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10. Nulidades

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Nulidade distinguir das invalidades e aplicá-las corretamente 
Defeitos nos atos processuais: invalidades. A forma como efetiva garantia. Ver 
arts. 563 a 573, CPP. Temos: irregularidades, inexistência e nulidades (tradi-
cional e equivocadamente: absoluta e relativa). 
Irregularidades - falhas materiais irrelevantes, sem afetar questões processuais 
ou constitucionais; meras irregularidades formais, inconsequentes, como erro de 
grafia a não impedir identificação do acusado ou o juiz levar um dia a mais para 
sentenciar. Resolve-se no art. 569, CPP. 
Inexistência - aqui não propriamente defeito, mas falta de elemento essencial ao 
ato ou insuficiente suporte fático a impedir reconhecimento e expressão: sen-
tença sem dispositivo ou firmada por quem não é magistrado... 
Nulidade absoluta - dá-se ante violação de norma cogente, de interesse público, 
ou princípio constitucional; pode ser declarada de ofício ou a requerimento, com 
presunção de prejuízo ou não-atingimento de seus fins; e é insanável, sem se 
convalidar nem mesmo pela preclusão ou trânsito em julgado (exceto caso de 
coisa julgada). Exs.: processo sem defensor, erro em quesitação no júri, etc. 
Nulidade relativa (?) - aqui a norma violada é, em sua essência, de interesse da 
parte, privado, dependendo tal reconhecimento de seu oportuno (jamais de ofí-
cio, e sob pena de preclusão) apontamento, demostrado o prejuízo sofrido. 
Ora, a fraude é evidente, e a serviço do punitivismo, quanto a essa categoria. 
Igualmente, a confiabilidade do CPP a esse respeito, que traz um rol, inclusive. 
E isso porque nulidade só existe após decisão judicial que a reconheça; o que é 
sanável ou não apenas se define à luz da principiologia constitucional; e não ex-
iste “verdade substancial” alguma a ser usada como critério de qualquer coisa! 
Ver arts. 564 (caput) e 566, CPP. 
As tais nulidades relativas seriam as do art. 564, III, d, e (segunda parte), g, h, e 
IV, CPP; as demais, absolutas. Muito cuidado com as reformas pontuais - arts. 
571 e 572 (caput), CPP - e a constante variação jurisprudencial. 
As questões de não se atingir o fim previsto e se ter prejuízo, necessariamente, 
para que a declaração de nulidade aconteça => estes conceitos - arts. 563 e 572, 
II, CPP - são de todos imprecisos, problemáticos e inadequados. A forma existe 
tão-só para a eficácia do princípio constitucional por trás dela. Isto é garantia; ou 
não se justifica. Em via processual penal, descabido o civilista pas de nullité 
sans grief! Como fazer a prova? Fica-se à mercê daquilo que o juiz ou tribunal 
bem quiser (cf. seus julgados). 
A solução seria que o magistrado, e não a parte (sobretudo a defesa) ao alegar 
nulidade, fundamentasse que a atipicidade não resultou em prejuízo ou impediu 
que o fim previsto fosse atingido, e assim: ou sanasse o ato, ou o fizesse repetir 
(praticar outros em consequência). Convalidar, validar pelo decurso temporal, é 
autêntico absurdo processual penal. 
Erra-se sempre em transpor civilismos ao âmbito processual penal. Ora, a 
demonstração é clara: não há nele interesse privado, e, como garantidor, o mag-
istrado poderia de ofício reconhecer haver qualquer ato processual defeituoso, a 
ser sanável ou insanável. Desse modo, nulo seria apenas o ato atípico que fosse 
irrepetível, insanável e relevante ante o sistema de garantias constitucionais (ju-
risdicionalidade, garantia do sistema acusatório, presunção de inocência, contra-
ditório e ampla defesa, e motivação das decisões judiciais). Não se trata de 
sanção, pois. O nulo é inválido, tem defeito, mas existe tanto quanto o não-nulo, 
válido ou não-defeituoso. 
Pois bem, se estas estão a serviço do submetido ao exercício do poder, da mesma 
maneira o sistema de nulidades, a seu interesse (excepcionalmente do acusador) 
- forma (tipicidade/tipo processual) é garantia e, ademais, limite de poder - 
fazendo valer a ele o devido processo legal. Este limite (e por que não controle?) 
aqui apontado diz respeito à pretensão acusatória - ius ut procedatur. Na dúvida, 
desentranhamento. 
A contaminação do art. 573, CPP, deve ser estendida em relação ao ato final do 
processo, vale dizer, a sentença - atos todos complexamente vinculados a ela, 
sem reducionismos e simplificações - cf. a Constituição; assim também a leitura 
do art. 567, CPP - anulação ab initio —> jurisdição, e não apenas sentença. 
Atos defeituosos havidos no inquérito policial devem ser refeitos em juízo ou, 
irrepetíveis, objeto de produção antecipada de prova. Em qualquer circunstância, 
o respectivo registro terá que ser desentranhado. 
Melhor obra sobre o tema: 
Uma nova teoria das nulidades: processo penal e instrumentalidade constitu-
cional, de Ricardo Jacobsen Gloeckner (tese, UFPR).

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