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ESTADO QUESTÃO E POLITICAS PUBLICAS

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Estado, Questão Social 
e Políticas Públicas
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1.
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2/201
Estado, Questão Social e Políticas Públicas
Autor: Carla Regina Mota Alonso Diéguez
Como citar este documento: DIÉGUEZ, Carla Regina Mota Alonso. Estado, Questão Social e Políticas 
Públicas. Valinhos: 2016.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Institucionalização do Estado e Configuração da Sociedade Capitalista 06
Assista a suas aulas 22
Unidade 2: Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado 32
Assista a suas aulas 48
Unidade 3: Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado 58
Assista a suas aulas 75
Unidade 4: Conceito de Democracia Participativa 84
Assista a suas aulas 98
Unidade 5: O processo de redemocratização no Brasil e o marco legal da democracia brasileira 107
Assista a suas aulas 122
2/201
3/201
Estado, Questão Social e Políticas Públicas
Autor: Carla Regina Mota Alonso Diéguez
Como citar este documento: DIÉGUEZ, Carla Regina Mota Alonso. Estado, Questão Social e Políticas 
Públicas. Valinhos: 2016.
3/201
Unidade 6: Conceito de questão social, suas expressões no Brasil e os segmentos populacionais 
afetados
131
Assista a suas aulas 145
Unidade 7: Vulnerabilidade Social e Risco Pessoal e Social: Situações e Enfrentamento da Questão 
Social
154
Assista a suas aulas 169
Unidade 8: Construção Histórica da Seguridade Social e da Política de Assistência Social no Brasil 179
Assista a suas aulas 192
4/201
Apresentação da Disciplina
A disciplina Estado, Questão Social e 
Políticas Públicas faz parte do eixo teórico 
do curso Gestão Social: Políticas Públicas, 
Redes e Defesa de Direitos. Para poder 
discutir Políticas Públicas é necessário 
conhecer o que é o Estado e seus 
desdobramentos. Assim, nessa disciplina 
você vai aprender sobre o que é o Estado, 
sua função e como ele se relaciona com a 
sociedade capitalista. 
A sociedade capitalista é a forma atual da 
sociedade brasileira. Mesmo sendo um país de 
capitalismo tardio, ou seja, aqui o capitalismo 
se desenvolveu depois em relação a outras 
partes do mundo, principalmente Europa e 
Estados Unidos, nossa sociedade atual está 
completamente inserida na dinâmica do 
modo de produção capitalista. 
É importante então observar como o 
Estado se relaciona com a sociedade 
capitalista no Brasil, nos moldes em que 
tanto o Estado como a sociedade foram 
constituídos ao longo do tempo. Dessa 
forma, a disciplina terá um olhar especial 
para o Brasil, procurando discutir o Estado 
brasileiro, a forma de governo escolhida e 
como se desenvolve a relação entre Estado 
e Sociedade Civil em nosso país. 
É fato que no Brasil a desigualdade social 
é um fenômeno estrutural, apresentando 
para o Estado outras questões, como a 
resolução de problemas sociais crônicos 
como a pobreza, o analfabetismo e a 
desnutrição. Assim, a disciplina também 
debaterá a questão social no Brasil, 
como ela se expressa e as formas para 
5/201
seu enfrentamento, estando entre elas a 
Seguridade Social.
A proposta dessa disciplina é colocar você 
em contato com importantes conceitos, 
como Estado, Democracia e Sociedade 
Civil, assim como discutir criticamente a 
relação entre Estado e Sociedade Civil e 
sua implicação para o desenvolvimento 
de Políticas Públicas. Espera-se, ao 
final dessa disciplina, que você obtenha 
o conhecimento sobre essa relação e 
possa pensá-la criticamente quando for 
desenvolver projetos ou políticas nos quais 
esses entes estejam envolvidos.
6/201
Unidade 1
Institucionalização do Estado e Configuração da Sociedade Capitalista
Objetivos
Objetivo geral: compreender a institucionalização 
do Estado e a sua relação com a configuração da 
sociedade capitalista. 
Objetivos específicos: 
•Discorrer sobre a instituição do Estado a partir do 
jusnaturalismo.
•Apresentar o conceito de Estado Moderno, sua 
crise e a passagem para o Estado Contemporâneo a 
partir da configuração da sociedade capitalista.
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana7/201
Introdução
Falar em Estado é sempre complicado. 
Não porque o conceito seja indefinido, 
mas porque o conceito de Estado parece 
um tanto abstrato. Todos nós entendemos 
que fazemos parte de um Estado, sabemos 
que vivemos em um território que possui 
limites e que devemos cumprir certos 
deveres que o Estado nos impõe para 
termos acesso a direitos que ele dispõe. 
Contudo, quem (ou o que) é o Estado? 
Como ele surgiu? Em que momento da 
história constituiu-se o Estado? Quem o 
governa? E por que é preciso que sejamos 
governados? 
Essa aula procurará responder a essas 
questões, apresentando como o Estado 
moderno se instituiu e se desenvolve e 
como a constituição e o desenvolvimento 
da sociedade capitalista afetam a 
configuração do Estado, compelindo-o a 
uma nova forma, conhecida como Estado 
contemporâneo. 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana8/201
1. O Estado segundo os 
jusnaturalistas 
Falar em constituição do Estado nos remete 
diretamente à Idade Moderna, período 
histórico ocorrido após o feudalismo, 
iniciado no final do século XV e concluído 
ao final do século XVIII, com a Revolução 
Francesa. Dizem que a formação do Estado 
moderno aconteceu na Europa a partir do 
século XIII (SCHIERA, 1998). 
Essa delimitação histórica refere-se ao 
distanciamento do Estado da ordem 
espiritual e sua aproximação à ordem 
material. Na chamada idade pré-moderna, 
entre os séculos XIII e XV, já com o fim do 
feudalismo e o nascimento da burguesia 
comercial, cada vez mais presente nas 
cidades que paulatinamente iam se 
formando, havia a necessidade de se 
repensar a forma de distribuição e vigência 
do poder.
No período do feudalismo, o poder era 
exercido pelos senhores feudais, sendo 
essa dominação garantida também pelo 
poder espiritual, presente na figura do 
clero, a principal forma de influência. O 
príncipe tinha sua dominação instituída 
e legitimada pelo clero, sendo essa 
partilhada com os senhores feudais, 
que então eram responsáveis por suas 
comunidades feudais. Assim, o poder tinha 
por base a tradição, corporificada no poder 
de Deus atribuído ao príncipe e deste aos 
senhores feudais.
O fim do feudalismo e o crescimento 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana9/201
das atividades comerciais e das cidades 
colocam em questão as formas de 
exercício do poder. O príncipe já não 
encontra mais abrigo nos senhores feudais 
e ambos vão perdendo a força do clero, 
ao mesmo tempo em que outros grupos 
sociais ganham força, em decorrência 
do desenvolvimento econômico 
proporcionado pelo comércio. Dessa 
forma, faziam-se necessárias novas bases 
para o poder, para o governo e a definição 
de quem seria o governante.
Foi nesse período que surgiram algumas 
teorias que buscaram discutir a formação 
do Estado moderno, bases sobre as quais 
devia se assentar o Estado e se definir 
qual era a relação entre o Estado e a 
nascente sociedade moderna. Destacam-
se dois pensadores em especial, os quais 
influenciam a concepção de Estado e de 
Sociedade Civil até hoje: Thomas Hobbes e 
John Locke. 
Conhecidos como jusnaturalistas, Hobbes 
e Locke entendem o Estado como um 
contrato estabelecido entre os homens 
para lhes garantir seus direitos naturais. 
“O direito de natureza, a que os autores 
geralmente chamam jus naturale, é 
a liberdade que cada homem possui 
de usar seu próprio poder, da maneira 
que quiser, para a preservação de sua 
própria natureza, ou seja, de sua vida 
[...]” (HOBBES, 1988, p. 78). Apesar de 
ambos partilharem dessa ideia de direito 
de natureza, cada um dos autores terá 
entendimento diferente quanto ao que 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana10/201
consideram direito de natureza.Para Hobbes, o direito de natureza é 
assentado na honra. A busca do homem 
hobbesiano é por glórias e não por bens. 
Em Hobbes, o homem é mau por natureza. 
Não há bondade no homem quando ele 
vive em estado de natureza. Mas isso 
não quer dizer que ele seja um selvagem, 
apenas que ele está sempre pronto para 
defender os seus direitos naturais, a honra 
e a vida, e assim, está sempre em estado 
de guerra. “O estado de natureza é uma 
condição de guerra, porque cada um se 
imagina (com razão ou sem) poderoso, 
perseguido, traído” (RIBEIRO, 2006, p. 59).
Isso pouco garante sociabilidade ao 
homem. Assim, Hobbes preocupa-se em 
descobrir como acabar com esse estado 
constante de guerra, proporcionando 
formas de garantir os direitos naturais 
do homem ao mesmo tempo em que 
eles possam conviver conjuntamente em 
sociedade. 
Para Hobbes, é preciso um fundamento 
jurídico, o que ele chamou de lei de 
natureza - como a equidade, a justiça, a 
modéstia e a piedade - mas também um 
Estado “dotado da espada, armado, para 
forçar os homens ao respeito” (RIBEIRO, 
2006, p. 61). O Estado deve então ter o 
poder soberano, deve estar acima de tudo 
e todos, garantindo o direito da guerra 
para que possa defender os homens que 
estão sob ele, os súditos do Estado, e por 
eles ser respeitado. 
Contudo, o nascimento desse Estado 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana11/201
só é possível pela renúncia dos súditos aos seus poderes de guerra, de entrarem em conflito 
e decidir eles próprios os seus destinos. Estabelece-se o contrato de todos os homens em 
favor da soberania, transferindo os poderes dos indivíduos de se governarem a si próprios ao 
soberano. O Estado para Hobbes é então definido como:
Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns 
com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a 
força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar 
a paz e a defesa comum. (HOBBES, 1988, p. 106)
Assim, é possível dizer que em Hobbes junto com o Estado nasce a Sociedade, pois ela é o 
fundamento da soberania, que por sua vez é fundamentada no poder de defender a vida e a 
honra dessa sociedade.
Já para John Locke, os direitos naturais são a liberdade, a vida e os bens. Mais afeito às 
mudanças que a sociedade capitalista vai paulatinamente produzindo, Locke é considerado 
um individualista liberal, que procurará, em sua teoria do Estado, resguardar os direitos da 
propriedade privada. 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana12/201
Diferente de Hobbes, para quem o estado 
de natureza conduz a guerra, para Locke 
o estado de natureza é de “paz, concórdia 
e harmonia”. (MELLO, 2006, p. 85). Assim, 
a constituição do Estado não tem por 
objetivo acabar com o estado de guerra, 
mas regulamentar as formas de usufruto 
dos bens e das propriedades derivados da 
vida.
As propriedades e os bens são derivados 
da vida, pois, para Locke, são originados 
do trabalho. O trabalho é propriedade do 
homem, que ao transformar a natureza, 
produz coisas para sua sobrevivência, 
mas também produz excedentes, que são 
trocados. Esses excedentes são do homem 
que produz, que com a sua propriedade e 
trabalho imprime conhecimento e técnicas 
para obter aquela produção. Contudo, o 
excedente da produção, se essa for feita em 
terras de outrem, pode também pertencer 
àquele que cedeu as terras. 
Para que não haja conflitos quanto a quem 
pertencem os excedentes, é preciso que 
haja um contrato entre os homens, no qual 
eles ”concordam livremente em formar a 
sociedade civil para preservar e consolidar 
ainda mais os direitos que possuíam 
originalmente no estado de natureza” 
(MELLO, 2006, p. 86).
Forma-se então o que Locke chama de 
Estado Civil, no qual o contrato originário, 
estabelecido pelo consentimento do 
conjunto dos homens, dá lugar ao 
princípio da maioria, e é estipulada uma 
forma de governo. As formas de governo 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana13/201
podem ser a monarquia (governo de um), 
a oligarquia (governo de poucos) ou a 
democracia (governo de muitos). Por fim, 
são estabelecidos os poderes: o poder 
legislativo, considerado por Locke o poder 
supremo; o poder executivo, exercido pelo 
Link
Para entender melhor a relação entre separação 
de poderes e a garantia dos direitos, veja a 
tese de Conrado Hübner Mendes, intitulada 
Direitos Fundamentais, Separação de Poderes e 
Deliberação. Disponível em: <http://pct.capes.
gov.br/teses/2008/33002010030P6/TES.
pdf>. 
príncipe; e o poder federativo, que pode 
também ser exercido pelo príncipe e tem 
por objetivo cuidar das relações exteriores 
do Estado. Todos esses fatores devem estar 
a favor da proteção da propriedade.
Ao assentar a formação do Estado na 
garantia dos direitos naturais, sejam eles 
a honra e a vida ou a propriedade, os 
jusnaturalistas afastam o Estado do poder 
espiritual e concentram a dominação 
na mão de um (soberano) ou de poucos 
(assembleia de homens), conduzindo 
assim os súditos para a razão, assentando 
poderes, direitos e deveres no âmbito 
da relação Estado-Sociedade, sem a 
interferência divina. A formação do Estado 
moderno em uma sociedade capitalista 
nascente auxilia no desenvolvimento de 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana14/201
um cenário favorável ao avanço desse novo 
modo de produção.
Para saber mais
Thomas Hobbes e John Locke, ao descreverem a 
formação do Estado moderno e a submissão ou 
consentimento dos súditos ao poder do príncipe 
ou da assembleia, estão falando de autoridade, 
emprego legítimo do poder e legitimidade, por 
se tratar de submissão consentida à autoridade 
de alguém. Esses conceitos podem também ser 
entendidos como dominação. Para saber mais 
sobre dominação, autoridade e legitimidade, leia 
Os Três Tipos Puros de Dominação Legítima, de 
Max Weber. 
Assim, o Estado Moderno pode ser 
entendido como um ente que centraliza 
o poder a partir da “[...] afirmação do 
princípio da territorialidade da obrigação 
política e sobre a progressiva aquisição 
de impessoalidade do comando político” 
(SCHIERA, 1998, p. 426).
Esse desenvolvimento resultará em uma 
crise do Estado Moderno, corporificada 
na Revolução Francesa, surgindo a 
necessidade de repensar a forma do 
Estado. Adiante você verá quais foram as 
formas assumidas pelo Estado para superar 
essa crise e a importância da sociedade 
capitalista na conformação dessa nova 
forma de Estado. 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana15/201
2. O desenvolvimento da socie-
dade capitalista e a crise do Es-
tado Moderno
A crise do Estado Moderno é desencadeada 
pela Revolução Francesa, cujo marco 
é a tomada da Bastilha em 14 de julho 
de 1789. A Revolução Francesa tem por 
principal fundamento a tomada do Estado 
para a inclusão da nova estrutura social 
que estava em desenvolvimento, qual 
seja, a estrutura de classes da sociedade 
capitalista. Dessa forma, o Estado deveria 
estar nas mãos de camadas sociais 
condizentes a essa nova estrutura e suas 
ações precisavam estar em sintonia com 
esse novo espírito. 
Esse espírito burguês reclamava um poder 
no qual a autoridade fosse burguesa 
e não mais originada em uma classe 
que pouco (ou nada) contribuía para o 
desenvolvimento das condições materiais 
de existência. Considerava-se que 
garantidos os direitos fundamentais – a 
liberdade à vida, à propriedade e ao voto 
– fazia-se necessário um Estado que não 
apenas assegurasse esses direitos, mas 
que auxiliasse no desenvolvimento das 
condições materiais que fizessem essa 
propriedade prosperar. 
Entre o final do século XVIII e final do século 
XIX foi vigente o que conhecemos por 
Estado de Direito. Ele ainda é parte daquele 
Estado Civil visto em Locke,mas o poder 
já está nas mãos das classes sociais. A 
sociedade vigente não é mais a sociedade 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana16/201
em camadas, mas a sociedade de classes, 
originada do modo de produção capitalista 
e, portanto, relacionada à divisão da 
propriedade privada garantida pelo Estado 
Civil. 
A forma que o Estado assume nesse 
período de transição para o Estado 
Contemporâneo procurou desenvolver 
maneiras de estruturar ainda mais o modo 
de produção capitalista. A estrutura do 
Estado de Direito pode ser definida como:
1) Estrutura formal do 
sistema jurídico, garantia 
das liberdades fundamentais 
com aplicação da lei geral – 
abstrata por parte de juízes 
independentes.
2) Estrutura material do 
sistema jurídico: liberdade 
de concorrência no mercado, 
reconhecida no comércio 
aos sujeitos da propriedade.
3) Estrutura social do 
sistema jurídico: a questão 
social e as políticas 
reformistas de integração da 
classe trabalhadora.
4) Estrutura política do 
sistema jurídico: separação 
e distribuição do poder. 
(NEUMANN, 1973 apud 
GOZZI, 1998, p. 401)
Assim, o Estado de Direito se configura 
conforme as demandas da sociedade 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana17/201
capitalista, garantindo os direitos 
fundamentais estabelecidos no Estado 
Civil e a liberdade de comércio, ao mesmo 
tempo em que estabelece padrões mínimos 
para a integração da classe trabalhadora na 
sociedade capitalista.
Dessa forma, o Estado de Direito, ao 
garantir os padrões mínimos para o 
desenvolvimento do modo de produção 
capitalista, contribuindo para garantir a livre 
concorrência e a livre troca, estabelece as 
bases para a constituição do Estado Social, 
o qual virá a conformar uma relação mais 
próxima entre Estado, economia e sociedade.
O Estado Contemporâneo é o esforço de 
coexistência entre o Estado de Direito e o 
conteúdo do Estado Social. O Estado Social 
prevê, além da garantia das liberdades, a 
intervenção no processo de valorização 
capitalista e a constituição de uma 
seguridade social, na qual o Estado, assim 
como o mercado, serão os responsáveis 
por seu financiamento e administração. 
Dessa forma, o Estado Contemporâneo se 
Para saber mais
O pauperismo e a exclusão social tornaram-se 
questões sociais ainda no século XVIII, a partir 
da Revolução Industrial. O crescimento do 
pauperismo era um entrave ao desenvolvimento 
do capitalismo e, por isso, no final do século XIX 
surgiram formas para resolver esse problema, as 
quais ficaram conhecidas como Seguridade Social. 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana18/201
conforma nas bases que conheceremos mais 
fortemente a partir da década de 1930, com a 
constituição dos Estados de Bem-Estar Social.
Esse é um elemento fundamental para 
estruturar as bases do capitalismo. A decisão 
sobre as formas de produção e comércio e de 
Para saber mais
A Poor Law, lei inglesa de combate à pobreza, 
foi instituída em 1601 e organizou um sistema 
de ajuda, formado por corporações de ofício e, 
posteriormente, por associações de auxílio mútuo. 
No início do século XIX esse sistema passou a 
ser responsabilidade do Estado, por meio da 
previdência social. 
exploração da força de trabalho fica a cargo 
do Estado, que estabelece padrões mínimos 
para a sobrevivência da classe trabalhadora e 
concede liberdade de propriedade e comércio 
à burguesia. Dessa forma, o Estado garante 
à burguesia a dominação em todas as suas 
formas - política, econômica e social –, 
desenvolvendo uma sociedade desigual.
Contudo, como você viu anteriormente, 
a partir da década de 1940 outra forma 
de Estado surgirá, buscando diminuir as 
diferenças de classe. Essa forma de Estado, 
assim como a sua conceituação como pacto, 
dominação e instrumento, você verá na 
próxima aula. 
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana19/201
Link
Para entender melhor as diferenças entre Estado 
Social e Estado de Bem-Estar Social leia o artigo 
de Boaventura de Souza Santos, intitulado 
Estado Social, Estado Providência e de Bem-
Estar. Disponível em: <http://cartamaior.
com.br/?/Editoria/Internacional/Estado-
social-estado-providencia-e-de-bem-
estar/6/26294>. 
Questão
reflexão
?
para
20/194
Faça um quadro estabelecendo as diferenças entre 
os direitos sociais existentes no Estado Civil (Estado 
Moderno), no Estado de Direito e no Estado Social 
(Estado Contemporâneo), buscando compreender 
como o Estado fomenta o desenvolvimento do 
capitalismo. 
21/201
Considerações Finais (1/2)
• O Estado é originado em um contrato entre os indivíduos que dele fazem 
parte. 
• O objetivo da formação do Estado Moderno é a garantia dos direitos 
fundamentais, que para Hobbes são a honra e a vida, e para Locke são a vida, 
a propriedade e os bens. 
• O Estado Moderno, conforme a orientação de Locke, deu origem a uma sociedade 
burguesa, assegurando as bases para o desenvolvimento do capitalismo: liberdade 
de propriedade, liberdade de comércio e liberdade de contratação. 
• A crise do Estado Moderno, no final do século XVIII, decorre da necessidade 
de um governo administrado pela nova estrutura social, qual seja, a estrutura 
de classes da sociedade capitalista.
• O Estado de Direito, transição entre o Estado Moderno e o Estado 
Contemporâneo, estabelece os fundamentos para o desenvolvimento da 
22/201
sociedade capitalista, garantindo os direitos da burguesia, assim como 
estabelecendo formas para reduzir o conflito capital-trabalho. 
• O Estado Social é a coexistência entre o Estado de Direito e o papel 
interventor do Estado na economia e na sociedade, com a constituição da 
Seguridade Social e a garantia de direitos sociais mínimos.
Unidade 1 • Fundamentos da Comunicação Humana23/201
Referências
GOZZI, Gustavo. Estado Contemporâneo. In: BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, 
Gianfranco. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 
401-409.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultura, 1998. (Coleção Os Pensadores).
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C. 
(Org.). Os Clássicos da Política. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2006. v. 1. 
RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os 
Clássicos da Política. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2006. v. 1. 
SCHIERA, Pierangelo. Estado Moderno. In: BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, 
Gianfranco. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 
425-431.
24/201
Aula 1 - Tema: Institucionalização do Estado e 
Configuração da Sociedade Capitalista – Parte I 
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
1d/69a4d1e72ae6bc8b517cf7183f9c9225>.
Aula 1 - Tema: Institucionalização do Estado e 
Configuração da Sociedade Capitalista – Parte II.
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
d8b3c97c99e50b7a0b6bcd05abb758c0>. 
Assista a suas aulas
25/201
1. Para Hobbes, o estado de natureza pode também ser entendido como:
a) Estado de Polícia.
b) Estado de Paz.
c) Estado de Guerra.
d) Estado Social.
e) Estado Civil.
Questão 1
26/201
2. Na teoria jusnaturalista de Hobbes são direitos fundamentais: 
a) Vida e propriedade.
b) Propriedade e bens.
c) Vida e honra.
d) Propriedade e honra.
e) Vida e bens.
Questão 2
27/201
3. Para Locke, as formas de governo podem ser: 
a) Apenas a monarquia.
b) Monarquia e Democracia.
c) Democracia e Oligarquia.
d) Monarquia, Oligarquia e Democracia.
e) Apenas a Democracia.
Questão 328/201
4. O Estado Moderno entra em crise em decorrência:
a) Do desenvolvimento do capitalismo.
b) Do retorno às estruturas agrárias.
c) Do fortalecimento do poder do príncipe.
d) Do crescimento do poder do clero.
e) Da crise do feudalismo. 
Questão 4
29/201
5. O Estado Social difere do Estado de Direito por:
a) Estabelecer a livre concorrência no mercado.
b) Garantir os direitos sociais.
c) Permitir a liberdade política.
d) Assegurar a liberdade de produção.
e) Instituir a sociedade capitalista. 
Questão 5
30/201
Gabarito
1. Resposta: C.
Para Thomas Hobbes os homens não são 
sociáveis e, por isso, a vida no estado de 
natureza, sem um Estado Civil, é a vida em 
um estado de guerra, no qual cada pessoa 
luta para manter a sua própria existência. 
2. Resposta: C.
Os direitos fundamentais para Hobbes são 
a vida e a honra, as únicas propriedades 
do homem e pelas quais os homens lutam, 
para salvaguardá-las. 
3. Resposta: D.
John Locke não define a forma de governo. 
Ele deixa livre para os indivíduos decidirem 
qual a forma de governo mais adequada 
aos seus anseios: Monarquia, Oligarquia 
ou Democracia.
4. Resposta: A.
O Estado Moderno entra em crise conforme 
o capitalismo se desenvolve, pressionando 
por mudanças nas estruturas políticas, 
condizentes com as transformações na 
estrutura social. 
31/201
5. Resposta: B.
Apesar de garantir alguns direitos 
sociais, apenas o Estado Social garante 
a ampliação desses direitos, de forma 
dissociada do processo de valorização 
do capital. Ou seja, os direitos sociais 
garantidos pelo Estado Social não são 
resumidos àqueles garantidos para 
minimizar o conflito capital-trabalho.
Gabarito
32/201
Unidade 2
Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado
Objetivos
Objetivo geral: compreender o Estado como pacto, 
dominação, instrumento e ampliado. 
Objetivos específicos:
• Discorrer sobre o conceito de Estado como 
pacto e dominação.
• Debater o conceito de Estado como 
instrumento e ampliado.
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado33/201
Introdução
Na aula anterior você viu a definição de 
Estado Moderno, entendido a partir de sua 
conformação como Estado Civil, a sua crise 
e o surgimento do Estado Contemporâneo. 
O Estado Moderno, como apresentado na 
aula anterior, surge de um pacto entre os 
homens, que, delegando a outro ou outros 
o seu poder, definem em contrato os limites 
da ação de quem delega o poder e de quem 
agora o exerce . 
Essa delegação do poder dos homens ao 
Estado pode torná-lo um ente poderoso. 
A dominação exercida pelo Estado pode 
ser originada na tradição, no carisma ou 
na burocracia, que garantem legitimidade 
ao poder exercido. Contudo, há também 
formas de dominação que podem ser 
legítimas, mas que têm por objetivo 
subjugar parcelas da sociedade. 
Por fim, o Estado pode também ser um 
instrumento de transformação social e ter 
sua base ampliada, com a participação de 
parcelas maiores da sociedade, garantindo 
assim uma sociedade mais justa e 
igualitária. 
Nessa aula você verá essas formas do 
Estado e como elas coexistem, ainda 
mais quando pensamos em um Estado 
capitalista, o qual deve atender aos anseios 
da classe dominante, mas não pode perder 
de vista as demais classes, de forma a 
manter o pacto social.
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado34/201
1. Estado como Pacto e Domi-
nação
Na aula passada você viu a formação 
do Estado Moderno pelas premissas de 
Thomas Hobbes e John Locke. Conhecidos 
como jusnaturalistas, por defenderem 
os direitos naturais, esses pensadores e 
suas teorias também são chamados de 
contratualistas. Junto com Jean Jacques 
Rousseau, Hobbes e Locke entenderam que 
para a preservação dos direitos naturais 
(posteriormente denominados direitos 
fundamentais) era preciso estabelecer 
um pacto entre os homens, no qual estes 
renunciassem ao seu poder em favor da 
garantia dos direitos por um poder maior, 
qual seja, o poder político, exercido pelo 
Estado. 
Rousseau, tal como Locke, acreditava que 
os homens eram bons, mas que a vida em 
sociedade os corrompia. Contudo, para 
Rousseau o poder não emana de um ente 
específico, mas de todos, da unidade de 
todos, sendo o povo soberano. Assim, 
o pacto é estabelecido pelos homens 
de forma que a vontade de todos possa 
prevalecer. O povo é soberano e delega a 
um homem a sua representação, sendo ele 
responsável por garantir a vontade geral e 
a soberania do povo. 
O Estado então surge a partir do pacto – 
em Hobbes, um pacto de submissão, em 
Locke, um pacto de consentimento, em 
Rousseau, um pacto de renúncia – como 
forma de garantir, em Hobbes, a proteção 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado35/201
à vida, em Locke, a proteção à propriedade, 
e em Rousseau, a proteção à vontade do 
povo. 
Esse pacto concede àquele que detém 
o poder a autoridade para governar e 
decidir sobre aqueles que estão sob seu 
poder. Porém, autoridade e poder não são 
a mesma coisa. O poder é concedido, mas 
só tem autoridade para exercê-lo quem 
é considerado legítimo pelos homens 
para fazê-lo. É preciso então entender 
autoridade como legitimidade do exercício 
do poder, e compreender que a autoridade 
legítima pode desencadear um processo de 
dominação.
Ao conceder o poder a outro, mesmo 
em Rousseau, no qual o poder deve ser 
exercido para a garantia da vontade de 
todos, aquele que o detém exerce alguma 
forma de dominação. Dominação, nas 
palavras de Max Weber (2003, p. 128), pode 
ser considerada “[...] a probabilidade de 
encontrar obediência a um determinado 
mandato [...]”, ou seja, aquele a quem se 
delega o poder encontra nos representados 
a obediência necessária ao exercício desse 
poder.
A dominação é assim parte do exercício do 
poder no Estado e tem seu fundamento, 
segundo Max Weber, na tradição, no 
carisma ou no estatuto. A dominação 
tradicional é atribuída ao líder a partir 
da tradição. A autoridade do líder é 
legitimada pela posição que ele possui 
em um determinado grupo cuja tradição 
é o elemento principal de regulação das 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado36/201
atividades. Os reinados na época do 
feudalismo assentavam-se na dominação 
tradicional, com o poder espiritual 
ratificando a autoridade do rei, e assim, a 
legitimidade de seu poder.
A dominação carismática é proveniente do 
carisma do líder. Nesse caso, não interessa 
quais são os costumes que regulam a 
sociedade ou mesmo qual é a estrutura do 
Estado, o que está em jogo é a capacidade 
do líder de agregar a vontade do povo 
e de, por seu carisma, ser considerado 
seu representante. Weber considera o 
demagogo como um tipo ideal de líder 
carismático. 
Por fim, a dominação racional-legal tem 
seu fundamento na crença dos indivíduos 
na estrutura burocrática do Estado e no 
estatuto legal que a sustenta. Aqui não 
interessa quem lidera o povo, mas que o 
líder tenha a estrutura necessária para 
conduzir o Estado e garantir os anseios 
do povo. Dessa forma, a autoridade é 
legitimada pela crença na burocracia. 
Em seu ensaio Ciência e Política: duas 
vocações (2005), Weber ratifica essas 
ideias, mostrando a importância da 
distinção entre o político por vocação e 
o político profissional. Para ele, o político 
por vocação pode ser o líder e exercer sua 
dominação por meio da tradição ou do 
carisma, contudo, na sociedade capitalista 
moderna, ele sempre precisará do político 
profissional, que será o responsável por 
fazer a máquina do Estado trabalhar, por 
permitir que aquilo que é prometido pelo 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado37/201
líder possa ser concretizado.Para saber mais
Os cientistas políticos brasileiros consideram 
Getúlio Vargas um líder carismático. Apesar de 
à época o Estado já ser baseado na dominação 
racional-legal, a sua liderança carismática era 
muito forte, sendo boa parte das conquistas 
sociais realizadas à época, como os direitos do 
trabalho, creditadas não ao Estado, mas à figura 
de Getúlio Vargas. 
Por fim, o Estado pode também ser usado 
como instrumento de dominação. Como 
você viu na aula anterior, o Estado Moderno 
entra em crise pela necessidade de se 
reconfigurar a partir da nova estrutura 
social, decorrente do desenvolvimento do 
modo de produção capitalista. O Estado 
deve atender não apenas aos anseios 
do povo, mas também das novas classes 
nascentes, em especial, a classe burguesa.
Como apresenta Locke, o Estado deve 
garantir o direito à propriedade e a 
apropriação do produto do trabalho, 
contudo, ele deve ir além. Como 
apresentado na definição do Estado Social, 
ele não deve apenas garantir direitos, 
mas também as formas de valorização 
do capital. Assim, o poder não pode 
ser atribuído a qualquer um. Ele deve 
ser destinado a alguém que esteja em 
consonância com as classes interessadas 
nessa valorização. 
O Estado então adquire o papel de 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado38/201
instrumento de dominação, pois a sua 
intervenção permitirá a conformação de 
um sistema que, ao mesmo tempo em 
que permite a criação e realização do 
lucro, também constitui a infraestrutura 
necessária para a valorização do capital 
(GOZZI, 1998). 
O Estado pode, contudo, também ser 
instrumento de transformação social, 
a partir da composição de uma aliança 
entre as classes, que possibilite o 
desenvolvimento de um Estado ampliado. 
2. O Estado como Instrumento 
e Ampliado
No final da aula anterior, você conheceu 
o Estado Social. Foi ressaltado que o 
Estado Social é um ente que procura, além 
de garantir as liberdades econômicas, 
também assegurar um conjunto de direitos 
sociais. Contudo, esses direitos sociais, 
em muitos casos, tentam amenizar as 
precárias condições em que vivem a classe 
trabalhadora e os pobres, assim como 
reduzir os conflitos entre capital e trabalho.
Um Estado Social de fato só será visto a 
partir da década de 1930. Sua origem está 
no keynesianismo, doutrina econômica 
que pregava a intervenção do Estado 
não apenas como meio de valorização 
do capital, mas como forma de diminuir 
as desigualdades entre as classes, 
garantindo aos mais pobres o acesso a 
determinados bens imateriais, só então 
adquiridos por aqueles que podiam pagar. 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado39/201
O keynesianismo ganhou força com o 
New Deal, do presidente norte-americano 
Franklin Delano Roosevelt, e foi adotado 
na Europa a partir de 1940, como forma 
de induzir o desenvolvimento dos Estados 
após a Segunda Guerra Mundial.
Para saber mais
O New Deal foi um conjunto de medidas 
empreendidas pelo Presidente dos Estados 
Unidos Franklin Delano Roosevelt em resposta 
à crise econômica de 1929. Com o objetivo de 
intervenção do Estado na economia, o New Deal 
reduzia a auto-regulamentação dos mercados, 
incentivada pelo liberalismo econômico, comum 
nos Estados Unidos do início do século XX. 
O Estado de Bem-Estar Social não foi 
apenas uma forma de intervenção na 
economia, mas pode ser considerado 
um meio para a transformação social. O 
Estado de Bem-Estar Social previa, além 
da regulação econômica pelo Estado, o 
investimento estatal em educação, saúde e 
seguridade social. Cabia ao Estado garantir 
à população o acesso a esses serviços, 
promovendo a redução das desigualdades 
sociais.
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado40/201
Link
Sobre o surgimento do Estado de Bem-Estar 
Social, veja também o artigo de Vicente Navarro, 
intitulado Produção e estado de bem-estar: 
o contexto político das reformas e publicado 
na Revista Lua Nova. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
64451993000100007&script=sci_arttext>. 
Contudo, como você viu anteriormente, 
o Estado também é uma forma de 
dominação, e assim, o Estado de Bem-
Estar Social também serviu para que as 
classes economicamente dominantes 
pudessem aumentar suas taxas de 
lucratividade, expandindo o modo de 
produção capitalista, com base nos modos 
de organização fordista-taylorista. O 
fordismo-taylorismo é caracterizado pela 
homogeneização do trabalhador e pela 
fragmentação do trabalho, permitindo 
aos capitalistas extrair do trabalho 
humano grandes quantidades de produção 
excedente, que permitiram a expansão das 
taxas de lucro. Por mais que o Estado de 
Bem-Estar Social tenha por base o pacto 
entre capital, trabalho e Estado, o capital, 
com a adoção do modo de organização 
fordista-taylorista e a anuência do Estado, 
pode continuar a explorar, em níveis altos, 
o trabalho humano. 
O Estado de Bem-Estar Social, no entanto, 
pode ser considerado um instrumento 
de transformação social, pois integrou 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado41/201
socialmente milhões de pessoas pela via 
da seguridade social, do trabalho e da 
educação. A sua crise, a partir da década de 
1970, colocou em discussão qual modelo 
de Estado seria adotado e como ficaria o 
acesso da população aos direitos sociais 
básicos.
Link
Para saber mais sobre o Estado de Bem-Estar 
Social e as razões da sua crise, leia o artigo de 
José Luís Fiori, intitulado Estado de Bem-Estar 
Social: Padrões e Crises e publicado na Physis. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
physis/v7n2/08.pdf>. 
Para superar essa crise do Estado de Bem-
Estar Social, optou-se pelo chamado 
Estado Neoliberal, no qual o Estado reduz 
drasticamente a sua posição na economia, 
como interventor e às vezes como 
regulador, e também a salvaguarda dos 
direitos sociais, que serão paulatinamente 
reduzidos. Contudo, o Estado Neoliberal 
também terá sua saturação, a partir da 
crise financeira de 2008.
A crise do Estado Neoliberal traz para a 
discussão não apenas o modelo do Estado, 
mas a forma de governo. Os Estados 
capitalistas assumiram majoritariamente 
a democracia como forma de governo. 
Por ser um governo da maioria e por ser 
o Estado o órgão da classe dominante, 
a democracia assumiu a forma de 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado42/201
democracia representativa, na qual os 
cidadãos delegam, por meio do voto, o 
poder a um cidadão ou a um corpo de 
cidadãos.
Durante décadas a democracia 
representativa foi a forma de governo 
adotada pelos Estados, sejam eles Social, 
de Bem-Estar Social ou Neoliberal. 
Ela fez com que os cidadãos, por meio 
da representação, se afastassem da 
política, tornando o Estado um lugar 
para “entendidos”. Mas as conduções 
dadas pelo Estado à política econômica, 
que geraram crises como a de 2008, nos 
levaram a questionar, enquanto cidadãos, 
se realmente deveríamos delegar o poder 
ao Estado ou se deveríamos participar do 
exercício desse poder. 
O Estado ampliado surge como um modelo 
no qual pode haver maior participação 
da chamada Sociedade Civil, em um 
uma relação equilibrada entre esta e a 
sociedade política. O conceito de Estado 
ampliado, constituído por Antonio 
Gramsci, pode ser entendido pela divisão:
a) sociedade política 
(Estado em sentido 
estrito, Estado-coerção): 
formada pelo conjunto dos 
mecanismos através dos 
quais a classe dominante 
detém o monopólio legal 
da repressão e da violência 
e que se identifica com 
os aparelhos coercitivos 
ou repressivos de Estado, 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado43/201
controlados pelas burocracias. Pormeio da sociedade política, as classes exercem 
sempre uma ditadura, uma dominação mediante coerção; e
b) sociedade civil (Estado ético): organizações responsáveis pela elaboração e/ou 
difusão das ideologias, compreendendo as escolas, as igrejas, os partidos políticos, 
os sindicatos, as organizações profissionais, os meios de comunicação etc. No 
âmbito e por meio da sociedade civil, as classes buscam exercer sua hegemonia 
(buscam ganhar aliados para suas posições mediante a direção política e o 
consenso). Os seus portadores materiais são os “aparelhos privados de hegemonia”, 
organismos sociais coletivos voluntários e relativamente autônomos em face da 
sociedade política. Como a sociedade civil pertence ao Estado ampliado, ela seria 
estatal em sentido amplo. (VIOLIN, 2006, p. 6)
A Sociedade Civil compõe o Estado ampliado, entendido aqui como aquele no qual a classe 
dominante exerce sua dominação, mas que permite a participação de outros grupos sociais a 
partir de inúmeras formas, como sindicatos, igrejas e partidos políticos, que são responsáveis 
pela difusão de ideologias buscando a hegemonia política. 
No momento em que se procura a maior participação dos grupos sociais na sociedade política, 
o Estado ampliado pode ser uma forma de responder a esses anseios, visto que sua essência 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado44/201
reside na relação entre Sociedade Política e Sociedade Civil, com esta minimizando os efeitos 
coercitivos daquela. Assim, o Estado ampliado é uma forma contemporânea do pacto social, 
com a pactuação estabelecida pelo aumento da participação de grupos tradicionalmente 
excluídos da sociedade política, no sentido de buscar a hegemonia política e reduzir as 
desigualdades sociais.
Para saber mais
Antonio Gramsci discutiu o conceito de Sociedade Civil em um texto clássico, 
escrito nos anos em que esteve na prisão, na década de 1920. Cadernos 
do Cárcere é a principal obra de Antonio Gramsci, na qual estão contidos 
os seus principais conceitos e reflexões. Para conhecer mais sobre Antonio 
Gramsci, sua obra e sua influência no Brasil, visite o site Gramsci e o Brasil. 
Disponível em: <http://www.acessa.com/gramsci/index.php>. 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado45/201
Glossário
Hegemonia: pode ser definida como a capacidade de uma determinada classe em produzir consenso ou 
a conformação da maioria com vistas à promoção do bem coletivo. A hegemonia política é resultado da 
correlação de forças entre os diversos grupos sociais - na sociedade capitalista, as classes sociais -, visando 
ao exercício do poder político no sentido de realização dos interesses coletivos.
Classe Social: determinada camada social que é caracterizada por critérios econômicos, culturais e 
sociais, implicando em uma determinada posição na estrutura social. No capitalismo podem ser chamadas 
de classes sociais a burguesia, a classe média e a classe trabalhadora. Há autores que trabalham com a 
divisão de classe alta, classe média e classe baixa. Contudo, essa caracterização retira o conteúdo referente 
à posição dos indivíduos no processo produtivo, importante elemento para a caracterização econômica da 
classe.
Keynesianismo: nome dado à teoria econômica desenvolvida por John Maynard Keynes, cujo fundamento 
é a regulação estatal da economia como forma de combater a recessão econômica e promover o equilíbrio 
econômico, em conjunto com o investimento social estatal. 
Questão
reflexão
?
para
46/194
Como você viu anteriormente, o Estado pode ser um 
instrumento de transformação social, mas também pode 
servir à dominação. Faça um texto discutindo as implicações 
positivas e negativas do Estado como instrumento de 
transformação social e do Estado como instrumento de 
dominação. 
47/201
Considerações Finais
 » O Estado, seja ele moderno ou contemporâneo, é assentado no pacto 
social.
 » O pacto social permite o desenvolvimento de formas de dominação, 
que podem ser apenas formas de exercício legítimo do poder, ou podem 
ser utilizadas para subjugo de uma população.
 » Existem, segundo Max Weber, três tipos de dominação utilizados para 
o exercício legítimo do poder: a dominação carismática, a dominação 
tradicional e a dominação racional-legal.
 » O uso do Estado como instrumento de dominação é comum na 
sociedade capitalista, na qual o poder é exercido pela classe dominante, 
garantindo a ela as formas de valorização do capital.
 » O Estado também é instrumento de transformação social, promovendo 
o acesso aos direitos sociais básicos.
48/201
Considerações Finais
 » O Estado também pode ser ampliado, com a participação das 
organizações da Sociedade Civil na Sociedade Política, estabelecendo 
uma relação equilibrada entre Estado e Sociedade. 
Unidade 2 • Estado como pacto, dominação, instrumento e ampliado49/201
Referências 
GOZZI, Gustavo. Estado Contemporâneo. In: BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, 
Gianfranco. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 
401-409. 
VIOLIN, Tarso Cabral. A Sociedade Civil e o conceito de Estado Ampliado, por Antonio Gramsci. 
Revista Eletrônica do CEJUR, v. 1, n. 1, p. 3-14, ago./dez. 2006. Disponível em: <http://ojs.c3sl.
ufpr.br/ojs/index.php/cejur/article/view/14846>. Acesso em: maio 2015.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 2005. 
______. Os três tipos puros de dominação legítima. In: COHN, Gabriel (Org.). Weber. 7. ed. São 
Paulo: Editora Ática, 2003. 
50/201
Aula 2 - Tema: Estado como Pacto, Dominação, 
Instrumento e Ampliado – Parte I 
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
574d7e69575959c1f9e80f329ba75ba5>.
Aula 2 - Tema: Estado como Pacto, Dominação, 
Instrumento e Ampliado – Parte II.
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA-
piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/2ed-
11fd1108680223d3fd586f535a362>. 
Assista a suas aulas
51/201
1. Para Rosseau, o Estado tem o objetivo de salvaguardar:
a) O direito à propriedade.
b) O direito à vida.
c) O direito aos bens.
d) A vontade do povo.
e) A honra.
Questão 1
52/201
2. A dominação racional-legal tem fundamento na força:
a) Do carisma.
b) Da burocracia.
c) Da tradição.
d) Do costume.
e) Do líder.
Questão 2
53/201
3. O Estado como instrumento de transformação social, vigente entre 1940 
e 1970, ficou conhecido como:
a) Estado Civil.
b) Estado Neoliberal.
c) Estado de Bem-Estar Social.
d) Estado Ampliado.
e) Estado de Direito.
Questão 3
54/201
4. O Estado ampliado é formado pela relação equilibrada entre:
a) Sociedade Política e Sociedade Econômica.
b) Sociedade Econômica e Sociedade Civil.
c) Não há relação equilibrada no Estado ampliado.
d) Sociedade Política e Sociedade Civil.
e) Sociedade Política, Econômica e Civil.
Questão 4
55/201
5. A crise financeira de 2008 originou a crise de qual modelo de Estado?
a) Estado de Bem-Estar Social.
b) Estado Civil.
c) Estado Neoliberal.
d) Estado de Direito.
e) Estado Ampliado.
Questão 5
56/201
Gabarito
1. Resposta: D.
Para Jean Jacques Rousseau, o poder está 
no povo. Ao delegar o poder a um homem, 
esse homem deve salvaguardar a vontade 
do povo.
2. Resposta: B.
A dominação racional-legal assenta 
sobre a burocracia e o estatuto legal 
que a sustenta. Atribui-se autoridade 
legítima não ao líder em si, mas à estrutura 
burocrática que administra o Estado.
3. Resposta: C.
O Estado como instrumento de 
transformação social ficou conhecido 
como Estado de Bem-Estar Social, e seu 
propósitofoi estabelecer uma relação 
equilibrada entre economia e sociedade, 
através da concessão de direitos sociais 
básicos ao conjunto da população.
4. Resposta: D.
O Estado ampliado é uma relação 
equilibrada entre Sociedade Política e 
Sociedade Civil. A sociedade econômica 
não entra nessa relação, pois, a partir 
da teoria marxista, a economia é parte 
da infraestrutura, sendo a política e a 
sociedade parte da superestrutura. É a esta 
que está ligado o Estado ampliado.
57/201
5. Resposta: C.
A crise financeira de 2008 levou à crise do 
Estado neoliberal, adotado após a crise 
do Estado de Bem-Estar Social. O Estado 
neoliberal teve por objetivo reduzir a 
participação do Estado na economia, como 
interventor e regulador, e também diminuir 
o investimento do Estado na área social.
Gabarito
58/201
Unidade 3
Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado
Objetivos
Objetivo geral: compreender o conceito de 
Sociedade Civil e as distinções entre público e 
privado. 
Objetivos específicos:
• Apresentar o conceito de Sociedade Civil.
• Discorrer sobre os conceitos de público e 
privado.
• Discutir as diferenças e as confluências entre 
público e privado em relação ao espaço e às 
esferas.
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado59/201
Introdução
Nas aulas anteriores você viu a constituição do Estado e quais modelos que ele assume no 
decorrer do tempo, como instrumento de transformação ou dominação social ou como Estado 
ampliado. Segundo o que foi apresentado, o conceito de Estado ampliado parte de uma relação 
equilibrada entre Sociedade Política e Sociedade Civil, sendo a Sociedade Política o Estado, com 
seus instrumentos de coerção, e a Sociedade Civil o conjunto de associações civis, partidos e 
sindicatos que participam da política, na busca por fazer valer seus interesses.
Esse é o conceito de Sociedade Civil vigente. Contudo, ele é o único? Como chegamos a esse 
conceito? Nesta aula você verá a construção histórico-conceitual da Sociedade Civil. Essa 
construção é importante, pois ela tem relação direta com o conceito e modelos de Estado que 
você estudou nas aulas anteriores. 
Além disso, esse resgate histórico-conceitual permite a você também entender a relação 
equilibrada entre Sociedade Política e Sociedade Civil, existente no Estado ampliado, a partir 
do entendimento do que é público e do que é privado, em termos do Estado, da sociedade e do 
território, observando de que forma a Sociedade Civil se configura a partir desses conceitos e, 
então, atua. 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado60/201
1. O Conceito de Sociedade Civil
Na aula anterior você viu o conceito de Sociedade Civil, baseado na obra de Antonio Gramsci. 
Esse é o conceito adotado atualmente, considerando-se Sociedade Civil as organizações que 
elaboram e difundem as ideologias, sendo elas as igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, 
a mídia, entre outros (VIOLIN, 2006). Assim, Sociedade Civil não é apenas um conjunto de 
instituições que fazem parte da sociedade, mas instituições que possuem um determinado 
propósito, qual seja, o de difundir determinadas linhas de pensamento entre a população, 
linhas essas elaboradas a partir de posições de classe. 
Em termos do conceito de Estado ampliado que você viu na aula anterior, a Sociedade Civil 
serve então às classes sociais como forma de difusão das ideologias e de promoção de meios 
para estabelecer a hegemonia política e, consequentemente, conquistar o poder da Sociedade 
Política. O Estado ampliado tem, então, relação direta com o desenvolvimento da sociedade 
capitalista.
 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado61/201
O conceito de sociedade civil foi concebido por Gramsci [...] como parte 
de uma operação teórica e política dedicada a interpretar as imponentes 
transformações que se consolidavam nas sociedades do capitalismo 
desenvolvido. (NOGUEIRA, 2003, p. 189)
Contudo, ressalta Nogueira, o conceito 
gramsciano de Sociedade Civil tem por 
base os conceitos desenvolvidos nos 
séculos XVIII e XIX. Vale então ver que 
conceitos são esses e de que forma eles 
contribuem para a conformação do 
conceito gramsciano, adotado atualmente 
tanto no âmbito teórico como no âmbito 
político.
Para saber mais
A obra Cadernos do Cárcere, na qual está a 
definição de Sociedade Civil, foi escrita nos 
anos que Gramsci passou na prisão (1926-
1934), onde adoeceu. Gramsci obteve liberdade 
condicional em 1934, falecendo poucos anos 
depois, aos 46 anos. 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado62/201
Como você viu na primeira aula, o 
conceito de Sociedade Civil já está nos 
jusnaturalistas, principalmente em Locke, 
quando estabelece a diferença entre o 
estado de natureza e o Estado Civil. O 
Estado Civil é a sociedade política, que 
para Locke tem o mesmo significado de 
Sociedade Civil, sendo ela responsável 
por salvaguardar os direitos naturais. No 
jusnaturalismo, então, não há distinção 
entre o Estado e a Sociedade Civil, que 
pode ser definida como aquela que se 
reúne sob o pacto estabelecido entre os 
homens de forma a garantir os direitos 
naturais. Mesmo não estando ela no 
poder, é ela que atribui poder ao soberano 
ou à assembleia de homens, e assim, 
tem a influência de, em caso de falha do 
soberano, destituí-lo desse poder. 
Já em Hegel, a Sociedade Civil precede o 
Estado. É “o momento no qual a unidade 
familiar, através do surgimento de relações 
econômicas antagônicas, produzidas pela 
urgência que o homem tem em satisfazer 
as próprias necessidades mediante o 
trabalho, se dissolve nas classes sociais” 
(BOBBIO, 1998, p. 1208). 
É possível, a partir dessa definição, fazer 
uma relação entre o conceito de Sociedade 
Civil apresentado por Hegel e a passagem 
do Estado Moderno ao Estado de Direito, 
que você viu na primeira aula. O Estado 
de Direito se constitui no processo 
de desenvolvimento do capitalismo, 
com o objetivo de se coadunar com os 
anseios das nascentes classes sociais, 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado63/201
que reivindicavam um estado que fosse 
condizente com a atual estrutura social. 
A Revolução Francesa, marco da crise do 
Estado Moderno, é o ato que transforma 
essa Sociedade Civil, as nascentes classes 
sociais, em Estado. Segundo Bobbio, a 
partir da reflexão de Hegel (1998, p. 1.208), 
“se se troca em Estado a Sociedade Civil e 
a sua finalidade é colocada na segurança e 
na proteção da propriedade e da liberdade 
pessoal, o interesse do indivíduo como 
tal é o fim último onde tudo se unifica”. O 
Estado é, então, distinto da Sociedade Civil, 
mas atende aos interesses dela, que nada 
mais são do que os interesses das classes 
sociais (propriedade e liberdade individual).
Essa definição foi refinada por Karl 
Marx, que, a partir do conceito de Hegel, 
ao entender que a Sociedade Civil se 
transforma em Estado, e que esse Estado 
tem por objetivo garantir o direito à 
propriedade e ao indivíduo, próprios da 
burguesia, compreende que a Sociedade 
Civil nada mais é do que a Sociedade 
Burguesa. Marx então incorpora o 
conteúdo econômico no conceito de 
Sociedade Civil, entendendo-a como a 
base econômica da qual emergem as 
disputas e os interesses econômicos. A 
superestrutura – as instituições políticas 
e jurídicas – corresponde aos anseios 
da Sociedade Civil, mas elas são esferas 
diferentes. Para Marx, a Sociedade Civil 
está na esfera do privado – do mercado –, 
enquanto o Estado – as relações políticas 
– está na esfera do público, estabelecendo 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado64/201
a distinção entre público e privado na 
relação Estado e Sociedade.
Para saber mais
Karl Marx foibastante influenciado pela obra de 
Friedrich Hegel. Em seus escritos de juventude, 
refere-se constantemente à obra hegeliana. 
A obra de Marx que marca a ruptura com o 
pensamento hegeliano é A Ideologia Alemã, 
escrita em coautoria com Friedrich Engels. 
Por fim, vale retomar o conceito 
gramsciano de Sociedade Civil. Como 
você viu no início dessa aula, o conceito 
de Sociedade Civil de Antonio Gramsci 
tem relação, assim como o de Marx, com o 
desenvolvimento da sociedade capitalista. 
A expansão das classes sociais, o 
crescimento da organização de interesses 
e o aumento da presença da política na 
sociedade são alguns dos motivos que 
levam Gramsci a considerar que há um 
movimento importante na sociedade e que 
esse movimento se agrega ao Estado.
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado65/201
O próprio Estado estava sendo reconfigurado: era invadido pela 
socialização da política que se verificava e levado a ir além do aparato 
repressivo e coercitivo. O Estado se “ampliava”, articulando-se com a 
“nova” esfera do ser social que se objetivava em conjunto com uma 
maior diferenciação social e uma melhor organização de interesses. A 
ideia gramsciana de sociedade civil espelharia a nova situação: abrigava 
a plena expansão das individualidades e diferenciações, mas acomodava 
também, acima de tudo, os fatores capazes de promover agregações 
e unificações superiores. Ela seria a sede de múltiplos organismos 
“privados”, mas nem por isso menos estatais. Seus integrantes estariam 
dispostos como vetores de relações de força, como agentes de consenso 
e hegemonia, candidatos a “se tornar Estado”. (NOGUEIRA, 2003, p. 190)
O que se entende é que a Sociedade Civil, esse conceito amplo de diferenciação e agregação, 
condiz com a esfera privada, na qual as instituições que a compõem – igrejas, mídia, sindicatos 
e partidos políticos – representam interesses privados, relacionados a determinadas classes. 
O Estado ampliado, ao agregar a Sociedade Civil, incorpora uma “dimensão civil”, formando 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado66/201
assim, Estado e Sociedade Civil, uma 
unidade (NOGUEIRA, 2003).
Link
Para saber mais sobre a relação entre Sociedade 
Civil e participação social, leia o texto de 
Evelina Dagnino, intitulado Sociedade 
Civil, Participação e Cidadania: de que 
estamos falando? Disponível em: <http://
biblioteca.clacso.edu.ar/Venezuela/faces-
ucv/20120723055520/Dagnino.pdf>. 
Assim, para apreender o que é a Sociedade 
Civil e a relação entre ela e o Estado, é de 
suma importância também entender o que 
é público e privado, suas esferas, espaços 
e quais são as relações entre eles. Desse 
modo, é possível compreender o completo 
significado de Sociedade Civil e as suas 
formas de atuação. 
2. Público e Privado: Conceito, 
Esferas e Espaços
Público e Privado são palavras 
constantemente utilizadas. Falamos em 
serviço público, funcionalismo público, 
escola pública, assim como falamos em 
propriedade privada, espaço privado, 
escola privada. Mas o que significam esses 
conceitos? 
Esses conceitos são, por natureza, opostos. 
Na Grécia antiga, público e privado 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado67/201
representavam não apenas espaços 
distintos, mas tinham funções distintas. 
O espaço público era o espaço da pólis, 
das discussões políticas, do exercício da 
cidadania. Já o espaço privado era o espaço 
daqueles que não eram considerados 
cidadãos e que eram responsáveis por 
garantir a sobrevivência material da 
pólis, ou seja, era o local do trabalho e do 
comércio (ARENDT, 2008). Essa distinção 
remete a dois significados: o público é o 
local do coletivo, da política e do exercício 
da igualdade; e o privado é o espaço do 
indivíduo, da economia, da diferença 
e da desigualdade. Assim, podemos 
falar não apenas em espaços, mas em 
esferas distintas, por terem delimitações 
territoriais diferentes e funções diferentes. 
O desenvolvimento do Estado, que você 
viu nas aulas anteriores, mostra que 
paulatinamente ele não será mais o local 
da coletividade, mas será instrumento de 
dominação de uma determinada classe. 
O Estado adquire características próprias 
do privado. Ele continuará sendo o lugar 
da política, mas estará a serviço de 
determinados interesses.
As esferas pública e privada então se 
confundem. Quando olhamos para a 
sociedade brasileira essa confusão é 
bastante comum. Para nós, a diferença 
entre público e privado é bastante tênue. 
Entendemos bem quais são as funções da 
esfera pública e da esfera privada, mas não 
respeitamos os limites entre elas. 
Como você viu anteriormente, a esfera 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado68/201
não é apenas uma delimitação geográfica, 
mas possui uma função diferente. A 
esfera pública é o local da política, da 
coletividade, dos interesses públicos e da 
promoção da igualdade; enquanto a esfera 
privada é o local do trabalho, da economia, 
dos interesses privados e, portanto, da 
promoção da desigualdade. Desta forma, 
podemos dizer que o Estado – a esfera 
pública – é o lócus do povo e da promoção 
da igualdade, e o mercado – a esfera 
privada – o lócus da concorrência, dos 
interesses pessoais e da desigualdade. 
A questão é que no Brasil a esfera privada 
invade a esfera pública, em uma relação 
promíscua, na qual os interesses da esfera 
privada tentam interferir nas ações da 
esfera pública. Esse fenômeno pode 
ser chamado de patrimonialismo, cuja 
principal característica é a indistinção 
entre a “esfera pública” e a “esfera 
privada”, na qual a coisa pública é tratada 
como assunto puramente pessoal, assim 
como o patrimônio do Estado serve aos 
interesses privados dos governantes e de 
sua burocracia.
Para saber mais
Para saber mais sobre o patrimonialismo, 
fenômeno histórico da política brasileira, leia o 
clássico livro de Raymundo Faoro, intitulado Os 
Donos do Poder. Nesse livro, Faoro mostra como 
o patrimonialismo já era utilizado na época do 
Império, mantendo-se até os dias atuais.
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado69/201
Um fator que ilustra essa interferência 
nas esferas é o financiamento privado de 
campanhas. Ao receber financiamento de 
empresas, o político torna-se “devedor” 
dessas empresas e, quando eleito, tentará 
“passar” pautas que interessam àqueles 
que financiaram a sua campanha. A 
votação do projeto de lei da terceirização, 
em 2015, mostrou os efeitos deletérios que 
as interferências da esfera privada podem 
ter na esfera pública.
Link
Para saber mais sobre o patrimonialismo 
no Brasil contemporâneo, leia o texto de 
Elsio Lenardão, intitulado A relação entre 
“modernização” neoliberal e práticas políticas 
“atrasadas” no Brasil dos anos 1990. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/
v16n31/v16n31a14.pdf>. 
A partir dessas definições, é possível 
dizer que as esferas são os loci da política 
e do mercado, dos interesses, sejam 
eles públicos ou privados, nos quais se 
encontram Estado e Sociedade Civil. Já os 
espaços são diferentes, pois eles contêm 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado70/201
em seu significado a territorialidade. 
Os geógrafos diriam que os espaços 
nem sempre são concretos, delimitados 
territorialmente, mas quando fazemos 
a distinção entre espaços públicos e 
privados estamos – de forma a diferenciar 
do conceito de esfera – constituindo um 
significado concreto, territorialmente 
delimitado.
O espaço público pode ser entendido 
como aquele espaço que deve, conforme 
o conceito de público, corresponder ao 
uso coletivo, voltado para o povo e com as 
regras delimitadas pelo Estado. Já oespaço 
privado é de uso restrito, cujas regras 
são feitas pelos indivíduos responsáveis 
pela sua gestão. Para exemplificar, 
podemos falar em praças como espaços 
públicos e casas de shows como espaços 
privados. O primeiro é lugar mantido pela 
esfera pública e voltado para agregar a 
coletividade. Já o segundo, por mais que 
vise também reunir o coletivo, só permite 
a entrada mediante pagamento de 
ingressos. No primeiro, as regras de uso se 
sustentam nas noções de cidadania, de que 
o local é de uso de todos, assim como deve 
por todos ser preservado. Já no segundo, 
as regras vigentes são estabelecidas pela 
casa, a partir de diretrizes do Estado, mas 
baseadas fortemente nos critérios do 
mercado. 
Quando pensamos a relação entre a 
Sociedade Civil e o conceito de público 
e privado, percebemos que o conceito 
de Sociedade Civil está relacionado 
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado71/201
ao conceito de esfera. A Sociedade 
Civil, em termos gramscianos, é parte 
da esfera privada. Suas instituições 
possuem determinados interesses e 
seus objetivos estão em consonância 
com esses interesses. A sua participação 
na esfera pública tem por objetivo 
“casar” os interesses privados com os 
interesses públicos, de forma a “socializar 
a política” (NOGUEIRA, 2003), trazendo 
para a Sociedade Política a dimensão da 
Sociedade Civil. Contudo, deve-se tomar 
cuidado para não ultrapassar os limites 
dessa relação. 
Conforme você viu na aula anterior, o 
Estado ampliado é uma relação equilibrada 
entre Estado e Sociedade Civil. Caso haja 
muita interferência da Sociedade Civil 
no Estado corre-se o risco de, no lugar 
do Estado ampliado, ter-se um Estado 
patrimonialista.
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado72/201
Glossário
Mercado: o termo refere-se a um local, físico ou não, no qual se estabelecem as relações de compra e 
venda. Esses mercados, que podem ser de produtos, de ativos financeiros ou de trabalho, são regulados 
pelo Estado e/ou pelo setor privado. A regulação refere-se às formas como serão estabelecidos os valores 
das mercadorias (produtos, ativos ou força de trabalho) comerciadas nesse mercado e as regras para a 
realização das relações comerciais.
Cidadania: conceito que foi sendo modificado no decorrer da história e atualmente significa a participação 
do indivíduo na sociedade a partir do acesso a um conjunto de direitos (civis, políticos e sociais), que 
garantem o status de membro da Sociedade Política e da Sociedade Civil.
Igualdade: termo utilizado para referir-se à promoção de relações iguais e de direitos iguais para todos os 
membros de uma sociedade. A igualdade pressupõe que não haverá discriminação entre os indivíduos de 
uma sociedade, dadas as suas condições sociais, políticas e econômicas. Quando houver, ela deve garantir 
que essa discriminação tenha por objetivo promover a igualdade, como é o caso das políticas de ação 
afirmativa.
Questão
reflexão
?
para
73/194
No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente 
tivemos um sistema administrativo e um corpo de 
funcionários puramente dedicados a interesses 
objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrário, 
é possível acompanhar, ao longo de nossa história, 
o predomínio constante das vontades particulares 
que encontram seu ambiente próprio em círculos 
fechados e pouco acessíveis a uma ordenação 
impessoal. (HOLLANDA, 1995, p. 146) 
A partir dessa afirmação, faça um texto falando sobre a relação 
entre esfera pública e esfera privada no Brasil e como a Sociedade 
Civil atua nessa relação.
74/201
Considerações Finais
 » O conceito de Sociedade Civil adquiriu vários significados no decorrer 
da história do pensamento social.
 » A partir de Hegel, o conceito de Sociedade Civil se contrapõe ao 
conceito de Sociedade Política.
 » Em Marx, o conceito de Sociedade Civil confunde-se com o conceito 
de Sociedade Burguesa, sendo a Sociedade Civil o lócus do privado, dos 
interesses pessoais. 
 » O conceito gramsciano de Sociedade Civil é o conceito adotado 
atualmente e tem por objetivo distinguir o Estado (esfera pública) das 
associações de interesses privados (sindicatos, partidos políticos e 
igrejas).
 » Público refere-se à coletividade e à igualdade e privado significa 
individualidade e desigualdade.
75/201
Considerações Finais
 » Esferas são diferentes de espaços. As esferas referem-se a locais, não 
necessariamente territorializados, nos quais se desenvolvem relações 
que visam aos interesses do público e do privado. Já os espaços 
referem-se aos territórios que servem ao uso da coletividade ou ao uso 
pessoal.
Unidade 3 • Conceito de Sociedade Civil e o Público e Privado76/201
Referências 
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. 
BOBBIO, Norberto. Sociedade Civil. In: BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, 
Gianfranco. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 
1206-1211.
HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 
1995. 
NOGUEIRA, Marco Aurélio. Sociedade civil, entre o político-estatal e o universo 
gerencial. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 18, n. 52, p. 185-
202, jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69092003000200010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: maio 2015.
77/201
Aula 3 - Tema: Conceito de Sociedade Civil e o 
Público e o Privado – Parte I 
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
0949f36f5bd9c021260f6f0e14811271>.
Aula 3 - Tema: Conceito de Sociedade Civil e o 
Público e o Privado – Parte II.
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
81d62bfcc67a6bd97dcdea6d3e0dccc1>. 
Assista a suas aulas
78/201
1. Para qual autor a Sociedade Civil precede o Estado?
a) Karl Marx.
b) John Locke.
c) Antonio Gramsci.
d) Thomas Hobbes.
e) Friedrich Hegel.
Questão 1
79/201
2. Para Gramsci, a Sociedade Civil é:
a) A dimensão civil do Estado.
b) A dimensão econômica do Estado.
c) A dimensão jurídica do Estado.
d) A dimensão política do Estado.
e) A dimensão social do Estado.
Questão 2
80/201
3. À indistinção entre esfera pública e esfera privada no Brasil dá-se o nome 
de:
a) Clientelismo.
b) Assistencialismo.
c) Patriarcalismo.
d) Patrimonialismo.
e) Paternalismo.
Questão 3
81/201
4. O espaço público difere-se do estado privado por:
a) Ser voltado ao uso da coletividade.
b) Ser voltado ao uso privado.
c) Ter regras próprias, diferentes das regras da coletividade.
d) Ter acesso restrito.
e) Ser de propriedade privada.
Questão 4
82/201
5. Deve-se tomar cuidado para que o Estado ampliado não vire:
a) Um Estado de Direito.
b) Um Estado Moderno.
c) Um Estado patrimonialista.
d) Um Estado Civil.
e) Um Estado burguês.
Questão 5
83/201
Gabarito
1. Resposta: E.
Para Hegel, a Sociedade Civil é o momento 
de união das classes, anterior ao Estado. 
O Estado substitui a Sociedade Civil, 
individualizando as relações.
2. Resposta: A. 
Em Gramsci, a Sociedade Civil é a 
“dimensão civil” do Estado, incorporando 
a ele associações privadas que atuam de 
forma distinta, porém, integrada ao Estado.
3. Resposta: D.
Ao uso privado da coisa pública dá-se o 
nome de patrimonialismo. O nepotismo é 
uma forma de patrimonialismo.
4. Resposta: A.
O espaço público é caracterizado por 
ser voltado ao uso da coletividade e 
pelo fato de as suas regras de uso serem 
determinadas pela esfera pública.
5. Resposta:C.
As relações entre Sociedade Civil e Estado 
devem ser bem delimitadas, de forma que 
os interesses privados não interfiram nos 
interesses públicos. A interferência pode 
resultar em um Estado patrimonialista.
84/201
Unidade 4
Conceito de Democracia Participativa
Objetivos
Objetivo geral: compreender o conceito de 
democracia participativa.
Objetivos específicos: 
• Apresentar o conceito de democracia.
• Discutir o conceito de democracia em suas 
diversas acepções: direta, representativa e 
participativa.
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa85/201
Introdução
Democracia é uma palavra que se tornou de uso corrente. Ela é invocada constantemente para 
nos referirmos a questões cotidianas. Por exemplo, quando queremos falar de uma decisão que 
não respeitou a vontade da maioria: “não foi uma decisão democrática”, ou mesmo quando 
queremos convidar as pessoas a participarem de uma reunião: “essa reunião será democrática, 
queremos a participação de todos”. Contudo, será que esse uso tem relação com o significado 
da palavra democracia? Sendo democracia um conceito, qual é a sua definição? 
O objetivo dessa aula é tentar responder a essas questões, permitindo a você compreender 
o que é democracia e quais são os diversos modelos de democracia existentes: direta, 
representativa e participativa.
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa86/201
1. O Conceito de Democracia
Etimologicamente, democracia significa 
poder do povo (demos = povo, krato = 
poder). A partir do significado etimológico, 
democracia representa uma forma 
de governo na qual quem governa é o 
povo, não o monarca (monarquia) ou a 
aristocracia (oligarquia) (GIDDENS, 2005). 
Então perguntamos: quem é o povo? 
Afinal, povo tem diversas acepções ao 
longo do tempo. Como você viu na aula 
anterior, na Grécia antiga a esfera pública 
era destinada às questões políticas e ao 
exercício da cidadania. Mas quem eram 
os cidadãos? Na Grécia antiga apenas os 
integrantes de uma parcela da população 
eram considerados como cidadãos. Os 
homens públicos – os cidadãos – eram 
aqueles que se dedicavam à política e, 
por esse motivo, não pensavam em como 
garantir a sua sobrevivência. Essa era 
a obrigação dos escravos, mulheres e 
comerciantes, que não eram considerados 
cidadãos. Ter que dispensar tempo para a 
garantia da sobrevivência o impedia de ser 
cidadão. Assim, só os homens públicos, que 
destinavam sua vida à esfera da política, 
eram considerados como povo, e por 
isso, na Democracia grega, eram eles que 
governavam.
Como você verá adiante, a Democracia 
grega é entendida como uma Democracia 
direta, na qual não há intermediários 
entre o povo e o exercício do poder. 
Na pólis grega, os homens públicos 
decidiam conjuntamente o destino do 
povo, podendo a democracia grega ser 
compreendida como um governo do povo. 
Mas se a democracia grega exclui a parcela 
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa87/201
de trabalhadores da tomada de decisões, 
podemos dizer que ela era um governo do 
povo para o povo?
A democracia grega era um governo 
do povo para o povo desde que se 
compreenda que povo, na Grécia antiga, 
significava o conjunto dos homens públicos 
responsáveis pelos rumos da Cidade-
estado. Escravos, mulheres e comerciantes 
não eram considerados povo.
Link
A democracia grega foi e ainda é fonte de 
inspiração para muitos. Para saber mais sobre 
ela, leia o artigo de Luciano Canfora, intitulado 
Como entrou e como finalmente saiu de cena 
a democracia grega. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40142006000300018&script=sci_
arttext&tlng=es>. 
Assim, para entender a democracia como 
um governo do povo, precisamos entender 
o que cada país considera como povo.
Para Hobbes, o monarca era o soberano. 
Para Locke, o Estado possuía um sistema 
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa88/201
de governo no qual o monarca era parte 
dele, ficando outras partes delegadas ao 
magistrado (que poderia também ser o 
monarca) e à assembleia de homens. Por 
fim, para Rousseau o Estado deve seguir a 
vontade do povo. Aqui já são apresentadas 
algumas características do Estado 
contemporâneo, no qual o Estado seguirá a 
vontade do povo, sendo essa vontade a de 
determinada classe social. Paulatinamente, 
o desenvolvimento do modo de produção 
capitalista penetra na sociedade e no 
Estado, tornando o Estado, como você 
viu em aula anterior, instrumento de 
dominação. 
Aqui a noção de povo assume outra 
acepção. São considerados como povo 
todos aqueles que estão envolvidos em 
relações sociais de produção, inclusive 
aqueles que não conseguem participar 
dessas relações por uma variedade de 
impedimentos (qualificação, deficiências, 
restrições sociais – raça, gênero). Todos são 
parte do povo e devem ser representados 
pelo Estado, no caso, democrático.
Assim, a democracia realmente torna-
se um governo do povo, mas não quer 
dizer que seja para o povo. A máxima 
de Abraham Lincoln: “A democracia é o 
governo do povo, pelo povo e para o povo” 
não é condizente com todas as práticas 
democráticas existentes no mundo.
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa89/201
Para saber mais
A democracia americana foi objeto de estudo 
de Alexis de Tocqueville, historiador francês que 
viveu durante a primeira metade do século XIX. 
Este estudo pode ser verificado na sua clássica 
obra A Democracia na América, baseada em 
viagem feita aos Estados Unidos na década de 
1830. 
Dados os modelos que a democracia 
adota, o governo pode corresponder a 
um governo do povo, mas contar com 
representantes que podem vir ou não 
a atender aos anseios do povo; pode 
ser formado diretamente pelo povo, e 
então decidir pelas vontades do povo; 
ou pode ter a participação do povo, mas 
não necessariamente atender a todas as 
demandas do povo.
Para entender melhor esse ponto, 
vale discutir o que é a democracia 
representativa, a democracia participativa 
e a democracia direta. 
2. Democracia Direta, Represen-
tativa e Participativa
A democracia direta pode ser relacionada 
à democracia grega, na qual aqueles que 
podiam participar da pólis tinham direito 
a voz e a voto. Todos os membros do 
povo podiam decidir os rumos do Estado. 
Falamos em democracia direta pelo fato 
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa90/201
desse direito a voz não ser intermediado, 
mas ser exercido diretamente pelo cidadão 
na ágora – local onde se realizava o debate 
político. 
Você sabe, pelo que foi discutido até o 
momento, que a democracia direta não 
foi vigente na Idade Moderna. Os Estados 
Modernos eram regidos por monarcas ou 
por assembleias de homens, a quem o povo 
atribuía o poder. A democracia então se 
tornou representativa. 
O pressuposto democrático da 
representatividade pautou o modelo 
ocidental do Estado Moderno, ou seja, 
uma relação proporcional entre os 
representantes e aqueles aos quais 
estes representam. Dito de outra forma, 
ao escolher os representantes (para 
o executivo ou o legislativo) há uma 
contrapartida equânime. As decisões 
políticas nada mais são, então, do 
que a vontade da maioria. Para tanto, 
as instituições democráticas criaram 
mecanismos de controle para que os 
cidadãos pudessem “cobrar” de seus 
representantes as decisões tomadas 
“em seu nome”; um desses mecanismos 
é o pleito periódico. Tecnicamente, a 
insatisfação pode ser comprovada nas 
eleições: representantes que não realizam 
seu trabalho a contento podem ser 
substituídos pelo voto. 
Certamente, a teoria democrática 
baseou-se na ideia da maioria, o desejo 
que prevalece é a regra que se institui. 
A maioria decide. As críticas ao modelo 
Unidade 4 • Conceito de Democracia Participativa91/201

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