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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 1 de 9 Madeiras na Construção Civil Na condição de material de construção, as madeiras incorporam todo um conjunto de características técnicas, econômicas e estéticas que dificilmente se encontram em outro material existente. Assim, esse material: Apresenta resistência mecânica tanto a esforços de compressão como aos esforços de tração na flexão: foi o primeiro material de construção a ser utilizado tanto em colunas como em vigas e vergas; Tem resistência mecânica elevada, superior ao concreto, com a vantagem do peso próprio reduzido; Resiste excepcionalmente a choques e esforços dinâmicos: sua resiliência1 permite absorver impactos que romperiam ou estilhaçariam outros materiais; Apresenta boas características de isolamento térmico e absorção acústica; seco, é satisfatoriamente dielétrico2; Tem facilidade de afeiçoamento e simplicidade de ligações: pode ser trabalhado com ferramentas simples; Tem custo reduzido de produção, reservas que podem ser renovadas e, quando convenientemente preservado, perdura em vida útil prolongada à custa de insignificante manutenção; Em seu estado natural, apresenta uma infinidade de padrões estéticos e decorativos. No entanto, a madeira somente adquiriu reconhecimento como moderno material de construção, em condições de atender às exigências de técnicas construtivas recentemente desenvolvidas, quando outros tantos processos de beneficiamento permitiram anular as características negativas que apresenta em estado natural. A degradação de suas propriedades e o surgimento de tensões internas, decorrentes de alterações de sua umidade, anulados pelos processos de secagem artificial controlada; A deterioração, quando em ambientes que favoreçam o desenvolvimento de seus principais predadores, contornada com os tratamentos de preservação; A marcante heterogeneidade e anisotropia próprias de sua constituição fibrosa orientada, assim como a limitação de suas dimensões, resolvida pelos processos de transformação nos laminados, contraplacados e aglomerados de madeira. Algumas outras restrições para o emprego da madeira: Material inflamável (tratamento retardante resolve) Material biodegradável (tratamento preservativo resolve) Insuficiente divulgação das informações tecnológicas já disponíveis acerca de seu comportamento sob as diferentes condições de serviço 1 Resiliência se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. 2 Um dielétrico ou isolante elétrico, é uma substância que possui alta resistência ao fluxo da corrente elétrica. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 2 de 9 Número reduzido projetos específicos desenvolvidos por profissionais habilitados Mas não são somente como material de construção que devem ser apresentadas as madeiras, outras aplicações são: Como combustível: porém seu poder calorífico é baixo, o do carvão é seis vezes maior. Como matéria-prima para outros usos industriais: o papel, ainda é o mais importante produto, porém a cada dia surgem novos produtos na moderna indústria de celulose, como o rayon3 e os plásticos da celulose (filmes fotográficos, celofane) e a nitrocelulose ou algodão-pólvora usado na fabricação de detonadores elétricos. Características físicas da madeira Fatores que influenciam as propriedades da madeira: Local de origem: temperatura, chuvas. Solo: tipo e condições de umidade. Posição da árvore em relação à floresta. Peculiaridades do manejo aplicado à floresta. Idade da árvore. Posição da peça em relação à altura e ao diâmetro da árvore. Amostragem adotada para a caracterização. Umidade da Madeira A água, que nas árvores é condição de sobrevivência do vegetal, permanece na madeira extraída sobre três estados ou condições: Água de constituição: não pode ser eliminada sem a destruição do material, não é eliminada na secagem. Quando a madeira não contém outra umidade, diz-se que ela está completamente seca ou seca em estufa, esta condição é obtida mantendo a madeira em estufa aquecida de 100-150ºC por certo tempo. Água de impregnação: essa infiltração de água entre as fibrilas de celulose que estruturam as paredes das células provocam considerável inchamento dessas paredes, causando uma notável alteração do volume da peça de madeira. Todo o comportamento físico-mecânico do material fica alterado com a presença ou variação da água de impregnação. Quando as paredes das células estão completamente saturadas de água de impregnação, sem que a água extravase para os vazios celulares, diz-se que a madeira atingiu o teor de umidade denominado ponto de saturação ao ar (em torno de 30% de umidade). Água livre: depois de impregnar completamente as paredes das células, a água começa a encher os vazios capilares: esta na condição de água livre, água de embebição, água de capilaridade. Nem a presença nem a retirada desta água livre causam qualquer alteração no estado ou no comportamento do material. 3 Raiom ou rayon é o nome da seda artificial. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 3 de 9 Aspectos favoráveis da secagem da madeira Redução da movimentação dimensional, permitindo a obtenção de peças cujo desempenho, nas condições de uso, será potencialmente mais adequado. Possibilidade de melhor desempenho de acabamentos, como tintas, vernizes e produtos ignífugos. Redução da probabilidade de ataque de fungos. Aumento da eficácia da impregnação da madeira contra a demanda biológica. Aumento dos valores correspondentes às propriedades de resistência e de elasticidade. Retração na madeira As madeiras sofrem alterações de volume e dimensões quando seu teor de umidade varia entre o ponto de saturação ao ar e a condição de seca em estufa. Também denominada contração, inchamento ou “trabalho” das madeiras. Aspectos anatômicos provocam diferentes retrações nas três direções principais Direção Retração total Longitudinal 0,1 a 0,9 Radial 2,4 a 11,0 Tangencial 3,5 a 15,0 Volumétrica 6,0 a 27,0 Quadro de porcentagens de retração de algumas espécies de madeira Espécie T (%) R (%) T/R Cedro 5,3 4,0 1,3 Cupiúba 7,1 4,3 1,7 Eucalipto Citriodora 9,6 6,5 1,5 Eucalipto Tereticornis 16,7 7,3 2,3 Ipê 7,8 5,1 1,5 Jatobá 6,9 3,6 1,9 Mogno 4,1 3,0 1,4 Sucupira 7,3 5,9 1,2 Tatajuba 5,9 4,1 1,4 Densidade A Norma brasileira corrige a umidade para 15% de umidade, que é uma umidade normal. A densidade pode ser entendida como o índice de compacidade das fibras da madeira, mostrando uma maior ou menor quantidade de fibras por unidade de volume aparente. Pode-se correlacionar diversos tipos de madeira conforme esta característica. A densidade varia com a umidade e a posição no lenho. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 4 de 9 Condutibilidade elétrica Quando bem seca é excelente isolante elétrico ao passo que úmida torna-se condutora (Varia com as espécies). Condutibilidade térmica Baixacondutibilidade independente da espécie Condutibilidade sonora Não é bom isolante acústico, porém quando usado em tratamento acústico funciona bastante bem por terem boa capacidade de absorção dos sons. Resistência ao fogo Os estudos de capacidade de resistência ao fogo devem ser feitos com temperaturas em torno de 850ºC, que é a temperatura em incêndios. Deste modo a madeira não pode resistir de maneira alguma nestas condições. O comportamento da madeira deve ser estudado na forma preventiva, sendo a propagação um efeito quase que natural. Principais defeitos das madeiras Nas madeiras, todas as anomalias em sua integridade e constituição que alteram seu desempenho e suas propriedades físico-quimicas são consideradas como defeitos. Critério de classificação dos defeitos, conforme as causas de sua ocorrência: Defeitos de crescimento: devidos a alterações no crescimento e estrutura fibrosa do material; Defeitos de secagem: consequentes da secagem mal conduzida; Defeitos de produção: decorrentes do desdobro e aparelhamento das peças; Defeitos de alteração: provocados por agentes de deterioração, como fungos, insetos, etc... Defeitos de crescimento: Os principais defeitos de crescimento são os nós, os desvios de veio, as fibras torcidas e os ventos. Nós – resultantes do envolvimento de ramos da árvore primitiva, vivos ou mortos, e duramizados por novas e sucessivas camadas de crescimento do lenho. Desvio de veio, fibras torcidas – as madeiras são ditas de veio linheiro, quando o desenvolvimento longitudinal de suas fibras é sensivelmente paralelo ao eixo vertical do tronco. Os desvios de veio são devidos a um crescimento acelerado de fibras periféricas, enquanto permanece estacionário o crescimento interno. Ventos – são deslocamentos, separações descontínuas, entre as fibras ou entre anéis de crescimento. Foram provocados durante a vida do vegetal, por paralisações de crescimento, golpes (de vento) ou ações dinâmicas. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 5 de 9 Defeitos de secagem Provocados por efeitos de retração do material, quando perde sua umidade nos processos de secagem natural ou artificial. Compreende as rachaduras, fendas, fendilhamentos e os empenamentos de abaulamento, arqueamento e encurvamento das peças. Figura 1: Defeitos decorrentes do processo de secagem Defeitos de Produção Compreendem as fraturas, rachaduras, fendas e machucaduras ocorridas no abate e derrubada das árvores, e os cantos esmoados, camadas de cortiça e fibras cortadas, introduzidos pelo desdobro e serragem das peças. Defeitos de alteração O ataque de prepadores, fungos e insetos causa, muitas vezes, reduções consideráveis na seção resistente de peças estruturais. Tem ainda um efeito de reforço e agravamento dos demais defeitos preexistentes. A necessidade do tratamento de conservação em peças estruturais, contra o ataque de fungos e insetos, torna-se inevitável, na medida em que é irreversível a tendência para emprego de seções resistentes cada vez mais reduzidas, pela adoção de tensões de segurança mais elevadas e utilização de ligações mais eficientes. Resulta, então, uma margem menor para aceitação de defeitos que se possam agravar com o tempo, como é o caso em questão. Durabilidade natural da madeira Característica intrínseca do cerne/espécie, que confere resistência ao ataque dos organismos xilófagos. O tratamento preservativo faz-se necessário se a espécie escolhida não é naturalmente durável para a classe de risco considerada. Tratabilidade da madeira Impregnabilidade da madeira com produtos preservativos - característica intrínseca da espécie de madeira Na medida em que a espécie selecionada não é suficientemente tratável e de baixa durabilidade natural, não é possível ter-se certeza do seu tempo de vida útil. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 6 de 9 Preservação de madeira Preservação de madeiras é o conjunto de medidas preventivas e curativas para controle de agentes biológicos, físicos e químicos que afetam as propriedades da madeira, ou seja, sua durabilidade. A durabilidade das peças de madeira esta diretamente ligada à preservação de suas características. Diversos fatores alteram estas condições, tais como fungos, insetos que atacam o tecido lenhoso. A resistência à estes agentes depende da qualidade da madeira, localização dentro do lenho, presença de tanino, assim como de fatores externos como umidade, temperatura, arejamento, etc. Os principais processos de preservação podem ser classificados em: 1. Processo de impregnação superficial 2. Processo de impregnação por pressão reduzida 3. Processo de impregnação por pressão elevada Independentemente do processo de preservação à ser utilizado, o primeiro fator à ser adotado é a secagem do produto, sendo necessário o descascamento do tronco, a retirada da seiva, trabalho das peças como bitolagem, furação, etc. Além de melhorar a qualidade do material, a secagem facilita a impregnação dos preservantes. Além disso, a secagem em estufa possibilita a esterilização das peças eliminando parasitas e germes que ocasionam o apodrecimento. A retirada da casca provoca a eliminação de um local onde os fungos e insetos localizam-se preferencialmente. A desseivagem é uma prática muito antiga e importante no beneficiamento da madeira. Uma maneira eficiente é o transporte através do transporte em rio, onde a seiva é substituída por água, através da capilaridade e osmose. este processo facilita a posterior secagem visto que é mais fácil retirar a água que a seiva. Processo de impregnação artificial São processos de pinturas superficiais, ou por imersão das peças em preservantes. Este procedimento é econômico sendo recomendável somente em peças não expostas. Tanto na imersão como na pintura a impregnação dificilmente será superior à 2 ou 3mm, sendo suficiente para tratamento contra inseto e pequenas trincas e fendas. Processo de impregnação sob pressão reduzida Processo de impregnação por pressões naturais, conseguindo-se penetração em todo o alburno4, pode ser efetuado de duas maneiras. 4 O alburno ou borne é a parte externa, mais nova e funcional, da madeira em plantas lenhosas. Comparada ao cerne, é a porção mais clara da madeira. Toda a madeira é formada primeiro como alburno, e possui a função de conduzir água e nutrientes (seiva bruta) para as folhas e distribuir a seiva elaborada para todas as partes da planta. Com o crescimento da planta em idade e diâmetro, a parte interna do alburno vai se tornando inativa - perdendo suas funções - e suas células morrem. Neste momento deixa de ser alburno e passa a ser cerne. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 7 de 9 a) Processo de dois banhos, um quente e outro frio. Em um recipiente é colocado o impregnaste aquecido à temperatura de ebulição da água, sendo as peças introduzidas neste líquido, ali ficando por quatro horas. Após este período as peças são retiradas e colocadas imediatamente no mesmo líquido, sendo entretanto frio por um período de 30 minutos. A expulsão do ar aquecido provoca força a entrada do impregnante através da pressão atmosférica sobre o vácuo relativo. E um processo bastante efetivo recomendado para topo de postes, mourões de cerca tanto na parte enterrada como na superior. b) Processo de substituição da seiva sendopossível somente em peças verdes sendo portanto um processo lento. As peças de madeira são imersas no imunizante havendo a troca da seiva por capilaridade e osmose. Uma peça de 15 cm de diâmetro por 3 metros de comprimento demora no verão aproximadamente 60 dias para estar imunizada. Processo de impregnação em autoclaves São os mais eficientes, normalmente indicado para peças que estarão sujeitas a diversos tipos de predadores. Existem dois processos clássicos: a) De células cheias, sendo as peças carregadas em autoclaves, sob vácuo de 70 cm de mercúrio por duas horas. Com este processo é retirado o ar e a água do tecido lenhoso. Em seguida o madeira é exposto a um banho do preservante sob pressão de 10 atm, durante três horas, sob uma temperatura entre 90 e 100ºC. Finalmente o material é submetido à vácuo de 30 cm de mercúrio, por 30 minutos, a fim de retirar o excesso de preservante. b) de células vazias, sendo as peças submetidas a uma pressão inicial de 3 atm, a seco, por noventa minutos. Após este período é aplicado um banho à pressão de 10 atm, sob temperatura de 90 à 100ºC pelo tempo de três horas. Um novo vácuo é aplicado que retira todo preservante contido no material, pela expulsão do ar sob pressão inicialmente inserido. Os principais produtos preservantes são sempre tóxicos, fungicidas, inseticidas ou antimoluscos, diluídos em óleo ou água. Devem apresentar as seguinte características: • alta toxidez à organismos xilófagos • alto grau de retenção ao tecido lenhoso • alta difusibilidade através do tecido lenhoso • estabilidade • incorrosível para metais e para a própria madeira • segurança aos operadores. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 8 de 9 Organismos xilófagos Fungos Emboloradores e Manchadores Fungos Apodrecedores Brocas-de-Madeira Cupim-de-Madeira-Seca MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II Obs.: Material de apoio complementar, não substitui a bibliografia básica. Página 9 de 9 Cupim-Arborícola Cupim-Subterrâneo Perfuradores Marinhos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUER, L. A. F. Materiais de construção. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Volume 2, páginas 439 a 524. ISAIA, G. C. Materiais de construção civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. São Paulo: IBRACON, 2007. Volume 2, páginas 1149 à 1180.
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