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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Fundação CECIERJ/Consórcio Cederj Curso de Pedagogia para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental 2014/1º Disciplina optativa EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE Coordenação: Professora Doutora Maria Amelia de Souza Reis MÓDULO Nº 1 Aula nº 02 do módulo 01 Educação Social para a Diversidade Cultural, Social e Sexual: Políticas Públicas Nacionais e Internacionais Atividades/Objetivos MÓDULO 1/AULA 2 OBJETIVOS DIAS Educação para a Diversidade Políticas Públicas Nacionais para a Diversidade Cultural e Sexual Políticas públicas Internacionais para a Diversidade Cultural e Sexual Espera-se que ao final desta aula você seja capaz de: Compreender a importância das políticas públicas para a diversidade cultural em meio escolar Compreender os aspectos políticos que reconhecem a diversidade da diversidade étnico-racial Relacionar as politicas públicas estudadas à realidade sociocultural no Brasil Comparar as políticas públicas internacionais e nacionais para a diversidade cultural Analisar criticamente as diferenças e semelhanças entre tais políticas tomando a realidade brasileira 04 h/aulas Meta da Aula Impacto e implicações das Políticas Públicas Nacionais e Internacionais sobre a Educação Social como promotora da Educação para a Diversidade Cultural, Social, Sexual e de Gêneros Introdução Esta é nossa segunda aula, queremos neste momento convidá-lo/convidá-la a refletir sobre o contexto político referente à diversidade sociocultural, sexual, de gênero, das pessoas portadoras de necessidades especiais e das populações em risco social. A questão da diversidade cultural passou, nas últimas duas décadas, de uma realidade conhecida, descrita e explicada, para uma realidade reconhecida, isto é valorizada, respeitada e até defendida. Esta passagem, com o refere REIS (2011) corresponde a uma mudança de perspectiva social e educativa em que ao conceito de multiculturalismo, movimento que defende a valorização e o reconhecimento das diferentes identidades étnicas, bem como a inter-relação entre os indivíduos de diversos grupos culturais em sua diferença, vem sendo sucedido pelo conceito de interculturalidade, que se pauta pela ação efetiva em direção à qualidade dessas inter-relações que visam articular com mais intensidade o local e o global a partir do conhecimento mútuo e comunitário. Atualmente, podemos dizer que a proposta “intercultural” corresponde a uma prática de educação intercultural que implica a adoção do paradigma que afirma "o outro e o diferente como ponto de partida" (PEROTTI, 1994). Como identifica SOUSA SANTOS (2001), o problema não é afirmar um polo e negar o outro, mas sim termos uma visão dialética da relação entre igualdade e diferença. É precisamente uma frase deste pesquisador que sintetiza de maneira especialmente oportuna a tensão tantas vezes existente entre o que entendemos serem as duas faces da mesma moeda: "As pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza". Afirma ainda que se trata mesmo de “um imperativo muito difícil de atingir e manter" (p. 10), mas que reconhecemos necessário e urgente, sob pena de ao vantajoso diálogo intercultural (relativista, aceitante, compassivo, inclusivo e comprometido com os direitos humanos) se sobreporem o que designamos de monólogos culturais, (unicistas, dominantes, elitistas e excluidores). Ressaltamos a importância de compreendermos a educação de forma integral e holística, libertadora e emancipatória, dialogal e dialética, educação portadora de uma visão ampliada de sociedade e que parte do conhecimento indispensável de seu público alvo. Assim, retomando os conceitos de educação social para a uma sociedade diversa e pluricultural ressalto alguns outros conceitos importantes a uma compreensão consistente dos temas que aqui se destacam como propostas de uma melhor educação e formação profissional e cidadã. Educação Social como resposta à diversidade Cultural, Social e Sexual e a construção de uma educação sem preconceitos e inclusiva Como poderá a educação social contribuir para uma efetiva superação das condições existentes? Estou convencida de que para respondermos às questões acima formuladas a educação não deve mais impor- se pelos parâmetros das pedagogias tradicionais nem mesmo subtrair ao processo a complexidade das intervenções pedagógicas e suas abordagens teórico-metodológicas. Os apelos à diversidade não ameaçam a construção das identidades tradicionais, ao contrário, a diversidade torna importante o reconhecimento do movimento em que elas se constituíram e se reconstituem em novas identidades. (AP1) É movimento que coloca em dúvida uma pretensa universalidade e que torna evidente as configurações de diferentes limites pertinentes às relações entre as gerações, entre os sexos, as classes sociais e a(s) cultura(s). De modo a inverter as condições discriminatórias e mesmo as violências simbólicas presentes em toda educação que desconsidera as diferenças, a educação social será aquela que se apropriará da diversidade das visões religiosas, culturais e políticas de grupos sociais diversos, associando tais visões aos fundamentos das ciências sociais e humanas em conjunto com as prerrogativas do Estado de modo a sustentar a finalidade maior da educação que é emancipar os sujeitos pela crítica social e política. Ou seja, superar uma educação e uma pedagogia que demandem estratégias de submissão, através de meios de comunicação social como de políticas educativas formatadas para atender os interesses do capital nacional e internacional. Pelo exposto, é possível depreender que a educação social circunscreve-se no interior da crítica da sociedade e das comunidades educativa e científica a partir de suas práticas, dos conhecimentos das pessoas comuns, das finalidades emancipatórias bem como das teorias e metodologias das ciências sociais e humanas que a sustenta. Neste ponto relembro CARVALHO E BAPTISTA (2004, p23) e destaco de suas teses três dimensões de importância a todo trabalho educativo de formação, quer docente quer da população em geral, tomando por referência a educação social em suas práticas educativas. Necessários à consecução dos objetivos e finalidades da educação social situam-se teoricamente as três dimensões de formação importantes ao desenvolvimento desta forma de educar com ética e crítica social. A dimensão sistêmica caracteriza-se por seu caráter integrador e interdisciplinar fundamentado no reconhecimento da complexidade dos fenômenos socioeducativos, seja respondendo às necessidades constatadas (conduta reativa); prevendo o surgimento dessas necessidades (conduta proativa); percebendo a intensidade dos contextos históricos, sociais e culturais onde os fenômenos se constroem. A dimensão hermenêutica considera a apreensão pelos sujeitos dos problemas e seus contextos, o significado das atitudes de resistência e dos conflitos sociais, culturais e pessoais. A dimensão projetiva caracteriza-se pela percepção das potencialidades das histórias dos sujeitos e dos grupos sociais, da reversibilidade e precariedade dos projetos, inclusive, em função de sua plausibilidade, sua razoabilidade bem como das finalidades como mobilizadoras da ação e da intencionalidade dos projetos. Como exponho educar para a diversidade exige a formação em dimensões objetivas e subjetivas, intrinsecamente, associadas às práticas educativas que por seu caráter emergente, dialógico e interpretativoserve de base às estratégias e mecanismos de intervenção, de revisão de valores e atitudes voltados à superação de injustiças e estereótipos. Elegem-se, então, como princípios éticos e educacionais e como desafios para a educação social as concepções de educação intercultural, sexual e socioeducativa em suas emergências frente às disfunções sociais emergentes, tais como: o abandono material e afetivo das crianças e adolescentes sob o jugo das drogas e dos riscos sociais; o desemprego e empregos precarizados; as violências e discriminações étnico-raciais e sexuais; bem como a intensão e extensão dos movimentos migratórios em nível planetário, todas estas disfunções associadas a um crescente desequilíbrio mundial da atividade econômica dos países-nações. Se pensarmos que o racismo, a xenofobia, a intolerância e todas as outras formas de discriminação recusam até a ideia de diálogo e representam uma afronta permanente à troca de ideias, entendemos com ARAÚJO (2008, p.58) que interculturalidade «é uma atitude humanista que deseja o diálogo, o respeito pelas diferenças e a compreensão mútua», portanto, não imune aos processos psíquicos, relacionais, geracionais, institucionais e políticos que se aglutinam na construção de identidades culturais e singulares. É um movimento pluralista que se afasta das tradições hegemônicas de poder na medida em que no reforço que confere às demandas locais ao enfatizar as peculiaridades culturais singulares, não nega a universalidade das mesmas, identificando que estas se constroem a partir das primeiras. Como refere REIS (2011), nesta perspectiva “a educação intercultural deve construir práticas que eliminem a hierarquização de culturas, qualquer tipo de preconceito (seja por raça, cor, gênero, entre outros) e a desigualdade de oportunidade entre os diferentes em sua pluralidade e multiplicidade” e a questão da identidade no mundo globalizado tem de se tornar “um tema central nas discussões sobre diversidade, pois a construção da mesma - que era vista como única e totalizante para todos os indivíduos de uma nação -, hoje é contestada e repensada por uma sociedade que se vê diante de uma imensa diversidade cultural causada pelas migrações e pela miscigenação que originam por seu lado, um conjunto identitários passíveis de assunção por um indivíduo ou grupos sociais menores”. Na linha do pensamento de REIS E PINHEIRO (2009) os educadores com funções sociais e culturais e os profissionais sociais e de cultura com funções educativas, desempenham, em todos os níveis, um papel essencial na promoção do diálogo intercultural e na preparação das gerações futuras para esse o diálogo, pois possuem ferramentas patrimoniais que podem converter em ferramentas pedagógicas de elevado potencial educativo. Entre esses profissionais os educadores e professores na escola, através do seu empenhamento e da aplicação prática dos seus ensinamentos conjuntamente com os alunos e estudantes, os educadores são modelos importantes. Estas reflexões ecoam das linhas orientadoras para os programas de formação de educadores que devem prever estratégias pedagógicas e metodologias de trabalho que capacitem os educadores para a gestão das novas situações engendradas pela diversidade, pela discriminação, pelo racismo, pela xenofobia, pelo sexismo e pela marginalização, assim como para a resolução dos conflitos de forma pacífica (Conselho da Europa, 2008). De igual modo, os programas de formação dos educadores devem favorecer uma abordagem global à vida institucional com base na democracia e nos direitos humanos, assim como criar uma comunidade de estudantes, tendo em conta as percepções individuais subjacentes, o ambiente escolar e os aspectos informais da educação. O Brasil culturalmente mestiço e heterogêneo, que se constrói em meio a negociações e conflitos plenos em hibridismos culturais em que se destacam conflitos e interesses econômicos, colonialismos, fusões sincréticas (quase sempre violentas), perdas e reconstruções de identidade, e processos de aculturação vem favorecer a educação sob a perspectiva intercultural. A partir da dissertação de Mestrado e dados colhidos por BAUBIER (2010) entende-se que esta dimensão de educação deixa de ser assumida como um processo de formação de conceitos, valores, atitudes a partir de uma relação unidirecional, unidimensional e unifocal, conduzida por procedimentos lineares e hierarquizantes. Passa a ser entendida como o processo construído pela relação tensa e intensa entre diferentes sujeitos, criando contextos interativos que, justamente por se conectarem dinamicamente com os diferentes contextos socio-culturais e políticos em relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem suas respectivas identidades, se tornam ambientes criativos e propriamente formativos, ou seja, estruturantes de movimentos de identificação subjetivos e socioculturais1. A UNESCO na Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, em seu Artigo 4, afirma que a “‘Interculturalidade’ refere-se à existência e interação equitativa de diversas culturas, assim como a possibilidade de geração de expressões culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo”2. FLEURI, Reinaldo Matias. Educação intercultural: desafios emergentes na perspectiva dos movimentos sociais. In: INTERCULTURA e movimentos sociais. Florianópolis: MOVER: NUP, 1998. passim. Citado por Baubier (2012). UNESCO. Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais: Artigo 4 . Paris: UNESCO, 2005. Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura: texto oficial ratificado pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 485/2006, Paris, 03 a 21 de outubro de 2005.
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