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Por que Terceirizar

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POR QUE TERCEIRIZAR?
Redenção / 2017
Docente
Prof. Dra. Vilma Faria
Discente
David Leandro
Resumo
Este trabalho busca abordar de forma sucinta a temática da terceirização de um ponto de vista histórico e associando este arranjo organizacional como inerente à divisão do trabalho, sendo assim, intrínseco às relações humanas e a cooperação em sociedade. Logo, este trabalho, diferente de muitos outros já discutidos, não tece fabulosas e falaciosas críticas contra a terceirização, mas destrincha seus benefícios não só para a produtividade empresarial, mas para a vida em sociedade. Os benefícios advindos da terceirização mostram-se como um oxigênio que pode dar um fôlego em meio a tantas regulações que sufocam o setor produtivo e atrapalham sua existência e desenvolvimento. Também buscamos responder as críticas mal embasadas e mentirosas que distorcem o conteúdo do Projeto de Lei nº4302/1998, conhecido com Lei da Terceirização, e mostramos como estas não se sustentam à luz da realidade dos fatos. Tais argumentos falaciosos são reflexos de estudos mal feitos, seja por cegueira ideológica ou por pura ignorância, que tentam associar a terceirização a ganância de empresários, trabalhos análogos a escravidão, exploração do trabalhador e precarização do trabalho. O que poucos críticos não entendem é que até antes desse projeto não existia uma lei que pacificasse esta prática, o que causava certa instabilidade jurídica sobre o tema, e agora a situação tanto para empregador como para empregado tende a melhorar com menos incertezas e menos custos envolvidos na contratação.
Palavras-chaves: Terceirização, PL 4302/1998, Divisão do Trabalho, Desenvolvimento da Sociedade, Benefícios da Terceirização.
Objetivo
Este trabalho tem como alvo responder ao problema principal: a terceirização prejudica a economia? Partindo da hipótese de que a terceirização nada mais é do que um simples arranjo organizacional que proporciona agilidade, eficiência e economia às corporações, este que vos escreve passou por responder alguns outros questionamentos para alcançar o objetivo principal: Como surgiu e como se deu a necessidade de terceirizar? Quais os benefícios da terceirização? Quais são as críticas feitas contra a terceirização? A metodologia utilizada no trabalho limita-se a revisões bibliográficas das teorias econômicas, pois estas possuem as ferramentas necessárias para abordar de forma ampla a ação humana por trás do arranjo da terceirização. Aqui, eu busco mostrar que a terceirização não é esse apocalipse na terra que muitos querem fazer ser, mas, pelo contrário, proporciona benefícios e vantagens a todos, elevando o padrão de vida das pessoas em geral.
Introdução
Atualmente, existe uma grande discussão em torno de uma pauta legislativa sobre a terceirização. Criou-se uma ampla problematização a respeito desta temática, mas pouco se entende o que de fato é a terceirização, o porquê e como ela se dá. Este trabalho debruça-se sobre as relações sociais e econômicas deste processo, e porque este é intrínseco ao desenvolvimento humano.
O Projeto de Lei 4302/1998 que foi sancionado em março do ano de 2017 pelo presidente Temer tem a pretensão de disciplinar a prática no Brasil. Até antes desta PL ser sancionada, nosso país não tinha uma lei que tratasse especificamente da relação de terceirização entre empregado e empregador. O que tínhamos eram um conjunto de jurisprudências, decisões, formando uma súmula que pacificava algumas práticas, como por exemplo, a proibição de terceirizar a atividade-fim, ou a impossibilidade de contratar um funcionário terceirizado que antes fora empregado direto que a empresa demitiu e etc. Em um cenário onde um emaranhado de leis e regulações estapafúrdias atrapalham, tanto empregador como empregado e aumentam os custos desta relação, este projeto mostra-se como uma luz no fim do túnel de um inferno regulatório. Enquanto que para outros, tal prática mostra-se um sacrilégio, demostrando por meio de “estudos” e argumentos um tanto duvidosos que a terceirização é um problema.
Antes de tudo temos que analisar a natureza da terceirização em si, uma análise histórica, e como Ludwig Von Mises (1951) disse:
“Historicamente, a divisão do trabalho se originou em dois fatores da natureza: a desigualdade das capacidades e habilidades humanas, e a variedade das condições externas da vida humana na terra. [...] Jovens e velhos, homens e mulheres, crianças e adultos, todos cooperam entre si ao fazerem os melhores usos possíveis de suas várias habilidades. [...] Uma vez que o trabalho foi dividido, a própria divisão exerce uma influência diferenciadora. O fato de o trabalho ser dividido possibilita um maior aperfeiçoamento do talento individual, o que por si só já faz com que a cooperação seja ainda mais produtiva. Por meio da cooperação, os homens são capazes de alcançar aquilo que estaria além de suas capacidades enquanto indivíduos, e até mesmo o trabalho que um indivíduo é capaz de realizar sozinho se torna mais produtivo. O indivíduo se beneficia ao cooperar não somente com pessoas superiores a ele em determinadas capacidades, mas também com aquelas que são inferiores a ele em absolutamente todos os aspectos relevantes.”
Durante toda a história da humanidade o ser humano mostrou-se limitado. Somos limitados. Essa limitação física, biológica e intelectual impede que o indivíduo possa fazer tudo ou ter conhecimento de tudo. E é a partir daí que surge a necessidade da cooperação: somos limitados e precisamos da cooperação para que possamos progredir onde sozinhos não conseguiríamos. Então, consequentemente surge a divisão de trabalho: o que eu não sei fazer, eu adquiro trocando voluntariamente com outro indivíduo por algo que eu sei fazer, e assim somamos os esforços e ambos ganham. A terceirização nada mais é do que uma consequência natural da divisão do trabalho: se eu não sei produzir/prestar determinado bem/serviço, eu remunero outro individuo que saiba e queira fazê-lo por mim.
A divisão do trabalho, bem como a decorrente terceirização, são fatores que proporcionaram não só um desenvolvimento econômico e aumento do bem estar em geral como estimulou as interrelações humanas e a vida em sociedade.
Desenvolvimento
Como Dalberto (2017) bem explica e resume, terceirizar nada mais é do que delegar uma atividade, trabalho, por algum motivo, seja estratégico ou não, para um terceiro. Neste sentido todos nós terceirizamos em algum momento da nossa vida. O computador ou o celular que nós temos, a roupa que vestimos, o meio de transporte que usamos são exemplos de produtos que geralmente não temos a capacidade de produzir por conta própria e contratamos, delegamos, pagamos alguém para nos prover. Até mesmo aquele vídeo de humor do seu youtuber preferido, ou aquele famoso ator global que tanto critica esta prática é uma forma de terceirização do serviço de entretenimento. Mas por algum motivo quando uma empresa resolve terceirizar, esta vira alvo de duras criticas e ameaças de longos e custosos processos judiciais.[1: Com o advento das redes sociais e uma maior interação via internet de milhões de usuários, houve uma grande oportunidade para muitas pessoas sejam elas famosas ou não a se tornarem os chamados digital influencers. O ponto que eu destaco é o fato de muito desses influenciadores digitais, às vezes, opinarem até sobre o que não sabem, influenciando pessoas de forma falaciosas. Uma prática bastante corriqueira, infelizmente, movida por questões ideológicas ou até ignorância mesmo.]
Apesar de esta problematização ser uma polêmica recente, mas a prática ser algo milenar, a terceirização no setor corporativo tem o seu conceito oriundo na segunda guerra mundial, em que as indústrias americanas precisavam concentrar-se na produção de bens de consumo de modo a atender a demanda existente de maneira ágil e proporcionando maior disponibilidade de recusros para sua atividade fim (PENA, 2017). Como David Friedman e Steven Landsburg (2017)explicam “em termos técnicos, isso se chama divisão do trabalho (cada um se especializa naquilo em que é bom) e vantagem comparativa (faço aquilo em que sou melhor que os outros)”. Essa relação proporciona maior produtividade para a empresa que poderá, assim, coeteris paribus, expandir e continuar contratando e/ou aumentando salários. Além disso, Dalberto (2017) também enfatiza que:
“Garantir a liberdade de tais arranjos nada mais é do que garantir a liberdade de livre associação entre as partes; é garantir que acordos mutuamente consensuais possam ser realizados. E derrubar uma restrição a acordos voluntários é, por si só, benéfico. Sociedades mais justas, mais ricas e desenvolvidas são sociedades mais livres.”
Um exemplo curioso desta prática destacado por Friedman e Landsburg (2017) seria a Nova Zelândia que apesar de possuir nenhuma montadora de automóveis em seu território possui a oitava população mais motorizada do mundo, com 712 carros para cada 1000 habitantes, com Toyotas, Ford Rangers, Mitsubishis, Nissans e Mazdas entre os 10 carros mais vendidos no país. Enquanto que sua maior pauta de exportação é laticínios, ovos, mel, carne, lã, madeira, frutas, nozes, bebidas e peixes. Ou seja, a população decidiu por meio das suas escolhas de consumo e investimento que não queria que seus recursos fossem consumidos com a fabricação desses bens, e optaram por fazer aquilo que já fazem melhor que outros (vantagem comparativa) e se especializaram nisso (divisão do trabalho) e adquirem outros bens de quem os produzem melhor (terceirização).[2: Ver https://en.wikipedia.org/wiki/Automotive_industry_in_New_Zealand][3: Ver https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_vehicles_per_capita][4: Ver http://www.stuff.co.nz/motoring/84124169/nzs-top10-selling-vehicles-for-2016-so-far][5: Ver http://www.worldstopexports.com/new-zealands-top-10-exports/]
Muito embora seja notória a elevação do padrão de vida das pessoas, bem como o desenvolvimento das relações em sociedade e a garantia de liberdade dos indivíduos, infelizmente, existe uma corrente de oposição a terceirização e a PL 4302/1998 que visa pacificar esta conduta. Seja por questões puramente ideológicas ou pura ignorância, alguns políticos, jornalistas, e sindicatos falam aos quatro ventos que a terceirização irá prejudicar principalmente o trabalhador. Isto é uma mentira! Uma delas é a forte oposição feita pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) afirmando que “a terceirização, [...] precariza assustadoramente as relações trabalhistas” e que "o governo erra, de maneira abominável, se não [...] se aperceber que é a grande massa trabalhadora que movimenta o país, e que neste momento encontra-se muito preocupada com mudanças que não os incluem.” .[6: Ver http://www.ugt.org.br/post/16233-UGT-nao-aceita-terceirizacao-aprovada-pelo-Congresso]
No decorrer deste trabalho, procuro listar alguns dos principais benefícios para o Brasil que poderão ocorrer com a aprovação da PL e responder às supostas críticas feitas ao projeto de lei da terceirização à luz de uma análise econômica das relações humanas bem como com base no conteúdo desta lei que deveras é distorcido ou mal compreendido por seus críticos. Embora listar os benefícios já seja em certa medida o mesmo que uma resposta às críticas, eu pretendo fazer uma seção diferente para cada objetivo, pois ao abordar as críticas, acabo fazendo uma análise mais completa por mencionar o conteúdo da PL.
Benefícios
Combate ao desemprego. Segundo dados recentes, o Brasil conseguiu superar o número de 13 milhões de desempregados. 13 milhões! Só para se ter uma idéia, se todas essas pessoas sem empregos formassem um país, este seria mais populoso que países como Portugal, Grécia ou Suécia. Como Leandro Roque (2015) demonstrou minuciosamente, toda essa catástrofe sofrida no Brasil, onde os mais pobres pagam a conta, foi criada e gerida durante o governo lulo-dilma-petista, principalmente, por meio de crédito artificial criado pelos seus governos. É de se esperar que após um bust, os setores econômicos que mais foram afetados durante o boom comecem a realocar recursos para setores onde de fato haja demanda real. Ou seja, espera-se alguma taxa de desemprego, para que depois seja feita a recolocação no mercado. O problema é que esse processo tende a demorar ainda mais no caso brasileiro devido ao enorme entrave burocrático e regulatório criado pela Consolidação das Leis Trabalhistas, a famosa CLT. Bolini (2017) conclui que a terceirização surge como uma oportunidade de reduzir os custos inerentes a CLT, facilitando que o empregador contrate com menos riscos por meio de uma empresa que terceiriza, já que existe um cenário de incertezas econômicas, e dessa forma, caso a empresa futuramente opte por demitir este funcionário, o terceirizado ainda permanece empregado, mas pela empresa que terceiriza, que depois poderá recolocá-lo em outra empresa para trabalhar.[7: Ver http://g1.globo.com/economia/noticia/oit-preve-que-n-de-desempregados-no-brasil-chegara-a-136-milhoes-em-2017.ghtml][8: Para maiores detalhes sobre os ciclos econômicos, ver o Nobel F. A. Hayek em sua obra Monetary Theory And The Trade Cycle de 1929. O conceito principal de Hayek sobre boom e bust é que a interferência governamental, mesmo quando feita com a melhor das intenções, modifica o comportamento das pessoas, mudando os incentivos e alterando os sinais do mercado. Estas mudanças resultam em investimentos não sustentáveis e que no fim causarão recessões ou retrações (bust).]
Redução da informalidade e contratação de grupos marginalizados. Não se pode falar da CLT e o desemprego sem mencionar o alto custo que esta regulação impõe à relação entre empregador e empregado. Um estudo do Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2012 chegou a conclusão de que o custo do trabalhador pode chegar, em média, a 2,83 vezes (ou 183%) o salário que recebe da empresa. “Isso quer dizer que, em vínculos empregatícios de 12 meses, se o trabalhador recebe um salário de R$ 1.000, o seu empregador está desembolsando, na verdade, R$ 2.830 para poder manter esse funcionário.” (BOLINI, 2017). Mas se considerarmos, por exemplo, o salário mínimo de 2017, que é R$ 937, o empregador estará pagando na verdade R$ 2.651. Ou seja, um funcionário produtivo para a empresa precisa produzir no mínimo o equivalente a R$ 2.651 ou estará dando prejuízo para empresa e, consequentemente, será demitido. Nas palavras de Bolini (2017):[9: Esta fonte não foi obtida de forma primária, mas sim de uma publicação feita no Jornal Estadão em 2012. Para ver http://www.estadao.com.br/blogs/jt-seu-bolso/2012/05/24/trabalhador-custa-quase-3-vezes-o-salario/]
“Na prática, o salário mínimo criminaliza todos os trabalhadores com produtividade menor do que esse valor. Isto é, se o sujeito não teve a oportunidade de desenvolver habilidades profissionais que sejam suficientes para render, ao menos, R$ 2.651 para quem o está contratando, não valerá a pena contratá-lo. E aí, restam ou o desemprego ou a informalidade.”
Após essas informações não chega a ser um exercício mental muito grande correlacionar a CLT ao crescente número de trabalhadores informais e a alta taxa de desemprego aos grupos marginalizados.
Visto que o sistema educacional público brasileiro é péssimo e com cerca de metade da renda confiscada via impostos fica difícil o acesso a escolas particulares e de melhor qualidade. Ou seja, a qualificação das pessoas mais pobres tende a ser muito pior que a dos mais ricos. E considerando que há um maior percentual de pessoas negras na camada mais pobre da sociedade, estes acabam por serem vítimas das pessoas que alegam tentar defendê-los por meio da CLT.
Aumento da especialização e da produtividade. Tanto Adam Smith em sua obra A Riqueza das Nações (1776) como Ludwig Von Mises em sua obra Socialism: an economic and sociological analysis (1951) demonstram como a especialização do trabalho eleva a produtividadee é o que realmente aumenta o padrão de vida das pessoas.
Na prática, isso quer dizer que um professor que vai ao mercantil comprar alface, tomate e carne para preparar um sanduíche em casa o faz porque provavelmente levaria meses para que pudesse produzir os ingredientes por conta própria. E como não é um especialista em agricultura ou pecuária, provavelmente, não conseguiria produzir em bastante quantidade. Ou seja, o custo seria altíssimo, sendo muito mais prático e barato ir ao mercantil e comprar os ingredientes ou até o sanduíche já pronto. E em troca, ele dar aulas, pelas quais é remunerado, já que as habilidades para lecionar suas disciplinas são melhores do que plantar ou criar bovinos. Bolini (2017) também cita um exemplo prático ampliando essa lógica:
“Para que se construa um prédio, por exemplo, faz muito mais sentido contratar uma empresa especializada em demolição, outra especializada em limpeza, outra especializada em construção e outra especializada em fornecimento de materiais. Cada empresa torna-se uma especialista no que faz, aumentando sua produtividade e podendo fazer mais coisas e cobrar menos por cada coisa.
Se uma mesma empresa tivesse de fazer tudo isso — ou seja, se uma mesma empresa tivesse de se especializar em várias áreas que extremamente distintas entre si — certamente sua eficiência seria menor. Consequentemente, seus custos de produção seriam maiores, os salários seriam menores, e a própria capacidade de investimento futuro desta empresa estaria em risco.”
E conclui que “com o aumento da especialização, a sociedade recebe mais bens produzidos, e cada trabalhador pode consumir mais de cada item” (BOLINI, 2017).
Em 2015, um estudo da Conference Board, organização americana que reúne cerca de 1.200 empresas públicas e privadas de 60 países e pesquisadores, estimou que um trabalhador americano produz como quatro brasileiros. Mas esse tipo de informação já é conhecido para quem está familiarizado com os dados da economia brasileira: a baixa produtividade da mão-de-obra é um dos problemas crônicos do nosso país. “Garantir a liberdade para novos arranjos produtivos mais flexíveis, por meio da terceirização, é uma maneira de alcançar o aumento da produtividade que tanto nos faz falta” (DALBERTO, 2017).[10: Esta fonte não foi obtida de forma primária, mas sim de uma publicação feita no Jornal Folha de S. Paulo em 2015 Ver http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1635927-1-trabalhador-americano-produz-como-4-brasileiros.shtml]
Na próxima sessão, passo da defesa da causa para uma resposta às críticas mais recorrentes (e falaciosas) que se vê sobre a terceirização, demonstrando de fato o quão mal embasado (e mentirosos) são tais argumentos frente à realidade dos fatos.
Respondendo às críticas
A terceirização gera precarização e redução salarial. Muito se alega que as condições de trabalhos serão precarizadas, irão piorar e que todos receberão salários mais baixos. Para embasar tamanha falácia intelectual, utilizam-se de certos estudos e estatísticas inventadas, fazem um malabarismo teórico e concluem essas aberrações intelectuais. O mais conhecido entre eles foi um documento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) intitulada de “Terceirização e Desenvolvimento, uma conta que não fecha”.
Sobre isso, limito-me a transcrever as fraudes intelectuais já apontadas por Pedro Menezes (2015):
“O economista Roberto Ellery, professor da Universidade de Brasília (UnB), decidiu ir às fontes e demonstrou em seu blog que uma análise simples da pesquisa seria suficiente para atestar a fragilidade das afirmações que ganharam manchetes. São muitas as barbeiragens estatísticas.
Um exemplo: a pesquisa financiada por CUT e DIEESE simplesmente comparava o salário médio de trabalhadores terceirizados e não-terceirizados sem utilizar controles estatísticos que restringissem a comparação aos trabalhadores que desempenham a mesma função. Ou seja, o salário de trabalhadores com cargos e funções inteiramente distintas está sendo comparado sem o menor cuidado.
E existem algumas razões para acreditar que os funcionários terceirizados tendem a ganhar menos justamente porque exercem funções que teriam um salário menor de qualquer forma, fossem terceirizadas ou não.
No Brasil, a terceirização é restrita às atividades-meio de uma empresa e não pode chegar ao que se chama de ‘atividades-fim’. Atividade-meio é aquela que dá suporte à atividade central de uma empresa, que é sua atividade-fim. Numa escola, a atividade-fim é exercida pelo professor.  Num hospital, a atividade-fim é a do médico. Elas não podem ser terceirizadas.
As atividades-meio são aquelas que dão suporte à atividade-fim: é o trabalho dos funcionários de limpeza, segurança e auxílio administrativo das escolas e hospitais. O problema é que a atividade-fim, por motivos diversos, tende a render salários maiores para quem a desempenha. Comparar o salário de um médico com o de um porteiro terceirizado do hospital, e concluir a partir desta comparação que o trabalhador terceirizado ganha menos por ser terceirizado é, no mínimo, uma barbeiragem estatística.
Alguém poderia me dizer que a comparação entre médico e porteiro do hospital é extrema, e que a diferença entre a função de terceirizados e não-terceirizados costuma ser menos evidente na maior parte das empresas, mas me parece mais perfeitamente razoável supor que o salário do funcionário que exerce uma atividade-fim seja, na maioria dos casos, maior do que o de quem exerce uma atividade-meio, e que isso nada tem a ver com o fato de seu contrato ser — ou não — terceirizável.
A tortura estatística ganha requintes ainda mais assustadores quando o professor nota que, no próprio estudo da CUT e do DIEESE, há a afirmação de que 22,7% dos funcionários contratados diretamente possuem nível superior completo, enquanto apenas 8,7% dos funcionários terceirizados terminaram um curso universitário. A maioria das pessoas veria nisso um ótimo motivo para afirmar que a diferença salarial tem relação direta com a diferença de formação entre os grupos.” (ELERY apud MENEZES, 2015)
Além disso, o trabalhador terceirizado continua possuindo um vínculo com a empresa que terceiriza por meio da CLT. Este continua existindo e sendo uma obrigação legal por parte de qualquer empregador que queira contratar um funcionário. Sendo assim, salário mínimo, férias remuneradas, carga horária semanal máxima, seguro desemprego, fundo de garantia, INSS, e demais garantias compulsórias por força de lei continuam vigente. Ou seja, é uma mentira alegar que a terceirização irá acabar com os supostos direitos trabalhistas. Não existe nenhuma base que possa constatar que o trabalhador terá qualquer tipo de prejuízo pelo simples fato de possuir um contrato terceirizado.
Esta crítica ressoa ainda mais forte contra a terceirização da atividade-fim que passará a ser permitida de acordo com o projeto. Isto que dizer que antigamente, o dono de uma escola, que possui o ensino como atividade-fim, não poderia terceirizar a atividade de ensino, o cargo do professor. Mas após a atual reforma, isto será possível. O problema desta crítica é que muitos abordam este fato como se de repente todos fossem passar a terceirizar suas atividades-fim. Só que na verdade, existe uma lógica de mercado que explica não fazer muito sentido econômico para a empresa terceirizar sua atividade-fim, porque “tal terceirização implicaria, por definição, que a empresa contratada para realizar tal atividade possui a capacidade de realizar exatamente o negócio da contratante, e, portanto, poderia ela própria operar em tal ramo” (DALBERTO, 2017), o que seria economicamente mais vantajoso.
Na verdade, os únicos setores que poderão ser mais afetados pela terceirização da atividade-fim serão aqueles que possuem maior regulação e proteção do estado. Dalberto (2017) explica que:
Ironicamente, isso tende a ser menos verdade em setores em que não há livre entrada de novas empresas, isto é, naqueles setores mais regulados pelo governo. Nestes setores — porexemplo, empresas telefônicas —, justamente por estarem blindados da concorrência e por serem protegidos por agências reguladoras, a qualidade das atividades-fim tende a ser baixa, de modo que sua terceirização — que também não exigirá muita qualidade — se torna perfeitamente viável.
Ou seja, 	caso um indivíduo perca seu trabalho para um terceirizado é muito provável que seu emprego fosse em algum setor protegido das leis e dinâmicas de mercado. Certamente algumas pessoas (os incompetentes) irão perder com esse arranjo, já que será abolida uma forma de protecionismo. Mas com certeza haverá pessoas que ganharão (normalmente os competentes). Dificilmente um funcionário competente perderá seu posto para um terceirizado incompetente e inexperiente. Acreditar que todo mundo perderá emprego para um terceirizado é ser demasiado ingênuo e acreditar que empreendedores gostam de tomar prejuízo, afinal, nada custa mais caro que um funcionário ruim. Como bem diz Bernardo Santoro (2015):
Funcionário que gera valor não é dispensado — por mais caro que ele seja — em troca de funcionário ruim e inexperiente. O real temor gerado por essa lei é que haverá bons profissionais querendo ofertar seus serviços sem vínculos empregatícios, e isso representará um risco para os ruins que usufruem esses vínculos.
E Dalberto (2017) completa:
Tais alterações potencialmente afetarão grupos de interesse que, acreditando estarem sendo ameaçados pela mudança, farão resistência à mesma, julgando que — e tentando vender a ideia de que — sua posição busca o bem comum, quando na verdade estão pouco interessados nos efeitos mais amplos.
Mais ainda: buscarão usar do poder do estado para impor a manutenção de sua estabilidade em detrimento do restante da população.
A terceirização seria as empresas buscando trabalhadores para pagar salários de miséria. Essa crítica ressoa baseada na antiga, surrada, obsoleta e refutada teoria marxista da exploração: as empresas buscando apenas seus próprios interesses e lucros à custa da exploração dos trabalhadores que receberão salários cada vez mais baixos, etc.
A questão é: por que reduzir os custos é algo ruim? Custos mais baixos permitem maior acúmulo de capital, o que por sua vez possibilita mais investimentos, mais contrações. Redução nos custos de contratação, obviamente, implica em mais facilidade para contratar. Logo, deixo outra questão: como facilitar a contratação pode ser algo ruim para pessoas à procura de emprego?
Dalberto (2017) diz:
O que várias pessoas simplesmente não aceitam é que, no Brasil, a terceirização foi justamente o oxigênio inventado para que várias empresas pudessem se manter vivas em meio à asfixiante legislação tributária e trabalhista. Ou elas terceirizavam ou quebravam. A terceirização não foi um mero capricho de empresários ou uma conspiração maquiavélica para empobrecer a classe operária. Foi simplesmente uma saída para se manterem vivos.
Alguns ainda apelam para um discurso de que a terceirização foi feita para “baratear a produção”. Mas, novamente, como isso seria algo ruim? Se a produção está mais barata, então isso é bom para a sociedade e principalmente para os mais pobres que poderão ter acesso a mais bens e serviços.
A lei da terceirização irá acabar com direitos trabalhistas em benefício de empresários que terão custos baixos. Isso é uma mentira! Como já comentado anteriormente, nenhum suposto direito trabalhista deixará de existir, porém vinculado à empresa prestadora do serviço, a terceirizada. É importante enfatizar esse detalhe porque até antes da PL existia uma disfunção, uma aberração contratual, no direito trabalhista em que o empregado terceirizado poderia cobrar créditos trabalhistas à empresa contratante. Como é que alguém pode ser obrigado a pagar por um débito trabalhista de um empregado que não é seu? Com a PL, a empresa contratante ainda terá responsabilidade subsidiária apenas se a empresa contratada não puder quitar com seus débitos trabalhistas.
O mais irônico desta situação é que o próprio estado que se diz zelar pela “justiça social” se auto-isenta dessa obrigação. Enquanto o estado obriga que a empresa contratante se responsabilize por dívidas trabalhistas dos empregados de outra empresa, o Artigo 71 da lei 8.666/93 determina que o estado não responde por dívidas trabalhistas de empresas terceirizadas que lhe prestam serviços. Para o estado, a isenção; para o empresário, o rigor da lei. Por quê?
Conclusão
É obvio o fato de que a terceirização é um arranjo que permite maior flexibilidade, eficiência e economia as empresas, e isto é indispensável num cenário de concorrência e dinamismo de mercado. Permitir que pessoas possam contratar e serem contratadas em arranjos mais flexíveis é um avanço em direção ao desenvolvimento.
Os benefícios proporcionados pela terceirização abrangem tanto empregador como empregado, o que possibilita um aumento de bem estar para ambas as partes. Aumento da produtividade, eficiência, redução dos custos, facilidade para contratação, mais investimentos, mais oportunidade para as pessoas marginalizadas, dentre outros são apenas exemplos de como mais liberdade no setor produtivo pode melhorar a situação para todos.
Muito embora existam tantas pessoas que, geralmente, por pura ignorância, levante críticas falaciosas contra a lei da terceirização, estas não se sustentam frente a realidade. Terceirizar em nada prejudica trabalhadores, não vai acabar com os ditos direitos trabalhistas, precarizar ou escravizar. Mas nota-se que existe um grupo de interesse que é de certa forma beneficiado em alguns setores regulados e vêem como ameaça a possibilidade de melhores trabalhadores poderem ofertar mão-de-obra livremente e, assim, tomar empregos dessas pessoas incompetentes. Estes optam por usar a força coercitiva do estado para manter esse privilégio em detrimento do resto da população. Se existe a possibilidade de termos um arranjo que proporciona o fim de privilégios para incompetentes, mais do que nunca, temos que apoiar.
O Projeto de Lei da terceirização chega ser até tímido em se tratando de liberdade contratual, mas não se pode negar que ainda assim é um avanço.
Referências Bibliográficas
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BRASIL. Lei nº 4302, de 19 de março de 1998.
BRASIL. Lei nº 8666, de 21 de junho de 1993.
DALBERTO, Cassiano Ricardo . Terceirização? Sim, por favor. E obrigado; Mises Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2076>. Acesso em: 02 jul. 2017.
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LANDSBURG, Steven; FRIEDMAN, David. Como a Nova Zelândia e o Chile transformam vacas, ovelhas, uvas e cobre em automóveis de qualidade; Mises Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2617>. Acesso em: 02 jul. 2017.
MENEZES, Pedro. Aqueles dados assustadores sobre trabalhadores terceirizados talvez não sejam confiáveis…; Mercado Popular. 2015. Disponível em: <http://mercadopopular.org/2015/04/sabe-aqueles-dados-assustadores-sobre-trabalhadores-terceirizados-talvez-eles-nao-sejam-tao-confiaveis-assim/>. Acesso em: 02 jul. 2017.
MISES, Ludwig Von. Socialism: an economic and sociological analysis. [S.l.]: Yale University Pres, 1951. 600 p. Disponível em: <https://mises.org/system/tdf/Socialism%20An%20Economic%20and%20Sociological%20Analysis_3.pdf?file=1&type=document>. Acesso em: 02 jul. 2017.
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