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AULA.1 a 10

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HISTÓRIA DA ÁFRICA PRE-COLONIZAÇÃO
AULA-1-HISTÓRIA DA ÁFRICA PRE-COLONIZAÇÃO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Identificar os preconceitos que cercam o estudo da história africana; 
2. reconhecer as múltiplas análises acerca das histórias do continente africano;
3. analisar as possíveis contribuições de outras disciplinas para o estudo das histórias africanas.
Exercício
Um dos grandes desafios no estudo da história africana é conseguir partilhar o olhar que os africanos têm de seu passado, para compreender que, na realidade, existem muitas Áfricas. Antes de começar o estudo desta aula, veja o vídeo abaixo disponível na Internet e faça uma pequena resenha sobre os perigos de uma história única.
A África dos Estereótipos
Boa parte do sucesso desse personagem se deve ao fato de sua trajetória misturar passagens mitológicas que remetem à história de fundação de Roma – na qual os gêmeos Rômulo e Remo foram alimentados por um animal, no caso, uma loba –, com cenas românticas que fazem lembrar o amor proibido de Romeu e Julieta.
O cenário africano criado também foi de grande importância para notoriedade de Tarzan. A amizade com a macaca Chita, a agilidade em caminhar pela selva, a rapidez com que pulava de um cipó para o outro, as lutas ferozes travadas contra leões e leopardos foram aspectos da vida do herói que encantaram os leitores.
Uma das histórias mais famosas da literatura mundial ambientada no continente africano é a do Tarzan. Escrito pelo estadunidense Edgar Rice Burroughs, em 1912, o romance Tarzan dos Símios conta a história de um menino branco, filho de ingleses, que ainda bebê acompanha seus pais a uma viagem para África.
Devido a uma sequência de tragédias, os pais de Tarzan morrem e ele é criado por uma macaca em meio à selva africana. No início de sua juventude, mesmo sofrendo por ser diferente dos demais (já que acreditava ser um símio), Tarzan se tornou líder do grupo de macacos que o adotara.
A vida do herói muda drasticamente quando ele salva um grupo de norte-americanos que havia sido deixado na África por marujos revoltosos. A partir deste episódio, Tarzan se apaixona por Jane (uma das pessoas que ele salvou), descobre ser filho de uma nobre família inglesa e vive o conflito da escolha entre viver na África ou na Europa.
Tarzan se tornou um personagem tão cativante que outros autores passaram a narrar suas incríveis histórias. Atualmente, além de inúmeros romances é possível conhecer a epopeia de Tarzan por meio de filmes, histórias em quadrinhos e desenhos animados.
Na realidade, mais do que encantar, tais referências ao continente africano ajudaram a formar uma determinada ideia de África.
Ainda que se trate de uma obra fictícia escrita por um homem que nunca esteve no continente africano, Tarzan reforçou uma imagem já difundida da África, na qual o continente aparece como uma região homogênea, terra de leões, girafas, zebras, rinocerontes e também de algumas tribos compostas por homens e mulheres negros que se vestiam como leopardos e possuíam pouco contato com o que se costuma chamar de “mundo civilizado”. Em outras palavras, a história de Tarzan coroou, no Ocidente, a imagem de uma “África Selvagem”.
Por diversas razões, a “África de Tarzan” continua presente até os dias de hoje. Um exemplo disso é o fato de muitas crianças em idade escolar avançada (e por vezes até adultos) não saberem precisar se a África é um país ou um continente.
Tal confusão - que pode parecer infantil, ou até mesmo ingênua -, retrata o grande desconhecimento que existe sobre a história africana e a tendência em compreender a África como uma região única, sem diferenças internas.
E você, o que sabe sobre a África?
Desconstruindo o Mito da “África selvagem”
Ainda que a África possua florestas densas e seja habitada por leões, macacos e elefantes, caracterizá-la unicamente como uma grande selva seria um erro ao mesmo tempo geográfico e histórico.
Do ponto de vista geográfico, basta uma rápida análise do mapa físico do continente para observar que a floresta é uma das diversas vegetações existentes na África.
Além das florestas características da zona equatorial, a África ainda possui outros cinco tipos de vegetação:
VEGETAÇÃO: 
- as savanas (que na realidade são o hábitat natural dos animais de grande porte);
- as estepes;
- mediterrânea
- desértica
- oásis
Cada uma dessas vegetações está relacionada a um clima diferente (que leva o mesmo nome das vegetações), que por sua vez estão ordenados de forma muito parecida a partir da linha do Equador tanto ao norte quanto ao sul. Tal atributo faz com a que a África seja chamada de “continente espelho”.
O mesmo mapa ainda demonstra uma grande diferença no quadro pluviométrico africano. As regiões próximas à linha equatorial (caracterizadas tanto pelas florestas como pelas savanas) são as que possuem a maior concentração de rios e lagos. Em seguida estão as regiões de estepes que têm poucos, mas extensos rios; e por fim os dois grandes desertos africanos (o Saara e o Calahari) que possuem um único rio perene cada.
Embora não esteja explicitado nesse mapa, o continente ainda apresenta diferentes relevos e diversas paisagens litorâneas, além de estreitas relações com outros continentes, devido à sua proximidade com a Europa (via Mar Mediterrâneo) e com o Oriente Médio (via Mar Vermelho).
Frente a esse diversificado quadro geográfico é impossível pensar em uma única África. A trajetória de povos que ocuparam as regiões desérticas não pode ser a mesma dos povos que habitavam, por exemplo, a região dos Grandes Lagos ou dos grupos que se organizaram nas margens dos rios Senegal e Gâmbia. Desta forma, tal como no continente europeu, asiático e americano, o hábitat natural teve grande influência nas diferentes formas de organização social dos povos africanos.
Embora o continente africano seja muito extenso, a concentração das bacias hidrográficas em determinadas regiões e a relativa falta de rios e lagos em outras localidades acabou criando condições às quais os grupos humanos tiveram que adaptar-se. Por mais contraditório que possa parecer, uma das principais estratégias de sobrevivência das sociedades africanas foi se organizar em pequenos grupos que ficaram conhecidos como as famosas “tribos” da África.
Dessa forma, é possível afirmar que a grande quantidade de pequenas sociedades no continente africano é decorrente do conhecimento que seus habitantes possuem sobre a natureza que fazem parte, assunto que será melhor trabalhado na Aula 3 deste curso.
O importante a sublinhar neste momento é que a formação das “tribos” africanas não está relacionada a nenhum pretenso atraso dessas populações, como se acreditou durante
muitos anos.
Ao contrário do que disse o filósofo alemão Hegel no século XIX, a África tem, sim, inúmeras histórias. O fundamental é termos as ferramentas certas para conseguir enxergá-las.
Fontes e documentos para estudar a história da África
Conforme anunciado acima, um dos grandes problemas encontrados pelos historiadores ocidentais para estudar a história da África devia-se ao fato de que a maior parte das sociedades do continente serem ágrafas, ou seja, elas não haviam desenvolvido a escrita, ou então não a usavam de forma sistemática.
Até meados do século XX, os povos que viveram na África - bem como em outras regiões do mundo como partes da Ásia, América e Oceania - eram considerados desprovidos de história, porque não haviam feito registros escritos de seu passado.
Sendo assim, os primeiros historiadores do continente africano foram os antropólogos, arqueólogos e linguistas. Com o intuito de estudar manifestações culturais, vestígios materiais e a imensa pluralidade de línguas faladas na África, esses profissionais conseguiram resgatar muitos fatos e costumes dos povos africanos, chegando a estudar sociedades milenares.
Ao longo do século XX, a História Ocidental passoupor diversas mudanças, sendo a principal delas o alargamento das fontes documentais, ou seja, das ferramentas do historiador. Ainda que a escrita seja a principal forma de acessar o passado, os historiadores do século XX ampliaram seu diálogo com outras disciplinas, sobretudo com a: Antropologia, Arqueologia, Sociologia, Lingüística.
Tal ampliação permitiu que novas fontes passassem a fazer parte do escopo documental dos historiadores, e que a África passasse a ser vista como um continente possuidor
de história.
Paralelamente à reorientação metodológica dos estudos de história, a partir da década de 1920, no contexto da luta das colônias africanas por liberdade, muitos africanos (de diferentes regiões) começaram a reivindicar a possibilidade de contarem a história de seu povo.
Importantes nomes, como Amadou Hampatê Ba e Joseph Ki-Zerbo, apresentaram para o Ocidente uma África pouco conhecida, mas de uma complexidade ímpar. Uma das maiores contribuições desses historiadores foi apresentar para o Ocidente, de maneira palatável e compreensível, que a África era um continente complexo, que precisava ser analisado dentro de sua complexidade, mas que, em muitas vezes, sua história estava mais próxima da perspectiva eurocêntrica do que os próprios europeus imaginavam.
No entanto, um dos temas que ainda se apresenta como um desafio para o estudo da história africana e que pode ser ampliado como uma questão para a disciplina de História como um todo, é trabalhar com a oralidade. Como já foi apontado, antes do contato com os muçulmanos e com os europeus, a imensa maioria das sociedades africanas era ágrafa. A principal forma que elas desenvolveram para guardar e resgatar seu passado foi por meio da oralidade, ou seja, da palavra falada. Como este é um tema complexo, ele será retomado em outros momentos do curso. Todavia, é fundamental compreender o que os africanos entendiam por oralidade, e, para isso, o mais adequado é examinar o que um africano escreveu sobre o assunto.
Clique no PDF!
Ao longo do curso, nós iremos estudar diferentes povos do continente africano, fazendo uso das ferramentas disponíveis para o historiador, inclusive a oralidade. O objetivo é conseguirmos compreender os aspectos comuns existentes entre muitos povos da África, mas, sobretudo, entender a multiplicidade e complexidade que circunda o estudo deste continente para que possamos compreender a nossa própria história de maneira mais aprofundada. Comecemos com aquela África que nos é mais próxima. Bons estudos!
AULA-2- OS HERDEIROS DE ODODUA : IFÉ E BENIN NA ÁFRICA OCIDENTAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Analisar aspectos gerais no Egito Antigo;
2. examinar a organização sociopolítica e econômica do Reino da Núbia;
3. relacionar a trajetória do Egito faraônico com a dinâmica política dos núbios.
Antes de iniciarmos a nossa aula, vamos realizar uma breve atividade de reflexão!
O papiro acima apresenta uma rainha Núbia sendo servida por suas serviçais oriundas do Egito. Antes de iniciar a aula, elabore uma hipótese sobre as possíveis razões que criaram as condições para a produção dessa imagem. Após a leitura da aula, analise a hipótese levantada.
O Egito
O mapa ao lado mostra a localização do Reino do Antigo Egito, cuja existência estava fortemente vinculada ao rio Nilo. Com todas essas vantagens naturais, as famílias que passaram a viver nessa região encontraram as condições ideais para a produção da agricultura. Trigo, cevada, cebolas, rabanetes, ervilhas, feijões, uvas, figos, tâmaras e oliveiras. Esses são exemplos de alguns dos gêneros produzidos na região.
A vegetação rasteira facilitou a criação de gado, carneiros e porcos que junto com os grãos e frutos cultivados proporcionaram uma alimentação rica e variada. Como a falta de alimentos não era um problema para as aldeias que viviam às margens do Nilo, a população da região cresceu rapidamente.
Por volta do ano 3200 a.C., as aldeias  que tinham seus chefes e deuses próprios começaram a se unir e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Pouco tempo depois, o rei Menés do Alto Egito, querendo ampliar suas terras e controlar toda a produção agrícola da região, conquistou o Baixo Egito formando um só reino cuja capital era Mênfis.
A partir de então, o Egito passou a ser governado por famílias reais e as antigas aldeias deram lugar às cidades onde foi possível o desenvolvimento da escrita, da arquitetura, e das artes.
Durante mais de três mil anos, o soberano do Egito era o faraó, a principal figura desse reino. Tido como reencarnação de Hórus (o Deus-Falcão) e como filho de Amon-Rá, o Deus Sol, o faraó era uma figura sagrada, uma espécie de deus na terra, e por isso a vida de todo Egito girava em torno dele, o que lhe dava muitos poderes. Munido de seu cetro e seu cajado, símbolos de autoridade e que representavam os antigos reinos do Alto e do Baixo Egito, o faraó tinha poder de vida e morte sobre todo seu reino.
Além disso, era ele quem cuidava do sistema de irrigação que mantinha as terras férteis, quem decidia assuntos referentes à justiça e administração do Egito e ainda era o comandante principal do exército em tempos de guerra.
Apesar das diversas tarefas realizadas, o faraó tinha as melhores condições de vida de todo o Egito. Morava com sua família em um suntuoso palácio, vestia roupas e maquiagens requintadas, estava sempre usando joias de ouro e pedras precisas, tomava banhos relaxantes, alimentava-se das melhores carnes e frutas da região e bebia os melhores vinhos.
Para governar todo o reino, o faraó recebia ajuda de nobres, pessoas que faziam parte da família real ou que tinham enriquecido ao longo da vida. Esses nobres cuidavam de assuntos administrativos menores, resolviam pequenos problemas jurídicos e vigiavam a cobrança de impostos. Os nobres costumavam ser donos de terras, o que lhes garantia uma vida tranquila e com muito conforto.
Era no campo que os nobres construíam admiráveis casas que, embora fossem menores que o palácio real, eram compostas por muitos cômodos. Quartos, salas íntimas, salas de depósito de alimentos, cozinha, estábulo, capela familiar, jardins e até mesmo pequenos lagos artificiais faziam parte dessas residências.
No interior das casas era possível encontrar camas, mesas e cadeiras de madeira, colchões e almofadas de couro, além de muitos vasos e recipientes de cerâmica ricamente ornados.  
Os soldados foram importantes personagens da história do Egito Antigo. Graças ao uso do cavalo e ao manejo de armas como arco e flecha, punhais, machados de guerra, espadas e cimitarra, o exército do Egito conseguiu conquistar a Núbia, ampliar suas redes comerciais e também expulsar o povo hicso (povo originário da atual Síria que dominou o Egito por volta do ano de 1600 a.C. Cerca de quarenta anos depois os hicsos foram expulsos pelos egípcios). A importância desses soldados era tão grande, que os principais chefes do exército acabavam se tornando homens ricos e poderosos.
Contudo, a principal força do Egito eram seus trabalhadores. Havia os escribas, os artesãos, os comerciantes e os agricultores.
ESCRIBAS: Os escribas eram praticamente as únicas pessoas que sabiam ler e escrever em todo reino. Por isso eles ocupavam altos cargos administrativos no governo do Egito, documentando e controlando a cobrança de impostos, a produção de alimentos, a escrita de leis e costumes e contando as histórias dos faraós. No entanto, para se tornar um escriba era necessário muito tempo de estudo, pois o alfabeto hieroglífico era composto por inúmeros símbolos, sendo que cada um deles poderia representar até cinco palavras. Mas foi graças aos escribas e às mensagens deixadas nos papiros, paredes e túmulos que parte da história egípcia chegou até nós.
ATESÃOS: O Egito também tinha um importante grupo de artesãos. Os mais especializados deles comandavam a construção de casas, túmulos e templos religiosos e se assemelham muito aos arquitetos de hoje em dia, pois eles conheciam materiais, técnicasde construção, matemática e astrologia. Havia também artesãos que trabalhavam com o fabrico de móveis como os carpinteiros e os marceneiros, aqueles que trabalhavam com minérios como o cobre, o ferro e o ouro, e outros que faziam belos objetos de arte, como pinturas e esculturas. Ainda que tenham existido diferentes tipos de artesanato, apenas uma pequena parcela da população se dedicava a essa atividade que era passada de geração para geração.
COMERCIANTES: Assim como os escribas, os comerciantes também eram fundamentais para a vida do Egito, pois eram eles que faziam o comércio desse reino com outras regiões do norte da África e até mesmo com sul da Europa e com o Oriente Médio. O comércio era feito tanto por terra (no lombo de burros), como nos rios, por meio das embarcações construídas pelos egípcios. 
Os principais produtos comercializados pelos negociantes egípcios eram o vinho e os o artesanato feito no reino. Essas mercadorias eram trocadas com o ouro e o cobre da Núbia; o marfim, as peles de animal e as penas de avestruz vindas da África subsaariana; a cerâmica, os cavalos, a prata e os escravos do Líbano; e as cerâmicas produzidas em Creta.
AGRICULTORES: A maior parte da população do Egito era formada por camponeses e a vida dessas pessoas era regrada de acordo com as fases do Nilo.  Julho era o mês de chuva na região e consequentemente da inundação das margens do rio. Nesse período, os camponeses não trabalhavam na terra e muitas vezes eram empregados nas construções do faraó. Quando a época de chuvas passava, em novembro, os camponeses aravam o solo e jogavam as sementes.
Aos poucos a água do Nilo penetrava e irrigava as plantações. No fim de março se iniciava a colheita, principalmente do trigo, produto que era levado para o celeiro. Lá o trigo era debulhado pelas mulheres e parte dos grãos guardada para o consumo das famílias camponesas. O restante era utilizado para o pagamento dos tributos cobrados pelo faraó e o que sobrava era comercializado.
Os trabalhadores egípcios costumavam construir suas casas em regiões altas para que elas não fossem inundadas na época de cheia do Nilo. Eles moravam em casas retangulares construídas com argila amassada ou tijolos de barro seco, cujas portas e janelas eram feitas de madeira; tanto a argila como os tijolos de barros eram feitos a partir da mistura da lama retirada do leito do Nilo com areia.
As casas mais pobres tinham apenas um cômodo sem nenhuma mobília, mas era o abrigo que as famílias tinham nas noites frias que faziam na região próxima ao deserto. As residências dos trabalhadores mais ricos podiam ter até seis cômodos e costumavam ser pintadas com cores fortes e muito iluminadas pelo sol durante o dia.
Por fim, na condição social mais baixa estavam os escravos. Eles realizavam as atividades árduas e penosas como o trabalho nas minas; a construção de pirâmides e de templos religiosos; e até a preparação dos corpos que seriam mumificados. Esses escravos não eram egípcios e sim pessoas oriundas de regiões que haviam sido conquistadas pelo Egito. Por serem considerados inferiores eram eles que faziam as atividades mais execradas pelos egípcios. Também eram eles que tinham as piores condições de vida, dormindo no chão e se alimentando pouco. (ATIVIDADES ECONOMICAS REALIZADAS PELOS EGÍPIOS)
Os egípcios eram politeístas, acreditavam em diversos deuses.  Parte dos deuses egípcios estava ligada aos fenômenos da natureza, como o Sol, a Lua e a terra; outros misturavam a forma animal com a forma humana (os deuses antropozoomórficos); e também havia os deuses que representavam ideias como honra e justiça. Para cada um deles foi construído um templo que ficava sob a responsabilidade de sacerdotes e sacerdotisas.
Esses homens e mulheres viviam para a religião e cuidavam para que os templos fossem respeitados e que os deuses fossem corretamente cultuados. Os deuses mais importantes, como Amon-Rá, o deus criador, teve uma cidade inteira construída em sua homenagem chamada Heliópolis.
A partir do ano 300 a.C, depois de inúmeras disputas com a Núbia, e com povos do Oriente Médio e do Sul da Europa, o Império dos faraós caiu nas mãos dos persas e, duzentos anos depois, após o suicídio de Cleópatra, se transformou em uma província de Roma. Contudo, durante seus quase três mil anos de existência, o Egito teve importantes faraós, desenvolveu diversas técnicas de construção civil e naval, criou diferentes tipos de cosméticos, de jogos e brinquedos, influenciou outras regiões do mundo e deixou para a posteridade monumentos que comprovam a importância de sua história.
A Núbia
A Núbia era uma região que ficava ao sul do Antigo Egito e que abrangia o começo do rio Nilo e as áreas próximas que hoje fazem parte dos países do Egito, da Etiópia e do Sudão. Durante milhares de anos, a Núbia teve grande importância na história da África, pois foi por meio dessa região que ocorreu o primeiro contato entre a África subsaariana com o norte do continente. Graças à Núbia, que persas, gregos, romanos e muçulmanos souberam da existência de uma África que ficava ao sul do deserto do Saara. Clique no PDF e saiba mais sobre a história da Núbia. REINO DA NÚBIA (NAPATA E MEROE)
O reino era formado por diferentes cidades que viviam da intensa atividade comercial. Conforme dito anteriormente, a Núbia ligava regiões distintas do continente africano e isso transformou Kush em um grande entreposto de trocas.
SAIBA MAIS: Junto com os comerciantes que viviam transitando e negociando o que era produzido no Antigo Egito com as peles e marfins vindas da África subsaariana, as cidades cuxitas também abrigavam diferentes tipos de artesãos.
Marceneiros e carpinteiros construíam diferentes tipos de móveis que ornavam as casas mais ricas do império. Os ferreiros e as ceramistas fabricavam vasilhas e instrumentos cortantes que eram utilizados diariamente pelos cuxitas; acredita-se que foram os ferreiros da Núbia que ensinaram os povos que viviam na África Subassariana a trabalhar com o ferro e outros metais como o cobre e o próprio ouro.
Os joalheiros eram os artesãos que mais ganharam dinheiro com a venda de suas joias. O ouro utilizado na produção dessas joias era retirado das minas localizadas próximas ao Mar Vermelho e que representaram a maior riqueza do reino e de toda Núbia.
Contudo, a maior parte da população de Kush era formada por camponeses. Assim como ocorria no Egito Antigo, as margens do Nilo eram terras férteis que facilitavam a produção de cevada, trigo, lentilha, pepino, melão, abóbora e uva (usada na produção de vinho).
No entanto, a criação de animais era a principal atividade econômica do reino. Junto com o gado de chifre longo e chifre curto, os pastores criavam carneiros, cabras e cavalos (que eram utilizados como animais de carga). A atividade pastoril era tão importante que, em alguns momentos, as terras férteis de Kush pararam de produzir cereais e se transformaram em grandes pastos.  
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos desenvolvido no Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
A posição estratégica da Núbia e a abundância de ouro e cobre fizeram com que a região fosse constantemente atacada por povos vizinhos. Por volta do ano de 1500 a.C., a região foi invadida pelos egípcios, que se aproveitaram da localização estratégica da Núbia e passaram a controlar o comércio e a retirada do ouro. No entanto, a dominação egípcia não significou o fim do reino Kush.
Por volta do ano 600 a.C. Napata foi invadida por outros povos da região. A cidade de Meroe se tornou a nova capital do reino e passou a atrair as rotas comerciais que ligavam a África subsaariana com o Mediterrâneo. Graças à vasta floresta existente na cidade, o ferropassa a ser uma das mercadorias mais trabalhadas e comercializadas da cidade. Durante mais de quinhentos anos, Meroe constituiu um importante entreposto comercial.
A soberania do reino de Kush chegou a seu final com a invasão romana, contudo, os vestígios de sua história são um convite para estudar uma África pouco conhecida. Bons estudos!
AUÇA-3- A ÁFRICA TRADICIONAL: UMA ANÁLISE DAS MATRIZES AFRICANAS
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Identificar as matrizes da chamada África tradicional;
2. reconhecer os aspectos semelhantes existentes nos diferentes povos da África localizada ao sul do Saara;
3. analisar as origens das semelhanças socioculturais que compõem a África Tradicional.
Um dos grandes equívocos cometidos ao se estudar a história da África Subsaariana é imaginar que todos os povos que habitaram essa região eram iguais.
Existiram comunidades tradicionais africanas que sobreviviam da atividade pesqueira; outras que dependiam da criação de gado e muitas que viviam da produção agrícola. Além disso, nem todas essas sociedades se organizavam da mesma forma: existiram aldeias, clãs de aldeias e até mesmo cidades-estados e reinos.
O convívio entre essas comunidades também não era sempre pacífico e harmonioso. Por diferentes razões esses grupos travavam guerras entre si e muitas vezes escravizavam grupos vizinhos. 
Todavia, embora os pequenos grupos que habitavam não se enxergassem como iguais, havia semelhanças significativas entre eles que devem ser entendidas. 
Muitas das características em comum encontradas em diversas sociedades africanas, sobretudo na África Subsaariana, são decorrentes de um movimento migratório ocorrido entre três e quatro mil anos atrás, denominado Expansão Bantu.
A Expansão Bantu
O bantu era umas das subdivisões da família linguística Níger-congo, que era falado por populações que habitavam as proximidades do rio Níger.
... graças ao aumento populacional e ao desmatamento decorrentes da pesca farta e do cultivo de gêneros alimentícios como o arroz, o inhame e as palmeiras oleaginosas (como a do dendê), os grupos humanos que ocupavam essa região iniciaram dois grandes processos de migração em busca de novas terras.
O primeiro processo migratório partiu da região central de Camarões e rumou para o norte da atual República Democrática do Congo e para a África oriental. Esse movimento migratório ainda desenvolveu a atividade pastoril e adquiriu os conhecimentos necessários para o manejo do ferro com sociedades que habitavam o norte do continente.  
Já o segundo movimento de migração das línguas bantu saiu da região da floresta do sudeste na Nigéria e expandiu-se para a bacia do rio Congo e seus afluentes, chegando ao sul da África. Essas regiões só aprenderam o manuseio do ferro anos depois.  
Os grupos de caçadores coletores que entraram em contato com essa “onda de migração” adotaram as línguas bantas para se aproximarem e negociarem com os grupos recém-chegados. Desse encontro de culturas surgiriam inúmeras sociedades que, embora fossem diferentes e muitas vezes inimigas, guardavam traços socioculturais semelhantes.
As Famílias de Linhagem
Uma das principais instituições das chamadas sociedades tradicionais africanas era a família, pois era ela que primeiro definia o pertencimento dos indivíduos no grupo.
No entanto, na África subsaariana, a noção de família é diferente do modelo europeu. As famílias africanas eram extensas, formadas não só pela mãe, pai e seus filhos, mas também pelos avós, tios, sobrinhos, netos e primos que tinham um ancestral em comum.
A família extensa, também chamada de linhagem, era a organização que assegurava a existência física e a perpetuação dos indivíduos, permitia a socialização no grupo e proporcionava o sentimento de pertencer a um coletivo, na medida em que possibilitava a conexão de cada membro à sua ancestralidade, ou seja, à sua história.
As Famílias de Linhagem
Conforme dito anteriormente, as condições naturais de muitas regiões africanas nem sempre eram as mais favoráveis para a sobrevivência humana. Desse modo, por meio de uma rede de direitos e deveres que, estabelecidos hierarquicamente, as famílias extensas conseguiram garantir a vida da comunidade.
Cada geração de uma determinada linhagem tinha obrigações a cumprir e direitos a gozar. Geralmente, os adultos eram responsáveis pelo sustento da linhagem e deveriam produzir o suficiente para alimentar os idosos e as crianças. Os mais velhos, grupo mais respeitado de cada família, ocupavam os cargos de chefia das comunidades e eram responsáveis pelos rituais de iniciação dos mais jovens e cultos aos ancestrais familiares.
Sendo assim, quanto maior fosse o tamanho de uma linhagem, principalmente no que diz respeito ao número de adultos, maiores eram as chances desta família sobreviver. Não por acaso, a poligamia era prática comum nessas sociedades, pois permitia o crescimento constante das linhagens e a manutenção da ampla rede de parentesco.
As linhagens também determinavam o prestígio social de um homem. Quanto maior o número de pessoas dependentes dele (fossem mulheres, filhos, netos, sobrinhos e irmãos), maior era a importância que ele tinha dentro da comunidade. Esse prestígio exercia grande influência nos acordos nupciais feitos entre as diferentes famílias - permitindo a união de grandes linhagens por meio de casamentos – e na escolha dos chefes da comunidade, escolhidos dentre os líderes das famílias mais extensas, pois eram os homens que detinham maiores recursos econômicos e maior respeitabilidade social.
O chefe recebia ajuda de um conselho composto pelos anciões de cada família da comunidade. Juntos, o chefe e os membros do conselho deveriam cuidar de assuntos relacionados à administração e justiça da aldeia, garantir a segurança de seus habitantes em momentos de guerra, assim como zelar pelos costumes e tradições de seu povo.
De forma geral, todas as atividades que estivessem relacionadas com o espaço doméstico eram realizadas pelas mulheres adultas (entre 15 e 40 anos). 
Eram elas que tratavam de todos os afazeres da casa, criavam os filhos, cortavam lenha para o fogo, buscavam água, confeccionavam utensílios de cerâmica e, principalmente, cuidavam da produção dos gêneros agrícolas. 
Já aos homens da mesma idade cabia a criação de animais, a atividade pesqueira, a caça (quando essa atividade era realizada), a segurança da comunidade, as diferentes atividades artesanais, sobretudo o manuseio do ferro e as produções artísticas.
SAIBA MAIS: Por meio de vias fluviais ou terrestres, o excedente daquilo que era produzido nas comunidades tradicionais era comercializado nos mercados locais próximos. Tais mercados viabilizavam não só a troca de produtos oriundos de diferentes localidades, mas também possibilitavam a circulação de informação e a formação de redes sociais entre duas ou mais sociedades.
Religiosidade: O Culto Ancestral e as Divindades da Natureza
Junto com a noção de família extensa, a religiosidade era uma das características definidoras das sociedades da África Subsaariana. Embora cada comunidade acreditasse em um Deus ou em deuses próprios, as formas por meio das quais os membros desses grupos entravam em contato com o divino era muito semelhante. Isso porque em praticamente toda a África abaixo do Saara a religião era vivenciada no cotidiano. Toda ação humana era uma ação religiosa.
O cultivo da terra era geralmente antecedido por cerimônias que visavam a fertilidade. Quando meninos e meninas entravam na fase adulta, era comum que fossem feitos rituais de iniciação secretos, nos quais os jovens ficavam reclusos por algum tempo aprendendo os ensinamentos da idade adulta e da profissão que deveriam seguir. Em algumas comunidades, o processo de iniciação dos meninos que se transformariam em ferreiros chegava a durar anos.
Até a família extensa era compreendida por meio da religião. Praticamente todas as sociedades da África subsaariana acreditavam na coexistência do mundo dosmortos e por isso realizavam o culto aos antepassados acreditando que eles eram uma espécie de semideuses que serviam como intermediários na comunicação com forças maiores. De forma parecida com o que aconteceu com o império romano antes da conversão ao cristianismo, quase todas as casas africanas tinham pequenos altares particulares, no qual cultuavam seus ancestrais familiares.
Junto o culto aos antepassados, as comunidades africanas também cultuavam deuses específicos que estavam diretamente relacionados com elementos da natureza. Esses cultos geralmente eram acompanhados de muita música e dança e, em alguns casos, envolvia o transe de pessoas que estavam iniciadas para incorporar os deuses ancestrais. Em diversos casos, esses deuses tinham sido os chefes fundadores da sociedade que após a morte tinham se transformado em deuses do trovão, deuses da chuva, deuses da Lua e do Sol.
Muitos povos acreditavam em entidades que viviam nas águas dos rios e dos lagos, ou então na força de uma determinada árvore e de animais específicos. Mas é importante lembrar que as aldeias africanas não acreditavam nos mesmos deuses. Cada comunidade, cidade ou reino tinha seus deuses e entidades próprios e formas específicas de realizar seus cultos e cerimônias religiosas.
Embora a religião fosse praticada por toda comunidade, pois era ela que dava o sentido de coletividade aos diferentes povos, existiam figuras que tinham relação ainda mais intensa com o mundo do divino, como os sacerdotes e os feiticeiros. Os sacerdotes eram as pessoas (homens ou mulheres) responsáveis por boa parte das cerimônias religiosas, comandavam os rituais de iniciação e eram as pessoas mais capazes para ler os possíveis sinais dos deuses, bem como os jogos de adivinhação.
Os feiticeiros tinham atributos semelhantes ao dos sacerdotes, mas o fato de saberem alterar as características físicas de alguns elementos da natureza fazia com que fossem figuras ao mesmo tempo temidas e respeitadas pelo grupo. Não por acaso, muitos dos feiticeiros também eram ferreiros, pois ambos detinham o poderoso conhecimento de como alterar a natureza.
O Poder da Palavra Falada
De maneira geral, era por meio da palavra falada que o conhecimento era transmitido de geração para geração. Isso porque a palavra era uma das formas que o homem tinha de se conectar com o mundo divino e sobrenatural, era o elo entre o passado, o presente e o futuro.
Dessa feita, era por meio da tradição oral que o conhecimento, os costumes, as histórias e os mitos eram contados. Embora a palavra fosse respeitada por todo o grupo, assim como ocorria com a religião, cada sociedade tinha um sacerdote da palavra, ou seja, uma pessoa responsável por guardar a palavra. Clique no PDF e leia mais sobre o assunto.
Para ajudar a ampliar o conhecimento sobre as muitas Áfricas que existiram, as próximas aulas irão tratar de parte da história de algumas sociedades do continente africano, para que não só as semelhanças, como as diferenças existentes entre elas possam ser compreendidas. Até a próxima e bons estudos!
AULA-4- A CHEGADA DO ISLÃ AO CONTINENTE AFRICANO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Analisar as transformações causadas pela chegada do Islamismo à África Subsaariana;
2. identificar as transformações que a chegada do islamismo causou no reino de Gana;
3. examinar as dinâmicas socioeconômicas criadas a partir da conformação do comércio transaariano.
1- O mapa ao lado apresenta as principais rotas do comércio transaariano criadas a partir do século IX. Elabore em seu caderno uma hipótese sobre quais eram os principais produtos que circulavam nessas rotas. Ao final desta aula, releia sua hipótese e verifique os possíveis erros e acertos
O Islamismo
O islamismo chegou ao continente africano no século VIII e tal evento trouxe muitas mudanças para a África. As razões para tamanha influência islâmica no continente africano só podem ser entendidas se compreendermos melhor o que é o islamismo.
História do Islamismo
O islamismo ou o islã é uma religião monoteísta que começou a ser pregada do século VII na região da atual Arábia Saudita. Seu principal profeta foi Maomé, um comerciante da região que um dia começou a receber visitas do anjo Gabriel. Esse anjo revelava-lhe as palavras divinas de Alá, o Deus único. A partir de então, Maomé passou a transmitir os preceitos que lhe eram revelados e rapidamente ganhou diversos seguidores. Como Maomé estava revelando não só uma nova religião, mas também uma nova forma de vida, suas palavras foram anotadas e compiladas em um único livro, Alcorão, que até hoje é considerado o livro sagrado do islamismo.
Uma das principais atividades do muçulmano era difundir o islamismo por todo mundo. Essa difusão ocorreu de duas formas: por meio de negociações comerciais e por meio das jihads. As jihads eram guerras santas travadas pelos muçulmanos. Tais guerras tinham por objetivo converter outros povos ao islamismo e escravizar os “infiéis”, ou seja, aqueles que se recusavam a crer em Alá.
Os Almorávidas e a Chegada do Islã na África Subsaariana
Rapidamente, inclusive por uma proximidade geográfica, o islamismo chegou ao norte da África. 
No entanto,durante mais de cento e cinquenta anos, os muçulmanos não conseguiram converter os povos seminômades que viviam nos oásis do Saara e que controlavam boa parte das caravanas de camelos que atravessavam o deserto.
Segundo os cronistas da época, no século X, o sacerdote muçulmano chamado Abdallah ibn Yacine foi designado para cuidar da conversão dos berberes. No entanto, Yacine foi muito mal recebido e acabou sendo expulso da região.
Os Almorávidas e a Chegada do Islã na África Subsaariana
Obrigado a se retirar, o sacerdote partiu para um local desconhecido da costa Atlântica acompanhado por dois berberes:  Yaya ibn Omar e seu irmão Abu Bakr. Neste local, Yacine e seus discípulos começaram a receber adeptos e criaram uma espécie de CONVENTO MILITAR MUÇULMANO (o RIBAT), cujos membros eram chamados de Al-Morabetin – que significa aqueles que pertencem ao ribat.
Em pouco tempo, OS ALMORÁVIDAS transformaram-se em um dos principais braços armados do islamismo, levando a palavra de Alá para regiões distantes como a Península Ibérica e a África Subsaariana.
Contatos com a África Subsaariana: o Caso de Gana
O contato dos muçulmanos com os povos africanos ocorreu de diferentes formas e em diferentes momentos da história da África. Com as pequenas aldeias da África Subsaariana, os muçulmanos, muitas vezes, faziam suas guerras santas e escravizavam aqueles que haviam sobrevivido e se recusavam a se converter.
No entanto, com os grandes reinos e cidades, as relações dos muçulmanos se iniciaram por meio de trocas comerciais. 
O comércio também foi a porta de entrada do islamismo nas cidades de Ifé e Benin.
Já a realeza do império do Mali se converteu às crenças do Islã e sob o governo de Mansa Musa inúmeras mesquitas e escolas muçulmanas foram construídas em todo o império.
Nas cidades litorâneas da Costa Índica da África, grande parte dos comerciantes também se converteu ao islamismo. Todavia, a primeira grande sociedade subsaariana a entrar em contato com os muçulmanos foi o reino de Gana que, até então, vivia de acordo com seus preceitos iniciais.
Gana, também conhecido como o “país do ouro”, foi um dos grandes estados formados no continente africano. Situado abaixo do deserto do Saara entre os rios Níger e Senegal (na atual Mauritânia), Gana foi fundado no século IV pelo povo africano Soninquê e entrou em decadência no século XIII.
Durante seus quase mil anos de existência, Gana exerceu influência sobre outros povos da África Ocidental e ficou conhecido na Europa e no Oriente Médio por suas minas de ouro. Os viajantes árabes que visitaram a região a partir do século VIII ficaram surpresos com a organização desse estado e já no ano de 700 Gana foi colocado no mapa-múndi pelo geógrafo árabe Al-Khuarizni.
SAIBA MAIS: Segundo os viajantes árabes, gana erao nome dado aos reis desse estado. Além de ser chamado de gana (chefe de guerra), o soberano poderia responder por caia-manga (rei do ouro) e turca. Mas não foi por acaso que Gana ficou conhecido pelo título atribuído aos seus governantes. O gana ou caia-manga exercia um grande poder sobre os habitantes da região e era considerado o senhor do ouro.
Grande parte do poder do caia-manga vinha do monopólio que ele exercia sobre as minas de ouro. Todos que quisessem trabalhar ou comercializar o metal precioso deveriam pagar impostos ao soberano. Além do controle sobre o ouro, o caia-manga também exercia um forte poder político sobre o restante da população e era tido como uma figura quase sagrada.
SAIBA MAIS: O caia-manga usava colares, braceletes e pulseiras de ouro. Quando sua chegada era anunciada, as pessoas que estavam presentes se ajoelhavam e jogavam pó sobre suas cabeças como forma de reverenciá-lo. Nessas audiências, toda a pompa do gana podia ser observada. Além de suas ricas vestimentas, o rei era acompanhado por seu exército particular formado por homens armados e a cavalo, pelos filhos dos chefes de aldeias e pelos ministros que o ajudavam a governar.
Contatos com a África Subsaariana: o caso de Gana
O rei e sua corte viviam na capital do reino que era formada por duas cidades. Kumbi Saleh era um complexo murado cujo interior tinha um palácio feito de pedras e madeiras (dentro do qual havia uma enorme pepita de ouro) e por pequenas cabanas que tinham o teto cônico. Ao redor dessa cidade havia cabanas e pequenos bosques onde viviam os feiticeiros, homens responsáveis pelos cultos religiosos do reino.
Esses bosques eram lugares guardados onde ninguém poderia entrar sem autorização, sobretudo os estrangeiros que eram expressamente proibidos de visitá-los. Esse controle se devia ao fato dos bosques serem considerados lugares ao mesmo tempo sagrados e temidos. Além de comportarem os santuários religiosos, eram nos bosques que os antigos ganas estavam enterrados e era para lá que muitos criminosos eram mandados.  
A segunda cidade que formava a capital do reino era um grande centro comercial no qual moravam muitos mercadores ricos (inclusive muçulmanos), artesãos e pequenos comerciantes.
As casas da cidade variavam de tamanho. Os grandes mercadores habitavam casas de dois andares que possuíam mais de nove quartos. Já os artesãos e os pequenos comerciantes moravam em pequenas casas feitas de barro e cobertas de palha.
Além da capital, o reino de Gana abrangia diversas aldeias cuja maior parte dos moradores era composta por camponeses e criadores de animais. Essas famílias viviam em casas rodeadas por hortas, plantações de pepinos, palmeiras, figueiras e pequenos currais onde eram criados carneiros e algumas aves. Parte do que era produzido por essas famílias era paga como tributo ao caia-manga.
A mineração do ouro, responsável pela riqueza de Gana, era uma atividade sigilosa. Apenas os homens que trabalhavam na mineração e alguns traficantes sabiam a exata localização das minas.
Isso permitia que o caia-manga pudesse controlar o ouro que era retirado de suas terras. Todas as pepitas de ouro pertenciam ao gana, os mineradores e traficantes só poderiam comercializar o ouro que era encontrado em pó.
Como o ouro era abundante, ele era usado como principal forma de taxar os impostos cobrados sobre o comércio realizado em Gana. O caia-manga cobrava um dinar (moeda de ouro criada pelos califas muçulmanos).
Seu peso equivalia a 4,72 gramas para cada carga de sal que entrava em seu reino e dois dinares para a carga de sal que saía. Conforme visto há pouco, os camponeses pagavam seus impostos com as mercadorias que produziam e muitos artesãos utilizavam barras de cobre como forma de pagar o tributo que devia ao gana.
Graças ao ouro e às outras formas de tributo, o caia-manga e sua corte tinham uma vida farta e cheia de regalias.
Embora Gana não tivesse se convertido ao islamismo, durante muitos anos o reino teve boas relações com os muçulmanos que lá viviam. Contudo, no século XI, os almorávidas obrigaram Gana a se converter ao Islã.
Junto com a conversão forçada, a chegada dos almorávidas mudou a estrutura econômica de Gana e a maior parte das zonas agrícolas foi transformada em pasto. Essa mudança causou um grande desequilíbrio no reino que, mesmo depois da expulsão dos almorávidas no século XII, não conseguiu se reestruturar completamente. Em 1204, o povo africano sosso invadiu e passou a controlar militarmente o reino. Muitos soninquês fugiram para outras regiões.
O Comércio Transaariano e a Escravidão
Em muitos casos, o sal e os produtos importados eram trocados por ouro, noz de cola, marfim e escravos. Os escravos que eram comercializados pelos grandes estados africanos eram produtos das guerras que eles faziam com as aldeias vizinhas.
Se, a chegada do islamismo acelerou o processo de desarticulação do reino de Gana, a presença muçulmana na África representou a criação de uma intrincada rede de comércio. Cidades e reinos africanos tinham especial interesse no sal e nos produtos vindos da Europa e do norte da África que eram comercializados pelos muçulmanos.
Os comerciantes muçulmanos compravam tanto escravos quanto escravas da África Subsaariana. Normalmente, as escravas africanas seriam vendidas a outros muçulmanos e se tornariam esposas ou concubinas. Já os homens escravizados seriam transportados para outras regiões, inclusive para a China, Arábia Saudita e para a Europa e estavam sujeitos a executar os mais variados tipos de trabalho.
Na maioria dos casos, os homens e mulheres que eram comprados na África subsaariana precisavam atravessar o deserto do Saara para chegar ao seu destino final (mercados europeus e asiáticos).
Esse transporte de escravos ocorria junto com as caravanas de camelos que faziam o transporte das outras mercadorias. Tal travessia era extremamente difícil, pois o escravo a fazia a pé e muitas vezes carregando diversos produtos. Além disso, o forte calor, o clima muito seco, a pouca quantidade de água e comida e o longo trajeto a ser percorrido dificultavam ainda mais a viagem. Quase um terço dos escravos não aguentava a jornada e morria.
Com o islamismo, o escravo africano se tornou, de fato, uma mercadoria, e uma mercadoria muito importante. Durante quase mil anos (entre os séculos VIII e XIX), os comerciantes muçulmanos compraram e venderam escravos africanos em diferentes continentes. 
Estima-se que cerca de dez milhões de africanos foram comercializados nesse período, número muito próximo do que foi negociado pelos europeus, como será trabalhado nas aulas 9 e 10.
AULA-5- POVOS DA CURVA DO NIGER: O CASO DO MALI E DE SONGHAI
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Analisar a fundação dos impérios de Mali e Songhai; 
2. examinar a organização sociopolítica e econômica desses dois reinos; 
3. relacionar a história desses impérios com a expansão árabe no continente africano. 
O Mali
O Mali foi um dos maiores e mais conhecidos impérios africanos. Localizado no alto do rio Níger, região que atualmente abriga partes dos países Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau e Mali, esse império foi fundado pelo povo Africano Malinquê no século XIII e ficou mundialmente conhecido por suas minas e pelas proezas realizadas por seus imperadores.
Segundo a tradição oral, o império Mali foi fundado por Sundiata no início do século XIII. Rapidamente, o exército de Sundiata conseguiu dominar amplas regiões da África Ocidental e subjugar os povos que nelas viviam. Controlaram as terras do antigo reino de Gana e a parte norte dos rios Níger, Gâmbia e Senegal.
Assim como o governante de Gana recebia o título de gana ou caia-manga, o soberano do Mali recebia o título de mansa. Ao mansa cabia chefiar o exército e controlar a arrecadação de impostos pagos pelo restante da população. Era do soberano a palavra final nos assuntos administrativos e nas disputas jurídicas.
O mansa vivia com sua corte em um amplo palácio, onde além de mobílias eobjetos de ouro, também era possível encontrar tecidos fabricados na Europa e aves raras. Suas vestimentas eram tão ornamentadas quanto seu palácio: segundo um viajante muçulmano que visitou o Mali em 1352, o mansa se vestia com uma túnica vermelha e felpuda, usava um solidéu de ouro na cabeça, além de colares e pulseiras feitas do mesmo metal.
Para governar uma área tão extensa, o mansa contava com o auxílio de dois importantes grupos sociais. De um lado, cuidando das questões administrativas do império, estava a linhagem real, uma espécie de nobreza do Mali, que controlava o pagamento de impostos feito pelas aldeias que deviam obediência ao mansa.
Do outro, estava o poderoso exército do Mali, responsável principal pelas conquistas do império. O exército do Mali chegou a ser formado por cerca de 10 mil homens que se dividiam entre a cavalaria do mansa e os milhares de arqueiros. Esses homens usavam espadas, capacetes, cotas de malhas e cavalos, produtos importados do norte da África e da Europa. Essas armas, junto com a experiência dos arqueiros, fizeram com que, durantes muitos anos, o exército do Mali parecesse indestrutível.
Além da nobreza e do exército, o Mali adotou uma tática de dominação parecida com a que o Império Romano empregou durante suas conquistas. Ao invés de obrigar os povos dominados a viverem de acordo com seus costumes, o mansa preferiu respeitar as diferentes culturas que compunham seu império, desde que essas pessoas pagassem os impostos devidos. Essa estratégia diminuía o índice de revolta dos povos dominados e garantia certa estabilidade para o império.
Assim como ocorreu em outras partes da África, o Mali também tinha homens livres que formavam castas de profissionais como os ferreiros, os carpinteiros e artistas que trabalhavam com barro e metais. Esses homens e mulheres costumavam morar em bairros isolados nas aldeias e cidades do Mali e casavam apenas entre si.
No entanto, a maior parte da população era composta por agricultores, pescadores e pastores. Esses homens e mulheres que viviam do campo moravam em vilarejos e habitavam pequenas casas feitas do barro socado e cobertas com palha. Cultivavam milhete, sorgo, arroz; criavam bois, cabras e camelos e pescavam nos rios próximos ou no mar. Parte dessa produção era destinada à subsistência das famílias camponesas, uma parcela preestabelecida era usada como forma de pagamento dos tributos que deviam ao mansa e o restante ia para os mercados das cidades do Mali.
Junto com os camponeses, havia um número significativo de escravos que trabalhava na produção agrícola do Mali. A maior parte desses escravos (que era obtida nas guerras realizadas pelo exército) era empregada nas fazendas que pertenciam ao mansa. Outra trabalhava nas minas de ouro do império e um pequeno número deles era usado nas casas dos nobres e no palácio do mansa.  
Apesar de a grande maioria da população viver da agricultura, da atividade pastoril e da pesca, o comércio do ouro foi a maior atividade. Devido a seu extenso domínio na região ocidental africana, o mansa controlava não só as minas de ouro, mas também as redes de comércio que levavam esse ouro até o deserto do Saara, de onde ele seria levado para o norte da África e de lá para a Europa e Oriente Médio.
As caravanas que levavam o ouro voltavam com sal, contas de vidros, tecidos e alimentos produzidos em outras regiões. Embora o comércio transaariano abrangesse um número variado de mercadorias, apenas as pessoas mais ricas do império tinham como comprar os produtos que atravessavam o Saara. Para o restante da população, principalmente os camponeses, a única mercadoria acessível desse comércio era o sal.
Em geral, as aldeias camponesas do Mali preferiam realizar suas negociações com povos africanos que viviam mais a oeste e com quem trocavam milhete e arroz por peixe seco produzido na região litorânea.
Embora as mercadorias do comércio transaariano não fossem consumidas por toda a população do império, as rotas comerciais que ligavam o Mali com o norte da África deram riqueza e notoriedade ao império. Essas relações comerciais ficaram ainda mais fortes depois que a nobreza e o mansa se converteram ao islamismo durante o século XIII.
Além do incremento das transações comerciais, a chegada do islamismo trouxe mudanças significativas para o Mali, sobretudo para as principais cidades do império.
Mansa Musa foi o principal imperador islamizado do Mali. A crença desse mansa em Alá era tão forte que, em 1324, o imperador realizou uma peregrinação à Meca que tornou o Mali mundialmente conhecido. Segundo os registros da época, Mansa Musa saiu do Mali acompanhado de mais de sessenta mil servos e quase duas toneladas de ouro. Para mostrar a prosperidade de seu império, Mansa Musa distribuiu seu ouro pelo Egito ficando sem recursos para prosseguir a viagem. Graças ao empréstimo concedido por um rico comerciante de Alexandria, Mansa Musa pode terminar sua peregrinação.
MAPA CARTAGINÊS DO SÉCULO XIV COM DESTAQUE DO MANSA MUSA EM SUA PEREGRINAÇÃO PARA MECA
Na volta de sua viagem, Mansa Musa trouxe consigo o poeta e arquiteto Abu Issak, que foi o responsável pela construção de mesquitas e madrasas (escolas islâmicas onde se estudava religião e direito) nas cidades de Jenné e Tombuctu.
Essas duas cidades se transformaram em verdadeiros centros comerciais e culturais onde os costumes pregados pelo Islã podiam ser observados nas técnicas utilizadas na construção das casas e prédios públicos (era a primeira vez que se usava tijolo no Mali), nas roupas e turbantes que os muçulmanos vestiam e na cultura e educação que eram ensinadas nas universidades árabes de Tombuctu.
Embora o islamismo tenha ganhado muito espaço no império do Mali a partir do governo de Mansa Musa, é importante lembrar que a grande parte da população continuava a fazer o culto a seus antepassados e as cerimônias religiosas para seus deuses e entidades divinas.
As aldeias do império também não conheceram as inovações arquitetônicas e mantiveram as vestimentas que usavam há muitos anos, que na maior parte das vezes consistia em uma tanga de couro. Quando ocorriam crimes ou problemas jurídicos, o mansa realizava o julgamento de acordo com a crença da pessoa em questão, respeitando os diferentes credos de seu império.
A expansão territorial realizada por Mansa Musa trouxe problemas para seus sucessores. Embora o exército Mali fosse bem treinado, não havia homens suficientes para controlar as fronteiras do Império.
No final do século XIV, diversos povos começaram a realizar saques em Tombuctu e outras importantes cidades do Mali. No século XV, os antigos territórios controlados pelo Mali, já enfraquecidos, foram passando para o comando do povo de Gao.
Songhai
A história de Songhai começou cerca de mil anos antes da invasão ao império do Mali. Segundo a tradição oral desse povo, a população Songhai habitava as margens de um dos afluentes do rio Níger e estava dividida em dois grandes grupos, os pescadores (sorkos) e os caçadores (gous), que viviam sob o controle de um sacerdote tirânico chamado Faran Makan Bote.
Todavia, no ano 500 d.C, um berbere de nome Za Aliamen matou o sacerdote e fundou a dinastia Diá, que passou a governar os songhais. Cerca de quinhentos anos depois, o rei da dinastia fundada por Za Aliamen converteu-se ao Islã (embora a maior parte da população continuasse praticando sua antiga religião) e transferiu a capital do seu reino de Cuquia para Gao.
Graças às redes comerciais estabelecidas entre Songhai e outros grupos islamizados, rapidamente Gao transformou-se em um importante entreposto comercial das rotas transaarianas, rivalizando inclusive com Cumbi, a capital do Mali. Em 1325, com o comando do Mansa Musa, a cidade de Gao foi dominada pelo império Mali, ficando sob o domínio dos malinquês por doze anos.
Contudo, a grande virada da história de Songhai se deu quando Soni Ali subiu ao poder em 1464. Graças à forte cavalaria que compunha o exército e o controle de trechos estratégicosdo rio Níger, durante o reinado de Soni Ali, Songhai conheceu sua maior expansão territorial. Além de regiões agrícolas, o exército de Soni Ali conquistou Tombuctu em 1468 (que na época estava sob o domínio dos tuaregues) e, depois de inúmeras tentativas, apoderou-se da cidade de Jenné em 1473. Em pouco tempo, o império Songhai abarcava as principais cidades e regiões agrícolas próximas do Níger.
O grande poderio de Soni Ali era seu exército formado por jovens cavaleiros e canoeiros hábeis que garantiam a segurança interna e promovia guerras cujo objetivo principal era a expansão do território songhai.
O comércio e a vida na cidade foram uma das principais características do Império Songhai. Sob o comando de Soni Ali, diversas cidades que ficavam próximas ao rio Níger acabaram se tornando importantes entrepostos comerciais das rotas muçulmanas que faziam a travessia do Saara. 
O intenso contato com a cultura islâmica acabou desenvolvendo um grupo poderoso de sacerdotes muçulmanos (os ulamas) que defendiam que o Estado deveria ser um braço dos princípios do Islã, ou seja, que Soni Ali devia obediência a eles. 
Todavia, a figura do imperador Soni Ali era controversa devido às suas escolhas e práticas religiosas. Ao que tudo indica, ele não abandonou as crenças tradicionais e recorria sempre que necessário aos cultos, cerimônias e deuses dos antigos antepassados songhais; há, inclusive, algumas interpretações de que ele teria sido um imperador feiticeiro. Soni Ali não só se recusou à obedecer aos ulamas como os exilou. 
Os grupos islâmicos que compunham a nobreza do Império Songhai fizeram com que a dinastia de Soni Ali fosse substituída por uma genuinamente muçulmana. Após a morte de Soni Ali, subiu ao poder o primeiro representante da dinastia áskia: Muhamed Turê.
As investidas bélicas foram mantidas por Muhamed Turê que conseguiu subjugar importantes grupos vizinhos como os fulas, soninquês e, sobretudo, parte das grandes cidades-estado dos hauçás: Kano e Gobir. 
Embora um dos maiores e mais respeitados impérios da África Ocidental, as disputas internas pelo poder fizeram com que Songhai entrasse em decadência após a morte de Muhamed Turê e, em 1591, o território songhai foi conquistado por Marrocos.
AULA-6- OS HERDEIROS DE ODODUA: SOCIEDADE DA AFRICA OCIDENTAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Identificar a matriz mitológica que une a história das duas cidades (Ifé e Benim);
2. analisar as dinâmicas socioeconômicas de cada uma das cidades-estados;
3. reconhecer como a religião foi determinante na conformação política dessas cidades.
O mito de Ododua
Na região sudeste da Nigéria e em alguns pontos dos atuais países de Benin, Togo e Serra Leoa, os grupos iorubas organizaram-se em aldeias e cidades-Estado que estavam ligadas por um mito de origem comum. Em uma das versões mais correntes sobre a fundação das cidades da África Ocidental, Olodumaré, o deus supremo dos iorubas, enviou para terra Odudua com um saco que continha um pouco de terra, uma galinha e uma palmeira de dendê. 
Odudua, um semi-deus iorubano, derramou a terra sobre a água e ali colocou a palmeira e a galinha. Assim que foi colocada no chão, a galinha começou a ciscar e a espalhar a terra por todos os lados, dando origem ao mundo. Esse local inicial ficou conhecido como Ifé, que nas línguas iorubas significa aquilo que se alarga.
Outras importantes cidades iorubas como Benin, e Oió acreditavam ter sido criadas pelos filhos de Odudua, que assim como o pai eram semi-deuses que personificavam forças da natureza. Graças a esse antepassado comum essas outras cidades-estado criaram fortes laços políticos . Nessa aula iremos analisar o caso de Ifé e da cidade do Benin.
Ifé, o Umbigo do Mundo
Construída por volta do século VI d.C. numa região de floresta tropical próxima aos rios Níger e Bernué, durante mil anos Ifé foi “o umbigo do mundo”, segundo os iorubas. 
Embora até hoje seja um importante centro religioso na África, no século XVI Ifé entrou em franco declínio econômico. A religiosidade era um aspecto determinante na vida de Ifé e em boa parte estava representada pela figura do oni, ou rei de Ifé.
Tido como um rei divino, o oni de Ifé, junto com a responsabilidade de legitimar todos os líderes das cidades-estados descendentes de Odudua, também deveria administrar assuntos “terrenos”, como a cobrança de impostos, o controle da agricultura e o intenso comércio que era realizado na cidade.
Por ocupar uma posição estratégica na Costa Ocidental africana, a cidade de Ifé não só tinha uma agricultura e atividade pesqueira fértil, como também se tornou um importante pólo comercial.
ATENÇÃO: Lá eram comercializados milhete, inhame, dendê, feijão e quiabo cultivados nas regiões de floresta, os grãos e cereais produzidos nas savanas, além dos instrumentos feitos de ferro e contas de pedra e de vidro (utilizadas como ornamentos e enfeites). Além dos habitantes da cidade, esse forte comércio atraia povos vizinhos como os nupês e os vangaras.
Junto com a religião e o comércio, a produção artística também era uma característica marcante da cidade de Ifé. As esculturas de cabeças, tanto em terracota como em bronze encontradas em escavações colocaram as esculturas de Ifé na mesma tradição artística encontrada no Egito Antigo, na Grécia e Roma Clássicas e na Itália renascentista, na qual os artistas procuravam alcançar a beleza perfeita por meio do retrato fiel do ser humano.
Se observadas com atenção, percebe-se que as cabeças encontradas em Ifé possuem um acabamento perfeito e são de uma beleza quase inigualável. Tanto as esculturas de bronze como as de terracota retratam o rosto humano em harmonia e equilíbrio, o que sugere que o artista era inspirado em modelos humanos na busca da beleza ideal.
A Cidade de Benin e seus Obás
Localizada ao sudeste de Ifé, a cidade Benin (na atual Nigéria e que por isso não deve ser confundida com o país Benin) também acreditava ser descendente de Odudua e, embora fosse composta pelo povo edo, pagava tributos religiosos à Ifé.
Benin era uma cidade-estado murada que se formou a partir da cornubação de diversos vilarejos próximos. Embora essas aldeias formassem uma unidade política maior, cada uma delas manteve sua estrutura social e seus chefes, o que, com o passar do tempo, causou inúmeros conflitos entre as diferentes lideranças.
Segundo a tradição oral, a unidade política do Benin só foi alcançada quando Eueca passou a governar a cidade como obá, o chefe soberano e divino. Eueca era filho de Erinuide, uma mulher edo, com Oraniã, filho de Odudua, e por isso herdeiro do trono de Ifé. Dessa feita, ele cumpria todos os requisitos para ser o soberano do Benin.
Mesmo sendo um rei soberano e divino, os antigos chefes das aldeias que compunham a cidade de Benin, os uzamas, continuaram exercendo grande poder sobre sua comunidade. 
Eles viviam em vilarejos fora das muralhas da cidade e garantiam a administração desses locais, com exceção da aplicação da pena de morte, que era um atributo exclusivo do obá.
Dentro das muralhas, o obá contava com o auxílio de nobres que cuidavam da vida particular do obá e controlavam as finanças, sobretudo os impostos cobrados pela circulação de mercadorias na cidade.
A baixa fertilidade do solo fez com que Benin tivesse uma produção agrícola pobre. O inhame era a base da alimentação da população edo, só que, ao contrário dos demais produtos, era cultivado por homens. A produção do amendoim, do melão, do dendê e dos feijões ficava a cargo das mulheres.
Em contrapartida, a localização geográfica de Benin permitiu que a cidade rapidamente se transformasse em um importante entreposto comercial. Produtos oriundos da costa atlântica, como o peixe seco, eram vendidos nos mercados de Benin, que também negociavam o inhame, os feijões e a criação de gado da região das savanas e o sal que vinha do Saara.
Outro atrativo de Benin era a produção do índigo utilizado no tingimento de tecidos. Para facilitar esse comércio,foi introduzido um sistema monetário composto de barras e manilhas de cobre, pedaços de ferro em forma de arco e cauris (Um tipo de concha encontrada no litoral africano que foi usada como moeda por diferentes sociedades).
O artesanato também era uma atividade importante em Benin. As corporações de ofício ficavam em bairros específicos e eram responsáveis pela produção de instrumentos e utensílios de barro, cobre e ferro e os ornamentos do palácio do obá. 
Junto com esses ferreiros e ceramistas, o Benin também conheceu uma importante classe de artistas que, segundo a tradição oral, havia herdado o padrão artístico de Ifé graças à migração de um artesão dessa cidade. O bronze, o ferro e a terracota eram as principais matérias-primas para os artistas de Benin.
Foi justamente com o intuito de ampliar suas redes de comércio que Benin iniciou sua expansão militar. 
Sob o comando do obá, a cidade formou um poderoso exército que passou a dominar grandes mercados e controlar rotas fluviais de comércio. Cada colônia fundada era administrada por um “filho de Benin”. 
A ampliação territorial de Benin foi de fundamental importância para a maior centralização do poder nas mãos do obá.
A ascensão de Ogun, que adotou o nome de Euare, representou o ponto de virada na administração da cidade. Durante seu reinado, foi formado um conselho de estado do qual faziam parte tanto a nobreza do palácio de Benin quanto os chefes de pequenas cidades que haviam sido nomeados pelo próprio Euare e recebiam escarificações que os distinguiam dos demais habitantes e dos escravos.
Com um forte exército e uma nobreza coesa, conta-se que as tropas de Euare conseguiram capturar cerca de duzentas cidades e aldeias que passaram a copiar as instituições políticas de Benin. Todavia, mesmo com todo esse poderio militar, Benin não foi capaz de subjugar os povos edos que viviam nas montanhas.
Euare também foi responsável pela reconstrução da cidade de Benin. Além de fortificar as muralhas, ele mandou construir grandes avenidas que separavam o palácio da cidade, onde dispôs as corporações de ofício em bairros específicos, cujas casas eram feitas de barro socado e cobertas de palha. Segundo o relato de um viajante holandês, o palácio de obá era composto por diversos edifícios nos quais viviam o soberano, suas esposas e os nobres com suas famílias, seus agregados e deuses escravos.
Como ocorreu com muitas sociedades da África Ocidental, a história da cidade de Benin sofreu muitas mudanças a partir da chegada dos europeus e do estabelecimento de relações comerciais.
Para entender melhor os conceitos estudados nesta aula, vamos fixar o conteúdo?
AULA-7- O REINO DO CONGO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Analisar a conformação matrilinear do reino do Congo;
2. reconhecer a importância que os ferreiros tinham no reino do Congo;
3. identificar a rede socioeconômica estabelecida pelos chefes do reino do Congo.
O reino do Congo talvez seja uma das sociedades mais conhecidas da África, sobretudo depois d conversão de sua realeza ao cristianismo no século XV. Fundado no final do século XIII, o reino do Congo, localizado no sudoeste do continente, chegou a abranger parte dos atuais países de Angola, Cabinda, República Democrática do Congo e o Gabão. O território do Kongo era banhado por quatro grandes bacias hidrográficas: do 
Zaire, do Kwanza, do Cunene e do Zambeze. A vegetação predominante dessa região era a savana, ao sul da floresta tropical.
Congo e seu Rei
O reino do Congo talvez seja uma das sociedades mais conhecidas da África, sobretudo depois da conversão de sua realeza ao cristianismo no século XV. Fundado no final do século XIII, o reino do Congo, localizado no sudoeste do continente, chegou a abranger parte dos atuais países de Angola, Cabinda, República Democrática do Congo e o Gabão. O território do Kongo era banhado por quatro grandes bacias hidrográficas: do Zaire, do Kwanza, do Cunene e do Zambeze. A vegetação predominante dessa região era a savana, ao sul da floresta tropical.
Segundo a tradição oral, bem antes do século XIII, o Congo já era habitado por povos de origem BANTU, que se organizavam em aldeias agrícolas.
Tais sociedades eram governadas pelas CANDAS, famílias de linhagem que primeiro haviam ocupado aquele lugar. Por volta do ano de 1200, um grupo de estrangeiros, oriundos da outra margem do rio Congo, migrou para a região.
Sob a liderança de Nimi e Lukeni, os muchicongos formaram fortes alianças, criando assim o que os europeus intitularam de reino do Congo.
Pesquisas recentes reforçam a narrativa da tradição oral. Segundo Vansina - um dos maiores especialistas no assunto – o reino do Congo teve sua origem na chefia Vungu, ao norte do rio Zaire. 
Nessa época, organizaram-se conglomerados de chefias e pequenos reinos, que se localizavam ao longo do grande rio.
Dentre os líderes dessas organizações destacou-se NIMI LUKENI, deixando o Vungo, no Mayombe, e cruzando o Zaire, indo à conquista da chefaria Ambunda, onde posteriormente fundaria Mbanza Kongo.
É interessante notar que, mesmo levando em consideração as variações das narrativas, a fundação do reino aparece sempre vinculada à imagem de um herói fundador, que teria se colocado acima das chefias locais. Deste modo, não é de estranhar, que a figura mais importante do reino era o manicongo, ou seja, o rei do Congo.
A partir das leituras feitas dos relatos deixados pelos portugueses, Luca Caregnato afirma que o rei tinha uma função de destaque social no reino (...) 
As insígnias e os objetos presentes no relato acima demonstram que a realeza do Kongo detinha riqueza e prestígio. A figura do rei representava, além do poder político, uma relação com as questões míticas, que explicavam a origem e organização da sociedade bantu. Suas vestimentas e os adornos eram uma constante representação de sua cosmovisão (CAREGNATO).
De fato, os registros deixados pelos portugueses reforçavam o poder político e religioso exercido pelo manicongo, que aparece sempre representado como uma figura austera, como demonstra a imagem.
A Organização do Reino do Congo
Como exerciam o controle direto sobre as províncias, os governadores do reino do Congo tinham muito poder. Acreditava-se, inclusive, que os chefes das candas, junto com o manicongo, possuíam um poder especial conhecido como cariapemba, uma grande força que os destacavam entre os demais. 
Conhecedor dessa força sobrenatural e não querendo correr o risco de perder o trono, era comum que o manicongo possuísse uma esposa em cada uma das doze candas tradicionais do reino, o que garantia que o rei tivesse vínculos pessoais (e muitas vezes familiares) com os governadores de seu reino.
Mas para evitar possíveis disputas políticas, era comum que o manicongo distribuísse a riqueza adquirida pela cobrança de impostos entre os seus pares. Parte do que recebia repassava aos governadores provinciais que, por sua vez, repartiam entre os chefes dos distritos e estes entre os líderes das aldeias e das linhagens.
Atividades Econômicas
Vainfas e Souza (1998) apontam que havia uma divisão significativa na sociedade do Congo: enquanto as cidades serviam como moradia para os grupos privilegiados, as comunidades de aldeias, conhecidas como LUBATAS, eram habitadas principalmente por agricultores e artesãos. 
As lubatas desfrutavam de menor poder político e seus chefes não tinham controle sobre a produção dessas regiões, que deveriam ser entregues aos governadores de província. 
Já nas cidades, a aristocracia não só era detentora daquilo que produzia, como era proprietária de escravos (mão de obra muito comum nas casas da nobreza do Congo).
Morando em casas de barro com telhados de palha, os habitantes das aldeias plantavam o necessário para o seu sustento e para o pagamento dos tributos criavam pequenos animais e aproveitavam os rios da região para a atividade pesqueira. 
Já os artesãos podiam ser divididos entre aqueles que manejavam o ferro (uma minoria)e os artesãos do reino do Congo produziam os tecidos de ráfia. Com teares estreitos, os artesãos trançavam a fibra da ráfia (uma palmeira da região) de diferentes formas. 
A qualidade e a beleza desses tecidos eram tão grandes que eles chegaram a ser utilizados como símbolos de poder e riqueza (como os tapetes que ornavam o palácio do manicongo) e também como moeda nos principais mercados do reino.
A atividade mercantil também tinha grande importância no reino. Os diversos rios da região permitiam que produtos de outras partes do continente, como o sal e o cobre, chegassem até os principais mercados do Congo. 
Lá as mercadorias eram trocadas pelos tecidos de ráfia e também por pequenas conchas conhecidas como nzimbos (que também funcionavam como uma espécie de moeda do reino).
A Religiosidade
Conforme visto anteriormente, o rei era o personagem mais poderoso do Congo. O manicongo e os governantes de província não eram as únicas pessoas com poder no reino do Congo. Os GANGAS, como eram conhecidos os feiticeiros, também tinham poderes sobrenaturais. Tais homens, que normalmente eram ferreiros, moravam próximos a rios e cachoeiras e também detinham o poder da cariapemba.
Com a ajuda de objetos conhecidos como INQUECES (objetos utilizados pelos gangas como esculturas de madeira, pedra e conchas que tinham atributos mágicos), os gangas conseguiam riqueza e saúde, mas também dor e destruição.
Muitos cangas também eram exímios ferreiros, atividade considerada mágica na maior parte da África Subsaariana. Por causa desse grande poder, os gangas eram temidos e excluídos da sociedade, só sendo visitados em momentos especiais, como as crises econômicas e políticas.
A Decadência do Reino
No entanto, nem mesmo o poder das inquices dos feiticeiros, ou a cariapemba dos manicongos impediu que o reino entrasse em decadência no século XVII. 
Existem diversas razões para o fim desse reino, mas a conversão do manicongo ao cristianismo, ainda no século XV, e a criação do comércio de africanos escravizados para as Américas acabaram enfraquecendo as redes de poder dessa sociedade, fenômeno que atingiu outros povos da África Subsaariana, como veremos nas próximas aulas.
AULA-8- A SOCIEDADE DA AFRICA ORIENTAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Examinar a estrutura de poder do Império Monomotapa;
2. estudar a correlação entre o poder político, as práticas econômicas e as construções arquitetônicas desse império;
3. analisar a importância do comércio e do islamismo para as cidades banhadas pelo oceano Índico.
Na costa Índica do continente africano outras sociedades desenvolveram-se e, graças às articulações estabelecidas entre elas, via transações comerciais, estabeleceram interessante intercâmbio não só na parcela do continente africano banhada pelo oceano Índico, como também com outros continentes, principalmente o Asiático. Dessa feita, muito antes do contato com os europeus, diversos povos da África faziam parte daquele que foi o comércio mais lucrativo até meados do século XVII: o comércio do Índico, que povoou o imaginário dos europeus medievais.
O Império Monomotapa
O Império Monomotapa foi fundado pelo POVO XONA por volta do século XIII, ao sul do rio Zambeze, ocupando parte do planalto do Zimbábue e chegando até o rio Limpopo (atual país do Zimbábue).
Diferentemente do restante da região, o planalto do Zimbábue possuía terras férteis e não era afetado pela mosca tsé-tsé (também conhecida como mosca do sono e que é mortal para animais como boi e carneiros), o que permitiu que os xonas conseguissem ocupar aquelas terras.
As origens do Império Monomotapa ainda não estão totalmente definidas, mas arqueólogos e outros estudiosos apontam que, desde o século XI, o planalto era ocupado por vilarejos. Graças à boa qualidade do solo e à abundância dos rios, os xonas conseguiram desenvolver a agricultura e a criação de gado, tornando-se, assim, os grandes senhores da região.
O fator religioso também foi de fundamental importância para a supremacia dos xonas sobre
os demais povos da região. De acordo com alguns estudos, os xonas acreditavam em um deus supremo chamado MUÁRI. Contudo, os homens só podiam entrar em contato com esse deus por meio dos espíritos dos mortos (VADZIMU E UMONDOROS), que eram cultuados do alto da colina. 
É provável que os outros povos da região, amedrontados e encantados com as vozes que ecoavam do alto da colina, tenham criado um respeito religioso pelos xonas. Em razão disso, esses povos passaram a pagar tributos aos xonas em troca de proteção.
O Grande Zimbábue
	As aldeias e vilas dos xonas tinham uma organização muito particular. Tais vilarejos eram murados com grandes blocos de pedras que serviam como proteção para as casas construídas de dagas (uma mistura feita com argila, cascalho e esterco) e sapé. Essas muralhas de pedra com formato cilíndrico ficaram conhecidas como zimbábues (que na língua xona significa “casa de pedra” ou “casa do chefe”). Dentro de cada zimbábue era possível encontrar de cinco a oito famílias.
A imagem ao lado apresenta uma construção que ficou conhecida como “Grande Zimbábue”.
O Ouro e o Comércio do Índico
A descoberta das minas de ouro perto do planalto incrementou ainda mais a economia dos xonas. A criação do gado já havia dado origem às principais redes de troca, todavia, o ouro incrementou ainda mais as negociações feitas nessa região. O ouro do Grande Zimbábue passou a ser negociado com as grandes cidades-Estado do litoral Índico do continente, como Quiloa e Sofala. Esse comércio permitiu que o Grande Zimbábue comprasse porcelana chinesa, vidros feitos pelos sírios e contas dos mais diversos lugares.
O crescimento comercial também resultou na ampliação dos zimbábues que ficaram maiores e mais complexos. O Grande Zimbábue (o maior complexo criado pelos xonas) chegou a abrigar quase duzentas pessoas e era um verdadeiro labirinto de muralhas de pedra.
Embora a população total do Zimbábue tenha chegado a aproximadamente 18 mil pessoas, essa sociedade entrou em decadência durante o século XV. O crescimento não controlado da população, a seca de alguns rios próximos e o aparecimento da mosca tsé-tsé foram algumas das razões dessa decadência. Por isso, o grande chefe que governava a região, NIATSIMBA MUTOTA, resolveu migrar para o norte em busca de novas terras férteis, tendo sido acompanhado por parte da população.
Essa nova sociedade herdeira do Grande Zimbábue ficou conhecida como Império Monomotapa, pois era governada pelo monomotapa, que significava “senhor dos cativos” ou “senhor de tudo”. Tal sociedade era formada por diferentes aldeias, cujos habitantes produziam diversos tipos de cereais e criavam gado.
A figura central do reino Monomotapa era o “rei” que tinha poderes divinos, pois como foi pontuado anteriormente, ele fazia contato direto com os ancestrais. O rei aparecia em público poucas vezes e, quando o fazia, estava vestido com roupas simples, produzidas em suas próprias terras, mas, cabia ao soberano o controle das minas auríferas que fizeram com que seu império ficasse conhecido em boa parte da porção oriental da África.
O monomotapa era assessorado por um conselho, formado por nove esposas, que controlava a cobrança de impostos e cuidava das terras. Todavia, ao contrário do próprio monomotapa, os membros de sua corte usavam roupas de seda bordadas com ouro, além de inúmeros braceletes e colares. Os homens usavam cabelos compridos e os penteavam em forma de chifre. O restante da população usava tangas feitas de pele de animal ou de cascas de árvores. A corte Monomotapa frequentemente mudava o local de sua morada.
Ao que tudo indica, o ouro que havia conferido prestígio e poder para o Império Monomotapa também foi seu algoz. No século XV, a escassez da mina causou uma grave crise econômica no Império que acabou fragmentando-se em unidades políticas menores. Essa crise política foi agravada pela chegada dos europeus, causando assim a decadência total do império.

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