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a) ; "f)DIo o oC m 5fl.(-o o m .TI N Coleção o QUE É, coMo sE FAZ Auto-estima - o que e, como se faz JosÉ-Vrrucrlrrn Bonrr Bioética - o que é, como se faz Fenumlo Lot-.ts Criotiuidade & redaçao - o que é, como se faz, 2'ed. R. M.a.ncHtoltt Cultura brasileira - o que é, como se faz, 2 ed. A. Velruuccrt Ensaio filosófico - o que e, como se faz A. P. MenrtrutcH O ensino na escola - o que é, como se faz, 2 erJ'. M. Slnr-OrlcE Ética sqciol - o que e, como se faz Etntco Cnrev,qcct Interuet na escola - o que e, como se faz, 2" ed. A. U. Sognel Jejum - o que é, como se faz, 4' ed. P,crRicto Sct,{otNt Lectio diuina - o que e, como se faz T. Hru. A moliuaçao em sala de aula - o que é, como se faz, 4' ed. Jnsús Aror'rso Tlrte, Ettnqur CerutLA Flr,c Oração - o que e, como se laz, 2^ eel, H. Nouwrr Pecado - o que é, como se faz Xeuen THÉvu,ror Petlagogia da gestão mental - o que e, como se faz Alrone lt Ln Garellenrc, Grl:É',rÉvt Cnrral Pesquisa na escola - o que é, como se faz, 9' ed. M. Brct'to Preconceito lingüístico - o que é, como se faz, 15' ed. M. B.qcNo Relação professor-aluno - o que é, como se faz, 3" ed. P. Monqtts A. P. Martinich ENSAIO FILOSOFICO o que é, como se faz Tradução: Aretr U. SosRAr Edlções Loyolo TÍtulo original: Phílosophical Writing - An Introduction, 2d Edition O Prentice-Hall Inc, 1989 @ da 2^ ed.: A. P. Martinich, 1996 O direito de A. P. Martinich de ser reconhecido como autor desta obra se baseia no Copyright, Designs and Patents Act cle 1988. Blackwell Publishers ISBN: 0-631-20281-1 Direqão Fidel García Rodrígtez, SJ Preparação Cecília Regina Faria Menin Revisão Maurício B. Leal Diagramação Telma dos Santos Custódio Edições Loyola Rna 1822 n" 347 - Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP Caixa Postal 42.335 - 04218-970 - São Paulo, SP f,: (0*+11) 6914-1922 @: (0**11) 6163-4275 Home page e vendas: www.loyola.com.br Editorial : loyola@loyola.com.br Vendas : vendas@loyola.com.br Todos os direitos resentados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou lransmitida por qualquer forma e/ou quais- quer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gra- vação) otr arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissito escrita da Edilora. ISBN:85-15-02227-3 O EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2002 Para minha mãe e em memória de meu pai Su má rio Nota à segunda ediçào Introdução 1 Autor e público I 0 professor como público 2 0 aluno como autor 2 Lógica e arglumentn no texto 1 O que é um bom argumento? 2 Argumentos válidos 3 Argumentos convincentes 4 Consistência e contradição 5 Contrários e contraditórios 6 A força de uma proposiçâo A estrutura 1 Esboço da 2 Anatomia { A elaboração de um ensaio filosófico estrutura de um ensaio I Como escolher um tema de ensaio 9 1l 21 27 26 35 36 43 56 63 2 Técnicas de elaboração de um ensaio 3 Esboço 4 Elaboração sucessiva filosófico ..,....... 67 7l 79 79 B8 97 9B 100 to2 103 5 Anotação de conceitos 6 Pesquisa e elaboração 7 Aperfeiçoamento 8 A evolução de um ensaio 5 Táticas para o texto analitico 1 Definições 2 Distinções 3 Análise.... 4 Dilemas 5 Contra-exemplos 6 Reductio ad Absurdum 7 RaciocÍnio dialetico 6 Algumas restrições ao conteúdo 1 A busca da verdade 2 0 uso da autoridade 3 O ônus da prova 7 Algumas metas em termos de forma I Coerência 108 111 113 115 131 133 139 t45 155 161 774 183 193 194 195 200 203 203 208 278 223 227 228 236 239 245 251 2 Clareza 3 Concisão 4 Rigor Os problemas da introdução 1 Perder o rumo 2 A cauda abanando o cão 3 Fazer rodeios Apêndice: "Domingo à noite, tenho de entregar um ensaio na segunda de manhã" Índice remissivo Nota à segunda edição Tl m carta a um amigo, Voltaire se desculpa por sua Eextensão: "Se eu tivesse tido mais tempo, esta carta teria sido mais curta". Revisando as seções presentes a primeira ediçáo deste livro, muitas vezes encontrei ma- neiras de torná-las mais curtas e, creio eu, melhores' Mas tambem me ocorreram ideias sobre como acrescen- tar novos tópicos ao livro a fim de aperfeiçoá-lo' Trata- se essencialmente das seções sobre definições, contrários e contraditórios e distinções. Ao preparar a segunda edição, contraí, para minha felicidade, d.Ívidas com alguns de meus atuais e ex-alu- nos, que flzeram comentários ao texto: Stephen Brown, Sarah Cunningham, Nathan Jennings e Lisa Maddry' Minha mulher, Leslie, leu, como sempre, todo o original' Desejo a$radecer ainda a meu utilíssimo editor, Steve Smith' Por fim, boa parte de meu pensamento e de meus textos no campo da filosofia teve como sede o Miami Subs and Grill on the Drag. Desejo agradecer aos proprie- tários, Michael e Lisa Mermelstein, por sua hospitalidade' -9- lntrodução f) s ensaios filosóficos podem apresentar as mais diver-Lf sas estruturas. Para quem está acostumado a escrevê- los, a escolha de uma estrutura não e difícil, nem mesmo consciente. 0 ensaio parece escrever-se a si mesmo. Para quem não está habituado a fazê-lo, escolher uma estru- tura e torturante ou aparentemente impossÍvel. Ofereço este livro a esta segunda categoria de pessoas, de modo geral estudantes. E, em vez de fazer um panorama das muitas estruturas possiveis, concentrei-me -na que julgo ser a estrutura mais simples e direta que um ensaio f,lo- sófico pode ter. Meu propósito e ajudar os estudantes a escrever algo de valor, de modo que eles possam começar a desenvolver seus próprios estilos. 0 projeto e análogo ao de ensinar alunos de arte a desenhar a mão humana. 0 primeiro objetivo e mais a precisão do que a elegância. A elegância na escrita não se aprende. Ela resulta de uma especie de gênio, e o gênio começa onde as regras acabam. Pretendo discutir algo que considero transmissÍvel: como escrever prosa filosófica clara, concisa e precisa. A elegância é desejável, mas a simplicidade não o e menos. E e à simplicidade que dirijo meus esforços. - 11 - Ensaio filosófico Disse, um dia, um filósofo: ,,Metade da boa filosofia e boa gramática'l Essa observação e espirituosa, profunda e, como todo bom aforismo, dificil de explicar. Antes de tentar explicar ao menos parte dela, permita que eu me antecipe a um possível equÍvoco. Embora a boa escrita filosófica seja gramatical, não há neste livro nada que virtualmente lembre o sentido de gramática que lhe diva seu professsor da quinta serie. potencialmente, todos os alunos conhecem as regras gramaticais, o que não impede sua flagrante violação em sua prosa filosófica. Qual será o motivo disso? Uma das razôes é o fato de a filosofia envolver, muitas vezes, a tentativa de atribuir às coisas sua cate- -12- lntroduçáo formaram o adjetivo 'Justo" no substantivo o justo, ale- gando ser estritamente ccrreto identificar Deus com a própria justiça e, assim, dizer "Deus e o justo'l Há ocasiões em que a tentativa de dizer algo novo e correto acerca dos limites da realidade faz a gramática ruir completamente, como ocorre quando Martin Hei- degger diz "Nada nadifica". Como o pronome nada nào pode ser um verbo, nadifica e ininteligivel. Alem disso, Heidegger parece usar nada como substantivo na pri- meira ocorrência na frase, como se "nada" nomeasse alguma coisa. (Claro que Heidegger discordaria de mi- nhas observações gramaticais, e essa e apenas mais uma razão pela qual a filosofia e dificil: não e tarefa simples fazer que os filósofos concordem mesmo com relação à gramática.) Thomas Hobbes foi o primeiro a discufir a propen- sâo dos filósofos a cometer erros de categoria ao com- binar palavras de uma categoria com palavras pertencen- tes a outras.Grosso modo, tm erro de categoria é o equivalente lógico da mistura de maçãs com laranjas. A frase "ldéias verdes descoloridas dormem furiosamente" apresenta vários erros de categoria. Coisas sem cor não podem ser verdes nem ter outra cor; as ideias não podem dormir nem estar despertas, e nada pode dormir furiosa- mente. Essas categorias simplesmente não combinam. Um dos exemplos de erro de categoria de Hobbes é 'A qüi- didade e um ser". Talvez concordemos com ele que essa frase e absurda sem aceitar suas razões para pensar as- sim. Considere outro exemplo dele: "0 intelecto com- preende". A seu ver, o intelecto é o nome de um acidente -13- Ensaio filosófico ou propriedade dos corpos, que e de uma categoria, ao passo que úmpreende, ainda que gramaticalmente seja um verbo, e o nome de um cjrpo, que é de outra cate- goria. Assim, ele sustenta que a frase "0 intelecto com- preende" e literalmente absurda. 0 que Hobbes julga Ii- teralmente verdadeira e a frase "0 homem compreende por meio de sua inteligência'i E bem possivel que alguns discordem de Hobbes quanto ao fato de a frase "0 intelecto compreende" fazer ou não sentido e critiquem seu ponto de üsta filosóflco-gramati- cal, que está na base de seu juÍzo gramatical. É comu. entre filósofos discordar sobre o que e ou não absurdo. Considere a frase 'As crenças são estados cerebrais'i Esta frase exprime um elro de categoria ou uma brilhante des- coberta sobre a natureza do mental? As opiniões dos filó- sofos divergem. Logo, nem sempre é fácil dizer se alguma tese filosófica constitui um grande achado no campo da filosofia ou um agregado gramatical sem sentido. Por con- seguinte, une-se à dificuldade inerente da fllosofia mesma a da redaçáo filosófica, que muitas vezes geme de angústia sob o peso atribuído à sintaxe e à semântica. 0s estudantes com freqüência escrevem frases pa- tentemente agramaticais porque essa é a maneira como vêem a filosofla. E eles a vêem assim porque o pensa- mento nela expresso e radicalmente estranho para eles. Não há no sistema de crenças do aluno um lugar em que ele possa incorporar sem problemas esse pensamento. Por isso, o aluno, quando não situa impropriamente o pensa- mento, isola-o de seus outros pensamentos, mais próxi- mos dele. Numa palavra, o pensamento é estranho. Conse- -14- lntroduçao qüentemente, quando vão explicar' criticar ou mesmo endossar esse pensamento' os ãlurtot podem ser tentados a usar uma lin$ua$em incoerente ou agramatical por terem distorcido e mutilado o pensamento semicompreendido' ir, ..arçu", ainda que confusa' é uma representaçáo precisa de sua comPreensáo' Se você se vir t"""'Ao uma frase ou parágrafo $ramaticalmente sem control ensa- mento esteja sem controle' r sua própria Prosa como medida áo do Iõil a resPeito do qual o das partes de seu ensaio que P (Devo as idéias deste Para Essa exPlicação de Por e boa $ramática insPira um fica e gramatical' Quem e capaz de escrever uma serie de frases consistentemente gramaticais sobre algum assunto filosóflco t.*, pto'"t'ehãente' uma ideia coerente daquilo que discute. Outro criterio associado da boa redação filosófica é sabedoria convencional que s, a linguagem vaga e verbor- ndidade e de argúcia' mas de osofia que seguem esses crite- rios na verdade lançam aos alunos um desafio: escrever jramatical, clara e precisamente' Sendo a linguagem expressão do pensamento' a linguagem clara exprime o pensamento claro' 0 estilo de redação deve facilitar a iã*p...rrao da filosofia e aumentar o grau de clareza' 15 - Ensaio filosófico Se metade da boa filosofia e boa gramática, a outra metade é o bom pensamento. 0 bom pensamento assume muitas formas. A forma na qual vamos nos concentrar é muitas vezes chamada de analise. A palavra análise tem, em filosofia, muitos sentidos, sendo um deles o de meto- do de raciocinio (discutido no capitulo 5). 0utro sentido refere-se a um método filosóflco ou escola de filosofia que reinou soberana durante a maior parte do seculo XX. Muitos julgam esse metodo passado e dizem que nos encontramos hoje numa época pós-analitica. Não tomo, neste livro, posição quanto a isso. Uso analise num sen- tido bem amplo, que inclui a filosofia analítica e a pós- analitica. Em meu uso do termo, a meta da fllosoÍia analítica e a verdade, apresentada de modo claro, organi- zado e bem-estruturado. Faço uma flrme opção pela cla- reza, pela ordem e pela estrutura. A meta da análise, em seu sentido amplo, é tornar a fllosofia menos difícil do que ela seria. Trata-se apenas de um corolário de um princípio mais geral: todos podem complicar um assunto; e preciso um pensador rematado para tornar um assunto simples. 0s textos filosóficos assumem muitas formas, in- cluindo o diálogo (Platã0, Berkeley, Hume), a dramatiza- ção (Camus, Marcel, Sartre), a poesia (Lucrécio) e a ficção (Camus, George Eliot, Sartre). Só vou discutir a forma ensaio. Há três razões para essa decisã0. Em primeiro Iugar, essa e a forma em que provavelmente vão lhe pedir que escreva. Em segundo, e a forma mais fácil de escre- ver. Em terceiro, o ensaio e hoje a forma padrão da fllosofia profissional. Embora a forma diálogo atraia so- bremaneira muitos alunos, sua boa execução exibe extre- _16_ lntroduçao mas dificuldades. 0 diálogo nos tenta ao preciosismo' à estrutura de um esta nossa obra' e lê-lo com mais açáo filosóflca de cada um' fórmações do que outras' 0 s de autor e de Público em sa filosófica dos estudantes' Tanto eles como os professores se acham numa situaçáo ii;.táti, incomum, 'À contrário dos autores típicos' os alunos sabem menos sobre o assunto do que o seu público' embora náo se espere que eles admitam isso' 0 capítulo 2 é um curso elementar,àb" ot conceitos básicos da lógica' Ele contem informações essenciais a compreensáo dos ele- ,.n o, dos capítuloi seguintes' Quem conhece lógica dará uÀã iapia" passada poiele, ao passo que, os não familia- rizados com ela OevÉm lê-lo lenta e atentamente' O capi- tulo 3 discute a estrutura do ensaio fllosôfico e constitui ;;.;" central do livro' 0 gasto' porém sólido conselho á."qr. o ensaio deve ter u 1 começo' um meio e um fim ,pfiàr-t. igualmente ao ensaio filosófico' 0 capitulo 4 trata de algumas questões vinculadas à feitura de esboços do ensaio. Discutem-se ali várias tecnicas de elaboraçáo' Quem sabe montar um esquema' tom-ar notas' revisar' p-.tq"i*, etc. pode saltar essã capítulo' 0 capitulo 5 -t-"pli- ia vários tipoi de arjumentos usados no raciocínio fllosó- fico, como os dilemas, os contra-exempl^os e os argumen- tos fundado s na reductio ad absurdt'rm' 0 capítulo 6 abor- da alguns requisitos básicos a que deve atender o conteúdo do eÃaio. 0 capítulo 7 trata das metas relativas à forma 17- Ensaio filosófico de seu escrito: coerência, clareza, concisão e rigor. 0 ca- pítulo B discute alguns problemas comuns que os estudan- tes têm ao compor as primeiras páginas de um ensaio. Assim como os ensaios, a maioria dos livros tem uma conclusão, que resume ou retoma de modo integrado as linhas principais do texto. No entanto, fazer isso em nosso caso seria artificial, visto que o livro como um todo não desenvolve um argumento principal, consistindo, em vez disso, numa enumeração de tópicos que podem ter utilidade para o aluno. Não obstante, o Apêndice, "Do- mingo à noite, tenho de entiegar um ensaio na segunda de manhã", que se destina a quem comprou o liwo mas nunca conseguiu ler muito dele, pode igualmente servir de conclusão. Muitos de meus alunos que leram a primei- ra edição disseram-me ser essa a parte do livro que leram primeiro, em alguma noite de domingo cerca de seis se- manas depois do começo do semestre. A fim de servir às necessidades de uma ampla va-riedade de estudantes, o nível de dificuldade do livro vai do elementar ao moderadamente avançado. Mesmo no âmbito de capitulos individuais pode haver significativas variações no nível de dificuldade, embora toda seção comece com o material mais simples e vá caminhanclo ate o mais complexo. Assim, um capÍtulo sobre outro tópico pode retroceder do material complexo daquele que o pre- cedeu para um nivel mais simples. Creio que os alunos inteligentes e esforçados podem passar com rapidez da inocência filosófica à sofisticação moderada. Em vários pontos do livro, apresento fragmentos de ensaios, a flm de ilustrar algum tópico estilistico. Os te- _ 18 _ lntroduçao zes controversos e a argu- são voltadas a e constituindo a erro ter Por foco o o que tem imPortância e a, ê bem Provável que o ate de muitas das afirma- isso ao menos levá-los a desacordo, assim como a Pgr que Preferem' grande sido alcançada' ontrasto, em inúmeras oca- siões, elementos retóricos com elementos lógicos' Remon- iando ao ruim Par ma atitu tórica" refere-se ao estilo' o .Ji, qr. facilitam a comunicaçáo' e o livro pressupoe oue esses elementos se revestem de extrema importância' ffi;iã;;1ãào1,,'io, um ensaio Íilosófico que não consegue comunicar-se fracassa igualmente num de seus proPósitos essenciais' Ensaio filosóftco - o que é' como se pz pretende ser prático. SuPoe-se que o aj à melhorar sua caPacidade Como quase toda materia ensaio analisando alguma dades obtidas na aPrendi hlosóficos Pode mostrar-s gêneros de ensaio' 19- e4 É A U Autor e público ,Talvez seja óbvio quem ê o autor e quem é o público I do ensaio de urn aluno: o aluno é o autor e o professor, o público. Claro que isso e verdade, mas o aluno não e um autor como os outros, nem o professor um público típico' Desejo, neste capÍtulo, apresentar considerações sobre esses dois pontos. Iniciarei com um tema conceifualmente mais simples: o caráter atipico do professor como público. 1 0 professor como público E indispensável a um autor conhecer seu público. Dependendo desse público, o autor pode explicar seu ponto de vista dessa ou daquela maneira. 0 aluno não ocupa a posição tipica de um autor por várias razôes. Enquanto o autor comumente escolhe seu público, o público do aluno lhe e imposto. (Mas essa situa- ção do aluno não e peculiar. De modo geral, o público escolhe seu autor. Em contraste, o autor do professor Ihe e imposto. São seus alunos. Uns e outros devem extrair o máximo da necessidade.) Exceto quando o aluno é ex- -21 - Ensaio filosófico cepcional, ele não escreve para informar nem para conven- cer seu público da verdade da posição que discute. Logo, seu propósito não e a persuasão. Além disso, a não ser que o tópico seja excepcional e o professor relativamente igno- rante, o propósito do aluno também não e diretamente expositivo nem explicativo. Presume-se que o professor já compreenda o material que o aluno se esforça para apre- sentar clara e corretamente. Ainda assim, o aluno não pode pressupor que o professor seja um mestre no assunto em discussáo porque o professor, em seu papel de juiz, não pode supor que o aluno o seja. A tarefa do aluno e mostrar ao professor que compreende o que o professor já sabe. Algum aluno poderá julgar isso nâo só paradoxal como tambem perverso. Todavia, essa é a situação existencial em que o aluno e lançado como autor. A estrutura e o estilo do ensaio de um aluno devem ser os mesmos cle uma exposição e uma explicação dire- tas. Como se disse, a meta do aluno é mostrar que conhe- ce algo das doutrinas filosóficas, ao oferecer um relato preciso delas; alem disso, o aluno tem de mostrar que sabe não apenas que proposiçoes foram defendidas por certos filósofos, mas por que eles as sustentaram. Em outras palavras, o aluno tem de demonstrar que conhece a estrutura dos argumentos usados para provar uma po- sição filosófica, o significado dos termos tecnicos empre- gados e as evidências em favor das premissas. (Uma das diferenças entre a história da fllosofia e a história das ideias e que aquela se preocupa com a estrutura e com a pertinência dos argumentos.) 0 aluno precisa supor (a fim de adotar uma atitude de autoridade apropriada) que o público e (a) inteligente mas (b) não informado. Ele deve _22_ Autor e Público apresentar em seguid'a explicar o que ;Trli1; fica; deve dências explicados como Todos os term de filosofia. Isso se o público soube usando palavras significa que o aru ie náo se introduz comuns em seus sI[ rmo tecnico me- nem se explica o, ácomoopúblico diante o uso de pil .... .. lere, por exemplo, saber o que o autor quer uI este fragmento de ensalo: 0 propósito deste ensaio e provar e-os seres humanos nunca percebJ';;;i;"; Lateri '-" *"' em vez disso' os semiidead.rir:i.";.0* o qual-desi$no a ligaçâo entre o to:t " il"t*â"ito t tt" conteúdo conceitual' Essa passagem só parece profunda por menos de 1m nanossegund"' Tt;;i;;;;tt' nada há de errado em In- troduzir o termo "ÃiA'oao'' mas quem comete a teme- ridade de inventai"ttiltãfágismo deve ao leitor uma '..o.,i'" t"ryltl'.ri;l*mi ilH i::j ;'li:q'; mênico e seu coilel:Y-'^::" "; rns muitas vezes têm, mos, Palavras com si$nificados' co :1: em filosofia, 'E'ifit"'d"s técnicos' :oÍIo' por exemplo' determinado materia ego universal reflexáo Pragmático -23- i ii 11 lr I I lr l Ensaio filosófíco Quando o autor usa uma palavra que tem significa- do comum num significado tecnico desconhecido, a pa- lavra fica ambigua, e o público e levado a um entendi- mento errôneo ou se vê confundido, caso esse significado tecnico não seja objeto de observação em termos inteli- gíveis para ele. Não e pertinente protestar que o professor deveria permitir ao aluno o uso de termos técnicos sem expli- caçáo a partir do fato de o professor conhecer ou dever conhecer seus significados. Repito: o que está em ques- tão não é o conhecimento do professor, mas o do aluno. E responsabilidade do aluno mostrar ao professor que conhece o significado desses termos. Náo pense que o professor vai pensar que você pensa que ele não com- preende um termo pelo fato de você o ter definido. Quando você usa um termo tecnico, ele passa a ser seu, cabendo pois a você a responsabilidade por sua defini- ção. Acrescente-se que um termo tecnico só e utilizado com sucesso se a explicação náo depende do pressupos- to de que o público já sabe o significado desse termo tecnico! Porque e precisamente isso que o aluno deve demonstrar. Há uma exceçã0. Em cursos avançados, o professor pode permitir que o aluno suponha que o público já conhece o que um aluno iniciante deve saber sobre filo- sofia, talvez elementos de lógica ou partes da República de Platáo ou das Meditações de Descartes, ou algo pare- cido. No caso de alunos de pós-graduação, o professor pode permitir que o aluno pressuponha um pouco mais de Iógica e bons conhecimentos de história da filosofia. -24- Autor e Públlco S eria excer el.. :. :^ l': [::ü jJ: ;:T ;üil"HT!:, *]: o aluno pode ou nao ^ lembre, e virtualmente quecer g:,Y o que pode ser pressu- imposstvet es- conhecimento e ignorància huma- i:X'; ffiffiTli:"'*'l.*;;'u a'tiú" tudo isso' Se tiver dúvidas sobre o q" poàt p"*opor' pergunte' E orovável qot o ptottsl=oiÊãtit de the dizer' Se não g;ostar' a f,alha e dele, t ";ã;"i; ficat contenLe por saber que fez a coisa certa.ao iefil;;;' i:i1^:^:^T'í'*" que asir de acordo tom p"ntiiià'"t'ot proporciona e algumas vezes' irf.tir*tnt", e o máximo' Embora tt'f'" ãi"orrido sobre quem e seu público e sobre 0 quanto ""tü;;;f' nao atriuuir a ele' eu nada disse sobrequt ttiitlat você deve assumir diante dele' Essa atitude " o "'otiio' Se está escrevendo para alguem' você deve ton'iotl^t-'"t'* pt"o' digna da verdade; e' send,o ela aig'a a'l;tà;t:você deve tornar a verdade o mais inteligível "t ^tt"ivtt qu:- P'"dtt a essa pessoa' AIem disso, " t"'à"lara um-púb-lico' você impoe ext- gências ao tempo desse priblico' Você espera que seu público dedique ttrnp" t à'forço ? !3*ptttnsáo do que você escreveu, " ti"ãt ftito um'trabalho descuidado' voce terá desperdiç'ao o ü;; dele' você o terá tratado com deslealdade' u* ;;;;"i'i'ia ou desor$anizado é um insulto ao públicol^ieã at dar de r1:t: "*" má imagem' Quando o p'ott"à''se mostra frustrado ao devolver um conjunto at t"'ui'' i"o fto"'utlmente se deve ao fato de sentir-se at'atíh"ao' Um bom ensaio e sinal do res- Peito do autor Pelo Público' -25- I I i I l1 ri 1l I ir ii rl li I 1 ii I i ll l f,' tl l ili lt l1 tr lii Ensaio filosófico 0. aluno como autor ,..,rft1[1;1?:rJ autor de seu ensaio, você não deve refêrir-se a ,i .,.rlii: o".t dizer que você não possa ;í:;:*.:rhl::::::J,ffi ',1ã,,i.'ilT;.:;',:,'krr nha-se *.;;tes o uso do "eu" num.ensaio. supu- sersubstitu,rrr". j!1'.',i jrr'r'#.Xr.r::.r11.,*#:rr.JüX mento desse ensaio",y"r^,s.ya -1i;;;do)' A escrita for_mal está hoje mais lnfo^rmaf. ,,fVfü'r.grrento será,, ei#: ffi Jl'l'.'i;"'-:!'0, " v"'''l;:':, ". m ais u m a rada e discutida ,, 'r*., fÍsica seja amplàmente ;dr;_ caricaturada l;1;" contemporânea e, talvez, ;:l:T,#].fií;í: .ff"ililf.,:,, .T;:g# ffi : rx'::;:l;f;;::s,'#':.$;JXl'1,1;.lilÊX-defendê{as. erecem a coragem n...rrá.iu pãÀ As ideias têm r nr': ., i. À s, ;'; T :,:: :'.'"0;, ü.J il ..,x:, :, : T;i: : : f flImás; há algumas excelentes, ü;;"":uüas temiveis.Assuma as conseqüêncjas de ;;;; #;r..Uma pessoa r ur 11 m im o r g Jü ;:.,': $:f."â,x',*.r#,H. :,xT::maneira obliqua. Quem vai alegar? s..Jro.c, diga_o. Apessoa que escreve "vou alegar;ã "ír. uia está se com_prometendo com uma linha"ae Àiã.rr,ã,. submetendoabertamente esse raciocinra * a*."Urio".r.lonrf. -26_ Autor e público A redaçâo filosófica virtualmente nunca é autobio- gráfica, ainda que contenha elementos autobiográflcos (As Conlssrões de Santo Agostinho e as de Jean-Jacques Rousseau são notáveis, porém raras exceçôes.) E muito improvável que sua vida ou seus sentimentos pessoais devam ser expostos em seus textos filosóflcos, ao menos nesses termos. Nenhum fllósofo deve se importar com o seu sentir sobre a existência de Deus, a liberdade, o abor- to ou qualquer outra coisa apresentada pura e simples- mente como seus sentimentos. Assim, com raras exce- ções, o uso de sinto que e proibido em ensaios. Seus sentimentos não podem aspirar à üniversalidade e não podem ser automaticamente transferidos a seu público. Você pode sentir que Deus existe, mas isso não é razão para que mais alguem deva senti-lo. A frase afirmo que, em contrapartida, se transfere. Essa expressão implica que o autor tem bases objetivas, em vez de subjetivas, para sustentar sua posição e que, por conseguinte, o público deve argumentar desse mesmo modo. Incidentes específicos da vida pessoal também têm um lugar em seu ensaio, considerados como sros expe- riências. Tomados simplesmente como etperiências, eles podem ter tanto relevância como força. Compare as duas maneiras seguintes de fazer a mesma aflrmação: Aos 14 anos, eu desejava uma bicicleta de dez marchas, mas precisava de 125 dólares para comprar uma. A única maneira de conseguir o dinheiro legalmente era trabalhar. Consegui trabalho a 2 dólares por hora realizando várias tarefas que detestava: cortar grama, lavar janelas e ate cuidar de crianças. Foram necessárias três semanas, mas -27 - Ensaio.fílosófico r0 e respeito uma pessoa, nlhos humilhantes em lroca oas para realizar trabalhos ,rr.o:irn#it;.a primeira passagem é mais vivida e mais exemplo, nâo-filosófic propriam ou de ,auiu,"ot' como' Por do que n a - ita de ,À;il' sua alegação do autor dip-i'^:i9'i' '' *;;'i,Tff","Jlff: todo ser humano .;f:i] vincula-se diretamente com ;.,'r.'m*::,r;ç*':,T:..,*::'JXT,:,:*l;;tl1 p?rsono aãlriã, ,, ?nmeira Passagem e , p ró p ri o ;i r, ;';ü l.i,i,i5; T;l;, : - ao Autor e público gem, a persona do autor e um obseryador objetivo da condição humana. A noção de persona e tecnica. A palavra persona deriva da palavra Iatina que designa a máscara usada pelos atores no palco. Havia máscaras para personagens cômicas e trágicas, para deuses e mortais. Ter uma persona é de- sempenhar um papel. Um autor desempenha um papel; tem, portanto, uma persona. A pergunta e: o que e essa persona? 0u: qual deve ser essa persona? Porque há dois possíveis papeis que o autor pode ter em seu ensaio. 0 autor tem inevitavelmente o papel de criador, visto que e respolsável pelas palavras de seu ensaio. Na qua- lidade de criador, o autor tem uma perspectiva transcen- dente coin relação a seu ensaio. Alem disso, o autor pode ser uma personagem de seu próprio ensaio não quando aparece dizendo "Vou alegar", mas como personagem nos exemplos e cenários que constrói a fim de ilustrar ou provar a tese que defende. Essas personagens nos cená- rios têm uma perspectiva imanente, e se o autor for uma personagem num desses cenários, sua perspectiva tam- bem será imanente. O status de um autor diante dos cenários que inventa e totalmente distinto daquele que assume como personagem deles. Insisto em que você não abandone seu sfafus de inventor. Para alterar a figura de linguagem, o autor de um ensaio age como Deus. Todas as personagens, em seus exemplos, são como criaturas. Quando Deus disse: "Faça- se a luz", fez-se a luz; quando disse: "Que a terra produza todo tipo de criatura viva", surgiu todo tipo de criatura viva. Do mesmo modo, quando o autor diz: "Suponhamos -29- t, I I l Ensaio filosófico que Smith e Jones tenham seus cerebros trocados", Smith e Jones têm seus cérebros trocados. A vontade de Deus não conhece restrições; o que EIe deseja que aconteça acontece. Ele não pode cometer erros nem ser enganado. Seria incoerente escrever: Deus disse "Faça-se a luz'i Mas Ele não estava bem certo de que houvesse luz. Ele julgava haver luz, mas poderia estar enganado. Tal como Deus, a vontade do autor de construir um exemplo nâo conhece empecilhos se o que ele disser for coerente e se não tiver dúvidas acerca daquilo que está supondo. A posição transcendente do autor é inerente- mente anticética. Conta-se a história de um garoto da Bu serie que tinha problemas para aprender álgebra. 0 pro- fessor disse: "Suponhamos que Í seja igual a 2'i 0 aluno ficou muito ansioso, pois pensou que o professor pudesse estar errado ou pelo menos que ele não tivesse conside- rado uma possibilidade: "Professor, suponhamos que ,r não seja igual a 2'l 0 garoto não se deu conta de que, quando alguem supõe que algo seja verdadeiro para fins de argumentação, o que e suposto e verdadeiro no con- texto da discussão. Para todos os propósitos e intenções, o autor e onipotente e onisciente (falo apenas de autores filosóficos; certa ficção contemporânea tenta solapar as qualidades aparentemente divinas do autor). Mas essa onipotência tem como limite a coerência lógica. Esteja alerta para a idéia de que provou uma dada tese por meio da construção de um cenário logicamente contraditório, como neste fragmento de ensaio: Autor e Pú lico Suponhamos que haja uma figura l'1i1i: quatro lados cujos ângulos 'át t;à;t t[' 'ío'' Suponhamos ainda que cada ponto Ot *u ffittro seja eqüidistanie de um ponto em seu interior' tü;;;'"'*' que existe um quadradoredondo' ição e contra- Esse cenário e lalho porque sua suposl ditória. um Deus "";;;t;i;'"'" o* fazer uma pedra oesada demais prr" ut".-*asmo carregar, e isso não e uma ii*i,rçao de seu Poder' Prosseguindo t";'; analog;ia teoló$ca' rlemos dizer oue as personagens ;t';;;;t'olo úosó co estáo' tal .orno u, criatrtras' suieitas ao erro e ao engano' ("Supo- nhamos que Smith'"'qut to'üttt ]:l:nU vinte anos' veia alguem t*^"'ntiit i$ual a Jones'cruzando a praça' Sriponhamos 'ina' iuà s'iiÚ' ^'" vê Jones' mas o irmão ;:Hil;;,l"Uj,:rr,.,'_l*'lli[|.1'â.",Ilifili 'f,"i:"",§t;-Iff âlH;iÀ nt o' o r" o s s á o o s f a nto che s u"' uÃ'ii'..i'Jlt"il; de si mesmo uma personagem num de seus exemplos ;t*-t Jàit p'ptit;' âssume de modo confuso pessonaeit'*tit'rrntnte opostas' a de autor e a de personagt* t"u ;;;t;;;ã;t e a àe cri ura)' considere a seguinte Passagem: Suponhamos que Smith e eu tenhamos os cérebros troca- dos. Eu ,to'otü'*t'^i*rir' e ere 111sa que e eu' Mas eu penso que pt'il*tço eu mesmo Po:qut sou idêntico ao meu coÍPo a qualquer momento dado' - 3i - -30- Ensaio filosófico E bem dificil compreender esta passagem, dado que a referência a "eu" passa do autor como personagem no cenário ao alrtor como o criador do cendrio. Contraste o original com a seguinte versão revisada, na qual as refe- rências ao autor como personagem são substituÍdas por referências a uma personagem puramente criada: Suponhamos que Smith e Jones tenham seus cerebros tro- cados. Jones acredita ser Smith e Smith acredita ser Jones. Mesmo assim, ao meu ver Jones continua a ser Jones e Smith a ser Smith, visto que a pessoa e idêntica a0 seu corpo em qualquer momento dado. Ate essa passagem pode ser melhorada. Há algo de tendencioso em dizer que "Jones continua a ser Jones e Smith continua a ser Smith", o que não era evidente na primeira passagem. A terceira passagem e melhor: Suponhamos que Smith e Jones tenham seus cérebros tro- cados. E 0 c0rp0 que Jones tinha antes da troca de cere- bros acredita ser Smith, e 0 corpo de Smith acredita que e Jones. Mesmo âssim, ao meu ver, o coryo de Jones continua a ser Jones e o c0ry0 de Smith continua a ser Smith, visto que a pessoa é idêntica a0 seu c0rp0 em qualquer momento dado. 0 importante e que, quanto mais objetiva for a perspectiva do autor, tanto melhor (lembre-se de que falo das passagens acima retoricamente, sem julgar a sua perlinência). Nunca e necessário que o autor represente a si mesmo em seus exemplos: Smith e Jones, Whiie, Black, Brown e Green [ou Joã0, Maria etc.] são personasens - )z - Autor e Público ' (Saber se a dualidadt de Personae fil;stfical é uma questáo substantiva; ,";';:;;|o* "à*t"re' Nova York' ''::1""'::J"' * H*'i: J'."XlL' ;;;; ; sentido em que o aluno' , àár. *unttr uma PersPectiva trans- "rrf e oniscienie e oniPotente' Como lhe pateee- isso p "'ilo ""ttáo he$eliana? ny, -13 - i (\ O Lógica e argumento no texto f, m sua Poetica, Aristóteles observa que um enredo -l- dramático bem construido tem de refletir uma ação que é "íntegra e completa em si mesma, e dotada de alguma rnagnitude'l E ele define como integro "aquilo que tem um começo, um meio e um fim". Embora a tragédia grega e a prosa filosófica possam parecer campos da atividade literária sobremodo distintos, o conselho de Aristóteles se aplica à redação de um ensaio filosófico. Assim como o nÍrcleo de uma obra dramática e o enredo, o núcleo do ensaio filosófico é o seu argumento. E, da mesma forma que uma boa peça tem um princípio, um meio e um fim bem demarcados, assim tambem será um bom ensaio. 0 começo de um ensaio filosófico intro- duz o argumento; o meio o elabora; e o fim o resume. Mas o que e um argumento? Todo falante competente tem alguma ideia do que e um argumento. E a maioria dos falantes vai se dar conta, ao refletir, de que argumento e na realidade uma palavra equívoca, isto é, tem mais de um sentido. Num deles, é um sinônimo imperfeito de altercação,' noutro, e um si- nônimo imperfeito de raciocínio. Na teoria, os filósofos )E L i l Ensaio filosófico só se empenham neste último, embora na prática eles por vezes deparem com o primeiro. 0 sentido filosoficamente relevante de argumento recebeu maior atenção dos lógicosr QUe, no curso de 2.500 anos, descobriram muita coisa acerca dos argu- mentos. Embora este texto não seja lógico, um pouco de Iógica e fundamental para que se compreenda a estru- tura de um ensaio filosófico. (Para um relato mais com- pleto do que o aqui oferecido, recomendo a leitura de Mary HaighI, A serpente e a raposa, Edições Loyola, São Paulo, 2002.) 1 O que e um bom argumento? No nivel mais simples, há dois tipos de argumentos: os bons e os ruins. Um bom argumento é aquele que faz o que se supõe que faça. Um mau argumento e o que não faz isso. Um bom argumento mostra a uma pessoa uma maneira racional de partir de premissas para chegar a uma conclusão verdadeira, na medida em que seu assunto o permita (alguns assuntos mostram essa maneira mais fácil ou certamente do que outros, como, por exemplo, a mate- mática mais do que a estetica). Como explico aqui, um bom argumento e relativo a uma pessoa. 0 que pode le- gitimamente levar uma pessoa a uma conclusão pode não levar outra pessoa a mesma conclusão, visto que muita coisa depende do sistema de crenças de cada pes- soa. Aquilo que um filósofo ou fisico contemporâneo reconhece como um bom argumento costuma não ser -36- Lógica e argumento no texto ões óbvias' náo tenho como Neste capítulo, desejo tornar essa essiva- mànte mais precisa a partir guintes definiçoes: Dfl1) Um argumento e uma seqüência 'dt' '1i": " ""it^pt"posições' tt'qt 1t quais uma e designadã to*o a conclusão e todas as outÍas cãnside*adas suas pre rissas' Dfl2) U* "g";t"to sóIido e um argumento que t 'aial ã qlt" to"tt* somente premissas verdadeiras' Dfl3) U* u'go';"t"to é válido se^e somente se for "ttt"aiio -qlt"' " todas as premissas' sao ' tta"otà'll' conclusáo seja "*91-l^tl1;^ Dfl4) u* *g;;;nto convincelte é um a:gum:1:o sóIido ãot-ã ""o"t"ecido como tal em vr- *ut u"ul'"'t;;oÉ" de sua estrutura e de seu conteúdo' Cada uma dessas definições contem termos tecni- cos e ideias t"tntiJt' [" p"ti'u1 ler exnlicadas' in- cluindo prop o siçao?"'iliao" Examinemos primeiramen- te a Df(1), u atnrriiao d'.e arWmello' Observe que um argumento t t""t"'i'ado pór uma seqüência de pro- 37- Ensaio filosófico posições. Embora se possa dar à proposiçâo uma formu_ lação mais tecnica, basta para os nossos propósitos com_ preender esse termo como equivalente a .uma frase que tem valor de verdade", isto é, uma frase qr. . ,.râ._ deira ou falsa. Contrasta-se por vezes proposição com perguntas e ordens, que não podem ser verdadeiras nem falsas. Costuma-se usar proplsição, declaração e asser_ çâo intercambiavelmente, ainda que os significados dessas palavras possam diferir uns dos outros de ma_ neiras relevantes. Voltando à definição de argumenfo, devemos ob_ contexto de um ensaio como um todo, a conclusão e a tese. Como as proposições subordinadas contidas no Essa definição e abstrata. Tornemo_la um pouco menos abstrata considerando um argumento extremamente sucinto: Todos os humanos são mortais. Sócrates e humano. Lóglca e argumento no texto As duas primeiras frases são premissas' A terceira e , ..;.i#;, to*o o indica a palavra logo' Supóe-se que as premissas fo'ntçu*-u'a força racional para a aceita- caá da conclusão. Eil;r; seiá bom, este argumento e reroricamente lalho' i'l'i"!'e*itg'l:l.t:T em favor de uma conclusâo tão evidãnte'E raro que três ftil::^:l'T oles constituam um argumento- racionalmente persuasrvo' X;'. ;;;Jo gtt"t'*'* elaboraçáo e enriquecimento' $lta,n, ;;;;""tç" at-"otto estudo e recomendável man- i";;;;,á" no nível mais simples po-ssível' A definição a' oigui"to em Df(1) é neutra quanto à questão de saber 'ã u'n argumento e ou náo falho (mau). Alguns argumentos são ialhos e outros não' Nossa meta e compreende' ' "t"t" de todos os argumentos por meio da concentração n'qt'ito Ol:i:*ttt"i um bom argiumento. Entenderemos' então' o que é um ar$umento falho ao identificar ãs motivos de ele não atender aos criterios que definem um bom alg:mento' Como disse Parmênides, "Sao inÁnitos os caminhos da falsidade' mas o da verdade e um sô"' A fim de mettror precisar a def,rniçào de bom argu- mento, consideremos a ãefiniçao de argumento sólido dada na Df(2): Df(2) Um argumento sólido e um argumento que ê "aii"'t q"e contem somente premissas verdadeiras' Como essa definição deixa claro' há dois aspectos num argumento ,Oriao' "i"iial* t i Ydade' Um argumento não e sólido em um de dois casos: se e inválido ou se uma -39- Logo, Sócrates é mortal. -38- Ensaio filosófico ou mais premissas são falsas. Lo$o, para mostrar que seu argumento e sólido, você tem de demonstrar que ele e válido e que suas premissas sáo verdadeiras. Como um ar$umento sólido e definido, em parte, em termos da noção tecnica de validade, precisamos de uma definição de validade: Dfl3) Um argumento e válido se e somente se for necessário que, se todas as premissas sâo verdadeiras, a conclusão seja verdadeira. Dito numa linguagem mais coloquial, a conclusão de um arsumento válido tem de ser verdadeira sempre que todas as suas premissas forem verdadeiras. A verdade das premissas garante a verdade da conclusã0. Na Dfl3), a validade e deflnida em termos de verda- de e de necessidade. Por outro lado, em Df(4), um argu- mento convincente e parcialmente definido em termos de um argumento sólido; e um argumento sólido é parcial- mente definido, em Dfl2), em termos de um argumento; e este último e parcialmente definido, em Df(l), como consistindo em premissas e em uma conclusão. Esse pro- cesso de definiçáo de uma coisa em termos de outra não pode prosseguir infinitamente, assim como não se pode explicar a estabilidade da terra dizendo que ela se apóia no dorso de um elefante que se apóia no dorso de outro elefante que se apóia no dorso de outro elefante, ad in- finitum. 0 processo de explicação deve parar em algum ponto. (Debaixo de todos os elefantes está uma tartaruga, e esse é o fim da história.) Quanto à validade (e, portanto, a solidez e à conüc- ção), o processo de explicação chega ao fim com a verdade -40- Ló9ica e argumento no texto ceitos não serão definidos' ásicos. APóio-me em nossa es de verdade e de necessi- e. Isso náo quer dizer que máticas, mas apenas que se tem de paraÍ em algum ponto'-A convicção' a solidez e a validade poderiam ter sido definidas por meio do uso de alguns outros termos, o que tornari^- t:Tot que náo a ;."rd;. e a necessidade básicos e indefinidos' Nada há d'e inadmissivel em deixar alguns termos inA.nrriOor' Isso ê, na realidade' inevitável' Com efeito' nara dizeralguma coisa, tem-se de supor que os si$nifica- '*:: ;: ;;t;;;;^i;"';; sej am compreendidos' (Isso pode servir de base para urn pu'ádo*o que envolva saber como e possivel que as pt"oà' aprendam uma língua se já se tem de conhecer palawas ar es de poder dizer qualquer coisa; felizmente' esse possivel paradoxo não é o nosso nràú*", aqui.) Em toào empreendimento' acaba-se por chegar a um ponto em que àlgo tem de ser aceito sem à.n"riçao ou discussáo' Se a pessoa que ar$umenta e aque- i;; d.r" é dirigida a argiumentação não puderem concor- dar nesse ponto, ita uÀit'tido no qual e impossívei ini- ciar um arglumento' Como já observei' nem a uerdade nem a necessidade serão definidas' mas um pouco mais sobre a validade pode ser dito' t o farei na seção 2 deste capitulo' Um argumento sólido e um aÍgumento válido que apresenta P ma; luitos arÉumentos sólidos de não sáo reconheciveis como bons incorPorar o asPecto da ,ã.ãgnor.iUilidade em nossa noção intuitiva de bom ar- 41 - Ensaio ÍilosóÍico gumento, temos de introduzir a ideia de um argumentoconuincent1 tal como foi enunciad, n, Ofl+), DfI4) Um argtrmento conüncente e um argumento sólido. que é reconhecido como tal em vir_tude da apresentação de sua estrutura e deseu conteúdo. Muitos são os motivos pelos quais uma pessoa ra_cional pode não reconhecer ,rn nàr'urgumento. Se afbrma lógica desse argume para que algum ser human mente não se dispuser de e que as premissas são verda e ser convincente, dado que a dade não poderá ser satisieita. os sólidos não são, na realida_ dos e/ou porque não são ;ffi;:'.T,ã11T,::,iJláT#l;para sustentar muração de um ffi:T'; â,lil,rJTi,i",i_mento tem de têm de ,.. ,p,. ,, *:.f;,TÍ: ;âJ".ff H1:sua validade. A Oue-s]_ão, da ,evidên.ir,'po, outro Jado,vincula-se com o conteúdo ao ,rgrrinfo, envolvendo,mais uma vez, a nocão de verdade] ôrà, pr.rlssa indi_vidual tem de ,.r r.id.d.ir, . ,, .rjae".irs apresentadastêm de deixar isso claro. A noção intuitiva de bom argumento de que parti_mos no inÍcio deste capÍtulo^evoluiir, ,jà.ã, para a noçãode argumento convincente. podemo, ,ã*Àt, neste pon_ _42 Lógica e argumento no texto to, dizendo que um bom (isto é, convincente) argumento envolve três coisas: validade formal (a estrutura), premis- sas verdadeiras (conteúdo) e recognoscibilidade. E para alcançá-las que você deve empenhar-se em sua atMdade de escrever. A falta de qualquer um desses elementos im- pede seu ar$uniento de ser convincente. Todos esses ele- mentos sáo individualmente necessários e conjuntamente suficientes para produzir um ar§umento convincente. Na seção 3 deste capitulo, examinaremos a noção de convic- çáo com mais detalhes, Por ora, precisamos voltar a um tratamento mais completo da noção crucial de validade, o aspecto do argumento que se relaciona com sua estru- tura ou forma. 2 Ar$umentos válidos Relembremos a deflnição de argumento válido dada na seção 1: Df(3) Um argumento e válido se e somente se for necessario que, se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão seja verdadeira. Repetimos que, num argumento válido, premissas ver- dadeiras asseguram uma conclusão verdadeira. Um argu- mento válido nao pode ter premissas verdadeiras e uma conclusão falsa. A validade pi.r.*u a verdade. A situação e distinta quando uma ou mais premissas são falsas. Nesses casos, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa. Em outras palavras, há argumentos válidos que exibem: -43- ( Ensaío filosófico r(íl nw; [!lil':'lt .' conc]usâo verdadeira;(.i ;il;;;; ffi : ffi,.liÍl í1,,""0.,,, Ercmplo tle argumento uálidocom premissas uerdorleirãs , ,:,onríriío ,erdadeira Imparcialidad. e aitàiU, "ruPqr Lrdlrua0e' o merito " """",,r^.lll r.ecompensas de acordo com Justiçaédirtrlbri.F Ê nenrtirlq.r." TI*r, de acordo .orn_o ,..ià o meritO e penalidades -"'rrrrrqJ ur d('or00 ; ---.-.--.--_ de acordo com a culpa. Jr:llç, é imparciatidade. e penalidades de acordo com a culpa. aq,ito qu. o, ro,t., a.,ãrrl uq;ij il.JJ;:},f,,,, o, ro.t.,. ^^. Ercmylo de argumento utilido com premissas falsas e conclusíto falsa Justi ::i"é,i:11, que os foftes desejam. Lógica e ãrgumento no texto Em cada um desses exemplos de argumento válido, a conclusão se acha ünculada com as premissas de maneira razoavelmente direta, mas essa não e uma condição ne- cessária. Embora seja contra-intuitivo, há argumentos válidos em que as premissas e a conclusão não se relacionam de nenhumamaneira plausível. Há dois tipos de argumento em que a conclusão não tem nenhuma relação com as premissas. Um deles ocorre quando a conclusão é uma tautologio, isto é, uma proposição trivialmente verdadei- ra, ou melhor, uma proposição verdadeira que é, por sua natureza, não-informativa. Considere a declaração "0u Aristóteles é um grande filósofo ou não é'l Como essa proposição e trivialmente verdadeira, não pode haver argumento com premissas verdadeiras e conclusão falsa, por mais irrelevantes que sejam essas premissas para a conclusão. Por exemplo, o argumento Ima Hogg foi um grande filantropo. Justiçaerqr@ Eymplo de argumentu ualidocom premissas falsas i conclusão ierdadeiro Aquilo que os-fortes'de.e'l- . r'"lllls.oeseJam' recompensas derecompensas de rdo com a culpa. nenetirto.r-. T^p:r.^, de acordo am o ,arito a *:,:tl"::rlito .que os forres desejam. penalidades de acordo com a culpa. -44_ 0u Aristóteles é um grande filósofo ou não e. e válido, ainda que a premissa não tenha nenhuma rela- ção tópica nem evidente com a conclusão. Esse arSumen- to e falho e, portanto, inconvincente, mas ainda assim e válido. ' 0 outro tipo de argumento válido com premissas e conclusão topicamente não relacionadas e o que contem premissas contraditórias. (Grosso modo, é contraditória a proposição que afirma e nega a mesma coisa, como, por exemplo, 'Aristóteles e um grande fllósofo e não é um Srande fllósofo'i) Considere o seguinte argumento: \ -45- Ensaío filosófÍco Aristóteles e um grande filósofo e um grande filósofo. Este argumento é válido porque satisfaz a definiçãode validade, embora a conclusão ,ao ,a relacione com a mento contém uma premissa mesmo que não haja uma {5s!e Oue as premissas sejditórias, o argumento . rà premissas contraditó_ real das premissas e a stôes distintas que não de_ que desanimado com o fato ssas contraditórias ser válido. traditórias não e sólido, dem ser verdadeiras em tem de ser falsa. é válido e dizer que as . Mas de que depende a a implicação depênde do mpôem as proposiçôes dor dois tipos de pálrr.r., quanto ao tópico. pico e palavras especificas As palavras especllla_s quanto _ao tópico são aquelaspensadas tipicamente, em primeiro tugri".oro palavras, _46 Nenhum filósofo comete eruos. não é Lógaca e argumentó no texto como é o caso de cão, gato, caminha, amarelo, felizmen- fe, bem como palavras mais emocionalmente carregadas, como desarmamentl, déficit, aborto e fraternidade. 0 que todas essas palavras têm em comum e o fato de especi- ficarem ou restringirem algum tópico. Por exemplo, uma frase que contenha a palavra câo pode ser considerada, em algum sentido bem geral, como tendo um cão ou cães como um de seus tópicos. A lógica envolvida com as propriedades implicativas de palavras específicas quanto ao tópico pode receber o nome de lógica material. Dessa maneira, a lógica material está vinculada com a implica- ção que existe entre Este objeto e amarelo e Este objeto é colorido. As palavras específicas quanto ao tópico são bem gerais ou centrais para nosso esquema conceitual, como, por exemplo, bondade, uerdade, justiça, beleza, pessoa, objeto. Elas são os tópicos tradicionais da filosofia, e o estudo de sua contribuição às implicações das proposi- ções e em larga medida o assunto da filosofia. Logo, um fllósofo pode preocupar-se com a natureza do conheci- mento perguntando se r sabe que p implica .r acredita que p. -47- Ensaio filosófico E ele pode preocupar-se com a natureza cla verdade perguntando se "S" e verdadeiro implica "S" corresponde a algum fato. Quando formulam questões ou propõem problemas em termos de saber se uma coisa implica oütrã, os filó_ sofos podem estar envolvidos numa perquirição filosófica bastante tradicional. Consideremos agora algumas palawas neutras quan_ to ao tópico . Nã0, e, o.u, se... entã0, se e somente se, todos e alguns são palavras neutras quanto ao tópico, isto é, elas não restringem o tópico ou o assunto em discussão. Além disso, elas não são restritivas com respeito a que palawas especificas quanto ao tópico podem combinar, a fim de formar frases. A lógica envolvida com as proprie_ dades implicativas das palavras neutras quanto ao tópico é chamada lógica formal. por exemplo, ôada um dos ar_ gumentos a seguir e válido pela mesma razã.o: Se Joâo e rico, Maria é feliz. João e rico. Lógica e arqumento no texto Se os setes humanos são a$ressivos por natureza' e necessário um governo forte para proteger 0s seres humanos de si mesmos' 0s seres humanos são a$ressivos por natureza' Maria e feliz. Se fumar provoca câncer do pulmã0, as pessoas não devem Íirmar, Fumar provoca câncer do pulmã0. É necessário um governo forte para proteger 0s seres humanos de si mesmos' Não importa que cada um desses arSumentos se refira a um tópico diferente; todos eles são válidos pela mesma ruzâo. Dado o sentido de se"' entã0, lodo argumento 0u padrão com essa forma e válido: Se p, entáo q p q onde "p" e "q" representam proposições' A forma de ar$umento que estivemos examinando acimaeumadasmaisintuitivasformasdeargumento que existe. Chama-se modus pofiens, que, traduzido sem àuito rigor, significa o modo de afirman O modus ponens e uma das formas de inferência que constituêm o núcleo dos sistemas naturais de dedução da lógica das propo- siçôes. Em linhas $erais, a lógica das proposições' as váres chamada de calculo proposicional, pode ser deÍi- nirla como a lógica de alguns usos de não' e' o't't' se"' então e se e somente se. Essas palavras figuram de ma- neira vital em algumas das mais básicas formas de ar- gumentação usadas pelas pessoas' Eis a sua apresenta- ção esquemática: 49- As pessoas nâo devem fumar. -48- Modus ponens Se p, então q p q Silogismo disjuntiuo p0uq Não p q Dilema construtiuo Sepentãoqeserentãos p0ur Ensaio filosófico Modus tollens Se p, entâo q Nâo q _1.fu- l\ao p Silogismo hipotético Se p, então q Se q, então r Se p, então r Dilema destrutiuo Sepeniãoqeserentãos Não q ou não s Não p ou não r A as mais Não há lógicos. lógica inclui tipicamente sÍmbolos especiais para importantes palavras neutras quanto ao tópico. um conjunto de símbolos usado pela maioria dos Diferentes Jógicos empregam diferentes símbolos q0us para as mesmas palavras neutras quanto ao tópico. Eis alguns exemplos: Conectivo proposicional não 0u se.., então se e somente se Lógica e argumehto no texto Modus ponensprq p q Disjunctiue syllogism pvq -p q Constructiue dilemma(p:q)&(r:s) pvr qVS Se substituirmos pelos símbolos da primeira coluna seus equivalentes lingüÍsticos, as formas de argumento que apresentamos terão a seguinte aparência: -50- Simbolo & f Simbolo Modus tollens pfq -q -p Hypothetical sYllogism prq qfr plr Destructiue dikmma(p: q) & (r: s) NqVNS -pv-r Simbolo Como essas forinas sáo por sua natureza abstratas, pode ser útil dar um exemplo de cada uma das formas de àrgumentação. Comecemos com o modus ponensi Se Hobbes é empirista, então Hobbes sustenta que o conhecimen- to obtido pelos lentidos é o fundamento de todo conheçimento' -) ê Hobbes sustenta que à conhecimento obticlo pelos sentidos Vejamos agora um exemplo de modus tollens, qtoe tem alguma similaridade com o modus ponens: Se Hobbes e empirista, então Hobbes sustenta que o conheçimen- to obtido pelos ientidos e o fundamento de todo Ç.o;hecimento' Hobbei nâo sustenta que o conhecimento ohtido pelos sentidos e o fundamento de todo conhecimento' ê o fundamento de todo conhecimento. Hobbes é empirista. Hobbes não e empirista, -51 - Ensaio filosófico O modus ponens e o modus tollenstêm uma clara relação entre si. Muitas vezes e possível resumir um pro- blema fllosófico como sendo uma disputa acerca de se um argumento sólido sobre uma dada questão deve ser formulado como argumento modus ponens ou como ar- gumento modus tollens. Pode-se imaginar uma disputa envolvendo os exemplos de argumentos acima. Uma pes- soa pode estar usando o argumento modus ponens para provil que Hobbes enfatiza a importância da observação na ciência. Seu oponente pode empregar o modus tollens a fim de provar que Hobbes não é empirista. Há em flIosofia o seguinte ditado: O modus plnens de uma pes- soa e o modus tollens de outra. Claro que muitas outras coisas podem estar envolvidas no debate, alem simples- mente desses argumentos. Embora os dois arSumentos sejam obviamente válidos, não e evidente qual deles e sólido, se algum deles for sólido, razão pela qual nenhum deles e convincente. Na verdade, o exemplo de modus tollens e o argumento sólido, podendo formar o núcleo de um argumento convincente, caso fosse reforçado por evidências que provassem que o próprio Hobbes enfatizou os aspectos dedutivos e aprioristicos da ciência. Consideremos agora um exemplo de silogismo disjuntivo: 0u Hobbes e empirista ou e racionalista. Hobbes não é empirista, Hobbes e racionalista. Claro que este argumento e válido. Mas ele e sólido? Um defeito freqüente dos argumentos na forma de silo- -52- Lógica e argumento no texto Se toda açào humana e causalmente determinada' então nenhuma açáo humana e livre' Se nenhuma açáo humana e livre' então nenhum Se toda açáo humana e então nenhum ser humano ser humano é resPonsável Por Embora a regra formal do silogismo dite que haja ,p.rrur-àum pr.,,i-"", como no exemplo acima' pode-se' no entanto, reunlruu'io' sik gismos hipoteticos' a fim de produzir um resultado como: Se todo evento e causalmente determinado.' então toda açáo humana e causalmente dttérminada' Se toda ação humana ê causalmente determinada' entáo nenhuma açáo humana e livre' 53- causalmente e responsável suâs açoes. determinada, por suas ações. Ensaio filosófico Se nenhuma açã0 humara é livre, então nenhum ser humano é responsável por suas âções. Se nenhum ser humano é responsável por suas açôes, então não faz sentido literal louvar ou culpar os seres humanos por suas ações, Se todo evento e causalmente determinado, entáo não faz sen- tido literal louvar ou culpar os seres humanos por suas açoes. Quando proposições são ligadas dessa maneira e a conclusão é ou contra-intuitiva ou inaceitável de outra forma, o desafio está na determinação de onde e como quebrar a cadeia. Consideremos agora as cluas regras do dilema. 0 dilema construtivo poderia ser pensado como duas ocor- rências do modus ponens em conjunção: (p:q) &h:s) pvr qvs Do mesmo modo, o dilema destrutivo poderia ser considerado duas ocorrências do modus tollens em dis- junção: (p:q)&(r:s) NqVNS humanos têm livre- aútnt'. .t*:^:.:U::t',"TllJIt"U' Lógica e argumento no texto -PV-r Vejamos agora um exemplo de cada um deles, a começar pelo dilema construtivo: Se o determinismo é verdadeiro, entâo as ações humanas são neutras no que se refere ao iouvor ou à culpa; e se 0s seres -54- ffi #' *: ;. à.' .-írt' " *'::' ^i'" il"l'li'*i ;naqu*u Yu' r-*- - idudti'o ou 0s seres humanos0u o determinismo evt rrJ-.:^ 0u as ações hu*nnu' tá0. nt':l':i:^::t,::'l:TT#J"J."* ff ;-ffi ffilTiffi';;ú Y':il^::"*,0 que Pode " *ili,^;;ffi T:' :H" ;- .:"::-:n*'l;i: :il JDa mesmo maneira to'?..o *t1Y:^::::::* H: têm livre arbítrio' ^ mlaus tu,LLttr -- ' , ;;r". O exemplo de dilema cons-ã ail.tnu destrutivo dt . -^-^^*,rroír^ Írrm exemplo dt :ifffi.1trl':ã:'fr;;' t*o'*"tuào num exempro de expiicar acerca da realidade' dilema destrutivo: Se o determinismo e verdadeiro' :*i: T:::: :lT'lJ:.s;: ;il-::::T:T ;n;; rouv31 o1 ^i^:l3';-i,'i;iffi"il:'tr# 1§ 1ilffi -'"'-'.*,1-:'1:'i.Tll,limitada ^,,lâ:IilJl,,ffi. ;il "r"'T :^'" t"T,'il',1ffi " ffi#' ü: ;.à.^ .'pri'" i-'::T"u*,'i*""t açoes nu(lralldr rtqv "*" .1êrai, náo está limitadalouvor ou à culpa' ou z . - .r^ .^^liÁqrle ffirdadelôou os seres humanos uvor ou d LurP«' "- - tu' acerca da realidade' naquilo que Pode tltptl- Exemplos genuínos de dilemas costumam ser con- cluídos com uma a":"i* aã alternativas desag;radáveis' E isso o que ft' d"';;;;* um dilema no sentido comum d'o termo' t* to""itaste com o sentido lógico que temos discutido' 0s Oift'"t voltaráo a ser abordados no capitulo 5. -55- não têm livre-arbitrio' Ensaio filosófico Agora que temos uma melhor compreensâo do queconstitui a forma do argumento válido, voltemos ao tó_pico principar deste capíturo, ou seja, .qrilo que constituium argumento convincente. 3 Argumentos convincentes Recordemos a definiçâo de argumento convincenteda seção 1: Dfl4) Um argumento conüncente e um argumento sólido que é reconhecido como tal em vir_fude da apresentação de sua estrutura e deseu conteúdo. é aquele que impele o m virtude da aceitação que suas premissas são pessoa. Isso fica mais claro ,:Tffi1t::,,TJJIl.,*ã: nição da seguinte maneira: Um argumento, e convincente pzüa um públicoquando este público o reconhe.. como tal. 0 mesmo argumento pode ser convincente para umapessoa e não o ser para outra. Todos os argumentos con_vincentes são persuasivos para o público qi. o, reconhe_ce, mas nem todos os argumentos persuasivos são con_vincentes. As pessoas^r_ão Trilr: ;;.;;;;rradidas pormaus argumentos e por raciocÍnios falaciosos. _56 Lógica e argumento no texto Um argumento pode ser sólido e não ser convincen- te, porque sua solidez não e reconhecida. Um argumento poderia ser necessariamente assim seja devido ao fato de exibir uma complexidade que está além da compreensão humana, seja em decorrência da impossibilidade de reu- nir as evidências necessárias para provar que suas pre- missas são verdadeiras. Não temos, de fato, grande inte- resse por esses argumentos inconvincentes, visto nada haver neles que permita a intervenção humana. Se os seres humanos não podem reconhecer a validade e se as evidências não estão de manefua alguma disponÍveis, chegamos ao fim da linha. Mas não se deve confundir esses argumentos com outros. Há ainda alguns argumentos sólidos que na verdade não são reconhecÍveis como tais seja porque, (l) embora suas estruturas lógicas não sejam reconhecidas, elas o poderiam ser caso fossem explicadas 0u porque, (z) em- bora suas premissas não sejam reconhecidas como verda- deiras, elas o poderiam ser se se fornecessem as evidên- cias disponÍveis. Podemos agir com relação a esses argu- mentos sólidos: o autor pode explicar suas estruturas lógicas e fornecer as evidências para §as premissas. Tudo isso pode ficar mais claro por meio de um exemplo. Não há dúvida de que e fácil oferecer um argu- mento sólido para a proposição "Deus existe" (se Ele de fato existe). E não há dúvida de que e fácil oferecer um argumento sólido para a proposição "Deus não existe" (se Ele de fato não existe). Assim sendo, um (mas somente um) dos dois argumentos a seguir e sólido: -57- Ensaio filosófico primeiro argumento 0u Deus existe ou 25 de dezembro e páscoa. 25 de dezembro não é páscoa. Deus existe, Segundo argumento 0u Deus nâo existe ou 25 de dezembro é páscoa. 25 de dezembro não e páscoa. Ora, deveria ser óbvio que nenhr,tm dcsses argumen_tos- e convincente, ainda que um deles seja sólido, 0problema é que o argumento sólido, seja ele qual for, nâoestá se dando a conhecerl Cada umãs argumentos e primeiro argumento e sólido. Se Deus não existe, a pri_meira premissa do segundo arsumento é verdadeira jus_tamente em virtude desse fato, e então o segundo argu_mento e sólido. Mas qual deles o é? Infelizmente, nadahá nesses argumentos que nospermita determinar qual deles é sólido."Não há neres coisaalguma que nos force racionalmente u ,..itr. sua primei_ ra premissa. Logo, nenhum deles e convincente É-i;..f,do autor transformar argumentos sólidos ..;ür;;;; convincentes. Isso requer, tipicamente, elaboração: ou a -58- Deus não existe, Lógica e argumento no texto explicação da validade do argumento ou a adução de evidências em favor da verdade das premissas. Como poderia um autor tentar fortalecer um dos ar- gumentos acima? Embora eu de modo geral tente dar exem- plos de como fazer as coisas corretamente, nesse caso vou explicar como as coisas podem dar errado. Tambem se pode aprender com os próprios erros. Como o mesmo tipo de estrategia se aplica aos dois argumentos, consideremos apenas o primeiro deles. Aquilo de que precisa o primeiro argumento é alguma evidência que estabeleça que a primeira premissa e verdadeira. Que tipo de evidência cumpriria esse objetivo? A premissa é uma proposiçâo disjuntiva. Logo, e verdadeira se um dos termos da disjunção for verdadeiro. Já sabemos que o segundo termo e falso. Assim, se a premissa é verdadeira, ela o tem de ser porque o primeiro termo de sua disjun- ção o é. Mas esse termo, "Deus existel', e idêntico à conclusão. Logo, qualquer evidência em favor da verdade da premissa é eo ipso evidência em favor da verdade da conclusão. Isso signiflca que a evidência para a premissa é superflua. Se se tivesse alguma evidênc\ em favor da proposição "Deus existe", poder-se-ia aplicá-la imediata- mente à conclusão sem se apoiar em nenhuma premissa. Suponha que alguem quisesse defender ser esse ar- gumento convincente por meio da aflrmação de que a primeira premissa é verdadeira porque "Deus, existe" e verdadeira e que "Deus existe" e verdadeira porque e auto-evidente. Essa defesa não funciona. Ela faz uma petição de principio, quer dizer, o propósito do argumen- -59- Ensaio filosófico to e provar que Deus existe, mas o defensor deseja suporque a própda coisa a ser provada e auto_evidente. "Petição de principio; e a fdácà que consiste emusar a proposição como conclusão e, ao mesmo tempo,como uma premissa ou uma evidência em favor d;;;.:missa. Eis um caso flagrante de petição ãe principio: A dívida interna e grande demais. ma ará enganar por esse argumento. A ass dalalácia da petição di principio, ela as falácias, e mais sutit. iror vezes íl;#rr.,.r,,.,b,r#,','Ii,,il',:::'ff :.:.fJ;:'iLi: Todo homem e mortal. Logo, todo homem morre. e fazer_petiçâo_de principio, visto que a premissa e aconclusão significam a mesma coisa. interessante de pe_ iblia diz e verdade, e a palavra de Deus abemos que a palavra de Biblia diz isso. A Biblia é a palavra de Deus. A palavra de Deus é verdadeira. A divida interna e grande demais. Lógica e argumento no texto A premissa 'A Palavra de Deus é verdadeira" precisa ser apoiada numa evidência. Mas usar 'A Bíblia diz isso" (quer dizer, A Bíblia e verdadeira) como expressão dessa evidência e fazer uma petição de princípio, porque, nesse contexto, 'A Bíblia diz isso" é outra maneira de dizer 'A Biblia e verdadeira", que e justo o que se supôe vá ser provado. Logo, não podemos usá-la nem como premissa nem como evidência para uma premissa. 0 que torna um argumento convincente reconhecí- vel? Sugiro que isso envolve relevância e informatividade. Um argumento convincente contem premissas relevantes para a conclusão. Assim, nenhum dos argumentos sobre a existência de Deus examinados acima e convincente porque nem todas as suas premissas são relevantes para a conclusão. Um argumento convincente deüe conter tam- bém premissas informativas. As vezes as premissas são informativas quando sáo novas no sentido de que o público não as conhecia ate quê as visse no argumento. Outras vezes elas são informativas de maneira derivada; podem ser informativas se a evidência apresentada em seu favor for nova. Logo, pode não ser informativo o fato de alguem dizer simplesmemte "Eu existo". Sozinha, essa asserção parece trivial. Maq,-4uando um filósofo como Descartes assinala que a evidência para essa pro- posição pode ser encontrada mesmo no mais enganoso pensamento que a pessoa possa ter, a proposição "Eu existo" se torna informativa de uma.maneira na qual de outra forma não o e. E também e informativa em seu uso ulterior, na argumentação contra o ceticismo e em favor da existência de Deus. Por fim, há ocasiões em que as _ 61 _ A Bíblia é verdadeira. _60_ Ensaio filosófico premissas são informativas não por serem individual- mente novas, mas por estarem organizadas de uma ma- neira nova; e 0 reconhecimento de uma nova organiza- ção de fatos já conhecidos pode ser instrutivo. No Mênon, de Platão, Sócrates faz um menino escravo deduzir uma surpreendente variedade de teoremas geometricos a par- tir de fatos que o menino já conhece. Sócrates atribui o conhecimento surpreendente do menino a uma reminis- cência do conhecimento que ele tivera numa existência anterior a seu nascimento. Uma explicação alternativa e a de que Sócrates fez o menino reorganizar o conheci- mento adquirido durante sua existência na terra e, nessa reorganizaçáo do conhecimento, o menino veio a apren- der muito mais coisas. Observe que não forneci, nesta seção, um exemplo de argumento convincente. Um argumento trivialmente convincente não seria instrutivo. E, como meu público e variado, seria difícil elaborar um exemplo não triüal em poucas páginas. Deixo a descoberta de um argumento convincente a cada leitor, à guisa de exercicio. A conclusão do capÍtulo ate agora e a de que a noção de argumento sólido não capta por inteiro a noção intuitiva de bom argumento. Precisamos de uma ideia que leve em conta que a solidez do argumento seja reco- nhecida, e e isso o que faz a idéia de argumento convin- cente. Nas três últimas seções, serão explicados vários outros conceitos lógicos: a consistência e a contradição na seção 4, os contrários e os contraditórios na seção 5 e a força da proposição na seção 6. -62- Lógica e argumento no texto 4 Consistência e contradiçáo Como o mostra o exemplo' a consistência náo e guruniiu de verdade. E possível que proposições sejam -63- ,] ii i I Ensaio filosófico consistentes umas com as outras sem ser verdadeiras. Ainda assim, e importante que as proposições sejam con- sistentes, porque se elas não são consistentes entre si (isto e, se são imconsistentes), e impossivel, para todas eias, ser verdadeiras. E os filósofos, assim como os não-fiIósofos, devem correr da falsidade como da praga. Se um conjunto de proposições e inconsistente, ao menos uma delas e falsa. Talvez o conjunto de proposi- ções inconsistentes mais fácil de identificar seja aquele que contém uma proposição e sua negaçâo. Turgenev e romancista. l'urgenev nâo e romancista. Não e preciso saber coisa alguma sobre Turgenev para saber que ao menos uma dessas proposições e falsa. 0 fato de ao menos uma proposição de um conjunto inconsistente ter de ser falsa é uma característica interes- sante, que os filósofos exploram com freqüência. Eles muitas vezes tentam formular conjuntos de proposições, todas elas parecendo verdadeiras, mas inconsistentes. Esses conjuntos de proposiçôes recebem o nome de paradoms. 0 paradoto da liberdade e tln causalidarle 1 Todos os eventos são causados, 2 As ações humanas são eventos. 3 Algumas açoes humanas sâo livres, isto e, nâo causadas, 0 paradoro da referência e da eilstência 1 Tudo o que é objeto de referência tem de existir. 2 0 nome "Hamlet" refere-se a Hamlet. 3 Hamlet não existe. -64- 0 1 parado:ro da Promessa Se promete fazer alguma coisa, fazê-1o. Lógica e argumento no texto Se a pessoa tem fazer essa coisa. Algumas Pessoasàs vezes cumprir. tes sào vagas, como Empiristas britânicos acreditavam que a mente existe' f*pirirtu, britânicos acreditavam que a mente não existe' -65- a obrigaçáo de a pessoa tem a obrigação de fazer alguma coisa, ela Pode iazem promessas que não Podem Ensaio filosófico expressam apenas pafie de um pensamento. como não Aristóteles foi um poeta e consistente porque lhe é possÍvel ser verdadeira, mesmoque ela seja de fato falsa. E a proposição Aristóteles foi um poeta e Aristóteles não foi um poeta e inconsistente porque e-lhe impossivel ser verdadeira. Exercícios Lógica e argumento no texto 5 Contrários e contraditórios Na última seção, definiu-se a contradição em rela- ção à consistência. Uma contradição e uma proposição inconsistente, e um conjunto contraditório de proposições é um conjunto de proposições inconsistentes' A contradi- ção pode ser deflnida de outras maneiras que não men- cionam a inconsistência: Uma (auto)contradição e uma proposição que não pode ser ver- dadeira. Um conjunto de contradiçôes e contraditório se não houver uma maneira de tornar todas as proposiçÔes verdadeiras' Por exemplo, "Sócrates e mortal e Sócrates não e mortal" e contraditório, e o conjunto de (duas) proposições "Sócrates é mortal" e "Sócrates náo é mortal" e contraditório' A fim cle distin$uir contraditórios de contrários, é conveniente restringir a discussão a pares de proposições: Duas proposições são contraditórias se uma tiver de ser verda- deiraeaoutra,falsa. Duas proposições são contrárias se náo puderem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Estas duas proposições se contradizem:1. Escolha um dos paradoxos acima e explique por poiições nele expressas são inconsistentes. 2. As duas proposiçôes a seguir sào consistentes ou tes entre si? Todos os empiristas britânicos acreditam que uma substância. Alguns empiristas britânicos acreditam que uma substância. -66- que as pro- i n consisten- a mente e a mente e A A parede parede é azr,s,l.1 não e àzul. Estas parede e parede e A A duas proposições são contrárias: (completamente) azul. (completamente) vermelha. -67 - I Ensaio filosófico __ Embora não possam ser verdadeiras ao mesmo tem_ po, duas proposições contrárias podem ser simultanea- mente falsas. Se a parede for amarela, as duas proposi- ções apresentadas acima são falsas, Deve ser eüdente que podemos estender a ideia das contradições e dos contrários a predicados ou propriedades: Duas propriedades são contraditórias se uma tiver de ser verdadeira de um objeto e a outra tiver de ser falsa desse mesmo objeto. Duas proprieclades são contrárias se não puderem ser simulta- neamente verdadeiras de um objeto. Ser azul/ser não-azul são propriedades contraditórias; ser azul/ser vermelho são propriedades contrárias. A distinção entre contrários e contraditórios é impor- tante, porque é comum se confundirem essas duas catego- rias. Embora seja improvável que alguém confi.rnda ser vermelho e ser azul com propriedades contraditórias, pode- se confundir ser rico e ser pobre ou ser generoso/ser ava- rento com propriedades contraditórias. Do mesmo modo, e fácil confundir não ser justo (contraditório de ser justo) com ser injusto (seu contrário). Um repolho plantado nojardim pode não ser justo, mas tambem não é injusto. Alguns filósofos usaram a obseruação de que serjusto e ser injusto são contrários e não contraditórios a fim de ajudar a resolver o problema do mal. Eis um exemplo disso num fragmento de ensaio: Uma soluç(to para o problema do mal 0 problema do mal só é insolúvel ate o momento em que se perceba ique justiça e injustiça são termos contrários n -uu- Lógica e argumento no texto e verdadeiro de um objeto, de serjusto e de ser injusto eus. Por conseguinte, Deus r é subjetivo se e somente se pessoa e com base em sua r e objetivo se e somente se r puder ser julgado Por uma so experiência imediata. .r não for subjetivo. Ensaio filosófico Assim definidas, a subjetividade e a objetividade são contraditórias, mas às vezes elas são definidas indepen_dentemente uma da outra, de modo que mostram ser contrários confundidos com contraditórios. .r e sub.jetivo se e somente se r puder ser julgado por uma sópessoa e com base em sua experiência imediata. r e objetivo se e somente se "r for publicamente observável. Por exemplo, entidades abstratas como verdade, jus_ tiça, governo, números (não confundir com numerais) e algumas entidades fÍsicas como as particulas subatômicas(de que só são observáveis os efeitos) ,ao ,ao, nos termosda definição acima, nem subjetivas nem objetivas (veja mais no capÍtulo 5, seção 1, ,,Definições,,). Exercícios I Dado que uma frase atômica parte é bem uma frase, pode uma frase contraditória? pode frase contrária? 2 categorize os seguintes pares c,mo contrários, contraditórios0u nem contrários nem contraditórios:(a) a lto/ba ixo (b) alto/não-alto (c) justo/clemente (d) justo/injusto (e) vermelho/alto (f) borracha/ferro (g) clemente/inclemente (h) todo-poderoso/poderoso -70_ Lógica e argumento no texto (i) feliz/infeliz(j) responsável/irresponsável (k) leqal/ilegal(l) masculino/feminino (m) mascu lino/nào-masculino (n) democrata/republicano (o) pobre/honesto 3 Dadas as definições abaixo, o par subjetividade/objetividade é contrário ou contraditório? x e subjetivo se e somente se há apenas uma pessoa que pode experimentar x. x e objetivo se e somente se as propriedades de x puderem ser determinadas por mais de uma pessoa. 6 A força de uma proposiçâo 0s filósofos falam, muitas vezes, da força de uma proposição. Algumas proposições são mais fortes e algu- mas são mais fracas do que outras. Essas noções de força e fraqueza são tecnicas e precisam ser definidas. Embora não sejam definições difíceis - basta que você entenda a noçâo de impiicação -, sem essas definÍções você fica- ria surpreso com o que os filósofos pensam da força ou da fraqueza de uma'proposição. Uma proposição p e mais forte do que uma pro- posição q se e somente se p implica q e q não implica p. Por exemplo, 'A maioria dos empiristas britânicos acredita que a mente e uma substância" e mais forte do _ 71 _ é uma frase em que nenhuma uma frase atômica ter mais de uma tal frase ter mais de uma Ensaio filosófico que 'Alguns empiristas britânicos acreditam que a mente é uma substância'l Uma proposição p e mais fraca do posiçáo q se e somente se p não implica p. 0bviamente, a proposiçâo ,Alguns empiristas britâ_ nicos acreditam que a mente e uma substância,' e mais fraca do que 'A maioria dos empiristas britânicos acredita que a mente é uma substância". Duas proposições são igualmente fortes se uma implicar a outra e for implicada por ela. Há muitas proposições que não podenr ser compara_ das em termos de força, como, por exemplo, ,,platão foi filósofo" e "David Hume foi filósofo'i Nenhuma das pro_ posições implica a outra. Logo, nenhuma é mais forte ou mais fraca do que a outra. Alem disso, embora a propo_ sição "Todo fllósofo grego tem uma teoria etica,' poisa parecer mais forte do que "E possivel que algum filãsofo menos requereria bem mais evidências, visto que faz uma asserção sobre fodos os fllósofos gregos, ao passo que a segunda o faz acerca de algum filósofo. Além disio, a evidência adequada a cada uma delas não seria a mesma. Se uma proposição e mais forte do que outra, essa pro_ posição requer mais evidências ou evidências melhores _72_ que uma pro- implica q e q Lógica e argumento no texto para ser provada; mas, se não se pode relacioná-las uma com a outra em termos de força, não há uma maneim geral de prever que proposição requererá maiores ou melhores evidências. E importante que você saiba
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