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Altas pressões na indústria de alimentos Prof. Letícia Fernandes de Oliveira Universidade Federal de Lavras Departamento de Ciência dos Alimentos GCA 109 Princípios de Conservação de Alimentos Tratamento por altas pressões • Alta pressão hidrostática = alta pressão isostática. • Princípio isostático → independe do volume e da forma da amostra • Originária na produção de cerâmica, aço e superligas • 1899: leite à 689 MPa / 1h conservou-se por mais tempo, com reduções de 6 decimais na contagem bacteriana total. Como é gerada a alta pressão? • Indústria alimentícia: equipamentos que tolerem p>4000 atm Vaso carregado Cheio c/ meio de transmissão de p Aplicada alta pressão/tempo Vaso é aberto, descarregado e carregado novamente • Equipamento: recipiente de pressão (bloco de liga de aço), sistema gerador de pressão, dispositivo para controle da T e sistema operacional. • Podem ser originadas: Compressão direta; Compressão indireta; Aquecimento através da pressão. Como é gerada a alta pressão? Compressão direta • Pressurização de um meio com a extremidade final de um pistão (↓ d) que é impulsionado por uma bomba de baixa pressão. • Vantagem: compressão rápida; • Desvantagem: restrições de selagem a alta pressão dinâmica entre o pistão e a superfície interna da câmera. Compressão indireta • Utiliza um intensificador de alta pressão para uma bomba de média pressão, para dentro de um reservatório, num recipiente fechado de alta pressão, até a pressão desejada ser alcançada. Aquecimento do meio de pressão Utiliza a expansão do meio de pressão mediante um aumento da temperatura para gerar altas pressões. Quais as vantagens do processo? • Torna possível o processamento do alimento à T ambiente, ou mesmo à T mais baixa; • Possibilita a uniforme transmissão de pressão sobre o alimento, independentemente da sua forma e tamanho, o que dispensa operações preliminares neste; • Proporciona morte microbiana sem o uso de aditivos químicos; • Pode ser utilizado para o desenvolvimento de produtos com propriedades funcionais. Quais são os efeitos causados pela AP? • Modificações nos sistemas biológicos: morfológico, bioquímico e genético • Mudanças na membrana da parede celular do microrganismo. • Resistência: esporos bacterianos (resiste a p≤ 1000 MPa) > formas vegetativas bacterianas (inativadas a pressões de 400 a 600 MPa) > bolores e as leveduras (200 a 300 MPa). 1. Mudanças morfológicas • Maioria das bactérias crescem até 20-30MPa. • Filamentos: alongamento das células Microrganismo Pressão (atm) Tamanho do filamento Tamanho do filamento (p=1 atm) Escherichia coli 400 10-100 μm 1-2 μm Serrati marinoruba 600 200 μm 0,1-1,5 μm • Produção de RNA celular: aumenta; • Quantidade de DNA celular:diminui; • Mobilidade: em pressões de 20-40MPa as bactérias móveis são imobilizadas Ex: E. coli, Vibrio y Pseudomonas a 100 atm retém seus flagelos, a 400 atm perdem seus flagelos. 1. Mudanças morfológicas 2. Inativação microbiana • Pressão moderada: diminui a velocidade de crescimento e reprodução; • Pressão muito elevada: inativação dos m.o. • AP desnatura as proteínas(inibe a captação de a.a. essenciais), reduz o tamanho da camada fosfolipídica da membrana celular, maior permeabilidade da membrana (liberando material intracelular). Microrganismo Pressão Aplicada (atm) Temperatura (°C) Tempo (min) Viabilidade Bactérias em leite crú 2000 5000 10000 35 35 35 1800 1800 1800 Redução de 1 ciclo log Redução de 4 ciclo log Sobrevivem poucas células E. coli 2900 25-30 10 Morte da maioria das células Listeria monocytogenes 2380-3400 -- 20 106 UFC/ml a menos Pseudomonas aeruginosa 1935 -- 720 Esterilização das células Salmonella typhimurium 2380-3400 -- 30 Redução de 3 ciclos log Staphylococcus aureus 2900 25-30 10 Morte da maioria das células Toxina de Staphylococcus aureus 680 65 48 ~85% de desnaturação Tempo de inativação por pressão 3. Inativação dos esporos • Pode causar a germinação dos esporos 4. Fatores que afetam a inativação microbiana • PH, composição, pressão osmótica e temperatura do meio. • ↑ pressões alteram pH do meio, o que afeta a velocidade de crescimento e de inativação. Ex: E. coli à 1 atm se inibe a pH 4,9 e 10, 6; a 272 atm inibem em pH 5,8 e 9,0; e a 340 atm se inibem em pH 6,0 e 8,7. Qual o efeito da AP nas reações enzimáticas? • Inativação da enzima se ocorre pela sua alteração nas estruturas intermoleculares ou alterações conformacionais em seus sítios ativos. • Reativação após a descompressão é possível (grau de distorção da molécula – em p>300MPa irreversível) • Obs: falta de efeito sobre algumas enzimas ( proteases, lipases, esterases e oxidases) Efeito de 20 min de tratamentos de pressão sobre fosfatase alcalina em leite crú Carnes Aumento na atividade de enzimas proteolíticas (catepsina) → maciez. Vegetais Cumpre os requisitos de branqueamento, evitando a lixiviação de minerais e a acumulação de águas residuais. Sucos Inativação da Pectinesterase - pressurizado a 300-400 MPa. Qual o efeito da AP nas reações bioquímicas? • A pressão provoca uma diminuição do espaço molecular disponível, ou um aumento nas interações em cadeias. • Desnatura as moléculas de proteínas: despolimerização dos grupos carregados, ruptura de pontes salinas e ligações hidrofóbicas (modificações estruturais e conformacionais) • Desnaturação protéica AP: rompe as ligações hidrofóbicas e de par iônico da molécula de proteína, desdobramento das moléculas de proteína (redução do volume em +ou- 2 %) • Desnaturação por calor: formação ou rompimento de ligações covalentes. Ex: Leite tratado a 700 atm não azedo em 12 dias; Prevenção da alta acidez do iogurte causada pela fermentação continua durante o armazenamento, prevenida sob pressão de 2000 a 3000 atm durante 10 min a 10°C. Aplicação da alta pressão no processamento de alimentos • Aumentar a vida de prateleira (inativação dos m.o., esporos e enzimas); • Modificar a textura; • Modificar as propriedades sensoriais; • Descongelamento de alimentos • (ex: 2kg carne bovina, p= 200MPa, t= 80 min; p= 1atm., t= 7h53). Modificação sensorial Carne bovina: amolece. Altas pressões causam a separação das coberturas do sarcolema e do endomísio, das bandas de contração e ruptura dos espaços miofibrilares e intermiofibrilares. Pode ocorrer o desaparecimento de grânulos de glicogênio, o surgimento de mitocôndrias e reticulo sarcoplasmático inchado e, em alguns casos, a ruptura da mitocôndria. Aumento da atividade enzimas proteolíticas endógenas do músculo devido às altas pressões. Tomate: Estrutura interna mais firme. Tecidos de frango e filetes de pescado: Tornam-se opacos Arroz: rápido cozimento Alteração da estrutura do amido e da proteína. Compotas, geléias e calda: Retêm o gosto e cor da fruta fresca, permite a permanência da solução de açúcar no interior das frutas assim como a conservação comercial. Um material plástico é preenchido com uma mistura de frutas frescas, suco de frutas, açúcar e acidulante. O recipiente é lacrado e colocado a pressões de 4000 a 6000 atm durante 1-30 min. Sucos citricos: Não possuem o gosto amargo do limoneno Possuem um aroma parecido com o natural, sem perca vitamina C e com uma vida útil de aproximadamente17 meses. Gelificação O mecanismo de gelificação por alta pressão é diferente do produzido por calor. A gelificação por alta pressão é atribuído ao declínio do volume da solução protéica. Por outro lado, a aplicação de calor provoca um movimento violento das moléculas de proteínas que conduzem a destruição das ligações não covalentes, desnaturação e formação de redes ao acaso. Nos géis pressurizados a rearranjo das moléculas de água em torno dos resíduos de aminoácidos na pressão induzida produz géis mais brilhantes e transparentes, em comparação com os géis opacos obtidos em temperaturas elevadas.
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