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MATERIAL DIDÁTICO GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 0800 283 8380 www.portalprominas.com.br 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 UNIDADE 2 – CONTABILIDADE - CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................... 5 2.1 OBJETIVO E OBJETO DE ESTUDO ................................................................................ 5 2.2 FUNÇÕES ................................................................................................................ 6 2.2.1 INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE ......................................................... 7 2.3 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS ............................................................................................ 8 UNIDADE 3 – CONTABILIDADE DE CUSTOS ........................................................ 12 3.1 TERMINOLOGIAS DE CUSTOS ................................................................................... 14 UNIDADE 4 – MÉTODOS DE CUSTEIO E TOMADAS DE DECISÃO .................... 19 4.1 A GESTÃO ESTRATÉGICA DOS CUSTOS ..................................................................... 19 4.2 MÉTODOS DE CUSTEIO ........................................................................................... 21 4.3 O MÉTODO DA UNIDADE DE PRODUÇÃO (UP) ........................................................... 28 UNIDADE 5 – FORMAÇÃO DE PREÇOS ................................................................ 30 UNIDADE 6 – PLANEJAMENTO E CONTABILIDADE FINANCEIRA .................... 34 UNIDADE 7 – MERCADO FINANCEIRO ................................................................. 42 7.1 MERCADO MONETÁRIO ........................................................................................... 46 7.2 MERCADO DE CAPITAIS ........................................................................................... 46 7.3 BANCO DE INVESTIMENTOS ..................................................................................... 47 7.4 MERCADO FINANCEIRO INTERNACIONAL ................................................................... 48 7.5 FINANCIAMENTOS: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO ........................................................ 49 UNIDADE 8 – VALOR ECONÔMICO AGREGADO (EVA®) E VALOR DE MERCADO AGREGADO (MVA®) ............................................................................ 53 8.1 VALOR ECONÔMICO AGREGADO (EVA®) .................................................................. 55 8.1.1 VANTAGENS, DESVANTAGENS E DIFICULDADES ...................................................... 57 8.2 VALOR DE MERCADO AGREGADO (MVA®)................................................................ 58 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO As organizações não são estruturas isoladas muito menos sistemas fechados, ao contrário, são sistemas abertos que interagem com outras organizações e com a sociedade de maneira geral. Elas possuem objetivos, missões, responsabilidade social que se traduz no desenvolvimento da comunidade, da cidade, da região, enfim, da macroeconomia em que estão inseridas. Como dizem Pompermayer e Lima (2003, p. 49), no cumprimento da sua missão, as organizações desenvolvem suas atividades econômicas, buscando cumprir suas principais funções: patriótica, mercadológica, tecnológica, social e econômica, o que torna os negócios mais atraentes e mais ricos em reciprocidade. A função econômica não é a principal, mas é imprescindível. Auferir e aferir lucro é a exigência maior de qualquer atividade econômica! A boa gestão de custos nas empresas é dependente e consequente da coragem decisória dos administradores em mudar processos e comportamentos. A institucionalização nas empresas de uma transformação comportamental alicerçada na prática efetiva de nova cultura de custos, consubstanciada em técnicas modernas de produção e de administração de recursos financeiros e humanos, é o caminho mais eficaz para a boa gestão de custos. Em qualquer circunstância, é sempre possível conter custos, seja pela racionalidade das tarefas, pelo combate implacável aos desperdícios e pela eliminação dos supérfluos. Uma das subáreas de conhecimento do Engenheiro de Produção engloba exatamente a gestão econômica, de custos, de investimentos e riscos. Nesse sentido, o EP tem como atribuições formular, estimar e avaliar resultados econômicos justamente para avaliar alternativas que levem a tomada de decisão, consistindo em um conjunto de técnicas matemáticas que simplificam a comparação econômica. Esperamos que apreciem o material e busquem nas referências anotadas ao final da apostila subsídios para sanar possíveis lacunas que venham surgir ao longo dos estudos. Ressaltamos que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às 4 regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. 5 UNIDADE 2 – CONTABILIDADE - CONCEITOS FUNDAMENTAIS A Contabilidade é a ciência que estuda, interpreta e registra os fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade. Ela alcança sua finalidade através do registro e análise de todos os fatos relacionados com a formação, a movimentação e as variações do patrimônio administrativo, vinculado à entidade, com o fim de assegurar seu controle e fornecer a seus administradores as informações necessárias à ação administrativa, bem como a seus titulares (proprietários do patrimônio) e demais pessoas com ele relacionadas, as informações sobre o estado patrimonial e o resultado das atividades desenvolvidas pela entidade para alcançar os seus fins (FRANCO, 1997; SÁ, 1998). Diversas técnicas são usadas pela contabilidade para que seus objetivos sejam atingidos: a escrituração é uma forma própria desta ciência de registrar as ocorrências patrimoniais; as demonstrações contábeis são demonstrações expositivas para reunir os fatos de maneira a obter maiores informações, e a análise de balanços é uma técnica que permite decompor, comparar e interpretar o conteúdo das demonstrações contábeis, fornecendo informações analíticas, cuja utilidade vai além do administrador (SÁ, 1998; IUDÍCUBUS, 2004; COUTINHO et al, 2010). Como um instrumento operacional, a Contabilidade se realiza por meio de um sistema de informação e avaliação econômica e monetária, com a finalidade de fornecer demonstrações e análises que habilitem seus diversos usuários na predição sobre eventos e tendências futuras da organização. Assim, o produto da Contabilidade é a informação contábil resultante da sintetização dos dados obtidos através de documentos que reflitam a realidade mercantil em que se encontra o usuário (CHIAVENATO, 2005; COUTINHO et al, 2010). 2.1 Objetivo e objeto de estudo O objetivo principal da contabilidade é coletar, registrar, resumir, analisar e relatar, em termos monetários, informações acerca dos negócios das companhias. A contabilidade busca prover os usuários com informações sobre aspectos de 6 natureza econômica, financeira e física do patrimônio da entidade e suas mutações, o que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos, expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros. A contabilidadesó é capaz de captar e registrar, normalmente, eventos mensuráveis em moeda quando sabemos que, em quase todas as decisões, muitos outros elementos não quantitativos devem ser levados em conta para uma decisão adequada (IUDICIBUS, 1998, p. 27). De acordo com Iudícibus e Marion (2000, p. 68), o objetivo científico da Contabilidade manifesta-se na correta apresentação do Patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações. Já sob a ótica pragmática, a aplicação da Contabilidade a uma Entidade particularizada, busca prover os usuários com informações sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do Patrimônio da Entidade e suas mutações, o que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros meios. Seu objeto de estudo nada mais é do que o patrimônio da entidade, composto pelo conjunto de bens, direitos e obrigações pertencentes a uma ou mais pessoas, em seus aspectos: estático (econômico e financeiro) e dinâmico (variações sofridas pela riqueza patrimonial) e nos seus aspectos qualitativos e quantitativos visando desnudá-lo e mostrá-lo como está, no intuito de propiciar condições de intervenção no mesmo (COUTINHO et al, 2010). 2.2 Funções Quanto às funções da contabilidade, resumidamente, podemos dizer que funciona como um sistema de controle e informação das empresas. Com a análise do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício, é possível verificar a situação da empresa, sob os mais diversos enfoques, tais como: análises de estrutura, de evolução, de solvência, de garantia de capitais próprios e de terceiros, os bancos, as financeiras, aos clientes, etc. (CREPALDI, 2002, p. 24). 7 Conforme Favero et al: Analisar, interpretar e registrar os fenômenos que ocorrem no patrimônio das pessoas físicas e jurídicas, busca demonstrar a seus usuários, através de relatórios próprios (Demonstração de Resultado do Exercício, Demonstração das Mutações de Patrimônio Líquido ou Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados, Balanço Patrimonial, Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos e outros), as informações sobre o comportamento dos negócios para a tomada de decisões” (FAVERO et al, 1997, p.13). De todo modo, podemos afirmar que as funções da Contabilidade se compõem pela classificação e registro dos fatos contábeis; o controle evidenciado pelo exame da situação patrimonial; a demonstração e análise da situação patrimonial com interpretação do resultado econômico apurado, de maneira a garantir o atingimento dos objetivos previstos pela mesma. 2.2.1 Instrumento de fiscalização e controle É através da contabilidade que se registram os recursos encontrados pelo sistema contábil. A contabilidade deve ser organizada de forma a respeitar os princípios, informações e as características inerentes. Segundo Andrade (2002), a função da contabilidade como instrumento de controle é hoje unanimemente reconhecida. Um sistema de contabilidade que não esteja apoiado num eficiente controle interno é, até certo ponto, inútil uma vez que não é possível confiar nas informações contidas nos seus relatórios. Uma vez que a contabilidade é vista como um sistema de informação e mensuração de eventos que afetam a tomada de decisão, o controle interno deverá usar um sistema organizado de contabilidade de modo que possa acompanhar a execução dos aspectos financeiros e gerenciais e as operações extras orçamentais de natureza financeira ou não. O controle requer a existência de uma estrutura organizacional que defina as responsabilidades de garantir o desempenho dos setores envolvidos com a contabilidade. Ela deve pôr em evidência todo tipo de controle dos documentos e recursos materiais, levando em conta os gastos e desperdícios que podem ser evitados, para 8 controlar e obter resultados positivos com o apoio dos controles internos (CHIAVENATO, 2005; COUTINHOA et al, 2010). O controle é fundamental para executar o acompanhamento das tarefas e registros da contabilidade, além de apontar eventuais falhas. Realiza, assim, uma manutenção dos bens e aplicações dos recursos. Em virtude disso, a contabilidade como um processo de informação deve ser organizada de maneira que as informações obedeçam aos princípios contábeis geralmente aceitos, e possuam características que lhe são inerentes, entre as quais de utilidade e confiabilidade (ANDRADE, 2002). 2.3 Princípios contábeis A contabilização deve ser realizada em conformidade com os Princípios Fundamentais de Contabilidade, que são os parâmetros básicos que norteiam a realização da escrituração, através da definição de critérios e procedimentos que direcionam e uniformizam a contabilidade como atividade. Chamados também de regimes contábeis de escrituração. O CFC – Conselho Federal de Contabilidade, através da Resolução nº 750/93, dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, que ao reconhecer e oficializar esses princípios os coloca em um mesmo patamar, sem hierarquização. Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades (CFC, N. 750/93). Considerando a estrutura conceitual básica da Contabilidade, Iudícibus e Marion (2000, p. 97) e outros estudiosos os classificam em postulados, princípios e convenções. Os postulados são premissas básicas para existência da contabilidade, ou seja, são a base para a existência da contabilidade, ou ainda, uma proposição ou observação de certa realidade que pode ser considerada não sujeita a verificação. 9 Os princípios orientam quanto aos procedimentos que devem ser seguidos na realização dos registros contábeis; são preceitos básicos. As convenções delimitam o campo de atuação dos princípios, estabelecendo critérios a serem observados na aplicação dos mesmos. Os princípios contábeis adotados nas Normas Brasileiras de Contabilidade não se opõem aos da estrutura conceitual básica da Contabilidade. No entanto, estes apresentam maior abrangência e classificação científica, sendo, portanto, mais completos e mais específicos em relação a atuação do contador. São Postulados, segundo esses autores, o da Entidade Contábil e o da Continuidade, sendo que, a Resolução nº 750/1993 – CFC, os considera como Princípios Fundamentais. Estão elencados no art. 3º da Resolução citada. Prescreve ainda o §2º, do art. 1º, da mesma norma que “na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais”. Ou seja, a cada situação, o contabilista deve analisar se a forma jurídica confere com a essência econômica do fato contábil. Caso não confira, a essência deve prevalecer sobre a forma. Alguns autores consideram essa assertiva como um princípio “embrionário”. De acordo com Reis (1995, p. 7), os princípios contábeis constituem a essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, segundo entendimento dominante no universo científico profissional brasileiro. Horngren (1985, p. 394), por sua vez, afirma que os princípios contábeis transformaram-se em princípios de aceitação geral por consenso, sendo ainda que tal consenso não é influenciado somente pela análise lógica formal, mas também pela experiência, pelo uso e pela necessidade prática. Segundo Iudícibus (2004), as convenções contábeis delimitam ou qualificam melhor o tipo de comportamento necessário do contador em face dosamplos graus de liberdade que os postulados e princípios lhe permitem exercer. São restrições que representam o complemento dos postulados e princípios delimitando-lhes conceitos e atribuições (IUDÍCIBUS; MARION, 2000, p. 121). São normas de caráter prático que devem ser consideradas como guias. Conservadorismo, Consistência, Materialidade e Objetividade são as quatro convenções aceitas pelos doutrinadores. 10 Segundo Coutinho et al (2010), os princípios fundamentais da contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, de acordo com o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso país. O pronunciamento conceitual básico emitido pelo CPC, sob o título Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, classifica, tecnicamente, os princípios contábeis em dois níveis. Primeiro nível – pressupostos básicos Regime de competência - As demonstrações contábeis são preparadas conforme o regime contábil de competência. Segundo este regime, os efeitos das transações e outros eventos são reconhecidos quando ocorrem (e não quando os recursos financeiros são recebidos ou pagos) e são lançados nos registros contábeis e reportados nas demonstrações contábeis dos períodos a que se referem. As demonstrações contábeis preparadas pelo regime de competência informam aos usuários não somente as transações passadas, envolvendo o pagamento e recebimento de caixa ou outros recursos financeiros, como também as obrigações de pagamento futuras e os recursos que serão recebidos no futuro. Dessa forma, apresentam informações sobre transações passadas e outros eventos que sejam as mais úteis aos usuários na tomada de decisões econômicas. Em resumo, o regime de competência pressupõe a confrontação entre receitas e despesas. Continuidade - As demonstrações contábeis são normalmente preparadas no pressuposto de que a entidade continuará em operação no futuro previsível. Dessa forma, presume-se que a entidade não tem a intenção nem a necessidade de entrar em liquidação, nem reduzir materialmente a escala das suas operações. Segundo nível – características qualitativas das demonstrações contábeis Compreensibilidade - Uma qualidade essencial das informações apresentadas nas demonstrações contábeis é a de que elas sejam prontamente entendidas pelos usuários. Para este fim, presume-se que os usuários tenham um conhecimento razoável dos negócios, atividades econômicas e contabilidade e a disposição de estudar as informações com razoável diligência. Todavia, informações sobre assuntos complexos que devam ser incluídas nas demonstrações contábeis por conta de sua relevância para a tomada de decisão pelos usuários não devem ser excluídas em nenhuma hipótese, principalmente porque seria difícil para certos usuários entenderem. Relevância - diz respeito à influência de uma informação contábil na tomada de decisões. As informações são relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros, confirmando ou corrigindo suas avaliações anteriores. A relevância depende da natureza e também da materialidade (dimensão econômica) do item em discussão. Confiabilidade - Para ser útil, a informação deve ser confiável, livre de erros ou desvios relevantes e representar adequadamente aquilo a que se propõe. A confiabilidade torna-se uma das características mais importantes, pois trata da “primazia da essência sobre a forma”, ou seja, a forma econômica deve prevalecer sobre a forma jurídica. E ainda, é necessário também que se observem: neutralidade – imparcialidade da informação apresentada; 11 prudência – precaução nas estimativas com o cuidado para se evitar exacerbado conservadorismo; integridade – a informação deve ser a mais completa possível. Comparabilidade - As demonstrações contábeis elaboradas devem ser passíveis de comparação não somente ao longo do tempo – o que permite a visualização de tendências de evolução patrimonial – mas, também, em relação a outras empresas que exercem atividades de mesma natureza - possibilitando uma melhor visão do posicionamento da empresa no mercado em que atua. Tal característica qualitativa não deve ser confundida com o total engessamento ou imutabilidade das práticas contábeis adotadas. Sempre que a empresa estiver diante de uma prática que seja permitida por lei e abarcada pelas normas contábeis, deve-se modificar o procedimento até então adotado, tendo em vista a geração de informação com melhor qualidade. É importante observar que existem limitações às características de relevância e confiabilidade das informações. Deve ser considerado o aspecto de tempestividade na divulgação das informações – o momento adequado, uma vez que a demora injustificável ou antecipação exagerada nessa divulgação pode comprometer definitivamente a utilidade da informação para os usuários. A relação entre o custo e o benefício de produção e divulgação de uma informação deve, evidentemente, ser observada. O benefício trazido pela informação deve ser maior do que o custo de produzi-Ia. Finalmente, com relação às características qualitativas, deve se perseguir um equilíbrio adequado, evitando privilegiar uma ou mais características em detrimento de outras. 12 UNIDADE 3 – CONTABILIDADE DE CUSTOS De acordo com Pinto et al (2008), durante as décadas de 1960 a 1980, o Brasil viveu um longo período de processo inflacionário, com o seu mercado interno fechado. As empresas, na sua gestão operacional, procuravam produzir, comercializar ou prestar serviços praticamente sem controles administrativos na operação, porém com grandes controles financeiros, principalmente no que diz respeito à remarcação dos seus preços. Esse processo tornava o controle de custos algo desnecessário. Afinal, remunerávamos os estoques com a sua remarcação e, nessa ciranda, todo e qualquer erro na gestão da operação poderia ser facilmente repassado ao cliente mediante a elevação de preços, que as empresas alegavam ser referente, exclusivamente, à perda do poder aquisitivo da moeda. Entretanto, observamos ser esse processo inerente a uma proposta focada na visão financeira, já que a percepção econômica se perde em um cenário inflacionário. Tal cenário sofreu seu primeiro abalo no início da década de 1990, com a abertura do mercado interno brasileiro aos produtos e empresas estrangeiras. Chegava ao Brasil o conceito de concorrência internacional. Apesar da abertura aos produtos e às empresas estrangeiras, somente com o Plano Real, em 1994, tornamos razoáveis os índices inflacionários e, com isso, criamos toda uma necessidade de conhecimentos e controles empresariais. Esse novo ambiente empresarial fez com que muitas empresas nacionais deixassem de existir ou tivessem de passar seus controles acionários para empresas estrangeiras, seja pela falta de capacidade para administrar suas operações, seja pelo grande poder de capitalização dessas organizações internacionais. Os gestores passaram a ter necessidade de informações muito variadas. Afinal, a sobrevivência em ambiente competitivo requer conhecimentos diversificados sobre os produtos/serviços, produzidos/comercializados e, nesse contexto, a contabilidade de custos voltou a fazer parte dos controles fundamentais para a adequada gestão empresarial. 13 A contabilidade de custos, com todo o seu ambiente de interpretação dos diversos tipos de atividades e sua flexibilidade gerencial, tem como característica primária oferecer ao gestor a capacidade de gerar informações que permitam o planejamento das ações no ambiente operacional e, consecutivamente, medir os efeitos desseplanejamento nos diversos setores da organização. A necessidade de planejamento das operações torna-se fundamental por possibilitar à empresa maior capacidade de controle sobre as suas ações no presente e as ações futuras. Esses dois elementos, planejamento e controle, permitem maior qualidade no processo de tomada de decisão por parte dos gestores nos diversos ambientes da empresa, operacionais ou administrativos. A contabilidade de custos consiste em um ramo da contabilidade, propriamente dita, cujo objeto de estudo é o custeio de um produto ou serviço. Para Martins (1998), o objetivo da contabilidade de custos é, portanto, identificar, mensurar e registrar transações econômicas realizadas por uma entidade que impactem diretamente no valor a ser atribuído a um produto ou serviço produzido ou executado pela mesma O objetivo da contabilidade de custo é fornecer informações sobre os produtos, de tal forma que essas informações possam auxiliar a administração da empresa na tomadas de decisões. Nos dias atuais, a contabilidade de custos informa dados para que a empresa realize previsões, avaliações, planejamento, controle e fixações de preço, uma vez que para competir no mercado é preciso buscar a maximização dos lucros. Para Leone (2000), uma das vantagens da contabilidade de custos é que ela pode e deve fornecer informações de custos diferentes para atender necessidades gerenciais diferentes. A contabilidade de custos requer assim, a existência de métodos de custeio para que, ao final do processo, seja possível obter-se o valor a ser atribuído ao objeto de estudo. Os principais métodos de custeio são: custeio por absorção; custeio variável; custeio por atividade; custeio ABC, e o custeio por UEP. Com respeito ao crescimento mercadológico, a contabilidade de custos apoia as diversas áreas, seja financeira, de marketing, operacional ou comercial, na 14 avaliação do desempenho de determinado produto/serviço, fazendo essa avaliação em conjunto com os objetivos de lucro da empresa. Feita esta introdução aos objetivos da contabilidade de custos, destacamos que no ambiente contábil existem diversas nomenclaturas que são apresentadas no ambiente empresarial com significados diferentes e essa profusão de nomes para um mesmo conceito, em diversas situações, dificulta a correta classificação e entendimento, por parte do usuário, da informação contábil. 3.1 Terminologias de custos As terminologias mais utilizadas no ambiente da contabilidade de custos são: gasto, investimento, custo, despesa e perda. Gasto é todo esforço que a entidade realiza para a obtenção de um bem ou serviço, representado por entrega ou promessa de entrega de ativos. O gasto se concretiza quando os serviços ou bens adquiridos são prestados ou passam a ser de propriedade da empresa. São exemplos o gasto com mão-de-obra (salários e encargos sociais) = aquisição de serviços de mão-de-obra; o gasto com aquisição de mercadorias para revenda; o gasto com aquisição de matérias-primas para industrialização; o gasto com energia elétrica = aquisição de serviços de fornecimento de energia; o gasto com aluguel de edifício (aquisição de serviços) e o gasto com reorganização administrativa (serviço). Investimento é o gasto com bem ou serviço ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a períodos futuros. Como exemplos temos a aquisição de móveis e utensílios; a aquisição de imóveis; despesas pré- operacionais; aquisição de marcas e patentes; aquisição de matéria-prima (estoque). Custo são gastos acumulados para executar uma atividade, fabricar um produto ou adquirir uma mercadoria. São exemplos: salários do pessoal da produção; matéria-prima utilizada no processo produtivo; mercadorias para venda; combustíveis e lubrificantes usados nas máquinas da fábrica; aluguéis e seguros do prédio da fábrica; depreciação dos equipamentos da fábrica; gastos com manutenção das máquinas da fábrica. 15 Despesa são gastos com bens e serviços consumidos direta ou indiretamente com a finalidade de obtenção de receitas. A forma como os gastos impactam o resultado redefinirá sua classificação. Se esses gastos não impactam o resultado, mas o farão no futuro, serão estocados e, portanto, representam investimentos. Se esses gastos impactam o resultado de forma direta, ou seja, são os responsáveis diretos pela geração de receita, representam custo das mercadorias vendidas, custo dos produtos vendidos ou custo dos serviços prestados. Se esses gastos impactam o resultado de forma indireta, ou seja, são responsáveis indiretamente pela geração de receita e estiverem correlacionados com a operação dos negócios, serão despesas operacionais; porém, se não estiverem correlacionados com a operação dos negócios, será despesas não operacionais. Finalmente, se esses gastos não impactam o resultado nem o farão no futuro, representam perdas (figura 1). Perda é um gasto não-intencional decorrente de fatores externos fortuitos ou da atividade produtiva normal da empresa. No primeiro caso (fatores externos fortuitos), as perdas são consideradas da mesma natureza que as despesas e são apropriadas diretamente contra o resultado do período. São exemplos: incêndio; obsoletismo de estoques; período de greve; enchente; furto/roubo. 16 No segundo caso (atividade produtiva normal), no qual se enquadram, por exemplo, as perdas normais de matérias-primas na produção industrial, elas integram o custo de produção. São exemplos: uma indústria de estamparia que aproveita apenas 80% da chapa de aço e considera 20% como perda técnica; o camiseiro que considera como custo o preço do pano total comprado, não se importando com os retalhos. 3.2 Classificação dos custos Os custos podem ter as seguintes classificações: Custos diretos - São aqueles que podem ser apropriados diretamente aos produtos fabricados, porque existe uma medida objetiva de seu consumo nessa fabricação. São exemplos: matéria-prima – normalmente, a empresa sabe qual a quantidade exata que está sendo utilizada para a produção de uma unidade do produto; mão-de-obra direta – trata-se dos custos com os trabalhadores utilizados diretamente na produção. Sabendo-se quanto tempo cada um trabalhou no produto e o valor da mão-de-obra, é possível apropriá-Ia diretamente ao produto; material de embalagem; depreciação de equipamento quando é utilizado para produzir apenas um tipo de produto; energia elétrica das máquinas, quando é possível saber quanto foi consumido na produção de cada produto. Custos indiretos - São os custos que dependem de cálculos, rateios ou estimativas para serem apropriados em diferentes produtos; portanto, são os custos que só são apropriados indiretamente aos produtos. O parâmetro utilizado para as estimativas é chamado de base ou critério de rateio. São exemplos: depreciação de equipamentos que são utilizados na fabricação de mais de um produto; salários dos chefes de supervisão de equipes de produção; aluguel da fábrica; gastos com limpeza da fábrica; energia elétrica que não pode ser associada a determinado produto (PINTO et al, 2008). Custos fixos - São aqueles cujos valores serão os mesmos, independentemente do volume de produção e vendas da empresa. É o caso, por exemplo, do aluguel da fábrica. Este será cobrado pelo mesmo valor qualquer que seja o nível de produção, inclusive no caso de a fábrica nada produzir. 17 Segundo Pinto et al (2008), os custos fixos são fixos em relação ao volume de produção, mas podem variar de valor no decorrer do tempo ou até o limite da capacidade do ativo gerador do custo fixo. O aluguel da fábrica, mesmo quando sofre reajuste em determinado mês, não deixa de ser considerado um custo fixo, uma vez que terá o mesmovalor qualquer que seja a produção do mês. Da mesma forma, o aluguel da fábrica só será constante até o limite do espaço do parque fabril disponível. Caso aumente a demanda da empresa por espaço, haverá aumento no Custo fixo pela necessidade de locação de nova área. São exemplos de custos fixos: o imposto predial; depreciação dos equipamentos (pelo método linear); salários de vigias e porteiros da fábrica; prêmios de seguro. Custos variáveis - São aqueles cujos valores se alteram em função da quantidade produzida ou do volume de vendas da empresa. No primeiro caso, os custos variáveis estão atrelados ao produto e aumentam na mesma medida do aumento da produção e, se não houver quantidade produzida, o custo variável será nulo. São exemplos de custos variáveis: materiais diretos consumidos (matéria- prima); depreciação dos equipamentos (quando esta for feita em função das horas/máquina trabalhadas); gastos com horas extras na produção. No segundo caso, os custos variáveis estão atrelados a um percentual do faturamento e aumentam na mesma medida do aumento das vendas, sendo que seu valor depende tanto da quantidade vendida, quanto do preço da venda. Exemplos: comissão de vendas; descontos concedidos. Custos semifixos - São custos que são fixos numa determinada faixa de produção, mas que variam se há uma mudança nessa faixa. Custos semivariáveis - São custos que variam com o nível de produção, porém possuem uma parcela fixa que existe mesmo que não haja produção. É o caso, por exemplo, da conta de energia elétrica da fábrica, na qual a concessionária cobra uma taxa mínima, mesmo que nada seja gasto no período, embora o valor da conta dependa do número de quilowatts consumidos e, portanto, do volume de produção da empresa. Outros exemplos: aluguel de uma copiadora, no qual se cobra uma parcela fixa mesmo que nenhuma cópia seja tirada; gasto com combustível para aquecimento de uma caldeira, que varia de acordo com o nível de 18 atividade, mas que existirá, mesmo que seja num valor mínimo, quando nada se produza, já que a caldeira não pode esfriar (PINTO et al, 2008). A partir do entendimento do comportamento dos custos, podemos traçar o gráfico dos custos totais. No gráfico abaixo temos uma boa representação. Figura 2 - Custos totais Fonte: Pinto et al (2008, p. 29) 19 UNIDADE 4 – MÉTODOS DE CUSTEIO E TOMADAS DE DECISÃO 4.1 A gestão estratégica dos custos É importante considerar que num ambiente de grande concorrência a escolha da metodologia de custos e sistema de informações gerenciais deve ser relevante, pois a eficácia na busca pelo lucro só será possível para quem possuir uma visão sistêmica do processo, para que possam identificar o mix ideal de vendas com produtos de maior valor agregado e consiga atuar sobre os produtos que geram menos lucro tornando-os mais competitivos. O gerenciamento de custos deve ser considerado de importância vital ao sucesso nos negócios de uma empresa (FAGUNDES, 2009). Atualmente, a revolução tecnológica repercute diretamente nos resultados das empresas, sobre a forma que as empresas demonstram suas informações e, principalmente, na velocidade das tomadas de decisões, de tal maneira que quem não manter um sistema eficaz está muito longe de conseguir resultados positivos em suas negociações. Toscani (1998) diz que o controle de custos organiza, analisa e interpreta os custos dos produtos, dos inventários, dos serviços, dos componentes da organização, dos planos operacionais e das atividades de distribuição para determinar o lucro. O gerenciamento de custos exige um conjunto de procedimentos empregado para a determinação do custo de um produto e das várias atividades relacionadas para sua fabricação e venda, para auxiliar o planejamento e a mensuração de desempenho da empresa. Os custos diretos ou indiretos permitem informações suficientes para chegar ao valor real do custo de produção de cada produto. Dutra (1995, p. 35) define “custo direto como aquele que pode ser diretamente apropriado a cada tipo de bem ou órgão, no momento da sua ocorrência, isto é, está ligado diretamente a cada tipo de bem ou função.” Portanto, custos diretos são todos os custos que possuem facilidade na sua percepção, sendo diretamente relacionados ao produto feito. 20 Crepaldi (1999, p. 59) acrescenta que “os custos indiretos são os custos que dependem de cálculos, rateios ou estimativas para serem apropriados em diferentes produtos, portanto, que só são apropriados indiretamente aos produtos”. O termo indireto significa ser impossível uma segura identificação de seus valores e quantidades em relação ao produto. De acordo com Martins (1998, p. 56), “os custos fixos são os que num período tem seu montante fixado não em função de oscilações na atividade: variáveis os que têm seu valor determinado em função da oscilação na produção.” Portanto, custos fixos são aqueles cujo total não varia proporcionalmente ao volume produzido, como por exemplo, o aluguel e o seguro, já os custos variáveis variam proporcionalmente ao volume produzido, ou seja, se não houver quantidade produzida, o custo variável será nulo. Outros exemplos de custos variáveis: matéria-prima e embalagens. Martins (1998, p. 25) conceitua custo como “o gasto relativo à bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços. E despesas como os bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receita.” Quando uma organização não conhece seus respectivos potenciais de gerar lucro através da redução dos custos unitários na fabricação ou na escolha da melhor programação de produção reduzindo gargalos produtivos, ou ainda, antes de investir em um processo produtivo, a empresa não analisa onde o dinheiro pode gerar mais resultado, ela deixa de ganhar ou gerar lucro, traduzindo-se em um custo de oportunidade. Martins (1998) define os custos de oportunidade como sendo: o valor do benefício que se deixa de ganhar quando, no processo decisório, se toma um caminho ou uma alternativa em detrimento de outra. Entre os custos de oportunidade que existem no processo produtivo existem ainda as perdas que, por sua vez, devem ser consideradas como custo de oportunidade, ou seja, o lucro que a empresa deixou de realizar por ter perdido. A perda é considerada por Martins (1998, p. 26) como um bem ou serviço consumido de forma anormal e involuntária, não sendo um sacrifício feito com intenção de obtenção de receita, sendo exemplos mais comuns: perda com incêndios e obsoletismo de estoques. 21 Sob essas proposições, a gestão de custos e sistemas de custeio estão estreitamente vinculados à trajetória estratégica escolhida pela empresa. Esta trajetória terá influência decisiva na definição e desenvolvimento do sistema de custos a ser implantado na indústria. 4.2 Métodos de custeio Segundo Pinto et al (2008), a apuração dos custos é fundamental para o cálculo da lucratividade da empresa, apoiando também o gestor na análise da viabilidade do negócio e sua atratividade. Há a necessidade de identificar o custo unitário de um produto ou serviço por diversas razões. Primeiro porque ele é utilizado para valorar o estoque, um dos itens das demonstrações contábeis. Segundo, o custo de unidade vendida é transferido da conta estoque para a conta custo das mercadorias vendidas, e esta, por sua vez, tem seu valor deduzido da conta receita, determinando, então, o resultado. Finalmente, a gestão necessita do custo unitário de um produto para ajudá-Ia em várias decisões, como, por exemplo, calcular o preço de venda. Nesse sentido, o sistema de contabilidade de custos geralmente acumula custos com alguma classificação “natural” e, depois, aloca (associa) esses custosa algum objetivo de custos (método de custo). Portanto, identificados os custos e observadas as classificações, as empresas procedem a sua alocação nos produtos respectivos. É justamente nessa hora que surgem as indagações quanto à confiabilidade das informações geradas, em função da sua necessidade para um processo decisório quanto à diversificação de linha, quanto à ampliação e ao lançamento de novos produtos, entre outros (PINTO et al, 2008). Vamos discorrer sobre três métodos de custeio: por absorção, variável ou direto e por atividades (ABC). O método de custeio por absorção representa uma exigência da legislação societária e consiste em alocar aos produtos ou serviços todos os custos incorridos, sejam eles diretos ou indiretos. No método por absorção, os fluxos de produção seguem os parâmetros apresentados na figura 3. 22 Figura 3 – Método de custeio por absorção ou funcional Fonte: Pinto et al (2008, p. 41) Este método também é conhecido como modelo funcional, pois as despesas do período são classificadas pela sua função dentro do processo de geração de receita, ou seja, em produção, administrativas, vendas e financeiras. Além disso, o método é denominado absorção porque, nas despesas relacionadas com a produção, são considerados os custos fabris diretos e indiretos, alocados aos produtos por algum critério de rateio, relacionados aos produtos que geraram as receitas do período. Ou seja, os produtos absorvem todos os gastos relacionados ao processo produtivo. Neste método não há preocupação em classificar previamente os custos em fixos e variáveis, pois a ordem é a segregação das despesas do período por funções. Os custos dos produtos em processo, ou acabados em estoque, permanecem ativados para serem confrontados com as receitas futuras por ocasião da geração das receitas de vendas. Nos valores de produtos em processo estão incorporados os custos fixos indiretos alocados anteriormente. A demonstração de resultados do exercício (DRE), apresentada pelo método de custeio por absorção, é aquela exigida oficialmente pela lei das sociedades anônimas. 23 Quando se usa o custeio por absorção acontecem alguns erros básicos que fazem com que o gestor não tenha noção da ociosidade da empresa. Se a empresa, por exemplo, deixar de fabricar um produto, todos os custos rateados a ele serão realocados para outros produtos. Só que a ociosidade gerada não será imediatamente localizada. Os quatro erros básicos seriam: 1) não há identificação se os produtos realmente agregam valor para a empresa; 2) não considera o comportamento dos custos, caso, por exemplo, se aumente a quantidade produzida; 3) os critérios de rateio são arbitrários e, por isso, prejudicam a gestão da empresa; 4) os produtos absorvem todos os custos. Surge, assim, no âmbito gerencial, o uso do custeio variável ou direto. O Método de custeio variável ou direto desenvolveu-se em virtude de o gestor demandar informações mais úteis ao processo gerencial. Em sua visão, os custos fabris são previamente classificados em variáveis e fixos, e apenas os custos variáveis são alocados aos produtos. Como consequência, apenas os custos variáveis serão ativados em produtos em processo. Nesse método, o princípio da competência não é observado, pois a parcela dos custos fixos que contribuiu com os produtos em processo ou acabados ainda não vendidos não permanecerá ativada, mas serão confrontadas como despesa do período as receitas geradas pelos produtos vendidos. De forma resumida, nesse método, os fluxos de produção seguem os parâmetros seguintes, conforme a figura 4. 24 Figura 4 – Método de custeio variável Fonte: Pinto et al (2008, p. 41) A principal ideia do método variável ou direto é separar os custos variáveis, juntando a eles as despesas variáveis, indicando com clareza quais os gastos próprios de cada produto ou serviço, antes da incidência dos custos e das despesas fixas, requisitadas pela organização. Separa-se, portanto, o que realmente pertence a cada produto e varia conforme a sua quantidade (custos variáveis), e o que pertence à capacidade estrutural da organização e que, portanto, independe da quantidade produzida (custos fixos). Assim, o gestor consegue calcular quanto os produtos e serviços contribuíram para que a empresa possa cobrir seus gastos fixos e, ainda, remunerar os investidores. Surgimento do método de custeio por atividade – ABC. Com o passar do tempo e uso da tecnologia, os custos indiretos das empresas tornaram-se mais relevantes, fazendo com que a empresa necessitasse de mecanismos mais precisos para apurar o custo dos produtos. Já o método variável ou direto agrega informações, principalmente de curto prazo, visto que os custos fixos só serão constantes em certo período. Além disso, como os produtos não absorvem os custos fixos, porque estes pertencem à 25 empresa, essa metodologia não apura os custos unitários, podendo prejudicar a formação de preços, mensuração de lucratividade e valorização dos estoques. Surge então uma metodologia batizada como Activity Based Costing (ABC). Este é um método de custeio baseado na análise das atividades significativas desenvolvidas na empresa. Visa eliminar as limitações impostas pelos sistemas tradicionais de custeio. Cooper e Kaplan (1998) consideram que o ABC é uma abordagem que analisa o comportamento dos custos por atividade, estabelecendo relações entre as atividades e o consumo de recursos, independente de fronteiras departamentais, permitindo a identificação dos fatores que levam a instituição ou empresa a incorrer em custos em seus processos de oferta de produtos e serviços e de atendimento a mercados e clientes. O objetivo principal do sistema ABC é a alocação racional dos gastos indiretos aos bens e serviços produzidos, proporcionando um controle mais apurado dos gastos da empresa e melhor suporte nas decisões gerenciais. Em princípio, o sistema baseado em atividades pode ser aplicado em qualquer empresa, de qualquer porte ou natureza. De forma comparativa, da mesma forma que o método por absorção diz que os produtos absorvem todos os custos, nós, humanos, consumimos energia elétrica. Pela visão do custeio ABC, no entanto, nós não consumimos energia elétrica. Quem consome são os eletrodomésticos. Nós usamos os eletrodomésticos. Ou seja, os produtos não consomem recursos. Na verdade, quem consome os recursos são as diversas atividades executadas pela empresa. Os produtos consomem tais atividades, como pode ser demonstrado na figura 5. 26 Figura 5 – Consumo de recursos Fonte: Pinto et al (2008, p. 56) Considerando a maior complexidade do sistema ABC comparado com o sistema de custeio tradicional, por ocasião da avaliação quanto à conveniência da mudança na sistemática, é recomendável a aplicação somente nos seguintes casos: • o custo indireto ser a parcela significativa na composição do custo total; • diversidade de produtos e/ou serviços com variação relevante nos volumes de produção ou processo produtivo encomendas especiais onde volume e/ou especificações do produto variam de acordo com determinações impostas pelo cliente. Portanto, antes de qualquer reestruturação no sistema de custeio, faz-se necessário uma análise minuciosa das operações da empresa no sentido de se conhecer as atividades significativas, concluindo sobre a adequação, ou não, da implantação e operacionalização do sistema de custeio ABC. A utilização do método de custeio por atividades pode proporcionar benefícios interessantes para o correto rateio de custos indiretos aos produtos, tais como: • inclusão da totalidade dos custos nos produtos, por meio das atividades. Considerandoque todas as atividades que geram valor existem em função dos produtos, seus custos devem ser atribuídos; 27 • estimativa de cada atividade em termos de objetivos da organização; • por se tratar de um método baseado em atividades, tende a exibir o vínculo destas com seus resultados (produtos, serviços, clientes, projetos); • o sistema ABC se diferencia pelo momento em que os custos começam a ser computados - por exemplo, em um processo industrial, os custos gerados pelo recebimento da matéria-prima são considerados na formação do custo do produto. Nos sistemas tradicionais, a acumulação dos custos do produto inicia-se somente com o processamento da matéria-prima, tornando todo o processo de custeamento mais preciso. No ABC são computadas, também, as despesas que irão decorrer da garantia e do atendimento ao consumidor após o momento da entrega do produto. Nos sistemas tradicionais, não existe esse tipo de preocupação, sendo o custo do produto encerrado no momento da sua passagem ao estoque de produtos acabados; • questionamento constante do sistema de produção é próprio do sistema ABC que, ao contrário dos sistemas tradicionais, está sempre buscando formas alternativas de produção visando à redução dos custos, verificando as atividades que agregam valor e aquelas que o cliente não estaria disposto a custear. Com isso, esse sistema se torna ideal para as empresas preocupadas com a satisfação do cliente e a manutenção da qualidade dos produtos e serviços prestados. Por outro lado, o método de custeio por atividades pode apresentar as seguintes distorções: • necessidade de apuração de custos fixos unitários, o que pode criar alguma dúvida com o conceito de custos variáveis; • alto custo de implementação pela ampla complexidade de localização e mensuração das diversas atividades existentes; • incomparabilidade entre os custos de concorrentes, em decorrência do processo antes citado. Dessa forma, pode-se afirmar que os métodos aqui expostos refletem as visões financeira, operacional e estratégica de uma organização. Ao se falar do 28 método de custeio por absorção, observamos que os usuários das informações são os acionistas externos, financiadores e autoridades fiscais, com objetivos específicos da contabilidade financeira. Ao se falar do método de custeio variável, observamos que os usuários são os gerentes de linha e as equipes de melhoria de processos, que necessitam trabalhar com a margem de contribuição individual de seus produtos, em casos de tomada de decisão para exclusão e/ou de ampliação de portfólio. Quando falamos do método de custeio por atividades, observamos que os usuários são os planejadores estratégicos e gestores de custos, que defenderão as justificativas de investimentos, baseados no custeio de ciclo de vida dos produtos (PINTO et al, 2008). 4.3 O método da Unidade de Produção (UP) O método de UP é muito útil para indústrias que possuem em sua linha de produção diferentes produtos sendo fabricados, pode ser uma ferramenta muito útil para os gestores, pois segundo Allora (1995, p. 8), o método UP significa tecnologia de gestão de desempenho e custos voltada para a melhoria de processos, redução de custos dos produtos, aumento da rentabilidade dos produtos e melhoria real da lucratividade da empresa. Para Morozini (2006, p. 146), uma das vantagens deste método é que ele “permite medir o desempenho da produção, verificar a viabilidade de aquisição de novos equipamentos, programador de produção e comparar processos, entre outros.” A produção de uma fábrica durante um determinado período corresponde ao conjunto de objetos fabricados, sejam acabados, semiacabados ou em andamento (ALLORA, 1996). As quantidades e tipos de artigos fabricados em uma indústria são enumerados para medir o desempenho realizado em determinado período, considerando-se que o número de peças, os metros na tecelagem e confecções, o quilograma na fundição e mecânica, as horas de trabalho, são todas unidades imperfeitas, que não refletem o verdadeiro valor e desempenho da produção 29 (ALLORA, 1995). Portanto, a produção não dispõe de uma unidade de medida própria, quaisquer que sejam os produtos fabricados. De acordo com Bornia (1995), uma das vantagens da utilização deste método é devido a simplificação na maneira de realizar os cálculos de produção de um período, devido a utilização de uma única unidade medida para todos os produtos da empresa. Segundo explica Allora (1995, p. 52), as medidas comumente usadas na indústria são unidades imperfeitas, porque “não representam o verdadeiro valor da produção.” Concluem os autores que através destas medições não existe uma unidade de medida que permita medir com exatidão uma produção, qualquer que sejam os produtos fabricados. O método UP, vem para resolver este problema, pois representa uma unidade única para medir a produção diversificada de uma empresa, obtendo-se uma melhor ideia de produção e evitando-se que as quantidades e tipos de artigos fabricados sejam simplesmente enumerados (KUHN, FRANCISCO, KOVALESKI, 2011). 30 UNIDADE 5 – FORMAÇÃO DE PREÇOS Segundo Pinto et al (2008), a formação de preços é um dos problemas mais delicados das organizações, ainda mais com a competitividade do mundo de hoje. De certa forma, uma diferença relativamente pequena no preço pode gerar efeitos dramáticos na lucratividade do bem ou serviço. Um estudo conduzido pela McKinsey (1992 apud PINTO et al, 2008), com mais de 2.400 empresas, mostra o impacto de várias decisões sobre os resultados finais: uma redução de 1% nos custos fixos melhora a lucratividade em 2,3%; um aumento de 1% no volume das vendas resulta em uma elevação de 3,3% nos lucros; uma redução de 1%nos custos variáveis ocasiona um aumento de 7,8% nos lucros e um aumento de 1% nos preços pode elevar a lucratividade em 11%. Vamos analisar alguns conceitos importantes na formação de preço. Preço é a expressão monetária do valor de um produto ou serviço, podendo ser amplamente definido como: o elemento mais flexível do composto de marketing. Há dois pontos de vista a considerar em relação ao preço. Primeiro, para a empresa, preço é a quantidade de dinheiro que está disposta a aceitar em troca de um produto. Para os consumidores, preço é algo que estão dispostos a pagar em troca de um produto. Existem três abordagens quanto à formação de preços, baseadas em custos, em percepção de valor e na concorrência. 1) Formação de preços baseado em custos A metodologia consagrada por muitas empresas é aquela que define uma sistemática baseada nos esforços produtivos para se obter o preço de um bem ou serviço. Há a intenção de que o investidor obtenha lucro compatível com seus investimentos e, portanto, a receita deve cobrir os custos operacionais e gerar um lucro. De forma geral, o modelo de preço baseado em custos pode ser explicado pela figura 6. Percebe-se que o produto gera o custo e, a partir de uma margem de lucro, estabelece-se o preço-meta a ser cobrado ao público. 31 Fonte: Adaptada de Kotler (1998, p. 246). 2)Formação de preços baseado em percepção de valor Neste método de formação de preços, independentemente dos custos dos produtos, a tomada de decisão dos clientes está em sua percepção de valor. Dessa maneira, as empresas buscam mensurar quanto eles estão dispostos a pagar em troca de um bem ou serviço. Com base no preço que os clientes desejam pagar e considerando o lucro esperado pelos acionistas, estima-se o custo-meta, isto é, o custo que o produto deve ter, conforme a figura 7. Fonte: adaptada de Kotler (1998, p. 246). Percebe-se que o mercado acaba delimitando o produto a ser comercializado,tendo em vista que é a sua percepção de valor que irá direcionar os administradores a moldarem seus produtos de acordo com o custo-meta. 3)Formação de preços baseado no concorrência Muitas vezes, a tomada de decisão dos consumidores está intimamente ligada à simples comparação do preço de um produto com outro do concorrente. Tal julgamento tem como premissa a força da marca das empresas e a percepção das diferenças existentes entre os produtos. Se forem semelhantes e proporcionarem os mesmos benefícios, a decisão se fundamentará na variável preço. Assim, a empresa estabelece seu preço em um patamar acima, igual ou inferior ao preço de seus competidores. O modelo pode ser representado pela figura 8. 32 Fonte: adaptada de Kotler (1998, p. 246). Tal precificação considera que a concorrência interfere diretamente no valor do produto a ser vendido e, consequentemente, no estabelecimento do preço. Independentemente do modelo a ser escolhido, os gestores devem considerar inúmeras variáveis que influenciam a precificação, como percepção de valor, preço da concorrência, estratégias predefinidas, entre outras. Entretanto, são os objetivos financeiros aqueles que mais irão influenciar a tomada de decisões, como lucratividade e maximização do valor das ações. Assim, os objetivos não mensuráveis podem ser importantes e devem ser levados em conta sempre que pertinentes à avaliação do êxito do empreendimento, mas os objetivos financeiros terão um peso maior nesta avaliação, já que a cobertura dos custos e a geração do lucro são essenciais para a continuidade de qualquer empreendimento (PINTO et al, 2008). Enfim, a administração estratégica de preços tem como propósito criar decisões de preços com base em inúmeros fatores; os mais comuns são os fatores de mercado e financeiros. Não há dúvidas que o preço é um dos componentes fundamentais para tornar economicamente viável a oferta de bens ou serviços por parte de qualquer empresa. Dessa forma, nenhum elemento é capaz de justificar a prática de um preço médio inapropriado por longo tempo. Está comprovado também, que os bons resultados econômico-financeiros dependem de um preço de venda justo. Quando se fala de globalização, observa-se que as empresas têm que se ajustar aos preços praticados pelo mercado internacional. Quando a empresa fixa preços, ela tem que considerar estratégias e políticas prefixadas, analisando determinados aspectos, tais como mercado, market share, elasticidade de preço, etc. Muitas vezes, as empresas, antes de lançarem produtos, fazem análises econômico-financeiras e de mercado; depois, porém, que estão no mercado, observam que tais produtos já não atendem às necessidades do 33 consumidor. Isso pode ser causado por vários motivos, como entrada de outros concorrentes no mercado, mudanças nas condições financeiras do consumidor, etc. Não é aconselhável que a empresa pratique preços que não cubram os custos por longo tempo; só poderá agir dessa forma se tiver objetivos estratégicos que justifiquem tal procedimento. Conforme já dito anteriormente, o principal propósito de qualquer decisão da empresa é a geração de lucro e valor para o acionista, mediante retorno sobre o investimento; assim, esse é também o principal objetivo da decisão de preços. Outros objetivos são perseguidos; entre eles, podemos citar: • Aumentar vendas e participação no mercado; • Evitar a competição e assegurar a sobrevivência; • Ser líder de preços com sustentabilidade; • Ter uma gestão eficiente da sua estrutura de custos e despesas fixas. 34 UNIDADE 6 – PLANEJAMENTO E CONTABILIDADE FINANCEIRA A administração financeira tem demonstrado ao longo do tempo notável evolução conceitual e prática. De uma posição inicial menos ambiciosa para uma postura mais reveladora e questionadora em relação ao comportamento do mercado em geral e ao processo de tomada de decisões empresariais, essa evolução da área financeira possibilitou ao administrador contemporâneo uma necessidade nítida de maior visualização de toda a empresa, realçando suas estratégias de competitividade, continuidade e crescimento futuro. Segundo Assaf Neto (2005, p. 32), “a Administração Financeira é um campo de estudo teórico e prático que objetiva, essencialmente, assegurar um melhor e mais eficiente processo empresarial de captação e alocação de recursos de capital.” O administrador financeiro está mais preocupado em manter a solvência da empresa, proporcionando os fluxos de caixa necessários para honrar as suas obrigações e adquirir e financiar os ativos circulantes e fixos, necessários para atingir as metas da empresa. Ao invés de reconhecer receitas no ponto de vendas e despesas quando incorridas, reconhece receitas e despesas somente com respeito às entradas e saídas de caixa. De acordo com Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2005, p. 8), o administrador financeiro é responsável pela captação de fundos de curto prazo necessário às atividades diárias da empresa, e pela captação de recursos de longo prazo, necessários ao financiamento da expansão das atividades da empresa. Para os mesmos autores (2005, p. 4), a Administração Financeira objetiva maximizar a riqueza dos acionistas da empresa, sendo o administrador financeiro o principal responsável pela criação de valor da empresa. Dentre as inúmeras atividades desempenhadas por esta função, pode-se elencar as decisões estratégicas, como a seleção de alternativas de investimentos e as decisões de financiamento de longo prazo, além das operações de curto prazo, como a gestão do caixa, o gerenciamento do risco etc. 35 E a contabilidade financeira? Onde surgiu e com quais objetivos? A contabilidade de maneira geral é um instrumento de controle patrimonial e de apoio ao processo de decisão. Sua história nos remete aos primórdios da civilização e está fortemente relacionada à necessidade social de proteção à posse e de perpetuação de meios materiais. Com a fixação do homem à terra e sua consequente exploração para a criação da riqueza individual, surge o senso de propriedade. Com a morte do “proprietário”, a riqueza a ser herdada passou a se chamar patrimônio, termo que se generalizou para qualquer conjunto de valores. Com o aparecimento e incremento das atividades de troca e venda de mercadorias realizadas pelos comerciantes, surgiu a necessidade do acompanhamento das variações de seus bens quando cada transação era efetuada e dos registros do comércio. À medida que o volume das transações aumentava, o mesmo acontecia com a quantidade de valores. As informações não eram de fácil memorização quando em maior volume, requerendo registros (COUTINHO et al, 2010). As operações comerciais tornaram-se mais complexas, e o seu controle ficou mais exigente e detalhado. Surgiram os conceitos de caixa, rendas, lucros, receitas e despesas. No século XV, temos a difusão do sistema de partidas dobradas, que passa a ser a base da formação das regras de negócio de todo e qualquer sistema contábil. No Brasil, a vinda da Família Real portuguesa e a abertura dos portos incrementaram a atividade comercial. Naquele momento, o Brasil passou a estruturar um sistema de arrecadação de impostos, que exigia mais intensamente o controle patrimonial das atividades comerciais. Derivadas de um comportamento empresarial incipiente, as informações contábeis ainda sofrem a interferência de uma cultura nociva: quanto é que você quer que dê? O negócio ou empreendimento, quando iniciado, carrega esse modelo. O escopo maior é a prática da elisão fiscal que, revestida de informalidade, incentiva a pagar menos ou, preferencialmente, não pagar os impostos incidentes sobre o lucro (COUTINHO et al, 2010). Com essa postura, além da ausênciade vocação para empreendedor e da inexperiência do negócio, são mínimas as chances de sucesso do empreendimento. 36 O antídoto para esses riscos é colocar em prática um fluxo de informações que mapeie preventivamente as dificuldades à frente, com tempo hábil para que sejam solucionadas. Outro ponto fundamental para vencer as adversidades é a conquista do equilíbrio financeiro, destacando-se a formação de um banco de dados que permita formar o preço dos produtos e serviços. Essa prática exige quantidade analítica mínima de informações que permita maior compreensão e comprometimento com o negócio. Cenários macroeconômicos devem ser previstos e adotados, simulando as informações na aproximação das metas estabelecidas. Nesse ambiente, mais uma vez, a presença do risco induz o empreendedor a tomar um caminho mais curto, optando pela prática da elisão fiscal como tábua de salvação. A renúncia e a aversão ao risco criam um sentimento que vicia a tomada de decisão, transformando a gestão em algo quase que empírico. Por outro lado, a presença da vocação na condução dos negócios traduz-se em uma eficiente e eficaz tomada de decisão na promoção da sobrevivência e do crescimento do próprio negócio. Com esse objetivo, e na tentativa de proporcionar maior entendimento e organização na gestão, são apresentados os conceitos intrínsecos em quatro paradigmas que, se observados e praticados, permitirão alcançar os resultados desejados. Os paradigmas empresariais Capacidade de gerar lucro De desempenho Crescimento sustentável Paradigma De gestão Dinâmica de valores circulantes compatibilização Capacidade de gerar lucro (paradigma de desempenho), estabelece a capacidade de geração de lucro, apresentando uma relação da taxa interna de retorno (TIR) maior que o custo de capital aportado. De maneira a tornar a 37 exposição clara, vamos tomar por base a fase pré-operacional, isto é, o início das atividades de um empreendimento. Os investidores, acionistas ou empreendedores, após alguns estudos entre as metodologias existentes, avaliam alternativas de investimentos, decidindo aportar seus recursos no início de uma atividade econômica. Como prioridades, a vocação para os negócios e, em seguida, a obtenção da remuneração desejada do capital investido. A empresa recém-constituída ou em fase de implementação investe seus recursos, agora considerados próprios, na atividade econômica: capital circulante e investimentos fixos. Para a empresa, os recursos originários dos investidores e dos acionistas possuem um custo chamado de custo do capital. Para eles, investidores, é a remuneração desejada em função da alternativa escolhida. Concluindo-se, estabelece que a taxa interna de retorno (TIR) deve ser maior do que o custo do capital para que esse paradigma seja considerado verdadeiro e legitimado. Quando o objetivo é alcançado, superando a taxa desejada e mantida essa condição na atividade econômica, elege-se o empreendimento como gerador pleno de lucros. Crescimento sustentável (paradigma de desempenho) A gestão empresarial, para se tornar blindada às crises internas e externas, deve praticar o crescimento sustentável. Esse paradigma estabelece a prática de reinvestir a maior parte possível do lucro gerado pela empresa em sua própria atividade. A política empresarial nociva ao empreendimento, nesse ponto, sinaliza pela retirada em prol da satisfação pessoal do investidor, contribuindo para a desestabilização financeira. Distribuir desregradamente o lucro gerado é pouco recomendável. Pode-se estabelecer um salário a título de retirada mensal pela dedicação executiva e, ao final de cada exercício, distribuir dividendos a título de remuneração do capital investido. Reinvestir esse lucro na expansão dos negócios contribui para o crescimento econômico com maior produtividade, a manutenção do negócio permite a prática de uma visão de longo prazo. 38 Compatibilização (paradigma de gestão) O equilíbrio financeiro acontece quando se pratica o paradigma da compatibilização, isto é, compatibilizar os prazos dos recursos com os prazos dos investimentos. Assim, os recursos de terceiros de curto prazo, também conhecidos como de funcionamento e financiamento, financiam prioritariamente os investimentos circulantes tais como: manutenção de liquidez, vendas a prazo e estoques. Os recursos de terceiros de longo prazo devem financiar a expansão e o crescimento, ou seja, os investimentos em bens de capital, pesquisa e desenvolvimento e tecnologia. Em casos especiais, podem financiar coligadas ou controladas, por meio de adiantamentos para futuro aumento de capital (Afac) da controladora e operações de mútuo com pessoas ligadas. Esse paradigma, quando praticado, reflete-se no equilíbrio do fluxo de caixa com relevância à paridade de encargos financeiros, quando comparados com a taxa de retorno dos investimentos. Traduz a prática de elaboração de projetos de investimentos que visem ampliar a capacidade instalada de produção, comercialização e serviços. Tais projetos consideram uma participação de recursos próprios da empresa como contrapartida aos recursos de instituições credoras ou investidores. A dinâmica de valores circulantes (paradigma de gestão) reúne dois fatores derivados dos paradigmas anteriores: a capacidade de gerar lucro e o crescimento sustentável. Esse paradigma estabelece a relação entre a força de demanda, vendas e o lucro gerado por essa força, isto é: quanto maior a rotação dos valores circulantes, maior o retorno dos recursos neles investidos. Exemplificando: Observa-se que, à medida que o mercado é estimulado, as vendas aumentam, imprimindo maior velocidade aos estoques, aumentando o giro e alavancando o lucro gerado no negócio. 39 Logo, o paradigma da dinâmica de valores circulantes estabelece que quanto maior o giro dos valores circulantes (disponibilidades, estoques e duplicatas a receber), maior o retorno dos recursos neles investidos. Esse paradigma ressalta a importância de se observar o comportamento volátil do ciclo operacional, adequado às formas de negociação de clientes com fornecedores: vendas à vista para compra à vista; vendas à vista para compras a prazo; vendas a prazo para compras à vista; e venda a prazo para compras a prazo. As formas nem sempre são escolhidas aleatoriamente ou conforme a conveniência do gestor. A preferência recai na segunda forma, restaurando a liquidez e permitindo equilibrar o fluxo de caixa. A interpretação e utilização de todas as informações contábeis deve ser precedida do conhecimento de todos os conceitos e princípios que fundamentam o registro dos fatos contábeis, com o objetivo de se obter o melhor resultado, como veremos a seguir. A contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização. Conceitua-se como usuário toda pessoa física ou jurídica que tenha interesse na avaliação da situação e do progresso de determinada entidade, seja uma empresa, ente de finalidade não lucrativa ou mesmo de patrimônio familiar. Contabilidade financeira na realidade é a contabilidade geral, necessária a toda empresa. Ela fornece informações básicas aos seus usuários e é obrigatória para fins fiscais. De acordo com a área ou atividade em que é aplicada, recebe várias denominações: contabilidade agrícola (aplicada às empresas agrícolas); contabilidade bancária (aplicada aos bancos); contabilidade comercial (aplicada às empresas comerciais); contabilidade hospitalar (aplicada aos hospitais); contabilidade industrial (aplicada às indústrias); e mais:contabilidade imobiliária, contabilidade pastoril, contabilidade pública, contabilidade de seguros, etc. As demonstrações contábeis são elaboradas para os usuários externos, conforme conceitual básico emitido pelo CPC, para atendimento de suas mais diversas necessidades. 40 Mas quem são os usuários da informação contábil? 1)Administradores Frequentemente os responsáveis pela administração estão tomando decisões, quase todas importantes, vitais para o sucesso do negócio. Por isso, necessitam de dados, de informações corretas, de subsídios que contribuam para uma adequada tomada de decisão. Decisões, tais como: contrair uma dívida a longo ou curto prazo, valor da dívida, volume de recursos imobilizados, entre outras. A contabilidade é o grande instrumento que auxilia a administração de todos os níveis a tomar decisões. Na verdade, ela coleta todos os dados econômicos, mensurando-os monetariamente, registrando-os e sumariando-os em forma de relatórios ou de comunicados, que contribuem sobremaneira para a tomada de decisões. 2)Investidores É por meio dos relatórios contábeis que se identifica a situação econômico- financeira da empresa. Assim, o investidor tem à mão os elementos necessários para decidir sobre as melhores alternativas de investimentos. Os relatórios evidenciam a capacidade de a empresa gerar lucros e outras informações. 3)Fornecedores de bens e serviços a crédito Usam os relatórios para analisar a capacidade de pagamento da empresa compradora. 4)Bancos Utilizam os relatórios para aprovar empréstimos, limites de crédito, projetos de investimentos etc., exercendo seu papel de intermediadores financeiros. 5)Governo Não só usa os relatórios com a finalidade de arrecadação de impostos, como também para dados estatísticos, no sentido de melhor redimensionar a economia (IBGE, por exemplo) e viabilizar projetos de investimentos produtivos e sociais. 6)Sindicatos Utilizam os relatórios para determinar a produtividade do setor, fator preponderante para reajustes de salários. 41 7)Outros interessados Funcionários, órgãos de classe, pessoas e diversos institutos, como os conselhos regionais de contabilidade e outros. 42 UNIDADE 7 – MERCADO FINANCEIRO Como bem nos diz Chiavenato (2005), as empresas não existem no vácuo nem são absolutas. Elas estão inseridas em um meio ambiente, do qual fazem parte e de que dependem para funcionar e existir. E nesse ambiente de negócios dinâmico, mutável e complexo é que existem os mercados. Mercado deixou de ser apenas local físico e o conceito se modernizou. Espacialmente pode ser uma região, um país, o mundo, dependendo do assunto a ser tratado. Temporalmente podemos dizer que ele se comporta de várias maneiras. Por exemplo, com relação ao mercado de trabalho, no primeiro trimestre de cada ano ele é tranquilo, ao contrário, torna-se agitado no último trimestre. Assim, podemos diferenciá-lo no espaço e no tempo. Uma vez que o mercado envolve as transações entre vendedores e compradores, oferta e procura, existe um jogo, uma relação que apresenta três situações: 1. Equilíbrio – quando a oferta é igual a procura. Nessa situação os preços tendem a se estabilizar; 2. Oferta – quando a oferta é maior que a procura. Os vendedores são muitos e os compradores são poucos. Isso faz com que os preços caiam devido à competição entre vendedores e compradores; 3. Procura – quando a procura é maior que a oferta. Os compradores são muitos e os vendedores são poucos. Essa situação faz os preços subirem. Eles tendem a aumentar devido à competição entre os compradores. 43 O quadro abaixo ilustra bem essas situações: Oferta Procura Situação de oferta Situação de equilíbrio Situação de procura Oferta>procura Oferta = procura Procura > oferta Concorrência entre vendedores Concorrência entre compradores Preços em baixa Preços estáveis Preços em alta Dentre os vários tipos de mercado que existem, nos interessa nesse momento discorrer sobre o mercado financeiro, onde são feitas transações entre aqueles que oferecem e aqueles que demandam fundos, isto, fornecedores e tomadores de fundos. Antes vamos relembrar o Sistema Financeiro Nacional (SFN), órgão que regula, controla e opera o mercado financeiro brasileiro, e que é composto de instituições financeiras envolvidas na questão da política monetária do governo, sob orientação do Conselho Monetário Nacional. O SFN é composto de um subsistema normativo e de um subsistema operativo. Subsistema normativo Subsistema operativo 1.Conselho Monetário Nacional (CMN) 2.Banco Central do Brasil (BCB) 3.Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 4.Banco do Brasil S.A. (BB) 5.Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) 1.Instituições Financeiras Bancárias 2.Instituições Financeiras Não Bancárias. 44 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Instituições Bancárias Instituições Não Bancárias Bancos Comerciais (públicos e privados) Caixa Econômica Bancos de investimento Bancos de desenvolvimento Cias. De desenvolvimento Soc. Crédito, Financ. e Investim. Soc. Crédito Imobiliário Ass. Pop. Empréstimos Companhias Seguradoras Bolsas de Valores – Soc. Corretoras – Distribuidoras Agentes autônomos de investimento CMN – Conselho Monetário Nacional BCB Banco Central do Brasil CVM – Comissão de Valores Mobiliários BB Banco do Brasil BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 45 O BCB, BB e os Bancos comerciais públicos e privados constituem o chamado subsistema monetário, ou seja, o subsistema que tem poder de emitir moeda escritural (cheque). Embora as caixas econômicas possam emitir cheque, elas costumam fazer parte do subsistema não monetário devido a predominância de atividades não monetárias. Os bancos comerciais são a porta de entrada ao sistema financeiro, especializados em duas atividades principais: a) Depósitos à vista e desconto de curto prazo; b) Venda de crédito e serviços oferecidos. Os bancos comerciais ainda podem funcionar no varejo e no atacado e podem ser divididos em bancos nacionais e regionais. Quanto à clientela Bancos de atacado Bancos de varejo Bancos Quanto ao território Bancos nacionais Bancos regionais É no mercado financeiro que ocorre a oferta e procura de recursos financeiros, onde se captam ou aplicam os recursos financeiros. A oferta dos recursos é determinada pela poupança, pelo estágio de desenvolvimento econômico atingido pelo país e pela eficiência dos intermediários financeiros. A procura de recursos, por outro lado, é determinada pelas exigências de fundos pelas empresas que operam no mercado. De maneira geral, essas exigências variam conforme o ramo de atividade e as características de cada ramo (CHIAVENATO, 2005). São os recursos financeiros que permitem aos tomadores e fornecedores de empréstimos e investimentos de curto e longo prazo a negociação entre si ou indiretamente por meio das instituições financeiras, ou seja, é o mercado financeiro que permite a transferência de recursos poupados por certas unidades para outras 46 entidades que desejam investir e têm oportunidade para tanto. São, portanto, estes grupos que compõem a oferta e a procura de recursos financeiros. 7.1 Mercado monetário O mercado monetário é constituído de fornecedores e de tomadores de fundos de curto prazo. Com exceção das transações entre bancos, as transações do mercado monetário são efetuadas através de títulos negociáveis, que são instrumentos
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