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Globalização e a Era Industrial Clássica

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WEB AULA
Unidade 1 - Globalização e a Era Industrial Clássica
 
 
Quando pensamos em organização, o próprio sentido da palavra nos remete à complexidade do termo. O ato de organizar, dentro do contexto empresarial, poderia ser traduzido como: pôr em ordem, arrumar, dispor para funcionar, ou seja, juntar as peças tangíveis (recursos materiais, financeiros e humanos) e intangíveis (ideias) de forma a dar um sentido único ou uma ordem lógica para funcionar e atingir o objetivo desejado. Autores como Chiavenato (2004) e Maximiano (2004) conceituam organização no sentido prático como: entidades sociais compostas por pessoas e recursos, orientadas para alcançar um objetivo comum que, de forma geral se traduzem pelo fornecimento de produtos e serviços
Em um esforço para se tentar explicar o funcionamento das organizações de uma forma holística e simplificada, muitos autores recorrem às metáforas. Morgan (1996) descreve algumas, a saber:
Organizações como máquinas: cada parte desempenhando um papel claramente definido no funcionamento do todo;
Organizações como organismos vivos: administrar as "necessidades" organizacionais e as relações com o ambiente;
Organizações como sistemas sociais: realidades socialmente construídas sustentadas por uma cultura dominante;
Organizações como sistemas políticos: sistemas de governo baseados em vários princípios e ideologia que legitimam diferentes regras;
Organizações como instrumentos de dominação: certas pessoas impõem seus desejos sobre as outras.
Fonte: Adaptado de Morgan (1996)
 
Como podemos observar, por mais homogêneas que as organizações possam aparentar, basta analisarmos e compararmos suas estruturas e formas de administrar para compreendermos que não existem duas organizações idênticas. Para entendermos melhor e compreendermos essa complexidade precisamos conhecer as suas origens e as forças que influenciaram em sua evolução.
Entretanto é muito arriscado estabelecermos um marco no tempo, que determine a origem das organizações. Um evento sempre se constitui de um referencial anterior resultado de aprendizado, evoluindo por meio de experiências.
Um tema novo nunca é totalmente novo, ele tem sempre um passado, ainda que discreto e modesto. Todo o conhecimento é devedor de um acumulado ao longo da história, não existindo senão o conhecimento construído coletivamente.
Portanto, para entendermos as organizações teremos que compreender outro fenômeno mais antigo e homogêneo que atua em tudo e em todos, pois é parte abstrata e evidente das pessoas quando se organizam em grupos, sociedades e nações. Esta força a qual nos referimos é conhecida hoje por globalização. Sendo assim, antes de estudarmos as organizações em profundidade, iremos conhecer e compreender a globalização e seus reflexos no contexto econômico e social.
A Globalização
 
A Globalização diz respeito à forma como a sociedade, regiões ou países interagem e aproximam pessoas, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.  Convido você, caro aluno e ler atentamente essa frase e refletir sobre ala:
Esta provocativa declaração, nos remete a dimensão do impacto causado por este fenômeno em promover mudanças em nosso cotidiano de forma cada vez mais rápida e complexa, e não há como evitá-las, pois elas (as mudanças) vêm de todos os lados e por todos os meios.
A globalização é como o ar ou os raios do sol, está presente em todos os lugares e afeta todas as áreas da sociedade indiscriminadamente e em diferentes intensidades dependendo do nível de desenvolvimento e integração das nações ao redor do planeta.  A globalização, portanto, pode ser considerado um fenômeno espontâneo decorrente do ímpeto subconsciente das pessoas em se comunicar, se conhecerem, se aproximarem e trocarem produtos na forma de mercadorias, informações, costumes e tradições. Se traçássemos uma linha do tempo da globalização perceberíamos que, a rigor, as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da História:
 
A humanidade inaugura o século XX, portanto, testemunhando grandes invenções, tanto no transporte de cargas e pessoas como, e principalmente, na forma de comunicação por voz, como o telegrafo e telefone, e mais tarde na transmissão de imagens, como a TV e documentos como o FAX.
Portanto, a aproximação das pessoas foi tão surpreendentemente grande que o mundo se transformou em uma aldeia global, termo este que surgiu por volta da década de 1960.
O processo de globalização tem também seu lado sombrio, transformando o ímpeto humano de conquista e aproximação pelo meio coercitivo, resultando em duas guerras de âmbito global. Como resultado a humanidade vivenciou por um período da história, a divisão do mundo em dois blocos incomunicáveis: o bloco comunista e o bloco capitalista. Mas foi exatamente com o advento da queda do muro de Berlim (Alemanha) em 09/11/1989, que o termo Globalização se institucionalizou da forma como hoje conhecemos. Este evento histórico da queda do Muro de Berlim marcou o colapso do bloco socialista e o consequente fim da Guerra Fria.
Quer Saber Mais?
Sobre a Queda do Muro de Berlim? Acesse o link do Jornal Nacional da Rede Globo.  https://www.youtube.com/watch?v=hNh_4SoTYhs
Atualmente a globalização tem sua face mais visível na mobilidade dos computadores pessoais, a internet e aparelhos celulares capilarizados em toda a população mundial permitindo um fluxo de troca de ideias e informações sem critérios na história da humanidade.
Os países perceberam que estão cada vez mais dependentes uns dos outros e já não há possibilidade de se isolarem ou fecharem suas fronteiras e canais de comunicação com o resto do mundo em nome de uma suposta defesa de seus empregos, riquezas ou da preservação de uma imaginaria soberania. Esse discurso perdeu sua força e caiu por terra com os avanços da globalização apesar de ainda testemunharmos nações que insistem por esse caminho. Ninguém é imune a este contágio sejam seus resultados positivos ou negativos, cabe a nós como sociedade e como nação, aprendermos a tirar proveito delas para o benefício de todos. 
Globalização e a Desindustrialização
 
Podemos apontar muitas consequências positivas por decorrência da globalização, entre elas: a facilidade com que as inovações se propagam entre países e continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens e a novas tecnologias que proporcionam benefícios como, por exemplo, acesso a novos medicamentos, novas técnicas e equipamentos cirúrgicos, aumento e consequente barateamento na produção de alimentos e o acesso a conhecimentos, ensino e educação à distância.
Por outro lado também nos deparamos com críticas às consequências ou ao mau uso da globalização, como por exemplo: o aumento dos riscos globais de transações financeiras acarretando em uma maior vulnerabilidade das instituições frente à rapidez nas respostas às mínimas ameaças que as informações possam representar ao capital. Outro aspecto negativo que muitos estudiosos ressaltam é que a globalização vem causando uma padronização das culturas em todos os países e continentes, desagregando a identidade de povos.
Esse movimento tem originado uma nova onda conhecida como a desindustrialização dos países desenvolvidos. Apesar de se mostrar nocivo aos países ricos, a desindustrialização na verdade é a transferência de instalações industriais do setor secundário (de transformação), de recursos financeiros e os respectivos empregos gerados por este setor, para os países mais pobres que oferecem condições favoráveis para receber esses investimentos, se beneficiando grandemente com esse movimento.
Antes de nos aprofundarmos nesse importante tema que se constitui atualmente no maior dos reflexos decorrentes da globalização, é interessante que entendamos basicamente como se constituem os três setores da economia.
Com o processo de globalização acelerado exponencialmente a partir da década de 1970, o setor terciário da economia é o que mais tem se desenvolvido, principalmentepor decorrência evolução da tecnologia da informação onde a criação de produtos intangíveis de elevado valor agregado como os software tomou proporções tão complexas que torna-se até classificar esses produtos como prestação de serviços ou indústria de transformação.
O comércio, por exemplo, é caracterizado basicamente pela atividade de entregar produtos tangíveis de todos os tipos ao consumidor onde o prestador de serviço cobra por essa atividade. Entretanto, a crescente pressão da concorrência nesse segmento tem levado o setor a diferenciar o seu serviço através de atendimento personalizado, entrega em domicílio, diferentes canais de atendimento com a web e da entrega de produtos agregados ao pacote, tanto tangíveis como intangíveis, tais como garantia estendida ou itens opcionais. Em resumo, a atividade comercial – tão simples de outrora – tem se tornado uma atividade cada vez mais complexa.
O resultado dessa complexidade se reflete nos índices que medem a Desindustrialização. Por este motivo, tem sido estudado por vários teóricos em todo o mundo e o que se conclui é que o fluxo evolutivo dos três setores da economia (primário, secundário e terciário) segue um mesmo padrão na maioria dos países, na medida em que ele se desenvolve.
Devido aos inevitáveis efeitos da globalização, quando um país entra em um processo de industrialização e aumenta o poder aquisitivo da população, as atividades primárias passam a perder representatividade na economia ao mesmo tempo em que o Setor Terciário – aquele que envolve uma complexidade de atividade tais como: logística, serviços essenciais e atividades intelectuais – cresce vertiginosamente. No momento em que o país atinge um determinado grau de desenvolvimento, as linhas de evolução dos três setores tendem a se cruzar conforme mostra o gráfico abaixo e, nesse estágio a maioria da população do país atinge um determinado grau evolutivo que passa a desenvolver mais atividades Terciárias do que atividades Primárias ou Secundárias.
 
Figura.1: O Processo de desindustrialização
Fonte: Do autor, 2012
 
Dessa forma, os países que atingem este estágio evolutivo, passam a sofrer um processo de transferência de seus parques industriais que exigem mão-de-obra menos especializada para países menos desenvolvidos que oferecem melhores condições e menores custos de produção.
Esse movimento natural de transferência de investimentos industriais para outros países vem acontecendo desde a década de 1960 com o crescimento da globalização e um grupo de países do oriente, conhecidos como os Tigres Asiáticos foram os que mais se beneficiaram desse movimento. Vamos assistir à próxima aula para saber mais sobre os efeitos práticos desse fenômeno..
Agora que entendemos esse fenômeno da desindustrialização algumas perguntas, com certeza, estão surgindo em nossas cabeças:
Em que estágio o Brasil se Encontra?
Estamos também passando por um processo de Desindustrialização?
Portanto, vamos agora conhecer a situação atual do Brasil frente a realidade atual.
O Custo Brasil
 
Caros alunos! É importante que você acesse o link a seguir sobre o Fenômeno da Desindustrialização do Brasil produzido pelo programa ABCD em Revista, apresentado pelo repórter Bruno Mascarenhas logo após a primeira medida do governo para incentivar a economia, em setembro de 2011. Medida esta que estamos testemunhando novamente agora em junho de 2012.
Quer Saber Mais ?
Sobre o Fenômeno da Desindustrialização do Brasil?
Acesse o link do Programa ABGD em Revista:
https://www.youtube.com/watch?v=V3QtJ8rOkjw&feature=related
Os principais fatores que impediram o Brasil de atrair a onda de investimentos direcionada aos Tigres Asiáticos nas décadas de 1970 e 1980, foi justamente o fato de o Brasil não conseguir atender aqueles mesmos fatores que os Tigres Asiáticos atendiam muito bem. Este conjunto de deficiências características do Brasil ficou conhecido (até hoje) em todo o mundo corporativo como o Custo Brasil. São eles:
Custo de Mão de Obra: Apesar de o salário liquido do trabalhador brasileiro ser, em média, inferior ao dos trabalhadores dos Tigres Asiáticos, os encargos do salário do trabalhador brasileiro aliado a legislação trabalhista engessada e complexa, elevam o custo do trabalhador brasileiro ao mesmo patamar dos trabalhadores europeus. Em média o custo para a empresa, de cada trabalhador brasileiro chega a ser 110% acima do valor liquido que cada trabalhador recebe;
Qualidade da educação e da mão-de-obra: O grande problema do Brasil até hoje é a escassez de trabalhadores especializados. Este problema é um dos efeitos da falta de investimento ou do mal do investimento em educação.
Quer saber mais sobre os efeitos do investimento em educação?
Acesse o Link sobre a Pesquisa de desempenho em educação da OCDE: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/em-ranking-dominado-pela-asia-china-e-o-pais-lider-em-educacao-no-mundo
Acesse o link do PNUD sobre o IDH: http://www.pnud.org.br/idh/
Política econômica: Desde 1.995 o Brasil vive um período economicamente estável onde os alicerces econômicos têm sido mantidos e a moeda brasileira vem se mantendo estável. Entretanto, antes desse período não era assim. Desde a década de 1.970 até 1.995 o Brasil passou por vários pacotes econômicos desastrosos, com a mudança de moeda, bloqueio de contas bancárias e de hiperinflação. Tudo o que um investidor estrangeiro quer evitar.
Política Tributária: A política Tributária do Brasil sempre foi das mais complexas e pesadas do mundo, encarecendo em muito qualquer produto fabricado ou simplesmente vendido no brasil. Esse custo não é apenas o resultado do alto valor dos impostos mas também devido ao custo de administração desses tributos. No Brasil os impostos (federais, estaduais e municipais) costumam ser criados e/ou alteradas suas alíquotas por decreto, da noite para o dia criando uma atmosfera negativa e vulnerável para as empresas, desestimulando o investimento de longo prazo no Brasil.
Burocracia: A burocracia dos serviços públicos no Brasil tornam muitos serviços essenciais para o fluxo empresarial e financeiro, os mais caros e morosos do mundo, tais como: Serviços de desembaraço de importação e exportação, abertura e fechamento de empresas, administração de filiais e franquias, registros de patentes, administração de recursos humanos.
Taxas de Juros: Apesar das últimas baixas da taxa básica de juros promovidas pelo Banco Central em 2012, o Brasil ainda pratica uma das maiores taxa de juros entre os países emergentes e desenvolvidos, encarecendo investimentos em produção e infraestrutura.
Logística: As grandes dimensões territoriais do Brasil exigiriam uma rede de escoamento de produção eficiente para vencer essa barreira. Infelizmente, o cenário é inverso, o Brasil registra o maior custo de frete por KM2 entre os países emergentes e desenvolvidos.
A ABIMAQ (Associação Brasileira das Indústrias de Maquinas e Equipamentos) divulgou em março de 2010 um estudo inédito que mensurou o Custo Brasil para produtos agrícolas. Oito itens foram considerados e ficou constatado que o Custo Brasil encarece em média 35% o preço do produto brasileiro em relação aos fabricados em países cujo custo de produção já são considerados elevados, como a Alemanha e os Estados Unidos.
Quer Saber Mais ?
Sobre a ABIMAQ? Acesse o site: http://www.abimaq.org.br/
Sobre o Custo Brasil? Acesse estes links:
http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v2_n2/custo_brasil_muito_.pdf
Agora que entendemos alguns dos principais tópicos que fazem parte e influenciam o contexto econômico global e, por consequência moldam as organizações e a forma de administrá-las em todo o mundo, estamos preparados para conhecermos a história das organizações a compreendermos a influencia da globalização e da cultura organizacional em suas estruturas e movimentos.
As Eras Industriais e as Organizações
 
Os estudos sobre as organizações começaram formalmente no início do século XX por decorrência da Revolução Industrial quando a administraçãodas organizações tornou-se um complexo desafio, apesar de a prática administrativa ser muito mais antiga existindo vestígios dela que se perdem no tempo, porém, tanto o estudo quanto a prática da administração têm provado, ao longo do tempo, não só a sua utilidade, mas também a sua necessidade.
Iniciaremos nossos estudos sobre as organizações a partir do momento em que os efeitos da globalização resultaram em mudanças cada vez mais constantes e radicais na economia mundial, tornando as organizações cada vez mais complexas.
Era Industrial Clássica : 1ª Revolução Industrial
 
A 1ª Revolução Industrial tem o seu marco histórico por decorrência a “invenção” – ou melhor – do aperfeiçoamento e da viabilização econômica da Maquina a Vapor, façanha esta conseguida pelo escocês James Watt (1736-1819) em 1765, após várias experiências e se estende até 1880. O advento da maquina a vapor foi tão impactante que, por meio dela a Inglaterra transformou-se de uma economia agrária, predominantemente artesanal na forma de produção, para uma economia industrial com sistemas operacionais mecanizados.
Antes do aperfeiçoamento da maquina a vapor, a força motriz da economia era baseada nos cavalos, apesar de já existir outros mecanismos rudimentares geradores de energia, porém pouco práticos e muito limitados, como:
Antes de 1698: Rodas hidráulicas e moinhos de ventos eram basicamente as duas máquinas usadas como fonte de energia na Europa
1698: A primeira máquina movida a vapor, inventada por Newcomen e patenteada em 1705, servia para drenar a água acumulada nas minas de carvão e de ferro, abundantes na Inglaterra.
Figura 2: Primeiros veículos movidos a vapor (século XVIII)
Fonte: Wilkinson (2011)
Protestantismo + Liberalismo Econômico
 
Antes do advento da Maquina a Vapor o contexto econômico na Inglaterra resumia-se em: elevada densidade populacional; escassez de terras agriculturáveis; elevadas reservas de carvão e ferro;
Soma-se a isso o acumulo de capital na Inglaterra, resultante da política mercantilista da época baseada na exploração das riquezas das colônias inglesas.
Portanto, existia muita mão-de-obra disponível na Inglaterra, buscando melhores opções àquelas oferecidas na época, que se resumiam em: o insalubre e perigoso trabalho nas minas de carvão e de ferro ou a penosa vida nas já escassas terras agriculturáveis que estavam sendo gradualmente ocupadas por pastagens. Fora essas opções, nas cidades existiam pequenas e rudimentares manufaturas têxteis ou a fabricação de produtos artesanais.
Nessa época cresciam e espalhavam-se por toda a Europa, os movimentos religiosos cristãos protestantes iniciados na Alemanha no século XVI com o monge Martinho Luttero por decorrência da publicação de 95 teses que protestavam contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Medieval e que também representavam uma reação aberta contra o poder sufocante que o Sacro-Império Romano-Germânico exercia sobre os governos e reis Europeus. Este movimento que ficou conhecido como a Reforma Protestante, resultou em várias vertentes doutrinárias cristãs protestantes que se espalharam inicialmente pela Escandinávia e Alemanha e nesta época já se espalhava por toda a Europa incluindo a Inglaterra.
A doutrina protestante confrontava as bases da doutrina da Igreja Católica em diversos pontos, porém, o principal ponto que influenciou definitivamente os alicerces econômicos e serviram de ingrediente para deflagrar a Revolução Industrial na Inglaterra, foi que: Enquanto a religião católica sustentava que o lucro financeiro nos negócios era considerado usura, portanto contra a ética Católica, a doutrina protestante aceitava e até considerava o sucesso financeiro e empresarial como uma “benção” que o homem recebia em vida pela sua postura reta e cristã, desde que parte dos rendimentos fosse convertida em obras de caridade ou em nome da causa Protestante.
Seguindo a onda protestante e o momento intelectual que envolvia a atmosfera europeia que ficou conhecida como Iluminismo ou a Era da Razão, os estudos e teorias do economista Adam Smith sobre o “Liberalismo Econômico” já eram bastante discutidos nos meios acadêmicos e políticos da Europa desde 1776 com a publicação de seu livro “A Riqueza das Nações”.
Com uma narrativa bastante simpática à doutrina Protestante que aflorava na Inglaterra naquela época, Adam Smith defendia em sua obra que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse, promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
As bases que sustentam a obra de Adam Smith podem ser resumidas nesta frase que representa a atmosfera que envolvia o contexto econômico e social da época e que culminou na Revolução Industrial na Inglaterra:
 
O termo mão invisível introduzido e eternizado por Adam Smith no meio econômico, representava que em uma economia de mercado, mesmo sem uma entidade coordenadora do interesse comum, a interação dos indivíduos resultaria em uma determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse. De acordo com Adam Smith, como resultado da atuação dessa mão invisível, os preços das mercadorias seguiriam sempre uma trajetória descendente e, por outro lado, os salários seguiriam uma trajetória ascendente.
Adam Smith é considerado “Pai da Economia de Mercado” e também considerado um dos expoentes do Iluminismo. Foi o mentor e defensor do “estado minimalista”, ou seja, o estado intervindo na economia apenas como um fiscalizador e regulador das práticas econômicas. Para Ele, a concentração de poder do mercado nas mãos de poucos produtores apoiados por um Estado intervencionista, prejudica o funcionamento da economia de mercado.
A convergência de todos esses ingredientes foi o responsável por deflagrar o movimento que ficou conhecido como a 1ª Revolução Industrial. As mudanças decorrentes desse movimento foram amplas e radicais demarcando o contexto econômico, social, político e cultural da Inglaterra e, na sequencia, alastrando-se rapidamente pelos países Escandinavos[1], a região dos Países Baixos[2] e pelos países do Império Austro-Húngaro[3], onde as ideias do capitalismo liberal foram mais facilmente aceitas devido a forte influência do protestantismo religioso. A partir de 1850 o movimento se consolida também na França, Alemanha e no norte da Itália. A figura abaixo nos dá uma melhor noção da abrangência da 1º Revolução Industrial.
Figura 3 - Expansão e Abrangência da 1ª Revolução Industrial
[1] Países Escandinavos: Aqui considerados Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.
[2] Região dos Países Baixos: Aqui considerados Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
[3] Império Austro-Húngaro: Resultado da união de várias nações por um breve período da história (de 1867 a 1918). Compreendia basicamente os territórios dos seguintes países: Áustria, Hungria, República Checa, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e regiões da sérvia, Itália, Romênia, Polônia e Ucrânia.
 
Conflitos de Classes e o Movimento Sindical
 
A Revolução Industrial causou uma das maiores ondas de migrações na história da Europa, de trabalhadores rurais se deslocando paras as cidades europeias alterando profundamente a condição de vida do trabalhador braçal atraídos pelas promessas de melhores condições de vida e por empregos mais estáveis nas novas instalações fabris movidas agora pela força motriz do carvão que tornavam as indústrias casa vez mais mecanizadas.
Entretanto, este novo cenário não se converteu em melhorias nas condições de vida desses novos trabalhadores e muito menos garantia de emprego aos mesmos. Nas novas indústrias – principalmente nas têxteis que se tornaram, junto com a siderurgia, a maior força industrial da Inglaterra –havia de um lado o empregador, que fornecia o equipamento e supervisionava o seu uso e, de outro lado, o trabalhador, reduzido a condição de operário. Nessa divisão de classes prevaleciam os princípios da “lei de ferro dos salários” defendidos pelo economista político David Ricardo (1982), deque o trabalhador deveria receber apenas um “salário mínimo” para garantir apenas o seu sustento – basicamente não morrer de fome e frio – garantindo os lucros da burguesia industrial, além disso, os operários tinham que cumprir uma jornada de 16 a até 18 horas diárias.
Figura 4 -  Movimento Luddista
Fonte:   Wikimedia Commons (2008)
Essa situação começou a ficar insustentável para os operários das fábricas inglesas e não demorou muito para deflagrar em conflitos entre a classe operária e seus patrões. O principal movimento anarquista eclodiu em 1811 e tornou-se emblemático pelos resultados práticos decorrentes dele, ficou conhecido como Luddismo.em alusão a Ned Ludd, o operário que iniciou o movimento.
O ponto culminante do Movimento Luddista foi a invasão a indústria têxtil de William Cartwright no condado de York na Inglaterra, em 1812. No ano seguinte, na mesma cidade, teve lugar o maior processo contra os Luddistas acusados de participar da invasão e o resultado foi assustador: dos 64 acusados, 13 foram condenados à morte e 2 foram deportados para as colônias inglesas. A partir desse fato começaram a aparecer outros movimentos menos anarquistas e mais racionais iniciando-se vários diálogos envolvendo representantes dos operários, os patrões e os parlamentares até o surgimento, por volta de 1840, das Trade Unions ou Sindicatos.
Quem melhor representou, na linguagem artística, este contexto foi o imortal Charles Chaplin com o seu épico filme Metrópoles. Ele retrata de forma cômica e ingênua, porém precisa e brilhante, a relação conflitante entre as classes patronais e os operários das fábricas dessa época.
Assistindo o filme podemos obter uma ideia da maneira desumana a classe burguesa, proprietária das fábricas, tratava os seus operários que, para eles, representavam nada mais do que uma simples extensão – necessária, porém substituível – de suas máquinas.
Acesse o Link:
Assista uma parte do filme metrópole de Charles Chaplin: https://www.youtube.com/watch?v=XFXg7nEa7vQ
A Primeira Revolução Industrial, época que compreendeu o período de 1795 a 1880, situa-se já no final da Era do Iluminismo ou Era da Razão, resultou em importantes invenções e criações tecnológicas. Seguem algumas das principais datas que marcaram invenções e construções pioneiras envolvendo o transporte e marcando a revolução industrial:
1800: Acumulador de eletricidade (bateria) - Alessandro Volta
1803: A primeira locomotiva a vapor comercialmente viavel é construida pelo engenheiro inglês Richard Trevthick. De acordo com Razzolini Filho apud Chiavenatto (2004), Ela tinha a capacidade de puxar 5 vagões com 10 toneladas de carga mais 70 passageiros a uma velocidade de 8 Km/h.
1825: Surge a primeira estrada de ferro pública, que ligava Stockton a Darlington (Inglaterra), tinh 16 Km de extensão e foi construida por George Stephenson.
1837: Telégrafo - Samuel Morse
1854: É construída a primeira estrada de ferro no Brasil. Construída pelo pioneiro Barão de Mauá, ela tinha 14,5 Km de extensão e ligava o Porto de Estrela, no Rio de Janeiro , até a Estação Fragoso. Depois foi concluído o trecho final até Petrópolis.
1876: Telefone - Alexander Graham Bell
1879: A lampada elétrica - Thomas Alva Edison e Joseph Swan
1879: Surge a primeira locomotiva elétrica adaptada para os metrôs.
 
Quer Saber Mais?Para saber mais sobre a história dos transportes, acesse o link da Prefietura de Uberlandia: < http://www.uberlandia.mg.gov.br/uploads/cms_b_arquivos/9722.pdf >.
Era Industrial Clássica : 2ª Revolução Industrial
 
O período que ficou conhecido como a 2ª Revolução Industrial teve início na Inglaterra em 1880 se espalhando rapidamente para a Europa continental. Este período foi marcado principalmente pelo movimento de substituição do carvão pelo petróleo como a força motriz das fábricas, se estendendo até 1950, ano que marcou a transição da Era Industrial Clássica para a Neoclássica.
A 2ª Revolução Industrial foi uma época memorável vivenciada pela humanidade, devido a quantidade de importantes invenções e transformações presenciadas, tão ou mais surpreendentes do que já havia sido as da época da 1ª Revolução Industrial. As sucessivas descobertas de grandes e, aparentemente, inesgotáveis jazidas de petróleo em todo o mundo motivaram os engenheiros e cientistas a investirem na invenção de motores movidos pelo abundante e barato combustível derivado do petróleo que também mostrava-se mais eficiente do que o carvão em todos os seus aspectos: era liquido, portanto mais fácil de armazenar e de se utilizar.
O advento do petróleo possibilitou outros avanços tecnológicos muito importantes para a humanidade, que marcaram a 2ª Revolução industrial. Dentre esses avanços os mais marcantes foram a substituição nas siderúrgicas, do ferro pelo aço e a viabilização da energia elétrica. Todos esses avanços possibilitaram a construção de veículos mais leves, de maior capacidade, muito mais rápidos e com maior autonomia do que os veículos movidos a carvão.
Em 1878, Nikolaus August Otto desenvolveu o motor a explosão a quatro tempo . daí para o automóvel foi um pequeno passo. Em 1883 Gottlieb Daimler e Karl Friedrich Benz foram os pioneiros na fabricação de carros a motor. Eles, que também são os fundadores da marca alemã de automóveis Mercedes, desenvolveram o primeiro motor de combustão interna de baixo peso, alimentado a gasolina e montado em uma fábrica de bicicleta e em 1885 criam o primeiro automóvel propriamente dito, com 3 roda e atingindo uma espantosa velocidade para a época, de 13 Km/h. Daí para a popularização do automóvel foi um pequeno passo e em 1908, os carros já eram fabricados em série por Henry Ford.
Com o novo advento, o contexto econômico da Europa do final do século XIX era o seguinte:
Explosão de produtividade: decorrente da modernização das fábricas com máquinas mais rápidas, precisas e inovadoras além de veículos mais rápidos e de maior capacidade. Tudo isso possibilitava produzir muito mais em menor custo gerando mais riquezas para os patrões e para as nações.
Explosão de demanda: decorrente da crescente classe de burgueses e dos operários das fábricas vindos dos campos e inchando as grandes cidades, todos ávidos por consumo. Portanto vendia-se tudo o que as fábricas produziam.
Abundância de recursos para a produção, tais como:
Energia: com as sucessivas descobertas de jazidas de petróleo por todo o mundo, além de rápidas inovações tecnológicas sobre a energia elétrica, como a corrente alternada.
Matéria-prima: não existia ainda a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta, portanto a exploração dos recursos minerais e vegetais, principalmente nas “terras-novas” (América e Oceania), era feita de forma indiscriminada, desprovidas de critérios.
Mão-de-obra: o grande deslocamento de pessoas dos campos para os centros urbanos era abundante e na época não havia a necessidade de habilidades para operar com as máquinas nas fábricas, bastava ser saudável.
Quer Saber Mais?
Sobre a 1ª Revolução Industrial. Acesse o link:
https://www.youtube.com/watch?v=TKcGBxDy7L0&feature=related
 
O Nascimento de uma Potência Econômica
 
Com a recente unificação dos Estados Unidos após a Guerra de Secessão e a promulgação da carta magna da constituição, os abastados europeus – que buscavam novas fronteiras para seus investimentos – sentiram-se seguros em desembarcar na América com suas economias e passaram a chegar em grande quantidade ocupando inicialmente o leste dos Estados Unidos e gradualmente, migrando para o oeste, criando novos costumes, culturas e uma nova classe consumidora, impulsionando o país para uma rápida industrialização. 
Os Estados Unidos representavam grandes vantagens competitivas para o investidor europeu, sobretudo para os ricos investidores ingleses: possuía vastas terras agriculturáveis e grandes jazidas minerais, principalmente o ferro e o petróleo, além de não haver o problema da língua falada que era a inglesa.
Sendo assim, os Estados Unidos experimentou nessa épocauma espantosa onda de imigração europeia, não só de pessoas, mas também de capital, em busca de novas oportunidades, transformando rapidamente este país no centro econômico mundial.
Surge nos Estados Unidos uma nova classe média abastada e ávida por consumo, alavancando a economia do país e formando grandes conglomerados industriais, principalmente no leste e no norte dos estados Unidos onde rapidamente formam-se grandes metrópoles como Filadélfia, Nova York, Boston e Chicago além de verdadeiras cidades industriais como Detroit, Pittsburg, Cleveland, Akron e Dayton.
Além das indústrias, concentravam-se também nestas cidades, grandes centros de estudos e pesquisas em forma de conceituadas universidades como Harvard, Yale entre outras, proporcionando sustentabilidade para um crescimento contínuo em todos os setores econômicos e sociais dos Estados Unidos.
A crescente complexidade das organizações preocupava os grandes empresários que sentiam a perda de controle de seus negócios devido a falta de mecanismos de organização e por consequência, a preocupante perda de eficiência e produtividade das operações. Esta situação levou os empresários a buscarem nas universidades, estudos e pesquisas que lhes proporcionassem novas técnicas e ferramentas, enfim, novas teorias capazes de suprir essa urgentes necessidades. É neste contexto que começam a surgir os primeiros estudos organizacionais e, por consequência, as primeiras Teorias da Administração.
As Teorias da Administração
 
Conforme estudamos no capítulo anterior, os estudos científicos dos métodos e técnicas de gestão apresentados em forma de teorias surgiram, portanto, mais pela necessidade de mudanças do que pela utilidade. As organizações do início do século XX – mais maduras e muito mais complexas – necessitavam urgentemente de novas práticas, novas ideias, enfim, novos paradigmas que resultassem em maior eficiência e agilidade nas práticas organizacionais.
Teoria Científica da Administração
 
Na virada do século XIX, o engenheiro e consultor empresarial Frederick Winslow Taylor (1856-1915) desenvolveu estudos a respeito de técnicas de racionalização e da divisão do trabalho, resultando em um livro épico:
1911 – Principles of Scientific Management: Princípios da Administração Científica.
Este livro foi elaborado a partir de suas experiências desenvolvidas junto com Henry Ford dentro da Fábrica da Ford e que inclui também a aplicação das experiências dos dois livros anteriores. Os estudos e conclusões publicados neste livro se popularizaram e ganharam o mundo, passando a ser aceito como um novo paradigma para as práticas de administração. 
Homo Economicus: A Concepção do Homem Segundo a Teoria Científica
 
O contexto econômico da época, como já estudado nos capítulos anteriores, era caracterizado basicamente por uma demanda crescente por tudo o que se produzia e as fábricas naquela época não conviviam com problemas tais como: concorrência ou falta de mão-de-obra.
Soma-se a este contexto, a concepção de Taylor apud Chiavenatto (2004) de que o homem procura trabalho não porque gosta dele, mas apenas como meio de se sustentar, de se proteger do frio e de matar a fome, temos os ingredientes que desenharam a característica mais marcante do estudo de Taylor: a busca de uma organização científica do trabalho, enfatizando tempos, movimentos e padronização de métodos.
Taylor via a necessidade premente de aplicar métodos científicos à administração, para garantir a consecução de seus objetivos que consistia basicamente na busca pela máxima produção a um custo mínimo. Como resultado, a Teoria Científica – assim como as demais teorias do início do século XX que constituem a Abordagem Clássica da Administração – foi desenvolvida partindo-se dos seguintes princípios:
A empresa como um sistema fechado: A Teoria Científica não considera o ambiente externo que envolve a empresa, os estudos e pressupostos têm o seu enfoque voltados para as tarefas internas à organização, desvinculados de seu mercado e negligenciando as influências que ela recebe e impõe ao ambiente que a cerca.
Ênfase na Eficiência e na Produtividade: Considera que existe uma única maneira certa de executar uma tarefa (the best way). Para descobri-la e atingir maior grau de eficiência nos processos e maximizar a produtividade, a Teoria Científica defende que deve-se empreender ações estabelecidas dentro dos seguintes princípios que moldaram o estereótipo do homem da Teoria científica – o Homo Economicus:
Seleção científica do trabalhador: É o homem adaptado à maquina e à organização: O trabalhador deve desempenhar a tarefa mais compatível com suas aptidões para maximizar a produtividade.
Tempo-padrão: Parte-se do princípio de que o homem é naturalmente preguiçoso e limitado. Se o seu salário estiver garantido o homem tenderá a produzir o mínimo possível no maior tempo possível. Com o estudo do Tempo Padrão por tarefa (piece-rating system) estabelece-se um mínimo padrão de produção que o operário deve atingir para garantir o seu salário.
Plano de incentivo salarial: O homem é individualista e motivado unicamente pela perspectiva de ganhar mais financeiramente. Partindo-se desse pressuposto, estabelece-se que a remuneração dos funcionários deve ser proporcional ao número de unidades produzida utilizando-se como parâmetro de cálculo Tempo-padrão (piece-rating system).
Divisão do trabalho: Uma tarefa deve ser fracionada no maior número possível de subtarefas. Quanto menor e mais simples a tarefa, maior habilidade o operário irá adquirir para desempenhá-la. Como a repetição contínua o funcionário ganha velocidade, passa a errar cada vez menos e elevará o seu salário.
As ideias de Taylor, partindo-se da concepção do homo-economicus, representavam um avanço para uma época recém-saída do feudalismo e do escravagismo. Elas beneficiam os funcionários oferecendo mecanismos para que ele pudesse aumentar os seus ganhos financeiros e, ao mesmo tempo, o empregador também ganhasse em produtividade.
A preocupação de Taylor com a eficiência da produção buscando a redução dos custos era não apenas para elevar os lucros, mas também para elevar a produtividade dos trabalhadores, aumentando seus salários.
Na prática, entretanto, devido à falta de estudos que considerassem os aspectos relativos ao comportamento humano e a precariedade das condições sociais existentes à época (falta de uma legislação trabalhista digna, e da representatividade dos sindicatos), a Administração Científica acabava por estimular a alienação do funcionário e legitimar a exploração dos operários em prol dos interesses patronais.
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Sobre como era o ambiente da fábrica da Fordno início do Século XX?
Acesse o link: Registro 573393 – vídeo documentário Ford  Model 2’58JANUZZI, Ulysses. 
Teorias da administração: porque estudar teorias da administração? : Prof. Ulysses Januzzi - 12/04/2012 - Módulo 1, 1° Semestre de 2012, Aula 1, Noturno.
 
Teoria Clássica da Administração
 
Enquanto os Estados Unidos vivenciavam a Teoria Cientifica em suas organizações, simultaneamente a Europa se movimentava em estudos e pesquisas em busca de novos paradigmas para a administração das organizações. Como resultado, surge na França em 1916, a Teoria Clássica com a publicação do Livro Administration Industrielle et Générale (Administração Industrial e Geral) do engenheiro Henri Fayol (1841-1925).
O objetivo das duas teorias era o mesmo: a busca da eficiência das organizações, entretanto as duas foram desenvolvidas a partir de óticas inversas: enquanto a Teoria Científica foi desenvolvida a partir do chão de fábrica se caracterizando pela ênfase na tarefa executada pelo operário, a Teoria Clássica foi desenvolvida a partir dos níveis gerenciais da empresa se caracterizando pela ênfase na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. O importante é que as duas Teorias se convergem e completam formando a base da Abordagem Clássica da Administração.
Figura 6 - Abordagem Clássica: Convergência entre duasteorias.
Outra diferença marcante entre as duas Teorias é que: a teoria Científica busca eficiência por meio da racionalização do trabalho do operário e pelo somatório da eficiência individual, e a teoria Clássica busca eficiência na sua estrutura da organização como um todo e todas as partes envolvidas, desde os departamentos e divisões até os ocupantes dos cargos e executores das tarefas nas organizações.
Henri Fayol: O Pai da Administração
 
Henri Fayol foi um dos primeiros estudiosos a ver a Administração como uma função na organização. Mas Fayol foi mais longe considerando a Administração uma função central e estratégica na organização – como podemos observar no organograma abaixo – responsável pela conexão e integração de todas as funções da organização. Fayol considerava seis as funções básicas da organização. São elas:
Figura 7-  Teoria Clássica: As funções básicas da organização.
Para Fayol, administrar é Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar a organização.
O conjunto das funções administrativas enumeradas por Fayol, forma o Processo Administrativo. A ideia de processo inclui o aspecto dinâmico da relação entre as diferentes funções, com cada uma delas influenciando e sendo influenciada pelas demais. São elas:
Modelo Burocrático da Administração
 
Henri Fayol compilou 14 princípios gerais da Administração coletando e sintetizando princípios já publicados e defendidos por outros autores. De acordo com Chiavenatto (2004), Fayol teve o bom senso de adotar a denominação de princípios afastando assim qualquer ideia de rigidez dando uma concepção universal e maleável, adaptando-se a qualquer tempo, ou circunstancia.
Pode-se identificar em vários pontos desses princípios, a proximidade com os pressupostos da Teoria Científica e, em outros pontos, com o Modelo Burocrático do sociólogo e economista alemão Max Weber (1864-1920).
Weber foi um dos fundadores da sociologia moderna e estudou a organização como parte de um contexto social, influenciada pelo protestantismo religioso e pelas mudanças sociais e econômicas da época. Seus estudos estavam muito à frente do momento vivenciado pelas organizações da época, tanto que os reflexos do modelo burocrático foram mais sentidos na estrutura a partir de 1940.
Como forma de adaptação de seus estudos nas organizações, o Modelo Burocrático contribuiu para as organizações por meio de uma proposta de estrutura administrativa para organizações complexas, dotada de características próprias que buscava a eficiência na sociedade industrial emergente e principalmente na administração pública do início do século XX.
Sendo assim, na visão de Weber apud Chiavenatto (2003), a sociedade e as organizações modernas são sistemas de normas impessoais, pois são as normas que regem o comportamento das pessoas e a burocracia é justamente uma forma de organização que se baseia em racionalidade.
Concluindo o pensamento de Weber: “A burocracia é a organização eficiente por excelência” (WEBER apud CHIAVENATO (2003, p.263) ou pelo menos deveria ser. A figura 8 resume os princípios de Weber apud Chiavenatto (2003), que por sua vez expressam a racionalidade das ações, a impessoalidade das relações e os esforços direcionados aos objetivos organizacionais.
Figura 8 - Os Princípios do Modelo Burocrático de Weber
Fonte: Do autor (2012)
Ao contrário da visão de Weber, atualmente, o termo burocracia está ligado a ineficiência, demora, papelório, excesso de regras e de custos desnecessários. Muito dessa imagem de burocracia deve-se ao modelo que a administração pública em todo o mundo costuma seguir, tendo suas raízes no modelo burocrático de Weber.
O vídeo a seguir exemplifica de forma eficiente e divertida, a imagem que se faz do Modelo Burocrático de Administração enraizado nos órgãos públicos, comparado aos princípios idealizados por Weber:
Quer saber mais sobre o pensamento de Weber e ...o nosso pensamento sobre Burocracia?
Acesse o site:
https://www.youtube.com/watch?v=-Ri6KNjMPuk&feature=related
ou: Vídeo – O Pensamento de Weber...e o nosso - JANUZZI, Ulysses.   Teorias da administração: as teorias da transição e o Behaviorismo : Prof. Ulysses Januzzi - 19/04/2012 - Módulo 1, 1° Semestre de 2012, Aula 2, Noturno. TEC. GEST. REC. HUMAN.
Tanto o Modelo Burocrático como a Teoria Clássica têm o seu enfoque na estrutura organizacional e valorizam a departamentalização, a hierarquização e a impessoalidade no relacionamento dentro da organização.
Os 14 Princípios Gerais da Administração segundo Fayol (adaptado de Chiavenatto, 2004):
1)     Divisão do trabalho: especialização das tarefas e das pessoas para aumentar a eficiência.
2)     Autoridade e responsabilidade: Ambas devem estar em equilíbrio. Por um lado o direito de dar ordem e esperar obediência e, por outro lado, o dever de prestar contas.
3)     Disciplina: submissão, regras e ausência de autonomia.
4)     Unidade de comando: o princípio da autoridade única. Uma característica da estrutura hierárquica e da centralização.
5)     Unidade de direção: todos por um objetivo organizacional. Outra característica da estrutura hierárquica e da centralização.
6)     Subordinação dos interesses individuais aos gerais: todos por um objetivo organizacional. Indiferença aos interesses e objetivos pessoais.
7)     Remuneração do pessoal: justa e garantida satisfação para os empregados e para a organização em nome da produtividade.
8)     Centralização: concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização.
9)     Cadeia escalar: Refere-se a estrutura hierárquica.
10)  Ordem: organização estrutural, a especialização dos funcionários e a padronização das tarefas.
11)  Equidade: amabilidade e justiça para alcançar a lealdade do pessoal.
12)  Estabilidade do pessoal: a rotatividade é prejudicial para a organização. Especialização do funcionário na função.
13)  Iniciativa: capacidade de visualizar um plano e assegurar pessoalmente o seu sucesso. Esforço único pelo objetivo organizacional.
Espírito de equipe: a harmonia e a união entre as pessoas são grandes forças para a organização com o enfoque no objetivo organizacional.
Nesse contexto, a cultura predominante no ambiente organizacional voltou-se para a conservação das tradições e seus valores. Dessa forma, as pessoas eram consideradas recursos de produção, juntamente com outros recursos da organização, tais como máquinas, equipamentos e capital.
Surgem nessa época os antigos departamentos de pessoal e, posteriormente, os departamentos de relações industriais. Cabia ao departamento de pessoal cumprir as exigências legais com respeito ao emprego (admissão, demissão, controle das horas trabalhadas, etc.). Aos departamentos de relações industriais foram acrescidas outras tarefas, como o relacionamento da organização com os sindicatos e a coordenação interna com os demais departamentos, para enfrentar os conflitos de classes e os movimentos reivindicatórios. Estes departamentos tinham suas atividades restritas à operacionalização e à burocracia, recebendo instruções da cúpula quanto aos procedimentos a serem adotados.
Teoria das Relações Humanas
 
Na década de 20, após a Primeira Guerra Mundial, grande parte da Europa estava arrasada e tentava se reconstruir. Por outro lado os Estados Unidos firmaram-se como potência econômica e cultural fortemente alicerçada nos pressupostos democráticos garantidos pela sua constituição, enquanto nos países da Europa, o liberalismo econômico passa a ser gradualmente substituído por uma crescente interferência do Estado na economia.
No ano de 1927 o filósofo, médico australiano Elton Mayo (1880-1949), iniciou junto com sua equipe uma pesquisa sobre os efeitos da iluminação na produtividade de uma divisão de montagem de relês da empresa Western Eletric Company, instalada em Hawthorne, cidade nas imediações de Chicago-Illinois. Esta empresa era na época a maior fabricante mundial de telégrafos e telefones e a planta industrial onde se desenvolveram as pesquisas, era consideradaa maior do mundo abrigando cerca de 40.000 funcionários em suas instalações.
 
O Contexto da Crise Mundial
 
Os Estados Unidos vivenciavam nessa época, o prelúdio da grande depressão econômica de 1929 que se arrastou até meados de 1933 e o ambiente organizacional nessa época estava bastante conturbado. O otimismo vivenciado até então pela economia americana levou as indústria a produzirem em ritmo acelerado. Por outro lado, a lenta recuperação da economia europeia desencadeou na paralisação das fábricas nos Estados Unidos e à consequente demissão em massa de seus operários.
Esse cenário desencadeou em uma onda de criticas e reavaliação por parte dos teóricos e estudiosos, frente aos paradigmas da teoria científica, até então totalmente aceitos pelo seu caráter dogmático e prescritivo.
As abordagens administrativas passam a vivenciar uma revolução conceitual: a ênfase antes colocada na tarefa e na estrutura organizacional cede espaço agora para as pessoas que participam das organizações. A visão da organização como uma máquina que pode e deve seguir um projeto definido onde cada funcionário é considerado uma mera engrenagem no corpo da empresa, tendo desrespeitada sua condição de ser humano, recebe críticas ferozes de estudiosos da administração.
A humanização dos conceitos administrativos se apresentou como uma ideia mais adequada às novas exigências, desenvolvendo-se paralelamente vários campos das ciências humanas, que permitiam compreender melhor o funcionamento da psicologia do trabalhador.
Dentro desse conturbado cenário e principalmente pelo fato de os Estados Unidos serem considerados um país com características eminentemente democráticas, as ciências humanas vislumbram um ambiente receptivo para o seu crescimento no meio organizacional. Assim, pesquisadores e estudiosos da psicologia industrial e do trabalho, encontram subsídios para ressaltar a importância da consideração conjunta dos fatores humano e material para a avaliação da produtividade no trabalho.
Os estudos desses autores foram imprescindíveis para humanizar e democratizar a administração e deram o subsidio necessário para que Elton Mayo (1933), junto com os resultados da Experiência de Hawthorne, formasse o quadro de referência que possibilitou delinear os princípios básicos da Teoria das Relações Humanas em uma época em que as organizações ansiavam por novos paradigmas.
O Homem Social
 
             Os Resultados aferidos na experiência serviram de base para Fayol estabelecer os pressupostos da Teoria das Relações Humanas que, por sua vez, causaram grande impacto entre os teóricos da época, pois contestavam frontalmente os princípios dogmáticos da vigente Teoria Científica. Basicamente são estas as principais conclusões decorrentes da Experiência de Hawthorne:
O trabalho é uma atividade tipicamente grupal: o nível de produção é resultante da integração social e não pela capacidade física ou fisiológica do empregado como defendia o taylorismo. Ele é influenciado mais pelas normas do grupo do que pelos incentivos salariais e materiais.
O operário não reage como indivíduo isolado, mas como membro de um grupo social: o seu comportamento se apoia totalmente no grupo. Os trabalhadores não agem isoladamente como indivíduos. A mecanização tende a alienar o trabalhador.
O ser humano é motivado pela necessidade de “estar junto”, de “ser reconhecido”: a organização eficiente, por si só, não leva à maior produção, pois é incapaz de elevar a produtividade se as necessidades psicológicas do trabalhador não forem identificadas e satisfeitas.
O nível de produtividade: é influenciado e condicionado por normas e padrões determinados pelos grupos sociais informais: os operários que produziram acima ou abaixo da norma socialmente determinada perderam o respeito e a consideração dos colegas.
Portanto, o princípio do homo economicus, que se baseia unicamente sobre incentivos monetários não mais se revela suficiente para promover a satisfação dos trabalhadores e se reverter em produtividade. O homem social necessita ser reconhecido pelo seu trabalho e os incentivos morais e a auto realização são aspectos fundamentais que a administração científica desconsidera.
Assista à próxima aula para entender melhor essa confrontação de pressupostos e paradigmas que aconteceu nessa época, entre os dois estereótipos do homem na organização:
Unidade 2 - Abordagens Atuais e a Era do Conhecimento
Estruturalismo e a Teoria Sistêmica
 
No período que compreende o período após a 2ª Guerra Mundial até o final da década de 1050, as organizações buscavam novos paradigmas que lhes proporcionassem melhores resultados e maior eficiência.
A busca de um equilíbrio dessas escolas e a convergência do que havia de melhor em cada uma delas representava um amadurecimento das Teorias da Administração, inaugurando um movimento ficou conhecido como Abordagem Estruturalista.
De acordo com Amitai Etzioni (1967), um dos principais ícones da abordagem estruturalista:
O Estruturalismo baseia-se nos seguintes princípios:
Ambiente Organizacional: As organizações vivem em um mundo humano, social político e econômico constituído pelas outras organizações e pela sociedade.
Interdependência: Nenhuma organização é auto-suficiente. Toda organização depende do ambiente organizacional para sobreviver.
Portanto este período de transição entre duas eras industriais:
Marca também a transição entre duas abordagens sobre a administração das organizações cujos pressupostos se posicionam em concepções antagônicas sobre a estrutura das organizações:
A principal Teoria responsável por essa mudança radical é a Teoria Sistêmica.
 
Teoria Sistêmica e o Homem Organizacional
 
O Modelo Sistêmico surgiu a partir dos estudos do biólogo alemão Ludwig Von Bertalanfy que deram origem à Teoria Geral dos Sistemas. Os teóricos e estudiosos da administração transferiram os pressupostos dessa teoria para o ambiente organizacional e passaram a entender as organizações como sistemas abertos em constante interação com o ambiente onde se insere.
Caro colega. Convido você a assistir a próxima aula para entender melhor a importância da Teoria Sistêmica para a abordagem neoclássica da administração e o estereótipo do novo homem na organização concebido com base nos pressupostos do estruturalismo: O Homem Organizacional.
 
Aula 3 - Sem Libras
TEORIA SISTEMICA E O HOMEM ORGANIZACIONAL
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Aula 3 -Com Libras
Em síntese, a grande contribuição da Abordagem Estruturalista para a administração é que, pela primeira são reconhecidas duas forças dentro da organização como uma unidade social: a estrutura burocrática formal e a estrutura informal dos grupos sociais. Também pela primeira vez, graças a contribuição da Teoria Sistêmica, reconhece-se a ligação da organização com outras organizações e unidades sociais do ambiente externo. Dos pressupostos dessa abordagem surge um novo estereótipo de homem, o Homem Organizacional que, de acordo com Etzioni (1967), é mais flexível, mais tolerante, mais paciente e com o permanente desejo de realização.
A Era Industrial Neoclássica
 
Apesar das limitações inerentes a ingenuidade das propostas que originaram a Teoria das Relações Humanas, seus pressupostos levantaram aspectos que, pela primeira vez, começaram a ser analisados com seriedade dentro do contexto organizacional. Sua coerência e comprovada importância empírica foram fundamentais para os estudos posteriores sobre o comportamento organizacional.
Se hoje as organizações não ousam contestar a relevância para a sobrevivência e o sucesso da empresa, a criação e manutenção de uma Cultura e um Clima Organizacional favorável aos trabalhadores e alinhados aos valores e a estratégia da empresa, devemos tudo isso aos estudos de Mayo e sua equipe.
Após a 2ª Guerra Mundial o mundo vivencia um período de grande crescimento econômico. Novamente, a Europa seencontra arrasada, assim como o Japão. O mundo agora encontra-se dividido em dois blocos economicamente e culturalmente antagônicos e ambiciosos:
Pelo lado oriental: o bloco comunista, liderado pela Rússia que, junto com os países “membros” formam a União Soviética;
Pelo lado ocidental: o resto do mundo capitalista liderado pelos Estados Unidos que, após a 2ª Guerra Mundial, consolida-se em uma incontestável potência econômica e militar.
O equilíbrio entre os dois blocos e a ambição pelo domínio do mundo resulta no que ficou conhecido como a Guerra Fria. Nesse contexto os Estados Unidos inicia uma campanha de divulgação de sua cultura, conhecida pelo slogan: The American Way of Life!
 
Foto 1: Paradoxo: American Way of Life
Fonte: Fernades (2011)
O cartaz mostra um paradoxo no período de recessão americano: Fila de desempregados em frente ao cartaz alusivo ao Estilo de vida americano (“O mais elevado padrão de vida do mundo”...“Nenhum estilo de vida se compara ao Americano”)
O Modo de Vida Americano!, como assim se traduz o slogan, reflete a cultura consumista dos americanos que prega que a felicidade se conquista com o acumulo de capital e o consumo de todo o tipo de bens materiais e de serviços, de preferência made in U.S.A.
Com essa campanha publicitária, os Estados Unidos combatiam a propaganda comunista da União Soviética e influenciava todo o mundo ocidental que passou a copiar e consumir a cultura americana.
Ao contrário do que ocorreu após 1ª Guerra mundial – a Europa se recuperou lentamente e ocasionou a crise mundial de 1929 – o mundo agora está mais experiente e maduro e a ONU (Organização das Nações Unidas), liderada e financiada pelos Estados Unidos, promoveu um bem sucedido plano de recuperação econômica da Europa e do Japão – o Plano Marshall – que também servia para reter a expansão soviética sobre esses países. Como resultado, o mundo testemunhou uma rápida e surpreendente recuperação desses países, resultando em um período de grande crescimento econômico em todo o mundo que perdurou até meados da década de 1970.
O crescimento econômico foi também marcado por grandes avanços tecnológicos, que levaram o mundo a uma sensação de viver em uma Aldeia Global: meios de comunicação e de transportes cada vez mais velozes e ao alcance de todos.
Os efeitos da globalização crescem e influenciam cada vez mais a administração das organizações, tanto públicas como privadas que, por sua vez, passam a experimentar um ritmo de expansão em tamanho e complexidade quase fora do controle. Os paradigmas das Teorias da Administração precisavam ser urgentemente revistos, a complexidade exigia modelos organizacionais mais bem adaptados a essa realidade que, apesar da complexidade, ainda era caracterizado por um ambiente externo relativamente previsível e de pouca concorrência para as grandes corporações.
Dentro deste contexto, os teóricos e pesquisadores buscam soluções promovendo uma releitura das abordagens existentes, convergindo técnicas e princípios com o intuito de atender as necessidades administrativas atuais das organizações.
Surgem então, as abordagens que ficaram conhecidas como “de transição” entre o radicalismo e a ingenuidade das escolas que formavam a Abordagem Clássica e a flexibilidade e complexidade das teorias que formariam a Abordagem Neoclássica.
 
Behaviorismo / Teoria Comportamental
 
A escola Behaviorista (ou Comportamental) pautou-se fortemente nos pressupostos da Abordagem Humanística fundindo-se aos estudos comportamentais que floresceram a partir do final da década de 1950, em vários campos da ciência, como a antropologia, a psicologia e a sociologia, adotando e adaptando conceitos originados dessas ciências para o ambiente organizacional. Buscava-se através de estudos sobre o comportamento do individuo, do grupo, do processo decisório e da cultura organizacional, a valorização do trabalhador dentro da organização baseado na cooperação.
Grandes contribuições para os estudos da administração podem ser atribuídos ao behaviorismo que deu origem a várias abordagens, entre elas:
Relações Sociais: Para Barnard (1971), as organizações são sistemas sociais baseados na cooperação entre as pessoas que têm por base a racionalidade.
O Processo Decisório: Para Simon apud Ferreira; Reis; Pereira (2011), a organização é um sistema de decisões no qual todos se comportam racionalmente apenas em relação a um conjunto de informações que conseguem obter a respeito de seus ambientes pela impossibilidade de se obter e de processar todas as informações necessárias.
Comportamento Organizacional e Motivação: O administrador deve conhecer as necessidades humanas e utilizar mecanismos motivacionais para poder dirigir adequadamente as organizações através das pessoas. O psicólogo Abraham Maslow (1908-1970) foi um dos principais contribuintes para estes estudos. Para Maslow apud Chiavenato (2004) as necessidades humanas estão organizadas em uma hierarquia de importância, como uma pirâmide. Quando uma necessidade de um nível inferior é satisfeita, ela deixa de ser motivadora de comportamento, dando oportunidade para que o nível imediatamente mais elevado possa se manifestar dominando o comportamento da pessoa.
Figura - 1 A Hierarquia das Necessidades, segundo Abraham Maslow
Fonte: Do autor (2012)
Teoria Contigêncial
 
A partir da década de 70, o cenário econômico estava bastante conturbado, as mudanças passaram a ocorrer com uma velocidade maior, levando as empresas a permanentes adaptações. Por um lado o mundo vivenciou entre 1977 a 1984 uma grande crise econômica ocasionada principalmente pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Por outro lado, o mundo também testemunhava grandes avanços tecnológicos a quarta geração dos computadores, agora menores (minis e micros) e mais acessíveis às empresas. Também foi nessa época que a internet deixou o ambiente militar e passou a ganhar espaço nas organizações.
Foi nesse contexto caracterizado por crise, incertezas e por grandes mudanças, que um grupo formado por pesquisadores e consultores, constatou em suas pesquisas que os mesmos métodos que se mostravam eficientes em certas situações, não surtiam os mesmos resultados em outras situações.
Essa constatação, portanto caracteriza a base da Teoria Contingencial, que se alicerça no conceito da incerteza de que algo pode ou não ocorrer.
Acontece que no ambiente externo as variáveis são independentes, portanto, nem sempre previsíveis e quase nunca controláveis. Já no ambiente interno, as técnicas e processos administrativos são variáveis dependentes, controláveis e acontecem dentro de uma relação funcional.
A abordagem contingencial entende não haver casualidade direta entre as variáveis independentes e dependentes já que o ambiente não provoca a ocorrência de técnicas e processos administrativos. Portanto, o alcance eficaz dos objetivos da organização consegue-se mais por uma relação funcional e proativa do tipo se... então e menos por uma relação reativa do tipo causa-efeito entre as variáveis independentes do ambiente e as variáveis administrativas dependentes.
 
Organizações Mecânicas e Orgânicas
 
As pesquisas desenvolvidas pelos sociólogos Tom Burns e G. M. Stalker (1961) foram de destacada contribuição para a abordagem contingencial.
Burns e Stalker (1961) pesquisaram a relação entre práticas administrativas e o ambiente externo de grandes empresas inglesas do setor industrial. Encontraram diferentes procedimentos administrativos dentro delas, as quais classificaram em dois sistemas: Sistema Mecânico e Sistema Orgânico.
A conclusão a que chegaram os pesquisadores é que os dois modelos de administração, apesar de serem antagônicos, são eficientes e eficazes dentro do ambiente onde atuam. Na verdade, o ambiente determina a estrutura e o funcionamento das organizações.
Diferentes estruturas organizacionais são necessárias para implementar diferentes estratégias e enfrentar diferentes ambientes. Cada estrutura é apropriada para a condição ambiental ondeatuam:
Sistema Mecânico: apropriado para empresas que operam em condições ambientais estáveis e relativamente previsíveis. O mercado, as fontes de matérias-primas e processos produtivos permanecem invariáveis, são poucas as decisões a serem tomadas. O foco é voltado para a estrutura da empresa e a eficiência nos processos.
Figura 2 - Sistema Mecânico
Fonte: Do autor (2012)
O modelo estrutural e administrativo do sistema mecânico é característico de órgãos públicos e de setores de empresas onde predominam rotinas como: financeiro, contábil e de produção em massa.
Sistema Orgânico: apropriado para empresas que operam em condições ambientais em constantes mutações e inovações. Quando a empresa atua em um ambiente cujo mercado e fontes de suprimento mudam rapidamente, os defeitos da estrutura tornam-se mais evidentes. O foco é voltado para a eficácia nos resultados, para a rede de suprimentos e a satisfação dos clientes.
Figura 3 - Sistema Orgânico
Fonte: Do autor, 2012
O modelo estrutural e administrativo do sistema orgânico é característico de empresas prestadoras de serviços especializados, de contato direto e constante com o cliente, que atuam no mercado de alta tecnologia e em mercados ditados pelas tendências da moda.
A tabela abaixo mostra as principais características – e diferenças – dos dois modelos, segundo Chiavenato (2004, p.395):
Quadro 1: Sistema Mecânico x Sistema Orgânico
Assim, diferentes ambientes levam as empresas a adotar novas estratégias que, por sua vez, exigem mudanças: estruturais, de valores, de atitudes, de formas de pensar e de se relacionar.
A Era da Informação e do Conhecimento
 
A década de 1990 marca o início de uma nova era, chamada por muitos de Era Pós-industrial, pois é marcada pelo fenômeno da desindustrialização dos países ricos e do fortalecimento do setor terciário da economia – o setor de serviços – que, por sua vez, engloba a produção de intangíveis com elevado valor agregado, tais como: tecnologia da informação e comunicação, conectividade, produção de conhecimento e tecnologia, produção de softwares, etc.
A competitividade tornou-se nessa época, ainda mais intensa entre as organizações. Em uma época em que todos dispõem da informação em tempo real, são mais bem sucedidas as organizações capazes de tomar a informação e transformá-la rapidamente em um novo produto ou serviço, antes que os seus concorrentes façam.
As pessoas agora são consideradas o bem mais valioso das organizações que se transformam em usinas de conhecimento, ideias e inovação, substituindo o capital financeiro pelo capital intelectual. Drucker (1996) denomina esse período como Sociedade do Conhecimento, também conhecida como Era do Conhecimento ou Era da Informação.
Na era da informação, as organizações requerem agilidade, mobilidade, inovação e mudanças necessárias para enfrentar as novas ameaças e oportunidades em um ambiente de intensa mudança e turbulência. Os órgãos - como departamentos ou divisões – tornam-se provisórios e não definitivos; os cargos e funções passam a ser definidos e redefinidos em razão das mudanças no ambiente e na tecnologia; os produtos e serviços passam a ser continuamente ajustados às demandas e necessidades dos clientes.
Apesar dessa radical transmutação de valores, o ambiente de trabalho característico da II Era Industrial ainda está muito presente nas linhas de produção atuais. Como podemos observar na foto abaixo, ainda vemos linhas de produção infindáveis, em ambientes planejados e organizados, com as pessoas desenvolvendo tarefas repetitivas, bem definidas, padronizadas e com o foco na eficiência dos processos.
Figura 4 -  Linha de Produção de veículos Geely, China.
Fonte: Siyuwj (2012)
Simultaneamente testemunhamos em muitas organizações ambientes de trabalho extremamente agradáveis e descontraídos, que mais se assemelham ao ambiente de um shopping center, característicos da eram pós industrial, com o foco inteiramente voltado nas pessoas, suas ideias, sua criatividade e no resultado final. Para isso os ambientes de trabalhos são moldados objetivando o bem estar das pessoas para que elas se sintam bem e possam produzir da melhor forma possível.
Figura 5: Ambiente de trabalho da Google UK.
Fonte: Betta (2011)
As principais diferenças de valores que podemos observar entre as duas eras são:
É importante entendermos que o mundo sempre irá precisar de produtos tangíveis (carros, computadores, telefones, etc.), portanto os ambientes que caracterizam as duas eras deverão conviver juntos por muito tempo ainda, um precisando do outro. Os fundamentos tayloristas provavelmente devem perdurar no chão de fábrica, entretanto, mesmo para estes ambientes, as técnicas inovadoras de produtividade vindas principalmente do Japão, se popularizaram a partir da década de 1990 se assemelham mais com filosofia de trabalho do que técnicas mecanicistas. Entre elas se destacam a filosofia Kaizen, Just In Time, o Ciclo PDCA e Lean Production.
As técnicas japonesas que carregam em seus princípios a milenar cultura japonesa provocou uma verdadeira revolução na indústria automobilística do mundo inteiro a partir da década de 1980, transformando-se em uma nova teoria de administração conhecida como Toyotismo e que perdura até os dias atuais.
Quer Saber Mais?
Sobre o Sistema Toyota de Produção?
Acesse o site do Lean Institute Brasil:
http://www.lean.org.br/
Assista ao Vídeo sobre a historia da Toyota e do TPS – Toyota Production System:  Parte I  /  Parte II
 Para entendermos melhor o contexto da Era da Informação e do Conhecimento, vamos assistir à próxima aula:
Aula 4 - Sem Libras
A ERA DO CONHECIMENTO
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Aula 4 - Com Libras
 
Na era da informação as pessoas na organização foram alçadas ao posto de primeira importância e um dos maiores desafios das organizações é contratar as pessoas certas para a função certa de acordo com as suas competências. Uma vez contratadas, a preocupação passa a ser a retenção dessas pessoas convertidas em talentos e o comprometimento com o desenvolvimento contínuo como uma forma de criar vantagem competitiva sustentável.
É sobre esse assunto que trataremos na próxima seção.
O Perfil do Homem da Era do Conhecimento
 
No contexto da Era do Conhecimento a tradicional Área de Recursos Humanos (ARH) tem passado por transformações, deixando de ser uma área fechada, monopolizadora e centralizadora como era no passado, tornando-se uma área aberta, amigável, compartilhadora e descentralizadora, transformando-se em Gestora de Pessoas. O tradicional T&D (Treinamento e Desenvolvimento) evoluiu para Desenvolvimento Organizacional, que implica em:
Assista à aula a seguir para melhor conhecer o perfil do homem a Era do Conhecimento:
Aula 5 - Sem Libras
O PERFIL DO ADMINISTRADOR DE HOJE
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Aula 5 - Com Libras
Enfim, caro aluno. Com o propósito de reter seus principais talentos que no contexto atual se tornaram suas vantagens competitivas e representa o principal capital, as empresas atualmente se empenham em oferecer benefícios e oportunidades de crescimento profissional a essas pessoas com o intuito de não as perder para seus concorrentes.

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