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Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 6 “Violência Doméstica e de maus tratos” – Extra intersecção com a Pediatria Página 1 de 3 Intersecção com a Pediatria Síndrome da morte súbita no lactente (SMSL) Definição: Morte súbita e inesperada de criança com menos de 1 ano de idade, com inicio do episódio fatal aparentemente ocorrendo durante o sono, que se mantém inexplicada após exaustiva investigação, incluindo a realização de autópsia completa e revisão das circunstâncias da morte e história clínica. Categorias: Categoria IA: Os critérios clínicos que devem estar presentes são idade superior a 21 dias e inferior a 9 meses, história clínica normal (gestação de termo) e ausência de morte semelhante em irmãos e parentes próximos. Nas circunstâncias da morte, a investigação do local deve comprovar a inexistência de explicações para a morte e o local é adequado e seguro, sem evidências de morte acidental. Nos achados da autópsia destaca‐se a ausência de: trauma inexplicado, abuso, negligência ou lesão não intencional, reacção intensa de stress no timo e os resultados de exames são negativos. Categoria IB: Semelhante a IA mas sem investigação das circunstâncias da morte e/ou falta de uma ou mais investigações. Categoria II: Incluem‐se nesta categoria os casos semelhantes à categoria IA, mas com pelo menos um dos seguintes critérios: Critérios clínicos – idade inferior a 21 dias ou superior a 270 dias, morte semelhante em irmãos, parentes próximos ou outras crianças sob cuidados das mesmas pessoas e presença de afecções neonatais ou perinatais. Circunstâncias da morte – asfixia ou sufocação não foram completamente afastadas. Achados da autópsia – desenvolvimento e crescimento são anormais, apesar de não contributivos para a morte, e verifica‐se inflamação acentuada. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 6 “Violência Doméstica e de maus tratos” – Extra intersecção com a Pediatria Página 2 de 3 Autópsia: Em todos os casos de crianças aparentemente saudáveis que morrem de forma súbita e inexplicada, é obrigação do médico solicitar sempre a autópsia medico‐ legal. Deve‐se considerar sempre a hipótese de se tratar de uma morte violenta. Alguns autores defendem que mais do que um caso de morte súbita infantil numa mesma família deveria obrigar a um inquérito rigoroso dessas mesmas mortes, dado que o SMSL é um acontecimento raro e muitas vezes trata‐se afinal de uma morte violenta. Em 15% das autópsias de alegado SMSL, a hipótese não é confirmada já que é possível identificar uma causa de morte: Morte de causa natural, violenta, acidente ou homicídio. O papel dos médicos: Os pediatras devem tomar consciência da existência do SMSL e suspeitar dele sempre que surjam casos de morte de crianças menores de 1 ano sem causa evidente. Deviam inclusivamente encaminha‐los para autópsia sob suspeita de SMSL. O médico legista deve colher a história clínica e eventos clínicos relacionados com a morte (como se deu? foi presenciado? Manobras de RCP?). O exame físico deve contemplar os seguintes elementos: Exame externo – roupa, suor excessivo, urina, fezes, sangue, marcas e sinais sugestivos de lesão não acidental, estado de nutrição, cuidados gerais (O SMSL geralmente ocorre em crianças bem cuidadas). PAPEL DOS MÉDICOS Os pediatras devem tomar consciência da existência do SMSL e suspeitar dele sempre que surjam casos de morte de crianças menores de 1 ano sem causa evidente. Deviam inclusivamente encaminha‐los para autópsia sob suspeita de SMSL. O médico legista deve colher a história clínica e eventos clínicos relacionados com a morte (como se deu? foi presenciado? Manobras de RCP?). O exame físico deve contemplar os seguintes elementos: Exame interno – petéquias na superfície dos órgãos torácicos, edema pulmonar, processos infecciosos, sangue não coagulado, bexiga sem urina, edema e congestão (pulmonar, cerebral, cardíaco, timo e rins). No exame histológico procuram‐se alterações em cada lobo pulmonar, nas câmaras cardíacas, na medula, cérebro, cerebelo e tronco cerebral. O médico legista pode ainda recorrer a exames complementares, nomeadamente hemoculturas (seio sagital), aspirado pulmonar, humor vítreo, exames serológicos, bioquímicos, toxicológicos, análise da urina e conteúdo gástrico e radiografia de todo o esquelo. A declaração de óbito é emitida logo após a autópsia, com a indicação de morte súbita no parâmetro da causa básica de morte. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 6 “Violência Doméstica e de maus tratos” – Extra intersecção com a Pediatria Página 3 de 3 Síndrome do bebé sacudido Este síndrome caracteriza‐se por lesões cerebrais resultantes de agitações vigorosas de um lactente ou criança jovem pelo tórax, ombros ou extremidades, causando aceleração rotacional craniana extrema (devido à fraqueza dos músculos cervicais e elevado peso da cabeça). Os movimentos de aceleração‐desaceleração provocam um aumento brusco da pressão intracraniana do qual resultam lacerações das veias corticais com hemorragias subdurais e/ou subaracnoideias. Surge em crianças até aos 5 anos, mais frequentemente em lactentes com menos de 6 meses. O sexo masculino é mais afectado (60%). Sinais Letargia, hipotonia; Irritabilidade extrema; Anorexia, emagrecimento ou vómitos sem causa aparente. Sintomas Não sorri ou vocaliza; Défice de sucção ou deglutição; Dificuldade respiratória; Convulsões ou espasmos; Crânio e fronte aumentados de tamanho ou abaulamento da fontanela; Não sustenta a cabeça; Não fixa o olhar ou acompanha os movimentos; Anisocória; pupilas não reactivas; Hemorragias retinianas (podem resultar em amaurose por cicatriz macular, deslocamento da retina e atrofia óptica) Sinais de traumatismo externo raros. Consequências Este síndrome tem associadas uma série de potenciais consequências neurológicas (paralisia, convulsões), oftalmológicas (cegueira, trauma ocular), osteoarticulares (fracturas ósseas e luxações), atraso do desenvolvimento psicomotor e, em casos mais graves, coma e morte. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 1 de 10 ASFIXIA – origem na palavra grega “asphuxia” – significa perda de pulso (sphuxis – batimento cardíaco) Ausência de O2 a nível alveolar → ↓ O2 nos GV em circulação → privação de O2 a nível celular Privação parcial (défice parcial) de O2 a nível celular – HIPÓXIA CELULAR Privação completa (ausência) de O2 a nível celular – ANÓXIA CELULAR FASES DA ASFIXIA 1. Fase Dispneica Inicial – ↓FR, ↓FC, zumbidos, verƟgens e perda de consciência em 15 a 20 seg. 2. Fase Convulsiva – convulsões tónico‐clónicas causadas pelo excesso de CO2 nas células 3. Fase Dispneica Terminal – movimentos inspiratórios reflexos e cessação da respiração Culmina com PARAGEM CARDÍACA SINAIS DA ASFIXIA SINAIS GERAIS DA ASFIXIA Acentuados – p.e. quando há esforço para respirar num estrangulamento homicida Ausentes – numa situação súbita – p.e. bloqueio súbito das vias aéreas SINAIS GERAIS EXTERNOS Congestão facial – devido à diminuição da drenagem venosa pela compressão das veias do pescoço ou pela obstrução do retornovenoso ao coração Edema facial – devido à transudação de plasma provocada pelo aumento da pressão venosa Cianose – especialmente da cabeça, pescoço e extremidades; devido ao excesso de hemoglobina reduzida Petéquias – especialmente nos tecidos laxos das pálpebras, nas conjuntivas e escleróticas, na pele da face, nos lábios e na zona retro‐auricular Livores cadavéricos (livor mortis) – manchas arroxeadas e abundantes nas zonas de maior declive que resultam da acumulação de sangue que sai dos vasos – livores de hipóstase SINAIS GERAIS INTERNOS Congestão visceral – principalmente dos pulmões e do fígado Espuma laringo‐traqueo‐brônquica – variável; consoante tipo de asfixia Petéquias internas – nas serosas (pericárdio, pleura), na aponevrose epicraniana (na laringe/epiglote em casos de estrangulamento) SINAIS LOCAIS DA ASFIXIA – dependem do tipo de asfixia Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 2 de 10 TIPOS DE ASFIXIA ASFIXIAS MECÂNICAS → Intervenção de agente mecânico externo A. ASFIXIAS ANÓXIAS ANÓXICAS = SUFOCAÇÃO Obstrução à passagem de ar para os pulmões → ausência de ar oxigenado a) CONFINAMENTO Causa: espaço fechado com atmosfera irrespirável (↓O2 e ↑CO2) Exame/informação do local Autópsia médico‐legal: Sinais autópticos inexistentes e/ou inespecíficos (sinais gerais de asfixia) É necessário excluir outras causas de morte! Etiologia médico‐legal: Acidental ++ (p.e. criança q se escondeu dentro do frigorífico quando jogava às escondidas) Suicida ou Homicida (p.e. saco plástico na cabeça) Tipos de asfixia Asfixia mecânica Asfixias anóxias anóxicas Sufocação Confinamento Compressão torácica Oclusão orifícios respiratórios Obstrução das vias aéreas Edema da glote Engasgamento Soterramento Aspiração pulmonar Asfixias anóxias circulatórias ou estagnantes Enforcamento Estrangulamento Esganadura Asfixia química Asfixias anóxias anémicas Inalação de CO Hemorragia / anemia significativa Asfixias anóxias histotóxicas Intoxicação por cianeto Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 3 de 10 b) COMPRESSÃO TORÁCICA Causa: impossibilidade de efectuar movimentos respiratórios Geralmente a compressão exerce‐se de forma gradual. Se a compressão for brusca e/ou de grande intensidade, aparecem lesões traumáticas, nomeadamente esqueléticas – ASFIXIA TRAUMÁTICA Exame/informação do local Autópsia médico‐legal: Hábito externo MÁSCARA EQUIMÓTICA – petéquias confluentes acima da zona de compressão Lesões esqueléticas traumáticas Lesões traumáticas + congestão + cianose + petéquias Hábito interno Congestão acima do nível de compressão Hemorragias petequiais nas serosas Lesões traumáticas de natureza contundente torácicas e/ou abdominais Etiologia médico‐legal: Acidental (acidentes de trabalho, saída de recintos fechados) +++ P.e. mecânico q morreu em consequência de queda de um automóvel na região torácica Suicida ou Homicida c) OBSTRUÇÃO/OCLUSÃO DOS ORIFÍCIOS RESPIRATÓRIOS Causa: obstrução a nível das narinas e/ou boca Por meio das mãos Autópsia médico‐legal: Hábito externo Lesões traumáticas em redor dos orifícios respiratórios – estigmas ungueais Hábito interno Lesões traumáticas nos tecidos moles da face em redor dos orifícios respiratórios Etiologia médico‐legal: Homicida Por interposição de objecto maleável (pano) Hábito externo Ausência de sinais externos Hábito interno Ausência de sinais internos Etiologia médico‐legal: Acidental ++ (p.e. criança q adormece em decúbito ventral com face apoiada na almofada) Suicida, Homicida Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 4 de 10 d) OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS d.1) Edema da glote Causa: obstrução a nível da glote causada por medicamentos e picadas de animais – reacção alérgica Autópsia médico‐legal: Hábito externo Ausência de sinais externos de asfixia Presença possível de sinais de venopunção ou de picadas de insectos Hábito interno Edema das paredes do aparelho laríngeo e glote Etiologia médico‐legal: Acidental +++ d.2) Engasgamento Causa: obstrução a nível da laringe, traqueia e/ou brônquios causada por fragmentos de alimentos ou corpos estranhos diversos Autópsia médico‐legal: Hábito externo Ausência de sinais externos Conduz a graves dificuldades respiratórias com congestão e cianose ou provoca morte súbita sem sinais específicos Hábito interno Identificação do corpo estranho → diagnósƟco Etiologia médico‐legal: Acidental +++ d.3) Soterramento Causa: obstrução a nível dos brônquios e/ou bronquíolos causada por fragmentos de pequenas dimensões – areia, terra, cereais Autópsia médico‐legal: Hábito externo Fragmentos do material do soterramento Ausência de lesões externas Hábito interno Identificação do material aspirado → diagnósƟco Etiologia médico‐legal: Acidental +++ Suicida Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 5 de 10 d.4) Aspiração pulmonar de material estranho Causa: obstrução a nível dos alvéolos causada por conteúdo gástrico (alimento/vómito) e sangue Autópsia médico‐legal: Hábito externo Sem sinais externos Lesões vasculares em comunicação com as vias aéreas??? Hábito interno Identificação do material aspirado → diagnósƟco Etiologia médico‐legal: Acidental +++ Suicida/Homicida B. ASFIXIAS ANÓXIAS CIRCULATÓRIAS OU ESTAGNANTES Constrição do pescoço Mecanismo de morte: 1. Mecanismo vascular – comprometimento da irrigação cerebral Por obstrução, ao nível do pescoço, das carótidas e/ou vertebrais 2. Mecanismo asfíxico – comprometimento da entrada de ar Por obstrução das vias aéreas (faringe/laringe) por compressão contra estruturas posteriores do pescoço (coluna vertebral) 3. Por inibição vagal – estimulação excessiva pode provocar paragem cardíaca reflexa Por pressão súbita exercida nas carótidas → hipotensão, bradicardia e paragem cardíaca 4. Por lesão vertebro‐medular a) ENFORCAMENTO Causa: constrição do pescoço com um laço em que a força actuante é a do peso do corpo da vítima. Mecanismo de morte: compressão dos vasos do pescoço. Pode resultar da compressão da faringe/laringe contra coluna vertebral e da lesão vagal. Raramente resulta da lesão vertebro‐medular. Exame do local: Avaliar a acessibilidade da vítima ao ponto de suspensão Não é necessário q a vítima esteja suspensa na posição erecta. O enforcamento pode ocorrer em qualquer posição uma vez q a força necessária para a compressão das carótidas é de apenas 3Kg, gerando anóxia cerebral e perda de consciência em poucos segundos. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 6 de 10 Autópsia médico‐legal: Hábito externo Lesão modelada do laço – SULCO EM V INVERTIDO – não envolve todo o pescoço, localiza‐ se abaixo da mandíbula (sub‐mandibular), bordos irregulares (bordo superiormais saliente) CRISTA HEMORRÁGICA – equimoses em torno do sulco Congestão acima do nível da constrição Procidência (protusão) da língua Livores cadavéricos (distribuição e localização – posição do cadáver) Congestão crânio‐facial (se compressão venosa) → enforcado azul Palidez facial (se compressão arterial) → enforcado branco Hábito interno Escoriação produzida pelo laço no fundo do sulco – LINHA ARGÊNTEA ou ARGENTINA Laceração da íntima das carótidas – LESÕES DE AMUSSAT Fractura do osso hióide e da laringe (cornos superiores da cartilagem tiroideia) Hemorragias sub‐epicárdicas e sub‐pleurais – MANCHAS DE TARDIEU Congestão generalizada Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço (subjacentes ao sulco) Etiologia médico‐legal: Suicida +++ Acidental (auto‐erotismo) ++ Homicida + b) ESTRANGULAMENTO Causa: constrição do pescoço com um laço em que a força actuante é independente do peso do corpo da vítima. Há que assegurar a manutenção da constrição até à morte – com laço fixo e mantendo a força actuante. A morte resulta geralmente da compressão faringe/laringe contra estruturas posteriores do pescoço (coluna vertebral), podendo haver simultaneamente compressão dos vasos e/ou fenómenos de inibição vagal. Autópsia médico‐legal: Hábito externo Lesão modelada do laço – SULCO HORIZONTAL – envolve todo o pescoço, localiza‐se sobre ou abaixo da laringe, bordos iguais e sem traço de subida até um ponto de suspensão. As suas características dependem do tipo de material usado: Arame ou corda fina → sulco fino, profundo e bordos definidos Tecido laxo → sulco difuso, pouco profundo e frouxo CRISTA HEMORRÁGICA – equimoses em torno do sulco Cianose, congestão facial severa, petéquias (face e conjuntivas) Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 7 de 10 Hábito interno Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço Fractura da laringe (cartilagem tiroideia) e osso hióide (pode estar poupado) Hemorragias petequiais na mucosa laríngea Etiologia médico‐legal: Homicida (homicídio de recém‐nascidos, crimes sexuais) +++ Suicida ++ Acidental + c) ESGANADURA ou “manual stangulation” Causa: constrição do pescoço com as mãos. A morte resulta da compressão da faringe/laringe contra estruturas posteriores do pescoço. Frequentemente associada à sufocação por oclusão da boca e/ou narinas com uma das mãos. Autópsia médico‐legal: Morte lenta → sinais gerais acentuados: edema e cianose facial, petéquias abundantes Hábito externo Lesões produzidas pelos dedos: equimoses e escoriações (lesões discóides) Lesões produzidas pelas unhas: estigmas ungueais (semilunares e lineares) Localizadas no pescoço (ou na nuca de recém‐nascidos) Não existe sulco de fita constritora Hábito interno Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço Fractura da laringe (cartilagem tiroideia) e osso hióide Hemorragias petequiais na mucosa laríngea Etiologia médico‐legal: Homicida (crime sexual) ASFIXIAS QUÍMICAS → intoxicação por agente químico externo C. ANÓXIAS ANÉMICAS Diminuição da quantidade de oxigénio distribuído às células Causa: Inalação de monóxido de carbono Hb maior afinidade para CO do que O2 → CARBOXIHEMOGLOBINA → ↓ capacidade da Hb para transportar O2 + desvio da curva de dissociação da HbO2 para a esquerda → ↓ quanƟdade O2 libertado para os tecidos Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 8 de 10 Autópsia médico‐legal: Hábito externo Livores vermelho‐carminados Hábito interno Sangue vermelho carminado Partículas de negro de fumo Etiologia médico‐legal: Acidental (incêndio) +++ Suicida ++ Causa: Hemorragia/anemia significativa (“excepção”) ↓ número de glóbulos vermelhos → deficiente transporte do O2 às células → Hipóxia/anóxia Etiologia médico‐legal: causa da hemorragia/anemia (importante determinar!) D. ANÓXIAS HISTOTÓXICAS Inibição da respiração celular por bloqueio enzimático, especialmente da citocromoxidase Causa: Intoxicação por cianeto Inibe citocromo c oxidase e provavel/e outras enzimas da cadeia transportadora de e‐ Autópsia médico‐legal: Hábito externo Livores rosados Ausência de lesões traumáticas externas Hábito interno Sinais de irritação da mucosa das vias aéreas superiores Lesões cáusticas da mucosa gástrica e esofágica Etiologia médico‐legal: Acidental (profissionais, usado em desinfecções) +++ Homicida (execuções judiciais) Suicida MORTE POR AFOGAMENTO ‐ Resulta da penetração de água nas vias aéreas (supressão de ar nos pulmões) Afogamento com submersão – corpo do indivíduo encontra‐se submerso na água Afogamento sem submersão – entrada de água pela boca ou narinas sem imersão do corpo na água Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 9 de 10 Mecanismos da Morte por afogamento HIPÓXIA provocada pela privação de ar → ANÓXIA ALTERAÇÕES ELECTROLÍTICAS Depende do tipo de água onde ocorre o afogamento: Afogamento em água salgada – mecanismo hipertónico Presença de água salgada (NaCl) nos alvéolos pulmonares promove a passagem de água do sangue → alvéolos pulmonares e de iões Na+/Cl‐ dos alvéolos pulmonares → sangue Edema pulmonar agudo maciço + Hemoconcentração + Hipercloremia + Hipernatremia Como não há hipervolemia nem esforço/sofrimento cardíaco MORTE LENTA (tempo de sobrevivência maior) – asfixia anóxica Afogamento em água doce – mecanismo hipotónico Presença de água doce nos alvéolos pulmonares promove a passagem de água dos alvéolos pulmonares → sangue e de iões Na+/Cl‐ do sangue → alvéolos pulmonares Hemodiluição + Hipervolemia → Insuficiência cardíaca Depleção de Na+/Cl‐ + Hipercaliemia → Fibrilhação ventricular → Paragem cardio‐respiratória MORTE RÁPIDA – asfixia anóxica circulatória por hipervolémia e falência cardíaca Repercussões sistémicas Anóxia cerebral – lesão cortical irreversível após 12 min. de privação de O2 Congestão visceral – por ↓ retorno venosos ao “coração direito” Autópsia médico‐legal Hábito externo Sinais de permanência na água Precoces: Roupa e cabelos molhados Depósitos de areia, algas, lama na superfície corporal Cutis anseriana (erecção dos folículos pilosos) por arrefecimento da pele Retracção da pele do pénis, do escroto e dos mamilos Livores róseos (livores mais ténues que o habitual) Tardios: Embranquecimento da pele Maceração palmar e plantar Formação de adipocera Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 7 “Noções gerais de asfixiologia. Agentes externos físicos e químicos.” Ana Messias | Sofia Monteiro Página 10 de 10 Sinais de afogamento – COGUMELO DE ESPUMA – espuma de bolhas finas, viscosa e aderente, que preenche toda a árvore brônquica e que se exterioriza pela boca e pelas narinas sob a forma de um aglomerado com aspecto de cogumelo. Exterioriza‐se por acção da putrefacção e/ou pressão sobre o tórax/abdómen. Forma‐se devido ao edema pulmonar, sendo composta por água, proteínas do plasma, surfactante pulmonar e muco das vias respiratórias. Sinais de putrefacção – de aparecimento mais rápido do que fora de água Sinais de lesões traumáticas Hábito interno Corpos estranhos nas vias aérea e digestiva (areia, algas) Espumana traqueia e brônquios Pulmões volumosos, distendidos e esponjosos ao toque Coração hipertrofiado com maior quantidade de sangue no ventrículo direito Estômago com água Fígado com estase sanguínea Etiologia médico‐legal Acidental +++ (época balneária) Suicídio Homicídio Ocultação do cadáver – gases libertados aquando da putrefacção do cadáver fazem emergir o corpo Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 1 de 7 Intervenção médico‐legal do dano em sede de direito civil Direito Civil Refere‐se a interesses de carácter particular, assim, se A se sente prejudicado por algo que lhe tenha sucedido move uma acção contra B reclamando, junto do tribunal civil, que lhe seja concedido o estatuto de lesado e lhe seja atribuída uma indemnização ou qualquer outra forma de reparação do dano sofrido. Em direito civil prevalece o propósito da reparação integral do dano. É diferente de outras áreas de intervenção médico‐legal do dano: Direito Trabalho (apenas se reparar o que contribui para a diminuição da capacidade de trabalho e de ganho) Direito Penal A maioria dos casos aos quais os médicos são chamados a intervir na área do direito civil prende‐se com os acidentes de viação. Dano corporal É o alvo da avaliação do médico Definição – corresponde ao prejuízo sofrido por um indivíduo, no conjunto das quatro dimensões pessoais (o organismo, as funções ou capacidades, o plano intra‐ psíquico e o meio ambiente no qual se insere e interage) como consequências de múltiplas causas: doenças, estados fisiológicos (gravidez, senilidade ou infância) ou traumatismos (resultantes da acção voluntária ou involuntária do próprio ou terceiros) O dano não tem que necessariamente resultar de uma ofensa física, pode também, ser uma difamação, injúria ou falsa acusação. Uma vez que dano corporal ultrapassa o físico, o médico tem que estar atento se há dano psíquico envolvido ex. desenvolvimento de fobias com prejuízo da autonomia do lesado, decorrentes de acidente de viação, pois tudo isto é passível de ser indemnizado. Ex. prejuízo das actividades de lazer, das relações afectivas e familiares. O lesado não pode ser visto como pessoa de forma isolada, retirando‐o do meio em que vive. Há seguradoras que assumem a responsabilidade de adaptar às necessidades de um doente em cadeira de rodas pós‐acidente de viação a habitação e instalações do doente. No entanto, a maioria das seguradoras prefere desvincular‐se do problema pagando indemnização monetária ao doente. Quanto maior o ordenado, maior a perda por incapacidade logo, maior a indemnização Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 2 de 7 Classifica‐se, de acordo com o seu período de evolução (ou parâmetros de avaliação do dano): DANO TEMPORÁRIO ou INCAPACIDADE TEMPORÁRIA – período entre acidente e cura e abrange: - Incapacidade temporária geral ou genérica – incapacidade de exercer actividades quotidianas (acamados). Pode ser subdividida em absoluta (ITA) ou parcial (ITP). - Incapacidade temporária profissional (ou incapacidade temporária absolulta profissional) – incapacidade de exercer actividade profissional - Quantum doloris – quantificação da dor sofrida, não é um parâmetro de avaliação directa DANO PERMANENTE ou INCAPACIDADE PERMANENTE – consolidação das sequelas, por mais intervenções terapêuticas que se façam não há evolução de melhoria. Abrange: - Incapacidade permanente parcial (IPP) – É avaliado em termos de nível de força Ex. Coma 100%, tetraplégico pode não ter IPP de 100% porque este é avaliado em níveis de força, acordeonista famoso com rigidez do 5ºdedo IPP 0% - Incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual (IPATH) Ex. tetraplégico IPATH 100%, acordeonista com rigidez do 5ºdedo IPATH 100% - Incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho (IPA) - Dano ou prejuízo estético – no âmbito do direito civil, o dano estético é reparável. Pelo contrário, em direito do trabalho este apenas é levado em conta, caso interfira na actividade profissional. Ex. Pivô de televisão que contraia uma cicatriz visível e que por isso possa perder o seu emprego - Prejuízo da afirmação pessoal (PAP) – Em direito de trabalho indivíduo é indemnizado pela perda da capacidade de ganho ex. pedreiro que perde os dedos, enquanto que, em direito civil o lesado tem direito a ser indemnizado se o dano o impedir de praticar algo que lhe desse prazer ou satisfação pessoal Ex. Perda dos dedos que impede de tocar instrumento que lhe dava prazer. Prejuízo juvenil – pode alegar‐se que o jovem seria promissor em determinada área e que ficou incapacitado de exercer, mas terá que ser muito bem documentado. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 3 de 7 Tabelas de Incapacidades São instrumentos de medida das incapacidades funcionais; permitem quantificar, em forma de taxas, o compromisso das diferentes funções do organismo; em casos de défices múltiplos, a avaliação global é determinada em função da capacidade restante. Servem para: Proporcionar uma avaliação médico‐legal objectiva e uniforme do dano corporal; Tratar de forma igualitária as vítimas para efeitos de indemnização dos prejuízos resultantes; Manter actualizadas as taxas de incapacidade face à evolução das técnicas biomédicas e dos progressos terapêuticos. O decreto de lei nº352/2007, de 23 de Outubro distingue duas tabelas distintas: Tabela Nacional de Incapacidades – para avaliação de danos do direito do trabalho Tabela de Incapacidades Permanentes – para avaliação de danos do direito civil. Destina‐se a ser usada, exclusivamente, por médicos especialistas em medicina legal ou por especialistas médicos de outras áreas com específica competência na avaliação do dano corporal, isto é, por peritos conhecedores dos princípios da avaliação médico‐legal no âmbito do direito civil e respectivas regras. Listagem de incapacidades O médico perante as vítimas de acidente de viação A companhia de seguros do autor do acidente é considerada civilmente responsável pelo acidente, tendo que pagar não só o valor dos tratamentos como também a indemnização. A perda do sentido da visão ou de um membro por amputação, são exemplos de danos irreparáveis, todavia, na impossibilidade de devolver à pessoa lesada o “estado físico” em que se encontrava antes do acidente, convencionou‐se atribuir um valor monetário à função ou porção do corpo perdida. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 4 de 7 A fractura óssea com posterior lesão nervosa, no contexto de acidente de viação é bastante comum. O valor atribuído não se baseia no que o lesado entende ser o valor justo e a que tem direito pela perda sofrida, mas sim em critérios estabelecidos. É por isso que se justifica a intervenção médico‐legal. Em Portugal a declaração civil do dano tende a ficar sempre aquém das expectativas dos lesados sendo duplamente lesiva, “revitimizando” a pessoa, dado a quantia atribuída ao danopelo tribunal ser irrisória. A simulação de doença em medicina legal é rara sendo mais evidente no caso de autores de crimes graves que tentam a inimputabilidade baseada em doença mental. O que existe mais comummente é a sobresimulação, ou seja, a tentativa de fazer crer que a sua incapacidade é muito maior do que de facto é, um exemplo frequente é o de pedidos de atribuição/renovação de baixa médica em que o doente muitas vezes exagera nas queixas. O médico deve estar atento a estas situações porque, para além de se prenderem com critérios de justiça equitativa e responsabilidade profissional, prendem‐se também com o interesse do doente uma vez que baixa médica prolongada pode levar à incapacidade deste em lidar com situações de conflito. Existem vantagens fiscais como redução do IRS ou isenção do imposto de circulação automóvel para pessoas com grandes incapacidades. Com muita frequência aparecem doentes que tiveram, por exemplo, uma neoplasia da mama tratada e que, passados alguns anos, apesar de não apresentarem nenhum nível de incapacidade, continuam na posse do atestado multiusos que lhes atribui uma incapacidade de 85 a 90% a qual não corresponde, de todo, à verdade! O indivíduo ao qual foi estabelecido uma determinada % de incapacidade pode requerer reavaliação se notar que piorou o seu estado. As companhias seguradoras poderão requerer, se o doente padece de uma doença em melhora em determinado prazo, e dessa forma o indivíduo terá direito a uma indemnização menor Os actos médicos relacionados com o código da estrada compreendem: Exame clínico para avaliação das condições psicofísicas para obtenção da licença de condução. Exame clínico para verificação da aptidão para conduzir. Exame clínico para avaliação do estado de influência do álcool e/ou substâncias psicotrópicas e estupefacientes. Análise de sangue para realização de contraprova de alcoolémia. No âmbito dos acidentes de viação, a autópsia medico‐legal, é realizada com os objectivos de esclarecer e determinar a causa e circunstâncias da morte e ainda colher material para exame toxicológico e identificação individual. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 5 de 7 A avaliação do estado de influência do álcool e/ou de substâncias psicotrópicas e estupefacientes realizada em meio hospitalar consiste na observação clínica e análises toxicológicas. Observação clínica: Aspecto geral Provas de equilibrio Coordenação de movimentos Funções cognitivas Provas Oculares Reflexos Sensibilidade Entrevista Análise de sangue: Esta análise pode ser requerida para efeitos de contraprova de alcoolémia após teste no ar expirado com valor superior a 0,5 g/L (não deve exceder as 2h após o teste) ou quando este não pôde ser realizado por algum motivo. A colheita de sangue deve ser realizada no serviço de urgência hospitalar mais próximo ao qual o agente de autoridade conduza o examinando. O agente de autoridade entrega no SU um conjunto de recolha composto por um tubo e material adequado à correcta identificação e encaminhamento da amostra. O médico deve obter um volume de 10 cc de sangue venoso, mediante a utilização de material hospitalar adequado e sem usar álcool como desinfectante cutâneo. Se, na eventualidade de após repetidas tentativas não se conseguir retirar ao examinando uma amostra de sangue em quantidade suficiente, a observação clínica para determinação do estado de influenciado pelo álcool faz diagnóstico. Caso clínico “O caso da mulher que se dizia inválida” Descrição do caso Catarina, 31 anos de idade, secretária de direcção numa pequena empresa da sua família, foi vítima de um acidente de viação por colisão lateral de um veículo ligeiro com o veículo igualmente ligeiro por ela conduzido. Negava traumatismo craniano ou perda de conhecimento. Transportada de ambulância a um hospital, foram‐lhe diagnosticadas fractura diafisária do fémur, e dos ramos ísquio e íleo púbicos esquerdos, além de escoriações e hematomas no tórax e em ambos os membros inferiores. Foi submetida a intervenção cirúrgica para remoção e osteossíntese da fractura do fémur, tendo tido alta ao cabo de 21 dias, com indicação para manter acamação no domicílio por mais 2 semanas. Posteriormente passou a ser seguida, em regime ambulatório, na Consulta Externa de Ortopedia do mesmo hospital, onde lhe viria a ser diagnosticada uma lesão parcial do nervo ciático popliteu externo, documentada Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 6 de 7 electromiograficamente. Efectuou várias séries de tratamento de medicina física e de reabilitação. Dois electromiogramas (EMG) realizados com intervalo de cerca de 6 meses revelaram sinais de reinervação progressiva. Entretanto, como se queixava de dorsolombalgias, foi submetida a exames radiológicos da coluna, que revelaram sinais de fractura não recente do corpo de D11, com redução do seu volume. Ao cabo de cerca de dois anos foi operada para remoção do material de osteossíntese do fémur, tendo efectuado mais uma série de sessões de fisioterapia. Na sequência de uma acção judicial por ela interposta, com vista à reparação civil do dano (obtenção de indemnização), foi ordenada a realização de um exame médico‐legal, no qual a Catarina apareceu, deambulando com o apoio de uma canadiana. Referia então não mais ter voltado a exercer a sua actividade profissional, alegadamente por impossibilidade física, razão por que também havia deixado de praticar equitação e esqui alpino, desportos que, até à data do acidente, praticava com regularidade e, ao que dizia, com elevado nível de desempenho e grande satisfação pessoal. A empresa familiar para a qual trabalhava havia cessado a sua actividade por alegados problemas económicos. Para além da lesão causada pelo acidente de viação, Catarina viu‐se numa situação de precariedade económica pela perda do seu posto de trabalho. Tal facto pode fazer suspeitar de uma tentativa de aproveitamento da situação. Juntos aos autos encontrava‐se um relatório de um médico a quem a Catarina havia recorrido no qual se propunha uma desvalorização de 79,21%, bem como um certificado da Segurança Social com igual desvalorização, razão pela qual vinha usufruindo de benefícios fiscais e outros concedidos aos portadores de grandes incapacidades. No essencial, o exame pericial revelou a marcha sem claudicação nem necessidade objectiva de apoio, embora se evidenciasse uma certa dificuldade em deambular sobre os calcanhares e as pontas dos pés. Na maioria dos lesados verifica‐se que o apoio utilizado na marcha é completamente desnecessário sendo um exemplo clássico de sobresimulação. A cinética articular da coluna vertebral era normal, referindo, todavia, a examinanda dor à percussão das apófises espinhosas das três últimas vértebras dorsais e duas primeiras lombares. Havia uma ligeira escoliose sinistro‐convexa. A cicatriz operatória ao nível da face externa da coxa esquerda media 19 cm e apresentava uma coloração esbranquiçada, observando‐se, além disso, vestígios de cinco pequenas escoriações em ambos os joelhos e pernas. Os movimentos de abdução e de rotação externa da articulação coxo‐femoral esquerda encontravam‐se ligeiramentelimitados, despertando coxalgia. Observava‐se uma amiotrofia da coxa e da perna esquerdas (respectivamente menos 3 e 4 cm do que as do lado oposto) e uma ligeira diminuição da força muscular do respectivo membro inferior (grau 4 em 5). Os exames radiológicos revelavam Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 10 “O médico perante as vítimas de acidente de viação” Página 7 de 7 redução do corpo vertebral de D11 e estreitamento dos espaços intervertebrais D10‐ D11 e D11‐D12, uma ligeira diastase da sínfise púbica e fracturas consolidadas dos ramos ísquio e íleo púbicos esquerdos e da diáfise femoral homolateral. O EMG continuava a revelar um ligeiro compromisso do tibial anterior e do pedioso esquerdos. Estas lesões nervosas, nomeadamente do ciático, são lesões duradouras mas que, ao longo do tempo (2 anos) vão apresentando melhorias devido à reinervação. As conclusões do exame pericial, contemplaram, naturalmente, os diversos parâmetros de avaliação do dano em sede de reparação civil, cifrando‐se a fixação da IPP (incapacidade permanente parcial) em cerca de 1/3 daquela que lhe havia sido proposta por duas entidades diferentes (o ortopedista e o médico que lhe passou o atestado baseando‐se apenas nas opinião do primeiro). Algumas questões suscitadas pelo caso 1. Haverá algo a apontar aos cuidados médicos durante o período de internamento? Em caso afirmativo, quais? Sim, o facto de não terem sido diagnosticadas, na altura, todas as lesões provenientes do acidente, levando a dúvidas na atribuição da causalidade das lesões detectadas recentemente ao acidente conhecido ou a outro sofrido posteriormente. 2. Quais as razões por que um médico que havia examinado a Catarina propôs uma tão elevada incapacidade? Este nível de incapacidade atribuída pelo médico deve‐se ao facto de este ser o médico assistente da lesada, e que, pela força da proximidade, ouvia constantemente as suas queixas e sentia que a incapacidade era uma fonte de ansiedade para a doente. Um problema que se coloca na quase totalidade das vezes é a dificuldade em avaliar a dor. Podendo esta ser causa de incapacidade, é imposta a sua avaliação, dado no código civil ser referenciado que a dor só pode ser atendida, como causa de incapacidade, caso seja objectivável. No entanto, e apesar de haver escalas de quantificação, a queixa é subjectiva, não sendo passível de ser objectivada em relação à sua existência, intensidade e variação ao longo do tempo, nomeadamente no horário de trabalho, devido à sua componente inacessível aos exames periciais. 3. As indemnizações atribuídas têm também que contemplar o designado “Estado Anterior”? No caso de uma doente com osteossarcoma, uma patologia previa que aumenta a fragilidade do osso, e que faz uma fractura. A seguradora, é de facto responsável pela fractura mas, em termos de avaliação clínica tem que ser levada em conta a existência ou não desses aspectos que predispõem aos acidentes. Nestes casos, os médicos, quer sejam de família ou hospitalares, não podem, como é óbvio, recusar‐se a facultar os elementos essenciais ao esclarecimento destas situações. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 11 “O médico perante as vítimas de acidente de trabalho e doenças profissionais” Página 1 de 2 Caso Clínico 1 Descrição do caso clínico: Pedreiro, 50 anos, sofreu uma queda de um andaime a 4 metros, com contusão do lobo temporal. Passados 6 meses foi‐lhe atribuída uma IP de 12,6%. 2 Meses depois foi‐lhe diagnosticada epilepsia. Algumas questões suscitadas pelo caso a) A epilepsia pode ser atribuída ao acidente? Depende, caso seja comprovada a existência de um nexo de causalidade entre o acidente de trabalho e a epilepsia, esta pode ser atribuída ao acidente. Por nexo de causalidade entende‐se a relação que existe entre a actuação de um agente externo e as lesões ou sequelas produzidas por esse agente. A tipificação do nexo de causalidade é feita através do estudo dos critérios: ‐Natureza adequada do traumatismo à lesão ‐Natureza adequada das lesões ao traumatismo ‐Adequação da localização do traumatismo com a localização das lesões ‐Adequação temporal entre a acção traumática e as alterações patológicas ‐Continuidade evolutiva ‐Estado anterior da vítima e predisposição ‐ Exclusão de uma causa estranha ao traumatismo b) Qual deve ser a atitude do médico? Como se verificou uma alteração da situação clínica do doente, o médico deve propor uma revisão do grau de incapacidade baseando‐se na Tabela Nacional de Incapacidade (TNI) de modo a ser possível determinar o novo grau de incapacidade e estabelecer os valores para o IPATH (incapacidade para o trabalho habitual) e IPP (incapacidade permanente parcial). Caso Clínico 2 Descrição do caso clínico: Empregado de escritório, sofre acidente de viação em Agosto de 2000, quando ia para o trabalho. Fez lesão do ombro direito e traumatismo lombar do mesmo lado. Fez tratamentos ficando com queixas de lombalgia direita e perda de força muscular. Dez dias depois, move acção cível por sequelas no joelho esquerdo. É solicitado ao hospital informação clínica e descobre‐se que o doente era seguido pelo ortopedista por rotura do cruzado anterior (lado esquerdo) desde Fevereiro de 2000. Algumas questões suscitadas pelo caso Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Aula 11 “O médico perante as vítimas de acidente de trabalho e doenças profissionais” Página 2 de 2 a) Que implicações tem em direito do trabalho ou penal ou civil ou em todos os ramos do direito? Direito penal ‐ trata‐se de um acidente de viação, alguns dos condutores poderiam estar alcoolizados ou sob o efeito de estupefacientes. Poderiam ter executado uma manobra perigosa. Houve um atentado à integridade física. Direito do trabalho – o acidente ocorreu no trajecto normal para o trabalho, sendo considerado por isso como um acidente de trabalho de que resultou uma alteração da capacidade produtiva ou de ganho. Direito civil ‐ houve um atentado à integridade psico‐física do indivíduo que tem assim direito à reparação integral do dano e da restauração/reposição/ reconstituição natural. b) Existe nexo de causalidade em relação a acidente? Em relação ao ombro sim, já ao joelho não. c) Quais são os parâmetros a avaliar em relação ao dano? Dano civil: 1. Danos corporais patrimoniais 2. Incapacidade temporária 3. Incapacidade permanente 4. Dano futuro 5. Dano estético 6. Danos corporais não patrimoniais 7. Prejuízo da afirmação pessoal 8. Prejuízo juvenil Dano do Trabalho: (igual ao anterior) Dano Penal: 1. Tempo de doença 2. Tempo de impossibilidade para o trabalho e geral 3. Danos permanentes expressos em sequelas somáticas funcionais e da saúde 4. Situações de perigo de vida d) O que é que o médico assistente tem de fazer se for solicitado e o que podia ter feito? Conhecer os antecedentes do doente e avaliar objectivamente se houve alteração da incapacidade. Fazer um relatório descritivo. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 1 de 9 Legislação para as aulas “Intervenção médica e médico‐legal em sede de direito penal” Nº 4, 6 e 8 “O médico perante as vítimas de violência física, doméstica e maus tratos e de abuso sexual”CÓDIGO PENAL, Livro II, Título I “Dos crimes contra as pessoas” Capítulo I – Dos crimes contra a vida Capítulo II – Dos crimes contra a vida intra‐uterina Capítulo III – Dos crimes contra a integridade física Capítulo IV – Dos crimes contra a liberdade pessoal Capítulo V – Dos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual Mais frequentes: I, III e V CÓDIGO PENAL, Livro II, Título I, Capítulo III “Dos crimes contra a integridade física” Artigo 143º Ofensa à integridade física simples 1 – Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. 2 – O procedimento criminal depende de queixa, salvo quando a ofensa seja cometida contra agentes das forças e serviços de segurança, no exercício das suas funções ou por causa delas. 3 – O tribunal pode dispensar de pena quando: a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores agrediu primeiro; ou b) O agente tiver unicamente exercido retorsão sobre o agressor. Artigo 144º Ofensa à integridade física grave Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a: a) Privá‐lo de importante órgão ou membro, ou a desfigurá‐lo grave e permanentemente; b) Tirar‐lhe ou afectar‐lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, de procriação ou fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a linguagem; c) Provocar‐lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica grave ou incurável; ou d) Provocar‐lhe perigo para a vida; é punido com pena de prisão de 2 a 10 anos. Artigo 152º Violência doméstica 1 – Quem, de modo intenso ou reiterado, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo privações da liberdade e ofensas sexuais: a) Ao cônjuge ou ex‐cônjuge; b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação; c) A progenitor ou descendente comum em 1º grau; ou Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 2 de 9 d) A menor ou pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite; é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal. Artigo 152ºA Maus tratos 1 — Quem, tendo ao seu cuidado, à sua guarda, sob a responsabilidade da sua direcção ou educação ou a trabalhar ao seu serviço, pessoa menor ou particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença ou gravidez, e: a) Lhe infligir, de modo reiterado ou não, maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, ou a tratar cruelmente; b) A empregar em actividades perigosas, desumanas ou proibidas; ou c) A sobrecarregar com trabalhos excessivos; é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal. 2 — Se dos factos previstos nos números anteriores resultar: a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de dois a oito anos; b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos. CÓDIGO PENAL, Livro II, Título I, Capítulo V “Dos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual” Secção I “Crimes contra a liberdade sexual” Artigo 163.º Coacção sexual 1 — Quem, por meio de violência, ameaça grave, ou depois de, para esse fim, a ter tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir, constranger outra pessoa a sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, acto sexual de relevo é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos. 2 — Quem, por meio não compreendido no número anterior e abusando de autoridade resultante de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência hierárquica, económica ou de trabalho, ou aproveitando‐se de temor que causou, constranger outra pessoa a sofrer ou a praticar acto sexual de relevo, consigo ou com outrem, é punido com pena de prisão até dois anos. Artigo 164.º Violação 1 — Quem, por meio de violência, ameaça grave, ou depois de, para esse fim, a ter tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir, constranger outra pessoa: a) A sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral; ou b) A sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos; é punido com pena de prisão de três a dez anos. 2 — Quem, por meio não compreendido no número anterior e abusando de autoridade resultante de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência hierárquica, económica ou de trabalho, ou aproveitando‐se de temor que causou, constranger outra pessoa: Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 3 de 9 a) A sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral; ou b) A sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos; é punido com pena de prisão até três anos. CÓDIGO PENAL, Livro II, Título I, Capítulo V “Dos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual” Secção II “Crimes contra a autodeterminação sexual” Artigo 171.º Abuso sexual de crianças 1 —Quem praticar acto sexual de relevo com ou em menor de 14 anos, ou o levar a praticá‐lo com outra pessoa, é punido com pena de prisão de um a oito anos. 2 — Se o acto sexual de relevo consistir em cópula, coito anal, coito oral ou introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos. 3 — Quem: a) Importunar menor de 14 anos, praticando acto previsto no artigo 170.º; ou b) Actuar sobre menor de 14 anos, por meio de conversa, escrito, espectáculo ou objecto pornográficos; é punido com pena de prisão até três anos. 4 — Quem praticar os actos descritos no número anterior com intenção lucrativa é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos. Artigo 173.º Actos sexuais com adolescentes 1 — Quem, sendo maior, praticar acto sexual de relevo com menor entre 14 e 16 anos, ou levar a que ele seja por este praticado com outrem, abusando da sua inexperiência, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias. 2 — Se o acto sexual de relevo consistir em cópula, coito oral, coito anal ou introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos, o agente é punido com pena de prisão até três anos ou multa até 360 dias. Artigo 177.º Agravação 1 — As penas previstas nos artigos 163.º a 165.º e 167.º a 176.º são agravadas de um terço, nos seus limites mínimo e máximo, se a vítima: a) For ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim até ao segundo grau do agente; ou b) Se encontrar numa relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência hierárquica, económica ou de trabalho do agente e o crime for praticado com aproveitamento desta relação. 3 — As penas previstas nos artigos 163.º a 167.º e 171.º a 174.º são agravadas de um terço, nos seus limites mínimo e máximo, se o agente for portador de doença sexualmente transmissível. 4 — As penas previstas nos artigos 163.º a 168.º e 171.º a 174.º são agravadas de metade, nos seus limites mínimo e máximo, se dos comportamentos aí descritos resultar gravidez, ofensa à integridade física grave, transmissão de agente patogénico que crie perigo para a vida, suicídio ou morte da vítima. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias| Sofia Monteiro Página 4 de 9 Tradução: violação 5 anos de prisão, agravamento até 10 anos. Artigo 178.º Queixa 1 — O procedimento criminal pelos crimes previstos nos artigos 163.º a 165.º, 167.º, 168.º e 170.º depende de queixa, salvo se forem praticados contra menor ou deles resultar suicídio ou morte da vítima. 2 — O procedimento criminal pelo crime previsto no artigo 173.º depende de queixa, salvo se dele resultar suicídio ou morte da vítima. Crime público: <14 anos CÓDIGO PENAL, CAPÍTULO IV Dos crimes cometidos no exercício de funções pública, SECÇÃO III Do abuso de autoridade Artigo 381.º Recusa de cooperação O funcionário que, tendo recebido requisição legal de autoridade competente para prestar a devida cooperação à administração da justiça ou a qualquer serviço público, se recusar a prestá—la, ou sem motivo legítimo a não prestar, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias. DECRETO LEI nº45/2004 de 19 de Agosto “Lei das perícias médico‐legais” Diz o “mesmo”, que o Código de Processo Penal, Parte I, Livro III, Título II e para além disso, Artigo 4º Denúncia de crimes “1 ‐ As Delegações e os gabinetes médico‐legais do Instituto podem receber denúncias de crimes, no âmbito da actividade pericial que desenvolvam, devendo remetê‐las no mais curto prazo ao Ministério Público”. 2 – (…) podem praticar os actos cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova, nomeadamente, ao exame, colheita e preservação dos vestígios…” Artigo 13º Realização de perícias urgentes “1 ‐ Consideram‐se perícias médico‐legais urgentes aquelas em que se imponha assegurar com brevidade a observação de vítimas de violência...” 2 – (…) haverá, diariamente, em cada delegação e gabinete médico‐legal, um perito em serviço de escala...” CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, Parte I, Livro III, Título II, Capítulo VI “da prova pericial” Artigo 151.º Quando tem lugar A prova pericial tem lugar quando a percepção ou a apreciação dos factos exigirem especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos Artigo 153.º Desempenho da função de perito 1 ‐ O perito é obrigado a desempenhar a função para que tiver sido competentemente nomeado, sem prejuízo do disposto no artigo 47.º e no número seguinte. 2 ‐ O perito nomeado pode pedir escusa com base na falta de condições indispensáveis para realização da perícia e pode ser recusado, pelos mesmos fundamentos, pelo Ministério Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 5 de 9 Público, pelo arguido, pelo assistente ou pelas partes civis, sem prejuízo, porém, da realização da perícia se for urgente ou houver perigo na demora. 3 ‐ O perito pode ser substituído pela autoridade judiciária que o tiver nomeado quando não apresentar o relatório no prazo fixado ou quando desempenhar de forma negligente o encargo que lhe foi cometido. A decisão de substituição do perito é irrecorrível. Artigo 159.º Perícia médico‐legal e forenses 1 ‐ As perícias médico‐legais e forenses que se insiram nas atribuições do Instituto Nacional de Medicina Legal são realizadas pelas delegações deste e pelos gabinetes médico‐legais. 2 –Excepcionalmente, perante manifesta impossibilidade dos serviços, as perícias referidas no número anterior podem ser realizadas por entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto. 3 – Nas comarcas não compreendidas na área de actuação das delegações e dos gabinetes médico‐legais em funcionamento, as perícias médico‐legais e forenses podem ser realizadas por médicos a contactar pelo instituto. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, Parte I, Livro III, Título II, Capítulo I “da prova testemunhal” Artigo 131º Capacidade e dever de testemunhar 3 – Tratando‐se de depoimento de menor de 18 anos em crime sexual, pode ter lugar perícia sobre a personalidade. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, Parte II, Livro VI, Título I, Capítulo I “da notícia do crime” Artigo 242º Denúncia obrigatória «A denúncia é obrigatória, ainda que os agentes do crime não sejam conhecidos, para os funcionários públicos, quanto a crimes de que tomaram conhecimento no exercício das suas funções e por causa delas» Legislação para as aulas “Intervenção médica e médico‐legal em sede de direito civil e do trabalho” Nº 10 e 11 “O médico perante as vítimas de acidentes de viação, acidentes de trabalho e doenças profissionais” Decreto‐Lei n.º 352/2007, de 23 de Outubro (Revogou o Decreto‐Lei nº 341/93, de 30 de Setembro) Publicação de duas tabelas de avaliação de incapacidades, uma destinada a proteger os trabalhadores no domínio particular da sua actividade como tal, isto é, no âmbito do direito laboral, e outra direccionada para a reparação do dano em direito civil. Tabela Nacional de Incapacidades ‐ Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais Tabela Nacional para Avaliação de Incapacidades Permanentes ‐ em Direito Civil Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 6 de 9 Tabelas: Instrumento de determinação da incapacidade com carácter indicativo Tabela Nacional de Incapacidades Visa contribuir para a humanização da avaliação da incapacidade, numa perspectiva não exclusiva do segmento atingido, mas do indivíduo como um todo físico e psíquico, em que seja considerada não só a função mas também a capacidade de trabalho disponível Tem por objectivo fornecer as bases de avaliação do dano corporal ou prejuízo funcional sofrido em consequência de acidente de trabalho ou de doença profissional, com redução da capacidade de ganho. Contém “Instruções Gerais”, princípios fundamentais definidores do que são a natureza das enfermidades, o estado geral, a idade, as faculdades físicas e mentais, as aptidões e qualificações profissionais Anexo I – TNI – Instruções gerais “12 ‐ Os sintomas que acompanhem défices funcionais, tais como dor e impotência funcional, para serem valorizáveis, devem ser objectivadas pela contractura muscular, pela diminuição da força, pela hipotrofia, pela pesquisa de reflexos e outros meios complementares de diagnóstico adequados…” “As sequelas (disfunções), independentemente da causa ou lesão inicial de que resultem danos (sofridos em consequência de AC ou DP), são designados na TNI, em notação numérica, inteira ou subdividida em subnúmeros e alíneas, agrupados em capítulos” A cada dano corporal ou prejuízo funcional corresponde um coeficiente expresso em percentagem, que traduz a proporção da perda da capacidade de trabalho resultante da disfunção, como sequela final da lesão inicial, sendo a disfunção total, designada como incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho, expressa pela unidade. Os coeficientes ou intervalos de variação correspondem a percentagens de desvalorização, que constituem o elemento de base para o cálculo da incapacidade a atribuir. Decreto‐Lei nº98/2009, de 4 de Setembro ‐ “Regime de reparação de acidente de trabalho e doenças profissionais” Artigo 1º Objecto da lei Regulamenta o regime de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e reintegração profissionais, nos termos do artigo 284.ºdo Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º7/2009, de 12 de Fevereiro Artigo 8º Conceito 1 – É ACIDENTE DE TRABALHO aquele que se verifique no local e no tempode trabalho e produza directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 7 de 9 Artigo 9.º Extensão do conceito 1 — Considera‐se também acidente de trabalho o ocorrido: a) No trajecto de ida para o local de trabalho ou de regresso deste, nos termos referidos no número seguinte; b) Na execução de serviços espontaneamente prestados e de que possa resultar proveito económico para o empregador; c) No local de trabalho e fora deste, quando no exercício do direito de reunião ou de actividade de representante dos trabalhadores, nos termos previstos no Código do Trabalho; d) No local de trabalho, quando em frequência de curso de formação profissional ou, fora do local de trabalho, quando exista autorização expressa do empregador para tal frequência; e) No local de pagamento da retribuição, enquanto o trabalhador aí permanecer para tal efeito; f) No local onde o trabalhador deva receber qualquer forma de assistência ou tratamento em virtude de anterior acidente e enquanto aí permanecer para esse efeito; g) Em actividade de procura de emprego durante o crédito de horas para tal concedido por lei aos trabalhadores com processo de cessação do contrato de trabalho em curso; h) Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado na execução de serviços determinados pelo empregador ou por ele consentidos. 2 — A alínea a) do número anterior compreende o acidente de trabalho que se verifique nos trajectos normalmente utilizados e durante o período de tempo habitualmente gasto pelo trabalhador: a) Entre qualquer dos seus locais de trabalho, no caso de ter mais de um emprego; b) Entre a sua residência habitual ou ocasional e as instalações que constituem o seu local de trabalho; 3 — Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o trajecto normal tenha sofrido interrupções ou desvios determinados pela satisfação de necessidades atendíveis do trabalhador, bem como por motivo de força maior ou por caso fortuito. Artigo 10.º Prova da origem da lesão 1 — A lesão constatada no local e no tempo de trabalho ou nas circunstâncias previstas no artigo anterior presume‐se consequência de acidente de trabalho. 2 — Se a lesão não tiver manifestação imediatamente a seguir ao acidente, compete ao sinistrado ou aos beneficiários legais provar que foi consequência dele. Artigo 11.º Predisposição patológica e incapacidade 1 — A predisposição patológica do sinistrado num acidente não exclui o direito à reparação integral, salvo quando tiver sido ocultada. 2 — Quando a lesão ou doença consecutiva ao acidente for agravada por lesão ou doença anterior, ou quando esta for agravada pelo acidente, a incapacidade avaliar ‐se ‐á como se tudo dele resultasse, a não ser que pela lesão ou doença anterior o sinistrado já esteja a receber pensão ou tenha recebido um capital de remição nos termos da presente lei. 3 — No caso de o sinistrado estar afectado de incapacidade permanente anterior ao acidente, a reparação é apenas a correspondente à diferença entre a incapacidade anterior e a que for calculada como se tudo fosse imputado ao acidente. Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 8 de 9 4 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, quando do acidente resulte a inutilização ou danificação das ajudas técnicas de que o sinistrado já era portador, o mesmo tem direito à sua reparação ou substituição. 5 — Confere também direito à reparação a lesão ou doença que se manifeste durante o tratamento subsequente a um acidente de trabalho e que seja consequência de tal tratamento. Artigo 19.º Natureza da incapacidade 1 — O acidente de trabalho pode determinar incapacidade temporária ou permanente para o trabalho. 2 — A incapacidade temporária pode ser parcial ou absoluta. 3 — A incapacidade permanente pode ser parcial, absoluta para o trabalho habitual ou absoluta para todo e qualquer trabalho. Resumo: Incapacidade temporária Parcial (ITP) Absoluta (ITA) Incapacidade permanente Parcial (IPP) Absoluta para o trabalho habitual (IPATH) Absoluta para todo e qualquer trabalho Artigo 20.º Determinação da incapacidade A determinação da incapacidade é efectuada de acordo com a tabela nacional de incapacidades por acidentes de trabalho e doenças profissionais, elaborada e actualizada por uma comissão nacional, cuja composição, competência e modo de funcionamento são fixados em diploma próprio. Decreto‐Lei nº 100/97, de 13 de Setembro “DOENÇAS PROFISSIONAIS” São as doenças incluídas na Lista das Doenças Profissionais de que esteja afectado um trabalhador que tenha estado exposto ao respectivo risco pela natureza da actividade ou condições, ambiente e técnicas do trabalho habitual. E ainda, para efeitos de reparação, a lesão corporal, perturbação funcional ou doença não incluída na Lista, desde que se prove ser consequência necessária e directa da actividade exercida e não represente normal desgaste do organismo O Decreto‐Lei nº98/2009, de 4 de Setembro que contem o “Regime de reparação de acidente de trabalho e doenças profissionais” faz a mesma definição de doenças profissionais, não sei o porque de usar o nº100/97 Decreto‐Regulamentar nº 6/2001, de 5 de Maio “Índice codificado de doenças profissionais” Aprova a lista das doenças profissionais e o respectivo índice codificado 1 – D. provocadas por agentes químicos 2 – D. aparelho respiratório 3 – D. cutâneas Módulo X ‐ Ciências Sociais – Medicina Legal e Ciências Forenses Legislação Ana Messias | Sofia Monteiro Página 9 de 9 4 – D. provocadas por agentes físicos 5 – D. infecciosas e parasitárias 6 – Tumores 7 – Manifestações alérgicas das mucosas Página 1 de 15 Ana Messias | Sofia Monteiro Perguntas padrão exame Crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual a) Conduta/procedimento do médico perante vítima abusada sexualmente? ou Existindo razões para admitir a veracidade do relato, quais as medidas que deverão ser tomadas? ou Que atitude médico‐legal tomar? O médico (SU ou MGF) perante uma alegada vítima de agressão sexual deve: 1. ABORDAGEM INICIAL A. Avaliar a estado de consciência da vítima e a necessidade de cuidados médicos urgentes: a) Se a vítima está inconsciente e/ou se necessita de cuidados médicos urgentes, providenciar a intervenção terapêutica adequada que, neste caso, tem prioridade sobre o exame médico legal. Neste processo, evitar destruição/contaminação de possíveis vestígios, recolher todos os vestígios possíveis e registar detalhadamente as observações efectuadas. b) Se a vítima está consciente e não necessidade de cuidados médicos urgentes, seguir o resto do procedimento descrito. B. Tranquilizar e transmitir confiança à vítima C. Não emitir juízos de valor D. Garantir a segurança da vítima 2. COLHEITA DE INFORMAÇÃO – através de Informação externa e Entrevista clínica. A entrevista pode ser gravada para uso futuro diminuindo a vitimização secundária. Deve conter: A. Pedir o consentimento informado B. Realizar num local calmo e reservado C. Realizar, se possível, na presença de outro perito ou técnico de saúde D. História do evento (data, hora, local e contexto da ocorrência – familiar ou extra familiar, idade da vítima e do suspeitoagressor, tipo de agressão, tempo decorrido desde agressão). No caso de a vítima ser uma criança pode usar‐se como auxilio um boneco para que esta possa apontar. No caso de a vítima ser uma adolescente registar o que pode alterar a idade aparente (maquilhagem, roupa). E. Estado geral e comportamento (cognitivo e emocional) F. Antecedentes Pessoais (detalhes da história ginecológica da vitima) G. Antecedentes Familiares (caracterizar o cuidador e o contexto familiar) Página 2 de 15 Ana Messias | Sofia Monteiro 3. EXAME FÍSICO COMPLETO/EXAME DO ESTADO ACTUAL – depende do tempo que decorreu desde a agressão: A. Se <72h – Pedir o apoio do especialista em medicina legal em serviço de escala de 24h, garantindo a preservação de vestígios. O médico‐legista realizará o exame pericial com recolha de vestígios/amostras biológicas. Se não dispuser deste apoio proceder ao exame objectivo e recolher as vestígios/amostras biológicas. B. Se >72h – Como a possibilidade de preservação de eventuais vestígios biológicos é reduzida, deve‐se encaminhar a vítima para os serviços médico‐legais depois de lhe explicar as vantagens deste procedimento (redução da vitimização secundária). Os SML procedem à recolha de vestígios/amostras biológicas. Procedimento no exame físico completo/exame pericial de natureza sexual: Usar vestuário de protecção para evitar a contaminação das amostras Explicar todos os passos cuidadosamente à vitima Recolha da roupa Deve iniciar‐se longe da área genital (cabeça, tronco, membros, pescoço, tórax, área genital e anal) Caracterizar lesões encontradas (anotar/registar e fotografar se possível) Pesquisar a presença de fracturas Recolher amostras (unhas, cabelos e pêlos, esfraço genital, exsudado vaginal, sangue, urina) para recipientes próprios (sacos de papel, zaragatoas secas para áreas húmidas e húmidas para áreas secas), rotulá‐los e garantir cadeia de custódia Em caso de necessidade proceder a exames imagiológicos 4. MEDIDAS TERAPÊUTICAS E PROFILÁTICAS – Tratamento das lesões, profilaxia da gravidez e infecções sexualmente transmissíveis 5. SINALIZAÇÃO E ENCAMINHAMENTO DA VÍTIMA PARA CUIDADOS DIFERENCIADOS – Serviço médico‐legal, psicólogo, serviço social Se consciente a vítima pode decidir ou não apresentar queixa. Caso a vítima não decida apresentar queixa o médico deve sinalizar às entidades competentes. Caso a vítima seja menor de 14 anos, estamos perante um crime público logo o médico tem que denunciar ao ministério público. Para além disso, o médico deve encaminhar a vítima os serviços de protecção (segurança social, ONG) e psicólogo. 6. CONSULTAS DE SEGUIMENTO ‐ follow up às 2 semanas, 3 e 6 meses Página 3 de 15 Ana Messias | Sofia Monteiro b) Vítima abusada sexualmente. Poderá tratar‐se de um caso de urgência médico‐legal? Em caso afirmativo, justifique e diga quais os procedimentos a adoptar? ou Quais as condições que podem justificar a necessidade da realização de um exame pericial de urgência Trata‐se de um caso de urgência médico‐legal se a história de agressão sexual ocorreu nas últimas 72 horas, porque ainda há possibilidade de recolher vestígios/amostras biológicas que constituirão a prova pericial. Os procedimentos a adoptar Pedir o apoio do especialista em medicina legal em serviço de escala de 24h, garantindo a preservação de vestígios. O médico‐legista realizará o exame pericial com recolha de vestígios/amostras biológicas. Se não dispuser deste apoio proceder ao exame objectivo e recolher os vestígios/as amostras biológicas. c) Qual a conduta a observar pelo médico de família? Se o MF se depara com a vítima no SU, segue o procedimento geral (descrito na resposta a)). Na sua actividade o MF tem uma posição privilegiada porque: ‐ faz um acompanhamento regular e continuado ‐tem uma abordagem integrada e centrada na pessoa e na família ‐tem uma actuação abrangente o que lhes permite ‐reconhecer precocemente as situações de risco ‐reconhecer as situações “mascaradas” ‐identificar e orientar indivíduos potencialmente agressores para o conseguir, a sua conduta deve passar por ‐acções de prevenção primária (acções de educação para a saúde, alertar os utentes para os efeitos ‐da transmissão de violência/agressão sexual entre as várias gerações ‐ser bom ouvinte ‐estabelecer uma relação médico doente empática ‐não se sentir incomodado com a abordagem do tema ‐ não ter receio das consequências legais do processo d) Quais os elementos clínicos mais importantes para o esclarecimento clínico da situação? Tudo o que possa constituir a prova pericial: informação colhida (na entrevista e informação externa), relatório do exame físico completo (com caracterização de todas as lesões) e amostras/vestígios biológicos e resultado da sua análise. Página 4 de 15 Ana Messias | Sofia Monteiro e) O diagnóstico de abuso sexual é quase constantemente pacifica e isento de implicações mais ou menos delicadas? Em caso negativo, quais são as implicações e a que nível se situam? Não o diagnóstico não é pacífico e envolve implicações delicadas. As implicações situam‐se a diferentes níveis: A. Dificuldade de diagnóstico ‐ Disparidade entre o relato da vítima e do acusado (o que exige o exame pericial) ‐ O inquérito e a investigação policial deparam‐se com dificuldades que resultam tanto da escassez das provas quanto da inespecificidade de muitos dos elementos apurados ‐ Podem existir situações que simulam uma agressão sexual (perturbações dermatológicas, variações congénitas, alterações fisiológicas da maturidade, traumatismos acidentais, infecções não sexualmente transmitidas e cirurgias genito‐urinárias) ‐ Todas as vítimas requerem uma resposta múltipla, que envolve várias instâncias (policiais, médico‐legais, judiciais, sociais e sanitárias) B. Confirmado o diagnóstico as implicações legais que ele acarreta ‐ O facto de diagnóstico de abuso sexual constituir matéria de direito penal com todas as consequências que isso implica. Perante uma vítima menor de 14 anos o médico é obrigado a denunciar às autoridades competentes enquanto, numa maior de 14 anos está dependente da queixa desta mas tem sempre que sinalizar às autoridades competentes ‐ Face ao artigo 242º Denúncia obrigatória do Código do Processo Penal, como funcionário público, o médico é obrigado à denúncia de crimes que tenha conhecimento na sua prática ou por causa desta o que pode criar conflito se estiver perante um maior de 14 anos que lhe peça sigilo. ‐ Existem diferentes crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual, cada um com as suas especificadas, dos quais resultam penas diferentes. Exemplos: CÓDIGO PENAL, Livro II, Título I Capítulo III “Dos crimes contra a integridade física” Secção I “Crimes contra a liberdade sexual” Artigo 163.º Coacção sexual Artigo 164.º Violação Secção II “Crimes contra a autodeterminação sexual” Artigo 171.º Abuso sexual de crianças Artigo 173.º Actos sexuais com adolescentes Página 5 de 15 Ana Messias | Sofia Monteiro f) Que tipo de amostras biológicas devem ser recolhidas e com que finalidade? Sangue Doseamento de Beta HCG Serologia: VHB, VIH, VHC VDRL/PRP Drogas de abuso, álcool Grupagem DNA Exsudado Vaginal Neisseria gonorrhea Chlamydia trachomatis Trichomonas vaginalis Possibilidade de identificação do agressor Urina Drogas de abuso Medicamentos Unhas Pêlos púbicos e cabelos Manchas de sangue, saliva, sémen, lama, plantas Possibilidade de identificação do agressor g) Como pode o laboratório forense realizar a identificação biológica de um agressor? ‐ Pesquisa
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