Buscar

Historia Antiga oriental todas as aulas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Nesta primeira aula, estaremos discutindo a construção da disciplina. Devemos nos perguntar o porquê de estudar História antiga e como estudá-la, o que é oriente, quando começa a história, enfim, é o momento de perguntas, de construir as bases para podermos trabalhar o nosso curso.
Para começar, é absolutamente fundamental definir alguns conceitos. Mas, o que é um conceito? Conceito é a exposição teórica de uma ideia presente na sociedade. Exemplo: se peço para você conceituar cultura, não desejo saber sobre a influência da cultura na sua vida ou como ela é importante ao homem.
A pergunta anterior versa de maneira direta sobre a definição de conceito, de forma que nos permite compreender o que é cultura. Veja um exemplo da história antiga. Antes, pare e pense um pouco! Temos escravidão na História Antiga?
A resposta é sim. Mas, só se entender escravidão como um conceito, quer dizer, um sistema de trabalho que impõe ao submetido um regime compulsório.  Poderia usar, por exemplo, o termo em grego doloi, mas, como muito bem salienta Finley, um dos maiores historiadores antigos em seu livro O Uso e o Abuso da História Antiga, quando eu explicasse que doloi era um grupo social que vivia sob um regime de trabalho compulsório em que seus senhores poderiam, por exemplo, ter direito sobre sua vida ou morte.  O que viria na cabeça do aluno? Escravo.  Então, perde o sentido conceituar de maneira diferente.    Um aspecto nesse ponto é fundamental: os conceitos são inscritos no tempo. Podemos utilizá-los como referência, mas seu entendimento passará necessariamente por sua explicação no meio social.
Seguindo a busca dos conceitos, devemos entender o que é Oriente. Poderíamos entendê-lo somente como uma divisão geográfica? Em termos geográficos, a divisão entre Ocidente e Oriente é proveniente do mapa de fusos horários.
Vamos um pouco para trás: o mundo após a II Guerra Mundial viveu uma separação político ideológica, dividida em países capitalistas e socialistas.  Naquele momento, muito se usava o termo "Cortina de Ferro" para marcar o limite das forças capitalistas e socialistas na Europa, representado especialmente pela divisão da Alemanha e o muro construído em Berlim.  Se naquele momento perguntássemos a qualquer pessoa minimamente esclarecida onde está o Ocidente e o Oriente, a explicação seria dada sob a perspectiva do momento.Da mesma forma, devemos entender a divisão na antiguidade entre Ocidente e Oriente e o que caracteriza cada um deles.  De um lado, temos sociedades consideradas berço da humanidade: Egito e Mesopotâmia em especial.  Do outro, a ideia do que é ser ocidental, certo orgulho de culturas como a grega e a romana, como se todos nós representássemos esses grupos.
O olhar que desejamos é um olhar que fuja dessa dicotomia, desse dualismo. Entende-se Oriente como um espaço de poder caracterizado pela organização de importantes civilizações e como suas práticas constroem e influenciam o mundo conhecido.  Precisamos construir um olhar crítico, que não veja as pirâmides com uma mostra de como esses povos eram avançados, mas uma sociedade à qual possamos entender, discutir, que nos permita refletir melhor sobre nossa própria sociedade.
As áreas em roxo fazem referência ao Oriente Médio, uma área que teve um desenvolvimento em paralelo aos espaços indo-europeus. São assim caracterizadas as áreas do limite do Egito com a Ásia, parte da Anatólia (atual Turquia oriental), península arábica e as áreas da Mesopotâmia mais à direita. As áreas em roxo são normalmente caracterizadas como o "Crescente Fértil”, região à qual muitos autores determinam como local de início da história. As regiões em vermelho e verde são áreas do extremo Oriente que infelizmente não estudaremos neste curso por uma questão de tempo.
História antiga: como estudar?
Primeiro é necessário pensar nesta periodização: o que é história antiga?  O que é algo antigo? De onde surge uma ideia como essa?  Como já conversamos, as coisas não são criadas ao acaso, em especial, uma divisão de tempo como a que utilizamos não é um acidente. Vamos lembrar: A linha tradicional do tempo mostra que, do surgimento da escrita (a maioria por cerca de 3.000 a. C.) ao fim do Império Romano do Ocidente - Séc. V d.C.:
a.   A Idade Média seria do século V ao XV; 
b.  A Idade Moderna, do XVI ao XVIII; 
c.  A Idade Contemporânea, do XIX ao XXI).
Por essa conta, em que idade nós estamos? Contemporânea, certo?  Sim e não.  
Se formos ao limite do conceito, todo homem é contemporâneo ao seu tempo, vive sua própria época.  Mas, se adotarmos os modelos existentes, pode acontecer um congresso daqui a 20 anos que determine que tenhamos vivido uma idade de nome diverso. Isso vai alterar quem nós somos.
Cada homem é filho de seu próprio tempo e os marcos são escolhidos como não naturais ou inquestionáveis.  Partindo desse pensamento, observamos ainda brevemente o nome dado às Idades: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. A que esses nomes nos remetem?  Algo que passou, um período intermediário, o homem melhorando, se tornando moderno para chegar nos dias de hoje.  Essa proposta surge no século XVII, época em que a Europa vivia um importante movimento intelectual chamado Iluminismo.  Nele, havia a preocupação em marcar que o homem vivia um momento especial, a era da razão e da capacidade do homem. Na busca de uma afirmação nesse sentido, procura-se negar o período imediatamente anterior: assim, a Idade Média será caracterizada pelas trevas para a razão chegar e lhe oferecer a iluminação. A antiguidade, então, é o período em que o homem sai de sua condição animalesca e inferior para construir uma grande sociedade.  O homem tem um tombo, uma falha, para atingir seu auge no período moderno. Devemos acreditar nisso?  Definitivamente, não!  Então, por que continuamos usando esses marcos?  A resposta está em entendê-los como didáticos, uma forma de dividir e entender o mundo, mas sem acreditar que os períodos tem uma sucessão marcada.  É impossível determinar quando começa ou termina um período. Vivemos em quadros constantes de transições, nos quais as sociedades têm continuidades e rupturas ao longo de sua existência.
Durante muito tempo, a resposta seria sim. Hoje, apesar de entender a importância da escrita cuneiforme, trabalhamos de maneira mais complexa. A tradição nos faz responder à questão, mostrando-nos que foi durante a organização dos sumérios na mesopotâmia, com o estabelecimento da escrita cuneiforme. Então, tudo o que não é escrito não é história.  Mas, e agora? Quando começa a história?
Assim, não pretendemos utilizar as noções de pré-história e história, mas sim como as sociedades humanas se transformaram desde o aparecimento dos homo sapiens no continente africano há 100.000 anos. Para facilitar a observação do quão as práticas são complexas, separamos um quadro que mostra a evolução das sociedades humanas
Depois de ver o quadro, percebe-se que existe a falta de mais informações sobre a América e a África, o que não significa imobilismo, mas sim falta de investimento em arqueologia, que atualmente vem crescendo e modificando essas visões (vide a descoberta de Luzia em Minas Gerais e o estudo da expansão de bantos e os contatos com organizações diversas no espaço africano). Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que isso significou para as sociedades humanas.
Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que isso significou para as sociedades humanas.  O termo neolítico se refere ao uso de novos materiais pelas sociedades humanas. Na suas organizações tradicionais, o homem se organizava em pequenos grupos, de característica nômade, e eram caçadores e coletores.
Há cerca de 10.000 anos, vários grupos ao redor do mundo iniciaram o cultivo, primeiro de algumas gramíneas e a domesticação de animais. Esse esforço inicial de agricultura e pecuária permitiu o assentamento do homem por períodos maiores.  Mais do que isso, o desenvolvimento da agricultura permitiu o aumento da natalidade e a organizaçãode grupos maiores. Segundo Gwendolyn Leick, Mesopotâmia, o nascimento das cidades, o grande marco de transformação da sociedade humana, é a passagem de estruturas nômades e seminômades para sociedades de característica sedentárias.  Com maior número de pessoas, as sociedades buscaram melhorias, em especial do controle da água, condição fundamental para organização humana.   Notamos pela tabela de desenvolvimento que os espaços tenderam a crescer para as áreas que se manifestaram mais férteis, como Delta do Nilo, Mesopotâmia, Rio Amarelo, dentre outras. Como podemos observar, a organização de cidades se hierarquiza a sociedade, sofistica suas relações, estrutura novas regras, sofistica explicações religiosas, justifica organizações políticas, hierarquizam o trabalho e o poder.
Atenção! Cuidado para não transformar a criação das cidades em um sistema de exaltação do homem. Esse modelo de organização também traz outros problemas às sociedades humanas, como o desenvolvimento de doenças, epidemias. Do contato constante com os animais, os humanos acabam trazendo uma série de doenças. Uma cidade tende-se a estar mais exposta aos dejetos, à sujeira do que o campo.  Não é uma ideia evolucionista, mas de constante transformação.
A definição contemporânea trabalha com algumas denominações principais e, a partir destas denominações, buscamos entender  a sociedade que estaremos estudando.  A divisão tradicional fala em Oriente Próximo; Oriente Médio e Extremo Oriente. Oriente próximo são as regiões que atualmente entendemos como árabes: Porções de cultura islâmica, mas que no mundo antigo era o limite das antigas áreas de dominação no Império Romano entre os século II a.C. e V d.C. Oriente Médio: Possessões ligadas às antigas áreas Hindus e Persas; existe uma discussão se a Península Arábica seria Oriente Médio  ou Próximo, devemos entender as áreas mais ao sul como médio. Extremo Oriente - Até o início do século XX, eram regiões pouco estudadas, vistas como exóticas.  Quando começaram a estudá-las, uma das características consideradas é que essas regiões apresentavam um traço de cultura que as aproximavam:  foram identificadas, em especial, com a cultura chinesa.
Falemos um pouco de Império Romano. 
Era dividido entre Ocidente e Oriente e possuía duas capitais, Roma e Constantinopla (Séc. III – V). A partir da cidade de Constantinopla em direção à Asia, estão localizadas as áreas reconhecidas na antiguidade como Oriente.
Veja o mapa a seguir.
Nesta divisão geográfica, não há um traço claro de divisão entre o Oriente e o Ocidente, seja o elemento que nós escolhamos para pensar, será uma aproximação.  Então vamos entender que estamos falando de escolhas.  Estudar as sociedades do Crescente Fértil, Egito, Hebreus e Persas não é por considerar estes espaços como o berço de nossa sociedade, mas de compreender que os espaços sociais foram escolhidos para uma melhor compreensão da estrutura social.
Mas, afinal, quando começa a história?
A escrita transforma inteiramente o homem?  É um  questionamento interessante. Pensemos em sociedades de caçadores e coletores. Qual o papel da escrita para eles? Aliás, vale refletir um pouco sobre o tempo e essa noção utilitarista.
Assista agora a um pequeno trecho do filme “Os deuses são loucos”, onde a garrafa chega à tribo e as pessoas brigam por ela e, dessa forma, fica nítido que a nova tecnologia se torna um símbolo de poder.
As noções de tempo: O tempo não tem um conceito claro, as pessoas hoje regulam a sua vida em virtude de um tempo detalhado, temos horas, minutos, segundos, dependendo do que falamos.  Na antiguidade, esse controle é diferente. Hoje temos um calendário que quase acreditamos que sempre existiu.  Que dia é hoje?  Tem certeza? Isso vale para o calendário cristão e quantos calendários existirem. Como as pessoas cuidavam do seu calendário, controlava em sociedades tipicamente rurais e de subsistência? A conotação de tempo é sempre diferente.  Nessas sociedades, o tempo, por exemplo, tem uma íntima relação com as estações do ano, péssimas condições climáticas, a posição do sol.
Um lembrete:
Como se conta o tempo no calendário cristão:
______________________C_____________________
O centro é Cristo, o advento do tempo utilizado pelo Ocidente.
Como não existe ano 0, ou século zero, devemos contar os séculos sempre com o número da centena + 1; quer dizer, vivemos no século XXI (2011; a centena é 20 + 1 = século XXI).
E, para antes de Cristo, conforme a matemática, o eixo é negativo - 1; -2; -200, ao invés de - usamos antes de Cristo; para depois de Cristo, não é necessário utilizar DC; e a regra fala do mesmo jeito (510 AC, século 6 (-5 -1 = 6 AC).
Agora, vamos falar um pouco de como estudar a História Antiga. Para tanto, faça a leitura a seguir.
As fontes antigas:
Mitos
Arqueologia - Crise/ Problemas/ Possibilidades
Qual o marco, o elemento principal para as transformações do homem?  O homem passar a adotar novas práticas e usar novas ferramentas.  Para detectar este tipo de elemento precisamos nos valer de ciências diferentes da história, em especial a arqueologia.
Finley ajuda a pensar sobre a Arqueologia:
"É evidente que a possível contribuição da arqueologia para a história é, grosso modo, inversamente proporcional à quantidade e qualidade das fontes escritas disponíveis. Está igualmente claro que a linha entre a pré-história e a história não é nítida, que tantos séculos depois do aparecimento da escrita as evidências dos historiadores continuam sendo quase que exclusivamente arqueológicas, pelo menos em relação a algumas civilizações, notadamente a grega e a romana. 
Talvez o exemplo mais frustrante seja o dos etruscos: apesar dos cerca de 10 mil textos mais ou menos decifrados e uma considerável, embora tardia e distorcida, tradição romana por trás deles, os conjuntos de artefatos continuam sendo não só a base de todos os relatos como também quase a totalidade das evidências. Um túmulo etrusco nada mais é do que uma coleção de artefatos, a despeito da sofisticação da tecnologia ou das pinturas das paredes, visto que não existe uma chave literária adequada para as convenções e valores representados pelos artefatos. Em nenhum lugar, a doutrina rígida de Piggott é mais necessária e em nenhum lugar ela é mais sistematicamente desconsiderada num derramamento contínuo de história falsa, no sentido literal da frase.
Devemos refletir sobre o que a história nos conta, que elementos, que fontes e que documentos temos para entender e trabalhar.  As fontes escritas na história moderna e contemporânea são abundantes. Entretanto, com história antiga, isso não acontece.  Muito dos documentos se perderam ou nem foram elaborados por falta de fontes.  O representativo de documentos escritos de história antiga é muito pequeno.
O objetivo da pesquisa da história Antiga é refletir, amadurecer e determinar como as sociedades se constituem e se transformam, tirando o nosso olhar de sistemas próximos e aumentando a capacidade de abstração e compreensão dos processos históricos.
Depois desse objetivo, a próxima fase é aprender a trabalhar com o mito.  Até meados do século XX, o historiador não utilizava os dados arqueológicos.  Ele não visualizava a arqueologia como uma ciência independente, acreditando que a arqueologia, assim como numismática (estudo das moedas) eram ciências auxiliares - complementavam dados que o historiador ocasionalmente precisava. Esta tensão levou ao fato que arqueólogos também partissem para construir trabalhos mirabolantes, fugindo da observação e do compromisso que o historiador deve ter, criando perigosas generalizações.  Então precisamos ter um cuidado muito grande, o Arqueólogo não deve se preocupar em fazer história, da mesma forma que o historiador não deve se preocupar em fazer análises.  Existem limitações para cada uma das áreas.  O importante é a compreensão de que as duas ciências devem trabalhar juntas emparceria.
Vamos conhecer mais detalhadamente o  nascimento da História, a cidade e a organização das sociedades humanas.
O processo de consolidação das cidades está associado ao aumento da organização social. Com a ocupação das cidades, crescem os anseios e as necessidades: aumento de produção = aumento de população. 
Analise com atenção a crítica sobre as visões puramente evolucionistas. Roy Porter, no seu livro Das Tripas Coração, sobre a história da medicina, chama a atenção para a sedentarização, que trouxe ao homem mais do que uma evolução: p. 18
"À medida que se multiplicou, a raça humana foi saindo da África, primeiro para as regiões quentes da Ásia e da Europa meridional, depois, para o norte.  (...) Confrontados com a fome, os seres humanos aprenderam por tentativa e erro a explorar os recursos naturais e a produzir seu próprio alimento.  Começaram a cultivar gramíneas selvagens e a transformá-las em cereais domesticados, assim como a controlar cães, bois, ovelhas, cabras, porcos, cavalos e aves domésticas.  (...) Mas se o advento da agricultura livrou a humanidade da ameaça malthusiana da inanição, desencadeou também um novo perigo: as doenças infecciosas. Isto porque agentes patogênicos que antes eram exclusivos dos animais transferiram-se para os seres humanos, através de processos evolutivos longos e complexos: as doenças dos animais saltaram por sobre o abismo das diferenças entre espécies e trasmudaram doenças humanas.  (...) o gado contribuiu para a tuberculose, a varíola e outros vírus (...) porcos e patos transmitiram suas gripes; cavalo, o rinovírus.  O sarampo de cães e gatos para os homens.(...) E os seres humanos mostraram-se vulneráveis de outras maneiras.  Os animais domésticos e de criação, assim como os mais nocivos e os insetos, revelaram-se portadores de salmonelas e outras bactérias; água poluída por fezes disseminou a poliomielite, o cólera, a febre tifoide, a hepatite, a coqueluche e difteria; e os celeiros foram infestados por bactérias, fungos tóxicos, fezes de roedores e insetos. Em suma, os assentamentos humanos fizeram com que a doença também se "instalasse".
Atenção! As buscas arqueológicas na região da mesopotâmia viveram sua decadência durante as primeiras décadas do século XX, quando as guerras mundiais desmoronaram os impérios europeus e o interesse pelo Oriente entrou em declínio.
Estudar a economia, a política e a religião mesopotâmica é um elemento vital para compreender a estrutura social.Nesta aula, estudaremos as leis, divindades e a servidão no mundo mesopotâmico.O período mesopotâmico nas suas principais dinastias aparecem em meio a um panteão bastante parecido. Ambos tem fenômenos relacionados a um momento de purificação pela água que muda o governo dos deuses reis para os reis homens.
O dilúvio foi o marco que permitiu os homens viverem mais próximos dos nossos anos. Em uma sociedade onde se tem uma referência muito forte com essa relação diluviana, precisamos acreditar que aconteceu um fenômeno atmosférico de grandes proporções? Precisamos sim notar o elemento simbólico que a água representa nestas sociedades.
As regiões orientais são influenciadas por processos parecidos, migrações e trocas culturais. Nem todos acreditam em um mesmo conjunto cultural, mas claramente há elementos de trocas que na comparação nos ajudam a compreender nestas sociedades. Importante: precisamos abandonar a ideia de sociedades que se sucedem na Mesopotâmia, tenho grupos diferentes que coabitam, se misturam, se transformam. Por isso precisamos tanto da arqueologia e suas pesquisas sobre as transformações culturais.
Qual é a principal associação da região citada anteriormente com o dilúvio?
A cheia do Nilo acontece porque há as monções de inverno no leito do rio que vão se espalhando. Quando chegam à região, geram períodos de grandes chuvas nas cabeças do Nilo. Há um delta entre as principais passagens desse rio. Ele representa a água e o barro na sua recriação. Na Mesopotâmia, isso não ocorre, não há um regime de chuvas na região. Tem-se basicamente um regime de chuvas que gera pontualmente pontos de alagamento. Não é anual e a ação é muito mais humana (barragem, canal desviado, etc.).
Com a presença de outros grupos, fica clara a existência de várias migrações que acabam sendo vistos como semitas, vindos de regiões asiáticas. Em seguida, começa-se a notar a presença de grupos que vem posteriormente, provavelmente de uma linha bem próxima aos semitas que, em contato com esse grupo, organizaram-se (amoritas - povos semitas que vieram do deserto).
Até a chegada de novas invasões de um grupo mais organizado, no sentido de um reino em combate, os arameus transformaram a escrita cuneiforme em uma escrita cursiva.O importante é observar a quantidade e a multiplicidade que a arqueologia apresenta nesta região. A população local não era específica, única e caracterizada por migrações contínuas e, consequentemente, transformações. Não há uma grande unidade cultural.
Esse tipo de arqueologia, apresentada anteriormente, é do tipo não bíblico. Uma arqueologia que não busca grandes monumentos ou uma afirmação direta de berço da civilização, mas uma arqueologia que vai ter um sentido muito maior de buscar a organização ou o entendimento desse espaço.Os períodos históricos podem ser separados pelos desenvolvimentos de norte e sul. No sul, temos um momento de governo babilônico pouco organizado. de 3000 a.C. - 2.350 a.C. e seguido por um período de dominação de um grupo que ocupava o centro-sul. O domínio dos Acádios é marcado pela arqueologia aproximadamente de 2.350 - 2000 a.C., aproximadamente, até o retorno de uma nova sequência de domínio dos babilônios.
Entendamos que não estamos falando de estados modernos ou coisa que os valham. São reinos que tem regiões de influência, mas que no seu foco possui exércitos muito parcamente organizados. Os acadianos tinham uma dominação, segundo algumas hipóteses culturais, tanto que houve um aumento considerável das plaquetas, pequenas estruturas de barro que apresentavam inscrições. Durante muito tempo, elas ficaram nos porões dos museus na Alemanha em especial por serem consideradas como obras de baixo valor.
Os amoritas são considerados os primeiros a manterem dinastia na região. Alguns defendem a ideia de que esse seria a base do primeiro reino da babilônia estabelecido mais ao sul. São criadas uma série de áreas de dominação das regiões sumérias. Pode-se atribuir aos acadianos a integração das cidades por conta do reconhecimento primeiro do poder dos acadianos e em seguida da organização do reino babilônico ao sul.
A vocação militar Assíria foi ainda mais forte entre os século XVI e XII a.C., por conta de uma série de batalhas contra os Hititas. A vocação militar Assíria foi ainda mais forte entre os século XVI e XII a.C., por conta de uma série de batalhas contra os Hititas.
Já que falamos a pouco sobre a região sul é importante dizer que a  região norte demora um pouco mais a se organizar politicamente.  Uma de suas principais cidades surge como uma cidade comercial: Assur.  Não há presença de política clara, ela paga durante um tempo tributo aos Acádios. Esse tributos não são pagos por domínio, os acádios não dominam essa região, eles são pagos pelo reconhecimento do poder para a manutenção do espaço e em especial a continuidade das rotas comerciais. Não é a dominação política e territorial que nós entendemos hoje como dominação. É uma dominação que tem a ver com todo um conjunto. Assur é uma cidade com uma aglutinação de grupos, com hierarquia social, divisão de poderes e a transformação dos espaços para melhor habitar essa região. A cidade é reconhecida como centro, espaço que fica como referência. Assur fica em um ponto alto, dentro de uma região que tem forma de fortificação, uma estabelecida e importante praça de comércio.
A vocação militar Assíria foi ainda mais forte entre os século XVI e XII a.C., por conta de uma série de batalhas contra os Hititas. Nesse período,também notamos a expansão em direção à Babilônia, por exemplo, quando Tikult Ninurta a saqueia. Definitivamente, no século XIII a.C. é fundado o império assírio a partir da chegada ao poder de Sargão. A formação do império assírio não foi um processo centralizado, não foi um processo que surgiu do acaso. Os principais traços que indicam a organização naquele espaço se referem à atividade comercial. O espaço de Assur surge não como um momento de dominação de um grupo específico que chega, não como um processo cultural estabelecido de uma sociedade, mas com uma organização de poderes locais.
Você sabe qual foi a formação do império assírio?
O império assírio é uma formação interessante, pois ele não tem um discurso étnico de grupo. Sua língua e escrita até seu panteão são claramente influenciados por babilônios.
A organização daquele poder das cidades assírias terão como característica o reconhecimento da hierarquia, uma estrutura que necessitam de elementos para afirmar e constituir-se como grupo. Acompanhe a história.
Um dos principais feitos de Chamsi Addu, por exemplo, foi construir o templo do deus Assur. Assur é um deus com as mesmas proposições de Marduk (principal deus babilônico e que falaremos mais adiante), ou seja, seria o deus protetor da cidade de Assur, aquele que representa o próprio poder. A construção do templo não indica apenas uma religiosidade contínua, mas também procura-se mostrar um poder maior e afirmar a força, o enriquecimento e a organização. Essa falta de um elemento primordial, de um elo de grupo, se sociedade, vai se manifestar e deixar claro como eles são um grupo bem misturado.
A partir daí, esse grupo vai estar cada vez mais inserido em um contexto político e militar, relacionado com essas posições mais ao norte da Península e, cada vez mais, afirmavam uma identidade, a ser reconhecida pela Babilônia em torno de uma nova formação. A dinastia de Sargão é considerado o império mais militar nesse primeiro momento de organização do Oriente próximo. O império assírio, com a dinastia de Sargão, vai conseguir uma das coisas mais raras neste espaço: dominação ampla do espaço da Mesopotâmia.
Como se forma a Babilônia? A grande dificuldade é entender o que é a Babilônia. Ela é um reino? Uma cidade? Uma ideia?
Em algumas cidades no entorno, entretanto, essas plaquetas sempre deixaram dúvidas por estarem muito ligadas às listas de reis. Há uma afirmação neobabilônica, depois do século XII a.C., em que tenta-se entender como esse conjunto virou esse elemento cultural tão reconhecido. Busca-se na arqueologia e percebe-se que as cidades de origem semita se confundem e influenciam as cidades de origem sumérias. É essa mistura que cria o conjunto cultural e uma ideia de que as cidades, estando ou não separadas, na sua administração ou não, é criado um viés cultural que afirma uma linguagem, uma escrita e uma cultura. Tanto que essa região, com a chegada de novos grupos (caldeus, arameus e etc.), não perde essa coalisão cultural, os novos grupos, mesmo entretanto por conflito, incorporam esses elementos culturais.Com isso, podemos entender que a população em torno da babilônia vem de um processo histórico e, talvez por isso, a afirmação da cidade é de um poder bastante específico de um poder que vai ter uma representação para os demais grupos, sempre de uma força singular.
Babilônia é o espaço de Marduk que o deus Sumério que vai ser adaptado para se tornar, no primeiro momento, em torno do século século XX a.C o deus protetor da cidade da Babilônia. O deus que cria, que dá sentido a essa função dos grupos. É ele que organiza a cidade e os grupos depois do dilúvio.A Babilónia que se organiza em torno de um conjunto cultural, de grupos com características particulares que estão afirmando o seu próprio poder, apresenta algumas práticas de agricultura que vão temer a se reproduzir.
A ideia de um trabalho ao mesmo tempo tem áreas comuns nas áreas governamentais e plantadas de maneira própria. É o que Ciro Flamarion Cardoso chama de modo de produção asiático, ou seja, pressupõe ciclos de trabalhos compulsórios e escravidão para perdedores de guerras ou por dívidas. Essas terras comuns são administradas pelo governo. Das terras comuns, o que se retira, vira bem do governo. O zigurate era provavelmente utilizado para armazenamento de grãos das terras comuns. As terras livres eram aqueles que se cultivavam para a subsistência livremente. Marduk, representado como rei da Babilônia, era casado com Ishtar. Uma das maiores descobertas recentes inclusive foi a descoberta do portão de Ishtar na cidade da Babilônia. As duas figuras representavam não só no imaginário comum, mas também tinham uma representação física no poder babilônico. A estátua era o símbolo da sua manifestação de poder e a autonomia na região.
A organização política babilônica tem um nome que não pode faltar na sua lista de reis: Hamurabi. Ele representa uma sofisticação da organização do espaço da Mesopotâmia. Para uma sociedade ser organizada, não são necessárias as leis escritas, mas na prática sempre existem as convenções de grupo. O que é feito no seu governo é a organização política das leis que mudam o seu status social, permitem especialização e grupos para interpretá-las. Hamurabi vai ser preocupar em construir outras cidades nesse espaço em torno da babilônia e aumentar as rotas comerciais sob seu domínio. É a afirmação no século XIX a.C. de um domínio babilônico. Quanto mais poder político, cidades, organização, quanto mais se sofistica a hierarquia, mais gente para disputar esse poder.
Precisamos entender que existe uma aproximação entre os deuses e o modelo de governo. Na formação de Babilônia por exemplo, Marduk mais que o Deus criador, e um dos principais símbolos do panteão babilônico. Sua estátua é o símbolo da autonomia e afirmada como o orgulho da população local.Uma vez usurpada o poder fica marcadamente enfraquecido. 
Marduk é convidado pelos outros deuses para combater Tiamat, a divindade do oceano. Recebe deles todos os poderes. Vence Tiamat, impõe limites ao mar, cria o homem com a argila, a fim de que haja um ser que adore, sirva e conserve os deuses. Alguns deuses, descontentes com os homens, decidem destruí-los. Enill ou Bel organiza o cataclismo. Um dos deuses, Ea, aparece em sonho a um homem de quem gostava - Ut-Napíshtim - e ordena-lhe que construa um navio. O homem neste navio coloca sua família, seus trabalhadores, seu gado, seus animais campestres e sementes. O dilúvio começa, afoga todos os homens. Os deuses horrorizam-se com tal espetáculo e a Rainha dos deuses Ishtar, lamenta-se: “A antiga raça dos homens voltou a ser argila e eu concordei com esse ato funesto, no Conselho dos Deuses, quando consenti nesta tempestade que destruiu meu povo!” A tempestade desabou durante sete dias. Ut-Mapishtim solta uma pomba, que volta, depois uma andorinha, que torna a voltar, depois um corvo que não regressa. Fez o navio parar e ofereceu no cume da montanha, um sacrifício em torno do qual os deuses se juntaram. O deus que organizou o cataclisma, Enlil queixa-se a Ea, que revelou seu plano, de traição. Depois que tudo se acalmou entre os deuses conferiu a imortalidade a seu favorito Ut-Napishtim e à sua mulher."
O Código de Hamurábi é um dos primeiros documentos de natureza jurídica concebido pela humanidade. Outro código organizado tem o mesmo fundamento na relação olho por olho e dente por dente. É a Lei de Talião, elemento que indica a importância desse momento uma vez que denota a intensa troca cultural ocorrida no período observada a partir da adoção no Antigo Testamento do preceito de Talião, provavelmente ao longo do período em que os hebreus tornaram-se cativos na Babilônia. Observe a seguir alguns elementos importantes.
É importante você compreender no que consistia a modalidade de servidão coletiva, uma prática legitimada por este Estado tão burocrático, embora existissem, segundo o código, outros tipos de relação trabalhista, como a escravidão.Com essas inserções sobre oCódigo, a questão de transmissão do patrimônio torna-se inteligível. Corresponde à prática moderna da sucessão para os herdeiros dos bens do falecido. Devemos destacar, porém, o elemento de religiosidade que permeia essa relação, diferente dos tempos modernos que laicizou por completo tal elemento.
Nabuco Donosor pode ser considerado o sucessor político de Hamurabi, uma vez que seus sucessores imediatos não conseguiram manter o poder que já tinha nas cidades que cada vez mais afirmavam sua autonomia. Várias cidades vão se enfraquecendo nos governos que se sucedem até o ponto onde os saques, a babilônia e as estátuas desaparecem. É Nabuco Donosor quem reconduz as estátuas de Marduk a Babilônia. Ele que vai afirmar como deus principal da Mesopotâmia, estimulando os escritos do deus e de seus feitos para recuperá-lo.
Devemos destacar que o governo que nos referimos é de origem caldéia que, apesar de dominar a região, dado a sua força e reconhecimento cultural, opta por afirmar-se como rei da babilônia, são duzentos anos que separam Hamurabi e Marduk, mas a afirmação fica claramente delineada.Durante a expansão de Sargão, tem-se um domínio definitivo dos assírios na região da Babilônia. Esse domínio vai ter uma característica peculiar: Sargão é o primeiro a ser tratado pela historiografia como imperador, no sentido de rei dos reis, um domínio não territorial mas por reconhecimento. Por exemplo, Marduk será mantido na Babilônia, desde que seus impostos e seu reconhecimento seja mantido. O rei da babilônia é súdito de Sargão.
O entendimento do Egito fica muito restrito a um ideário direcionado não ao estudo em si, mas a algo independente. Sempre surge a ideia de tumbas, múmias, pirâmides.  Temos que, em primeiro lugar, acabar, ou pelo menos, rediscutir os mitos.  Definitivamente, não vamos discutir se foram os alienígenas que construíram as pirâmides.Vamos começar por quebrar o primeiro mito: o Egito não é uma dádiva do Nilo, no sentido de que basta o terreno geograficamente favorável para o homem se desenvolver.  As sociedades do Egito se desenvolvem para além do Delta, área das principais inundações.  Suas estruturas são complexas e dependem diretamente da ação humana no uso de diques.
Christian Jacq, é um grande autor, responsável em muito pelo interesse na sociedade Egípcia. Jacq nasceu em Paris, em 1947. Formado egiptólogo, escreveu diversos trabalhos sobre os faraós e seus súditos. O autor de Egito dos Grandes Faraós, entre obras de ficção e trabalhos sérios, faz uma defesa apaixonada contra os preconceitos que, muitas vezes, saem sobre o Egito.  Essa visão cotidiana é muito preconceituosa e reproduz a mesma lógica social: as pessoas acham que o Egito é uma sociedade voltada para a morte e que o faraó nasce já pensando no dia de sua morte. Esse elemento é o primeiro que devemos desconstruir, identificando as fases da História egípcia. As pirâmides, por exemplo, são das primeiras dinastias faraônicas.  Foram criadas como uma necrópole de enterramento onde todos os reis eram enterrados.  Não existe uma grande construção particular. Na pirâmide de Quéops, a mais conhecida, não foi encontrado nenhum vestígio de enterramento.  As pirâmides eram construídas com o objetivo de marcar, registrar o nome de seus idealizadores, da dinastia egípcia para sempre.
 Precisamos lembrar a lição de Jacques Le Goff ao discutir monumento e documento:  monumento é aquilo que se produz com o objetivo de o passar para a História como um marco para as demais sociedades; documento é aquilo que faz parte do cotidiano que não, necessariamente, são feitos para a prosperidade.
Muitos dos traços que encontramos sobre História antiga têm essa preocupação: foram construídos para marcar a posteridade. Os monumentos não são só obras físicas. Quando se faz um compêndio, um livro por exemplo, reunindo todas as fontes documentais sobre um determinado assunto, é um monumento.  Foi elaborado para marcar o papel que se quer dar aquilo.  O monumento não fala só sobre a continuidade da história, mas também das relações cotidianas normais, das relações próximas e dos grupos presentes.
No Novo Império e Império Tardio aparece um documento diferente dos documentos esculpidos em pedra, uma espécie de folha em material vegetal, que foram reescritos, trabalhados: o papiro.  Esse material começa a deixar registrado relações comerciais, migrações etc. Já não é escrito na língua da elite egípcia, alguns traços ficam, mas é escrito em copta. Copta - é uma língua, um escrito e tem a característica de ser a linguagem que faz relação direta com a produção fonética local, ao inverso do sentido de representatividade dos hieróglifos, representados nos monumentos egípcios.
Mas, vamos ver um pouco de arqueologia. No século XVIII e XIX, muitos monumentos e muitas pirâmides continham uma série de símbolos e isso causou muita discussão sobre qual o significado e papel deles.Surge um embate entre as escolas  inglesas e francesas, porque uma defendia que os símbolos era uma linguagem (francesa) e, a outra, defendia que era um exercício simbólico de enfeitar os espaços.  A partir dessa discussão, foi descoberto por generais franceses uma pedra de um monumento do Império Tardio, provavelmente no período em que o principal general de Alexandre, Ptolomeu, foi faraó egípcio, no século III a. C.
O uso da escrita hieroglífica significa reconhecer o poder e o passado do povo egípcio, mas, a partir daquele momento, ele entrava para o rol dos faraós, ficando marcado para a prosperidade, conforme os traços hieroglíficos.  Uma referência de 2.000 anos antes, valorizada no século III.
O Egito não é só a morte dos deuses, dos astronautas, construtores de pirâmides.  E nem o faraó é uma instituição política que permanece durante os mil anos inalterado.  Estes usavam essa denominação na busca de dar sentido ao poder, oferecer coesão às populações do entorno egípcio. Na verdade, se honra e se reproduz poderes maiores e muito antigos.
Os momentos arqueológicos, durante as disputas arqueológicas do século XVIII e XIX, deixam o Egito no auge. As estórias contadas são muitas; o fascínio era enorme. Dessa época surgiram alguns questionamentos e perguntas:
Bem, os museus europeus foram inundados de arte egípcia, aliás, hoje encontramos mais referências na Europa do que no próprio Egito. Entretanto, muitas questões ainda não tinham ficado claras até uma das mais emblemáticas expedições conseguirem um feito inédito: encontrar uma tumba praticamente intacta.
Tutancamom - Um primeiro grupo consegue entrar no túmulo, há uma porta que se abre no chão e é encontrada uma escada. A Câmara do túmulo tem as maldições de um lado e do outro da porta, surpreendentemente intacta.  Há apenas um buraco na lateral da entrada da tumba e chegam à conclusão que após uma tentativa de rompê-la, essa tumba foi abandonada. Eles descobrem, por esse panorama, a tumba do faraó menino, Tutancamon.Vale pensar que ele não foi um dos faraós mais famosos do Novo Império, nem tampouco forte e, talvez por isso a arqueologia tenha encontrado sua câmara intacta.  Ele governou por pouco temo, morreu muito jovem e é considerado o filho de um herético, de alguém que rompe com o deus Amon e tenta estabelecer no Egito outra religião.
Enfim, Tutancamom não foi um faraó que teve a maior ou melhor tumba estabelecida.  Mas é, justamente em torno dele que surge a real possibilidade de entender como funcionava o funeral como um todo.  Foi identificado uma múmia intacta e todo o conjunto do sarcófago.  O interessante é como ganhou uma fama sem precedentes no período contemporâneo. Se não bastasse o achado, seu caráter mítico afloraria. A "maldição" começa a funcionar, os arqueólogos e aventureiros que acharam o túmulo morrem de maneira misteriosa.  Temos explicações atuais diferentes e que não eram preocupações no século passado: espaços que permanecem fechados durante muito tempo, como no caso, estão repletos de fungos e bactérias que o organismo não é capaz de suportar. Assim, é a literatura fantásticados princípios do século XX que transforma a múmia e suas maldições em mitos e,  para isso, muitas vezes temos a referência a Tutancâmon.
Linha do Tempo
Como estudiosos, temos que entender o Egito. Depois da questão linguística, entender como os Egípcios se relacionavam com o tempo é o maior desafio. No Egito não há uma cronologia fixa, não há uma linha de tempo.  A contagem do tempo no Egito aparece em torno do governo, das dinastias.  A princípio, seria simples. Bastaria colocar as listas de reis uma ao lado da outra e, como existem muitas, isso não é possível para fechar uma contagem cronológica.  O problema é que as listas não coincidem uma com as outras e, além disso, o Egito tem uma prática bastante comum de divisão do trono, a corregência. Os estudiosos fizeram várias propostas para tentar cruzar os dados.  Uma das propostas dentre as utilizadas foi cruzar com outras cronologias de tábuas de reis de outras regiões.  A cronologia que adotamos hoje é proveniente do cruzamento dos estudos de Carbono 14, referências astronômicas, documentais,  para chegar a melhor cronologia possível. Observe ao lado.
Cronologia Egípcia:
O reino Antigo ou Império antigo (+ ou - 3.000 - 2160 a.C.)
Primeiro período Intermediário (2.160  - 2134 a.C.)
Reino médio ou Médio Império (2.134 - 1785 a.C.)
Segundo Período Intermediário (1785 - 1552 a.C.)
Reino Novo ou Novo Império ( 1552 - 1070 a.C.)
Império Tardio ou Baixa época (1.070 – 30 a.C.)
OBS.: Todas as datações são aproximadas e oferecem questionamentos.  Nas listas dos reis, por exemplo, não aparecem os períodos intermediários. Alguns faraós aparecem com governos indistintos durante longo período.
Imaginando esse posicionamento, entende-se que há um primeiro processo dinástico sendo estabelecido.  Esse processo não acaba com a força dos antigos clãs e nem com a força das antigas cidades.  Quem é esta figura, este monarca que unifica o Egito? Não, não falamos de Menés, mas do Faraó.  É um rei, é uma força, é um símbolo de domínio. Devemos, em especial no Antigo Império ou reino antigo, encarar o faraó como uma representação do poder, a representação de uma aliança. O Faraó representa a unificação das duas coroas do Egito. Avance a tela e veja com atenção o porquê.
Por que unificação? Porque havia uma disputa de coroas sobre quem seria o detentor dos caminhos da região tratada como Egito.  Mais do que uma disputa direta por uma coroa, havia vários nomos que disputavam as terras e seu controle, e a união de norte e sul era o ponto mais intenso dessa disputa.  Daí as duas coroas.
Faraó, como administrador, controla uma série de terras comuns e, nessas terras, trabalhavam tanto a população egípcia quanto os escravos. Mais do que isso, havia a responsabilidade das grandes construções e quem ficava à frente desses trabalhos era o vizir, construtor e auxiliar direto do monarca. As grandes construções não são só as pirâmides, são também a abertura de canais de melhoria da irrigação e a construção de templos.  
Se Menés representa a figura do unificador, é no governo de Djoser que o Egito ganha definitivamente sua estrutura faraónica. Djoser, significa "o iluminado"; "o vitorioso;"  A sua dinastia foi considerada a primeira grande dinastia do Egito faraônico.  O seu braço de ação é o seu vizir e construtor Imhotep.  Sobre essa relação entre os dois, muitos defendem um anacronismo para melhor compreensão: é de um monarca ou presidente e seu primeiro-ministro. Um seria aquele que representa o poder, ainda que tenha uma ação política e o outro, aquele que operacionaliza as negociações políticas e dá ação aos projetos.  Devemos fugir dos anacronismos, mas é só para um melhor entendimento.  O que temos clareza é da formação de uma hierarquia administrativa e que essa hierarquia não se passa apenas na relação do Faraó e do vizir, mas vai perpassar também os sacerdotes, líderes militares, representações nomarcas etc.
 
Esta aula traz conteúdos de suma importância, não apenas para a compreensão do Egito Antigo, mas também para entender a cobiça que outros povos tinham em relação à região. Embora tenha se erguido em um ambiente muito inóspito, ou seja, próximo ao deserto, esse povo conseguiu utilizar com sapiência o recurso natural de que dispunha, a regularidade das cheias do Nilo. Além disso, desenvolveu uma forma intermediária de trabalho, a servidão coletiva que era também compulsório aos seus destinatários, mas não se comparava ao regime escravista. Enfatizamos, dessa forma, a aceleração do processo de desigualdade social a partir das formações estatais, acrescentando a ela um componente novo, a imobilidade social. E ainda, a questão da escravidão como fruto natural de conquistas territoriais e não direcionada a essa ou aquela etnia.
Começaremos finalizando a linha política que havíamos proposto, uma vez que paramos em um momento político de crise com Primeiro Período Intermediário. Pela cronologia, podemos notar que este lapso é bastante curto, porém profundo, uma vez que transforma completamente o poder da própria figura faraônica. Quando falamos na figura do faraó, temos que pensar na figura da sagração que marca esse traço. O nome sagração nos remete à ideia de sagrado, aquele movimento que tem a chancela do sagrado.  Quando se observa essa questão da sagração, entende-se que por mais que as cerimônias sejam consideradas simples, elas tem um efeito simbólico dentro da estrutura local. Assim, entendemos a figura do faraó do Médio Império. Ele perde completamente sua força e sua ação política, no entanto em nenhum outro momento ele foi tão sagrado. O faraó deixa de poder ser tocado, visto de maneira direta, é um deus, mas fica distante das questões humanas. No momento em que se tem toda aquela disputa e a elite sacerdotal está assistindo a figura do faraó, ela ganha uma função especial, os poderes locais e a aristocracia passam a ter uma força singular na estrutura social. A escolha do faraó é uma questão política.  Existe um traço, o faraó é escolhido pelos sacerdotes, não necessariamente a morte de um faraó gera a busca de um novo ou o trono é garantido a seu filho no reino Médio. Em vários momentos, os conflitos e a própria elevação à corregência cria a ideia de dois ou três faraós. Tal modelo político geral uma lenta e constante deterioração das estruturas centrais. Grupos estrangeiros foram ocupando áreas do Egito e, em cerca de cem anos o poder do Faraó era apenas uma sombra poderosa. É o segundo período intermediário, espaço de dominação do Hicsos. Somente após quase cerca de 150 anos observamos a ideia de um retorno faraônico. Mas, sobre essa transição veremos mais na próxima aula.  Hoje discutiremos a questão da religião e do poder dos mitos no mundo egípcio.
A questão do mito é importante para conhecer um pouco da história e da organização egípcia. Alguns dos próprios faraós têm na sua construção se são homens ou deuses. O que se sabe é que o próprio faraó é fruto de uma representação mítica de uma batalha divina. São aqueles que representam a unificação da coroa. O que seria um faraó? A questão do mito é importante para conhecer um pouco da história e da organização egípcia. Alguns dos próprios faraós têm na sua construção se são homens ou deuses. O que se sabe é que o próprio faraó é fruto de uma representação mítica de uma batalha divina. São aqueles que representam a unificação da coroa. O que seria um faraó?  Seria a reprodução do Maat, a reprodução da terra perante os deuses, a própria casa da coroa de Horus personificada entre os homens ou aqueles que representam Amon e a liderança do sol nesse mundo.
A organização do Egito terá um fundamento que será explicado. Esse próprio fundamento varia de momento para momento e sempre com explicações religiosas. E essas explicações religiosas estarão representando, o momento de auge do templo de Amon ou pode representar muito mais, buscando origens para sua legitimidade, como no Novo Império e no período ptolomaico; é a coroa de Hórus que é buscada é a união de Isis eOsíris, do homem e da mulher, do bem e do mal, como a representação do faraó como aquele que media essas forças. Por isso ele é a coroa de Horus entre os homens.
Bem, agora, vamos fazer uma leitura da descrição elaborada pela professora Eunice Simões Lins Gomes, em seu artigo sobre Ísis: “Para descrever o mito de Isis, resolvemos começar detalhando sua origem. Tentamos reconstituir a história cósmica a partir de Moustafa Gadalla (2003), Christiane Noblecourt (1994) e Christian Jacq (2000), todos baseados nos registros de Plutarco, colhidos entre os egípcios. Tudo inicia com Atum, o Princípio Criador, Senhor do Universo, autocriado, que cuspiu, gerando um casal, irmãos gêmeos Shu e Tefnut. Estes, deram origem a Nut (o céu) e a Geb (a terra), que eram estreitamente ligados.” “Sendo assim, Atum ordenou que fossem separados, proibindo-lhes qualquer união sexual, mas sua ligação era tamanha, que desobedeceram a ordenança e Nut ficou grávida de quatro gêmeos: Ausar (Osíris), Auset (Isis), Set (Seth) e Neb-Het (Néftis). Ausar (lua minguante e lua crescente, representa a natureza cíclica do universo) casou-se com Auset e tornou-se rei da terra, primeiro faraó do Egito, visto ser Auset (assento, trono, autoridade) a herdeira legitima, o trono físico real.”
Vamos começar a partir da descrição da história.
“Set casou-se com Néftis, mas como era estéril não teve filho. Tendo inveja de seu irmão Ausar o odiou por sua popularidade, então resolveu matá-lo, arranjou uma briga e assassinou-o traiçoeiramente. Depois de mata-lo cortou o corpo de Ausar em quatorzepedaços, um para cada noite de lua minguante, e espalhou-o por todo Egito. Morto Ausar, Set tornou-se rei do Egito e governou como um tirano. Auset, a viúva fiel, recusou a morte do seu amado e elaborou um projeto insano, encontrar todos os pedaços do cadáver e reconstituí-lo. Ela queria reconstituir lhe a vida. Ela encontrou todas as partes, menos o falo, que fora engolido por um peixe. Então, convocou sua irmã Nebt-Het (senhora do templo, do culto) e organizou uma vigília fúnebre. Isis e Néftis, de corpo purificado (inteiramente depilados e boca purificada), pronunciaram encantamentos numa câmara funerária, obscura e perfumada com incenso. Isis invocou todos os templos e todas as cidades do país para que se juntassem as suas dores e fizessem a alma de Osíris regressar do além. Também tomou o cadáver nos braços e seu coração bateu de amor por ele, e murmurou-lhe palavras de amor ao ouvido.”
“Mas nada deu resultado, então, transformou-se num falcão fêmea, bateu asas para restituir o sopro da vida ao defunto. E pousou no lugar do falo desaparecido de Osíris, que ela fez reaparecer por magia.”
“Pode-se dizer então que as portas da morte abriram-se diante de Isis, que conheceu o segredo fundamental, a ressurreição, conseguiu fazer regressar aquele que parecia ter partido para sempre e ser fecundada por ele. Assim, foi concebido seu filho Hórus (Heru), nascido da união da vida e da morte. Quando Set descobriu o nascimento da criança, tentou matar o recém-nascido. Mas Auset o escondeu e assim Hórus foi criado em secreto às margens do Delta do Nilo. Quando cresceu, Hórus desafiou Set pelo direito ao trono, e assim travaram muitas batalhas, numa das quais Set chegou a arrancar o olho de seu sobrinho e lançá-lo no oceano celestial.” “Contudo, nenhuma batalha foi suficiente para derrotar um dos guerreiros. Sendo assim, ambos se apresentaram ao conselho de neteru (poderes/atributos/ações do Único Deus), que determinou que Hórus deveria ser o governante sobre o Egito e Set deveria reinar sobre os desertos.”
Enfim, Hórus representa a união das duas coroas e é o símbolo de um novo Egito. Um Egito que vai se afirmar na sua imagética, como vemos ainda no Antigo Império com Djoser.  Nas palavras de Christian Jacq (O Egito dos Grandes Faraós): "graças a uma inscrição encontrada em Uadi Hammamat, vale por onde passa a estrada que vai da cidade de Coptos ao mar Vermelho, sabemos que o faraó envio expedições ao Sinai. Nos rochedos do Uadi Maghara, na península do Sinai, estão representados vários soberanos, entre os quais Djoser, que bate com sua maça piriforme num chefe beduíno prostrado em sinal de submissão.  
Mais do que um acontecimento particular, devemos ver nisso o símbolo do poder exercido por Djoser sobre as tribos nômades que já não ousam transpor as fronteiras do "Duplo país" e perturbar a serenidade dos egípcios.  E talvez devamos igualmente compreender que Djoser já mandava explorar as minas de cobre do Sinai. Seja como for, a cena clássica do faraó derrubando o inimigo assume aqui um valor especial: trata-se da vitória da ordem sobre o caos, de Djoser, o Magnífico, sobre as forças obscuras do mal.”
“Outro fato parece pertencer mais à lenda do que à História, mas a sua importância merece que o assinalemos com alguns pormenores.  No reino de Djoser teria havido uma grande fome.  Infelizmente, não o sabemos por meio de um documento contemporâneo, mas sim por uma estela da época ptolomaica separada da terceira dinastia por um bem considerável número de anos.  A estela intitulada "da fome" está gravada num rochedo descoberto ao sul da ilha de Sehel, na região de Elefantina, na extremidade meridional do Egito.” “Fato extraordinário: os sacerdotes que gravam esse texto dataram-no da época de Djoser!  É evidente que não tencionavam enganar quem quer que fosse com um documento falso. Podemos portanto, considerar que um dos ptolomeus se identificou com o seu remoto e glorioso antepassado, Djoser, a fim de dar um caráter sagrado à sua própria luta contra a fome.  Também é possível supor que tenha sido transmitido um documento histórico que evocava acontecimentos antigos.”
O que nos conta a estela da fome? Ela nos diz que Djoser está profundamente triste. Sentado em seu trono, na solidão do seu palácio, sente um verdadeiro desespero. A seca já dura sete anos. O Nilo não voltou a transbordar e a depositar na terra do Egito o lodo fértil, é a miséria e a fome para todos. Os corpos mais vigorosos perdem a força; em breve sequer terão força para andar. As crianças choram; os velhos fatalistas estão sentados no chão à espera da morte.  Mesmo os cortesãos passam privações. Os templos vão sendo fechados um a um. O serviço dos deuses não é mais seguro.
Qual a razão desta desgraça?  Pergunta Djoser.
“Volta-se para os sacerdotes do culto de Imhotep, o filho do deus Ptah, sábio entre os sábios. Que se passa?  porque motivo o Nilo, o sinuoso, a que que serpenteia, já não cumpre a sua missão?  Os sacerdotes procuram nas salas dos arquivos do templo de Thot, na cidade santa de Hermópolis.  Desenrolando os livros sagrados, recolhem preciosas informações, que transmitem a Djoser.
No meio das águas existe uma cidade: Elefantina.  É uma cidade notável, sede de Rá, o deus sol, quando este decide conceder a vida. Ora, existem lá duas tetas que dispensa todas as coisas. "O Nilo", diz a estela, "acasala saltando como um rapaz que fecunda uma mulher e recomeça a ser um jovem cujo o coração está vivo"  Mas este renascimento anual depende de um deus: Khnum, homem com cabeça de carneiro, cujas duas sandálias são colocadas sobre as ondas. Se Khnum não as levantar, não será libertado. O Nilo não rejuvenescerá, e o vale estará condenado à seca."
Seguindo a linha de Sérgio Couto, em seu livro Desvendando o Egito, pensemos no trabalho desenvolvido nas paredes dos túmulos. Muitas delas contam, como se fosse uma história em quadrinhos sem texto, cenas do cotidiano do falecido.A parede onde o desenho seria aplicado era primeiramente revestida de gesso branco para, em seguida, ser aplicada tina sobre aquela camada.  O traçado do desenho era feito com um sistema composto por linhas mestras que dividiam a parede para efeito de decoração, de maneira a obter superfícies delimitadas e reservar certos espaços para cenas diferentes.Havia também uma outra rede linear que era apagada posteriormente. Era usada para obter as proporções. Essa grande dividia o registro em quadrados de tamanhos iguaisem figuras que se integravam e isso é um princípio geométrico, bidimensional.
Outro aspecto a ser fundamentado é o motivo para a adoção do politeísmo na prática da religiosidade egípcia. Deve se remontar à sua origem, ou seja, a unificação dos nomos. Como cada um possuía suas próprias divindades, elas foram conservadas dando origem a um vasto Panteão.Um importante conceito  é o de mentempsicose, ou seja, crença de que alma voltaria a habitar o corpo após a morte. Sua relevância consiste no fato de justificar a preocupação desse povo com a conservação dos cadáveres.
O diálogo entre magia, os mitos e a organização política não é um caminho fácil, mas é algo absolutamente necessário. Neste sentido, antes de mergulharmos nas relações políticas, buscamos as explicações de Christian Jacq sobre a magia e sua relação com os faraós no mundo antigo. Abaixo, colocamos parte do texto: "O mundo mágico do Antigo Egito, Bertrand Brasil”, 2001, escrito por Christin Jacq.
O mundo mágico do Antigo Egito, Bertrand Brasil Christin Jacq. Os textos mágicos, que formam uma parte considerável da ”literatura” egípcia, estão inscritos em suportes materiais variados: papiros (desde o Império Médio), óstracos (placas de calcário), esteias, estátuas, múltiplos pequenos objetos. Os eruditos contemporâneos, habituados a fazer dissecações racionalistas, ganharam o hábito de classificar os textos egípcios em ”literários”, ”históricos”, ”religiosos”, ”mágicos”, etc. Essas distinções formais não correspondem à realidade. O Conto do Náufrago, reconhecido como ”literário”, é uma história de magia admirável. Os ”Textos dos Sarcófagos”, ditos ”funerários”, apelam constantemente para a magia. Na medida em que um texto está escrito em hieróglifos, é por inerência eficaz; poder-se-ia até dizer que todo o escrito egípcio é por essência mágico, ainda que se tenha de reconhecer diversos graus na aplicação desse princípio. No entanto, alguns textos destacam-se do conjunto pela sua importância ou pela sua originalidade. Entre eles, o Livro dos Dois Caminhos, inscrito em sarcófagos do Império Médio, confere ao morto o conhecimento dos caminhos do Além. Dois caminhos, um de terra, outro de água, são separados por um rio de fogo. Outras tantas vias de acesso simbólico a um país povoado de gênios temíveis. É lá que se encontra uma espécie de Graal que o justo descobre depois de ter vencido numerosas provas cujas chaves só um conhecimento “mágico” poderá fornecer-lhe. Os Livros de Horas são conjuntos de fórmulas que o mágico recita durante as horas do dia e da noite para obter os favores das divindades. O Papiro Bremner-Rhind, onde se conta a luta das potências solares contra a monstruosa serpente Apopi, gênio das trevas, registra também um tratado esotérico sobre a natureza divina. É-nos revelado que o Mestre do Universo criou o conjunto dos seres quando o céu e a terra ainda não existiam. O plano da criação foi concebido no próprio coração dele. De Um, o arquiteto dos mundos tornou-se Três. Provocou mutação e transmutações, instalou-se no cabeço primordial, primeira terra emergida. Quanto aos homens (remetj), esses nasceram das lágrimas (remetj) do deus, quando chorou sobre o mundo. A Esteia de Metternich é a mais célebre das esteias mágicas. É uma verdadeira ”banda desenhada” mágica a que se narra na Esteia de Metternich, documento importante que só por si mereceria um extenso estudo. No cimo do monumento vêem-se oito babuínos a adorar o Sol nascente, enquanto Tot dirige o ritual. Trata-se da criação mágica da Luz e da luta contra as forças das trevas, expressa simbolicamente nos registros inferiores da esteia. A figura central é a de Hórus, representado como uma criança nua, com os pés pousados em cima de crocodilos, e tendo nas mãos animais venenosos ou perigosos. Se o jovem deus, portador da cintura da infância, não teme qualquer perigo e domina as forças do mal, é porque é protegido por numerosas divindades, nomeadamente por Bés, cuja enorme cabeça sorridente é garantia de segurança. (Esteia de Metternich, rosto). Data do século IV a. C. e registra um texto notável que trata da cura mágica de Hórus criança, picado por um animal venenoso nos pântanos do Delta onde vivia escondido em companhia de Ísis, a mãe. Na parte superior do rosto da esteia vê-se Hórus de pé em cima de crocodilos a agarrar criaturas maléficas. O jovem deus é protegido por Tot, o Mágico, e por Hathor, deusa da Harmonia. Por baixo, uma ”banda desenhada” simbólica inclui sete registros onde figuram deuses e gênios, desenvolvendo a sua atividade em múltiplas cenas de conjura. No cimo da esteia, oito babuínos celebram com os seus gritos o nascimento da Luz. A Esteia de Metternich evoca igualmente o papel da grande mágica, Ísis. Quando encontra Hórus, o filho agonizante, apela aos habitantes dos pântanos, mas nenhum deles conhecia remédio apropriado. Ninguém podia pronunciar palavras de cura eficazes. Iria o Criador, Atum, permitir que a vida se esfumasse? Ísis retira Hórus do ataúde onde repousava e lança um longo lamento que atinge o céu. A sua ameaça é aterradora: enquanto o seu filho não for curado, a Luz não brilhará. As potências celestes, assim forçadas, intervêm a favor do jovem deus: ”Desperta, Hórus!” - é dito. O veneno perde a sua capacidade nociva, depois torna-se ineficaz. Hórus cura-se. A ordem do mundo é restabelecida. A barca divina percorre novamente os espaços celestes. Outro documento surpreendente: ”a estátua curadora” de alguém chamado Djedher, guardião das portas do templo de Athribis. Descoberta em 1918 e conservada no Museu do Cairo, oferece informações acerca das práticas religiosas do século IV d.C. Assente num pedestal e medindo 65 centímetros de altura, esse monumento de granito negro representa uma personagem acocorada, braços cruzados, as costas contra um pilar. O corpo está coberto de inscrições, com a exceção do rosto, dos pés e das mãos. A superfície do pedestal está cavada de modo que duas bacias ligadas por um rego recolham a água que se impregnou de magia depois de ter sido derramada sobre a estátua. Bebendo essa água, o doente curar-se-á. Sobre qualquer estátua curadora, a menção do nome próprio do defunto é importante. Àqueles que queriam utilizar magicamente a sua estátua, o morto pedia que lessem em seu favor os textos rituais. Aparecia assim como um salvador produzindo milagres. ”Oh, qualquer sacerdote”, diz um texto da estátua, ”qualquer escriba, qualquer sábio, que veja este Salvador! Recitai os seus escritos, aprendei as suas fórmulas mágicas! Conservai os seus escritos, protegei as suas fórmulas mágicas! Dizei a oferenda funerária que o rei dá em mil coisas boas e puras para o ka (a potência vital) deste Salvador que fez o seu nome em Hórus-o-Salvador”. Na mesma categoria de documentos se classifica uma base de estátua de granito negro (32,2 centímetros de comprimento, 12 centímetros de altura) adquirida em 1950 pelo Museu de Leiden. Coberta de textos mágicos é aproximadamente da época ptolomaica. Os textos revelam que Ísis, vinda de uma moradia secreta onde tinha colocado Set, utilizou todas as capacidades da magia para curar uma criança picada por desgraça por um dos sete escorpiões que a precediam nas suas deslocações. Entre as estátuas ”mágicas”, deve ser dado um lugar à parte à do faraó Ramsés III encontrada no deserto oriental. A sua função era a de proteger os viajantes contra os animais malfazejos, nomeadamente as serpentes. Os que se aventuravam nas paragens do istmo do Suez beneficiavam assim dos favores de Ramsés III divinizado, cuja efígie, colocada num pequeno oratório, emitia uma influência benéfica. Na estátua (ou, mais exatamente, no grupo esculpido, porque o rei era acompanhado por uma deusa) estavam gravadas fórmulas mágicas que, assegurando a salvaguarda de Hórus criança, garantiam também a do viajante. Uma corporação de magos, os sau, quer dizer, ”os protetores”, estava encarregada de velar pela segurança daqueles que percorriam as pistas do deserto. Ramsés III teve relações especialmente estreitascom o universo da magia. Quando do sombrio processo criminal batizado ”conspiração do harém”, conspiração fomentada por dignatários, estes utilizaram a magia mais negativa para tentar suprimir o chefe do Estado. Um dos conjurados tinha conseguido retirar dos arquivos reais um texto mágico ultra-secreto. Fez uso dele contra o seu soberano. Os membros da maquinação fabricaram figuras de cera que representavam os guardas do faraó e conseguiram assim paralisá-los. Esperavam, sem dúvida, poder ir mais longe e atingir a própria pessoa do faraó, mas foram identificados e capturados. A utilização da magia como arma criminosa foi considerada delito muito grave, castigado com a condenação à morte, sendo a sentença executada sob a forma de suicídio. Vários museus guardam papiros mágicos, de interesse desigual. Citamos acima o Papiro Bremner-Rhind e poderíamos estabelecer uma longa lista de documentos (entre os quais alguns inéditos ou não traduzidos, ou ainda inacessíveis por razões obscuras). Um deles, o Papiro demótico de Londres e de Leiden, goza de um renome algo injustificado. Esse documento de época tardia mistura práticas divinatórias, receitas de baixa feitiçaria e antigos elementos mitológicos. É o reflexo de uma mentalidade mágica, dando um lugar não negligenciável a sortilégios dos quais um bom número visa conquistar a mulher amada. Esse papiro não foi, de resto, redigido para uso apenas dos Egípcios, mas também dos Gregos e dos Cristãos. Arquivos sagrados e bibliotecas mágicas Em egípcio, os arquivos sagrados são chamados baú Ré, ”potências do deus do Sol”. ”Os livros”, explica um papiro 13, ”são a potência do rei da Luz no meio do qual vive Osíris”. É, pois por intermédio desses arquivos sagrados que comunicam as duas grandes potências divinas, Ré, deus da Luz, e Osíris, senhor das regiões tenebrosas. Os autores dos livros mágicos não são homens, mas sim Tot, o mestre das palavras sagradas, Sia, o deus da Sabedoria, Geb, o senhor da Terra. Escrevendo esses livros, legaram à humanidade mensagens que ela pode utilizar com conhecimento de causa. O mágico deve, portanto possuir um conhecimento perfeito do mundo divino. No cume da sua arte, é mesmo considerado como o Mestre da Enéade, corporação de nove deuses que tem um papel principal na origem de toda a Criação. Portador da grande coroa, o mágico torna-se redator de textos sagrados. O egípcio gosta da escrita. É o escrito que registra o conhecimento. ”Ama os livros como amas a tua mãe”, é recomendado àquele que procura a sabedoria. O mágico não se contenta em ler: engole os textos, coloca pedaços de papiro numa tigela, bebe o Verbo mágico, ingere as palavras portadoras de significado. Esse rito extraordinário foi transmitido aos construtores de catedrais. Perto da múmia era depositado um papiro encarregado de repelir as forças hostis e de permitir ao morto entrar em completa segurança nas regiões desconhecidas do Além. Esses escritos mágicos eram colocados ora perto da cabeça, ora perto dos pés, ora entre as pernas do corpo mumificado. O morto dispunha assim de fórmulas eficazes, de itinerários, de indicações que deviam ser seguidas para que a sua viagem póstuma fosse bem sucedida. Cada templo possuía uma biblioteca mágica onde se conservavam as obras necessárias às práticas rituais e ao ensino esotérico dos praticantes. Em Edfu, por exemplo, dispunham de obras para combater os gênios malignos, repelir o crocodilo, apaziguar Sekhemet, caçador de leões, proteger o faraó no seu palácio. O mágico rege a sua vida quotidiana pelas leis cósmicas; por exemplo, ”o dia vinte do primeiro mês da inundação é o dia de receber e de enviar cartas”. A vida e a morte saem nesse dia. Faz-se nesse dia o livro fim da obra. É um livro secreto, que faz malograr os encantamentos, que detém e trava as conjuras e intimida todo o universo. Contém a vida, contém a morte”. O escrito mágico goza de uma vida autônoma dado se encontrar escrito em hieróglifos, signos portadores de potência. Os ”Textos das Pirâmides”, que incluem numerosas fórmulas mágicas, oferecem a este respeito um exemplo muito significativo. Esses textos, inscritos nas paredes internas das pirâmides do Império Antigo (V e VI dinastias), apresentam-se sob a forma de colunas de hieróglifos. Cada um destes é considerado como um ser vivo, a tal ponto que os animais perigosos ou impuros (por exemplo, os leões, as serpentes) são cortados em dois ou mutilados para não fazerem mal ao faraó morto e ressuscitado. Na própria composição dos textos mágicos, notam-se usos característicos, como o processo enumerativo que consiste em dar longas listas de inimigos vencidos ou partes do corpo do homem identificadas às dos deuses. Também se empregam palavras incompreensíveis, formadas de conjuntos de sons julgados eficazes: há uma mistura de egípcio, de babilônio, e de cretense. Nota: Papiro Salt 139. Exemplo de texto mágico: uma página do Papiro Salt 825 onde se revela o ritual da Casa de Vida. À esquerda, escrito dito ”hierático”, forma cursiva do precedente outras línguas estrangeiras, desembocando em fórmulas do estilo ”abracadabra”. Esses desvios bizarros da magia sacra não devem fazer com que se esqueça o valor da palavra. Ler em voz alta as fórmulas mágicas é conferir-lhes eficácia e realidade. A língua hieroglífica é baseada, em grande parte, num ”alfabeto” sagrado que inclui letrasmãe (consoantes e semiconsoantes). As vogais não são notadas, são elementos perecíveis, passageiros, dependendo de uma época e um lugar. Em troca, ”o esqueleto de consoantes” é o elemento imortal da língua. Esta idéia de um valor mágico da linguagem foi conservada durante muito tempo. Na época copta, um amuleto preservava vinte e quatro nomes mágicos, cada um deles iniciado por uma das letras do alfabeto grego. ”Eu sou a Grande Palavra”, declara o faraó, indicando desse modo que é capaz de dar vida a todas as coisas. Há uma palavra secreta nas trevas. Qualquer espírito que a conheça, escapará à destruição e viverá entre os vivos. O viajante do Além descobre-a e reveste a magia que irá permitir-lhe manejar a varinha de um deus verdadeiro. Quem possuir a fórmula será capaz de fazer a sua própria magia. Quando os deuses falaram, rasgaram o nada e abriram a via às forças da vida. Eis a razão por que o mágico repete as palavras dos deuses, como as de Hórus que afastam a morte, extinguem o fogo dos venenos, reentregam o sopro da vida e arrancam o homem a um destino maléfico. Palavras e fórmulas pronunciadas não são ditas por acaso; inspiram-se em lendas sagradas, em ações acontecidas nos tempos divinos e que se repetem no mundo dos homens. Uma fórmula mágica só é eficaz na medida em que remonta a uma alta antiguidade ou, mais exatamente, à origem da vida. A fórmula de oferenda, por exemplo - peret-kheru -, significa: ”o que aparece na voz”, sendo apenas o Verbo capaz de animar a matéria.
Um dos modelos recorrentes na busca de uma organização dos espaços sociais é a co-regência como forma de sucessão. A escolha do faraó é uma questão política e que envolve uma série de poderes egípcios, tanto os nomarcas, mas principalmente os sacerdotes.Devemos sinalizar que a morte de um faraó não é necessariamente a busca imediata de um sucessor, existem disputas recorrentes que são delineadas nos textos dos sarcófagos e nas sucessões dinásticas.
Esta prática apresenta dois fatores importantes de serem observados, uma vez que pode significar a sucessão familiar garantida, mas também de maneira constante encontramos a divisão do trono do faraó como um acordo, uma aliança entre diferentes casas evitando disputas internas. Esta prática era bem vista, porque a função do faraó, em especial no antigo e no médio Império, era o equilíbrio da sociedade.  Aquele que conseguisse passar uma sociedade de forma pacífica é considerado um sucessor legítimo de hórus e teria seu nome marcado para a posteridade. Os nomos, as regiões de domínio ao longo do Nilo, não desaparecem em momento nenhum, nem tampouco estabelecem um exército em que deixe suas fronteiras claramente definidas,tanto que o Egito fica suscetível a constantes invasões. As disputas pela sucessão, muitas vezes, revelam a disputa constante destas forças.
Quando falamos em burocracia no Egito antigo, fala-se no faraó, mas para além da liderança algumas figuras são fundamentais: Vizir: O termo quer dizer arquiteto. Ele é aquele que toma as decisões administrativas. É ele que cuida do comércio, que controla os escravos, que garante a corveia e estrutura as grandes construções. Sacerdotes: não há só um templo ou um deus no Egito, como já vimos na última aula, a representação dos sacerdotes de Amon tendem a ter a hegemonia na escolha do faraó, no entanto, todos os demais templos são figuras importantes.Um momento emblemático da força desta figura ocorre durante o Novo Império, para ser mais específico, no momento em que o faraó abandona o templo de Amón e busca apoio em Aton como deus principal, alguns defendem que único, dos egípcios.
Devemos sublinhar que a escolha de Amon como o principal Deus egípcio é um indicativo político importante, uma vez que o culto a Amon e seus principais templos estão localizados na parte norte do Egito, e é esta estrutura aristocrática a principal base de apoio da unificação das duas coroas, da existência de um Egito faraônico. Ciro Flamarion Cardoso em um artigo sobre os núbios no livro Impérios na História sublinha que a dominação destes grupos em muitas posições do sul do Egito é um indicativo importante de uma resistência da região ao domínio faraônico.
Neste prisma, devemos ter em conta que as sucessões dinásticas que observamos nas cronologias egípcias são mais do que a organização política, mas sim o entendimento que grupos entram em disputas em que estarão em jogo forças políticas e militares e o novo grupo que assume o poder muda os elementos, transforma a aristocracia local.
Os poderes subsequentes, chamados de tardios, na prática são de um novo Egito. De um Egito que estará cada vez mais ligado ao Mediterrâneo, as dominações gregas e em especial romanas, uma vez que este será uma das áreas de celeiro de Roma, pelo potencial da agricultura já implementada anteriormente. Entre o fim do Novo Império e o século XX, o Egito jamais conseguiu se constituir novamente como um governo autônomo, foi dominado por Romanos, Bizantinos, Muçulmanos, Turcos, Ingleses, sendo autônomo somente no último século.Culpa do passado, não mesmo, pois cada momento histórico é singular, tem continuidades e rupturas, relações que datam de períodos muito longos, mas também elementos presentes no cotidiano destas sociedades. O desafio de estudar o Egito é fazê-lo sem se apaixonar. 
Pensando no Antigo Império, notamos que a constante mudança de cidades como cede do poder central, demonstram o fenômeno que tratamos a pouco, com a figura do Faraó sendo fruto das disputas dos poderes locais, e ao mesmo tempo símbolo de uma união que garantia a existência do Egito como um reino. I Período Intermediário: Período em que as disputas políticas se sobrepõem a uma centralização e os nomos marcam o domínio da região. O Médio Império é considerado frágil politicamente, tão frágil que ele sobre uma série de invasão no território egípcio, a mais crítica foi a dos hicsos, que assumiram a posição de faraós. A História contada pelos registros egípcios não reconhecem nenhum faraó sobre esse período. O II Período Intermediário é considerado obscuro pela história, uma vez que muitos dos seus registros foram destruídos pelos egípcios do Novo Império. Os relatos do Novo Império, sucessor deste momento, constroem a ideia de um momento de barbárie. O Novo Império é um período em que de certa forma o Faraó é reinventado. Frentes locais obtém uma vitória político-militar que estabelece a figura de um faraó guerreiro. Vamos falar mais disso.
Enfim, os hicsos entram no Egito, justamente, pela dificuldade de associação militar egípcio tomam o poder e, ao se nomearem, governadores do Egito, mais que isso os egípcios adotam a leitura do faraó. O novo Império é o momento que grupos egípcios conseguem por uma série de revoltas reorganizar a ideia de um governo egípcio, em especial através da liderança militar de Amhoses. Esta formação transforma definitivamente a figura do faraó, que passa a ser um comandante militar, sem perder seus aspectos de equilíbrio e de divindade. Há uma reação militar liderada por amhore, consolidada por Tutmés, onde tem-se uma clara revolta contra o poder estrangeiro e uma união de grupos de origem nomarca. Essa união dos grupos vai representar, a partir do momento em que se toma o poder, a certeza de que é necessário marcar o poder em todos os lados. É um triunfalismo a vitória militar que vai buscar a tradição egípcia, é a história servindo com afirmação da identidade egípcia contra as populações locais. Daí notarmos como aumentam as quantidades de documentos no Novo Império.
Muitos defendem a ideia de que a presença hebraica no Egito se deu durante a ocupação dos hicsos.
Pela tradição egípcia, a história representa o próprio conhecimento do ser egípcio, a história representa o poder. Com isso, entendemos porque todo o período Hicso desaparece da história, ele foi claramente apagado, destruído como uma negação da dominação "estrangeira”.
O Novo Império vem com toda uma necessidade de afirmar, de forma forte, o poder. A figura do faraó é mítica e equivale ao poder, mas não vale se não for consolidada. Tutmés III foi um consolidador, mas para garantir o apoio dos nomos, utiliza o prestígio da "rainha" Hatshepsut. Ela é um traço da aliança entre dos nomos, em torno do casamento e, uma vez morto o marido, ela permanece "colada" ao poder. Desta forma, Tutmés continua à frente do poder e faz com que a rainha morra. O túmulo dela que, no início, garantia aquela aliança, foi raspado, apagando-se todas as inscrições sobre ela.  Isso ocorre quando Tutmés tem uma vitória militar e não precisa mais daquela aliança.
Para saber mais sobre a história de Hatshepsut e Tutmés III, clique sobre os links abaixo: Sobre Hatshepsut: (http://www.discoverybrasil.com/egito/faraos_rainhas/hatshepsut/index.shtml)
Sobre Tutmés III: (http://antigoegipto.wordpress.com/2008/09/22/escavacoes-no-templo-do-farao-tutmes-iii/)
O faraó, apesar do poder consolidando, não se torna o elemento único no poder, é um líder militar e representa uma união recente. Uma das grandes marcas dessa dificuldade está no governo de Amenhotep IV. Amenhotep IV, ao assumir o poder, inicia uma reforma religiosa. O panteão egípcio é um conjunto de vários deuses representantes dos nomos. É uma associação entre muitos elementos religiosos em que não se quer, necessariamente, criar uma unidade. A ideia é fazer com que o faraó conviva, de maneira constante, com esses diversos grupos. Pode-se ter um deus com várias representações ou um símbolo com várias leituras. Esse envolvimento nos faz entender porque no Novo Reino ou Novo Império, quando se precisa de uma consolidação, precisa-se afirmar o poder, tem-se um faraó que vai negar a necessidade do conflito que representava o Panteão, expulsando todos os deuses, por decreto, honrando apenas um deus Athon.Ele se denomina o sacerdote de Athon, ele junta assim dois poderes, o do sacerdote e o do faraó.
No primeiro momento, Amenhotep IV assume o nome de Akhenaton. Seu movimento, ao que os documentos indicam, é vitorioso, tanto que seu filho será seu sucessor. Tutankaton torna-se faraó ainda jovem, após a morte do pai, mesmo com a contestação torno do faraó.
Este sistema, no entanto, é complexo para ser mantido, e após uma série de disputas, uma nova aliança é firmada: Tuatankaton torna-se Tutancamon, e retoma a valorização de Amon.A volta de Amon e, ele associa a figura do Rá a Amon, Amon-rá. Essa representação está buscando uma ampliação da base política, além do aspecto religioso.
Sobre Amon-ra 
Amon: Rei dos deuses, ele é o senhor dos templos de Luxor e Carnac. Tem por esposa Mut e por filho Khonsu. Sua personalidade formou-se por volta de 2000 a.C. e traz algumas funções de Rá: sob o nome de Amon-Rá, ele

Outros materiais