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Castoriadis A Experiência do Movimento Operário vol.1 Como lutar

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I 
I 
GORNELIUS GASTORIADIS 
A EXPERIÊNCIA 
DO 
MOVIMENTO OPERÁRIO 
COMO LUTAR 
A Regra d01 Jogo, Edições 
1979 
: j ' 
f ' . • 
. ' 
USP-FEA 
331.88 
C354E 
MONOGRAFIAS 
EXPERIENCIA DO MOVIMENTO OPERARIO :COMO LUTAR 
64572 
MATERIAIS 2: 
C. Cas�oriadis, A Experiêneia do Movimento Operário 
1- Gomo Lutar 
't'.ítulo original : L'expérience du mouvement ouvrier 
1- Comment lutter. 
© Uni'On Générale d'Editions et Coonelius Gastoria­
dis, 1974.. 
Reservados os direi1los de tradução para a língua 
portuguesa por A Regra do Jogo, Edições, Lda. 
R. Sousa Martins, 5, 2.0 Dt.0- 10100 Lisboa. 
Grup·a de João B. 
Trndução de José Viana e Miguel Serras Pereira 
I !f ' •J 
�· _, j 
Como em todos o·s outros volumes desta publicação, os 
terttos são aqui rep'l'oduzidos sem modificação, com ea:­
cepção dos e'N'os de. impressão e de alguns lapsus calami 
e, se necessário, a actualização das referêncú:ts. As notas 
nomeadas por letTas são novas. 
PaTa uma vista de conjunto das ideias· e da sua evo­
lução, deve o leitor reportar-se à «Introdução» de A so­
ciedade burocrática,. 1: As relações de produção na Rússia. 
Este volume é aqui designado po'l' Vol. l, 1; A sociedade 
burocrática, ,21: A revolução contm a hlll'o<eracia é desig­
nado por Vol. 1, 2. 
Alguns textos a que frequentemente se faz referência 
seTão designados por siglas, de acordo com a seguinte 
lista: 
CFP- Concentração das fo'l'ças p'l'odutivas (inédito, 
MaTço de 1948; Vol. I, 1). 
FCP- Fenomenologia da consciência proletá'l'ia (iné­
dito, Março de 1948; Vol. l, 1). 
------�- c-=-··--·--=--- -----�======= •=========�-----------------=-=========-==--
SB-Sociali8mc ou barbárie (S. ou B.., n.• 1, Margo 
de 1949,· Vol. I, 1). 
RPR- As relações de produção na Rússm (S. ou B., 
n.• fJ, Maio de 1949; Vol. I, 1). 
DC I e II-Sobre a dinâmica do capitali8mo (S. ou B., 
n.•• 1fJ e 13, Agosto de 1953 e Janeitro de 1954). 
SIPP-Situação do impemlismo e perspectivas do 
proletariado (S. ou B., n.• 14, Abril de 1954). 
CS I, CS li, CS III- Sobre o conteúdo do sociali8mc 
(S. ou B., n.• 17, Julho de 1955, n.• 22, Julho· de 1957, 
n.• 28, Janeiro de 1958). 
RPB- A revolução proletám contro a burocraoia 
(S. ou B., n.• 20, Dezembro de 1956; Vol. I, 2). 
PO I e II-ProletaJrii:ulo e O'l'ganizag® (S. ou B., 
n.•• 27 e 28, Abril e Julho de 1959). 
MRCM I, II e III-O movimento· revolueionárw sob 
o capitalismc moderno (S. ou B., n.•• 31, 32 e 39, Dezem­
bro de 1960, Abril e Dezemb'l'o de 1961). 
PR-RecomeÇCII' a revolução (S. ou B., n.• 85, Janeiro 
de 1964). 
RIB- O papel da ideologm bolcheviata no nascimento 
da bU'l'OC'I"acia (S. ou B., n.• 85, Janeiro de 1964). 
MTR I a V-Marxismc e teorm revolueionáM (S. 
ou B., n.0'36 a 40, Abril, de 1964 a Junho de 1965). 
IG-Introduç® ao Vol. I, 1. 
6 
Introdução 
A QUESTÃO DA 
HISTóRIA DO MOVIMENTO OPERÃRIO 
A minha ideia inicial era separar, na presente 
reedição, os meus textos de Socialisme ou Barba,. 
rie consagrados às reivindicações e às formas 
de luta e de organização dos trabalhadores, e os 
relativos à organização política dos militantes 
(«questão do partido») . Reflectindo melhor, esta 
solução pareceu-me apresentar muito mais in­
convenientes do que vantagens, uma vez que as 
duas questões estiveram, desde o início e cons­
tantemente� ligadas no meu trabalho. Mas, acima 
de tudo, reflecte e materializa uma posição que 
há já muito tempo não corresponde à minha. Com 
efeito, isso equivale a aceitar e a ratificar a ideia 
de dois campos de realidades separados não ape-­
nas de facto mas de direito. Num deles, encon-
7 
A EXPERiltNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
trecno[ogia pela luta na produção, ver CS li e III. Sobre 
a luta na pl1odução nos países de Leste, ver RPB e CS 
III. 
(23) Marx, como s·e ·sabe, extrai e abstrai desta luta 
a metade que corresponde à actividxule do capitalista 
(«compress.ão dos poros da jornada de trabalho»), dei­
xando aparecer o operário como puro obj-ecto pas,siV"o 
desta actividade. A resistência que este lhe pod·e opor 
na produção (e não fora da fábrica, pela agitação sin­
dical, etc.) não difeve, de acordo com esta óptica, da de 
um material inerte. A indignação moral de Marx está 
presente em cada linha, mas a lógica do exame é a que 
se aplicaria a uma cois,a. As duas V"ezes em que a «resis­
tência» dos operários é mencionada no Primeiro Livro 
do Capital (a propósito do controlo e da vigilância, e a 
propósito do s�wário à peça) é apre,S>Cntada CQI!llo fatal­
mente condenada ao malogro. 
(2�) Ver neste volume «As greves selvagens na in­
dústria automóvel 'americwna», p. 297 e seg. 
(25) Sobre a questão das condições de trabalho, ver, 
além do texto mencionado na nota precedente, a parte 
final de MRCM. 
(26) Ver MRCM I e II. 
(27) Para uma discussão destes factores, ver CS li 
e III e MRCM ll. 
(28) A sociedade bwrocnitica, 1, pp. 
(�9) Claude Lefort, por •seu lado, utilizou a ideia de 
experiência, tomada num sentido mais lato, num texto 
notável «A exp•eriência proletária», Socialisme ou Bar­
barie, n.• 111 (Março de 1953), retomado agora em Elé­
ments pour une critique de la burocracie, Droz, Genebra­
-Parjs, 1971, pp. 319 ·a 58. Ver também os seus artigos 
contra Sartre, ib., pp. 59 a 10:8. 
(3°) Sobre 'esta evolução, e os múltiplos factores que 
a condicionaram, ver MRCM e RR. 
(B1) Ver CS I e li, PO I, RR, PIE, MTR e IG. 
126 
O PARTIDO REVOLUCIONÃRIO * 
1. A crise actual do grupo mais não é que a 
expressão mais aguda da crise permanente que 
atravessa desde que se constituiu, e que a.pre­
s�enta uma forma mais violenta sempre que se 
põem problemas respeitantes às suas relações 
com o exterior (saída do P. C. 1., primeira dis­
cussão sobre o carácter da revista no Outono 
de 1948, conteúdo da revista por altura da re­
dacção do n.o 1) . De todas as vezes reencontra­
mos na raiz das divergências a falta de clarifi­
cação sobre as questões do partido revolucioná­
rio e da nossa orientação estratégica e táctica. 
2. A solução destes problemas, quer do ponto 
de vista teórico geral, quer do ponto de vista 
da nossa orientação, tornou-se numa questão 
(*) S. ou B. n.• 2 (Maio de 1:9149). Ver adiante o Posfácio 
a este texto. 
127 
A EXPERif:NCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
vital para o grupo. A atitude que consistisse 
em repelir a discussão e a tomada de posição 
frente a estes problemas, a pretexto de que a 
situação histórica ou as nossas forças subjecti­
vas nos não permitem responder-lhes por agora� 
equivaleria ao desmembramento do grupo. Tor­
nou-se evidente que nos é, desde já, impossível 
funcionar colcctivamcnte sem saber com exactidão 
que tipo de actividade é o nosso, em que quadro, 
histórico por um lado, imediato por outro, se 
inscreve esta actividade, qual é a nossa ligação 
com a classe operária e a luta que, mesmo sob 
as formas mais estropiadas, esta trava constan­
temente, qual é enfim o nosso estatuto organiza­
tivo e os princípios em que se baseia. O apare­
cimento da revista, que nos leva a assumir 
responsabilidades públicas, impõe-nos responder 
concreta e imediatamente a estas questões. 
3. É indesmentível que o grupo se encontra 
actualmente perante uma viragem da sua exis­
tência, e que deve responder ao dilema radical 
que tem perante si. 
Este dilema é definido pela ambiguidade 
objectiva tanto do grupo no seu estado actual • 
como do primeiro número da revista. O grupo 
pode servir de ponto de partida quer para a for­
mação de uma organização proletária revolucio­
nária quer para a de um conjunto de indivíduos 
servindo de Comité de Redacção de uma revista 
mais ou menos académica. 
128 
O PARTIDO REVOLUCIONARIO 
Isto significa que o grupo não conseguiu dar 
ao seu trabalho um carácter político incontes­
tável. Para o fazer,teria sido necessário primeiro 
e antes de tudo que se considerasse a si próprio 
como uma organização política. O que implicaria 
conclusões teóricas, programáticas e organiza­
Uvas, que não foram até agora tiradas ou apli­
cadas. Ora, actualmente este carácter político 
do grupo é objectivamente contestado, ao pôr-se 
em questão a ideia da disciplina na acção, a ne­
cessidade de uma direcção efectiva do grupo, 
e a ligação entre o programa da revolução e 
as suas formas de organização. Estas concep­
ções, a serem adaptadas, retirariam definitiva­
mente ao grupo qualquer possibilidade de se 
tornar núcleo de uma organização política revo­
lucionária. 
4. Se tais concepções, que equivalem objecti­
vamente à recusa do carácter político do grupo, 
prevalecerem, o grupo será inevitavelmente con­
duzido à desintegração. Isto porque essas posi­
ções estão em contradição consigo próprias e não 
podem servir de base e de critério a qualquer 
outra actividade que não seja a «Confrontação». 
É evidente que os camaradas que pertencem ao 
grupo (incluindo os que formularam as concep­
ções aqui criticadas) se reuniram no seu inte­
rior para exercer uma actividade política, e que 
o grupo não poderá nunca recrutar senão em 
bases e para fins políticos. A única solução da 
crise é a politização do grupo e do seu trabalho. 
129 
A EXPERI:f':NCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
5. Política é a actividade coerente e organi­
zada visando apoderar-se do poder estatal, para 
aplicar um programa determinado. Não é polí­
tica a redacção de livros, nem a publicação de 
revistas, nem a propaganda, nem a agitação, 
nem a luta nas barricadas, que são apenas meios 
que podem desempenhar um papel político enor­
me, mas que só se tornam meios políticos na 
medida em que estão consciente e explicitamente 
ligados ao objectivo final que é a tomada do 
poder estatal com vista à aplicação de um pro­
grama determinado. Tanto a forma como o con­
teúdo da actividade poUtica variam, evidente­
mente, segundo a época históvica na qual esta 
se situa e a classe social de que exprimem os 
interesses. Assim, a politica proletária é a acti­
vidade que coordena e dirige os esforços da 
classe operária para destruir o Estado capita­
lista, instalar em seu lugar o poder das massas 
armadas e realizar a transformação socialista 
da sociedade. Esta política é a antitese exacta 
de todas as que a precederam, em todos os pon­
tos, excepto num: tem como objectivo central, 
como ponto em torno do qual gira - precisa­
mente para o abolir -, o Estado e o poder. 
6. Na medida em que se admite que a acti­
vidade política revolucionária é, no período actual, 
a forma suprema de luta da humanidade pela 
sua emancipação, reconhece-se por isso mesmo 
que a primeira tarefa que se impõe a todos os 
que tomaram consciência da necessidade da re-
130 
O PARTIDO REVOL,UCIONARIO 
volução socialista é agruparem-se para preparar 
colectivamente esta revolução. Daqui resultam 
inevitavelmente os traços fundamentais de toda 
a acção política colectiva permanente, a saber: 
a base da coerência de toda a acção colectiva, 
isto é, um programa histórico e imediato, um 
estatuto de funcionamento, uma acção constante 
virada para o exterior. 
:Ê a partir destes traços que se pode definir 
o partido revolucionário. O partido revolucioná­
rio é o organismo colectivo, funcionando segundo 
um estatuto determinado e com base num pro­
grama histórico e imediato que tende a coorde­
nar e dirigir os esforços da classe operária, para 
destruir o Estado capitalista, instalar no seu 
lugar o poder das massas armadas e realizar a 
transformação socialista da sociedade. 
7. A necessidade do partido revolucionário 
resulta simplesmente do facto de não existir, e 
de ser impossível que exista, outro organismo 
da classe capaz de executar estas tarefas de 
coordenação e direcção de uma maneira perma­
nente antes da revolução. As tarefas de coor­
denação e direcção da luta revolucionária em 
todos os campos são tarefas permanentes, uni­
versais e imediatas. Os organismos capazes de 
executar estas tarefas, abrangendo a maioria da 
classe ou reconhecidos por esta e criados a par­
tir das fábricas só aparécem no momento da re­
volução. Além disso, estes organismos (órgãos 
de tipo soviético) só se elevam à altura das ta-
131 
A EXPERII!:NCIA DO MOVIMENTü OPERÃRIO 
refas históricas em função da acção constante 
do partido durante o período revolucionário. Ou­
tros organismos, criados a partir das fábricas 
e agrupando apenas elementos de vanguarda 
(Comités de Luta) , na medida em que encara­
rem a realização destas tarefas de uma forma 
permanente e à escala nacional e internacional, 
serão organismos do tipo do partido. Mas já 
explicámos que os Comités de Luta, devido a não 
terem fronteiras estritas e um programa clara­
mente definido, são embriões de organismos so­
viéticos e não de organismos do tipo partido. 
8. O enorme valor dos Comités de Luta, no 
período que se vai seguir, não advem do facto 
de substituírem o partido revolucionário - o 
que não podem nem devem fazer - mas de re­
presentarem a forma permanente de associa­
ção dos operários que tomam consciência do ca­
rácter e do papel da burocracia. Forma perma­
nente, não no sentido de que um Comité de Luta, 
uma vez criado, persistirá até à revolução, mas 
de que sempre que os operários se quizerem 
agrupar com base em posições antiburocráticas, 
só o poderão fazer sob a forma de Comité de 
Luta. Com efeito, os problemas permanentes 
postos pela luta de classes nas suas formas mais 
imediatas e quotidianas tornam indispensável 
uma organização dos operários, de cuja neces­
sidade estes têm uma cruel consciência. o facto, 
por outro lado, de que a organização clássica 
das massas criada para responder a estes pro-
132 
O PARTIDO REVOLUCIONARIO 
blemas, o sindicato, se tornou e só pode ser cada 
vez mais um instrumento da burocracia e do 
capitalismo estatal, obrigará os operários a or­
ganizarem-se independentemente da burocracia 
e da própria forma sindical. Os Comités de Luta 
traçaram a forma desta organização de van­
guarda. 
Se os Comités de Luta não resolvem a ques­
tão da direcção revolucionária, a questão do par­
tido, são contudo o material de base para a 
construção do partido no período actual. Com 
efeito, não só podem ser para o partido um meio 
vital para o seu desenvolvimento, tanto do ponto 
de vista das possibilidades de recrutamento como 
da audiência que oferecem à sua ideologia; não 
só as experiências do seu combate são um ma­
terial indispensável para a elaboração e a con­
cretização do programa revolucionário; mas 
também serão as manifestações essenciais da 
presença histórica da própria classe num período 
em que não há qualquer perspectiva imediata 
positiva, como é o período actual. Através deles, 
a classe lançará ataques parciais, mas extrema­
mente importantes, contra a burocracia e o ca­
pitalismo, assaltos que serão indispensáveis para 
que conserve a consciência das suas possibilida­
des de acção. 
Inversamente, a existência e a actividade do 
partido é uma condição indispensável para a 
propagação, a generalização e a conclusão da 
experiência dos Comités de Luta, porque s6 o 
133 
A EXPERií:NCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
partido pode elaborar e propagar as conclusões 
da sua acção. 
9. O facto da classe não poder criar antes 
da revolução, para o cumprimento das suas ta­
refas históricas, outro organismo que não seja 
o partido, não só não é um produto do acaso, 
como corresponde a características profundas da 
situação social e histórica do capitalismo deca­
dente. A classe, sob o regime de exploração, é 
determinada na sua consciência concreta por 
uma série de poderosos factores (as flutuações 
temporais, as diversidades corporativas, locais e 
nacionais, a cstrat.ificnçiioeconómica) que fazem 
que, na sua exiAtência real, a sua unidade social e 
histórica esteja escondida por um conjunto de 
determinações particulares. Por outro lado, a 
alienação que sofre sob o regime capitalista 
torna-lhe impossível dedicar-se imediatamente à 
realização das infinitas tarefas que a preparação 
da revolução exige. Não é senão no momento 
da revolução que a classe supera a sua alienação 
e afirma concretamente a sua unidade histórica 
e social. Antes da revolução, só um organismo 
estritamente selectivo e construído sobre uma 
ideologia e um programa claramente definidos 
pode defender o programa da revolução no seu 
conjunto e considerar colectivamente a prepara­
ção da revolução. 
10. A necessidade do partido revolucionário 
não acaba com o aparecimento de organismos 
autónomos de massas (organismos soviéticos) . 
134 
O PARTIDO REVOLUCIONÁRIO 
Quer a experiência do passado, quer a análise das 
condições actuais mostram que estes organismos 
não foram e não serão, à partida, senão formal­
mente autónomos e que de facto serão dominados 
ou influenciados pelas ideologias e pelas corren­
tes políticas historicamente hostis ao poder pro­
letário. Estes organismos só se tornam efectiva­
mente autónomos a partir do momento em que 
a sua maioria adapta e assimila o programa re­
volucionário, que até aí o partido era o único 
a defender sem compromissos. Mas esta adop­
ção nunca se fez nem fará automaticamente. 
A luta constante da vanguarda da classe contra 
as correntes hostis é uma das. suas condições 
indispensáveis. Esta luta exige uma coordena­
ção e uma organização tanto mais desenvolvidas 
quanto mais crítica é a situação social, e o par­
tido é o único quadro possível para tal coorde­
nação e organização. 
11. A necessidade do partido revolucionário 
só termina com a vitória mundial da revolução. 
Não é senão quando o programa revolucionário 
e o socialismo conquistarem a maioria do pro­
letariado mundial que um organismo de defesa 
deste programa, para além da própria organiza­
ção desta maioria da classe mundial, se torna 
supérfluo, e que o partido pode realizar a sua 
própria supressão. 
12. A crítica que fazemos da concepção de 
Lénine sobre «a introdução, a partir do exterior, 
da consciência política no proletariado, feita pelo 
135 
A EXPERI:f:NGIA DO MOVIMENTO OPEJURIO 
partido» não implica de modo nenhum que aban­
donemos a ideia de partido. Este abandono é 
igualmente estranho à posição de Rosa Luxem­
burgo que, no entanto, tantas vezes é invocada. 
Eis o que Rosa dizia sobre a questão: « . . . A ta­
refa da social-democracia não consiste apenas na 
preparação técnica e na condução das greves 
mas - e sobretudo - na direcção política de 
todo o movimento. A social-democracia é a mais 
esclarecida vanguarda do proletariado, a que 
possui em maior grau a consciência de classe. 
Ela não pode nem deve esperar com fatalismo e 
de mãos cruzadas pelo aparecimento da «situa­
ção revolucionária», esperar até que o movimento 
espontâneo do povo caia do céu. Pelo contrário, 
neste caso como nos outros, deve permanecer à 
frente do desenvolvimento das coisas e tentar 
acelerar este desenvolvimento.» De facto, a con­
cepção da espontaneidade que está hoje muitas 
vezes por trás das críticas à ideia de partido é 
muito mais a concepção anarco-sindicalista do 
que a de Rosa. 
13. A análise histórica mostra que no desen­
volvimento da classe as correntes políticas orga­
nizadas desempenharam sempre um papel pre­
ponderante e indispensável. Em todos os momen­
tos decisivos da história do movimento operário, 
a progressão exprimiu-se pelo facto da classe, 
sob a pressão das condições objectivas, ter che­
gado ao nível da ideologia e do programa da frac­
ção política mais avançada e, ou se ter fundido 
136 
O PARTIDO REVOLUCIONARIO 
com esta - como na Comuna - ou se ter posto 
atrás desta - como durante a revolução russa. 
Não foram seguramente estas fracções organi­
zadas que, de fora, fizeram «penetrar» na classe 
o grau de consciência mais elevado da época - e 
isto chega para refutar a concepção de Lénine. 
A classe chegou lá pela acção de factores objec­
tivos e pela sua própria experiência. Mas sem a 
acção destas fracções a lu ta não teria sido le­
vada tão longe, nem teria tomado a forma que 
tomou. 
Foram estas fracções políticas organizadas 
que permitiram simultaneamente a distinção de 
etapas no movimento operário, a constituição do 
movimento em cada fase com base num pro­
grama exprimindo clara e universalmente as 
necessidades da época, e a objectivação da expe­
riência proletária (mesmo quando esta foi nega­
tiva) de modo a poder formar a base de partida 
para o desenvolvimento posterior. 
Pode-se dizer, sem hesitar, que todas as ve­
zes que o movimento não foi senão espontanei­
dade pura, sem preponderância de uma fracção 
política organizada - quer se trate de Junho de 
1848, da Comuna de Paris, de 1919 na Alemanha 
ou da Comuna das Astúrias em 1934 -, chegou 
sempre ao mesmo ponto: demonstração da re­
volta dos operários contra a exploração, da sua 
tendência para uma organização comunista - e 
da sua derrota nesta base, derrota que exprimia 
137 
: 
,' 
' 
I I � 
A EXPJmiBNCIA DO MOVIMENTO OPERAHIO 
a falta de uma consciência clara e coerente dos 
objectivos e dos meios. 
A oposição entre as concepções igualmente 
falsas da «espontaneidade pura» e da «Consciên­
cia inculcada de fora» não pode ser resolvida se 
não se compreenderem correctamente, por um 
lado, as relações entre a parte e o todo, a frac­
ção da classe e a classe no seu conjunto, e, por 
outro lado, entre o presente e o futuro, a van­
guarda que se agrupa desde já sobre o programa 
revolucionário e começa imediatamente a pre­
parar a revolução, e a massa que não entra em 
cena senão no momento decisivo. 
14. As concepções, que pretextando a possi­
bilidade de burocratização negam a necessidade 
de uma organização política anterior à revolução 
e executando as funções de direcção da classe,: 
dão prova de um desconhecimento completo das 
características e das leis mais profundas da es­
trutura e do desenvolvimento da sociedade mo­
derna. 
A racionalização da vida social, a transfor­
mação de todos os fenómenos históricos em 
fenómenos mundiais, a concentração das forças 
produtivas e do poder político são não só traços 
dominantes, mas também traços positivos da 
sociedade moderna. Não só a revolução proletá­
ria seria impossível sem o aprofundamento cons­
tante destes traços, como o papel da revolução 
será o de levar a realização destas tendências 
ao máximo. 
138 
O PARTIDO REVOLUCIONAHIO 
O cumprimento desta tarefa, a vitória da 
revolução - e até a simples luta contra adver­
sários arqui-racionalizados, ultra-concentrados e 
exercendo um poder mundial-- impõem ao pro­
letariado e à sua vanguarda tarefas de raciona­
lização, de conhecimento da sociedade actual em 
toda a sua extensão, de contabilização e inven­
tário, de concentração e de organização sem pre­
cedentes. O proletariado não poderá vencer, nem 
sequer lutar seriamente contra os seus adversá­
rios - adversários que dispõem de uma organi­
zação formidável, de um conhecimento completo 
da realidade económica e social, de quadros edu­
cados, de todas as riquezas da sociedade, da cul­
tura e da maior parte do tempo do próprio pro­
letariado - se não tiver um conhecimento e uma 
organização de conteúdo proletário, superiores 
às dos seus adversários melhor equipados neste 
aspecto. Tal como no plano económico, a nossa 
luta contra a concentração capitalista não signi­
fica o regresso a uma enorme quantidade de 
«produtores independentes», como o queria Prou­
dhon, mas o último passo na via desta concen­
tração ao mesmo tempo que a transformação 
radical do seu conteúdo -- também no plano polí­
ticoa nossa luta contra a concentração capita­
lista ou burocrática não significa de modo ne­
nhum um regresso a formas mais fragmentadas 
ou «espontâneas» de acção política, mas o último 
passo para um poder mundial, simultâneo com 
a transformação total do conteúdo desse poder. 
139 
-----------------------�----------------------------------------------------���------�� 
A KXPEIU�NCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
:m da mais elementar evidência que a realiza­
ção de tais tarefas não se improvisa. É absolu­
tamente indispensável uma longa e minuciosa 
preparação. Não se pode imaginar que a solução 
destas questões seja inventada a partir do nada 
por organismos fragmentários, muitas vezes sem 
ligações entre si, e de qualquer modo extrema­
mente móveis e variáveis quer quanto ao seu 
conteúdo humano, quer quanto ao seu conteúdo 
político e ideológico. Ora, a questão da capaci­
dade do proletariado para derrubar a dominação 
dos exploradores e instaurar o seu poder, e até 
de lutar por este, não é apenas a questão da sua 
capacidade física, nem mesmo da sua capacidade 
política, ·no sentido geral e abstracto, mas tam­
bém a da sua capacidade no plano dos meios, da 
sua capacidade organizativa, racionalizadora e 
técnica. :li': completamente absurdo pensar que 
estas capacidades lhe são automaticamente con­
feridas pelo regime capitalista e que aparecerão 
com um toque de varinha no dia com «D:�> maiús­
culo. O desenvolvimento destas capacidades de­
pende de forma decisiva da luta permanente que 
as fracções mais conscientes da classe explorada 
travam já no interior do regime de exploração 
para estarem à altura das tarefas universais da 
revolução. Não há, nem aqui, nem em qualquer 
outro sítio, automatismo na história. 
15. Mas a aquisição destas capacidades uni­
versais não só necessita de uma longa prepara­
ção, mas também se não refere, não se pode 
140 
O PARTIDO REVOLUCIONARIO 
referir, dadas as condições sociais do regime de 
classe e o peso da alienação, à totalidade indis­
tinta da classe, sobretudo não se pode referir 
unicamente ao proletariado manual. É preciso ter 
claramente consciência - e propagar esta cons­
ciência - do enorme papel que os trabalhadores 
intelectuais serão fatalmente levados a desempe­
nhar na revolução socialista e na sua preparação. 
Se nos demarcámos claramente da concepção do 
Que Fazer?, segundo a qual só os intelectuais 
podem e devem fazer penetrar do exterior uma 
consciência socialista no proletariado, é-nos ne­
cessário lançarmo-nos com a mesma força contra 
os que, hoje, querem levantar um muro - que 
a realidade económica há muito aboliu - entre 
os trabalhadores intelectuais e manuais, separar 
de facto uns dos outros, propagar um fetichis­
mo do trabalho manual e dos organismos «de 
fábrica». Se Lénine afirmava que separar os 
operários e os intelectuais significa entregar os 
primeiros ao trade-unionismo e os segundos à 
burguesia, podemos com muito mais verdade e 
força dizer hoje que separar assim intelectuais 
e manuais significa entregar os primeiros à bu­
rocracia e os segundos à revolta desprovida de 
universalidade, votar os primeiros à prostituição, 
os segundos à derrota heróica. 
Lénine cometia o erro de designar um limite 
objectivo - o trade-unionismo - à tomada de 
consciência autónoma da classe operária. Come­
tia igualmente o erro - essencialmente na prá-
141 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
tica - de conceber a direcção da classe como 
um corpo organicamente separado desta e cris­
talizado com base numa consciência que a classe 
não podia receber senão de fora. Atacamos esta 
concepção porque a experiência histórica mostra 
que não existe um tal limite na tomada de cons­
ciência da classe explorada e que o conteúdo 
essencial da revolução proletária é a abolição 
da distinção entre dirigentes e executantes. Mas, 
ao fazer isto, recusamo-nos a levantar um muro 
entre trabalhadores intelectuais e manuais. 
O que assenta sobretudo numa base econó­
mica. O erro de Lénine era tanto mais grave 
quanto no seu tempo o intelectual era essencial­
mente o literato no sentido geral do termo, o 
teórico, o escritor «artesanal», trabalhando iso­
ladamente e sem ligação com a produção social, 
intelectual e material. Uma transformação enor­
me se desenrolou também neste domínio. Com 
efeito, por um lado, os métodos de produção in­
telectual tornam-se cada vez mais colectivos e 
industrializados, por outro lado, esta produção 
intelectual está cada vez mais directamente li­
gada à produção material primeiro, e depois à 
vida social em geral (no domínio não só da téc­
nica e das ciências exactas, mas também das 
ciências económicas, pedagógicas, sociais em 
'geral, e estando a própria actividade inteledual 
«pura» cada vez mais socializada). 
16. Mas a tentativa de separar manuais e 
intelectuais e a sua aplicação ao nosso grupo 
142 
-----------------
O PARTIDO REVOLUCIONAHIO 
não se opõe simplesmente à evolução económica; 
é também contrária à nossa orientação progra­
mática fundamental. A supressão da oposição 
entre direcção e execução torna-se essencial­
mente supressão da oposição entre trabalho.ma­
nual e intelectual. Esta supressão não se pode 
fazer nem ignorando o problema, nem separando 
ainda mais radicalmente os dois sectores ·da ac­
tividade humana e os seus representantes. A 
fusão do trabalho intelectual e manual e dos seus 
representantes tende a realizar-se, por um lado, 
no seio da própria produção através do movi­
mento da economia, mas, por outro lado, deve 
constituir, desde já, um objectivo essencial da 
vanguarda consciente, objectivo que esta deve 
começar a realizar no seu interior pela fusão das 
duas categorias e pela universalização das tarefas. 
:Ir: preciso, por conseguinte, afastar resoluta­
mente como arcaica e re,trógrada qualquer con­
cepção geral que leve a uma separação objec­
tiva entre manuais e intelectuais, e qualquer 
aplicação desta concepção ao nosso grupo que 
queira tirar da nossa composição social argu­
mentos sobre a nossa actividade, o nosso carácter 
histórico ou político. :m preciso compreender que 
uma das funções mais essenciais do partido con­
siste em que ele é o único organismo pré-revolu­
cionário no qual a fusão dos manuais com os 
intelectuais é historicamente possível. 
17. Os termos «acção autónoma» e «organis­
mo autónomo» da classe, muitas vezes usados 
143 
A EXPERI:ítNCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
no nosso vocabulãrio, devem ser clarificados sob 
pena de se tornarem uma fonte de erros e até 
um instrumento de aut()-mistificação. O simples 
facto dos operários, mais ou menos espontanea­
mente e para responderem a problemas postos 
pela luta de classes, se constituírem em organis­
mos ou empreenderem acções determinadas, por 
maior que seja a sua importância, não chega 
para definir estes organismos ou estas acções 
como «autônomas» no sentido completo do ter­
mo. Para nos convencermos disto, basta-nos ver 
o caso mais importante que se manifesta com 
o aparecimento, em grande escala, de organis­
mos de duplo poder (Sovietes, Comités de Fã­
brica, Milícias, etc.). Não só a experiência do 
passado, mas também a análise de todo o fu­
turo possível, mostram que no momento da sua 
constituição e durante um certo período estes 
organismos são directa ou indirectamente domi­
nados ou decisivamente influenciados por orga­
nizações políticas historicamente hostis ao poder 
prolt-tário. Se no interior destes organismos não 
se manifestar a acção constante de fracções 
-ou pelo menos de uma fracção - fatalmente 
minoritária de início, lutando por todos os meios 
políticos revolucionários para levar estes orga­
nismos a adaptar a ideologia e o programa que, 
nas circunstâncias dadas, exprimem os interes­
ses históricos da classe, é antecipadamente certo 
que estes organismos de massasserão conduzi-
144 
O PARTIDO REVOLUCIONAH.IO 
dos ou ao malogro total ou à degenerescência 
burocrática. 
Por conseguinte, a questão da autonomia 
dos organismos e da acção da classe é idêntica 
à questão do conteúdo ideológico e político, da 
base programática destes organismos e desta 
acção. Se um relativo grau de autonomia se ex­
prime em toda a forma de organização proletá­
ria, se os Comités de Luta, traduzindo-lhe a to­
mada de consciência antiburocrática, represen­
tam um grau mais desenvolvido desta autono­
mia, se os Sovietes englobam numa consciência 
que tende a tornar-se completa a grande maioria 
da classe, é preciso contudo não esquecer nunca 
que só são autónomos, no verdadeiro e pleno sen­
tido do termo, os organismos e as acções que 
exprimem concreta e perfeitamente os interesses 
históricos da classe, a partir de um modo de 
organização proletária. Só organismos assim 
podem ser legitimamente a direcção incontestada 
da classe. 
18. Não é senão a partir desta noção de au­
tonomia que se pode abordar o problema criado 
pela pluralidade das concepções políticas que se 
afrontam no interior da classe. O facto de, de 
cada vez, existir um único programa, uma única 
política que exprime os interesses históricos do 
proletariado, não impede que na realidade várias 
concepções contraditórias se oponham umas às 
outras e em que haja um critério formal a priori, 
um sinal material distintivo que permita reconhe-
145 
I! 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
cer a organização que defende a orientação re­
volucionária. 
O dilema que se põe entre, por um lado, o 
facto de não existir organismo e acção autôno­
mos, de não existir vitória da revolução senão 
na base de um só programa, exprimindo os in­
teresses históricos da classe, e, por outro lado, 
o facto de o portador concreto deste programa 
não ser nunca conhecido antecipadamente (pelo 
menos não é nunca reconhecido imediatamente 
pela maioria da classe) e de várias organizações 
se pretenderem a expressão destes interesses 
- este dilema fundamental de qualquer política 
revolucionária não pode ser resolvido a partir de 
uma construção a priori. A solução, a síntese 
concreta destes dois termos, não se pode elabo­
rar senão a partJr da experiência e modificar-se 
à luz desta. 
19. Duas correntes se apresentam hoje pe­
rante a história com a pretensão de dar uma 
solução a priori a este problema: o burocratismo 
e o anarquismo. A solução da burocracia estali­
nista ou da microburocracia trotskista é que o 
representante histórico da verdade e dos inte­
resses do proletariado é conhecido e designado 
de antemão: são as suas organizações respec­
tivas. Não há problema de síntese entre o pro­
grama único da revolução, a verdade única e a 
enorme quantidade de opiniões diferentes no in­
terior do proletariado, visto que o seu partido 
é, ele próprio, esta verdade personificada. 
146 
O PARTIDO REVOLUCIONARJO 
Para a concepção anarquista mais canse­
quente, pelo contrário, talvez haja uma verdade, 
mas não se sabe nunca onde ela está. Várias 
concepções opostas e contraditórias se colocam, 
portanto, no mesmo terreno, têm praticamente 
o mesmo valor. Também aqui não há problema : 
a história e a espontaneidade das massas deci­
dirão. Esta atitude não só é a simetria - nada 
decorativa - da primeira, como é ainda a sua 
cúmplice prática indispensável. Significa na prá­
tica entregar os organismos de massas à buro­
cracia, ou, pelo menos, sob pretexto de se fiar 
nas massas, nada fazer contra esta. Decidida­
mente, a demissão política e o «sacrifício da 
consciência» têm exactamente o mesmo valor, 
quer se verifiquem perante um Comité Central, 
quer perante a «espontaneidade das massas». 
20. A nossa atitude relativamente a esta 
questão fundamental pode-se resumir da ma­
neira seguinte: 
a) Recusamos categoricamente o confusionis­
mo e o ecletismo que actualmente estão na moda 
nos meios anarquisantes. Para nós, não há em 
cada momento senão um só programa, uma só 
ideologia que exprime os interesses da classe. 
Só reconhecemos como autônomos os organis­
mos que se colocam neste programa, e só estes 
podem ser reconhecidos como a direcção legítima 
da classe. Consideramos como nossa tarefa fun­
damental lutar para que este programa e esta 
ideologia sejam aceites pela maioria da classe. 
147 
A EXPERIÊ:NCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
Estamos certos que se isto se não verificar, 
qualquer organismo, por mais «autónomo» que 
seja formalmente, se tornará irremediavelmente 
num instrumento da contra-revolução. 
b) Mas isto não resolve o problema das re­
lações entre a organização que representa o 
programa e a ideologia da revolução e as ou­
tras organizações que se reclamam da classe 
operária, nem o problema das relações entre 
esta organização c os organismos soviéticos da 
classe. A luta pela preponderância do programa 
revolucionário no seio dos organismos de massa 
só se pode fazer através de meios que derivem 
directamente do objectivo a atingir, que é o exer­
cício do poder pela classe operária. Estes meios 
são, por conseguinte, dirigidos essencialmente 
para o desenvolvimento da consciência e das ca­
pacidades da classe, em cada momento e por 
ocasião de cada acto concreto que o partido em­
preenda perante esta. Daí resulta não só a de­
mocracia proletária, como meio indispensável 
para a construção do socialismo, mas também 
o facto do partido não poder nunca exercer o 
poder enquanto tal, e de o poder ser sempre 
exercido pelos organismos soviéticos das massas. 
c) Tendo em conta estes factores, é comple­
tamente supérfluo - seria · mesmo ridículo­
querermo-nos delimitar especificamente da bu­
rocracia. Seria como querermo-nos delimitar de 
Truman ou de Mussolini. Todo o conteúdo do 
nosso programa não é outra coisa senão a luta 
148 
O PARTIDO REVOLUCIONAJUO 
em todos os planos contra a burocracia e as suas 
manifestações. É evidente que este conteúdo não 
só não pode ser separado dos métodos pelos quais 
se fará valer, como é idêntico a eles. Pensar que 
se pode lutar contra a burocracia através de 
meios burocráticos é um absurdo que revela que 
pouca coisa se compreendeu quer da burocracia 
quer da luta contra esta. A luta e a vitória contra 
a burocracia só serão possíveis se a grande maio­
ria do proletariado se mobilizar a si própria, 
com base num programa antiburocrático até aos 
mais ínfimos pormenores. A universalidade da 
nossa época - e do nosso programa, cujo as­
pecto mais profundo aí reside - é que os objec­
tivos da revolução e as formas de organização 
proletárias se tornaram não «profundamente 
ligados» mas idênticos. O nosso «programa eco­
nómico», por exemplo, reduz-se de facto a uma 
forma de organização: a gestão operária. Não 
temos necessidade de um programa específico 
contra a burocracia, porque o nosso programa 
mais não é do que isso. 
O que é paradoxal neste assunto é que certas 
concepções, sob pretexto de fixar garantias ilu­
sórias contra a burocratização, têm como resul­
tado objectivo a travagem da única luta possível 
contra esta, que é o esforço máximo, mais siste­
matizado e mais coordenado, pela propagação das 
nossas concepções no seio da classe, pela edu­
cação de militantes operários, pela realização da 
149 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENT'O OPERÁRIO 
fusão entre manuais e intelectuais no interior de 
um partido revolucionário, 
21. A definição que damos do nosso grupo 
como núcleo da organização revolucionária assen­
ta na avaliação quü fazemos du nossa plataforma 
ideológica. Conaidernm<m que oatn.: 
a) ReprPHPntn a t-tinü�Ho do que o movimento 
operúrio produziu nt6 nqui de válido. 
b) J'il n Úinil'n bn!-le n partir da qual se poderá 
opcrur ndequadanwnte n �:�intese e a integração 
do que produzirá. doravante a experiência prole­
tárin ou a deoutros grupos políticos. 
c) Deve, portanto, tornar-se a ideologia pre­
ponderante no interior do proletariado, para a 
revolução poder vencer. 
d) Adquirirá esta preponderância não por 
milagre, nem pelo simples facto da «espontanei­
dade das massas», mas -através de um longo e 
duplo processo: por um lado, acesso da classe, 
sob pressão das condições objectivas, ao essen­
cial desta ideologia, e por outro, o nosso perma­
nente trabalho de propagação e de demonstração 
desta plataforma junto da classe e de educação 
revolucionária da elite proletária. 
Desta caracterização da nossa plataforma re­
sulta imediatamente, como nossa tarefa central, 
a da construção do partido revolucionário. 
150 
A DIRECÇÃO PROLETÁRIA * 
A actividade revolucionária do tipo inaugu­
rado pelo marxismo é dominada por uma anti­
nomia profunda, que pode ser definida nos 
seguintes termos: por um lado, esta actividade 
é fundada numa análise científica da sociedade, 
numa perspectiva consciente do desenvolvimento 
futuro e, por conseguinte, numa p�lanificação 
relativa da sua atitude face á realidade; por 
outro lado, o factor mais importante, o factor 
decisivo desta perspectiva e desta antecipação 
do futuro é a actividade criadora de dezenas de 
milhões de homens, tal como desabrochará du­
rante e após a revolução, e o carácter revolucio­
nário e cosmogónico desta actividade consiste 
precisamente em que o seu conteúdo será original 
* S. ou B. n.o 10 (Julho de 1�52).- Ver adiante o Poli­
lácio a este texto. 
1(';1 
' / 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
e imprevisível. Iil inútil tentar resolver esta anti­
nomia suprimindo-lhe um dos termos. Renunciar 
a uma actividade colectiva racional, organizada 
e planificada, porque as massas em luta resol­
verão todos os problemas, é, de facto, repudiar 
o aspecto «Cientüico», mais exactamente o as­
pecto racional e consciente da actividade revo­
lucionária, é apagar-se voluntariamente num 
misticismo messiânico'. Nã:o reconhecer, pelo con­
trário, o carácter original e criador da actividade 
das massas, ou só o reconhecer negligentemente, 
equivale a fundar teoricamente a burocracia, 
cuja base ideológica é o reconhecimento de uma 
minoria «consciente» como depositária da razão 
histórica. 
O campo em que esta antinomia aparece com 
mais evidência é o dos problemas relativos ao 
programa da revolução - e a questão da di­
recção do proletariado (partido) e das suas re­
lações com a classe é uma questão programática 
por excelência. Incontestavelmente, tudo o que 
se possa dizer sobre o carácter limitado e insa­
tisfatório dos esforços, tanto do nosso grupo 
como de outras correntes desde há vinte anos, 
. visando a resolução da questão do partido, re­
sume-se à impossibilidade de resolver a priori 
esta antinomia. Isto porque temos aí o próprio 
tipo de antinomia cuja solução é impossível no 
plano teórico, não podendo qualquer tentativa de 
solução deste género levar senão a mistificações 
desejadas ou não. 
152 
A DIREOÇÃO PROLETÁRIA 
A única «resposta» teórica que se pode dar 
consiste em dizer que a solução desta antino� 
mia no decorrer da revolução se faz porque a 
actividade criadora das massas é uma activi­
dade consciente e racional, portanto essencial­
mente homogénea à actividade das minorias 
conscientes agindo antes da revolução, mas cujo 
contributo único e insubstituível consiste numa 
subversão e num alargamento enorme do pró­
prio conteúdo desta razão histórica. Se desta 
maneira nos é dada uma base geral para a fusão 
da «consciência» das minorias com a razão ele­
mentar das massas, se podemos afirmar assim 
que a revolução não esbarra numa contradição 
insolúvel, não podemos, em contrapartida, pre­
tender encontrar de antemão as formas prático­
-concretas desta fusão. Esta «Solução» teórica 
não as indica, pelo contrário, faz saber desde já 
que o conteúdo concreto da revolução ultrapassa 
qualquer análise antecipada, uma vez que con­
siste em pôr novas formas de racionalidade his­
tórica. 
li:, portanto, essencial para uma organização 
revolucionária ter claramente consciência do 
problema nestes termos, e manter-se pronta a 
readaptar a sua ideologia e a sua acção à · luz 
da perspectiva que daí resulta, em vez de querer 
à viva força resolver artificialmente uma questão 
que está à escala da revolução e apenas dela. 
Sabe-se, aliás, a que conduziram os casos em que 
foram dadas «soluções» num espírito diferente. 
153 
--------------------------------------- ---- ---- --
! 
. A EJ0PERI:ÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
Estas observações não visam de maneira ne­
nhuma repudiar as pesquisas e as discussões, nem 
a adopção de soluções provisórias, que são mais 
do que hipóteses de trabalho, que são verdadei­
ros postulados de acção. Renunciar a isto seria 
renunciar a qualquer concepção programática 
por pouco definida que fosse, ou o me:-1mo é dizer, 
a qualquer acção. A importância da delimita­
ção atrás operada consiste em que ela dá um 
alcance preciso a qualquer concepção programá­
tica a priori que pudéssemos elaborar e sobre­
tudo em que ela tende a educar a «minoria cons­
ciente e organizada» na compreensão do sentido 
e dos limites históricos do seu papel. 
O problema põe-se em termos relativamente 
diferentes quando se trata das formas de orga­
nização e de actividade desta própria minoria 
consciente. Aí, esta minoria deve, ela própria, 
apresentar as suas soluções. Uma minoria re­
volucionária, ou um militante revolucionário iso­
lado, age por sua própria responsabilidade. De 
outro modo, deixam de existir. Não podemos 
hoje pretender resolver a questão do poder pro­
letário de outra maneira que não seja sob a 
forma de um postulado, mas podemos e devemos 
responder ao problema das nossas tarefas e da 
nossa orientação. 
� evidente que um dos aspectos mais impor­
tantes do problema diz respeito à ligação entre 
a organização e a actividade actual de uma mino­
ria revolucionária e a sua perspectiva final re-
154 
_ _ _L__ __ - - ---
A DIRECÇAO PIWLETAIUA 
!ativamente ao poder proletário. As soluçOe11 
actuais devem inscrever-se na linha de desen· 
volvimento que define a nossa perspectiva his­
tórica. As implicações deste aspecto do pro­
blema serão evocadas mais adiante. 
A DIRECÇÃO ANTES E DEPOIS 
DA RE:VOLUÇÃO 
O problema da direcção revolucionária apre­
senta-se como um nó de contradições. O pro­
cesso revolucionário apresenta-se sob a forma 
de uma infinidade de pessoas empenhadas numa 
infinidade de actividades. A menos que se faça 
apelo à magia, é impossível que este processo 
conduza aos seus fins sem uma direcção no sen­
tido preciso do termo, isto é, sem uma instância 
central que oriente e coordene as suas múltiplas 
acções, escolha os meios mais económicos para 
alcançar os objectivos propostos, etc. Por outro 
lado, o objectivo essencial da revolução é a su­
pressão da distinção fixa e estável - e de qual­
quer distinção, no fim de contas - entre os di­
rigentes e os executantes. Há, portanto, neces­
sidade da direcção, como há também necessidade 
de supressão da direcção. 
O objectivo final da revolução não implica 
imediatamente a supressão da distinção entre as 
funções de direcção e as funções de execução 
(este é um problema longínquo que não encara­
remos) . No entanto, implica necessariamente a 
155 
I 
i l 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
supressão de uma divisão social do trabalho cor­
relatívo a estas funções. Se se admite que a fun­
ção da direcção não pode ser imediatamente 
suprimida, a conclusão ressalta facilmente : é o 
próprio proletariado que deve ser a sua própria 
· direcção. A direcção da classe não pode, por­
tanto, ser distinta da própria classe. 
Mas, por outro lado, é evidente que a classe 
não pode ser imediata e directamcnte a sua pró­pria direcção. Ê inútil argumentar sobre este 
ponto, visto que, de qualquer modo, e de facto, 
a classe não é a sua própria direcção e não o foi 
no decurso da sua história. Se, portanto, o pro­
cesso revolucionário começa na sociedade capi­
talista, se a luta de classe explícita tem um valor 
positivo e deve ser conduzida de uma maneira 
permanente, não pode ser senão uma fracção 
da classe, um corpo relativamente distinto, que 
pode e deve ser a sua direcção. A direcção da 
classe não pode, portanto, deixar de ser distinta 
da própria classe. 
A solução desta contradição encontra-se par­
cialmente no tempo, isto é, no desenvolvimento. 
Quando falamos na supressão da distinção entre 
dirigentes e executantes referimo-nos a uma 
etapa posterior, genericamente, ao período que 
se segue à vitória da revolução. A supressão 
da exploração, o desenvolvimento das forças 
produtivas são, com efeito, impossíveis sem a 
gestão operária e esta é inseparável do poder 
dos organismos de massa. Quando, pelo contrá-
156 
A DIREOÇÃO PROLETÁRIA 
rio, falamos da necessidade de uma direcção dis­
tinta da classe, referimo-nos às condições do 
regime de exploração, sob as quais estas funções 
só podem ser desempenhadas por uma minoria 
da classe. 
Mas é também evidente que esta resposta 
não encerra a questão, porque a passagem de 
uma situação à outra - da fase durante a qual 
a classe explorada, alienada e mistificada não 
pode ser a sua própria direcção, àquela durante 
a qual a classe se dirige necessariamente a si 
própria - esta passagem aparece como, e é na 
realidade, um salto, uma contradição absoluta. 
Contradição que, diga-se entre parêntesis, não é 
mais chocante que a própria revolução, e que 
todos os momentos durante os quais uma coisa 
deixa de ser ela própria para se tornar outra. 
Ê impossível explicar de antemão, em termos 
teóricos, como terá lugar esta passagem. Para 
o marxismo, nunca esteve em questão deduzir 
a revolução, mas fazê-la. 
Isto não quer dizer que para nós o reconhe­
cimento da possibilidade desta passagem seja 
um acto de fé. Sem querer nem poder descrever 
as formas que ela poderá tomar, pensamos po­
der basear esta passagem em elementos exis­
tentes desde já. Estes elementos são, em pri­
meiro lugar, o desenvolvimento da consciência e 
das capacidades do proletariado, tal como é de­
terminado pela evolução da própria sociedade. 
Em segundo lugar, a existência, muito antes da 
157 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
revolução, no seio do proletariado, de camadas 
e de indivíduos que alcançam uma consciência 
dos objectivos e dos meios da revolução. Em 
terceiro lugar, a própria acção da direcção re­
volucionária sob o regime de exploração, que 
deve pretender constantemente desenvolver a 
capacidade de acção autónoma e de auto-direcção 
do proletariado. 
Esta passagem do proletariado, da posição de 
classe explorrada à de dasse dominante, eorres­
ponde a essa fase de tmnsição habitualmente 'cha­
mada período revolucionário e que podemos defi­
nir como iniciando-se no momento em que a classe 
começa a agrupar-se em organismos de massa 
que se colocam no terreno da luta pelo poder, 
e terminando no momento em que este poder é 
conquistado à escala universal. Esta definição 
permite-nos ver onde se situa exactamente o pro­
blema da direcção da classe pela própria classe : 
certamente, não antes do início deste período 
nem depois do seu fim. Não antes, porque não 
há problema da direcção da classe pela própria 
classe se a própria classe o não põe ; e ela só o 
põe pela constituição dos organismos de massa. 
Não depois, porque as razões que tornavam an­
teriormente impossível a direcção da classe pela 
própria classe são suprimidas pela vitória da 
revolução (de outro modo, não o seriam nunca) . 
:m certo que é durante este período que a 
questão das relações entre a direcção revolucio­
nária e a classe se torna decisiva. :m também 
158 
A DIREOÇÃO PROLET:A.RIA 
certo que a discussão desta questão agora não 
serve para nada. A constituição de uma direc­
ção revolucionária sob o regime de exploração 
não se opõe de modo nenhum à supressão de 
qualquer direcção separada durante o período 
pós-revolucionário. Pensamos, pelo contrário, 
que é um dos seus pressupostos. Sob este ponto 
de vista, tudo depende do espírito, da orientação 
e da ideologia nas quais esta direcção se desen­
volveu e foi educada e da maneira como concebe 
as suas relações com a classe e as realiza. Além 
disso, esta direcção do período pré-revolucionário 
só é direcção num sentido especial - propõe ob­
jectivos e meios, mas não os pode impor senão 
pela luta ideológica e pelo seu próprio exemplo. 
Neste sentido, a questão não é se deve ou não 
h a ver direcção, mas qual deve ser o seu pro­
grama. 
Durante o período revolucionário, pelo con­
trário, tudo se situa no plano das relações de 
força. Uma minoria constituída e coerente for­
mará um factor com um peso muito grande nos 
acontecimentos. Poderá - e quem pode afirmar 
de antemão que em certos casos não deverá -
agir por sua própria responsabilidade e impor 
o seu ponto de vista pela violência. (Há no grupo 
pessoas para quem a diferença entre os 49 e os 
51 por cento é a diferença entre o bem e o mal ? 
Ou que exigirão um referendo panproletário para 
decidir da insurreição ?) Ela poderá então ser 
uma direcção no sentido pleno do termo. Por 
159 
-----------------"'--------------------··-·--
I 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
outro lado, haverá a classe no seu conjunto, or­
ganizada e verosimilmcnte armada. Se a direcção 
se , tesenvolveu de acordo com o programa justo,, 
se a classe está suficientemente consciente e 
activa, a revolução significará a reabsorção da 
direcção na classe. No caso contrário, e de qual­
quer forma HE� n ClbtHKP Ke dHmitir - perante a 
direcção ou poratthl o dtabo .. _. 1m t.ii.o a burocra­
tização ou a «h-!rrota ó ftünl , 11 a questão de saber 
se a nova bnroer1wi 1t (l a 11x-direcção revolucio­
nária ou qualqtwr outra pouco interesse tem. 
Quanto à dlrt1cçfi.o, lliHia mais pode fazer do que 
educar-s:n n Pllll<':tr a vanguarda no espírito do 
descnvolvhnonto da actividade autónoma da 
classe operária e da consciência histórica. 
A DIRECÇÃO REVOLUCIONÁRIA 
SOB O H.EGIME DE EXPLORAÇÃO 
Se o problema da direcção revolucionária se 
põe para nós de maneira permanente - o que 
não quer dizer que seja sempre resolvido, e ainda 
menos que o seja correctamente - é porque 
reconhecemos por um lado que a própria luta de 
classes 6 permanente, e por outro - e sobre­
tudo - que o proletariado não pode ser nem 
continuar a ser uma classe revolucionária sem 
conduzir ou tender a conduzir constantemente 
uma luta explícita, aberta, na qual se afirma 
como classe à parte com objectivos históricos 
próprios, que são de facto universais. Ê esta 
160 
A DIREOÇÃO PROLETARIA 
característica da luta do proletariado, como se 
sabe, que diferencia o proletariado das outras 
classes exploradas que o precederam na história. 
Ora, desde que haja luta explícita, põe-se o pro­
blema da direcção desta luta. 
Que significa direcção'l Decidir a orientação 
e as modalidades de uma acção colectiva, decidir 
a acção de uma colectividade ou de um grupo. 
Direcção é esta actividade dirigente em si, e é 
depois - e é disto que aqui se trata - o sujeito 
desta actividade, o corpo ou organismo que o 
exerce. Este sujeito pode ser o próprio grupo 
ou a própria colectividade. Pode ser também um 
corpo particular, interior ou exterior ao grupo, 
agindo «por delegação» ou por vontade própria. 
Nos dois casos a noção de direcção está asso­
ciada à noção de poder, visto que a aplicação 
das decisões da direcção só pode ser garantida 
pela existência de sanções, ou seja, de uma coer­
ção organizada. 
Uma direcção no sentido plenodo termo só 
pode ser portanto exercida por uma classe do­
minante ou suas fracções. Isto assim será com 
o proletariado no poder, e vimos que surge um 
problema particular durante o período revolu­
cionário, devido à fragmentação do poder - ou 
a possibilidade generalizada de exercer a vio­
lência - que o caracterizam. 
Nestas condições, que pode ser a direcção 
de uma classe explorada e oprimida ? Dado o 
carácter absoluto do poder na sociedade actual 
161 
(e em oposição ao que se poderia passar anti� 
gamcnte, nas sociedades de casta, por exemplo) 
não pode haver coerção do interior da classe 
- a menos que aquele que exerce o poder par� 
t �ipe já, de uma maneira ou doutra, no sistema 
de exploração (tal o caso dos sindicatos e dos 
partidos reformistas ou estalinianos) . O acordo 
entre a direcção e a classe ( ou fracções da elas� 
se) não pode basear�se senão na adesão volun� 
tária da classe às decisões da direcção. O único 
meio de «Coerção», no sentido lato do termo, à 
disposição desta direcção, é a coerção ideológica, 
isto é, a luta pelas ideias e pelo exemplo. 
Seria estúpido querer impor limites a esta 
luta e a esta «Coerção». As únicas restrições que 
se lhe podem fazer referem�se ao conteúdo ideo� 
lógico e levantam, portanto, outras discussões. 
Por conseguinte, uma direcção revolucioná� 
ria em regime de exploração não pode ter outro 
sentido senão este : um corpo que decide a orien­
tação e as modalidades de acção da classe ou 
de fracc:ões desta, e que se esforça por lhas fazer 
adaptar através da luta ideológica e da acção 
exemplar. 
A questão que se põe agora é esta : há ne­
cessidade de uma tal direcção - não no sentido 
de uma actividade dirigente, o que é óbvio, mas 
no sentido de um sujeito particular de direcção ? 
A classe não pode ser imediata e directamente 
a sua própria direcção ? A resposta é, evidente­
mente, negativa. Nas condições da sociedade de 
162 
A DIREGÇÃO PROLETAltiA 
exploração, a classe não pode ser, na sua totali4 
dade, indiferenciada da sua própria direcção. So­
bre este ponto, retomaremos, se necessário, a 
esmagadora argumentaçãó que lhe diz respeito. 
É impossível conceber esta direcção de outra 
maneira que não como um organismo universal, 
minoritário, selectivo e centralizado. São estas 
as determinações clássicas do partido, se bem 
que o nome pouco importe para o assunto. Mas 
a época actual vem trazer a estas uma nova 
determinação, ainda mais essencial : o partido é, 
na forma e no fundo, um organismo único, por 
outras palavras, o único organismo (permanen­
te) da classe nas condições do regime de explo­
ração. Não há nem pode haver uma pluralidade 
de formas de organização às quais se justaporia 
ou se sobreporia. Em particular, as organiza­
ções tendentes, por assim dizer, a responder aos 
problemas económicos enquanto problemas par­
ticulares (sindicatos) são impossíveis como orga­
nismos proletários. O organismo político-econó­
mico de luta contra a exploração é um organismo 
unitário e único. Neste sentido, a distinção entre 
Partido e «Comités de Luta» (ou qualquer ou­
tra forma de organização minoritária de van­
guarda operária) refere-se exclusivamente ao 
grau de clarificação e de organização e nada 
mais. Este carácter exclusivo do organismo diri­
gente aparece claramente nas condições mais 
modernas do regime de exploração (ditadura 
burocrática ou regime de guerra) nas quais uma 
163 
I 
I 
i 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
pluralidade de formas de organização ou de di­
recção é impensável. Mas é evidente mesmo nas 
condições «antiquadas» do mundo ocidental. 
Com efeito, nem do ponto de vista dos proble­
mas, nem do ponto de vista das pessoas, se pode 
querer criar de uma maneira permanente uma 
organização «de fábrica» e uma organização 
«política» separadas e independentes. Deste pon­
to de vista, a distinção entre a «organização dos 
operários» e a «organização dos revolucionários» 
deve desaparecer ao mesmo tempo que a concep­
ção teórica que é a sua raiz. 
CONSTITUIÇÃO DE UMA DIRECÇÃO 
NO PERíODO ACTUAL 
Dos três elementos necessários para a cons­
tituição de uma direcção (programa, forma de 
organização e terreno material de constituição) 
é este último, isto é, a existência e a natureza 
actual de uma vanguarda potencial, que nos deve 
reter. Salvo erro, nenhum camarada contestou 
até agora que fosse possível definir um programa 
ou que pudesse existir uma forma de organização 
correspondente ao conteúdo desse programa e às 
condições da época actual. Pelo contrário, há 
controvérsia não tanto sobre a natureza da 
«vanguarda» actual mas mais sobre a sua apre­
ciação e o seu significado histórico. 
A definição concreta da «Vanguarda» actual 
sobre a qual o conjunto do grupo está mais ou 
164 
A DIREOÇÃO PROLETÁRIA 
menos de acordo é que esta é o conjunto do• 
operários conscientes da natureza do capitalismo 
e do estalinismo como sistemas de exploração e 
recusando apoiar pela sua acção tanto um como 
outro. Ê certo que mais profundamente ainda, e 
em particular através do estalinismo, estes ope­
rários põem em questão o conjunto dos proble­
mas, referentes simultaneamente aos objectivos 
e aos meios da luta de classe. Como se disse há 
muito tempo no grupo, a atitude . desta van­
guarda é essencialmente negativa e crítica. En­
quanto tal, significa incontestavelmente uma 
ultrapassagem. Toda a questão é : uma ultrapas­
sagem de quê ? 
A nosso ver, uma ultrapassagem do conteúdo 
tradicional do programa, das formas tradicio­
nais de organização e em particular das formas 
da actividade tradicional das «direcções». Isto 
quanto ao seu valor objectivo. Quanto ao seu 
conteúdo concreto, não há dúvidas que não vão 
muito mais longe. Ê quase certo que o conjunto 
destes operários não só rejeita a solução tra­
dicional destes problemas, como contesta que 
possa haver uma solução genérica. Ê certo, nou­
tros termos, que não acredita, actualmente, na 
capacidade do proletariado em se tornar classe 
dominante. 
Pode-se tirar uma conclusão quanto ao fundo 
destes problemas ? Talvez, mas então é necessá­
rio tirá-la até ao fim. Se os operários relativa-
1615 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
mente mais conscientes acreditam actualrnente 
que qualquer direcção está condenada a apodre­
cer, e se isto prova que assim é realmente, o 
rn 1smo raciocínio pode provar que qualquer pro­
grama é uma mistificação ou que o proletariado 
não será nunca capaz do exercer realmente o 
poder ; porque ó iguulntonto isto lfiW ostes ope­
rários pensam. 
Na realidade, este estado dtl eonaciôncia e 
a atitude que daí resulta roflectem por um lado 
urna tomada de consciência - imomnurumtc po­
sitiva - do malogro das respostas tradicionais 
e enquanto· tais preparam incontestavelmente o 
futuro; mas, por outro lado, refleetem igual­
mente a conjuntura mundial e, em particular, 
a pressão enorme que a relação de forc;aa actual 
exerce sobre todos os indivíduos da sociedade 
- incluindo os elementos do nosso grupo - e 
nesta medida representam, por assim dizer, ape­
nas o peso puro e simples da matéria histórica, 
matéria que está, aliás, em vias de se transfor­
mar rapidamente e que dentro de não muito 
tempo será engolida pelo passado. 
E certo que, enquanto a vanguarda se si­
tuar neste campo, a questão da constituição de 
uma direcção não se pode pôr como tarefa prá­
tica. Para isso será preciso que a pressão das 
condições objectivas ponha de novo os operá­
rios mais conscientes perante a necessidade de 
agir. 
166 
I 
f 
i l �- ------------- - - - -- - -- -- - - ----- -- - - - - ---"-�- - - --
A DIREOÇ.ãO PIWLETARIA 
PAPEL E TAREFAS DO GRUPO 
Isto não significa de modo nenhum que o 
grupo não tenha desde já um papel a desempe­
nhar, papel que tem uma importância histórica.Só o grupo pode actualmente - e é o único a 
fazê-lo no mundo, salvo erro - prosseguir a 
elaboração de uma ideologia revolucionária, de­
finir um programa e fazer um trabalho de difu­
são e de educação que são preciosos mesnio que 
os seus resultados não sejam imediatamente vi­
síveis; O cumprimento destas tarefas é um pres­
suposto essencial para a constituição de uma 
direcção, logo que esta seja objectivamente pos­
sível. 
A compreensão destas coisas não é difícil e 
seria para admirar que estes pontos pudessem 
ser objecto de uma discussão em si mesmos. No 
entanto, se o são, é porque o grupo não é um 
sujeito lógico, é constituído por indivíduos que 
fazem parte dessa mesma sociedade que tão bem 
analisamos para os outros, e essas pessoas so­
frem a mesma pressão histórica enorme que 
esmaga actualmente a classe operária e a sua 
vanguarda. A grande maioria dos camaradas 
do grupo participam consciente ou inconsciente­
mente do estado de espírito que foi descrito aci­
ma, e é provável que já não vejam muito bem 
as razões da sua adesão ao grupo. A consequên­
cia disso é que a sua participação no trabalho 
do grupo é quase nula, o que faz com que o tra-
167 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
balho do grupo e o próprio grupo estejam amea­
�ados de desaparecimento. Mas este fenômeno,, 
e as conclusões que daí resultam, fazem parte 
de u:rra outra discussão. Mesmo que a «discussão 
sobre o partido» chegue a conclusões sobre este 
género de tarefas ou sobre um outro, seria pre­
ciso que houvesse camaradas que quisessem 
mesmo sacrificar qualquer coisa para que estas 
tarefas, sejam elas quais forem, pudessem ser 
realizadas. 
168 
/ 
.I 
POSFACIO A 
O PARTIDO REVOLUCION ARfO 
E A 
A DIRECÇÃO PROLETARIA 
A discussão sobre a questão da organiza�ão 
esteve presente, sob formas mais ou menos agu­
das, ao longo de toda a história do grupo S. ou B. 
Mas os dois textos precedentes seriam obscuros 
se não fossem inseridos no contexto das discus­
sões da época em que foram redigidos. Pareceu­
-me útil, para os esclarecer, reproduzir aqui as 
notas que os acompanhavam nos n.os 2 (Maio de 
1949) e 10 (Julho de 1952) de S. ou B. 
Eis primeiro a nota que, no n. o 2, precedia 
o texto sobre O partido revolucionário'. 
A VIDA DO NOSSO GRUPO 
1 . Desde há um ano· que o• grupo se reúne 
duas vezes1 por mês em reunião plenária. l•}stOAJ 
l fiH 
A EXPERI:ii:NCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
reuniões Hão consagradas essencialmente à dis­
cussão de pr·oblemas políticos gerais bem como 
actuai.�. J!'omm assim feito'8 relatórios,. que ser­
vira/Y� lÜl boBe à discussão de problem.as como o 
sindicah�'lrno actual, o• imperialismo da Rússia 
burocrâtü�n, a greve dos mineiro·s, a evolução 
actuftl dn situação econômica e política, etc. Por 
outro lado, funciona um grupo de educação, que 
s·e reúne igualmente duas vezes por mês. Foram 
fe·ila,q tltuts séries de exposições sobre a formar 
ção (! o.<r aspectos gerais do marxismo e sobre a 
l!C0110'mÜt capitalista. 
2. No domingo, 1 0 de Abril, o' grupo consa,.. 
nrou a totalidade da sua reunião plenária, m,a,­
nhã c tnrde, à dwcussão da questão do partido 
re?Jolw�ümário e da orientação do, seu trabalho 
para a conBtrução do partido. Depois de um re­
latório do camarada Chaulieu, cujo conteúdo 
essendal se reproduz na resolução sobre o par­
tido revolucionário que publicamos mais adiante, 
a maioria dos camaradas tomaram a palavra 
bastante longamente e todos se exprimiram so­
bre a questão em debate. 
Três camaradas opuseram-se à orientação 
fundamental do relatório, com posições sensivel­
mente diferentes. o� essencial da discussão girou 
em torno· de pontos porr eles levantado>8. Contudo, 
foram igualmente abordados vários problemas 
que, · embora não directamente ligados ao pro._ 
blema centra.l, são de grande interesse e serão 
temas de discussõe�s posteriores (particularmente 
170 
POS FAGIO A O l'AHTJDO Rl�' VOL l!CTONARW . . . 
o problema da organização socialista da econo­
mia e a abolição das relações dirigentes-executan­
tes nesta fase) . 
3. O camarada Carrier opõe-se à ideia de con­
siderar desde já o grupo ligado por uma disci­
plina colectiva, e a construção· do partido revo­
lucionário como absolutamente necessária. Se 
for preciso, afirma ele em suma, admitir urna 
diferenciação no· proletariado, não será a do par­
tido e da classe. Ainda menos que o partido, o 
grupo no estado actual não se fustifica como 
corpo organizado. A única distinção a fazer é a 
de organização d e trabalhadores e de organização 
de revolucionários. Uma organização dos revo­
lucionários é necessária, rnas só pode ser cons­
truída a partir dos locais de trabalho e não a 
partir do encontro· ideológico d e indivíduos. De 
qualquer maneira, esta organização de revolu­
cionários deve estar completamente subordinada 
à organização Ms trabalhadores e não estar li­
gada por nenhuma disciplina que implique uma 
solidariedade dos seus elementos na acção. Os 
elementos revolucionários encontram-se e discu­
tem em comum os problemas da revolução, e 
separam-se depois para agir cada um corno en­
tende no seio· da organização dos trabalhadores, 
única representativa da classe. Carrier vê nos 
Comités de Luta que se formaram em 1947 e 
nas formas de agrupamento análogas que se po­
dem verificar, exemplos de organização de tra­
balhadores. Em taisr comités, os camarada.'r do 
171 
A KX P immNCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
grupo comportam-se como os outros elementos 
e abstêm-se de procurar impor as ideias do grupo. 
Por fim, se se admite que todo o grupo se inte­
grou numa organização de trabalhadores, ele de­
verá desaparecer imediatamente enquanto grupo. 
Carrier, portanto, caracteriza essencialmente a 
organização dos' revolucionários como um grupo 
momentâneo com tendência a definhar. Conclui 
dizendo que a organização. dos revolucionários. 
deve, de qualquer maneira, desaparecer no pró­
prio dia em que os Sovietes tomarem o poder. 
4. A esta avaliação da organização dos re­
volucionários e das suas relações com a orga­
nização dos trabalhadores, a camarad.a Denise 
opõe-se fazendo ressaltar que a organização dos 
revolucionários é indispensável, de maneira per­
manente, para preparar a revolução, que deve 
continuar a distinguir-se de todas as outras for­
mas de organização· da classe até à re1Jolução, 
quaisquer que sefam as condições obj'ectivM. 
Mas levanta dois problemas: 1 .0 Qual deve ser 
a relação da organização revolucionária com a 
classe ? 2.0 Qual deve ser a estrutura desta or­
ganização ? Ao primeiro responde afirmando que 
a organização dos revolucionários não pode pro­
pôr como finalidade sua dirigir a classe. Não se 
tr,ata, por exemplo, para um militante do grupo 
de procurar ilirigir um comité ile luta. A lém 
disso, não ileve assumir a sua direcção, mas ape­
nas manifestar aí as suas iileias. No que se re­
fere à estrutura ila organização revolucionária, 
172 
POSFAGIO A O PARTIDO REVOL UCIONARIO . . . 
não bMta dizer quJe a luta contra a burocratização 
releva apen.as do programa e não da estrutura 
organizativa. O princípio do centralismo demo· 
crático deve ser estudado à luz da experiência 
passada, e posto em questão. O centralismo de­
mocrático Msente na dualidade executantes-diri­
gentes que reinava nos partidos da III Interna­
tional revolucionária era já, de facto, um cen­
tralismo• burocrático. 
5. O camarada Ségur, tal como a camarada 
Denise, afirma a necessidade permanente de uma 
direcção política, à qual se não recusa a chamar 
partido. Mas acha que a concepção de partido 
que se faz no relatório, que é uma concepção 
clássica, no fundo muito próxima da concepção 
leninista do Que Fazer?, pMsa completamente 
ao lado do verdadeiro problema, que é o de im­
pedir a degenerescência burocrática do partido. 
Ora, estadegenerescência é fatal se o partido 
quiser atribuir-se as tarefas· de direcção política 
da clMse. O problema é restringuir a sua acti­
vidade ao domínio ideológico· e interditar-lhe a 
intervenção no domínio prJtico. O partido deve 
ser a direcção ideológica e não a direcção prá­
tica da classe. Se se propuser tarefas práticas, 
o partido substitui-se à classe e torna-se uma 
direcção burocrática que, agindo em nome dos 
interesses da classe, age de facto em lugar desta. 
O camarada Ségur, neste sentido, afirma que é 
preciso estudar de muito perto o período de pre­
paração imediata da revolução. O momento da 
173 
li ' 
A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO OJPERARIO 
insurreição é o momento em que o pa:rtido - se 
não se limitar ao seu papel ideológico, - pre• 
para ele próprio n tomada do poder e em que 
constitui - fom dos órgãos autónomos da clas­
se - os qutulros da ]Joder. A lógica do partido 
é, então, a{Jir crula 1Jez mai.<r em lugar dos Sovie­
te.'f e tran .. �forrnar-Hfl P-m. /Jurocracia. 
6. Os rmtro.<t cnnut'mda,'l' opu1wrnm·-se a estas 
powiçiif�H. Col'irrirnos ns HWM intervenções para 
rrwi.'f clarwrrwnte 're.•uw.ltnrem ns idein:.'f apresen­
tadas. 
a) Das intervenções dos camaradas que se 
opõem ao Relatório deduz-se que estes estão de 
acordo, em graus diversos, com a necessidade 
de uma o>rganização d e revolucionários. Negar 
esta organização seria negar-nos a nós próprios 
enquanto grupo existente a partir dEl uma pla­
taforma política comum. Mas se se pa.rtir deste 
facto, é preciso tirar dele todas as con.sequências, 
ou então não se pensa até ao fim a id,eia de uma 
organização de revolucionários. Supondo mesmo 
que não haja grupo formado em tM·no de um 
programa político mas apenas' órgão�� de classe 
tais como os Comités de Luta ou os sindicatos 
denominados «autónomos», não se pode impedir 
que em tais grupos um certo número de elemen­
tos estejam de acordo entre si, tentem, elaborar 
conjuntamente um programa político que ponha 
os problema3 não à escala local e corporativa 
mas à escala nacional e internacional e de uma 
maneira universal. Não, se pode impedi:r que estes 
174 
POSPJ\GIO A O PARTIDO Rb'VOLUCIONARIO . . . 
elementos, que têm e m comum estas ideias polí­
ticas, se reúnam à parte para discutirem entre 
si os problema-s que decorrem das suas concep­
ções comuns. E, ou estes elementos nada têm de 
sério, ou a sua vontade é fazer triunfar as suas 
ideias, que acreditam justas. Não os podemos 
portanto impedir, se decidirem agir em. conjunto 
num mesmo meio de trabalho, ou cada um no seu 
meio mas num sentido idêntico, de decidirem 
pôr, na sua actividade pública, o acento tônico 
no seu acordo e de lhe subordinarem os seus de­
sacordo•s. A lógica da sua situação leva-os, assim, 
necessariamente a constituírem-se em grupo, 
organização ou partido ( segundo o seu progra­
ma é ou não suficientemente elaborado) . 
Dizer que um elemento deste grupo• consti.­
fiuído Sle iteve 'absber,. pQir exemplo, de desempenhar 
um papel preponderante num órgão da classe a 
pretexto de que altera então a espontaneidade e 
a autonomia des·ta, é, de facto, impedi-lo de ex­
primir as suas ideias e de tentar convencer os 
outros; porque não é necessário, se ele os con­
venc'er, que seja encarregaclo de tar'efas resp.on­
sáveis e que adquira uma posição preponderante 
neste órgão ? 
b) Animados pelo deseio de procurar garan­
tias contra a burocracia, os camaradas não 
vêem que, em lugar de dar uma resposta ao pro­
blema que põem, suprimem-no pura e simples� 
mente. Porque, para evitar o perigo burocrático, 
recusam qualquer acção organizada e concertada. 
175 
_ __ _ ____ _...... ________________ �- ----------- -
� i 
A E XPERif:NCIA DO MOVIMENTO OPERARIO 
Não são apenas as exigências próprias da luta 
revolucionária, a necessidade de elaborar um 
programa político e económico completo, isto é, 
histórico, a necessidade de pensar e de agir num 
plano nacional e internacional, mas os impera­
tivos de toda a acção colectiva, com vista a um 
fim comum, que exigem uma organização no tra­
balho e um comando na acção. 
c) A solução niio pode consistir em limitar 
a actividade do partido· a uma esfera de elabor(L.. 
ção teórica ou a um papel de orientação política. 
Todas as análi1ws do grupo são fundadas preci­
samente na ideia de que as tarefas teóricas, po­
líticas e práticas n.ão só estão estreitamente li­
gadas, como os marxistas o mostraram no pas­
sado, mas também se tornaram, para falar com 
propriedade, idênticas, ou seja, diferentes for­
mas de uma mesma realidade. Tomar politica­
mente posição sobre tal problema que interessa 
a classe operária é ao mesmo tempo indicar uma 
atitude prática a adoptar em tal situação. Tal 
como não podemos limitar-nos apenas aos pro­
blemas práticos e as barefas da revolução im­
plicam a ultrapassagem do problema prático e 
uma solução para os problemas, por mais teóri­
cos que sejam, também as posições políticas ela­
boradas até ao· fim são posições práticas. Operar 
uma divisão artificial entre os dois domínios é 
dar um passo atrás. É essencial na nossa época, 
em que as tarefas políticas e práticas se identifi­
cam, colocar o problema da luta antiburocrática 
POSFAGIO A O PARTIDO REVOLUCIONAHTO . . . 
- não negar o carácter desta época. A identi­
dJade do prático, do polítioo e do ideológico é, num 
certo sentido, eminenteme1�te progressiva e sig­
nifica um amadurecimento da consciência do pro­
letariado. 
d) A ligação do partido com os órgãos autó­
nomos da classe que podem nascer daqui até à 
revolução - tais como os comités de luta - ou 
com os Sovietes deve ser justamente compreen­
dida. O nosso grupo pensa que a constituição do 
partido revolucionário é a condição necessária, 
mas de modo nenhum suficiente, da revolução·. 
Afirmou desde a sua origem que o sentido da ' ' 
nossa época era a tendência do movimento ope-
rário para a autonomia. Viu nos comités de luta 
que se formaram em 1 947, nomeadamente no 
Comité de Luta da Fábrica Unic, uma manifes­
tação capital da tendência da vanguarda para se 
reunir antes da revolução, a.o nível das fábricas, 
em órgãos em que os problemas práticos são pos­
tos precisamente em ligação com o problema 
político essencial de luta contra a burocracia. 
Pensamos que, mesmo se tais comités não po­
dem viver permanentemente até à revolução, as 
exigências da luta antiburoorática na nossa época 
apresentam, de maneira permanente, condições 
para a sua formação. PenBamos também que a 
tomada de consciência antiburocrática, manifes­
tada por tais comités, é a própria condição da 
revolução, por outras· pala1Jras, que a revolução 
não poderia ter lugar se não se manifestasse no 
177 
r , 
I ' I 
A EXPERIJ!:NCIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO 
proletariado, de forma sensível e objectiva, a 
tendência para a luta, não contra 0.5r estalinianos 
enquanto «arti/ices de uma má política», mas 
contra a burocracia enquanto tal, .sob todas as 
suas formas. 
Se durante toda uma fase da sua história a 
dualidade partido-sindicato foi a determinante 
do movimento· operário, é para uma dualidade 
do tipo partido-comité de luta que 1este se enca­
minha, e esta evolução implica um amadureci­
mento do proletariado, uma politização maior em 
todos os domínios de luta e de organização, um 
laço muito mais estreito entre o j:aartido· e as 
organizações da classe. Uma tal evolução im­
plica, por outro lado, que a jormaçi5i<J, dos Sovie­
tes não se poderá situar senão a U'ln nível mais 
elevado que em 191'7-1923, com os organismos 
operários autónomos prefigurando os Sovietes 
e co·locando os problemas do poder operário de 
uma forma . embrionária no próprio• interior da 
sociedade burguesa. Não· se pode, f.IO!ftanto, pôr 
o problema do papel do partido revolucionário 
sem pôr o dos órgãos autónomos da� classe.

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