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A crise do Brasil e o lugar da historia

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1 
 
A crise do Brasil e o lugar da história 
Rodrigo Patto Sá Motta 
 
Agradeço o convite dos colegas do CRBC para participar deste seminário, 
oportunidade interessante para compartilhar reflexões sobre a situação política do Brasil, 
a crise mais grave de que eu participei ou testemunhei. 
O objetivo é oferecer uma análise de historiador, profissional acadêmico que 
estuda as mudanças e permanências na vida das sociedades tendo como referência a 
temporalidade. Portanto, um olhar analítico, crítico, frio, na expectativa de compreender 
melhor a situação. Trata-se de uma fala cujo objetivo é provocar a reflexão crítica, porém, 
que está igualmente orientada para a ação. Neste momento grave da história brasileira, 
que certamente será visto como um marco nos anos vindouros, é importante unir a 
reflexão à ação, retomando a tradição do republicanismo ativo e do engajamento dos 
intelectuais, embora livres das ingenuidades iluministas. 
Defendo uma forma de engajamento que não perde o sentido crítico e permite 
perceber os erros cometidos deste lado, ou seja da esquerda. Acredito na possibilidade da 
objetividade e na busca da verdade. Mas, concordando com Jörn Rüsen, a busca da 
objetividade possível demanda a exteriorização das próprias opiniões e valores, e, ao 
mesmo tempo, a consideração atenta de todas as informações e opiniões disponíveis sobre 
o tema em análise. Daí a importância de não demonizar o outro campo, pois isso significa 
recusar-se a compreender os adversários. Ao contrário, é fundamental estar atento e 
compreender a direita, para dialogar com seus argumentos e derrota-los no debate público 
(o que significa retirar do campo da direita alguns cidadãos atraídos para ali 
inadvertidamente). 
Afirmar a relevância da história não implica recuperar o regime antigo de 
historicidade: a história não é cíclica, o seu conhecimento não oferece um manual de 
como agir no presente; ela não é magistra vitae. Porém, no caso brasileiro ao menos, 
tampouco chegamos plenamente ao regime do presentismo. Creio que ainda estamos no 
regime moderno de historicidade, por isso o conhecimento histórico segue relevante para 
uma sociedade que pode ter um horizonte de expectativa promissor, embora nem tão 
ambicioso como no tempo das grandes utopias. Ao meu ver, o horizonte de expectativa 
não é mais uma revolução redentora, mas um processo de mudanças sociais capaz de 
transformar um dos países mais desiguais do mundo. Estaríamos ainda no regime 
2 
 
moderno de historicidade, portanto, mas em uma vertente menos iluminista, menos 
ingênua. 
Nesse sentido, o conhecimento histórico ainda pode servir para analisar e 
compreender o quadro atual, cumprindo o seu papel acadêmico-científico. 
Simultaneamente, esse mesmo conhecimento contribui para a instituição do cenário 
político, ao influenciar a construção das identidades políticas e ao oferecer inspiração para 
as escolhas dos agentes. Eis a razão porque a história ocupa lugar central nas batalhas 
políticas presentes, sendo objeto de tantas disputas e manipulações, a exemplo da história 
da ditadura, que inspira atores da esquerda e da direita a escolherem posição nas lutas de 
hoje. 
A propósito da importância da história e dos historiadores nos conflitos atuais, há 
alguns dias (14/06/2016) um dos mais influentes jornais brasileiros, O Estado de São 
Paulo, publicou editorial significativo intitulado O lugar de Dilma na história. O texto 
revela o lugar estratégico do conhecimento histórico e indica que a mobilização dos 
historiadores está causando efeitos, incomodando os grupos que apoiam o impeachment 
de Rousseff. O editorial ataca os historiadores que tentam (citando o grupo Historiadores 
pela democracia) mostrar aos cidadãos que o impeachment é ilegítimo e de fundo 
golpista. A exemplo do que já fizeram N. Sarkozy e a família Le Pen (Jean-Marie e depois 
Marion Maréchal) o jornal brasileiro citou também Marc Bloch, para mostrar erudição e 
apropriar-se da imagem de um historiador de renome. Mais uma vez, a memória de Bloch 
é vilipendiada por tentativas de apropriação conservadora, desta vez no outro lado do 
atlântico com o jornal brasileiro mostrando-se caudatário da direita francesa. O Estadão 
cita uma fala de Bloch em que pede aos historiadores apenas “honesta submissão à 
verdade”. A menção ao historiador francês serve de apoio à acusação de que seus colegas 
de profissão brasileiros distorcem a verdade ao denunciarem um golpe e exigirem o 
retorno de Dilma Rousseff em nome do respeito à democracia. Para o Estadão, ao 
contrário, foi a democracia brasileira que implodiu “o edifício fraudulento que o PT de 
Lula e seus sequazes acadêmicos estavam erguendo”. Pode-se dizer tudo do Estadão, 
exceto que ele seja incoerente. Em 1964 o jornal negou o caráter golpista da derrubada 
de João Goulart e chamou a ditadura de revolução, enquanto hoje chama de democrática 
a manobra que permitiu o impeachment de Rousseff. 
 
Demorei-me no editorial do Estadão para demonstrar a relevância do 
conhecimento histórico nas disputas pela narrativa e interpretação dos eventos atuais. 
3 
 
Após essas considerações iniciais passo a apresentar algumas análises sobre a história 
recente do Brasil, na expectativa de ajudar a compreender o quadro presente. Em seguida 
vou afastar-me do papel tradicional do historiador e arriscar algumas considerações sobre 
o quadro atual, assim como sugestões de linha de ação. 
Arriscar é a expressão correta. Trata-se de correr riscos, tanto acadêmicos como 
políticos. O momento político do Brasil exige de nós mais engajamento, maior disposição 
de arriscar-se em benefício de interesses maiores. Precisamos de mais republicanismo, 
portanto, de mais virtude política, especialmente em dois aspectos: o talento para 
construir liderança eficaz e a capacidade de agir com desprendimento em relação a 
interesses menores. Do velho republicanismo devemos evitar apenas a perspectiva que 
exagera os interesses comuns em detrimento dos conflitos sociais. O combate às 
desigualdades sociais no Brasil implica o conflito social e a necessidade de construir uma 
verdadeira República, que integre a todos como cidadãos. Uma luta a ser travada com 
base em princípios democráticos e no respeito ao pluralismo e às diferenças. 
Nas páginas seguintes proponho explorar dois caminhos, que têm conexões com 
pesquisas e trabalhos anteriores: em primeiro lugar, uma comparação entre o quadro atual 
e a crise de 1964; segundo, uma análise sobre o impacto de fatores estruturais na atual 
crise, sobretudo a incidência da cultura política. Devido a limitações de tempo a 
apresentação vai ser sintética e esquemática, mas terei prazer em explicar melhor os 
argumentos e debater com os colegas e o público logo adiante. 
Pois bem, comecemos com o golpe de 1964, esse passado que não passa no Brasil. 
A história do golpe e da subsequente ditadura já eram fundamentais para entender o Brasil 
e a dificuldade de construir uma sociedade democrática. Agora o tema revestiu-se de 
maior importância ainda, e não apenas pelo que pode aportar à nossa compreensão da 
crise política, mas, por sua manipulação nos discursos dos agentes em luta. Sem tempo 
para entrar na discussão metodológica sobre o comparativismo na história digo apenas o 
essencial. A comparação é procedimento fundamental na historiografia e tem como base, 
e como meta, perceber as semelhanças e diferenças entre os objetos em foco. Serei breve 
nesse exercício comparativo, ademais, porque publiquei recente texto sobre o tema. 
O primeiro registro a fazer é a impressão inicial de grande semelhança com 1964. 
Tive essa sensação – quase um choque – nas eleições de 2014, com a mobilização 
antipetista baseadano anticomunismo dando o tom da campanha da oposição. Nas ruas e 
seções eleitorais, um grande contingente de pessoas usando camisetas amarelas com que 
pretendiam manifestar o seu patriotismo antiesquerdista {aliás, um tema interessante a 
4 
 
pesquisar; o futebol é tão central na cultura brasileira que marca também os repertórios 
de manifestação política} 
No entanto, não devemos exagerar nas semelhanças, por dever de ofício 
acadêmico e para evitar escolhas políticas erradas sob o peso da sombra de 1964. Se hoje 
ocorreu um tipo de golpe ele foi diferente de 1964 e as armas para a luta não podem ser 
as mesmas do passado. Voltarei a isso em pouco. 
Como tenho afirmado em outras ocasiões, a mobilização direitista de hoje baseou-
se em representações idênticas a 1964: luta contra o comunismo e contra a corrupção. No 
entanto, houve uma mudança nas posições relativas, pois em 1964 o anticomunismo foi 
mais importante do que o tema da corrupção, ao contrário de hoje. Por que mais 
importante a corrupção nos discursos de direita atuais? Porque o governo Rousseff não 
fez nada efetivamente radical (exceto ser amigo de Cuba e dos bolivarianos) e não é 
convincente derrubá-lo com esse argumento. Não há mais o peso da Guerra Fria e não há 
mais o tema da subversão nos quartéis, que foi o ponto chave da mobilização dos militares 
em favor do golpe de 1964. Ademais, o volume da corrupção atual é maior do que em 
1964, basta comparar os escândalos envolvendo a Petrobrás naquela época e agora. 
No que toca às punições dos acusados de práticas corruptas, entre 1964 e hoje 
existe uma semelhança importante: houve e tem havido uma forte manipulação pelos 
líderes políticos e pela grande mídia {acabei de escrever um artigo sobre isso}. As ações 
anticorrupção têm um viés político, pois invariavelmente atingem apenas os corruptos 
adversários, e não os corruptos aliados. A grande mídia, portanto, tem um papel 
semelhante ao que teve em 1964 e por razões parecidas (é o caso do Estadão e de O 
Globo). Nesse ponto, uma diferença significativa a favor da democracia é que hoje as 
redes sociais diminuíram a influência da mídia tradicional e permitem circulação mais 
livre de informações, embora sejam um instrumento usado pela direita também. 
Temos uma polarização esquerda/direita parecida à de 1964, que provoca as 
pessoas a tomarem posição e a escolherem o seu lado. A distinção entre os dois campos 
políticos é basicamente a mesma, ou seja, as atitudes de apoio ou de oposição a políticas 
visando à igualdade. Mas há também nuanças e diferenças significativas, que são 
importantes para definir as pautas de ação atuais. Então, como hoje, a direita teme que 
mudanças sociais moderadas possam desembocar (ou “degenerar”) futuramente em 
medidas mais radicais. Em 1964 o tema forte eram as reformas de base (agrária e política 
em especial), enquanto hoje as questões agrárias não têm a mesma importância (até por 
mudanças na perspectiva da esquerda), e o tema do voto dos analfabetos já foi resolvido 
5 
 
pela Constituição de 1988. Hoje provocam mais celeuma os programas de distribuição de 
renda via bolsas e quotas, e os programas visando a igualdade de gênero, racial e respeito 
às minorias sexuais. 
Uma diferença fundamental e que trará importantes consequências: na direita atual 
é mais forte o liberalismo (bem entendido: a defesa do mercado e as críticas ao estatismo) 
do que foi em 1964. Naquela época o carro forte da direita era a religiosidade católica. 
Não é à toa que o maior evento de rua em 1964 foi uma Marcha com Deus com palanques 
organizados na Catedral da Sé de SP. Nos dias atuais, significativamente, o lugar dos 
eventos da direita é a avenida Paulista, coração do capitalismo brasileiro em que estão as 
sedes da Federação das Indústrias de SP (FIESP) e dos grandes bancos. Outra 
peculiaridade: a religião segue importante, não há dúvida, e a defesa da família tradicional 
continua na linha de frente contra o “comunismo”. Mas a vanguarda do conservadorismo 
religioso não é mais o catolicismo, e sim os pastores evangélicos e sua forte bancada 
parlamentar, como vimos na votação da Câmara em 17 de abril. 
Ainda sobre a direita, há que destacar seu crescimento marcante e rápido nos anos 
recentes. Isso é fruto dos acertos e erros das administrações petistas, que provocaram o 
inimigo, mas, também, deve-se a algumas ações concertadas nos últimos anos: o 
surgimento de blogueiros de direita e gurus anticomunistas da internet, a constituição de 
think tanks liberais e sua campanha na mídia, o ativismo de militares descontentes com 
as políticas de memória referidas à última ditadura, mesmo que o governo não desejasse 
ações judiciais contra os criminosos a serviço da ditadura (um desses críticos, aliás, está 
no poder com Temer, o general Etchegoyen). 
No campo da esquerda, a novidade em relação a 1964 é que as políticas igualitárias 
de hoje incluem temas raciais e sexuais. Eis aí questão fundamental para perceber as 
diferenças do quadro atual e o que mudou nas esquerdas, cujas novas bandeiras, aliás, 
têm sido importantes para provocar a direita. É verdade que algumas bandeiras raciais e 
sexuais poderiam ser aceitas pela direita liberal, pois seus verdadeiros inimigos são os 
direitistas conservadores. Mas, em vista da aliança entre liberais e conservadores, tais 
bandeiras estão firmemente plantadas no campo da esquerda e são importantes para a sua 
renovação. 
Outro tema importante relevante a comparar é a influência externa sobre a crise 
brasileira. Muitas análises sobre o papel dos EUA na situação atual têm sido publicadas 
nas redes sociais, em que se argumenta duas razões para apoio à destituição de Rousseff: 
o interesse de empresas estrangeiras em quebrar o monopólio da Petrobrás sobre o pré-
6 
 
sal; o interesse dos EUA em quebrar o bloco dos BRICs, que seria uma ameaça à sua 
hegemonia global. Alguns autores chegam a apontar nos EUA a verdadeira origem do 
movimento contra os governos petistas. Certamente que esse tema será mais conhecido 
adiante, quando houver mais dados para análise. Mesmo assim, creio que há exagero em 
alguns autores. 
De qualquer modo, na comparação com 1964 seguramente o peso do fator externo 
na crise atual é menor. Basta lembrar que o Embaixador dos EUA na época (Lincoln 
Gordon) foi figura proeminente na política brasileira e que foi preparada uma frota naval 
para operar no Brasil em caso de guerra civil. E que a grande mídia norte-americana 
recebeu com entusiasmo a queda de Goulart. Veja-se o contraste com o ceticismo (às 
vezes má vontade) da mídia internacional em relação ao impeachment de Rousseff. 
Alguns jornais influentes têm apontado o absurdo da nossa situação política, como o New 
York Times. Mesmo o Financial Times, que há anos vêm batendo forte no governo petista 
e com isso contribuiu indiretamente para a sua derrubada, agora criticou o impeachment. 
{curioso o contraste entre a atitude da mídia francesa em 1964 e hoje} 
É certo que grupos da direita norte-americana devem ter financiado congêneres 
locais. E também que a diplomacia brasileira está incluída na crise e que o governo Temer 
tentará promover uma nova linha, menos independente dos EUA e distante dos governos 
de esquerda da A. Latina. Mas, ainda assim, o impeachment (ou golpe parlamentar) foi 
um produto nacional. As origens principais da crise são internas. 
Passo agora ao segundo ponto da apresentação, o impacto de fatores estruturais e 
especialmente da cultura política brasileira. Importa levar em conta as tradições culturais 
não apenas para entender sua incidência na crise, mas, para perceber as dificuldades a 
serem vencidas pelos projetos voltados à transformação social e, com isso,pensar melhor 
as estratégias para o futuro. 
Que fique claro, não se trata de incidir em qualquer forma de estruturalismo. Os 
sujeitos não são peças inertes diante de estruturas sociais perenes. O campo da política 
supõe o protagonismo de agentes que fazem escolhas: há sempre margem para a opção 
entre diferentes caminhos de ação. O argumento é que as escolhas podem sofrer a 
influência da cultura política, que oferece aos agentes alguns padrões de ação já inscritos 
nas tradições, mais atraentes e viáveis por terem gerado sucesso em ocasiões anteriores. 
Assim, não há que supor oposição entre a influência de padrões culturais e o arbítrio dos 
agentes políticos. 
7 
 
 Por razões já apontadas a análise desse ponto será breve e sumária também. 
Sinteticamente, a cultura política envolve uma série de características que são parte das 
tradições brasileiras: o patrimonialismo, a cordialidade, o paternalismo, o personalismo, 
a flexibilidade, a ojeriza ao conflito e a busca de integração, e a conciliação/acomodação, 
entre outros. Esse conjunto de características produz uma tradicional desconfiança nas 
instituições políticas e o apego a líderes carismáticos, assim como uma frágil adesão 
popular aos partidos e um baixo grau de participação política dos cidadãos (embora no 
momento estejamos vivendo um pico de participação, espero que não seja efêmero como 
é costumeiro na nossa tradição). 
 Uma ressalva fundamental: abordar essas questões não implica voltar ao nosso 
velho complexo de inferioridade; não pretendo fazer uma lista das nossas mazelas e 
carências e lamentar a distância em relação às sociedades dos países centrais. Importante 
perceber que esse sistema político e essa cultura política tiveram realizações positivas 
também: a manutenção e expansão do território da antiga América portuguesa, a 
construção de uma nação mais coesa do que seria de esperar (em vista dos problemas 
raciais), a capacidade de encontrar saídas políticas negociadas para conflitos graves. 
 O último ponto implica o tema da conciliação/acomodação, característica central 
da cultura política brasileira que passo a discutir melhor, inclusive relacionando-a ao 
projeto petista ou lulista de poder. A estratégia da acomodação tem servido historicamente 
como fundamento para preservar a ordem, evitar rupturas sociais, manter a dominação. 
Mas também serviu para abrir caminho a projetos de mudanças lentas, situação em que 
podemos enquadrar os governos petistas, como logo comentarei. 
 A acomodação de conflitos é uma estratégia de dominação enraizada no período 
colonial português, mas que foi desenvolvida sobretudo a partir da independência, quando 
as elites locais decidiram assumir o comando. Uma independência, a propósito, sem 
ruptura aguda com Portugal, já que muitos laços com a antiga metrópole foram mantidos. 
Nesse sentido, a independência foi o primeiro grande episódio de acomodação, tendo 
como meta essencial manter o sistema de dominação social e evitar rupturas sociais. 
A exclusão política dos setores populares era e é um objetivo permanente dos 
grupos dominantes, que para esse efeito usaram não apenas a repressão, mas estratégias 
sutis de negociação e acordo, conciliação ou acomodação. As estratégias de controle 
social mesclam violência (Canudos) e integração subalterna dos grupos populares 
(política indígena paternalista e assimilacionista; elevada taxa de libertação de escravos e 
integração dos negros como cidadãos de segunda classe), mas sempre com a intenção de 
8 
 
manter tais grupos excluídos da cidadania efetiva. Uma questão chave, naturalmente, era 
garantir a dominação da enorme população escrava. Em grande medida, o medo do 
potencial rebelde dos escravos e o fantasma do haitianismo explicam as estratégias de 
acomodação política dos grupos dirigentes brasileiros no século XIX. E não apenas no 
processo de negociação da Independência (com os portugueses, a quem pagamos uma 
indenização) e na manutenção da unidade das ex-colônias portuguesas (uma façanha 
baseada em violência e acordo), mas em outras conciliações seguintes, como a criação da 
República sem participação popular de 1889. Nas décadas posteriores houve novos jogos 
de acomodação, inclusive durante a ditadura, como mostrei em livro recente, e ao final 
dela também, com uma saída pós-autoritária das mais suaves do mundo. 
A pergunta que vale ouro é saber como as estratégias de acomodação provenientes 
do Estado e das elites influenciaram o comportamento político dos setores populares ao 
longo do século XX. (Tais estratégias alimentaram o discurso de que o povo brasileiro 
seria ordeiro e pacífico, exatamente para convencê-lo disso.) Nesse sentido, chama a 
atenção a fragilidade política dos movimentos populares brasileiros quando fazemos 
comparações rápidas com países semelhantes da América Latina como Colômbia, 
México, Argentina, Bolívia. Certamente tivemos explosões de participação política em 
alguns momentos, mas fugazes, e seguidas de retiradas rápidas quando chegava a hora de 
embates mais agudos. A repressão fez o seu trabalho, é óbvio, mas ela explica tudo? O 
cientista político André Singer em recente estudo sobre o lulismo argumenta que há uma 
camada importante da população pobre que é avessa ao radicalismo, preferindo mudanças 
lentas aos riscos dos confrontos agudos. E que o governo de Lula teria compreendido 
esses sentimentos profundos e governou sintonizado com eles. Estou de acordo em linhas 
gerais com a proposta analítica de Singer, mas, proponho pensar o tema em duração mais 
longa, inscrevendo o que ele chama de lulismo nos traços essenciais da cultura política. 
 Pois bem, acredito que o PT e Lula se adaptaram à cultura política brasileira, 
depois de alguns anos tentando mudar as coisas por meio de embate frontal contra o 
sistema político. Perceberam a fraca disposição da maioria da população em apoiar 
soluções radicais e também as possibilidades de utilizar o personalismo em favor do 
projeto de esquerda. Decidiram, pois, integrar-se à cultura e às tradições políticas para ter 
chances de ganhar as eleições e para ter meios de governar depois da vitória eleitoral. 
Protagonizaram, assim, mais um episódio de acomodação. Foi um exercício de real 
politik, talvez temperado, ou justificado, com um pouco da ética bolchevique (é moral 
tudo o que for necessário para o sucesso do projeto). Como tem sido comum na história 
9 
 
brasileira começou um processo de mudanças ambíguo, uma espécie de modernização 
conservadora com viés de esquerda. Um arranjo que integrou setores conservadores ao 
governo de esquerda e manteve os piores aspectos do sistema político. Mas, como uma 
pré-condição para chegar ao poder e realizar as almejadas mudanças sociais. Uma 
acomodação com segmentos da classe dominante, porém, desta vez com o objetivo de 
gerar a inclusão social, ainda que lentamente. E, de fato, os governos petistas 
impulsionaram parte da agenda de mudanças sociais, apesar dos seus sócios 
conservadores. 
 Acredito que o lulismo/petismo fez um uso inteligente e bem-intencionado da 
acomodação. Usaram os meios disponíveis e tentaram apropriar-se de uma estratégia 
tradicionalmente conservadora, invertendo o seu sentido. Touché! Um golpe de mestre, 
ou assim parece. O personalismo (encarnado em Lula) e a acomodação com setores 
conservadores permitiu a eleição de dois presidentes de esquerda (dois mandatos cada) 
em um país em que o voto de esquerda não chega a 20% (especulo, mas com base em 
pesquisas de opinião e nos resultados eleitorais). Se considerarmos que a política é a arte 
do possível, ou se evocarmos a ética da responsabilidade de M. Weber, o projeto lulista é 
compreensível e até aceitável. E pormuito tempo pareceu funcionar perfeitamente, 
trazendo benefícios aos mais pobres e implantando políticas sociais, educacionais e 
culturais avançadas. 
É preciso reconhecer que sem os acordos feitos pelo PT tais benefícios não 
existiriam, pois ele não teria chegado ao poder, nem governado. E, também, que a 
estratégia de mudanças lentas é adequada em contexto de ausência de sólido apoio 
popular para projetos de mudança brusca. Por isso, não entendo porque alguns 
interlocutores recusam-se a aceitar que o PT adotou a estratégia de acomodação. 
Argumentam, de maneira pouco convincente, que os acordos se devem à formação 
sindicalista de Lula, muito afeita à negociação. Pensando melhor, entendo a resistência 
em admitir a estratégia de acomodação dos governos Lula e Dilma. É porque a conciliação 
sempre foi criticada e considerada ação típica das elites. Porém, a acomodação também 
pode servir à mudança social lenta, como observamos nos anos de governo petista. O 
problema maior, além da lentidão nas mudanças sociais, é que os compromissos implicam 
arranjos paradoxais, às vezes, contraditórios. Começa-se um processo de mudanças 
lentas, sem confrontos e com estabilidade política, mas a acomodação protege os 
interesses dos aliados conservadores. É mudança com conservação, ao mesmo tempo. O 
10 
 
pior aspecto desse arranjo, e origem da crise que engoliu o governo petista, foi a falta de 
uma estratégia do PT para mudar o sistema político. 
 Se pretendia manter-se fiel à ideia de mudanças, o projeto petista não poderia ter 
se acomodado inteiramente ao sistema político, à velha cultura política. Claro que não é 
fácil mudar tradições arraigadas. Mas para que serve um partido de esquerda? Haveria 
que tentar! Faltou uma estratégia para mudar o sistema político, que as lideranças petistas 
pensaram ser capazes de controlar para sempre, à base do fisiologismo e corrupção. Creio 
que há uma responsabilidade grave do PT nesse ponto: imaginando-se o único partido 
decente e representativo do povo, preferiu manter o apoio dos outros com base na 
corrupção, desistindo da possibilidade de melhorar o sistema partidário. Uma democracia 
pluralista precisa de partidos representativos, consistentes, e os governos petistas não 
contribuíram para melhorar o quadro. Além disso, ao privilegiar os laços baseados na 
corrupção, o governo montou uma base de apoio frágil e cavou sua sepultura, como está 
claro hoje. 
Outros erros foram cometidos também, por exemplo, em relação aos movimentos 
sociais, que se afastaram do PT e reduziram a densidade social do partido. Erros na 
condução política e econômica do governo Dilma, especialmente no segundo mandato, 
que foram um presente para a oposição. Difícil supor o sucesso do impeachment sem 
levar em conta tais erros. 
No entanto, o impeachment também foi fruto dos acertos dos governos petistas. 
Suas políticas sociais e culturais atiçaram uma reação de direita que vem sendo construída 
desde 2002. A política, como sabemos, é um jogo de disputas agudas, e as ações de um 
campo influenciam os cálculos e estratégias dos seus adversários. O PT está pagando 
também por seus acertos. E Dilma Rousseff está pagando por tentar reduzir a corrupção 
do Estado brasileiro, ao permitir que as investigações prosseguissem sem intervenção do 
poder executivo, que se tivesse outro chefe teria agido diferente. Por isso, o processo de 
impeachment tem ares de tragédia. 
 Resumidamente, o impeachment resultou da combinação explosiva entre crise 
econômica, ascensão da direita, a campanha anticorrupção da “lava-jato” e o declínio do 
projeto petista/lulista, que foi abandonado pelas elites econômicas que o haviam apoiado. 
Sem esquecer o auxílio inestimável da grande mídia em sua campanha de manipulação 
de informações. Ademais, o impeachment foi alimentado por uma mescla de ingenuidade 
e superficialidade política de uns e extremo oportunismo de outros. No primeiro grupo 
estão os cidadãos com opinião política superficial, que mudam de ideia ao sabor do vento, 
11 
 
o que explica as oscilações bruscas na popularidade dos governantes no período recente 
(poucas semanas depois de receber 54 milhões de votos Dilma viu sua popularidade virar 
fumaça). No segundo grupo perfilam os que aceitam um impeachment sem crime para 
livrar-se de governo incômodo e, especialmente, os que viram no afastamento de Dilma 
uma chance de salvar-se dos processos anticorrupção. 
O impeachment foi um golpe? A discussão visa encontrar o conceito mais 
adequado ou abraçar uma bandeira política? Acho correto dizer que foi um golpe 
parlamentar, que aparentemente respeitou a Constituição, mas, na verdade, a violou, já 
que afastaram uma presidente honesta (pelo menos nada se encontrou contra ela até agora) 
para entregar o poder a uma quadrilha. Dilma possivelmente tem responsabilidade em 
esquemas ilegais para financiamento de campanha, que são corriqueiros na política 
brasileira. Mas ela parece uma freira em comparação com os seus adversários. Está claro 
como cristal que o objetivo real a impulsionar o impeachment não foi o combate à 
corrupção. 
Independente da melhor conceituação para o processo de afastamento de 
Rousseff, o fato é que a direita está no poder de novo. A direita liberal (a que pertencem, 
p.e., a FIESP e a grande mídia) e a direita conservadora (p.e. os saudosistas da ditadura, 
os cristãos integristas), associadas ao cortejo de oportunistas que ontem estavam com o 
PT. 
Apesar das semelhanças em alguns aspectos, este não é um golpe militar como o 
de 1964. Naquela ocasião, os civis foram protagonistas centrais, mas quem mandava eram 
os militares, baseados no argumento da força armada. Essa distinção entre 2016 e 1964 
não é mera nuança, ela importa muito. Não estamos em uma ditadura e isso faz toda a 
diferença para a luta da oposição, que se utiliza da liberdade para atacar o governo e força-
lo a recuar, às vezes com sucesso como temos visto. Na mesma linha de raciocínio, não 
devemos pensar planos de ação como se estivéssemos em 1964 de novo. As condições 
para a luta são diferentes. No plano externo, por exemplo, em que o governo Temer tem 
sofrido muitas derrotas, mas também no interno, em que há muitas oportunidades de ação 
a explorar. 
Evidentemente, o primeiro objetivo deve ser inviabilizar o governo Temer e obter 
o retorno de Dilma, o que parece possível graças ao descrédito rápido desse medíocre 
governo interino. Para conseguir a derrota do impeachment há que ter estratégia sólida 
para os dias seguintes, já que muitos parlamentares votaram pelo impeachment por 
acreditar que Dilma não tinha mais condições de governar. Uma das opções para 
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convencê-los a derrotar o impeachment é a proposta de realizar plebiscito sobre eleições 
gerais em 2016. Mas pairam dúvidas e hesitações, pois há quem prefira deixar Temer no 
poder até 2018, esperando que seu desgaste facilite a recuperação do prestígio do PT e 
aumente as chances eleitorais da esquerda. No entanto, as coisas podem tomar outro rumo 
e o governo interino consolidar-se e ter candidato forte em 2018, quem pode garantir? 
Além do mais, para a democracia brasileira seria fundamental reverter esse impeachment 
espúrio, para evitar que no futuro manobras parecidas venham a acontecer. Por isso, estou 
entre os que preferem o retorno de Dilma com realização de plebiscito e novas eleições 
em 2016, como tentativa de saída da crise política. 
Olhando a crise por outro prisma, é importante perceber que ela abre 
oportunidades interessantes também. Pode ser um momento criativo, um período de 
renovação e de questionamento. Em primeiro lugar de renovação política, mas quem sabe 
com efeitos positivos na produção cultural também(na música precisamos muito...). 
Quem sabe essa crise vai ser um marco, uma quebra de paradigmas no que toca aos 
comportamentos e valores políticos? E talvez tenha força para gerar uma nova cultura 
política? Estamos presenciando a formação de uma cidadania mais envolvida com as lutas 
políticas, mais visceral, mais conflitiva? Menos tolerante com estratégias de 
acomodação? Será possível aproveitar o momento para criar instituições políticas mais 
representativas e um sistema partidário melhor? 
No que tange à renovação política, seja qual for o futuro do governo Dilma é 
preciso reorganizar a esquerda. Há que fazer uma crítica séria dos erros recentes para 
superá-los. O PT, principalmente, precisa mudar se quiser manter seu lugar de 
proeminência na esquerda e recuperar a credibilidade perdida. Não pretendo uma crítica 
arrasadora, pois precisamos do PT e não se criam partidos da noite para o dia. O melhor 
caminho é tentar renovar o partido, que tem sido importante na luta por mudanças sociais 
e pela afirmação dos direitos humanos. Para tanto, a liderança petista tem que ser corajosa 
e aceitar mudanças, não basta reafirmar antigas verdades e velhos mitos (“o único partido 
criado por trabalhadores...”). Há que descer do pedestal, assumir os erros e dialogar em 
termos igualitários com as demais forças de esquerda e democráticas, para que uma 
aliança mais ampla sob a liderança do PT seja viável. Certamente que a figura de Lula é 
um trunfo importante e credencia naturalmente o PT para liderar o campo da esquerda. 
Mas, não podemos fingir que a crise foi artificialmente inventada pela mídia golpista. 
Uma pauta de esquerda passa, inexoravelmente, pela luta contra as desigualdades 
sociais e a concentração de renda. E também pelo combate às desigualdades raciais e 
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sexuais (e de gênero). Aliás, um dos efeitos mais interessantes do impeachment e do 
crescimento do discurso conservador foi aguçar a sensibilidade em relação ao racismo e 
às questões de gênero, provocando à ação grande contingente de pessoas. Os governos 
petistas apoiaram políticas relevantes nessas áreas, mas, é necessário repensá-las em vista 
do novo quadro e das futuras disputas eleitorais, em que certamente terão grande 
repercussão. 
O desafio é construir um projeto político de esquerda que fortaleça as instituições 
democráticas e os mecanismos de participação da sociedade, com base no respeito ao 
pluralismo, mas agudo o suficiente para combater as desigualdades sociais (incluída a 
temática racial e de gênero) brasileiras. Porém, um projeto político não revolucionário 
(ou seja, não disruptivo), até porque não teria suficiente apoio nas camadas sociais 
inferiores, por razões já apontadas, ou seja, os efeitos da cultura política (para o que o 
comportamento da população pobre diante da crise do impeachment serve de 
confirmação). 
As dificuldades para um projeto radical no Brasil e o fato da esquerda ser 
minoritária trazem à tona a questão das alianças. A crítica ao fisiologismo e à corrupção 
não deveriam gerar um retorno ao purismo e radicalismo das origens do PT, o que seria 
um beco sem saída. No jogo político as alianças são indispensáveis, tanto mais no quadro 
de fragmentação partidária do Brasil, em que nenhum partido consegue governar sozinho. 
Mas as alianças têm que ser programáticas e não fisiológicas. Deveríamos acabar com a 
tradição de conciliações e acomodações espúrias, mas para tentar construir alianças 
baseadas em projetos sólidos. 
Olhando mais além da esquerda, precisamos muito de uma reforma política. Para 
ter partidos mais representativos, melhorar a qualidade da liderança parlamentar e reduzir 
a influência das grandes empresas. No momento surgem informações positivas: está 
faltando dinheiro para as campanhas eleitorais de outubro de 2016, como fruto da 
proibição do STF e pelos efeitos da lava jato. Maravilha! Quem sabe teremos eleições 
com menor peso das grandes corporações e um novo começo. Entretanto, são necessárias 
outras mudanças na legislação, para fortalecer o sistema representativo. 
Como a simples reforma das leis não é suficiente para mudar os comportamentos, 
necessário pensar outras estratégias de ação. Um ponto importante é investir no 
fortalecimento dos movimentos sociais e intensificar o debate público. Fundamental é 
estimular a participação dos jovens na política, pois a renovação e melhoria na 
qualidade das lideranças políticas é problema urgente. No caso dos movimentos sociais 
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vale a pena apostar em inovações organizativas, assim como em formas de participação 
que transcendam os partidos tradicionais. Entretanto, não vejo possibilidade de projeto de 
esquerda viável sem a ocupação do parlamento e do poder executivo, para o que os 
partidos continuam indispensáveis. 
Enfim, são alguns esboços para um horizonte de expectativa que pode parecer 
modesto, mas, na verdade, é muito ambicioso tendo em vista a história brasileira.

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