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A Psicologia do Amor APOSTILA EAD SÉCULO XXI

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Página 1 
A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
 
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DO AMOR 
 
“O amor é um ato que caracteriza a existência 
humana no que ela tem de humano; por 
outras palavras, um ato existencial.” 
Viktor Emil Frankl 
 
 
RESUMO 
O conceito de amor encontra vários significados para diferentes autores e culturas. 
Contudo, o ser humano em suas diferenças se une também em uma vivência 
comum: a própria capacidade de amar. A visão frankliana do amor oferece uma 
concepção mais profunda, uma vez que lhe reconhece o caráter espiritual e abrange 
a percepção dos valores na vida de quem ama e é amado. A partir da visão de 
Frankl, pode-se encontrar ainda mais valor na concepção do amor para a vida 
humana, ampliando a reflexão do amor Eros para o amor Philia e encontrando no 
amor o caminho para a cura psicológica de almas. 
 
Palavras-chave: Sentido do amor, relacionamento, espiritual, família, sociedade, 
logoterapia, psicologia do amor, philia, cura psicológica de almas. 
 
 
 
 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
 
INTRODUÇÃO 
Importar-se com o outro, sentir-se chamado a realizar algo pelo outro, amar. 
Que papel o amor pode exercer na cura de uma doença psíquica, na mudança de 
comportamento, na superação de limites? 
Pode-se dizer que o amor é a maior força que um ser humano é capaz de 
experimentar? E se isso é verdade e através dele as pessoas se mobilizam mais do 
que o fariam com sua ausência, então o amor é a mola propulsora do 
desenvolvimento humano? Por que não? O que é o amor? 
Este trabalho busca destacar as contribuições de Viktor Emil Frankl para o 
aprofundamento da compreensão sobre o sentido do amor para a existência 
humana e ampliar a reflexão sobre o poder do amor na cura de transtornos 
psíquicos. 
Max Scheler(1960) chegará a dizer que a essência do ser humano é o amor. 
Quando uma pessoa ajuda alguém, ela se sente realizada e a pessoa ajudada 
sente-se no dever de retribuir a ajuda, pois ser ajudado não a realiza tanto quanto 
poder ajudar. Compreendendo a ajuda como uma expressão do amor, poder-se-ia 
dizer que o homem tem em si a necessidade de ser amado, mas, em última 
instância, a necessidade de amar? Não há realização plena na vida humana senão 
através do amor? 
Sigmund Freud afirmava que a busca primordial do ser humano é por prazer, 
Adler afirmava que essa busca é pelo poder, Viktor Frankl defendia a visão de que a 
busca primordial e vital do ser humano é por sentido. Frankl também afirmava que a 
forma mais sublime de sentido da vida é encontrada por meio da vivência do amor, 
quando se tem a quem amar. 
Este trabalho convida a refletir sobre o sentido do amor, buscando afirmar 
que em última instância, o que o ser humano busca é, de fato, o sentido da vida que 
se manifesta de forma sublime na possibilidade de amar. É amando que se pode 
experimentar o auge do prazer, do poder e do sentido da vida. 
O conceito de amor encontra vários significados nos dias atuais, tanto no 
conhecimento popular, quanto para diferentes autores das relações humanas. A 
visão frankliana sobre o sentido do amor oferece uma perspectiva ontológica de 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
promoção da reflexão a respeito do amor e, através do sentido do amor, um 
caminho possível de rehumanização das relações. 
 Observa-se, através da experiência clínica e da análise das relações sociais, 
uma confusão a respeito das diferentes visões sobre o sentido do amor, resultando 
em um enfraquecimento dos vínculos sociais. 
O advento de uma super valorização da estética, da sexualização infanto-
juvenil, do individualismo, do imediatismo, e da necessidade de rapidez na produção 
para responder a demanda de acumulo de capital promovem um enfraquecimento 
dos vínculos e a desumanização das relações, assim como o aumento da incidência 
de transtornos psicológicos e o vazio existencial. 
Faz-se necessário um estudo mais aprofundando sobre o sentido do amor na 
pós- modernidade a fim de oferecer uma visão mais clara sobre seu significado ao 
homem atual. 
O objetivo deste trabalho é destacar a visão frankliana sobre o sentido do 
amor em meio às diferentes visões a respeito do amor nos dias atuais, como 
resposta aos anseios existenciais do homem de todas as épocas. 
Os estudos presentes ao longo deste trabalho deram-se através da análise da 
literatura de Frankl e outros autores da atualidade, bem como a análise de dados 
através da internet e outros meios de pesquisa e relatos de casos clínicos. 
 
O SENTIDO DO AMOR EM FRANKL 
O amor pode ser compreendido de diversas formas, já na antiguidade os 
gregos tinhamdiferentes termos para definir as expressões do amor: 
O amor philos, do grego Philia, significa um amor virtuoso desapaixonado. Era 
um conceito desenvolvido por Aristóteles. Inclui a lealdade aos amigos, à família, e à 
comunidade, e requer a virtude, a igualdade e a familiaridade. Nos textos antigos, a 
philia denota um tipo de amor global, usado como amor entre a família, entre 
amigos, um desejo ou a apreciação de uma atividade, bem como entre amantes. 
Esta é a única outra palavra usada nos textos antigos do Novo Testamento além de 
ágape. 
 
 
 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
Segundo Epicuro (300 a.c.): 
A necessidade de não ser agredido determina um contrato que 
instaura uma segurança calculada; isto é o direito, que rege a não-
agressão recíproca entre pessoas, que, precisamente, não são 
amigas. A amizade é outra coisa completamente diferente: ela não é 
contratada, sendo mais essencial do que o cálculo. Ela também 
proporciona segurança, naturalmente, e bem maior do que aquela 
que é proporcionada pelo pacto social. Entre amigos, a noção do 
justo não tem mais lugar; não por irrupção da injustiça, é claro, mas 
pela superação do cálculo sobre o qual se fundam os contratos. A 
amizade está além do acordo contratado. Ela é uma lei do ser-sábio. 
Ela implica que cada um encontre nela o desabrochar de sua própria 
sabedoria, na companhia de vários indivíduos, iguais, tornados 
homogêneos por uma felicidade comum. 
 
O amor ágape, também do grego, significa o amor, o amor de Deus. Nos 
textos bíblicos é usado por Jesus quando diz: 
Amai (ágape) ao senhor vosso Deus com todo vosso coração e com 
toda vossa alma e com toda vossa mente’. Este é o primeiro e maior 
de todos os mandamentos. E o segundo é: ‘Amai (ágape) vosso 
próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os Profetas residem nestes 
dois mandamentos (Mt 22, 37- 41). 
 
Também no Sermão da Montanha: 
Ouvistes dizer: amarás (ágape) teu irmão e odiarás teu inimigo’, mas 
eu vos digo: amai (ágape) vossos inimigos, fazei o bem aos que vos 
odeiam, e orai por aqueles que vos perseguem e maltratam, pois 
deste modo sereis filhos de vosso Pai nos céus, aquele que faz com 
que o sol se levante o mau e sobre o bom, e faz chover sobre o justo 
e sobre o injusto. Se amais apenas aqueles que vos amam, que 
recompensa tereis? 
 
O amor Eros. Eros é o deus grego do amor, belo e irresistível a ponto de 
desconsiderar o bom senso. É o amor apaixonado, com desejo e atração sensual. 
Para Platão, Eros significa também a capacidade de reconhecer a beleza da alma e 
de recordar a pessoa amada, mesmo que esteja ausente, daí a expressão "amor 
platônico". 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
Há tambéma visão biológica a respeito do amor. Para Kenrick (1990) o amor é 
um conjunto de decisões tendenciosas que evoluiu para servir a interesses 
genéticos. Estas predisposições influenciam a atenção das pessoas, sua memória e 
tomada de decisões. Por exemplo, quando se interage com um estranho o 
comportamento altruísta é menos comum que quando se interage com parentes 
com quem se partilha os genes. 
Mas, de que se trata o amor que está na essência do ser humano? 
Não é o amor romântico, nem tampouco o amor fanático que se tem pelas 
ideologias, não é o amor nostálgico das canções sertanejas, nem o amor possessivo 
dos jovens casais, ainda que todos estes possam ser considerados como fragmentos 
ou sinais do amor. 
Poder-se-ia dizer, a princípio, que o amor é uma capacidade essencialmente 
humana que tem seu núcleo na pessoa espiritual. 
O amor é um fenômeno humano no sentido exato da palavra. É um 
fenômeno especificamente humano, quer dizer: não se pode reduzir, 
sem mais, a um fenômeno sub-humano, nem de um fenômeno sub- 
humano se pode deduzir. Enquanto ‘fenômeno originário’ que, como 
tal, é impossível reduzir a alguma coisa que ‘a rigor’ esteja por trás 
dele, - o amor é um ato que caracteriza a existência humana no que 
ela tem de humano; por outras palavras, um ato existencial. Mais 
ainda: é o ato co-existencial por excelência. (Viktor Frankl, 1946) 
 
Viktor Frankl, no desenvolvimento dos conceitos da logoterapia, apresenta o 
conceito de auto-transcendência como a essência da existência, assegura que a 
existência não é apenas intencional, mas também transcendente, o ser humano está 
direcionado a algo além de si mesmo, tem uma capacidade de alcançar além de si, 
especialmente ao outro, no amor e no serviço. 
A essência da existência humana, diria eu, radica na sua 
autotranscendência. Ser homem significa, de per si e sempre, dirigir-
se a ordenar-se a algo ou a alguém: entregar-se o homem a uma obra 
a que se dedica, a um homem a quem ama, ou a Deus a quem serve. 
(Viktor Frankl, 1960) 
Nessa visão de Frankl, pode-se fundamentar a existência da pessoa espiritual 
que é capaz de autotranscendência e de viver o amor. 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
O amor pode ser mais compreendido à medida que se aceita a constituição da 
estrutura humana que não se limita ao bio-psíquico, mas se estende ao espiritual. 
Esta autotranscendência quebra os quadros de todas as imagens do 
homem que, no sentido de algum monadologismo, representem o 
homem como um ser que não atinge o sentido e os valores, para 
além de si mesmo, orientando-se, assim, para o mundo, 
interessando-se exclusivamente por si mesmo, como se lhe 
importasse a conservação ou o restabelecimento da homeostase. O 
monadologismo ignora que, como demonstraram Von Bertalanfey, 
Goldstein, Allport e Charlotte Buhler, o princípio da homeostase não 
vale geralmente na biologia, e muito menos na psicologia. (Viktor 
Frankl, 1960) 
 Dessa forma, Frankl traça uma diferença entre a visão mecanicista de 
diferentes abordagens da psicologia e a visão existencial da logoterapia. Uma vez 
que o ser humano busca a homeostase, ele não está aberto ao outro e, portanto 
não é capaz de amar. Sua realização, por outro lado, está na autotranscendência, na 
possibilidade de ir além de si, ao encontro do outro, atingindo o sentido e os 
valores, orientando-se para o mundo, para as pessoas, amando. 
A vida humana é dependente, não é como um bezerro que nasce e já aprende 
a andar, o ser humano é totalmente dependente. Se não há alguém que se dedique 
a cuidar de um recém-nascido, em pouquíssimo tempo este morrerá. O ser humano 
não é uma ilha. Ainda que algumas pessoas desejem se dedicar a uma vida de 
eremita distante da convivência com outras pessoas, ainda assim sua vida só terá 
sentido por saber que há pessoas por quem poderá oferecer orações e sacrifícios. O 
ser humano precisa do outro para sobreviver e para viver. E ainda mais, para 
desenvolver. 
Viktor Frankl utiliza o termo monantropismo para definir o "saber em torno 
da unidade da humanidade, uma unidade que ultrapassa todas as diversidades, quer 
as da cor da pele, quer as da cor dos partidos". A defesa de Frankl da unidade da 
humanidade pode também servir de fundamento para a definição de amor que 
envolve a ligação que o ser humano é capaz de estabelecer com outras pessoas, 
mesmo que não sejam da mesma família ou com quem se estabeleça uma relação 
de amor para construir uma família. Frankl repetidas vezes defende o tema da 
responsabilidade para com os outros. 
 
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A Psicologia do Amor 
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O conceito de amor philia, que para os gregos significava o amor fraternal, 
serve para fundamentar a ideia de que essa unidade defendida por Frankl e essa 
responsabilidade a qual todo ser humano é chamado a ter pelo outro é de fato o 
amor. Este amor, contudo, não é um determinismo biológico como afirma Kenrick, 
mas um amor presente no núcleo espiritual da pessoa, ou seja, está totalmente 
submetido à vontade e à liberdade. Amar é de fato um ato de liberdade. Quem ama 
não apenas tem consciência de que faz parte de uma unidade com as outras 
pessoas, mas também de que o bem de todos também depende dele e esta é 
também sua responsabilidade. Amando, o ser humano encontra o sentido para a 
vida, exercita a liberdade, a responsabilidade e encontra a felicidade. 
Se para Freud o amor era concebido apenas como um epifenômeno, para Frankl 
(1946) o amor "é um fenômeno originário da existência humana e não precisamente 
um mero epifenômeno, quer no sentido das chamadas tendências inibidas, quer no 
sentido da sublimação". 
 Freud dizia que "onde está o Id, tornar-me-ei Ego”. Frankl, por outro lado, vê 
na capacidade do ser humano de amar um pressuposto para a sublimação e não um 
resultado da sublimação. Desta forma, só o Ego que tende para o Tu pode integrar o 
Id verdadeiro e próprio. 
A frase de São João da Cruz também pode encontrar sentido nas afirmações 
de Frankl, ao dizer: "Ame e faça o que queres". Ao amar, o Ego está diretamente 
voltado para o Tu, desta forma a vivência do Id torna-se totalmente possível, aceita 
e compatível com as exigências da vida. 
O suprassentido concebido na teoria frankliana como um sentido que está 
acima da realidade humana, tal qual o mundo inferior dos animais é superado pelo 
mundo dos seres humanos, fundamenta-se no amor. "A entrada na dimensão supra-
humana, efetivada na fé, funda-se no amor", afirmou Frankl (1946). 
O amor e a fé parecem estar unidos na teoria frankliana. Em ambos os casos Frankl 
afirma que sua vivência faz o homem mais forte. 
Em uma crítica a concepção de Freud sobre os processos de ajustamento, Charlotte 
Buhler (1893-1974) afirma que "’no seu impulso para o equilíbrio, quem se ajusta 
toma a realidade negativamente’, ao passo que ‘quem cria coloca o seu produto e 
obra numa realidade concebida positivamente’". 
 
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A Psicologia do Amor 
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Frankl, tomando esta passagem de Buhler, amplia a crítica ao princípio do 
prazer como sendo uma tendência a manter ou restabelecer o mais baixo nível de 
tensão possível. 
A visão freudiana de determinismo nas atitudes humanas interpretando-as 
como uma constante busca pelo prazer a favor do princípio da homeostase não 
apenas não contempla no homem sua possibilidade de amar e sua característica 
espiritual como as nega e estabelece uma visão equivocada da vida humana que nos 
últimos tempos têm servido como fundamento de políticas públicas e sistemas devivências sociais. 
Scheler define o amor como um movimento espiritual em direção ao 
mais alto valor da pessoa amada, um ato espiritual em que esse valor 
- a que ele chama a “salvação” do homem - é captado. Não anda 
longe disso o que diz Spranger: o amor, para este autor, reconhece as 
possibilidades de valor do ser amado. É o que Hattingberg exprime 
por outras palavras: o amor vê o homem tal como Deus o ‘pensou’. 
(Viktor Frankl, 1946) 
No trecho acima, Viktor Frankl(1946) nos permite entrar em contato com três 
diferentes autores. A definição de Max Scheler (1874-1928) nos possibilita 
compreender que o amor é um movimento. O amor não é algo estagnado no 
homem, mas como tudo que caracteriza a vida, o amor é um movimento, e não está 
dirigido para qualquer lugar ou para qualquer objetivo, como que ao acaso, ele 
move-se para o alto, dirigido ao “alto valor” da pessoa amada, Scheler também fala 
de um movimento que não é material, mas sim espiritual. Utilizando a ontologia 
dimensional de Frankl que afirma que o núcleo da pessoa é espiritual, podemos 
pensar que este movimento do qual fala Scheler tem suas raízes no núcleo da 
pessoa, em sua própria essência. Desta forma, podemos afirmar que para poder 
captar o alto valor da outra pessoa é preciso que primeiramente eu capte este alto 
valor em mim mesmo. 
Spranger (1882-1963) e Hattingberg(1879-1944) parecem seguir a mesma 
linha de pensamento. O amor reconhece as possibilidades de valor, o amor vê a 
pessoa tal como Deus a pensou. E é justamente esta imaterialidade do amor que o 
torna ilógico se analisado pelo viés das ciências exatas, por exemplo, ou até mesmo 
pode ser incompreendido e reconhecido como nocivo se analisado pelo viés das 
ciências humanas. São incontáveis os casos de amor onde o sofrimento esteve 
 
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profundamente presente e para os que analisaram tais casos a resposta seria muito 
simples, negar o amor. Não seria talvez este um dos pontos em que muitas 
abordagens psicológicas se apoiam para orientar as pessoas a deixarem o ser amado 
quando enfrentadas com possibilidades de sofrimento? Contudo, se abrimos mão 
do amor que temos pela outra pessoa, abrimos mão do movimento espiritual que é 
capaz de “salvar” o homem, mas não porque abre mão da possibilidade de receber 
amor, mas porque abre mão da possibilidade que tem de amar! 
O amor, diríamos, faz-nos contemplar a imagem de valor de um ser 
humano. Assim, leva a cabo uma realização francamente metafísica. 
Com efeito, a imagem de valor de que nos apercebemos na execução 
do ato espiritual do amor, em cada caso, é essencialmente a 
“imagem” de algo invisível, irreal e não realizado. No ato espiritual do 
amor, portanto, não captamos apenas o que a pessoa “é” no seu 
“caráter de algo único” e na sua irrepetibilidade, isto é, a ‘haecceitas’ 
da terminologia escolástica; mas também e simultaneamente o que 
ela pode vir a ser, precisamente nesse seu ‘caráter de algo único’ e 
irrepetível, ou seja, a ‘enteléquia’. (Viktor Frankl, 1946) 
Dizem que o amor é cego, mas com fundamentos de Scheler, Harttingberg, 
Spranger e Viktor Frankl e muitos outros, pode-se afirmar sem medo que o amor 
enxerga mais longe e sua visão não tem limites. A visão frankliana também vai em 
linha oposta a visão mecanicista tão fortemente presente na sociedade pós 
moderna em que o homem é visto e valorizado por sua capacidade de trabalho e 
produção, tal visão fundamenta as ideologias abortistas e a eugenia, o preconceito 
racial e de gênero tão amplamente disseminado no seio da sociedade também 
caracterizam o campo infértil do amor. 
No trabalho clínico é possível perceber o quanto as pessoas enfrentam 
problemas existenciais muito devido a uma visão equivocada da vida. É inegável que 
a sociedade vive em um momento histórico em que o princípio do prazer parece 
nortear as relações humanas, dessa forma, nega-se o essencial espiritual e por este 
exato motivo nega-se o próprio amor. Uma vez que o amor é uma característica 
humana originária em seu núcleo espiritual, uma vez negando-a a pessoa tende a 
uma vivência superficial fundamentada apenas em seus aspectos materiais, a dizer o 
campo psíquico e biológico. 
Constatar o avanço dos transtornos de ansiedade e a depressão, o surgimento 
e crescimento de novas doenças como a própria vigorexia é constatar que a 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
sociedade moderna mais que nunca necessita de luz para compreender as 
exigências da vida, compreender que a vivência da autotranscedência no campo 
espiritual e o amor são, em suma, a solução para suas mais profundas angústias. 
 
A busca exagerada de uma situação afetiva positiva é muito difundida 
hoje. Vivemos na era da ‘compulsão da felicidade’, isto é, onde se 
tenta de toda maneira manipular artificialmente os sentimentos, seja 
colocando narcisisticamente o próprio corpo no centro de toda 
atividade criativa, para por assim dizer explorá-lo como fonte de 
prazer permanente, seja interferindo diretamente nos sentimentos, 
exacerbando-os por meio de substâncias químicas levadas ao 
organismo para modificar o estado de suas imagens psíquicas, ou 
por fim deixando-se seduzir por promessas ideológicas ou sectárias 
de felicidade de toda espécie, que prometem tranquilidade, 
iluminação e, não em último lugar, a entrada numa nova era, 
contanto que a pessoa se comprometa com a ‘nova religiosidade’ 
oferecida. Viktor Frankl compara este esforço mais ou menos inútil a 
um bumerangue que volta para quem o atirou e o abate, mas só 
quando deixa de acertar o alvo; analogamente, a busca obstinada do 
prazer e da felicidade também só se manifesta onde se deixou de 
lado o verdadeiro objetivo da existência humana, onde alguém 
fracassou em realizar o sentido de sua vida. (Elisabeth Lukas, 1989) 
O sentido da existência humana se funde em um caráter de algo único e na 
irrepetibilidade da pessoa. Contudo, é apenas na vivência comunitária, ou seja, na 
vivência com o outro, que o ser humano consegue perceber o valor de sua 
irrepetibilidade e o caráter de algo único. Ao falar do amor Eros, Frankl explica que o 
amor é como uma vivência da vida de outro ser humano em todo seu caráter de 
algo único e irrepetível. 
O ser humano é orientado para a comunidade. Ante esta afirmação pode-se 
dizer que se há um determinismo, se há uma condição sinequanon à qual não se 
pode negar é que a vida humana é dependente da comunidade e também orientada 
para esta. Só há duas formas de se viver, negando o valor desta comunidade, 
orientando a vida para a vivência egoísta, buscando competir com o outro e 
percebendo o outro comunidade como um inimigo e assim construindo uma vida de 
profunda angústia, uma vez que não é possível vencer e livrar-se de vez deste outro, 
ou vivendo no amor, aceitando esta condição humana, construindo, criando, 
assumindo seu papel e posição no tecido social, na comunidade. 
 
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Élison Santos 
Frankl(1946) afirma que no amor "o ser amado é captado como um ser 
irrepetível no seu ser-aí (Dasein), e único no seu ser-assim (So-sein). Um Tu acolhido 
num outro “Eu”. Para Frankl o ser amado vem a ser para a pessoa que o ama alguém 
insubstituível, "ninguém, fazendo as vezes dele, sem que por isso ou para isso tenha 
que fazer seja o que for". 
A ligação entre o amor e o espiritual também se afirma na teoria frankliana 
uma vez que este afirma que a pessoa amada não tem mérito por ter sido 
reconhecida como um bem, pois isto não depende de si, mas é graça.Amar também traz para quem ama uma nova concepção dos valores, traz 
uma "maior altura no que diz respeito à ressonância humana em face da plenitude 
dos valores". Viktor Frankl (1946) 
Frankl(1946) amplia sua explicação a respeito do ser amado e do ser que ama, 
o amor: 
abre-lhe o espírito ao mundo, na sua plenitude de valores, a toda a 
gama dos valores. Assim, o amante, ao entregar-se ao Tu, 
experimenta um enriquecimento interior que transcende esse Tu: o 
cosmos inteiro torna-se para ele mais vasto e mais profundo no seu 
valor; resplandece nos raios de luz daqueles valores que só o 
enamorado sabe ver, pois, afinal, não faz cegos o amor, mas sim 
videntes - dando aguda visão para os valores. Por fim, ao lado da 
graça de ser amado e do feitiço do amar, um terceiro momento surge 
ainda no amor: o seu milagre; porque, precisamente através do 
amor, e dando um rodeio pelo biológico, consuma-se o que é de 
algum modo inconcebível: uma pessoa nova entra na vida, cheia, ela 
também, daquele mistério do caráter de algo único e irrepetível da 
existência - e um filho é isso! (Viktor Frankl, 1946) 
Cada ser humano é único, irrepetível, singular. Cada ser humano tem sua 
única impressão digital, seu único DNA e, o mais importante, sua única essência, sua 
identidade espiritual. Única história, únicas experiências, único e singular ponto de 
vista. Ainda que dois gêmeos nasçam e sejam criados e educados da mesma forma, 
ainda assim o beijo da mãe, o cheiro do leite, as cores da roupa e todo o ambiente 
que os cerca serão lidos e experimentados de forma diferente. 
Sendo, portanto, único, diferente e irrepetível, cada ser humano tem então 
uma missão específica. Ainda que seja a missão de ser pai, o será de forma diferente 
dos outros, se sua missão for ser um empresário o será de forma diferente, um 
 
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A Psicologia do Amor 
Élison Santos 
presidente, uma mãe, uma bailarina, sempre, sempre, será único e diferente. A 
missão não estará diretamente ligada à profissão ou à função social, mas sim ao 
significado que esta pessoa traz ao mundo, ao sentido que sua vida representa para 
a história da humanidade. Ao trazer à memória a imagem de pessoas que faleceram, 
não são lembradas simplesmente pela função que exerceram na sociedade. Quando 
grandes personalidades da história são lembradas, é destacado o sentido que elas 
deram à sociedade em seu tempo. 
Não se pode negar que quando as pessoas vivem no ápice de suas 
potencialidades, ou no ápice de sua missão, realizam mudanças no mundo, não de 
forma estratégica como que realizando obras, mas de forma existencial, ou seja, 
pelo que representam para as outras pessoas. 
O que se pode destacar das pessoas que deixaram sua marca na história da 
humanidade é também a capacidade que tiveram de destacar aspectos 
essencialmente humanos em momentos da história em que tais aspectos se viam 
ameaçados. 
O que dizer, por exemplo, da figura do jovem Francisco de Assis, que vivia em 
uma sociedade marcada por guerras e por legalismos que denegriam a dignidade 
humana, um ambiente profundamente desumanizado, onde a própria imagem de 
Deus era distorcida. Francisco não fez mais que dar espaço à sua humanidade, 
buscou nas escrituras e em sua fé o sentido mais profundo da existência humana, 
buscou viver o extremo do amor. 
Testemunhar que milhares de jovens do mundo inteiro acorreram a Assis para 
segui-lo é perceber o quanto aquela sociedade estava sedenta por uma solução mais 
humana, ou seja, em suma, o amor. 
O que dizer de Madre Teresa de Calcutá, uma simples mulher que só se 
interessava por amar, dar aos mais miseráveis entre os miseráveis da Índia, um 
consolo, um cuidado, o amor? Perceber que ela recebeu o Nobel da paz e foi 
aclamada nos principais meios de comunicação de nossos tempos é constatar que 
nossa sociedade também é sedenta de humanização, de atitudes que nos 
convençam de que a vida é mais, de que há espaço para a essência humana, ou seja, 
há espaço para o amor. 
Quantos milhões de mães e pais que muitas vezes renunciam a projetos 
pessoais por amor aos filhos, para lhes dar um futuro melhor, estarem mais 
próximos, serem mais atenciosos às suas necessidades. 
 
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A Psicologia do Amor 
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O que dizer também dos incontáveis heróis da II Guerra Mundial, homens e 
mulheres que arriscaram a vida para salvar outros da morte e quantos entregaram a 
própria vida para salvar aos outros ou por não concordarem com aqueles atos 
desumanos. 
O amor é tão forte que todo o ser o expressa. O olhar, a voz, os gestos, até a 
própria intuição. A pessoa quando se abre ao amor, quando ama é a mais pura 
imagem da verdadeira vida plena, da mais sublime autorrealização. Quando se vê 
uma mãe que aceitou com bom grado e com amor sua gravidez, a vê como a 
imagem do amor, uma mãe que ama, ama em sua plenitude, conhece o filho 
profundamente, é capaz de detalhar seu comportamento, sentimentos e até seus 
pensamentos. O amor materno é o alimento que um ser humano precisa para viver 
dignamente a plenitude de uma vida humana. 
Há quem diga que o amor materno é instintivo, talvez a necessidade de cuidar 
e proteger de fato o seja, para a proteção da espécie, mas o amor é algo que vai 
além, uma criança que foi bem cuidada e teve sempre de tudo na vida, mas não teve 
amor é bem diferente de uma criança que nas mesmas condições teve amor, ou 
mesmo do que as crianças que, ainda sem muitas condições materiais, tiveram 
amor. O amor é condição para um bom desenvolvimento psíquico do ser humano. A 
necessidade de amor da pessoa vai muito além do que poderia nos explicar a 
psicanálise com as fases do desenvolvimento e o complexo de Édipo. Vai além da 
busca pelo prazer, é uma necessidade essencial que parte da própria matriz do ser 
humano. 
Ainda que se possa reafirmar a necessidade do ser humano em receber amor 
é no ato de amar que a pessoa se realiza, ainda que não tenha sido amada a pessoa 
recebe o apelo a auto-transcendência e sempre poderá encontrar o sentido do amor 
em qualquer fase de seu desenvolvimento. Cabe também, neste caso, salientar a 
importância da Ontologia Dimensional de Viktor Frankl que permite a compreensão 
da pessoa em sua totalidade bio-psico-espiritual, de modo que os condicionamentos 
que afetam o psíquico ou o biológico não minam jamais o espiritual onde localiza-se, 
a dizer, o amor. 
 
 
 
 
 
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A Psicologia do Amor 
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O AMOR NA ATUALIDADE E O PENSAMENTO FRANKLIANO 
 
Uma vez que o valor do amor no desenvolvimento bio-psico-espiritual da 
pessoa parece ser inquestionável entre os diferentes autores das ciências humanas, 
faz-se determinantemente necessário uma compreensão aprofundada sobre o que é 
o amor de fato. 
Desde os tempos de Platão (428–328 a.c.) e Aristóteles (384-322 a.c.) e até 
mesmo antes destes, a busca pela compreensão do amor é uma constante. Nos 
tempos atuais a literatura científica a respeito do amor, não obstante a grande 
busca pelo sentido do amor, ainda é limitada e muito do que se escreve sobre o 
tema está mais relacionado aos aspectos biológicos, tais como os efeitos 
neurológicos na manifestação do amor, os impulsos e instintos para a preservação 
da espécie e a ligação que se faz do amor como consequência da necessidade 
sexual. 
Em logoterapia, o amor não se interpreta como um epifenômeno dos 
impulsos e instintos sexuais no sentido do que se denomina 
sublimação. O amor é um fenômeno tão primário como possa ser o 
sexo. Normalmente o sexo é umaforma de expressar o amor. O sexo 
se justifica, inclusive se santifica, enquanto é um veículo do amor, 
mas só enquanto este existe. Deste modo, o amor não se entende 
como um mero efeito secundário do sexo, mas o sexo se vê como 
meio para expressar a experiência desse espírito de fusão total e 
definitivo que se chama amor. (Viktor Frankl, 1946) 
Maslow afirma em uma ocasião: ‘as pessoas incapazes de amar não 
experimentam no sexo a mesma classe de emoção que as pessoas 
que são capazes de amar’. Por isso... em interesse do maior gozo 
possível, deveríamos aspirar a esgotar o potencial humano que é 
inerente à sexualidade, a saber, a possibilidade de encarnaro amor, 
que é a relação mais íntima e mais pessoal que há entre pessoas. 
(Viktor Frankl, 1956) 
O livro The Psychology of Love (1988) reuniu investigações de diversos 
autores sobre grande parte das teorias do amor presentes na psicologia até então, 
em 2006 Robert J. Sternberg reuniu novos avanços nas pesquisas sobre as teorias do 
amor e coordenou a publicação de The new psychology of love, que teve seus 
estudos divididos em quatro partes principais, as teorias biológicas, as taxonomias, 
 
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teorias implícitas e teorias culturais. Nestes livros é possível encontrar uma gama de 
importantes contribuições para a psicologia na compreensão do amor, contudo, é 
também possível notar a ausência de referências da visão existencialista do ser 
humano, de modo que as obras que fundamentam apenas na visão comportamental 
e social do ser humano não poderiam se autodenominar, ao menos não com 
completude, uma psicologia especificamente do amor. A tendência de se ver a vida 
humana de forma mecanicista, ou seja, determinada pelos aspectos biológicos e 
comportamentais além de estar largamente disseminada no meio médico parece 
tomar também as ciências psicológicas. 
 Ainda que a psicologia comportamental tenha seu espaço para a 
compreensão do comportamento humano e também a psicologia social que estuda 
as diferentes manifestações da pessoa nos diferentes meios em que se encontra, 
todo estudo que visa compreender o ser humano que prescinda de sua natureza 
espiritual e desconsidera como possível fator motivador das ações humanas sua 
capacidade de autotranscendência e busca por sentido tende a resultados 
equivocados. 
Uma verdadeira psicologia do amor deveria, antes que mais nada, 
fundamentar-se em uma visão completa do ser humano que também há de ser 
complexa. As três escolas vienenses de psiquiatria muito contribuíram para os 
avanços desta visão e é em Frankl que se é possível encontrar aquilo que ele mesmo 
chamou de uma Ontologia Dimensional. 
É sabido que a arte foi definida como unidade na pluralidade. Bem, 
eu quero definir o homem como unidade apesar da multiplicidade. 
Pois existe uma unidade antropológica apesar das diferenças 
ontológicas, apesar das diferenças entre vários modos de existência. 
A característica da existência humana é a coexistência entre a 
unidade antropológica e as diferenças ontológicas, entre o modo de 
ser humano único e as variadas maneiras de ser das quais participa, 
em poucas palavras a existência humana é unitas multiplex, para 
falar com as palavras de São Tomás de Aquino...ordine geométrico 
demostratnque opera analogias geométricas. Trata-se de uma 
ontologia dimensional. (Viktor Frankl, 1969) 
 
 
 
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Frankl explica que na ontologia dimensional uma mesma coisa projetada 
desde sua própria dimensão a outras distintas inferiores, se desenha de maneira 
que as figuras se contradizem e distintas coisas projetadas desde sua dimensão a 
uma mesma dimensão que seja inferior, se desenham de tal maneira que são 
polivalentes, não são contraditórias entre elas. 
Como podemos aplicar isto ao homem? Bem, desta forma, o homem 
se encontra reduzido em sua dimensão especificamente humana e 
projetado ao plano da biologia e da psicologia, se reflete de uma 
maneira que resulta contraditória. Pois a projeção sobre o plano 
biológico resulta em fenômenos somáticos, enquanto que a projeção 
no plano psicológico resulta em fenômenos psíquicos. (Viktor Frankl, 
1969). 
É muito comum na prática clínica observar pacientes que passaram por 
psicólogos ou psiquiatras e obtiveram diferentes diagnósticos. É perceptível a 
tendência que muitos psiquiatras têm de projetar o problema da pessoa em um 
plano biológico, de modo que fatalmente encontrará diferentes sintomas que lhe 
resultarão em distintos transtornos psíquicos a serem medicados. Seria apenas um 
simples problema de ponto de vista não fosse os resultados catastróficos que um 
longo tratamento a base de psicofármacos focados em causas equivocadas trazem 
para o paciente. 
 A tendência aos psicologismos também é verdadeira, uma vez que muitos 
psicólogos tendem a desconsiderar os aspectos biológicos e a oferecer explicações 
psicológicas para todos os sintomas como resultado de tenderem ao equívoco 
explicado por Frankl em sua ontologia dimensional quando projetam o problema da 
pessoa em um plano psíquico. 
Contudo, o maior equívoco a que se pode incorrer e devido à formação que os 
psicólogos recebem tão profundamente fundamentada na visão biologicista da vida 
humana é prescindir da capacidade que a pessoa possui de autotranscendência, de 
encontrar sentido para a vida sob qualquer circunstância, de ser livre e responsável 
sob qualquer circunstância, até mesmo diante da mais severa doença física ou 
psíquica. “O reducionismo, com sua tendência a congelar e coisificar o homem e a 
despersonalizá-lo, colabora com o vazio existencial. Soa como um exagero, mas não 
o é”. (Viktor Frankl, 1972) 
 
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Não considerar a capacidade humana de autotranscendência implica em uma 
dificuldade de se compreender a capacidade de amar e a importância que o amor 
tem para o desenvolvimento humano. 
John Bowlby (1982) fala dos efeitos perniciosos da privação de cuidados maternos 
sobre o desenvolvimento da personalidade. Lorenz (1935) havia publicado estudos 
em que verificava que em algumas espécies de aves, durante os primeiros dias de 
vida, desenvolvem- se fortes vínculos com uma figura materna, sem nenhuma 
referência à alimentação e simplesmente através da exposição do filhote à figura em 
questão, com a qual se familiarizou. 
O ponto fundamental da teoria de John Bowlby (1982) é que 
...existe uma forte relação causal entre as experiências de um 
indivíduo com seus pais e sua capacidade posterior para estabelecer 
vínculos afetivos, e que certas variações comuns dessa capacidade, 
manifestando-se em problemas conjugais e em dificuldades com os 
filhos, assim como nos sintomas neuróticos e distúrbios de 
personalidade, podem ser atribuídas a certas variações comuns no 
modo como os pais desempenham seus papéis. (Bowlby, 1982) 
Os estudos de Bowlby nos permitem reafirmar a importância dos vínculos 
afetivos, a dizer a vivência do amor, desde a mais tenra idade do ser humano. A 
necessidade do amor se faz tão determinante como previamente expressado que 
quando se faz ausente traz consequências catastróficas para a pessoa, desde a 
dificuldade em estabelecer vínculos saudáveis e profícuos no futuro, como também 
a possibilidade de vivência de sintomas neuróticos e outros problemas de ordem 
psíquica. 
O ser humano nasceu dependente do outro, segue dependente e amadurece 
dependente, ainda que o tipo de dependência mude à medida que se amadurece, 
ou seja,o ser humano passa da realidade de totalmente dependente de receber 
amor, quando recém nascido para a realidade onde é totalmente dependente de ter 
alguém para amar. O processo do amar vai se dando ao longo da vida e quanto mais 
independente do outro no sentido de receber amor, mais dependente de ter 
alguém para amar a pessoa se torna, pois mais próximo da plenitude da vivência de 
sua essência se aproxima. Dar amor é o ápice da auto realização, quem é capaz de 
amar atinge o mais alto grau da felicidade, satisfação, sentido na vida. 
 
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A Psicologia do Amor 
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Frankl fala também de uma capacidade de amar que pode ser apreendida 
através de uma educação, ou seja, ainda que esteja claro que a capacidade de amar 
está presente na essência espiritual do ser humano é necessário que a pessoa 
aprenda a viver esta capacidade, principalmente no que diz respeito à entrega de si 
mesma ao outro. O amor, sendo vivido como uma doação, permite que a pessoa se 
fortaleça, deixe a posição de vítima diante das diferentes situações da vida e 
encontre mais facilmente o sentido para sua existência. 
Cabe tomar o conceito de amor concupiscente que se distingue do amor 
benevolente. O ápice da vivência humana de experiência do amor concupiscente dá 
ao ser humano o sentido de auto-realização, mas há um grau ainda maior de 
vivência do amor que seria a vivência do que se pode chamar de amor benevolente 
que se dá através da vivência da espiritualidade, ou seja, a possibilidade que o ser 
humano tem de relacionar-se com Deus e unir sua capacidade humana de amar com 
a capacidade de tornar-se um instrumento divino e experimentar a plenitude do 
amor que é o amor de Deus e, neste caso, sendo portador deste amor para com os 
outros. 
A respeito desta realidade há uma larga documentação de relatos de pessoas 
que vivenciaram tais experiências em diversas culturas, como por exemplo, o 
testemunho de pessoas que foram consideradas santas e que deixaram 
documentadas suas experiências de sentirem de tal forma o amor de Deus a ponto 
de entregarem suas próprias vidas por amor ao outro, um amor sem interesse, de 
extrema doação. Talvez a melhor explicação para o amor benevolente seja o 
exemplo cristão, aquele que é capaz de dar a vida por seus amigos. 
A percepção de que sua vida é capaz de salvar outra vida ou dar sentido a 
outra vida é certamente a maior de todas as vivências que o ser humano pode 
experimentar, e isto é o amor. A mãe que, sabendo que poderá perder sua vida se 
deixar levar a cabo a gravidez, decide dar à luz seu filho, mesmo sabendo que ela 
poderá morrer, está cumulada de amor, encontrou o maior sentido de sua vida, 
sabe que está fazendo o que é certo mesmo que o mundo tente lhe convencer do 
contrário, entrega sua vida pelo simples fato de que ama. Ou um homem que se 
lança na frente de uma bala para salvar a vida de um amigo. A vivência do amor é o 
que dá sentido à vida. 
 
 
 
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Tomando como o exemplo o relato de Viktor Frankl para exemplificar a busca 
do homem por sentido, quando relata o momento em que uma senhora queria tirar 
sua própria vida no campo de concentração e ele pergunta se não teria algum 
motivo pelo qual ela pudesse conservar a vida e, ao final, ela acaba decidindo não 
cometer suicídio porque tinha uma sobrinha que havia prometido esperá-la em 
outro país. Certamente, Frankl consegue ilustrar a falta de sentido que esta mulher 
estava vivendo a ponto de encontrar-se no fatalismo do suicídio e ela encontrou o 
sentido para não entregar-se à morte, e este sentido foi o amor por sua sobrinha. 
Viktor Frankl fala da imago do pai, ou seja, a imagem que se tem da figura 
paterna que também se relega a imagem de Deus. 
Cada pessoa humana tem em si uma percepção filial, um sentido inconsciente 
de pertença a uma família maior que sua própria família de sangue. A percepção 
filial é uma constatação inconsciente da pertença à uma raça que se caracteriza 
principalmente por sua interdependência entre seus membros. Um ser humano não 
fica naturalmente apático ao sofrimento de outro ser humano, se por ventura o faz 
é porque está, de alguma forma, insano psíquica ou espiritualmente, pois a negação 
do sofrimento alheio seria à priori um mecanismo de defesa. 
Se a pessoa aceita a possibilidade de ser parte de uma família humana, que 
ultrapassa as conexões parentais é possível então aceitar a possibilidade de que há 
uma origem para esta família, ou seja, um Deus criador de tudo. E, por que 
necessariamente um Deus Criador de tudo? Simplesmente porque não faria sentido 
um ser inferior criar algo superior ou porque não faria sentido o surgimento de um 
ser inteligente de algo que não possua inteligência, muito menos um ser espiritual 
de algo que não possua espírito. Assumir que o ser humano é um ser inteligente, 
superior aos outros seres vivos da terra e que também é um ser espiritual, é abrir-se 
à possibilidade da aceitação de um Deus criador. Ainda que não se possa, no campo 
material, em uma visão mecanicista, provar sua existência. Mas, é exatamente a 
visão mecanicista que nos impede de perceber a própria essência do ser humano, a 
dizer, seu núcleo espiritual onde se encontra sua capacidade de amar. 
 
 
 
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Não preciso que ninguém me chame a atenção para a 
condicionalidade do homem; em último termo, sou especialista com 
duas especialidades, neurologia e psiquiatria, e como tal conheço a 
condicionalidade biopsicológica do homem; mas não só sou médico 
em duas especialidades, sou também sobrevivente de quatro campos 
de concentração, e por isto conheço também a liberdade do homem, 
que é capaz de evadir com seu esforço todos seus condicionamentos 
e de opor-se às mais rigorosas e duras condições e circunstâncias, e 
de aplicar todo seu peso contra elas, graças ao que eu denomino a 
capacidade de espírito para fazer resistência. (Viktor Frankl, 1946). 
 John Izzo (2008), autor do livro (Cinco Segredos Que Você Precisa Descobrir 
Antes De Morrer) descobriu em sua pesquisa com pessoas próximas da morte que 
status e poder não são itens que causarão saudade quando olharem para trás, mas 
são as pessoas que ajudaram a crescer que darão a elas a sensação de satisfação. 
Pois é justamente a lembrança de vivências de amor que nos garantem a 
autorrealização. 
Quando se perde uma pessoa, pode-se lembrar dela pelas coisas que fez, mas 
é apenas apreciada e se sente saudades dela se foi uma pessoa que viveu o amor de 
alguma forma. Que transmitiu algo de bom, um sentimento de respeito pela vida, 
um amor pela vida, pelos outros, que deixou um legado de admiração entre os 
homens. Quando, pelo contrário, tudo que se construiu durante a vida foram 
pseudo-amores, quando se morre, os únicos frutos deixados são pseudo-amores 
que, invariavelmente causarão brigas e disputas por heranças materiais, deste 
morto dificilmente alguém sentirá saudades. 
Uma visão de ser humano que prescinda da essência espiritual do amor tende 
ao niilismo, ao fatalismo da vida. Não apenas deixa de se encontrar o sentido da 
vida, mas também é uma experiência de morte, um vir a não ser ao invés de um vir 
a ser. O carpe diem da sociedade moderna é um grito por sentido, por amor. Uma 
vez que busca aproveitar-se ao máximo todas as oportunidades de pseudo-amores 
que a vida pode oferecer, a pessoa não tem tempo para encontrar-se consigo 
mesma, não há tempo para cultivar sua espiritualidade,para ter um encontro 
verdadeiro com outras pessoas. 
Hoje, parece que as estruturas capitalistas, que valorizam o bem material 
mais que a dignidade da pessoa humana, são mais valorizadas que os vínculos 
afetivos, especialmente os vínculos familiares. Uma empresa não aceita que seu 
 
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A Psicologia do Amor 
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funcionário seja irresponsável com o trabalho que assumiu e para o qual foi 
contratado; muitas pessoas dão a vida e são capazes de enormes sacrifícios para 
manterem o emprego e o salário que recebem para não serem despedidos. Mas 
quando se fala em fazer sacrifícios pelas responsabilidades que assumiu como pai, 
mãe, esposo ou esposa, o discurso já é diferente. Fala-se muito bem das grandes 
empresas que pagam bom salário para seus funcionários, e o casamento ainda é 
visto por muitos como uma prisão. 
Se o individualismo é a solução para a vida como defendia, por exemplo, 
Adam Smith (1776), precursor da Revolução Industrial, então o capitalismo 
selvagem é aceitável e a própria afirmação de Maquiavel (1513) de que os fins 
justificam os meios, também. Tal ponto de vista revela uma visão mecanicista da 
vida, ou seja, o homem como um mecanismo condicionado, dependente de suas 
designações genéticas e sociais, um homem que não é livre. 
 
CURA PSICOLÓGICA DE ALMAS 
Que o falar com o outro alivia e descarrega a consciência, é um fato 
bem conhecido. A pena comunicada é já uma pena compartilhada. O 
que pretendia ser a psicoterapia, especialmente a psicanálise? Uma 
confissão secular. O que pretendia ser a logoterapia, especialmente a 
análise existencial? Uma ‘cura médica’ de almas. (Viktor Frankl, 1946) 
Já em 1927, Viktor Frankl havia acunhado a expressão “Cura Médica de 
Almas”, tendo sido publicada apenas em 1946 em sua obra ArztlicheSeelsorge 
(Pastoral Médica ou Cura Médica de Almas). Seu objetivo era humanizar o 
atendimento médico e “trabalhar profilaticamente diminuindo os riscos de danos 
iatrogênicos e a incidência de fatores sociogênicos, seu ideal era também o de urgir 
a aproximação, por parte do terapeuta, ao homem que sofre, o homo patiens, mas 
não ao seu sofrimento em si mesmo mas a sua humanidade, na Cura Médica de 
Almas” (Ancizar Toro, 2007). 
É sabido que ainda no início do século XX a psicologia era uma tarefa 
desenvolvida por médicos diferentemente de hoje que a psicologia é reconhecida 
como uma profissão e os que a ela se dedicam não são necessariamente médicos, 
mas psicólogos. Se para a época de Frankl, fazia-se necessário uma mobilização da 
medicina para uma aproximação mais humana ao homem que sofre, nos dias atuais 
do século XXI faz-se ainda mais necessário a mobilização de todos os profissionais da 
 
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A Psicologia do Amor 
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saúde para esta mesma classe de aproximação ao homem que sofre. O termo 
“humanização” ou “atendimento humanizado” nunca foi tão utilizado nos hospitais 
e locais de atendimento à saúde, muito embora parta de princípios ainda altamente 
discutíveis ou seguramente equivocados na compreensão do que é uma verdadeira 
humanização. 
Contudo, há que se afirmar que inclusive nas enfermidades 
infecciosas a situação da imunidade depende da situação do efeito e 
a situação do efeito depende em última instância da motivação, 
especialmente da orientação de sentido. Precisamente esta 
circunstância adquire importância na medida em que o homem de 
hoje padece, por regra geral, de um sentimento de carência de 
sentido. Apesar do bem estar material, surge hoje em dia uma 
frustração existencial e o que importa é ir ao seu encontro também 
terapeuticamente. Isto, entretanto, não é possível enquanto 
continuamos psicologizando a medicina, pois a própria psicologia é 
interpretada e praticada em grande medida de forma mecanicista. 
Certamente ambas – a medicina e a psicologia – precisam de uma 
rehumanização. (Viktor Frankl, 1987) 
Por que a expressão Cura Psicológica de Almas? Justamente porque os 
profissionais que hoje se dedicam ao tratamento psicológico são reconhecidamente 
psicólogos, ainda que aí permaneçam também os psiquiatras que são médicos, mas 
também porque é possível falar-se de uma psicologia do amor que tem suas bases 
no desenvolvimento do pensamento frankliano e de tantos outros que contribuíram 
para o desenvolvimento da psicologia no último século. 
 
PSICOLOGIA DO AMOR 
O próprio Viktor Frankl reconhece que o amor encontra, como expressão da 
essência humana, o lugar possível de prevenção e também cura para os distúrbios 
psíquicos. 
A prevenção de distúrbios neurótico-sexuais baseia-se numa educação na 
capacidade de amar e na capacidade de entrega de si mesmo. Por isso, 
também tem plena validade no campo dos distúrbios sexuais e da 
respectiva terapia a frase de Paracelso: ‘O amor é a base da medicina’. 
Viktor Frankl. 
 
 
 
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A Psicologia do Amor 
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O amor movimenta de tal forma a existência humana que é capaz de 
reestruturar toda uma vida. 
A força mobilizadora do amor foi observada em um caso clínico: uma mulher 
de 56 anos que havia entrado em um processo depressivo profundo há alguns anos. 
Sua vida havia perdido o sentido e passava as noites em claro sem sair de casa, 
esperando que algo lhe salvasse ou que a morte lhe visitasse. Uma amiga lhe 
encaminhou para uma ajuda psicológica. M trazia consigo uma longa história de 
sofrimentos, conquistas, sonhos, frustrações e realizações, mas nestes últimos anos 
tudo que via pela frente eram seus erros, suas culpas, suas penas. Encarcerada em 
sua própria casa e por vontade própria, havia se afastado dos filhos, e de toda a 
sociedade. Seus bens haviam sido bloqueados por conta de um divórcio litigioso do 
segundo casamento e seus filhos do primeiro casamento lhe culpavam por ter se 
separado de seu primeiro marido. A pena por não ter dinheiro lhe trazia uma grande 
humilhação social, ainda que não tivesse culpa sobre isso, pois os bens requeridos 
pelo segundo marido fazia parte da herança que seu primeiro marido lhe havia 
deixado. Mas, nada era tão penoso para ela do que a sensação de que, lá no fundo, 
sentia-se em débito com sua própria consciência. M também trazia a repressão de 
seu próprio pai, ele não aceitou o seu primeiro divórcio, ainda que ela tivesse um 
relacionamento sofrido e que não lhe fazia sentido continuar, pois presenciava a 
violência física e psíquica que seu marido trazia para ela e para seus filhos. 
As sessões seguiram-se com todas as técnicas consideradas cabíveis para seu 
tratamento psicológico. Foi quando se iniciou por parte do psicoterapeuta um 
exercício que buscava apelar para sua consciência, mas não apenas para sua 
consciência, apelar para a mais alta capacidade que ela possui: a capacidade de 
amar. O psicólogo perguntou-lhe qual havia sido a última vez que vira uma de suas 
filhas, ela se referia a esta filha como problemática, e que por várias razões não se 
falavam. Perguntou-lhe sobre todos seus filhos, sobre os momentos bons e ruins 
que viveram juntos. Percebeu-se que M havia aceitado a revolta dos filhos contra 
ela e a culpa que lhe imputavam por ter sido responsável pelos sofrimentos de 
todos por causa da separação com seu primeiro marido; M tentava defender-se 
sempre das acusações, mas não era sua culpa ou sua defesa que a fazia sofrer, mas 
seu esquecimento de que seu lugar de mãe era inalienável, insubstituível. Foi lhe 
perguntado o que ela poderia fazer para ajudar seus filhos hoje, ainda que já 
estivessem adultos, enfrentavam problemas com bebidas,drogas, dificuldades nos 
 
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A Psicologia do Amor 
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relacionamentos e no trabalho. M começou a perceber que ela era e sempre seria a 
mãe daqueles jovens adultos, percebeu que poderia seguir cumprindo seu papel. Já 
na sessão seguinte, sua postura depressiva deu lugar a uma nova mulher, alguém 
que sabia que tinha o direito de amar e continuar amando seus filhos e também o 
direito de reconstruir uma vida amorosa com um novo companheiro. Foi a curva 
para cima, para o alto, para o alto valor da pessoa, como diria Max Scheler, para o 
encontro com sua capacidade espiritual de reconhecer o valor do outro, mas 
principalmente de reconhecer o valor de si mesma, o valor da capacidade de amar. 
As sessões se seguiram e depois de alguns meses já estava de alta, com um novo 
namorado, e com muitas notícias boas para espalhar para os vizinhos, os amigos, os 
parentes, seus pais e especialmente seus filhos e netos. 
O amor mudou completamente a estrutura da vida de M. Certamente que foi 
necessário uma busca pelo sentido da vida, uma busca por ajuda, mas a psicologia 
só pode fazer ao paciente que a procura o favor de reorganizar o psíquico e muitas 
vezes, em parceria com a psiquiatria, em reestruturar o biológico, uma vez cumprido 
seu papel, permite a pessoa ter acesso a sua mais profunda identidade, seu ser 
espiritual capaz de grandes realizações, capaz de amar. 
Se todos os psicólogos compreenderem que a força do amor é capaz de curar 
as mais profundas doenças psíquicas que assolam a sociedade pós-moderna, 
levantar-se-á mais uma cortina do espetáculo da vida. O psicólogo, assim como o 
médico clínico geral e todos aqueles que são procurados para o cuidado com a 
pessoa, tem em si também a capacidade de realizar o movimento espiritual para o 
mais alto valor da pessoa e é neste sentido que o amor também se configura como o 
elemento mais importante em um processo de humanização no atendimento à 
saúde. 
O amor, diríamos, faz-nos contemplar a imagem de valor de um ser 
humano. Assim, leva a cabo uma realização francamente metafísica. 
Com efeito, a imagem de valor de que nos apercebemos na execução 
do ato espiritual do amor, em cada caso, é essencialmente a 
“imagem” de algo invisível, irreal e não realizado. No ato espiritual do 
amor, portanto, não captamos apenas o que a pessoa “é” no seu 
“caráter de algo único” e na sua irrepetibilidade, isto é, a ‘haecceitas’ 
da terminologia escolástica; mas também e simultaneamente o que 
ela pode vir a ser, precisamente nesse seu ‘caráter de algo único’ e 
irrepetível, ou seja, a ‘enteléquia’. (Viktor Frankl, 1946) 
 
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Dizem que o amor é cego, mas com fundamentos de Scheler, Harttinberg, 
Spranger e Viktor Frankl e muitos outros, é possível afirmar sem medo que o amor 
enxerga mais longe e sua visão não tem limites. 
No dia 16 de outubro de 2004, depois de longos nove meses de espera 
expectante, um pai assistiu ao parto em que sua esposa dava à luz seu primeiro 
filho, João Pedro. Relata que a lembrança mais marcante deste dia tão importante 
foi quando o médico trouxe envolto em lençóis o seu filho, o “meu” filho, afirmava, 
e virando-o para ele, disse: “está tudo bem, não é lindo?”. O pai ficou totalmente 
sem palavras, pasmo, estupefato! Naquele momento, aquele pequenino ser 
humano, totalmente dependente, havia sido confiado aos seus cuidados e aos 
cuidados da sua esposa. Não podia sorrir, não podia dizer nada, não podia abraçar, 
não podia lhes oferecer nada além de seu choro e movimentos. O que esperar de 
alguém nestas condições? A resposta é simples, tudo! Tudo, tudo, tudo! 
Se um pai e uma mãe, ao receberem de presente da vida um filho, tiverem 
consciência de que podem, e não apenas podem, mas devem esperar tudo desta 
vida, certamente oferecerão a ele o necessário para que cresça da melhor forma 
que lhe for possível. 
Em outro caso clínico, um paciente de 9 anos sofria de enurese, para sua 
idade certamente era algo vergonhoso, além de tudo dormia com a mãe, o que logo 
com o início da terapia foi resolvido com as devidas atitudes da mãe, que até então 
não via problema algum. Este menino era filho de um relacionamento rápido entre 
dois namorados. Sua mãe o assumiu e o criou juntamente com os avós, enquanto 
que o pai aparecia de vez em quando e gerava muitas expectativas no jovem garoto. 
Durante o processo terapêutico foi pedido que seu pai viesse ao consultório para 
que fosse entrevistado pelo psicólogo e este pudesse ouvir sobre como se sentia a 
respeito de seu filho. Entre outras coisas, uma frase marcou muito ao psicólogo. Seu 
pai disse, referindo-se às dificuldades do filho: “nunca vi em V. um campeão, nunca 
achei que ele fosse ser alguém na vida!”. Em um primeiro instante o psicólogo 
pensou de que forma um pai poderia referir-se a um filho de apenas 9 anos daquela 
forma. Foi também quando percebeu mais uma esfera do problema de seu 
paciente, a total falta de expectativa de seu próprio pai em relação a ele, e se nada 
se espera, de fato, nada se ama. Se o amor é esta força propulsora que percebe no 
outro todo o seu “vir a ser”, se não se é capaz de reconhecer a altura do valor do 
outro, de fato, não se está amando. 
 
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São muitos os pais e mães que preferem não esperar, que preferem não ter 
expectativa, que preferem não amar. A sociedade pós-moderna ensina que a 
frustração é o maior sofrimento da vida e que para evita-la é preciso não esperar 
nada. Viver o presente em um enlouquecido e obcecado carpe diem tornou-se a 
solução de vida para muitas pessoas, contudo, é justamente por temer a frustração 
que a vida perde o sentido, por esquivar-se da possibilidade de esperar que se deixa 
de movimentar-se espiritualmente, mantém-se em um cativeiro existencial seu 
espírito, sua essência, negando-lhe até as possibilidades de alimentar- se no 
encontro com os outros, no envolvimento com os familiares, com os amigos, com as 
pessoas que lhe cercam. O homem do século XXI fecha suas janelas de casa, do 
carro, do MSN, do Facebook, suas janelas da alma! Esta realidade é tão assustadora, 
mas ao mesmo tempo tão presente que não será difícil encontrar alguém que, 
perguntado sobre a causa de suas angústias, não diga em algum momento que 
tenha medo. Medo do futuro, medo do mundo, medo das pessoas. Quanto mais 
medo experimentado em relação aos outros, mais provável que a capacidade de 
amar não está sendo acessada, pois se o espírito que é a força propulsora da vida 
não pode mover-se, não há psíquico e biológico que se sustente para dar conta de 
todos os desafios que o mundo propõe. 
 
CONCLUSÃO 
O sentido do amor na teoria de Viktor Frankl tem um lugar de destaque, o 
caráter espiritual e a percepção de que a vivência do amor responde de forma 
sublime à busca da pessoa por sentido são fundamentos para afirmação de que o 
ser humano busca o amor. 
Também a constatação de que muitas das angústias sofridas pela sociedade 
pós- moderna são provenientes de distorções na vivência dos vínculos afetivos já 
presentes desde a infância, constatações presentes nas teorias de Bowlby, Souza e 
Ramires, são bases para a afirmação de que a vida humana é orientada para a 
comunidade e que é na busca pelo amor e realização da vivência do mesmo que o 
ser humano é capaz de encontrar o sentido para a própria vida e consequentemente 
a autorrealização ou felicidade. 
A visão de Viktor Frankl é uma resposta para a sociedade pós-modernatão 
mergulhada nos conceitos de valor aparentes e superficiais. Constatar o aumento da 
 
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depressão e dos transtornos de ansiedade é perceber o quanto a humanidade do 
século XXI precisa encontrar o sentido para a vida e ainda mais o caminho para a 
vivência do amor. 
Este trabalho também permite concluir o quanto as ciências humanas ainda 
nos dias atuais seguem mergulhadas em uma visão mecanicista do ser humano, o 
que contribui para produções científicas reducionistas que geram consequências 
nocivas aos avanços da medicina e da psicologia. 
Uma humanização da medicina e da psicologia também continua sendo 
necessária nos dias atuais. 
O amor revela-se como uma força capaz de mobilizar a pessoa em qualquer 
circunstância em que se encontra, é possível, uma vez compreendido, mobilizar 
inclusive para a cura de transtornos psíquicos. Conclui-se também que há uma vasta 
possibilidade de estudos ainda a serem realizados no intuito de comprovar a força 
curadora do amor. Uma verdadeira psicologia do amor pode surgir à medida que se 
avança na compreensão do ser humano em sua natureza bio-psico-espiritual e se 
busca a humanização da psicologia em todos seus níveis de atuação e pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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