Buscar

04-05-11.09 SISTEMAS CONSTITUCIONAIS - Brasil FAORO

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Breve Histórico sobre a Constituinte de 87/88 (Wikipedia)
A Assembleia Nacional Constituinte de 1987, também referida como Assembleia Nacional Constituinte de 1988 1 ou como Assembléia Nacional Constituinte de 1987-1988,2 3 foi instalada no Congresso Nacional, em Brasília, a 1º de fevereiro de 1987, com a finalidade de elaborar uma Constituição democrática para o Brasil, após 21 anos sob regime militar. Os trabalhos da Constituinte foram encerrados em 2 de setembro de 1988, após a votação e aprovação do texto final da nova Constituição brasileira.
Nos primeiros meses do governo Sarney, o primeiro governo civil desde o golpe militar de 1964, houve um intenso debate sobre a convocação de uma Assembléia Constituinte. Em novembro de 1986, foram realizadas eleições gerais. Embora alguns setores defendessem a formação de uma Constituinte exclusiva - ou seja, uma Assembléia formada por representantes eleitos com a finalidade exclusiva de elaborar a nova Constituição - prevaleceu a tese do Congresso Constituinte, isto é, os deputados federais e senadores eleitos em novembro de 1986 acumulariam as funções de congressistas e de constituintes. Assim, os eleitos tiveram, extraordinariamente, a função de elaborar a Constituição e, uma vez concluída a nova Carta, cumpriram o restante dos respectivos mandatos, no exercício da atividade parlamentar ordinária.4
A Assembleia Constituinte, composta por 559 congressistas, tomou posse em fevereiro de 1987. Ulysses Guimarães, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de São Paulo, atuou como presidente da Assembleia.5
A maioria dos membros da Assembleia Constituinte era formada pelo Centro Democrático (PMDB, PFL, PTB, PDS e partidos menores), também conhecido como "Centrão".3 Eles eram apoiados pelo Poder Executivo e representavam segmentos conservadores da sociedade brasileira, os quais tiveram uma influência decisiva nos trabalhos da Constituinte e em decisões importantes, tais como a redução do mandato do Presidente Sarney (de seis anos para cinco anos - não tendo sido acolhida a proposta de redução para quatro anos), a questão agrária e o papel das Forças Armadas.
A Democracia Tutelada – Raymundo Faoro
***Este texto era em formato de entrevista, achei melhor resumi-lo desta forma.
Nas partes em que os verbos estão no presente, lebrar que Faoro estava falando no ano da constituinte (87)***
Em 1977, quando Faoro era presidente do Conselho Federal da OAB, ele já previa uma constituinte. Dizia que embora parecesse uma utopia, era questão de tempo para que ocorresse. A forma concebida, porém, foi diferente da que ele propunha: Uma Assembléia Nacional Constituinte, exclusiva, que se opunha a um Congresso-Constituinte.
Faoro acreditava que como a constituinte estava sendo feita dentro do congresso, já era o Estado Novo do PMDB quem estava operando. O PMDB já não era o partido descendente do MDB que marcou a luta pelo restabelecimento das liberdades políticas do país. Foi neste ambiente político que foi elaborada a Constituição promulgada em 1988.
O PT estava começando e propunha que as reuniões dos constituintes fossem transmitidas pela televisão, Faoro não acredita que isto seja viável.
O PT tentava sintonia com movimentos sociais reprimidos na ditadura que ressurgiam no cenário político. Emergia também, vindo do exílio de 15 anos, Leonel Brizola, que pela ótica de Faoro, tinha “um poder de crítica que é muito positivo para a democracia brasileira”.
Para Faoro, “O Estado Novo do PMDB” era a ideia de que um líder civil ou grupo civil venha a ter um apoio militar para constituir um Estado não popular.
A constituinte está entregue a uma coligação de governadores que vai manter o presidente enquanto o presidente for fiel a eles. O vínculo entre governadores e presidente pode sofrer um rompimento em consequência da pressão do movimento popular, especialmente porque os governadores não vão arcar com os custos políticos de medidas impopulares tomadas pelo presidente da república.
As divergências entre a política dos governadores e os interesses federais não são pequenas. Os governadores estariam mais aptos a renovar o contato popular do que o presidente da república, porém, não apoiariam uma política recessiva, pois o ônus recairia em cima deles e não do presidente.
Faoro acha duvidoso que haja alguma pressão em cima da Constituinte pela mobilização popular e a imprensa. Diz que o presidente, se precisar de apoio, vai buscá-lo na frente dos governadores. O presidente irá desmobilizar a Constituinte dentro de um acordo com os governadores e diante também de um alerta a essas forças que ele chama de “tutela”.
Uma discussão na Constituinte sobre o papel das Forças Armadas aliada a um quadro de crise econômica, gerando insatisfação e obrigando o governo a recorre à recessão resultaria em um encerramento prematuro da Constituinte.
A Constituinte encontra grandes dificuldades para trabalhar, inclusive de espaço físico. É uma Constituinte para a hora do lanche. O Congresso trabalha de manhã. Se os assuntos sobre crise econômica se agravarem o governo vai ter de pedir medidas legislativas com frequência, essas insatisfações vão ao Congresso, isso será discutido em termos de lei e não de Constituição porque o governo já mandou a mensagem de que a Constituição será em bloco, não serão possíveis disposições constitucionais parceladas. A Constituição será Uma e entrará em vigor quando o governo “fechar o pacote”.
Houve uma mudança de regime mas continua com resquícios daquele. Esta mudança ocorreu com um pacto de transição que incluiu a intocabilidade dos órgãos de segurança, os quais são os mesmos do regime anterior.
O PMDB, ao fazer a transição, fez negociações, já que as forças que o acompanham agora são as mesmas que ele combatia. O PMDB de hoje (da época da constituinte) é diferente da de antes.
Brossard ser o ministro da Justiça é circunstancial, ele tem um passado de resistência, não é recém-chegado ao PMDB, está servindo ao seu partido com uma transparência que é própria dele. Na quebra da legalidade ele será o primeiro a sair.
O Dr. Ulysses Guimarães não é o mesmo de dois anos atrás. O partido mudou e o papel dele dentro do partido também. Ele hoje é um organizador da convivência dentro do PMDB, uma espécie de síndico que fica inclusive como papel desagradável de arrumar os empregos. 
Faoro leva a entender que se está fazendo um acerto para vir aí um modelo democrático excludente, sem lugar para a grande massa, as grandes reivindicações populares, e que isso só se romperia pela base. É um fenômeno de organização desses setores excluídos que tendem a se ampliar, e já se ampliaram, elegendo 40 deputados.
Com o Plano Cruzado, o governo foi até seu limite, a população começou a gastar porque sabia que os preços não iriam variar.
Brizola ter perdido as eleições para o governo do Rio não foi nem bom nem ruim, democracia é isso ganhar ou perder. Brizola tem um poder de crítica que é muito positivo para a democracia brasileira, e se ele tivesse um espaço maior, seria melhor.
O PT, apesar de ser franca minoria na constituinte, não está fadado à derrota. A minoria, se for flexível estrategicamente, pode desagregar setores que estão em maioria.
No caso da Constituinte há um acordo entre os governadores e o presidente, o que determina sua duração é o mandato do presidente. O que o mandato significa é se este acordo entre governadores mantém este presidente ou faz outro. Se vai manter este presidente por seis anos, o acordo será feito em termos de maior participação dos governadores nesse processo. O mandato pode ser um mandato simples no sistema presidencialista e pode ser um mandato no sistema parlamentarista, o que é uma maneira de lotear as posições. E há também uma outra hipótese, provavelmente mais viável em razão do agravamento da situação econômica que se prevê: que se faça um regime em que a figura do presidente da República perca a predominância, e o motor do processo seja um primeiro-ministro ou um presidente do Conselho alimentado por
essas forças.
A Constituinte pode decidir pela Constituição de quanto tempo será o mandato do presidente Sarney, se será curto, longo ou até vitalício.
Está sendo esboçado um pacto social ou uma paz social, esta matéria será decidida em uma próxima reunião de governadores.
Faoro vê o ano de 1987 com duas alternativas para o presidente Sarney: se forem drenados para o exterior recursos que permitam fazer aqui uma política não recessiva, não inflacionária e de desenvolvimento econômico ele terá um futuro limitado mas sólido; porém se ele for para a televisão e anunciar a moratória (devo, não nego, pagarei quando puder) lhe daria popularidade mas um período bem mais curto. (Em 1987 a dívida externa brasileira superou os US$100 bilhões).
Falta ao Sarney vocação popular e condições de fazer concessões.
A falta de vocação popular do governo não pode ser atribuído a uma única causa, são obstáculos vindos da sociedade civil, da estrutura mpresarial, da estrutura agrária do país que ainda são muito retrógradas.
Faoro cita o fato de Sarney ter comentado que corríamos o risco de estar vivendo uma “Primavera de Praga” (movimento de intelectuais comunistas, em 1968, a partir das propostas de mudanças políticas, sociais e econômicas na Tchecoslováquia, no sentido de liberalização do regime), o que ele (Faoro) considerou um ato de sinceridade, até mesmo por abrir a janela do Palácio do Planalto e não ver mais os tanques ali. Será que eles retornarão?
Em novembro de 1986 houve uma tentativa de greve geral como reação ao Plano Cruzado II (que descongelou preços, liberou o aumento dos aluguéis). O governo, ao tentar evitar a greve, mostrou uma fragilidade que não se supunha.
O sindicalismo ainda é nascente, fraco, que se emancipa do poder público com muita dificuldade, que vive ainda do Imposto Sindical. É um sindicalismo que tem contra si uma classe empresarial que não o aceita. Quem fizer grave hoje, se for líder dessa greve, poderá ser demitido amanhã por outro motivo, mas o motivo real será a greve. É como se existisse uma “lista negra”.
Somos um país retrógrado, precisamos entender a greve como uma maneira de o trabalhador reinvindicar. 
Com a situação cruada pelo Plano Cruzado II, o empresariado está investindo seu dinheiro no exterior, eles perceberam que o dinheiro ficou caro e que há uma incerteza em torno das taxas de inflação.
Depois do Plano Cruzado, acreditavasse que haveria um movimento interclasses (setor industrial e empresarial), as ações dos bancos caíram e as das empresas industriais subiram, porém, foi por pouco tempo, o que tenha havido pode ser uma guerra dentro das classes e os empresários do setor industrial tenham perdido essa guerra. Provavelmente, o setor industrial não era independente como se supunha.
O governo Sarney não tem apoio militar, isso dá a ele mais autonomia. Sarney dispensa o apoio militar e vive do ibope, se o ibope for zero, o governo dele não existe, é um governo de precariedade.
Sarney pode buscar a legitimidade de seu governo no apoio dos governadores.
Um dos nomes em quem Faoro acredita como futuro grande político é Orestes Quércia ( Foi adepto das Diretas Já e da campanha vitoriosa de Tancredo Neves à Presidência em 1985- Wikipedia) a quem atribuia as qualidades de hábil e atilado (atento).
Faoro fala da sagacidade do presidente Sarney em relação aos seus opositores políticos, como Quércia, Maluf e Antônio Ermínio.
Como o governo do Sarney é de ibope, ele busca ibope inclusive nos ministros.
Faoro não acredita que os militares estejam planejando novo golpe, ele não vê semelhança entre os militares de agora (87) e os de antes.
Os últimos comentários do texto são sobre a tortura, que já havia passado pela lei da anistia e que não se comenta mais sobre isso e sobre o Anteprojeto Arinos (um anteprojeto da Constituição) que Faoro acredita ter sido um projeto pouco representativo, normativo e muito pragmático. Prossuia traços das constituições espanhola e alemã.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais