
Introdução — Filosofia: em busca de uma caracterização 
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Poderíamos ainda mencionar inúmeras áreas do tipo “Filosofia de (...X...)”, 
como: 
• Filosofia do Direito 
• Filosofia da História 
• Filosofia da Matemática 
• Filosofia da Lógica 
• Filosofia da Química 
• Filosofia da Tecnologia... 
 
(Aplica-se aqui o comentário feito há pouco sobre a “Filosofia da Filosofia”.) 
 
Note-se que “Metafísica”, aqui, não significa especulação ou devaneio. Por 
“Metafísica” entende-se aqui Ontologia, significando: 
 
O estudo sistemático dos pressupostos gerais acerca das entidades e 
processos que são postulados pelas teorias e/ou outras representações 
que versam acerca de um determinado domínio de investigação. 
 
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Filosofia — Uma proposta de caracterização: 
 
Uma forma de conhecimento que: 
 
• É capaz de ser reflexiva; 
• É capaz de problematizar e redefinir seu próprio objeto de 
estudo; 
• Só possui relação no máximo indireta com os fenômenos; 
• Assume sempre uma atitude crítica, no sentido de 
investigação dos fundamentos e pressupostos; 
• Vale-se de um método caracterizado pela formulação e 
análise de conceitos e de argumentos; 
• Nesse processo, revisita várias das “grandes questões” da 
existência, mas segundo sua abordagem peculiar; 
• Aborda essas questões transformando-as em problemas de 
são suscetíveis de investigação sistemática.

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