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www.grupogen.com.br http://gen-io.grupogen.com.br N I Moore Anatomia Orientada para a Clínica www.grupogen.com.br http://gen-io.grupogen.com.br G|S|R|L|F|M|U O GEN | Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, Roca, LTC, Forense, Método e Forense Universitária O GEN-IO | GEN – Informação Online é o repositório de material suplementar dos livros dessas editoras Traduzido de: CLINICALLY ORIENTED ANATOMY, SEVENTH EDITION Copyright © 2014, 2010, 2006, 1999, 1992, 1985, 1980 Lippincott Williams & Wilkins, a Wolters Kluwer business. All rights reserved. 2001 Market Street Philadelphia, PA 19103 USA LWW.com Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins, Inc., USA. Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title. ISBN: 978‑1‑4511‑8447‑1 Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2014 by EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Travessa do Ouvidor, 11 Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040‑040 Tels.: (21) 3543‑0770/(11) 5080‑0770 | Fax: (21) 3543‑0896 www.editoraguanabara.com.br | www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.br Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA gUANABARA KOOgAN LTDA. Editoração eletrônica: Anthares 1 | Tórax Estudos de caso 1.1A. Durante o exame físico de uma menina de 12 anos, um jovem médico, no primeiro ano de residência, não conseguiu auscultar os batimentos cardíacos dela. O pulso radial, porém, estava normal. Depois de pensar sobre o assunto, o médico conseguiu auscultar batimentos cardíacos normais. Onde o médico normalmente tentaria auscultar os batimen- tos cardíacos? Resposta: o médico normalmente auscultaria no foco do ápice cardíaco, apoiando a campânula do estetoscópio sobre o quinto espaço intercostal esquerdo, medialmente à linha medio- clavicular, ou seja, em posição inferomedial à papila mamária. 1.1B. Que anomalia congênita cardíaca poderia ser responsável pela incapacidade de auscultar os batimentos cardíacos no hemitórax esquerdo? Resposta: a dextrocardia, uma anomalia congênita na qual, durante o desenvolvimento embrionário, o coração gira para a esquerda em vez de para a direita. Isso explica- ria a incapacidade de detectar os batimentos cardíacos no hemitórax esquerdo. 1.1C. Em que outro foco se deve tentar auscultar os batimentos cardíacos? Resposta: em uma pessoa com dextrocardia, a ausculta dos batimentos deve ser melhor no quinto espaço intercostal direito, em posição inferomedial à papila mamária direita. 1.2A. Uma mulher de 46 anos procurou o médico por causa de uma massa de consistência firme e indolor à palpação na mama esquerda. Durante o exame físico, o médico palpou massa no quadrante lateral superior da mama esquerda. Observou também ondulação e espessamento da pele nesse quadrante e notou que a papila mamária esquerda era flagrantemente maior que a direita. Na palpação da axila foram encontrados linfonodos aumentados e de consistência firme. O diagnóstico foi carcinoma da mama. Por quais locais ou estruturas passa inicialmente a maioria das células cancerosas transportadas pela linfa oriundas do quadrante lateral superior esquerdo da mama? Resposta: em geral, 75% do fluxo linfático da mama, o que inclui a maior parte da linfa proveniente do quadrante lateral superior, drena para os linfonodos axilares; a maior parte segue inicialmente para o grupo peitoral (anterior) de linfonodos axi- lares. Assim, a maioria das células metastáticas de um câncer de mama, sobretudo as originárias do quadrante lateral superior, segue inicialmente para o grupo peitoral de linfonodos axilares. 1.2B. Para que outros linfonodos e locais a linfa pode transportar as células cancerosas? Resposta: a linfa desse quadrante também pode transportar algumas células cancerosas diretamente para os linfonodos axilares apicais, deltopeitorais e supraclaviculares ou para pe- quenos linfonodos interpeitorais irregulares entre os músculos peitorais. 1.2C. Qual é a causa do espessamento e da ondulação da pele e da elevação da papila mamária no câncer de mama? Resposta: a interferência com a drenagem linfática da mama por invasão de células cancerosas pode causar edema, resultando em aspecto de espessamento e fina ondulação da pele, comparada à casca de laranja (peau d’orange). As depres- sões localizadas da pele e/ou a retração da papila mamária ocorrem quando o câncer invade os ligamentos suspensores, o tecido glandular ou os ductos lactíferos. A elevação de toda a mama, com consequente elevação da papila mamária afetada em relação à papila contralateral, é consequência da entrada de células cancerosas no espaço retromamário, na fáscia peitoral e nos linfonodos interpeitorais. 1.3A. Uma mulher foi ferida por instrumento perfurocortante na parte lateral inferior direita do pescoço. A ferida estava locali- zada 2 a 3 cm acima do terço medial da clavícula. Logo depois que o sangramento foi controlado, a mulher começou a respirar rapidamente e os paramédicos administraram oxigênio. Ao 2 Anatomia Orientada para a Clínica exame físico, constatou‑se desvio considerável do pulso apical para a esquerda, e a ausculta revelou diminuição do murmúrio vesicular no hemitórax direito. Quais foram as estruturas provavelmente lesadas? Resposta: as estruturas que podem ter sido lesadas são ar‑ téria e veia subclávias direitas, membrana suprapleural, cúpula da pleura e ápice do pulmão. 1.3B. Que lesões poderiam causar o desvio do pulso apical para o hemitórax esquerdo? Resposta: a lesão dos vasos subclávios e da pleura parietal poderia acarretar o acúmulo de ar e sangue na cavidade pleu‑ ral (pneumotórax e hemotórax). Por sua vez, esse distúrbio poderia resultar em colapso parcial ou total do pulmão direito (atelectasia). O acúmulo de ar ou sangue suficiente para au‑ mentar o volume da cavidade pulmonar direita (pneumotórax hipertensivo ou hemotórax) causa desvio para a esquerda do maleável mediastino (inclusive do coração) (desvio do mediastino). 1.3C. Que procedimento provavelmente seria realizado para cor‑ rigir a posição anormal do coração? Resposta: provavelmente seria realizada uma toracocen- tese seguida por inserção de dreno torácico com válvula para remover o sangue da cavidade pleural e possibilitar a insuflação pulmonar. 1.3D. Que estruturas são vulneráveis durante esse procedimento? Resposta: os nervos e vasos intercostais são vulneráveis a lesão durante a toracocentese. 1.4A. Um homem de 62 anos procurou o médico por causa de dificuldade respiratória. Ao exame físico, o médico palpou a traqueia na incisura jugular. Durante a sístole cardíaca, ele percebeu movimentação anormal da traqueia. As imagens radiográficas mostraram um aneurisma do arco da aorta. O que é um aneurisma do arco da aorta? Resposta: aneurisma do arco da aorta é uma dilatação da parede do arco, geralmente causada por fraqueza adquirida ou congênita da parede vascular. 1.4B. Por que essa anormalidade é comum em pessoas idosas? Resposta: essa anormalidade é comum em idosos com doença arterial e em alguns distúrbios congênitos, como na estenose da valva da aorta e na síndrome de Marfan – distúrbio genético e multissistêmico do tecido conectivo caracterizado por alterações ósseas (membros longos, projeção do esterno, frouxidão articular) e eventos cardiovasculares como prolapso da valva atrioventricular esquerda. 1.4C. Que estruturaspodem ser comprimidas pelo aneurisma? Resposta: o arco da aorta situa‑se posteriormente ao ma‑ núbrio do esterno e segue em sentido superoposterior e para a esquerda, anteriormente à traqueia. Depois, o arco segue inferiormente à esquerda da traqueia e do esôfago. Conse‑ quentemente, pode comprimir a traqueia e o esôfago, causando dispneia e dificuldade de deglutição. 1.4D. Qual é a explicação para a movimentação anormal da tra‑ queia durante a sístole cardíaca? Resposta: durante a sístole ventricular (contração e esvazia‑ mento), o sangue é empurrado para a parte ascendente e o arco da aorta, o que expande o aneurisma e aumenta a compressão da traqueia e do esôfago. O movimento anormal (“tração”) da traqueia durante a sístole pode ser palpado na incisura jugular. 1.5A. Durante uma discussão acalorada com um cliente, uma em‑ presária de 48 anos sentiu uma dor torácica subesternal súbita, em caráter de opressão, que se irradiava ao longo da face medial do braço esquerdo. O cliente amparou‑a até o sofá, onde ela contorceu e alongou o corpo, além de eructar, na tentativa de aliviar a dor. Quando a secretária notou que ela estava pálida, transpirando e se contorcendo de dor, chamou um médico e uma ambulância. Os atendentes da ambulância administraram oxigênio e levaram‑na com urgência para o hospital, onde foi internada na unidade de terapia intensiva (UTI), pois a dor, embora tivesse diminuído, ainda persistia quase 40 minutos de‑ pois do início. Ela foi posta em observação com monitoramento eletrocardiográfico para detecção de possíveis arritmias fatais. A pressão arterial estava baixa (um sinal de choque). Durante a anamnese, o residente (R2) soube que, durante períodos de estresse anteriores, a paciente apresentara episódios de desconforto subesternal, que não descrevia como dor. Se‑ gundo ela, esse desconforto sempre desaparecia com o repouso. Quando o residente pediu que descrevesse a dor torácica atual, a paciente disse que era a dor mais forte que já havia sentido e cerrou o punho para demonstrar sua natureza opressiva. Contou que a dor era acompanhada de sensação de fraqueza e náuseas. À ausculta, o residente detectou uma arritmia esporádica. Eletrocardiograma (ECG): anormal. Exames laboratoriais: elevação dos níveis séricos de subs‑ tâncias que confirmavam a necrose miocárdica. Diagnóstico: infarto agudo do miocárdio (IAM) causado por aterosclerose coronariana. Defina IAM e aterosclerose coronariana. Resposta: o IAM é uma doença caracterizada por fluxo sanguíneo insuficiente (isquemia) e subsequente necrose do músculo ventricular (miocárdio), resultante da oclusão súbita de uma artéria coronária ou do esforço excessivo de um indivíduo com estenose das artérias coronárias. A necrose miocárdica causa disfunção da bomba cardíaca ou morte se a área infarta‑ da for tão extensa que resulte em comprometimento grave da função cardíaca. Ateroma (ou placa ateromatosa) é um depósito Estudos de Caso | Capítulo 1 3 lipídico protruso na superfície endotelial de um vaso sanguíneo. A ulceração e a desintegração do ateroma provocam a liberação de resíduos ateromatosos. Esse êmbolo é transportado ao longo da artéria coronária até chegar a uma parte naturalmente mais estreita ou estenótica. Como obstrui o vaso, não há mais passa‑ gem de sangue para o miocárdio e ocorre IAM. 1.5B. Explique a base anatômica da dor cardíaca referida da pa‑ ciente para o lado esquerdo do tórax, o ombro e a face medial do braço. Resposta: o sintoma dominante do IAM é a dor visceral profunda e referida. A dor referida visceral é a percepção de dor visceral como se ocorresse em áreas cutâneas distantes. Fibras de dor aferentes do coração seguem pelos ramos cervi‑ cais médios e inferiores e dos ramos torácicos superiores dos troncos simpáticos do pescoço e do tórax até os corpos celulares nos gânglios sensitivos dos nervos espinais T1 a T4 ou T5. Os prolongamentos centrais (axônios) desses neurônios sensitivos primários penetram nos segmentos medulares T1 a T4 ou T5, no lado esquerdo. Com frequência, a dor de origem cardíaca é referida (percebida como tendo origem) no lado esquerdo do tórax e ao longo da face medial do braço e da parte superior do antebraço. Esses são dermátomos servidos pelos mesmos gânglios sensitivos de nervos espinais e segmentos da medula espinal que recebem a sensibilidade cardíaca. 1.6A. Um homem de 58 anos que passou toda a vida em uma área industrial procurou o médico porque apresentava expectoração de sangue (hemoptise) e dificuldade para respirar (dispneia) durante o esforço físico. O médico constatou que ele era um tabagista inveterado há mais de 40 anos e apresentava “tosse de fumante” há vários anos. Segundo o paciente, a dispneia e a tosse haviam piorado nos últimos meses. Primeiro, ele obser‑ vou raias de sangue no escarro cerca de três semanas antes e acreditava que poderiam estar relacionadas com a rouquidão surgida recentemente. Contou que, na mesma ocasião, sentiu dor (angina) no hemitórax esquerdo. O exame físico mostrou que os linfonodos supraclaviculares mediais esquerdos estavam discretamente aumentados e mais firmes que o habitual. O murmúrio vesicular e a ressonância estavam mais diminuídos no hemitórax esquerdo que no hemitórax direito. O médico solicitou radiografias de tórax. Laudo radiológico: há obscurecimento do hilo pulmonar esquerdo por massa. Não é possível identificar o contorno normal do mediastino à esquerda acima do hilo, e há discreta radiotransparência do restante do pulmão esquerdo. Há pe‑ queno desvio do mediastino para a direita. Endoscopia: ao examinar os brônquios principais sob aneste‑ sia local com um broncoscópio, o otorrinolaringologista obser‑ vou massa que obstruía parcialmente a origem do brônquio para o lobo superior esquerdo. Através do broncoscópio, ele fez uma biopsia do tumor. Os linfonodos supraclaviculares aumentados também foram biopsiados para exame microscópico. Mediastinoscopia: o exame do mediastino com inserção de mediastinoscópio através de incisão supraesternal sob anestesia revelou aumento dos linfonodos traqueobrônquicos superiores. O cirurgião biopsiou esses linfonodos através do mediastinoscópio. Laudo histopatológico: a biopsia brônquica detectou car‑ cinoma broncogênico. Os linfonodos supraclaviculares não mostraram acometimento tumoral definido, mas os linfonodos mediastinais continham muitas células malignas. Diagnóstico: carcinoma broncogênico com metástases para linfonodos mediastinais. Com base em seu conhecimento sobre as relações anatômicas dos brônquios e pulmões, cite que estruturas provavelmente serão acometidas por extensão direta (contiguidade) de um tumor maligno do brônquio. Resposta: tendo em vista as relações anatômicas dos brônquios e pulmões, alguns cânceres broncogênicos podem estender‑se para o mediastino, a raiz do pescoço, a parede to‑ rácica ou o diafragma. Nesse caso, a invasão da parte superior esquerda do mediastino e da raiz do pescoço é mais provável. A infiltração pleural direta causa derrame pleural na cavidade pleural. Esse exsudato pleural pode conter sangue (sanguino‑ lento) e células malignas esfoliadas. 1.6B. Que nervos ou formações nervosas poderiam ser acometidos em um tumor desse tipo? Quais seriam as manifestações desse acometimento? Resposta: os nervos possivelmente acometidos, e as mani‑ festações desse acometimento, são: • Nervo frênico esquerdo, no cruzamento anterior à raiz do pulmão esquerdo, ou na raiz do pescoço; pode causar paralisia de metade do diafragma • Nervo laríngeo recorrente esquerdo, ao passar sob o arco da aorta e acima do brônquio principal esquerdo, adjacente aos linfonodos traqueobrônquicos superiores, ou no ápice do pulmão; provoca rouquidão por paralisia daspregas vocais • Nervos espinais torácicos superiores esquerdos ou tronco infe‑ rior do plexo braquial; causa dor do tipo anginoso à esquerda, no hemitórax, axila e parte medial do membro superior, e pode afetar estruturas supridas pelo nervo ulnar, como os músculos intrínsecos da mão • Cadeia simpática torácica e gânglio cervicotorácico (estrelado), com consequente síndrome de Horner. 1.6C. Que grupos de linfonodos tendem a ser acometidos, seja de modo primário ou secundário? Quais são as possíveis manifes‑ tações desse acometimento? Resposta: toda a linfa proveniente do pulmão atravessa os linfonodos broncopulmonares no hilo. As estruturas da raiz do pulmão drenam inicialmente para esses linfonodos. À medida que esses linfonodos aumentam, causam a expansão do hilo pul‑ monar, que adquire aparência tumoral. Também é provável que comprimam os brônquios, interferindo na ventilação pulmonar. Os linfonodos broncopulmonares drenam para os linfonodos traqueobrônquicos localizados nos ângulos entre a traqueia e os brônquios, parte do grupo de linfonodos mediastinais. Cli‑ nicamente, o grupo inferior de linfonodos traqueobrônquicos 4 Anatomia Orientada para a Clínica costuma ser designado de linfonodos carinais em virtude da proximidade da carina da bifurcação da traqueia. O alargamento e a fixação da bifurcação da traqueia podem estar associados a aumento desses linfonodos decorrente de seu acometimento por tumores metastáticos. É possível observar essas anormalidades ao exame broncoscópico e radiológico. Linfonodos mediastinais podem causar um entalhe no esôfago, que pode ser observado nas radiografias quando o paciente ingere emulsão de sulfato de bário. 1.6D. Quais seriam as diferenças se o tumor estivesse localizado no lobo inferior do pulmão esquerdo? Resposta: a linfa proveniente do pulmão direito drena para linfonodos traqueobrônquicos e depois continua através dos linfonodos paratraqueais direitos, do tronco broncomediastinal direito e do tronco linfático direito. A linfa proveniente do lobo superior e parte da linfa do lobo inferior do pulmão esquerdo drena para os linfonodos traqueobrônquicos superiores esquer‑ dos e continua por uma via semelhante no lado esquerdo que conduz ao ducto torácico. No entanto, a maior parte da linfa proveniente do lobo inferior do pulmão esquerdo drena para os linfonodos traqueobrônquicos inferiores e continua pela via direita. Assim, células tumorais nos linfonodos traqueobrôn‑ quicos, paratraqueais ou supraclaviculares superiores no lado direito podem ter se originado no lobo inferior do pulmão esquerdo. 1.6E. Qual seria a relevância dos linfonodos supraclaviculares aumentados ou dolorosos à palpação? Resposta: os linfonodos supraclaviculares mediais (às vezes denominados “escalenos”) ocupam posição imediatamente su‑ perior à clavícula, onde os troncos broncomediastinais unem‑se aos troncos subclávio e jugular para formar o tronco linfático direito, à direita, ou entrar no ducto torácico, à esquerda. Esses linfonodos são palpáveis e, com frequência, a dor à palpação ou o aumento desses linfonodos é uma indicação inicial de doença (daí a designação linfonodos sentinelas). No entanto, a linfadenopatia desses nodos não é patognomônica (não indica especificamente doença) de câncer broncogênico. Eles também podem ser acometidos em outras doenças, inclusive no câncer de mama. No caso de câncer broncogênico, o acometimento desses linfonodos ocorre em um estágio bastante avançado e foi considerado um sinal de inoperabilidade do tumor. 1.6F. Em que local devem ser encontradas as células tumorais que metastatizaram pela linfa e pelo sangue? Resposta: como toda a linfa mistura‑se ao sangue venoso nos ângulos venosos, por meio do ducto linfático direito ou do ducto torácico, células metastáticas originadas dos pulmões e das pleuras, presentes na linfa, podem entrar nas câmaras cardíacas direitas, além de metastatizarem para linfonodos ao longo do trajeto de drenagem. Consequentemente, as células cancerosas podem atravessar a circulação pulmonar, voltar ao coração e ser distribuídas no corpo pelas artérias sistêmicas. Os locais comuns de metástases hematogênicas de carcinoma broncogênico são pulmões, encéfalo, ossos (costelas e vértebras) e glândulas suprarrenais. 1.6G. Descreva as possíveis vias anatômicas para metástase de células cancerosas de um carcinoma broncogênico para esses locais. Resposta: uma vez nos leitos capilares dos órgãos citados, as células tumorais provavelmente passam entre as células endoteliais dos capilares e entram no tecido parenquimatoso. Células tumorais podem entrar no sangue venoso diretamen‑ te através da parede de um capilar ou vênula no pulmão, e também ocorre erosão de tumores broncogênicos para as veias pulmonares perto do hilo. Embora a maioria das células cancerosas do pulmão provavelmente seja transportada para o local metastático pelo sistema arterial, outras podem ser trans‑ portadas pelo sistema venoso. Sugeriu‑se que a tosse constante e os linfonodos mediastinais aumentados comprimam as veias cavas superior e inferior, com consequente prejuízo do retorno venoso e inversão de fluxo sanguíneo de drenagem dos brônquios, que passa a atravessar as veias brônquicas para o sistema venoso ázigo. A partir daí, células sanguíneas e tumorais poderiam seguir até os plexos venosos vertebrais externos extradurais (epidurais) ao redor da parte espinal da dura‑máter (ver Capítulo 4). Como esse plexo comunica‑se com os seios da dura‑máter cranianos, as células tumorais podem ser transportadas para o encéfalo. A entrada de célu‑ las tumorais nas veias da coluna vertebral também explica a frequência de metástases para as vértebras. 1.7A. Durante uma discussão violenta com a esposa, um homem de 44 anos, alcoolizado, foi ferido com uma faca para legumes. A faca penetrou no quarto espaço intercostal, imediatamente lateral à margem esternal esquerda. No caminho até o hospi‑ tal, primeiro o paramédico comprimiu a ferida para contro‑ lar a hemorragia externa. As bulhas cardíacas tornaram‑se hipofonéticas e a pressão diferencial começou a cair, porém houve ingurgitamento das veias do pescoço e da face. Logo a respiração do paciente tornou‑se arquejante e ele entrou em choque. Enquanto o colega administrava oxigênio, o paramé‑ dico retirou a compressa (o sangramento cessara) e inseriu um tubo na ferida até uma profundidade em que começou a fluir sangue pelo tubo. Com uma seringa, aspirou cerca de 25 mL de sangue. Houve melhora quase imediata dos sinais cardíacos, logo seguida de diminuição e da aspiração de mais sangue. Depois da chegada ao pronto‑socorro (PS), iniciou‑se imediatamente a transfusão de sangue e o paciente foi levado às pressas ao centro cirúrgico (CC) para toracotomia com pericardiotomia e sutura direta da ferida cardíaca. No CC, a intubação traqueal para assistência respiratória só foi iniciada depois da abertura do pericárdio. Diagnóstico: tamponamento cardíaco por ferida perfuro‑ contusa. Com base em seu conhecimento sobre a anatomia de su‑ perfície do tórax, que órgão(s) a faca provavelmente perfurou? Estudos de Caso | Capítulo 1 5 Resposta: a faca, ao entrar no quarto espaço intercostal, lateralmente à margem esternal esquerda, pode não ter pene‑ trado no pulmão esquerdo por causa da depressão cardíaca em sua margem anterior. O mais provável é que tenha seccionado a camada parietal da pleura do pulmão esquerdo e entrado no ventrículo esquerdo. A laceração do pericárdio e do miocárdio provavelmente é bem pequena, ou a exsanguinação (perda de sangue) teria ocorrido muito mais rapidamente, com resultados fatais. 1.7B. Qual é o local provável de acúmulo de sangue? Resposta: o sangue acumulou‑seno saco pericárdico (he- motórax). 1.7C. Discorra sobre o tamponamento cardíaco e como esse dis‑ túrbio causou os sinais e sintomas observados pelo paramédico. Resposta: o aumento progressivo da “camada” de sangue entre o saco pericárdico e o coração é responsável pela hipo‑ fonese das bulhas cardíacas. Por causa do comprometimento progressivo do volume desse saco inflexível, o coração tornou‑se cada vez menos capaz de se expandir e aceitar o sangue após cada contração (tamponamento cardíaco). A dificuldade progressiva da entrada de sangue causou aumento da pressão no lado venoso, inicialmente nas veias cavas, depois, em suas tributárias. Essa é a causa do ingurgitamento das veias cervicais e faciais do paciente. Evidentemente, se o afluxo de sangue diminuiu, o mesmo acon‑ teceu com o débito cardíaco, com consequente queda da pressão arterial. A diminuição do fluxo sanguíneo para os pulmões e o encéfalo acarretou a respiração arquejante e o choque. 1.7D. Qual foi o procedimento realizado pelo paramédico? Qual foi o efeito? Resposta: o procedimento realizado pelo paramédico foi a pericardiocentese — retirada de líquido do saco pericárdico. Isso alivia o tamponamento, o que possibilita a maior expansão cardíaca para receber sangue após cada contração e, assim, restaura um débito cardíaco fisiológico. 1.7E. Por que a assistência respiratória não foi instituída no início do procedimento no centro cirúrgico? Resposta: a assistência respiratória com pressão positiva nas vias respiratórias só foi iniciada depois da abertura do pericár‑ dio, visto que aumentaria ainda mais a pressão intratorácica, exacerbando o tamponamento do coração e das veias cavas, talvez reduzindo a zero um débito cardíaco já muito diminuído. 1.8A. Um homem baixo e magro, com membros longos e esguios, de 42 anos, queixou‑se de recente dificuldade respiratória du‑ rante o exercício físico (dispneia aos esforços) e fadiga extrema. Ele afirmou que, exceto pelo subdesenvolvimento físico, sua saúde foi boa durante a maior parte da vida, até aproximada‑ mente o ano anterior, quando contraiu várias infecções respi‑ ratórias. O exame físico mostrou impulso ventricular direito proeminente. A ausculta detectou um sopro mesossistólico de intensidade moderada sobre o segundo e o terceiro espaços intercostais ao longo da margem esternal esquerda inferior. O ECG mostrou alterações sugestivas de hipertrofia ventricular direita. O médico solicitou radiografias de tórax (incidências PA e perfil) e angiocardiografia. Laudo radiológico: as radiografias mostraram aumento das câmaras cardíacas direitas, sobretudo da via de saída, botão aórtico pequeno (protrusão da margem esquerda da silhueta cardíaca causada pelo arco da aorta), dilatação da artéria pul‑ monar e de seus principais ramos, além de aumento da trama vascular pulmonar. Durante o cateterismo cardíaco direito, o cateter passou com facilidade do átrio direito para o átrio esquerdo. Amostras seriadas de sangue para determinação da saturação de oxigênio foram coletadas ao retirar o cateter do átrio esquerdo para o átrio direito e, depois, na VCI. Esses es‑ tudos mostraram aumento da saturação de oxigênio do sangue atrial direito em relação ao sangue na VCI. As determinações seriadas das pressões mostraram pressões diferentes nos átrios (um pouco maiores no átrio esquerdo). Diagnóstico: comunicação interatrial (CIA) classificada como do tipo ostium secundum, com desvio de sangue do átrio esquerdo para o átrio direito. É provável que esse homem tenha nascido com a CIA? Resposta: a CIA é uma malformação congênita. É um de‑ feito do septo interatrial que se desenvolve durante a formação embrionária do coração. 1.8B. Que estruturas embrionárias foram acometidas nessa ano‑ malia? O que resta delas após o nascimento? Resposta: a forma comum de CIA é o ostium secundum de CIA, assim classificado por ser causado pelo desenvolvimento anormal do forame oval e do septo secundário (do latim, sep- tum secundum). O local da abertura pré‑natal, e onde ocorre a maioria dos defeitos, é representado pela fossa oval no átrio direito do adulto. Depois do nascimento, o septo primário (do latim, septum primum) e o septo secundário normalmente fundem‑se de tal maneira que não resta abertura entre os átrios direito e esquerdo. 1.8C. Que outras complicações você acredita que esse paciente poderia apresentar em decorrência do shunt esquerda‑direita de sangue? Resposta: o shunt esquerda‑direita de sangue ocorre por‑ que a pressão no átrio esquerdo é maior que no átrio direito durante a maior parte do ciclo cardíaco. Portanto, parte do sangue do paciente atravessa o circuito pulmonar duas vezes. Logo, a carga de trabalho do ventrículo direito aumenta e há hipertrofia de sua parede muscular. As cavidades do átrio direito e do ventrículo direito e a artéria pulmonar dilatam‑se para acomodar o excesso de sangue em seu interior. Durante os primeiros 40 anos de vida, a maioria dos pacientes com CIA tem tolerância moderada a boa aos esforços físicos, embora a 6 Anatomia Orientada para a Clínica abertura no septo interatrial frequentemente tenha de 2 a 4 cm de diâmetro. A doença vascular pulmonar (arteriosclerose) é provável em virtude da elevada pressão na artéria pulmonar, sobretudo em caso de infecções respiratórias recorrentes. Por fim, a hipertensão pulmonar grave pode tornar a pressão no átrio direito maior que no átrio esquerdo, com inversão do shunt e consequente cianose, incapacidade grave e insufici‑ ência cardíaca. 1.9A. Um menino de 16 meses estava ajudando a mãe a fazer a limpeza na manhã seguinte a um coquetel quando subitamente começou a sufocar. Acreditando que algo estivesse obstruindo sua garganta, a mãe segurou‑o sobre o antebraço e bateu várias vezes nas suas costas. Embora ele parecesse ter melhorado um pouco depois disso, não demorou até que voltasse a tossir. Quan‑ do notou que a criança estava com dificuldade para respirar, a mãe telefonou para a pediatra que combinou de encontrá‑la no hospital. Quando a médica perguntou o que a criança esta‑ va comendo ao se sufocar, a mãe respondeu, “Nada! Mas ele poderia ter pego algo que tivesse caído no chão ontem à noite, como um amendoim.” Exame físico: o exame físico mostrou que a criança tinha angústia respiratória caracterizada por tosse e dispneia. Ao exame subsequente, a pediatra observou movimento limitado do hemitórax direito. A ausculta revelou murmúrio vesicular diminuído no hemitórax direito, anterior e posteriormente. À percussão, a médica observou leve hiper-ressonância sobre o pulmão direito. Ela solicitou uma radioscopia de tórax e radio‑ grafias de tórax (inspirada e expirada). Laudo radiológico: há hiperinsuflação dos lobos médio e inferior do pulmão direito, com desvio do coração e de outras estruturas do mediastino para a esquerda, que diminui à inspiração. Aparentemente, há um corpo estranho alojado no brônquio lobar médio direito, logo inferior à origem do brônquio lobar superior. Broncoscopia: sob anestesia geral, examinou‑se a árvore brônquica por meio de um broncoscópio. O broncoscopista observou um corpo estranho no brônquio lobar médio direito, no local sugerido pelo radiologista, e retirou‑o, com alguma dificuldade, com o auxílio de uma pinça introduzida através do broncoscópio. O objeto era um amendoim grande. Diagnóstico: obstrução brônquica por aspiração de amen‑ doim. Qual é a explicação anatômica para a entrada de corpos estranhos no brônquio principal direito, com acometimento dos lobos médio e inferior do pulmão direito? Resposta: o brônquio principal direito é mais largo, mais curto e mais vertical que o esquerdo, consequentemente é mais frequente a entrada de corpos estranhos no brônquio direito que noesquerdo. Os lobos médio e inferior do pul‑ mão direito geralmente são acometidos porque o brônquio lobar inferior direito está alinhado com o brônquio principal direito e porque o corpo estranho frequentemente aloja‑se no brônquio intermediário, superior à origem do brônquio lobar médio. 1.9B. Se o amendoim não fosse retirado, poderia ter havido co‑ lapso dos lobos médio e inferior do pulmão direito do lactente. Explique o motivo do colapso pulmonar. Qual é o termo usado para designar essa ocorrência? Resposta: em caso de obstrução completa de um brônquio principal, acaba ocorrendo colapso de todo o pulmão, pois há esgotamento do oxigênio e absorção de dióxido de carbono e nitrogênio pelo sangue que continua a irrigar o pulmão. Portan‑ to, o pulmão torna‑se não ventilado ou atelectásico, distúrbio denominado atelectasia (secundária). A atelectasia primária refere‑se ao pulmão que nunca se encheu de ar (ausência de insuflação do pulmão ao nascimento). Dependendo do local de obstrução, o colapso pode acometer todo o pulmão, um lobo ou um segmento broncopulmonar. 1.9C. Qual seria o aspecto dos lobos colapsados em uma radio‑ grafia? Resposta: como um pulmão, ou parte de um pulmão, colapsado tem densidade de tecidos moles (em comparação com a densidade de ar normal dos pulmões), a atelectasia do pulmão, lobo ou segmento é observada como sombras densas (claras) homogêneas nas radiografias, ao contrário do pulmão normal cheio de ar que é relativamente transparente e escuro em radiografias. 1.9D. Qual seria o efeito do colapso de um pulmão sobre a posição do coração, de outras estruturas do mediastino e do diafragma? Resposta: em caso de atelectasia de um segmento pulmonar com parede torácica intacta, de modo que não haja acúmulo de ar ou sangue na cavidade pleural, o coração e o mediastino são desviados em direção ao lado da obstrução e permanecem assim durante a inspiração e a expiração. A amplitude de excursão do diafragma no lado normal continua normal ou aumenta para compensar o pulmão inativo, enquanto diminui consideravel‑ mente no outro lado (atelectásico). 1.10A. Uma menina de 10 anos, enrolada em um cobertor, foi levada ao ambulatório. O enfermeiro levou‑a para a sala de exame e chamou o médico. Enquanto preparava a criança para o exame, o enfermeiro observou que ela apresentava calafrios e segurava o lado direito do tórax. Ele também notou que sua respiração era rápida (taquipneia), porém superficial. A menina apresentava tosse irritativa e expectorou algum escarro com muco tinto de sangue. A temperatura era 41,5°C e a frequência de pulso, 115. À percussão do tórax, o médico notou macicez sobre a região inferoposterior direita do tórax. À ausculta, observou ausência de murmúrio vesicular no lado direito e atrito pleural. Quando o médico pediu que a criança descrevesse a dor, ela disse que era aguda, em caráter de punhalada e mais intensa durante a inspiração profunda, a tosse ou o espirro. Quando perguntou onde começou a dor, ela pôs a mão sobre a parte inferior do hemitórax direito. Quando questionada sobre outros locais onde Estudos de Caso | Capítulo 1 7 sentia dor, ela apontou a região umbilical e o ombro direito. O médico solicitou hemograma completo, cultura do escarro e ra‑ diografias de tórax em decúbito ventral e em posição ortostática. Laudo laboratorial: contagem de leucócitos elevada (leuco- citose) e havia muitos pneumococos no escarro. Laudo radiológico: existe uma área de condensação (pulmão sem ar) na parte posterior da base, ou face diafragmática, do pulmão direito. Também há discreto desvio do coração e de outras estruturas do mediastino para a direita. Diagnóstico: pleurite causada por pneumonite pneumocó- cica. Qual é a função das pleuras? Resposta: as pleuras parietal e visceral, e a película de líquido entre elas, possibilitam o movimento dos pulmões (a expansão e a contração necessárias para a respiração) nas cavi‑ dades pulmonares. Além disso, o líquido pleural secretado pelas membranas garante a tensão superficial que impede o colapso pulmonar e causa sua expansão quando o diafragma desce ou o tórax se expande (i. e., garante a “adesão móvel” dos pulmões à parede torácica e ao diafragma). 1.10B. Discorra sobre as causas de pleurite, atrito pleural e derrame pleural. Resposta: quando há inflamação das pleuras (pleurite), as su‑ perfícies pleurais tornam‑se irregulares e o deslizamento de uma sobre a outra causa dor e atrito audível (atrito pleural) durante a ausculta. Em resposta à irritação da inflamação e do atrito, as pleuras secretam muito líquido pleural (derrame pleural). Se o processo inflamatório não for tratado, ocorre derrame pleural em virtude de extravasamento dos vasos sanguíneos que irrigam a pleura. Em caso de infecção das pleuras inflamadas, há acúmulo de pus na cavidade pleural (empiema). 1.10C. Que achados sugerem a existência de líquido na cavidade pleural? Resposta: como é basicamente um espaço virtual, a cavida‑ de pleural não costuma ser visível em radiografias, mas torna‑se aparente quando há acúmulo de ar, líquido, pus ou sangue entre as camadas visceral e parietal de pleura. O exsudato pleural na cavidade pleural, sobretudo nas partes localizadas inferior‑ mente, é observado em radiografias como uma densidade mais ou menos homogênea que encobre a trama pulmonar normal. 1.10D. Explique, com base na anatomia, por que pode haver um pequeno desvio do coração e de outras estruturas do mediastino (desvio do mediastino) na pneumonite. Resposta: o coração e as estruturas do mediastino des‑ viam‑se para o lado afetado por pneumonite (inflamação do pulmão) e ocupam o espaço criado pela discreta perda de volu‑ me do tecido pulmonar consolidado, resultante da perda de ar alveolar. Em caso de derrame ou empiema pleural, o coração e as estruturas do mediastino são empurrados para o lado oposto pelo acúmulo de soro ou pus, respectivamente. 1.10E. Como o pus é retirado da cavidade pleural? Resposta: o empiema pode ser drenado por toracocentese. 1.10F. Com base em seu conhecimento sobre a inervação pleural, explique a dor referida para o lado direito do tórax, a área pe‑ riumbilical e o ombro direito. Resposta: a pleura parietal, sobretudo a parte costal, é sensível à dor, enquanto a pleura visceral é insensível. As fibras aferentes das terminações nervosas da parte costal da pleura e da pleura na parte periférica do diafragma são conduzidas através da parede torácica como ramos finos dos nervos intercostais. A irritação das terminações nervosas na pleura decorrente do atrito das pleuras inflamadas, sobretudo durante a inspiração, causa dor em caráter de punhalada. A dor oriunda da parte costal da pleura geralmente é percebida em uma área localizada da parede torácica sobre a irritação, mas também pode ser referida nas áreas sobrejacentes de pele (dermátomos) da parede torácica e/ou abdominal supridas pelos mesmos nervos intercostais afetados pela irritação. A dor ao redor do umbigo é explicada pelo fato de que o 10o nervo intercostal supre a faixa de pele (dermátomo) que inclui o um‑ bigo. A parte mediastinal da pleura e a pleura na parte central do diafragma são supridas por fibras sensitivas do nervo frênico (C3, C4 e C5). A irritação dessas áreas de pleura, como nesse caso, estimula terminações do nervo frênico; a consequência é a dor referida na raiz do pescoço e no ombro. Essas áreas de pele são supridas pelos nervos supraclaviculares (C3 e C4), derivados de dois dos segmentos da medula espinal que dão origem ao nervo frênico. 1.11A. Durante uma longa viagem de carro, uma mulher de 38 anos apresentou desconforto subesternal, dor no hemitórax direito e dispneia. Ela disse que estava enjoada (náuseas) e que estava prestesa desmaiar (síncope). Pensando na possibilidade de um infarto, seu marido a levou para o hospital. Exame físico: o médico observou sinais de choque e au‑ mento da frequência respiratória (taquipneia). Notou ainda veias aumentadas e dolorosas (varizes), sobretudo na coxa e na panturrilha direitas (sinais e sintomas de tromboflebite). Depois de perguntar, o médico descobriu que ela apresentava varizes dolorosas nos membros inferiores há algum tempo e que, durante essa longa viagem de carro recente, as varizes causaram dor muito intensa. Ele também descobriu que ela tomava anticoncepcional oral há cerca de nove anos. O exame pulmonar revelou alguns estertores atelectásicos subcrepitan‑ tes (discretos e transitórios) no hemitórax direito. A ausculta também mostrou atrito pleural à direita. O exame cardíaco detectou taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos) e arritmia (irregularidade dos batimentos cardíacos). O ECG sugeriu alguma sobrecarga cardíaca à direita. O médico soli‑ citou radiografias do tórax, angiografia pulmonar, cintigrafia e radioscopia. 8 Anatomia Orientada para a Clínica Laudo radiológico: as radiografias mostram aumento da radiotransparência do pulmão direito. A radioscopia dos pul‑ mões mostrou diminuição ou ausência de pulsações no ramo descendente da artéria pulmonar direita e anemia relativa do pulmão direito compatível com tromboembolia pulmonar (TEP). As cintigrafias obtidas após a injeção intravenosa de micropartículas de albumina humana marcadas com iodo radioativo (131I) mostraram que praticamente não havia fluxo sanguíneo no pulmão direito. Diagnóstico: TEP decorrente do desprendimento de trombo de uma variz no membro inferior. Quais são os principais fatores implicados na tromboembolia pulmonar e na trombogênese? Resposta: a TEP é uma importante causa de morbidade (do‑ ença) e mortalidade (morte) em pacientes acamados, gestantes e mulheres usuárias de anovulatório oral por períodos prolon‑ gados. Em aproximadamente 90% dos casos de TEP, o êmbolo (massa que oclui um vaso) é um trombo que se desprendeu. No caso em questão, é provável que o trombo seja originário da veia safena magna ou de uma de suas tributárias e que o êmbolo tenha sido transportado até a circulação pulmonar, onde causou obstrução completa ou quase completa do ramo descendente da artéria pulmonar direita. Isso causa distúrbios respiratórios e hemodinâmicos (p. ex., dispneia, taquipneia, arritmia e taquicardia). Três fatores participam da trombogê- nese (formação de trombo): estase, anormalidades da parede do vaso e alterações do sistema de coagulação sanguínea. Vários distúrbios estão associados à tromboembolia (p. ex., gravidez, fraturas pélvicas, fraturas de membros inferiores, operações abdominais e uso de contraceptivos orais). É possível que a longa viagem de carro com um cinto de segurança ao redor do abdome e as pílulas anticoncepcionais tenham contribuído para a trombogênese nesse caso. 1.11B. Como o radiologista injetou o material de contraste no ventrículo direito da paciente durante a angiografia pulmonar? Resposta: o radiologista provavelmente visualizou o ventrí‑ culo direito por cateterismo cardíaco direito, a introdução de um cateter radiopaco na veia femoral esquerda, logo inferior ao ligamento inguinal, que depois é guiado com o auxílio de radioscopia até a VCI, o átrio direito e o ventrículo direito. 1.11C. Qual foi a causa provável do desconforto subesternal intenso e da dor no ombro que a paciente sentiu? Resposta: provavelmente, o desconforto torácico foi conse‑ quência da sobrecarga cardíaca direita e da distensão da artéria pulmonar esquerda e de seus ramos. Como a artéria pulmonar direita estava obstruída, a maior parte do sangue era conduzida à artéria pulmonar esquerda. Quando o pulmão direito deixou de receber uma oferta satisfatória de sangue, é provável que tenham ocorrido alterações na pleura e no tecido pulmonar. Em virtude do atrito pleural, é presumível que houvesse alguma dor pleurítica causada por irritação de terminações nervosas na pleura costal. Houve dor referida na parede torácica, a área de pele suprida pelos nervos intercostais. 1.12A. Durante o exame físico de uma jovem de 15 anos para uma colônia de férias de verão, o médico auscultou um sopro em “maquinaria” no segundo espaço intercostal, perto da mar‑ gem esternal esquerda. À palpação, ele percebeu um frêmito (vibração) contínuo no mesmo local. Os outros achados físi‑ cos eram normais. A jovem disse que sempre se sentiu bem, embora perceba que “perde o fôlego” mais rapidamente que outras meninas. Depois de conversar com os pais e consultar um cardiologista, o médico de família decidiu fazer outros exames. Ele solicitou radiografias de tórax em PA e perfil e angiocardiografia. Laudo radiológico: as radiografias do tórax revelaram dis‑ creto aumento do ventrículo esquerdo e leve proeminência da artéria pulmonar e do botão aórtico. O ECG indicou grau moderado de hipertrofia ventricular esquerda. Em seguida, foi realizada a angiocardiografia. O cateter foi introduzido no coração através de veia femoral, VCI, átrio direito, ventrículo direito e tronco pulmonar; entretanto, uma pequena injeção de contraste mostrou que a extremidade do cateter havia entrado na parte torácica da aorta. O cateter foi puxado até o átrio direito e fez‑se uma angiocardiografia direita que mostrou câmaras direitas praticamente normais. Introduziu‑se outro cateter pela artéria femoral até a parte ascendente da aorta e injetou‑se meio de contraste (aortografia). O aspecto da parte ascendente e do arco da aorta era normal, mas houve opacificação das artérias pulmonares esquerda e direita, bem como da parte torácica da aorta. Esses exames demonstraram a persistência do canal arterial (PCA). Diagnóstico: shunt esquerda‑direita de sangue através do canal arterial persistente. Discorra sobre o local do canal arterial, a origem embrio‑ lógica e sua função pré‑natal, o fechamento do canal após o nascimento e a ausência de fechamento. Resposta: o canal arterial é um vaso fetal (a parte distal persistente do sexto arco da aorta) que conecta a artéria pul‑ monar esquerda ao arco da aorta, logo distal à origem da artéria subclávia esquerda. Ao nascimento, o diâmetro do canal arterial pode ser igual ou maior que o diâmetro da artéria pulmonar ou da aorta. A função pré‑natal do canal arterial é possibilitar que a maior parte do sangue venoso na artéria pulmonar esquerda passe ao largo dos pulmões vazios. Em virtude da resistência vascular pulmonar relativamente alta ao fluxo sanguíneo através dos pulmões vazios e da resistência relativamente baixa nas partes torácica e abdominal embrionárias da aorta e nas artérias umbilicais, o sangue flui com facilidade da artéria pulmonar para o arco da aorta e a parte torácica da aorta. Esse desvio do fluxo sanguíneo garante uma via mais direta para a chegada do sangue venoso fetal às artérias umbilicais e, através delas, à placenta, onde é oxigenado. Por ocasião do nascimento, a bradicinina (liberada pelos pulmões durante a primeira insu‑ flação) causa contração da musculatura do canal arterial e seu fechamento quase imediato. Há obstrução completa de seu lúmen por proliferação da túnica íntima em um a três meses. A persistência do canal arterial (PCA) após o período perina‑ tal é uma anormalidade congênita relativamente comum, que ocorre em cerca de 1 a cada 3.000 nascidos e é mais frequente Estudos de Caso | Capítulo 1 9 no sexo feminino. A PCA é a anomalia mais comum associada à rubéola materna no início da gravidez. Embora na maioria das vezes seja uma anormalidade isolada, a PCA pode coexistir com outras anomalias. 1.12B. O que causou o sopro do tipo “maquinaria” característicoe o aumento do ventrículo esquerdo? Resposta: o sopro do tipo “maquinaria” alto e contínuo típico é consequência do fluxo sanguíneo turbulento de um vaso de alta pressão (aorta) para um vaso de baixa pressão (ar‑ téria pulmonar) através do canal arterial. Como o gradiente de pressão existe durante a sístole e a diástole, o sopro é contínuo. 1.12C. Como se pode corrigir esse shunt esquerda‑direita de san‑ gue? A correção é necessária? Resposta: o shunt esquerda‑direita aumenta a carga de trabalho do ventrículo esquerdo; em consequência disso, há aumento do ventrículo e espessamento de suas paredes. Tam‑ bém pode haver aumento do átrio esquerdo em resposta ao volume de sangue aumentado que retorna dos pulmões. A PCA pode causar insuficiência cardíaca e edema pulmonar em um prematuro, mas sua existência é compatível com a sobrevida até a vida adulta na maioria dos casos. No entanto, como a principal causa de morte em adultos com essa malformação é a insuficiência cardíaca e/ou a endocardite bacteriana (inflamação do endocárdio, suas valvas e grandes vasos), costuma‑se realizar o fechamento do canal arterial para corrigir esse distúrbio. 1.12D. Em sua opinião, que distúrbio clínico poderia causar shunt direita‑esquerda de sangue através do canal arterial? Quais são as manifestações desse distúrbio? Resposta: uma pessoa com PCA pode desenvolver doença vascular pulmonar (arteriosclerose), caso em que a alta resistên‑ cia vascular pulmonar causa aumento da pressão no ventrículo direito e na artéria pulmonar. Essa pressão acarreta a inversão do fluxo sanguíneo através do canal arterial (i. e., da direita para a esquerda). Consequentemente, o sangue pouco oxigenado é desviado da artéria pulmonar esquerda para o arco da aorta e a parte torácica da aorta. Quando o canal arterial entra no arco distalmente à origem da artéria subclávia esquerda, ocorrem cia‑ nose e baqueteamento (alargamento e espessamento) dos dedos dos pés (mas não das mãos). A ocorrência de cianose nos dedos dos pés, mas não das mãos, é denominada cianose diferencial. 2 | Abdome Estudos de caso 2.1A. Um terceiranista de Medicina foi convidado por um cirur‑ gião a assistir a uma laparotomia exploradora em paciente com obstrução intestinal. Enquanto o cirurgião e o aluno faziam a antissepsia das mãos, o cirurgião perguntou qual seria a incisão cutânea abdominal apropriada. Depois de uma longa pausa, o estudante sugeriu uma incisão ao longo da linha semilunar (margem lateral da bainha do músculo reto do abdome). O cirurgião não ficou satisfeito com a sugestão e fez as seguintes perguntas. Do ponto de vista anatômico, por que a incisão sugerida (pararretal) é indesejável? Resposta: a incisão pararretal é indesejável porque secciona os nervos que suprem o músculo reto do abdome. Os nervos segmentares T7 a L1 aproximam‑se do músculo e penetram na sua face profunda lateralmente. A secção de vários desses nervos causa paralisia do músculo reto com enfraquecimento da parede anterior do abdome. Inferiormente, também pode haver comprometimento da irrigação sanguínea pela artéria epigástrica inferior. 2.1B. Com base em seu conhecimento anatômico das estruturas na parede anterolateral do abdome, que outro tipo de incisão vertical você consideraria melhor? Por quê? Resposta: as incisões longitudinais são preferidas nas ci‑ rurgias exploradoras porque garantem boa exposição e podem ser estendidas quando necessário. A incisão paramediana é preferível a uma incisão mediana, porque a irrigação sanguí‑ nea possibilita melhor cicatrização. O músculo reto é afastado lateralmente para evitar a tensão de nervos e vasos. Com a liberação da tração ao fechamento, o músculo intacto fecha a incisão através da bainha do músculo reto. 2.2A. Durante uma apendicectomia, o residente de cirurgia fez as seguintes perguntas a um estudante do último ano do curso de Medicina. Que nervo é preciso identificar e preservar ao se fazer uma incisão transversal na parede anterolateral do abdome para apendicectomia? Resposta: na região em que são feitas as incisões para apendicectomias, é preciso identificar e preservar o nervo ílio‑hipogástrico para evitar seccioná‑lo. 2.2B. Onde você espera encontrar o nervo? Resposta: o nervo ílio‑hipogástrico segue entre os músculos transverso do abdome e oblíquo interno ao entrar na região inguinal direita, paralelo, mas cerca de 2 cm superior ao liga‑ mento inguinal. 2.2C. Qual é a consequência da secção desse nervo? Resposta: esse nervo divide‑se em ramos cutâneos lateral e anterior e, ao entrar na região, envia ramos musculares para as partes adjacentes de ambos os músculos. Como as aponeuroses que continuam a partir desses músculos nessa altura formam a foice inguinal, a fraqueza muscular resultante da secção do nervo ílio‑hipogástrico pode predispor ao desenvolvimento de hérnia inguinal direta. 2.3A. O exame físico de um lactente com infecção periumbilical grave mostrou linfonodos aumentados nas axilas e regiões inguinais. Que outras regiões além do abdome devem ser examinadas à procura de infecções? Resposta: também se deve verificar se há infecção nos membros superiores e inferiores, porque a linfa dessas regiões drena, respectivamente, para os linfonodos axilares e inguinais. 2.3B. Qual seria a explicação para a linfadenite nesse lactente? Resposta: o umbigo define a “divisão” do fluxo linfático da parede anterior do abdome. A linfa da região superior ao umbigo flui para os linfonodos axilares, enquanto a linfa da região infe‑ rior ao umbigo flui para os linfonodos inguinais superficiais. A linfa proveniente do umbigo e da região periumbilical imediata poderia fluir em qualquer uma das direções ou em ambas, como nesse caso. Além disso, como essa é uma estrutura mediana, a linfa pode fluir para os linfonodos direitos e esquerdos. Estudos de Caso | Capítulo 2 11 2.4A. Durante o exame físico do abdome de um paciente, o médico pediu que você identificasse o principal ponto de referência do abdome. Você respondeu que a vértebra L I é um ponto de referência abdominal clássico. Então, o médico fez as seguintes perguntas. Qual é o significado anatômico e cirúrgico da vértebra L I em relação ao abdome? Resposta: a vértebra L I é o nível vertebral do plano transpilórico. Esse é um nível vertebral ou plano horizontal fundamental do abdome, porque identifica a altura de muitas estruturas abdominais importantes: o fundo da vesícula biliar, o colo do pâncreas, as origens da artéria mesentérica superior (AMS) e da veia porta, a junção duodenojejunal, a raiz do me‑ socolo transverso e os hilos renais. Apesar do nome, em pessoas vivas, o piloro do estômago provavelmente só está nesse plano na posição de decúbito. 2.4B. Onde está localizado o plano da vértebra L I em relação aos pontos de referência da face anterior? Resposta: o plano transpilórico divide ao meio a linha que une a incisura jugular e a margem superior da sínfise púbica. Esse plano geralmente está na altura das extremidades mediais das nonas cartilagens costais. 2.5A. Durante seu rodízio no ambulatório como estudante de Medicina, o médico de família que você está acompanhando encaminha um paciente ao cirurgião para fazer uma vasectomia. Depois que o paciente sai do consultório, o médico faz algumas perguntas a você. Que parte do funículo espermático pode ser identificada à palpação? Resposta: o ducto deferente é facilmente palpado entre o polegar e o indicador como um cordão firme (diâmetro de 2 a 4 mm). 2.5B. Em que local específico você tentaria palpar essa estrutura? Resposta: é possível palpar o ducto em posição superior ao testículo, na parte superior do escroto. 2.5C. É fácil palpar essa estrutura? Resposta: nãoé possível palpar esse ducto de um lado em alguns indivíduos por causa da falha na migração do testículo (criptorquidia). Outra possibilidade é a aplasia ou displasia da gônada e do ducto. Este último distúrbio está associado à agenesia renal ipsolateral (ausência do rim do mesmo lado). 2.6A. Durante os rounds clínicos, o médico visita uma paciente com hérnia inguinal indireta e afirma que as hérnias inguinais indiretas são cerca de 20 vezes mais comuns em homens. Qual é a causa da diferença sexual da frequência desse tipo de hérnia? Resposta: a hérnia inguinal indireta é mais comum em ho‑ mens porque o testículo atravessa o canal inguinal masculino, e o funículo espermático relativamente grande permanece dentro do canal, criando uma área de possível fraqueza na parede anterior do abdome. O canal inguinal feminino nunca é distendido por uma estrutura comparável ao testículo e é ocupado apenas pelo ligamento redondo, que é muito menor; consequentemente, a hérnia inguinal indireta é incomum, porém possível se houver persistência de um processo vaginal pérvio. 2.6B. Em que local ocorre a saliência da hérnia nas mulheres? Resposta: a hérnia indireta completa em uma mulher pode salientar‑se no anel superficial (superior ao ligamento inguinal) ou estender‑se medial e inferiormente até a parte anterior dos lábios maiores do pudendo. 2.6C. Descreva como distinguir uma hérnia inguinal indireta de uma hérnia femoral, que é mais comum em mulheres. Resposta: as hérnias femorais atravessam o canal femoral, inferior ao ligamento inguinal, até a parte superior da coxa, lateral ao tubérculo púbico, e não entram no lábio maior do pudendo. 2.7A. Durante uma colecistectomia a céu aberto, o cirurgião descreveu hemorragia significativa. O fluxo sanguíneo foi rapidamente interrompido e os vasos sanguíneos foram ele‑ trocauterizados. Que artéria é preciso ligar e seccionar durante a colecis‑ tectomia? Resposta: é preciso ligar e, depois, seccionar a artéria cística para retirar a vesícula biliar. 2.7B. Quais são os pontos de referência usados para localizar e identificar essa artéria? Resposta: a artéria cística geralmente é isolada por dis‑ secção cuidadosa, pois se origina da artéria hepática direita no trígono cisto‑hepático (triângulo de Calot), cujos limites são o ducto cístico, o ducto hepático comum e a face visceral do fígado. 2.7C. Durante a colecistectomia a céu aberto, como seria possível controlar a hemorragia sem usar pinças? Resposta: é preferível controlar a hemorragia por compres‑ são da artéria hepática — a origem do ramo cístico — entre o dedo indicador e o polegar na parede anterior do forame omental. O pinçamento às cegas apressado para controlar a hemorragia brusca é citado como causa frequente de lesão intraoperatória do sistema ductal. 12 Anatomia Orientada para a Clínica 2.8A. Um jovem arremessado da motocicleta queixava‑se de dor aguda no lado esquerdo do tronco e mantinha a mão sobre as costelas inferiores. As radiografias mostraram fratura das costelas X e XI. Que órgão abdominal provavelmente foi lesado? Resposta: o baço é o órgão abdominal lesado com maior frequência. 2.8B. Por que esse órgão é tão vulnerável a lesão? Resposta: o baço tem uma cápsula fina e é um órgão de consistência mole, friável e extremamente vascularizado. Por‑ tanto, rompe‑se com facilidade (p. ex., por costelas fraturadas). 2.8C. O traumatismo não penetrante em outras regiões do abdome pode lesar esse órgão? Resposta: o traumatismo não penetrante em outras regiões do abdome, que cause um aumento súbito e acentuado da pres‑ são intra‑abdominal, também pode causar a ruptura do baço (p. ex., a colisão contra o volante em um acidente automobilístico). 2.8D. Como é feito o controle da hemorragia significativa desse órgão? Resposta: a hemorragia esplênica grave é controlada por esplenectomia (retirada cirúrgica do baço). 2.8E. Que estruturas o cirurgião deve ter a precaução extra de preservar durante uma esplenectomia? Resposta: ao realizar uma esplenectomia, o cirurgião preci‑ sa ter cuidado para ligar apenas os ramos esplênicos da artéria esplênica, preservando as artérias gástrica curta e gastromental esquerda que se originam no mesmo local. A consequência provável da ligadura acidental dessas duas artérias é a isquemia da face esquerda do estômago. 2.9A. Um homem de 55 anos contou ao médico do atendimento primário que palpou um nódulo no escroto. O diagnóstico foi de carcinoma avançado do testículo. Onde você pesquisaria a disseminação linfogênica de células cancerosas? Resposta: as células malignas de um carcinoma testicular metastatizam inicialmente para os linfonodos lombares direitos ou esquerdos (cavais ou aórticos e pré‑aórticos) por dissemina‑ ção linfogênica. A disseminação subsequente pode acometer os linfonodos mediastinais e supraclaviculares. 2.9B. É provável que haja acometimento da pele do escroto? Resposta: a pele do escroto (e, portanto, os linfonodos inguinais para os quais ela drena) não seria acometida, exceto se um tumor avançado se disseminasse por contigui‑ dade, causasse ulceração do escroto e penetrasse nos vasos linfáticos escrotais, que drenam para os linfonodos inguinais superficiais. Em casos avançados, é mais provável que haja disseminação hematogênica dos tumores testiculares, com metástase principalmente para os pulmões, mas também para o fígado, o encéfalo ou o osso. 2.10A. Uma mulher de 43 anos apresentava um quadro de emagre‑ cimento, desconforto abdominal vago, icterícia obstrutiva e dor que se irradiava para o dorso. O diagnóstico foi adenocarcinoma pancreático. Com base em seu conhecimento anatômico sobre as relações do pâncreas, em que parte da glândula você supõe que estava localizado o câncer? Por quê? Resposta: tendo em vista a icterícia obstrutiva, é mais pro‑ vável que o adenocarcinoma estivesse localizado na cabeça do pâncreas. Dadas as relações posteriores da cabeça do pâncreas, um tumor pode causar icterícia obstrutiva por compressão do ducto colédoco, situado em um sulco na parte direita da glân‑ dula ou alojado em sua substância. 2.10B. Onde você esperaria encontrar metástases de células neo‑ plásicas malignas nesse caso? Resposta: as metástases de células neoplásicas malignas seriam encontradas inicialmente nos linfonodos pancreatico‑ esplênicos e pilóricos. A dispersão subsequente (provavelmente já ocorrida por ocasião da detecção) também tende a acometer os linfonodos celíacos, mesentéricos superiores e lombares que recebem linfa da cabeça do pâncreas. 2.11A. Durante uma briga na calçada de um bar, um homem rece‑ beu um golpe de joelho na região inguinal. Ele se curvou e se queixou de dor inguinal intensa, além de náuseas. Em que outro local é provável que haja dor referida? Resposta: a dor inespecífica, associada a náuseas, seria referida para a parte inferior do abdome, estendendo‑se supe‑ riormente até a região periumbilical (dermátomo T10). 2.11B. Explique por que há dor nesse local. Resposta: os testículos fetais desenvolvem‑se inicialmente como órgãos abdominais, na região lombar superior. Mais tarde, descem até a região inguinal e penetram no escroto antes do nascimento. Ao descerem, os testículos preservam sua inerva‑ ção, aproximadamente dos três segmentos torácicos inferiores e do primeiro segmento lombar da medula espinal. As fibras de dor dos testículos são fibras aferentes viscerais com corpos celulares localizados nos gânglios sensitivos (raiz posterior) dos nervos espinais torácicos inferiores ou lombares superiores. Os dermátomos T10 a L1 estendem‑se da região do umbigo até a região inguinal. Estudos de Caso | Capítulo 2 13 2.12A. Um professoruniversitário de 58 anos apresentava cons‑ tipação intestinal há algum tempo e notou o surgimento de massa na fossa ilíaca esquerda. O médico de família solicitou uma sigmoidoscopia. A biopsia mostrou câncer no início do colo sigmoide. Se houver metástase hematogênica, qual é o local mais provável de tumor secundário? Resposta: a disseminação hematogênica de câncer dos colos descendente e sigmoide ocorre pela veia mesentérica inferior (VMI), geralmente para a veia esplênica (VE) e daí para a veia porta. No entanto, a VMI pode drenar para a veia mesentérica superior (VMS) ou para a junção da VMS com VE. Em qualquer desses casos, a veia porta conduziria as células metastáticas até o fígado. Entretanto, se houver fluxo preferencial para o sistema porta (i. e., se o sangue drenado pela VMS fluir prin‑ cipalmente para a parte direita do fígado, enquanto o sangue da veia esplênica segue principalmente para a esquerda), o local de término da VMI poderia influenciar a parte do fígado que é semeada primeiro. Caso a VMI entre na VE (situação mais comum), as células seguem principalmente para a parte esquerda do fígado; se a VMI entrar na VMS, as células seguem principalmente para a parte direita do fígado; se a VMI entrar na junção da VMS com VE, pode haver semeadura de qualquer um dos lados ou de ambos. 2.12B. Em caso de metástase linfogênica, que grupo de linfonodos seria acometido inicialmente? Resposta: a disseminação linfogênica seguiria inicialmente até os linfonodos mesentéricos inferiores, anteriores à parte abdominal inferior da aorta e, depois, para os linfonodos lom‑ bares (cavais e/ou aórticos). 2.13A. Uma auditora de 32 anos queixou‑se ao médico de dor em queimação na “boca do estômago” há cerca de duas semanas. Durante o questionamento meticuloso, ela contou que a dor geralmente surgia cerca de duas horas depois das refeições e desaparecia ao comer novamente ou beber um corpo de leite. Exceto pela leve dor à palpação no quadrante superior direito do abdome, imediatamente lateral ao processo xifoide, o exame físico era normal. Suspeitando de úlcera péptica, o médico solicitou pesquisa de Helicobacter pylori, radiografias do ab‑ dome e SEED (seriografia esôfago‑estômago‑duodeno). Mais tarde, solicitou endoscopia do estômago e da parte superior do duodeno. Laudo radiológico: as radiografias eram normais, mas a SEED revelou úlcera péptica na ampola (bulbo duodenal) moderadamente deformada. Laudo do exame bacteriológico: detecção de bactérias He- licobacter pylori em biopsia da mucosa duodenal. Diagnóstico: úlcera péptica duodenal ativa. Tratamento: inicialmente a paciente respondeu bem ao tra‑ tamento clínico com antiácidos, refeições brandas frequentes, abstinência de cigarro e álcool e antibioticoterapia. Embora ela tenha seguido as instruções do médico por cerca de dois meses, voltou a fazer hora extra no trabalho, a fumar muito e a consumir café e álcool em excesso. Os sintomas recomeçaram, com alguns episódios de vômito quando a dor era intensa. Uma noite, depois de sentir dor abdominal alta aguda, vomitar e desmaiar, ela foi levada às pressas para o hospital. Exame físico: dor extrema, rigidez abdominal e dor à des‑ compressão súbita. Ao ser questionada, a paciente contou que a úlcera “retornara” e que ela havia notado sangue no vômito. Tratamento cirúrgico: a paciente foi submetida a cirurgia de emergência, com detecção e ressecção de úlcera duodenal perfurada. Havia peritonite química generalizada resultante do extravasamento de bile e do conteúdo do sistema digestório para a cavidade peritoneal. Procedeu‑se à secção cirúrgica do nervo responsável pelo aumento da secreção de ácido gástrico. Que estruturas situadas próximas da parte superior do duodeno poderiam ter sofrido erosão por uma úlcera duodenal perfurada? Resposta: às vezes, órgãos e vasos adjacentes ao duodeno, geralmente o pâncreas, mas também a vesícula biliar e o fígado, aderem a uma úlcera e sofrem erosão; por exemplo, uma úlcera penetrante posterior pode causar erosão da artéria gastroduo‑ denal ou de um de seus ramos e acarretar hemorragia maciça súbita, que pode ser fatal. 2.13B. Qual é a anomalia congênita do íleo em que pode surgir uma úlcera péptica? Resposta: a úlcera péptica pode ocorrer em um divertículo ileal (de Meckel), um remanescente do pedículo vitelino fixado ao íleo. Na parede do divertículo, pode haver tecido gástrico capaz de secretar ácido e levar ao surgimento de úlcera. 2.13C. Explique a base anatômica da dor abdominal nos quadrantes superior e inferior direitos. Resposta: a dor de uma úlcera péptica gástrica é referida para o epigástrio e o hipocôndrio esquerdo, porque o estômago é suprido por fibras aferentes de dor que chegam aos segmentos T7 e T8 da medula espinal por meio do nervo esplâncnico maior. A dor resultante de uma úlcera péptica duodenal é referida para o epigástrio da parede anterolateral do abdome, porque tanto o duo‑ deno quanto essa área de pele são supridos pelos nervos espinais T9 e T10. Quando há perfuração de uma úlcera péptica duodenal, pode haver dor em todo o abdome. Às vezes, o sulco paracólico as‑ sociado ao colo ascendente pode agir como um divisor e direcionar o material inflamatório extravasado para a fossa ilíaca direita. Isso explica por que perfuração anterior de uma úlcera duodenal pode causar dor nos quadrantes superior e inferior direitos. 2.13D. Que nervos são seccionados durante procedimentos cirúr‑ gicos destinados a reduzir a secreção de ácido pelas células parietais gástricas? Que outras estruturas são supridas por esses nervos? Como a operação poderia ser realizada para evitar o sacrifício da inervação dessas estruturas? 14 Anatomia Orientada para a Clínica Resposta: como a secreção de ácido pelas células parietais do estômago é controlada principalmente pelo nervo vago, o cirurgião poderia seccionar os nervos vagos ao entrarem no abdome (vagotomia troncular) para reduzir a produção de ácido gástrico. Na maioria das vezes, apenas os ramos gástri‑ cos do nervo vago são seccionados (vagotomia seletiva), o que evita efeitos adversos sobre outros órgãos (p. ex., dilatação da vesícula biliar). A vagotomia pode ser associada à ressecção da área ulcerada e da parte do estômago produtora de ácido. Na maioria dos casos, é possível erradicar as bactérias H. pylori causadoras de úlcera com antibióticos e o tratamento cirúrgico é desnecessário. 2.14A. No trajeto do trabalho para casa, um funcionário administra‑ tivo sentiu uma dor aguda súbita no lado esquerdo do tronco. A dor era tão excruciante que ele se curvou e gemeu. Um colega de trabalho levou‑o até o hospital. Quando o médico pediu que ele descrevesse o início da dor, o paciente disse que primeiro sentiu uma leve dor entre as costelas e o osso do quadril, que aumentou gradualmente até alcançar tamanha intensidade que seus olhos se encheram de lágrimas. Ele contou que essa dor insuportável durou cerca de 30 minutos e, subitamente, diminuiu. Explicou ainda que a dor aumentava e diminuía, mas parecia estar se deslocando em direção à região inguinal. Exame físico: o médico notou alguma dor à palpação e defesa (espasmo muscular) no quadrante inferior esquerdo, porém sem rigidez muscular. Durante a palpação profunda da área dolo‑ rosa, retirou a mão subitamente. Em vez de demonstrar dor, o paciente pareceu aliviado com o término do exame (ausência de dor à descompressão súbita). Nesse momento, o paciente relatou que sentia dor na região inguinal esquerda, no escroto e ao longo da face medial da coxa. O médico constatou dor à palpação do testículo esquerdo, que estava retraído. Quando instruído a coletar uma amostra de urina, o paciente afirmou que a micção era difícil e dolorosa (disúria). O enfermeirorelatou que a amostra de urina do paciente continha sangue (hematúria). Embora o médico estivesse certo de que o homem estava eliminando um cálculo ureteral, solicitou uma radiografia simples de abdome. Laudo radiológico: pequenos cálculos ureterais visíveis na parte superior direita do ureter esquerdo e na bexiga (ver Figura 2.1). Diagnóstico: cálculos no ureter esquerdo e na bexiga. Qual foi a causa provável da crise de dor excruciante inicial? Resposta: é quase certo que a crise de dor excruciante inicial tenha sido causada pela passagem do cálculo da pelve renal para a extremidade superior do ureter direito. A dor desloca‑se em sentido inferomedial (“da região lombar para a região inguinal”) à medida que o cálculo avança ao longo do ureter. 2.14B. Com base na anatomia do ureter, quais os outros locais de provável alojamento de um cálculo ureteral? Resposta: o paciente provavelmente sentiu dor intensa quando o cálculo foi temporariamente impedido de se deslocar por causa do estreitamento e da angulação do ureter ao cruzar os vasos ilíacos externos e a abertura superior da pelve e, mais tarde, quando foi comprimido no ureter ao atravessar a pare‑ de da bexiga, um local de evidente estreitamento luminal e, portanto, um local comum de obstrução. A dor cessa quando o cálculo chega à bexiga, embora a dor à palpação ao longo do trajeto do ureter costume persistir por algum tempo. 2.14C. Explique a exacerbação intermitente da dor. Resposta: como o ureter é um tubo muscular no qual as contrações peristálticas normalmente conduzem urina do rim para a bexiga, a dor é causada pela distensão do ureter pelo cál‑ culo e pela urina incapaz de ultrapassá‑lo. A túnica de músculo liso do ureter normalmente apresenta contrações peristálticas da extremidade superior para a inferior. À medida que a onda peristáltica aproxima‑se da obstrução, a contração vigorosa da musculatura lisa acarreta dilatação excessiva do ureter entre a onda e o cálculo. A dor aguda é causada pela distensão do ureter. A exacerbação da dor ocorre à medida que aumenta a distensão. 2.14D. Discorra resumidamente sobre o trajeto das fibras de dor a partir dos ureteres e a dor referida decorrente do traumatismo ureteral. Resposta: as fibras de dor aferentes que suprem o ureter fazem parte do nervo esplâncnico menor. Os impulsos entram nos segmentos T11 a L2 da medula espinal, e a dor é percebida nas áreas cutâneas supridas pelos nervos intercostais inferiores (T11 e T12), nervos ílio‑hipogástrico e ilioinguinal (L1) e nervo genitofemoral (L1 e L2). Consequentemente, a dor começa na região lateral e irradia‑se até a região inguinal e o escroto. A retração do testículo pelo músculo cremaster e a dor ao longo da parte medial anterior da coxa indicam acometimento dos ramos genital e femoral do nervo genitofemoral (L1 e L2). A cólica ureteral é causada por distensão do ureter, que estimula as vias aferentes de dor em sua parede. Como não havia peritonite, também não havia rigidez nem dor à descom‑ pressão súbita. Em caso de peritonite, a compressão da parede abdominal com a mão seguida de descompressão súbita causa dor quando a musculatura abdominal volta ao lugar, trazendo consigo o peritônio inflamado. Portanto, a manobra de descom‑ pressão súbita abdominal ajuda a diferenciar a cólica ureteral da cólica intestinal e apendicite. 2.15A. Um menino de 14 anos sentiu dor na região inguinal direita ao tentar levantar um objeto pesado. Assim que notou uma saliência na região da dor, ele decidiu se deitar. A saliência logo desapareceu e ele voltou para casa. Mais tarde, ao assoar o nariz com força, sentiu dor novamente e a protuberância na região inguinal direita reapareceu. Com medo de que tivesse ocorrido uma “ruptura”, o pai marcou uma consulta com o médico de família. Exame físico: o médico introduziu o dedo indicador no escroto do menino, em posição superior ao testículo direito e ao longo do funículo espermático, até o anel inguinal super‑ Estudos de Caso | Capítulo 2 15 ficial. Não encontrou alteração até que instruiu o menino a tossir, quando sentiu um impulso na ponta do dedo. Quando o paciente estava em decúbito dorsal, a saliência desaparecia, mas quando era instruído a fazer força, surgia uma saliência do tamanho de uma ameixa na região inguinal direita superior ao ligamento inguinal. Diagnóstico: hérnia inguinal indireta. O que é uma hérnia inguinal indireta? Resposta: hérnia inguinal indireta é a protrusão do conteú‑ do abdominal (gordura, sobretudo do omento maior, ou vísceras na forma de uma alça de intestino) para uma evaginação do saco peritoneal que atravessa o anel inguinal profundo até o canal inguinal; depois, pode sair através do anel inguinal superficial e avançar ainda mais. 2.15B. Explique a base embriológica desse tipo de hérnia. Resposta: a base embriológica de uma hérnia inguinal indireta é a persistência de todo o processo vaginal (ou de sua parte superior), um divertículo embrionário do peritônio que atravessa a parede abdominal em direção à eminência labioes‑ crotal antes da descida da gônada, formando o canal inguinal. Normalmente, após a descida da gônada, o processo vaginal é ocluído a partir do anel inguinal profundo em diante, exceto no homem, no qual sua extremidade distal continua aberta como a túnica vaginal que envolve a maior parte do testículo. A persistência do processo vaginal predispõe à hérnia inguinal indireta porque cria uma área de fraqueza na região inguinal da parede anterolateral do abdome. Também forma um saco herniário para o qual pode migrar o conteúdo abdominal (geral‑ mente uma alça de intestino) em caso de aumento considerável da pressão intra‑abdominal, como ocorre durante o esforço para levantar um objeto pesado. Depois que o anel inguinal profundo é dilatado por uma herniação do intestino, a tosse pode fazer com que a herniação volte a acontecer. Essa é a base do teste realizado durante o exame físico, no qual o profissional insere um dedo através do anel superficial do canal inguinal e o paciente é instruído a tossir. 2.15C. Que camada forma o saco herniário propriamente dito? O saco herniário é coberto por camadas do funículo espermático? Em caso afirmativo, quais são elas? Resposta: o processo vaginal causa a evaginação de todas as camadas da parede abdominal à medida que prossegue; em homens, as camadas revestem o funículo espermático, enquanto nas mulheres, formam‑se camadas menos bem definidas em relação ao ligamento redondo. Na verdade, o peritônio do pro‑ cesso vaginal forma o saco de uma hérnia inguinal indireta, que pode ser curta e apenas atravessar o anel profundo e entrar no canal inguinal (uma hérnia “incompleta”), continuar através do anel superficial (uma hérnia “completa”) ou estender‑se até o escroto ou lábio maior do pudendo (hérnia escrotal ou labial). Além disso, o saco herniário é coberto pelos revestimentos do funículo espermático: fáscia espermática interna, fáscia cremastérica e, na hérnia completa, fáscia espermática externa. 2.15D. Que estruturas correm risco durante uma operação para reparo de hérnia inguinal indireta? Cite algumas consequências da lesão dessas estruturas. Resposta: durante o reparo cirúrgico de uma hérnia ingui‑ nal indireta, o nervo ilioinguinal está em risco porque atravessa o canal inguinal em ambos os sexos e sai através do anel in‑ guinal superficial. Ele conduz fibras sensitivas da pele da área superomedial da coxa, da pele da raiz do pênis e de parte do escroto ou lábios maiores do pudendo. A consequência provável da lesão desse nervo é a anestesia dessas áreas cutâneas. O ramo genital do nervo genitofemoral também pode ser aprisionado no reparo de uma hérnia. Ele entra no canal inguinal através do anel inguinal profundo,
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