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20130912 Trabalho Mercador Veneza

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CURSO DE DIREITO
Disciplina: Teoria do Direito II
JOÃO HENRIQUE RIBEIRO NUNES
 
QUESTIONÁRIO SOBRE A OBRA “O MERCADOR DE VENEZA”
 
Professora: Ms. DANIELA OLIVEIRA PIRES
Campus: Guaíba
 
Guaíba – RIO GRANDE DO SUL
2013/2
RESPOSTAS DAS QUESTÕES PROPOSTAS EM ANEXO:
1 - A peça de Shakespeare, comédia romântica com ares de suspense transita em torno de uma dívida contraída pelo mercador Antônio em favor de seu amigo Bassânio, para o fim de este fazer corte à uma jovem e rica donzela órfã pela qual estava enamorado. Para desposar a donzela, deveria o cortejador passar pelo desafio imposto pelo falecido pai consistindo em escolher entre três baús (ouro, prata e chumbo) e acertar em qual destes estava a foto da pretendida. De tal desafio o amigo do mercador saiu vitorioso, porém, antes do casamento já chegaria a notícia da execução da dívida contraída pelo seu amigo mercador em seu favor junto ao judeu Shyloc, seu encoberto inimigo. O Judeu pelo mercador nutria ódio de religião por conta das perseguições católicas, também pelo mercador emprestar dinheiro sem cobrar juros, diminuindo assim seu mercado potencial, pelo desdém demonstrado pelo mercador até antes da contração do empréstimo e pelo fato de que ao aceitar convite do mercador para jantar em sua casa, sua filha Jéssica aproveitara para roubar-lhe dinheiro e fugir com seu namorado, o amigo de Bassânio para a viagem de cortejo à bela Pórcia, sua pretendida. Bassânio toma com sua noiva a quantia em dobro da dívida assumida por seu amigo e navega em retorno para salvá-lo. Antes da sua partida havia recebido de sua noiva um anel como símbolo de sua união e prometera-lhe nunca tirá-lo do dedo. Sua noiva promete esperar-lhe enclausarada no convento com sua pajém, porém logo após sua partida ruma para Roma, toma encaminhamento do Juiz Belário, seu primo, e ruma para Veneza a fim de participar do julgamento travestida de homem, o jovem Juiz Baltazar. Desta forma consegue livrar Antônio da morte e pede em pagamento a Bassânio, que este lhe desse o belo anel que portava, ao que relutante, Bassânio dá o anel ao Juiz sem saber que era ele sua própria noiva. Ao chegarem em casa, são interpelados por Pórcia e Bassânio assume ter dado o anel à Baltazar. Pórcia mostra-lhe o anel, e diz que teve de ganhá-lo de um jovem Juiz ao preço de sua pureza. Bassânio fica desnorteado até que Pórcia explique todo o acontecido e devolvá-lhe o anel, perdoando-o.
Em minha opinião, há um amor fraternal de uma relação quase homossexual entre o mercador e seu amigo, a ponto de um pelo outro sacrificar qualquer bem precioso, seja a vida, seja o casamento, riquezas, enfim, o ideal de lealdade é fortemente expressado por Shakespeare na peça, além do senso de justiça cega e impiedosa que se volta contra o judeu.
2 - Os judeus no contexto da obra de Shakespeare “O mercador de veneza”, já sofriam a segregação em guetos fechados por muros e acessíveis somente por canais, tendo tolidos vários direitos civis, inclusive o de comercializar livremente. Tal situação denota a influência da Igreja Católica no governo monárquico ora vigente, após o empreendimento das últimas cruzadas do medievo, pois a igreja pregava o desapego aos bens materiais, que deveriam ser doados à obra divina, repudiava a expectativa de lucro e a usura. Ocorre que, com os cristãos não podendo emprestar dinheiro a juros, sobrava este nicho como forma de sobrevivência e ganho a ser explorado pelos judeus, visto que desprovidos de propriedades e impedidos de comerciar livremente deveriam fazer algo para garantir alguma renda. 
3 - Em uma análise mais aprofundada podemos identificar em maior ou menor grau todas as técnicas interpretativas abaixo, pois sistematicamente uma delas nos remete às demais, estão ao longo da peça relacionadas e entrelaçadas podendo ser melhor identificadas da forma seguinte:
a.1) Literal extensiva
A técnica literal é a mais utilizada na análise do caso Judeu X Mercador, é apresentada de forma extensiva ao reconhecer a cláusula penal imposta pelo judeu ao mercador e a hipótese configurada pela inadimplência deste.
a.2) Literal restritiva
Ao analisar o mesmo contrato, após reconhecer o direito nesta norma particular adotada de o Judeu retirar do corpo do mercador sua carne conforme o contrato estabelecia (uma libra), porém, como gramaticalmente grafado, nem mais, nem menos, e sem que para isso pudesse o Judeu derramar uma só gota de sangue do mercador que era católico.
b) Lógico
A interpretação lógica é utilizada pelo Juiz Baltazar (Pórcia), a meu entender, desde o momento em que ela invoca a piedade do judeu, pois sabia que chegaria o momento em que o judeu é que necessitaria da piedade da justiça.
c) Sistemático
O caráter interpretativo sistemático é utilizado pelo Juiz Baltazar ao aplicar o conjunto de normas venezianas vigentes na decretação de sentença ao Judeu, visto que o impeliu a um arcabouço normativo de tal forma que conseguiu esternar o real motivo da contenda e responsabilizá-lo pelos seus atos.
d) Histórico
A interpretação histórica está implícita no texto, mas podemos representá-lo pela detecção pelo Juiz dos aspectos culturais e religiosos que levaram o Judeu a utilizar como garantia contratual um pedaço de carne do mercador.
e) Teleológico ou sociológico
A interpretação teleológica ou finalística é apontada pelo Juiz ao demonstrar que o real motivo do contrato e da garantia era levar a cabo a vida do mercador, seu desafeto, e imputar ao judeu a pena cabida em caso de atentado de estrangeiro contra a vida de veneziano.
4 - Muito já foi escrito sobre a situação da contenda entre o Judeu e o Mercador da obra de Shakespeare, tanto a favor do Judeu quanto a favor do Mercador. Relatar a validade ou invalidade do célebre julgamento e de sua sentença ante a legislação Veneziana do Século XVI não é o escopo da singela redação. Em vez de analisar o julgamento, analisaremos o instrumento particular que deu origem à execução pretendida - o contrato.
Analisar a validade do contrato no contexto do ordenamento jurídico àquela época seria tarefa hercúlea e redundante, ao que propomos analisar a validade do contrato, unicamente com fins acadêmicos, perante o ordenamento jurídico brasileiro hodiernamente vigente.
Prevalece em nosso ordenamento jurídico o princípio do pacta sunt servanda, eixo principal do marco regulatório civil desde os tempos do Código Napoleônico, que na expressão de “os acordos devem ser cumpridos”, envolve os contratos particulares com força de lei inter partes gerando as obrigações dele decorrentes como força de expressão da vontade das partes contratantes.
No entanto, diante do atual ordenamento constitucional, que valoriza, sobretudo, a dignidade da pessoa humana, a boa-fé objetiva e a função social dos contratos, o princípio do pacta sunt servanda foi relativizado.
O princípio rebus sic stantibus que deu origem à Teoria da Imprevisão, adotada pelo Código Civil de 2002 em seus arts. 317 e 478, impõe que "o contrato só pode permanecer como está, se assim permanecerem os fatos", ou seja, como regra geral, os contratos devem ser cumpridos enquanto as condições externas (situação financeira e social de cada contratante, por exemplo) vigentes no momento da celebração se conservarem imutáveis.
Porém ao que se refere ao contrato efetuado entre Shyloc e Antônio, o vício principal estaria assentado na ilicitude da multa pecuniária estabelecida em uma libra da carne do devedor, pois além da falta de boa-fé objetiva e ausência da função social preconizada em nossa constituição, há uma afronta direta ao princípio elencado no art. 1, III, “dignidade da pessoa humana”, pois fere o direito à personalidade do individuo tutelado pelo art. 13 do CC onde se lê: “salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.”
Portanto, à luz do ordenamento jurídicovigente podemos decretar nulo de pleno direito o contrato celebrado entre o judeu da peça de Shakespeare e o desafortunado mercador.

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