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ALEGAÇÕES FINAIS

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE JUIZ DE FORA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE JUIZ DE FORA-MG
PROCESSO Nº _X
JAQUELINE LEMIQUE UBALDINO, devidamente qualificada nos autos, por seu procurador infra-assinado, nos autos do processo em epígrafe, em curso perante essa douta Vara, comparece perante Vossa Excelência para apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS:
Conforme passa a expor:
 Das alegações e das provas:
A acusada foi denunciada pelo suposto cometimento do delito previsto no artigo 133, §§ 2º e 3º,do Código Penal, porque no dia 11 de outubro de 2007, por volta das 23 horas e 22 minutos, na rua H, nº 11, nessa cidade, teria deixado sua filha, Kelen Ubaldino de Lima, de apenas 1 (um) ano sozinha em casa, para ir a um bar. E enquanto estava ausente a casa pegou fogo, causando a morte da vítima.
Findado o depoimento das testemunhas, da ré e demais envolvidos no caso, o Ilustre Representante do Ministério Público decide pela condenação do réu na sanção do dispositivo citado.
Quanto aos referidos fatos foram produzidas provas testemunhais no curso da instrução, conforme se passa a relatar:
Depoimento pessoal do requerido
Do depoimento pessoal do requerido se extrai: 
“ que nunca foi processada; que raramente deixava a criança sozinha; que saiu rapidão para comprar leite para a filha, porque não havia feito compras antes e a filha queria tody; que nem pensou em pedir a alguma vizinha para buscar o leite;que passou na venda, na mãe e na sogra atrás do leite; que se ausentou mais do que pretendia ao se distrair na casa da sogra; que a casa era de madeira; que recebia bolsa família;que da casa do namorado não dá pra ver a sua, porque a sua é mais pra cima e tem um mato;que se deu conta que o fogo era na casa dela ficou desesperada e pediu socorro para ajudar a tirar sua filha de lá;que não pode ir ao enterro da filha; que teve um aborto na cadeia; que perdeu a filha, a casa, foi presa com todos a acusando.”
Depoimento da testemunha de acusação 1
Do depoimento da referida testemunha se extrai: 
“que atendeu ligação, chegando por volta das 23 horas ao local constatando uma criança em óbito; que não teve contato com a mãe, apenas com vizinhos, os quais disseram que a mãe havia ido comprar leite na venda local; não teve informação sobre uso de drogas ou bebidas; existem vizinhos próximos e atrás da casa um matagal; não sabe informar se algum vizinho ateou fogo no matagal.”
Depoimento da testemunha de acusação 2
Do depoimento da referida testemunha se extrai: 
 “que estava na casa de sua namorada,quando ao ouvir estalos percebeu que a casa estava pegando fogo e não conseguiu apagar; que a casa da namorada é ao lado da casa da ré; que disseram que a acusada havia ido comprar leite; que ele frequentemente estava por lá e nunca ouviu falar que a ré fizesse uso de drogas; que não sabe de outra casa que pegou fogo na região; que estranhou quando a ré chegou com o namorado e foi correndo a casa do pai dele; que a criança era bem nutrida, parrudinha; que na casa da namorada dele tem fogão a lenha.
Depoimento da testemunha de defesa 1
Do depoimento da referida testemunha se extrai: 
“que recorda que saiu do trabalho e foi ao bar; que depois encontrou coma ré, sua namorada que esperava por ele; que viram a fumaça quando iam para a casa da ré, mas somente depois perceberam que era da casa dela; que não sabe quanto tempo ela esperou por ele; que a ré não tem o hábito de deixar a filha sozinha, quando precisa deixa com a avó;que costuma dormir na casa dela e a criança sempre está lá; que não havia ninguém tentado apagar o fogo quando chegaram na casa.”
Depoimento da testemunha de defesa 2
Do depoimento da referida testemunha se extrai: 
“que estava dormindo com o marido quando soube e foram para a casa da ré; que o outro filho da ré mora com ela por questões financeiras; que a ré faz faxina; que não pensou em pegar a outra filha para cuidar porque a ré cuidava muito bem; que a ré teve o aborto porque ficou desestabilizada; que a ré não pode ir ao velório por estar presa e ficou muito triste.”
Da análise dos depoimentos e das demais provas
Somando-se todos depoimentos acima referidos não há como deixar de acolher o pedido de absolvição a ré, senão vejamos.
 Em primeiro lugar, a ré não teve intenção de causar mal a sua filha, pois no contexto social em que ela vive e baseado em suas vivências de sociedade, em sua restrita e curta experiência de vida, a mesma não vislumbrou perigo algum em ir comprar leite e se ausentar por alguns momentos. O único perigo que para a ré era eminente, seria levar junto sua filha, pois teria que ir à venda, e há bares com pessoas embriagadas, muitas vezes alteradas, ela quis proteger sua filha da violência das ruas.
 Ademais, nota-se uma contradição entre os depoimentos da acusação e da defesa, pois a acusação 2 diz ter tentado apagar o fogo e diz também que a ré ao chegar foi direto a casa do pai. Pois bem, a ré a testemunha de defesa 1 afirmam não haver ninguém na casa tentando apagar o fogo; todas as testemunhas são unânimes ao falar que a ré foi comprar leite; a ré e a testemunha de acusação 2 afirmam que a mesma logo ao chegar a casa se dirigiu a casa do pai ( pedir ajuda, disse a ré); a acusação 1 disse não saber se algum vizinho atou fogo. Nota-se aí que a possibilidade desse existe, e sendo que na casa onde a acusação 2 estava havia um fogão a lenha, há que se pensar em um crime provocado.
 Há de convir, vossa excelência que se faz mister, uma investigação mais precisa dos fatos, o que não exime a ré dos seus atos, mas que, sem dúvida, mudariam as circunstâncias do trágico incidente.
 Ora, vossa excelência, como poderia uma mãe entrar em desespero ao ver seu humilde barraco e chamas, se não fosse pelo simples motivo de estar lá dentro sua filhinha. Motivo pelo qual a ré sofreu um aborto de tão desconsolada que ficou. Essa mãe, com certeza, sofre mais que todos os condenados, e sua pena é se culpar eternamente e lamentar-se pelo ocorrido, carregando por toda a vida, consigo, o fardo da culpa. 
 Portanto, vossa excelência, para que condená-la a uma pena dupla, pois ao condenarmos alguém que já se encontra em estado de punição é no mínimo inaceitável para nossa condição de seres humanos, cujo insuportável sofrimento moral e abalo psicológico se mostram evidentes. Assim, caso vossa excelência conceda o perdão judicial, estará demonstrando que os fatos podem desestruturar a vida de uma pessoa, mas que os atos e a nobreza humana podem transformar uma vida positivamente. 
 Assim tem decidido os tribunais:
Perdão Judicial concedido
TJ-RS - Recurso em Sentido Estrito RSE 70054640156 RS (TJ-RS)
 Data de publicação: 14/08/2013
Ementa: HOMICÍDIO CULPOSO. MORTE DE FILHO. PERDÃO JUDICIALCONCEDIDO E MANTIDO. Como destacou o Julgador, concedendo ao recorrido o perdão judicial pela morte involuntária do filho: "O réu foi indiscutivelmente abalado pela morte do filho. Tanto por referir isso quanto pelas reações tresloucadas que teve, ainda sob o impacto da morte, logo após o fato... A punição já foi suficiente e não seria equiparada por nenhuma pena aplicável neste feito - mormente considerando que o réu é merecedor de penas restritivas de direitos por ser primário. Isso basta para a concessão ao réu do favor legal." DECISÃO: Recurso ministerial desprovido. Unânime. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70054640156, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio Baptista Neto, Julgado em 31/07/2013)
Sendo assim, é a presente, devendo Vossa Excelência julgar integralmente procedentes o pedido nela formulados por ser medida de justiça!!
Termos em que, respeitosamente,
pede deferimento.
Juiz de Fora, 06 de novembro de 2016.
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