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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGA´ DEPARTAMENTO DE MATEMA´TICA Geometria Anal´ıtica Retas, Planos, Coˆnicas e Qua´dricas Cap´ıtulo 1 Retas e Planos Neste cap´ıtulo esta´ fixado um sistema de coordenadas (O,B) cuja base B = ( −→ i , −→ j , −→ k ) e´ ortonormal positiva. 1.1 Equac¸o˜es de reta Geometricamente, sabemos que uma reta pode ser determinada conhecendo-se dois pontos pertencentes a ela. Um outro modo de determinar uma reta e´ conhecer um ponto pertencente a ela e a sua direc¸a˜o, ou seja, um vetor na˜o nulo que seja paralelo a` reta. Definic¸a˜o 1.1.1. Qualquer vetor na˜o nulo paralelo a uma reta chama-se vetor diretor dessa reta. Seja −→u um vetor diretor de uma reta r e seja A um ponto de r. Seja X um ponto. Enta˜o X ∈ r ⇔ −−→AX e −→u sa˜o paralelos ⇔ existe λ ∈ R tal que −−→AX = λ−→u ⇔ existe λ ∈ R tal que X = A+ λ−→u . Definic¸a˜o 1.1.2. A equac¸a˜o X = A+ λ−→u (1.1) e´ chamada equac¸a˜o vetorial da reta r ou equac¸a˜o da reta r na forma vetorial. Denotaremos r : X = A+ λ−→u , λ ∈ R. Observac¸a˜o 1.1.3. (1) A equac¸a˜o (1.1) na˜o e´ a u´nica equac¸a˜o vetorial da reta r. Na verdade, existem infinitas! Por exemplo, se B e´ um ponto de r diferente de A, enta˜o X = B + λ−→u e´ outra equac¸a˜o vetorial de r. Se −→v e´ um vetor na˜o nulo paralelo a −→u , −→v 6= −→u , enta˜o X = A + λ−→v e X = B + λ−→v sa˜o outras duas equac¸o˜es vetoriais de r. 1 (2) Se A e B sa˜o pontos distintos de r enta˜o −−→ AB e −−→ BA sa˜o vetores diretores de r. Logo X = A+ λ −−→ AB, X = A+ λ −−→ BA, X = B + λ −−→ AB, X = B + λ −−→ BA sa˜o algumas das infinitas equac¸o˜es vetoriais de r. Se X = (x, y, z), A = (x0, y0, z0) e −→u = (a, b, c), substituindo na equac¸a˜o (1.1), obtemos (x, y, z) = (x0, y0, z0) + λ(a, b, c) = (x0 + λa, y0 + λb, z0 + λc) e, portanto, x = x0 + λa y = y0 + λb z = z0 + λc . (1.2) Definic¸a˜o 1.1.4. O sistema de equac¸o˜es (1.2) e´ chamado sistema de equac¸o˜es parame´tricas da reta r ou sistema de equac¸o˜es da reta r na forma parame´trica (λ e´ chamado paraˆmetro). Denotaremos r : x = x0 + λa y = y0 + λb z = z0 + λc , λ ∈ R. Por abuso de linguagem, iremos nos referir ao sistema (1.2) como equac¸o˜es parame´tricas da reta r ou equac¸o˜es da reta r na forma parame´trica. Se nenhuma das coordenadas do vetor diretor de r e´ nula, podemos isolar λ em cada uma das equac¸o˜es de (1.2): λ = x− x0 a , λ = y − y0 b , λ = z − z0 c . Portanto x− x0 a = y − y0 b = z − z0 c . (1.3) Definic¸a˜o 1.1.5. O sistema de equac¸o˜es (1.3) e´ chamado sistema de equac¸o˜es da reta r na forma sime´trica ou, por abuso de linguagem, equac¸o˜es da reta r na forma sime´trica. Denotaremos r : x− x0 a = y − y0 b = z − z0 c . Observac¸a˜o 1.1.6. O sistema de equac¸o˜es (1.2) e o sistema de equac¸o˜es (1.3) na˜o sa˜o u´nicos. Exemplo 1.1.7. Seja r a reta determinada pelos pontos A = (1, 0, 1) e B = (3,−2, 3). (a) Obtenha equac¸o˜es de r nas formas vetorial, parame´trica e sime´trica (se poss´ıvel). (b) Verifique se o ponto P = (−9, 10,−9) pertence a r. (c) Obtenha dois vetores diretores de r e dois pontos de r, distintos de A e B. 1.2 Equac¸o˜es de plano Sejam −→u e −→v vetores linearmente independentes (LI). Todos os planos paralelos a −→u e a −→v (ou seja, todos os planos que conteˆm representantes de −→u e de −→v ) sa˜o paralelos entre si. Logo, um par de vetores LI determina a direc¸a˜o de um plano. Definic¸a˜o 1.2.1. Se −→u e −→v sa˜o LI e sa˜o paralelos a um plano pi (ou seja, possuem representantes em pi), enta˜o o par (−→u ,−→v ) e´ chamado par de vetores diretores de pi. Por abuso de linguagem, diremos que −→u e −→v sa˜o vetores diretores de pi. 2 Seja A um ponto de pi e seja (−→u ,−→v ) um par de vetores diretores de pi. Seja X um ponto. Enta˜o X ∈ pi ⇔ o vetor −−→AX e´ paralelo a pi ⇔ os vetores −→u ,−→v ,−−→AX sa˜o paralelos a pi ⇔ {−→u ,−→v ,−−→AX} e´ LD ⇔ −−→AX e´ gerado por −→u e −→v ⇔ existem λ, µ ∈ R tais que −−→AX = λ−→u + µ−→v ⇔ existem λ, µ ∈ R tais que X = A+ λ−→u + µ−→v . Definic¸a˜o 1.2.2. A equac¸a˜o X = A+ λ−→u + µ−→v (1.4) e´ chamada equac¸a˜o vetorial do plano pi ou equac¸a˜o do plano pi na forma vetorial. Denotaremos pi : X = A+ λ−→u + µ−→v , λ, µ ∈ R. Observac¸a˜o 1.2.3. A equac¸a˜o (1.4) na˜o e´ a u´nica equac¸a˜o vetorial do plano pi. Qualquer ponto do plano pi pode ser usado no lugar de A e quaisquer vetores LI paralelos a pi podem ser usados no lugar de −→u e −→v . Por exemplo, se os pontos na˜o colineares A, B e C pertencem a pi, enta˜o ( −−→ AB, −→ AC), ( −−→ BC, −→ CA) sa˜o pares de vetores diretores de pi. Logo X = A+ λ −−→ AB + µ −→ AC, X = B + λ −−→ AB + µ −→ AC, X = B + λ −−→ BC + µ −→ CA sa˜o algumas das infinitas equac¸o˜es vetoriais de pi. Se X = (x, y, z), A = (x0, y0, z0), −→u = (a, b, c) e −→v = (m,n, p), substituindo na equac¸a˜o (1.4), obtemos (x, y, z) = (x0, y0, z0) + λ(a, b, c) + µ(m,n, p) = (x0 + λa+ µm, y0 + λb+ µn, z0 + λc+ µp) e, portanto, x = x0 + λa+ µm y = y0 + λb+ µn z = z0 + λc+ µp . (1.5) Definic¸a˜o 1.2.4. O sistema de equac¸o˜es (1.5) e´ chamado sistema de equac¸o˜es parame´tricas do plano pi ou sistema de equac¸o˜es do plano pi na forma parame´trica (λ e µ sa˜o chamados paraˆmetros). Denotaremos pi : x = x0 + λa+ µm y = y0 + λb+ µn z = z0 + λc+ µp , λ, µ ∈ R. Por abuso de linguagem, iremos nos referir ao sistema (1.5) como equac¸o˜es parame´tricas do plano pi ou equac¸o˜es do plano pi na forma parame´trica. Exemplo 1.2.5. Seja pi o plano que conte´m o ponto A = (3, 7, 1) e e´ paralelo a −→u = (1, 1, 1) e a −→v = (1, 1, 0). 3 (a) Obtenha equac¸o˜es de pi nas formas vetorial e parame´trica. (b) Verifique se o ponto P = (1, 2, 2) pertence a pi. Seja pi o plano que conte´m o ponto A = (x0, y0, z0) e tem vetores diretores −→u = (r, s, t) e −→v = (m,n, p). Sabemos que X ∈ pi ⇔ {−−→AX,−→u ,−→v } e´ LD. Agora, −−→ AX = (x− x0, y − y0, z − z0). Logo X ∈ pi ⇔ ∣∣∣∣∣∣∣ x− x0 y − y0 z − z0 r s t m n p ∣∣∣∣∣∣∣ = 0. Desenvolvendo o sistema acima, obtemos (sp− nt)x+ (tm− rp)y + (rn−ms)z − (sp− nt)x0 − (tm− rp)y0 − (rn−ms)z0 = 0. Com a notac¸a˜o a = sp−nt = ∣∣∣∣∣ s tn p ∣∣∣∣∣ , b = tm−rp = − ∣∣∣∣∣ r tm p ∣∣∣∣∣ , c = rn−ms = ∣∣∣∣∣ r sm n ∣∣∣∣∣ , d = −ax0−by0−cz0, (1.6) a equac¸a˜o acima pode ser reescrita como ax+ by + cz + d = 0. (1.7) Observe que os coeficientes a, b, c na˜o sa˜o todos nulos, pois, caso contra´rio, ter´ıamos∣∣∣∣∣ s tn p ∣∣∣∣∣ = 0, ∣∣∣∣∣ r tm p ∣∣∣∣∣ = 0, ∣∣∣∣∣ r sm n ∣∣∣∣∣ = 0 e, portanto, {−→u ,−→v } seria LD, o que e´ um absurdo! Definic¸a˜o 1.2.6. Com a notac¸a˜o (1.6), a equac¸a˜o (1.7) e´ chamada equac¸a˜o geral do plano pi ou equac¸a˜o do plano pi na forma geral. Indica-se pi : ax+ by + cz + d = 0. Proposic¸a˜o 1.2.7. Toda equac¸a˜o de 1o grau a treˆs inco´gnitas da forma ax+ by + cz + d = 0, em que a, b e c na˜o sa˜o todos nulos, e´ equac¸a˜o geral de um plano. Demonstrac¸a˜o. Exerc´ıcio. Exemplo 1.2.8. Obtenha uma equac¸a˜o geral do plano pi que conte´m os pontos A = (1, 0, 1), B = (−1, 0, 1) e C = (2, 1, 2). Definic¸a˜o 1.2.9. Seja pi um plano e seja −→n um vetor na˜o nulo. Dizemos que −→n e´ um vetor normal a pi se −→n for ortogonal a qualquer vetor paralelo a pi. 4 Observac¸a˜o 1.2.10. (1) Observe que −→n e´ normal a pi se, e somente se, −→n e´ ortogonal a dois vetores diretores de pi. De fato, seja (−→u ,−→v ) um par de vetores diretores de pi. Se −→w e´ um vetor paralelo a pi, enta˜o −→w e´ gerado por −→u e −→v , ou seja, existem α, β ∈ R tais que −→w = α−→u + β−→v . Logo, se −→n e´ ortogonal a −→u e a −→v , enta˜o −→n · −→w = −→n · (α−→u + β−→v ) = α(−→n · −→u ) + β(−→n · −→v ) = 0. Ou seja, −→n e´ ortogonal a −→w . Portanto, −→ne´ um vetor normal a pi. (2) Seja (−→u ,−→v ) um par de vetores diretores de pi. Como −→u ∧ −→v e´ um vetor ortogonal a −→u e a −→v , segue do item (1) que −→u ∧ −→v e´ um vetor normal a pi. Proposic¸a˜o 1.2.11. −→n = (a, b, c) e´ um vetor normal a pi se, e somente se, pi tem uma equac¸a˜o geral da forma ax+ by + cz + d = 0. Exemplo 1.2.12. Sabendo que o plano pi conte´m o ponto A = (9,−1, 0) e tem vetor normal −→n = (1, 0,−1), obtenha uma equac¸a˜o geral de pi. 1.3 Posic¸o˜es relativas de retas Sabemos da Geometria que existem quatro possibilidades para duas retas quaisquer r e s: serem reversas (ou seja, na˜o coplanares), concorrentes, paralelas distintas ou paralelas coincidentes (ou seja, iguais). Se r e´ uma reta denotaremos um vetor diretor qualquer de r por −→r . Sejam r e s duas retas e sejam A e B pontos de r e s, respectivamente. Enta˜o, temos: • r e s sa˜o reversas se, e somente se, {−→r ,−→s ,−−→AB} e´ LI. Equivalentemente, r e s sa˜o coplanares se, e somente se {−→r ,−→s ,−−→AB} e´ LD. (Isto inclui os casos: concorrentes, paralelas distintas e paralelas coincidentes.) • r e s sa˜o paralelas se, e somente se, {−→r ,−→s } e´ LD. • r e s sa˜o concorrentes se, e somente se, sa˜o coplanares e na˜o sa˜o paralelas, isto e´, {−→r ,−→s ,−−→AB} e´ LD e {−→r ,−→s } e´ LI. Exemplo 1.3.1. Estude a posic¸a˜o relativa das retas r e s. Se r ∩ s for na˜o vazio, determine r ∩ s. (a) r : X = (1, 2, 3) + λ(0, 1, 3), s : X = (0, 1, 0) + λ(1, 1, 1). 5 (b) r : X = (1, 2, 3) + λ(0, 1, 3), s : x = 1 y = 3 + 2λ z = 6 + 6λ . (c) r : x = 4 + λ y = 1− λ z = 1 + λ , s : x = 9− 4λ y = 2 + λ z = 2− 2λ . 1.4 Posic¸o˜es relativas de reta e plano Para uma reta r e um plano pi existem treˆs possibilidades: r estar contida em pi, serem paralelos ou serem transversais. Neste u´ltimo caso, a intersec¸a˜o de r e pi e´ um u´nico ponto; no segundo, a intersec¸a˜o e´ vazia; e, no primeiro, a intersec¸a˜o e´ a pro´pria reta r. Seja r uma reta e seja pi um plano. Enta˜o r e´ transversal a pi se, e somente se, seu vetor diretor −→r na˜o e´ paralelo a pi. Equivalentemente, r e´ paralela a pi ou esta´ contida em pi se, e somente se −→r e´ paralelo a pi. Note que −→r e´ paralelo a pi se, e somente se, −→r e´ ortogonal a −→n , onde −→n e´ um vetor normal a pi. Portanto, −→r e´ paralelo a pi se, e somente se, −→r · −→n = 0. Exemplo 1.4.1. Estude a posic¸a˜o relativa da reta r e do plano pi. Se r ∩ pi for na˜o vazio, determine r ∩ pi. (a) r : X = (1, 0, 1) + λ(2, 1, 3), pi : x+ y + z = 20. (b) r : X = (2, 2, 1) + λ(3, 3, 0), pi : X = (1, 0, 1) + λ(1, 1, 1) + µ(0, 0, 3). 1.5 Posic¸o˜es relativas de planos Para dois planos pi1 e pi2 existem treˆs possibilidades: serem paralelos distintos, paralelos coincidentes (isto e´, iguais) ou transversais. No primeiro caso, a intersec¸a˜o de pi1 e pi2 e´ vazia; no segundo, a intersec¸a˜o e´ um plano (pi1 = pi2); e, no u´ltimo caso, a intersec¸a˜o e´ uma reta. Sejam pi1 e pi2 dois planos e sejam −→n 1 e −→n 2 vetores normais a pi1 e a pi2, respectivamente. Enta˜o pi1 e pi2 sa˜o paralelos se, e somente se, −→n 1 e −→n 2 sa˜o paralelos. 6 Exemplo 1.5.1. Estude a posic¸a˜o relativa dos planos pi1 e pi2. Se pi1 ∩ pi2 for na˜o vazio, determine pi1 ∩ pi2. (a) pi1 : 2x− y + z − 1 = 0, pi2 : 4x− 2y + 2z − 9 = 0. (b) pi1 : x+ 2y + 3z − 1 = 0, pi2 : x− y + 2z = 0. 1.6 Medida angular entre retas Definic¸a˜o 1.6.1. Sejam r e s duas retas, seja −→r um vetor diretor de r e seja −→s um vetor diretor de s. A medida angular entre r e s e´ a medida angular entre os vetores −→r e −→s se esta medida pertencer ao intervalo [0, pi2 ] (em radianos) ou [0, 90] (em graus) e e´ a medida angular entre os vetores −→r e −−→s (ou −−→r e −→s ) se esta medida pertencer ao intervalo [pi2 , pi] (em radianos) ou [90, 180] (em graus). Indicamos a medida angular entre r e s por ang(r, s). Observac¸a˜o 1.6.2. (1) Segue da definic¸a˜o acima que 0 ≤ ang(r, s) ≤ pi2 . (2) r e s sa˜o paralelas se, e somente se, ang(r, s) = 0. Definic¸a˜o 1.6.3. Sejam r e s duas retas. Se ang(r, s) = pi2 dizemos que r e s sa˜o retas ortogonais. Se r e s forem retas ortogonais e concorrentes, dizemos que r e s sa˜o retas perpendiculares. Proposic¸a˜o 1.6.4. Sejam r e s duas retas e seja θ = ang(r, s). Enta˜o cos θ = |−→r · −→s | ||−→r ||||−→s || . Demonstrac¸a˜o: Seja ϕ = ang(−→r ,−→s ). Enta˜o cosϕ = −→r · −→s ||−→r ||||−→s || . • Se cosϕ ≥ 0 enta˜o 0 ≤ ϕ ≤ pi2 . Neste caso, θ = ϕ, pela definic¸a˜o anterior. Logo cos θ = cosϕ. 7 • Se cosϕ < 0 enta˜o pi2 < ϕ ≤ pi. Neste caso, θ = ang(−→r ,−−→s ), pela definic¸a˜o anterior. Logo cos θ = −→r · (−−→s ) ||−→r ||||−→s || = −−→r · −→s ||−→r ||||−→s || = − cosϕ. Conclu´ımos, enta˜o, que cos θ = | cosϕ|, isto e´, cos θ = ∣∣∣∣ −→r · −→s||−→r ||||−→s || ∣∣∣∣ = |−→r · −→s |||−→r ||||−→s || . � Exemplo 1.6.5. O lado BC de um triaˆngulo equila´tero esta´ contido na reta r : X = (0, 0, 0) + λ(0, 1,−1) e seu ve´rtice oposto e´ A = (1, 1, 0). Determine B e C. Esboce o triaˆngulo ABC. 1.7 Medida angular entre reta e plano Definic¸a˜o 1.7.1. Dizemos que uma reta r e´ perpendicular a um plano pi se −→r for um vetor normal a pi. Definic¸a˜o 1.7.2. Sejam r uma reta e pi um plano. A medida angular entre r e pi, indicada por ang(r, pi), e´ pi2 − ang(r, s) (em radianos) ou 90− ang(r, s) (em graus), onde s e´ qualquer reta perpendicular a pi. Observac¸a˜o 1.7.3. (1) A medida angular entre r e pi na˜o depende da escolha da reta s perpendicular a pi. De fato, se s′ e´ outra reta perpendicular a pi, enta˜o s e s′ sa˜o paralelas e, portanto, ang(r, s) = ang(r, s′). (2) Como 0 ≤ ang(r, s) ≤ pi2 enta˜o −pi2 ≤ − ang(r, s) ≤ 0. Assim, 0 ≤ pi2 − ang(r, s) ≤ pi2 , ou seja, 0 ≤ ang(r, pi) ≤ pi2 . Observac¸a˜o 1.7.4. (1) r e´ perpendicular a pi se, e somente se, r e´ paralela a s, isto e´, ang(r, s) = 0. Logo r e´ perpendicular a pi se, e somente se, ang(r, pi) = pi2 − 0 = pi2 . (2) r e´ paralela a pi ou esta´ contida em pi se, e somente se, r e s sa˜o ortogonais, isto e´, ang(r, s) = pi2 . Logo, r e´ paralela a pi ou esta´ contida em pi se, e somente se, ang(r, pi) = pi2 − pi2 = 0. 8 Proposic¸a˜o 1.7.5. Seja r uma reta com vetor diretor −→r e seja pi um plano com vetor normal −→n . Se θ = ang(r, pi), enta˜o sen θ = |−→r · −→n | ||−→r ||||−→n || . Demonstrac¸a˜o: Seja s uma reta perpendicular a pi. Enta˜o −→n e´ um vetor diretor de s. Se ϕ = ang(r, s) enta˜o cosϕ = |−→r · −→n | ||−→r ||||−→n || . Como θ = ang(r, pi) = pi2 − ϕ, enta˜o sen θ = sen (pi 2 − ϕ ) = sen pi 2 cos(−ϕ) + sen(−ϕ) cos pi 2 = cosϕ. Portanto, sen θ = |−→r · −→n | ||−→r ||||−→n || . � Exemplo 1.7.6. Obtenha a medida angular em radianos entre a reta r : X = (0, 1, 0) + λ(−1,−1, 0) e o plano pi : y + z − 10 = 0. 1.8 Medida angular entre planos Definic¸a˜o 1.8.1. A medida angular entre os planos pi1 e pi2, indicada por ang(pi1, pi2), e´ a medida angular θ entre duas retas quaisquer r1 e r2, respectivamente perpendiculares a pi1 e a pi2. Observac¸a˜o 1.8.2. (1) A medida angular entre pi1 e pi2 na˜o depende da escolha de r1 e r2. (2) Como ang(pi1, pi2) = ang(r1, r2), enta˜o 0 ≤ ang(pi1, pi2) ≤ pi2 . Definic¸a˜o 1.8.3. Sejam pi1 e pi2 dois planos e sejam −→n 1 e −→n 2 vetores normais a pi1 e pi2, respectivamente. Dizemos que pi1 e pi2 sa˜o perpendiculares se −→n 1 e −→n 2 sa˜o ortogonais. 9 Observac¸a˜o 1.8.4. (1) pi1 e pi2 sa˜o perpendiculares se, e somente se, −→n 1 e −→n 2 sa˜o ortogonais. Isto e´ equivalente a dizer que r1 e r2 sa˜o ortogonais, onde r1 e r2 sa˜o quaisquer retas perpendiculares a pi1 e pi2, respectivamente. Logo, pi1 e pi2 sa˜o perpendiculares se, e somente se, ang(r1, r2) = pi 2 , ou seja, ang(pi1, pi2) = pi 2 . (2) pi1 e pi2 sa˜o paralelos ou coincidentes se, e somente se,−→n 1 e −→n 2 sa˜o paralelos. Isto e´ equivalente a dizer que r1 e r2 sa˜o paralelas, onde r1 e r2 sa˜o quaisquer retas perpendiculares a pi1 e pi2, respectivamente. Logo, pi1 e pi2 sa˜o paralelos ou coincidentes se, e somente se, ang(r1, r2) = 0, ou seja, ang(pi1, pi2) = 0. Proposic¸a˜o 1.8.5. Sejam pi1 e pi2 dois planos com vetores normais −→n 1 e −→n 2, respectivamente. Se θ = ang(pi1, pi2), enta˜o cos θ = |−→n 1 · −→n 2| ||−→n 1||||−→n 2|| . Demonstrac¸a˜o: Sejam r1 e r2 retas perpendiculares a pi1 e pi2, respectivamente. Enta˜o −→n 1 e´ um vetor diretor de r1 e −→n 2 e´ um vetor diretor de r2. Assim, como θ = ang(r1, r2), enta˜o cos θ = |−→n 1 · −→n 2| ||−→n 1||||−→n 2|| . � Exemplo 1.8.6. Sejam pi1 : x − y + z = 20 e pi2 : X = (1, 1,−2) + λ(0,−1, 1) + µ(1,−3, 2). Calcule ang(pi1, pi2). 1.9 Distaˆncia de ponto a reta Dados dois pontos A = (x1, y1, z1) e B = (x2, y2, z2), ja´ sabemos que a distaˆncia entre A e B, denotada por d(A,B), e´ dada por d(A,B) = ||−−→AB|| = √ (x2 − x1)2 + (y2 − y1)2 + (z2 − z1)2. A distaˆncia entre um ponto P e uma reta r, denotada por d(P, r), e´ a menor das distaˆncias entre P e pontos de r; tal distaˆncia pode ser obtida calculando-se a distaˆncia de P a Q, onde Q e´ o pe´ da perpendicular a r por P . Vejamos como determinar essa distaˆncia sem precisar conhecer o ponto Q. Proposic¸a˜o 1.9.1. Seja P um ponto e seja r uma reta com vetor diretor −→r . Se A e´ um ponto qualquer de r enta˜o d(P, r) = ||−→AP ∧ −→r || ||−→r || . 10 Demonstrac¸a˜o: Seja B o ponto de r tal que −→r = −−→AB e considere o triaˆngulo ABP . Seja h a altura relativa ao ve´rtice P . Enta˜o h = d(P, r). A a´rea do triaˆngulo ABP e´ dada por ||−−→AB||h 2 = ||−→AP ∧ −−→AB|| 2 . Logo h = ||−→AP ∧ −−→AB|| ||−−→AB|| e, portanto, d(P, r) = ||−→AP ∧ −→r || ||−→r || . � Exemplo 1.9.2. Calcule a distaˆncia de P = (1, 1,−1) a` reta r que e´ a intersec¸a˜o dos planos pi1 : x− y = 1 e pi2 : x+ y − z = 0. 1.10 Distaˆncia de ponto a plano A distaˆncia entre um ponto P e um plano pi, denotada por d(P, pi), e´ a menor das distaˆncias entre P e pontos de pi; tal distaˆncia pode ser obtida calculando-se a distaˆncia de P a Q, onde Q e´ o pe´ da perpendicular a pi por P . Vejamos como determinar essa distaˆncia sem precisar conhecer o ponto Q. Proposic¸a˜o 1.10.1. Seja P um ponto e seja pi um plano com vetor normal −→n . Se A e´ um ponto qualquer de pi enta˜o d(P, pi) = |−→AP · −→n | ||−→n || . Demonstrac¸a˜o: Considere a figura abaixo. 11 Observe que d(P, pi) e´ a norma da projec¸a˜o ortogonal de −→ AP sobre −→n . Logo d(P, pi) = ∣∣∣∣∣∣proj−→n −→AP ∣∣∣∣∣∣ = |−→AP · −→n |||−→n || . � Vejamos como fica a fo´rmula dada na proposic¸a˜o acima em coordenadas. Se P = (x0, y0, z0), A = (x1, y1, z1) e pi : ax+ by+ cz+ d = 0, enta˜o −→n = (a, b, c) e´ um vetor normal a pi e, como A ∈ pi, enta˜o ax1 + by1 + cz1 + d = 0. Da´ı, −→ AP · −→n = (x0 − x1, y0 − y1, z0 − z1) · (a, b, c) = (x0 − x1)a+ (y0 − y1)b+ (z0 − z1)c = ax0 + by0 + cz0 − (ax1 + by1 + cz1) = ax0 + by0 + cz0 + d. Assim, d(P, pi) = |−→AP · −→n | ||−→n || = |ax0 + by0 + cz0 + d|√ a2 + b2 + c2 . Exemplo 1.10.2. Calcule a distaˆncia do ponto P ao plano pi. (a) P = (1, 2,−1), pi : 3x− 4y − 5z + 1 = 0. (b) P = (1, 3, 4), pi : X = (1, 0, 0) + λ(1, 0, 0) + µ(−1, 0, 3). 1.11 Distaˆncia entre duas retas A distaˆncia entre duas retas r e s, denotada por d(r, s), e´ a menor das distaˆncias entre pontos de r e de s. Temos enta˜o os seguintes casos: • r e s sa˜o concorrentes: neste caso, d(r, s) = 0. • r e s sa˜o paralelas coincidentes: neste caso d(r, s) = 0. • r e s sa˜o paralelas distintas: neste caso d(r, s) = d(P, s) onde P e´ um ponto qualquer de r ou d(r, s) = d(Q, r) onde Q e´ um ponto qualquer de s. 12 • r e s sa˜o reversas: neste caso, a distaˆncia pode ser obtida considerando a reta t perpendicular a r e a s, simultaneamente, e que intercepta r em P e s em Q. Assim, d(r, s) = d(P, s) = d(Q, r) = d(P,Q). Vejamos como determinar essa distaˆncia sem conhecer t, P e Q. Seja −→r um vetor diretor de r e seja −→s um vetor diretor de s. Como r e s sa˜o reversas, {−→r ,−→s } e´ LI. Seja pi o plano que conte´m r e e´ paralelo a s. Se B e´ um ponto qualquer de s enta˜o d(r, s) = d(P,Q) = d(B, pi). Como (−→r ,−→s ) e´ um par de vetores diretores de pi enta˜o −→r ∧−→s e´ um vetor normal a pi. Seja A um ponto qualquer de r. Enta˜o A pertence a pi. Logo, d(B, pi) = |−−→AB · −→r ∧ −→s | ||−→r ∧ −→s || = |−→r ∧ −→s · −−→AB| ||−→r ∧ −→s || = |[−→r ,−→s ,−−→AB]| ||−→r ∧ −→s || . Portanto, d(r, s) = |[−→r ,−→s ,−−→AB]| ||−→r ∧ −→s || , onde A e´ um ponto qualquer de r e B e´ um ponto qualquer de s. Exemplo 1.11.1. Obtenha uma reta r que conte´m o ponto A = (1, 1, 2), e´ paralela a pi : x−2y+2z−4 = 0 e dista 1/ √ 2 da reta s : X = (3, 1, 1) + λ(4, 1,−1). 1.12 Distaˆncia entre reta e plano A distaˆncia entre uma reta r e um plano pi, denotada por d(r, pi), e´ a menor das distaˆncias entre pontos de r e de pi. Assim, se r e´ transversal a pi ou esta´ contida em pi, enta˜o d(r, pi) = 0. Se r e´ paralela a pi e A e´ um ponto qualquer de r enta˜o d(r, pi) = d(A, pi). 13 1.13 Distaˆncia entre planos A distaˆncia entre dois planos pi1 e pi2, denotada por d(pi1, pi2), e´ a menor das distaˆncias entre pontos de pi1 e de pi2. Se pi1 e pi2 sa˜o transversais ou coincidentes enta˜o d(pi1, pi2) = 0. Se pi1 e pi2 sa˜o paralelos, a distaˆncia entre pi1 e pi2 pode ser obtida considerando uma reta t perpendicular a pi1 e pi2, simultaneamente, e que intercepta pi1 em P e pi2 em Q. Assim, d(pi1, pi2) = d(P, pi2) = d(Q, pi1) = d(P,Q). Logo d(pi1, pi2) = d(A, pi2) onde A e´ um ponto qualquer de pi1 ou d(pi1, pi2) = d(B, pi1) onde B e´ um ponto qualquer de pi2. 14 Cap´ıtulo 2 Coˆnicas Como veremos, as coˆnicas sa˜o curvas planas que podem ser descritas por equac¸o˜es do segundo grau em duas varia´veis, entre elas a elipse, a hipe´rbole e a para´bola. Por esse motivo, nas pro´ximas sec¸o˜es iremos nos restringir ao conjunto dos pontos de um plano e, por isso, iremos trabalhar apenas com vetores paralelos a um plano pi fixado. Sabemos que se (−→u ,−→v ) e´ um par de vetores diretores de pi, enta˜o todo vetor −→w paralelo a pi e´ gerado por −→u e −→v . Por esse motivo, chamaremos E = (−→u ,−→v ) de base de pi. Dessa forma, se −→w = a−→u + b−→v enta˜o denotaremos −→w = (a, b)E . Se O e´ um ponto de pi, o par (O, E) e´ um sistema de coordenadas de pi. Se P e´ um ponto de pi e −−→ OP = x−→u + y−→v enta˜o indicaremos P = (x, y) e diremos que x e´ a abscissa e y e´ a ordenada de P . De agora em diante esta´ fixado em pi um sistema ortogonal de coordenadas (O,B), B = (−→i ,−→j ). 2.1 Elipse Definic¸a˜o 2.1.1. Dados dois pontos distintos F1 e F2 de um plano, chama-se elipse o conjunto dos pontos X do plano tais que d(X,F1) + d(X,F2) e´ constante. Denotemos por 2a a constante da definic¸a˜o, ou seja, X pertence a` elipse se, se somente se, d(X,F1) + d(X,F2) = 2a. Denotemos tambe´m d(F1, F2) = 2c. Por convenc¸a˜o assumiremos sempre que a > c e, portanto, que d(X,F1) + d(X,F2) > d(F1, F2). Sejam tambe´m: C o ponto me´dio do segmento F1F2; A1 e A2 os pontos da reta F1F2 que distam a de C; B1 e B2 os pontos da mediatriz do segmento F1F2 que distam a de F1 e de F2. 15 Como d(B2, F1) + d(B2, F2) = a+ a = 2a, enta˜o B2 pertence a` elipse. O mesmo ocorre com B1. Como d(A1, F1) + d(A1, F2) = (a− c) + (a+ c) = 2a, enta˜o A1 pertence a` elipse. O mesmo ocorre com A2. Usaremos a seguinte nomenclatura: • Focos: F1, F2 • Distaˆncia focal: 2c = d(F1, F2) • Segmento focal: segmento F1F2 • Reta focal: reta F1F2 • Centro: C • Ve´rtices: A1, A2, B1, B2 • Eixo maior: segmento A1A2 • Eixo menor: segmento B1B2 Chamemos de 2b o comprimento doeixo menor. Pelo Teorema de Pita´goras, a2 = b2 + c2 e a > b. Vamos deduzir uma equac¸a˜o para a elipse E. Para isso, tomemos um sistema ortogonal de coordenadas de modo que sua origem seja o centro da elipse e que F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0), como na figura abaixo. Assim, se X = (x, y) e´ um ponto da elipse, temos: d(X,F1) + d(X,F2) = 2a⇒ √ (x− (−c))2 + (y − 0)2 + √ (x− c)2 + (y − 0)2 = 2a ⇒ √ (x+ c)2 + y2 = 2a− √ (x− c)2 + y2 ⇒ (x+ c)2 + y2 = 4a2 − 4a √ (x− c)2 + y2 + (x− c)2 + y2 ⇒ x2 + 2cx+ c2 + y2 = 4a2 − 4a √ (x− c)2 + y2 + x2 − 2cx+ c2 + y2 ⇒ 4cx = 4(a2 − a √ (x− c)2 + y2) ⇒ a2 − cx = a √ (x− c)2 + y2 ⇒ a4 − 2a2cx+ c2x2 = a2[(x− c)2 + y2] = a2[x2 − 2cx+ c2 + y2] ⇒ a4 − 2a2cx+ c2x2 = a2x2 − 2a2cx+ a2c2 + a2y2 ⇒ (a2 − c2)x2 + a2y2 = a2(a2 − c2). 16 Como a2 = b2 + c2 enta˜o a2 − c2 = b2. Assim, dividindo por a2b2 obtemos x2 a2 + y2 b2 = 1. (2.1) Reciprocamente, e´ poss´ıvel provar que se um ponto X = (x, y) satisfaz a equac¸a˜o (2.1) enta˜o X pertence a` elipse E. Os nu´meros a, b e c sa˜o chamados paraˆmetros geome´tricos da elipse. A equac¸a˜o (2.1) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da elipse de centro na origem e focos no eixo Ox. Denotaremos E : x2 a2 + y2 b2 = 1. Se o ponto X = (x, y) pertence a` elipse E, ou seja, x2 a2 + y2 b2 = 1, enta˜o y = ±b √ 1− x 2 a2 . Ale´m disso, x2 a2 ≤ 1 e y 2 b2 ≤ 1 e assim x2 ≤ a2 e y2 ≤ b2. Logo, |x| ≤ a e |y| ≤ b, ou seja, −a ≤ x ≤ a e −b ≤ y ≤ b. Se o sistema ortogonal de coordenadas tiver origem no centro da elipse e F1 = (0,−c) e F2 = (0, c) enta˜o X = (x, y) pertence a` elipse se, e somente se, x2 b2 + y2 a2 = 1. (2.2) A equac¸a˜o (2.2) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da elipse de centro na origem e focos em Oy. (A demons- trac¸a˜o e´ ana´loga a` de (2.1).) Neste caso, se o ponto X = (x, y) pertence a` elipse E, ou seja, x2 b2 + y2 a2 = 1, enta˜o y = ±a √ 1− x 2 b2 , com −b ≤ x ≤ b e −a ≤ y ≤ a. Proposic¸a˜o 2.1.2. Uma equac¸a˜o da forma x2 p + y2 q = 1 (2.3) descreve uma elipse em relac¸a˜o a um sistema ortogonal de coordenadas se, e somente se, os nu´meros reais p e q sa˜o distintos e positivos. 17 Corola´rio 2.1.3. Fixado um sistema ortogonal de coordenadas de origem O, sejam p e q nu´meros reais distintos e positivos, e seja E a elipse de equac¸a˜o x2 p + y2 q = 1 com paraˆmetros geome´tricos a e b. • Se p > q enta˜o a2 = p, b2 = q e E tem centro O e focos em Ox. • Se p < q enta˜o a2 = q, b2 = p e E tem centro O e focos em Oy. Exemplo 2.1.4. Mostre que a equac¸a˜o 16x2 + y2 = 1 descreve uma elipse de centro O e focos em Ox ou Oy. Calcule as medidas dos eixos maior e menor e a distaˆncia focal. Escreva as coordenadas dos ve´rtices e dos focos. Esboce a elipse. Exemplo 2.1.5. Obtenha uma equac¸a˜o reduzida da elipse cujos focos sa˜o F1 = (0,−2) e F2 = (0, 2) e o eixo menor tem medida 4. 2.2 Circunfereˆncia Definic¸a˜o 2.2.1. Dado um ponto C de um plano, chama-se circunfereˆncia o conjunto dos pontos X do plano tais que d(X,C) e´ constante. O ponto C e´ chamado centro da circunfereˆncia e a distaˆncia fixa e´ chamada raio da circunfereˆncia. Consideremos um sistema ortogonal de coordenadas de modo que o centro C esteja na origem, ou seja, C = (0, 0). Seja r o raio. Enta˜o X pertence a` circunfereˆncia ⇔ d(X,C) = r ⇔ √ (0− x)2 + (0− y)2 = r ⇔ √ x2 + y2 = r ⇔ x2 + y2 = r2. Portanto, uma equac¸a˜o da circunfereˆncia com centro na origem e raio r e´ x2 + y2 = r2. Observac¸a˜o 2.2.2. Uma circunfereˆncia na˜o e´ uma elipse! (Pois, se observarmos sua equac¸a˜o acima veremos que p = q = r2.) 2.3 Hipe´rbole Definic¸a˜o 2.3.1. Dados dois pontos distintos F1 e F2 de um plano, chama-se hipe´rbole o conjunto dos pontos X do plano tais que |d(X,F1)− d(X,F2)| e´ constante. Denotemos por 2a a constante da definic¸a˜o, ou seja, X pertence a` hipe´rbole se, se somente se, |d(X,F1)− d(X,F2)| = 2a. Denotemos tambe´m d(F1, F2) = 2c. Por convenc¸a˜o assumiremos sempre que 0 < a < c e, portanto, que |d(X,F1)− d(X,F2)| < d(F1, F2). Sejam tambe´m: C o ponto me´dio do segmento F1F2; A1 e 18 A2 os pontos da reta F1F2 que distam a de C e considere o retaˆngulo inscrito no c´ırculo de centro C e raio c, como na figura a seguir, o qual sera´ chamado retaˆngulo fundamental ; B1 e B2 os pontos de intersec¸a˜o da mediatriz do segmento F1F2 com o retaˆngulo fundamental. Como d(A1, F1) = c−a e d(A1, F2) = a+c enta˜o |d(A1, F1)−d(A2, F2)| = |(c−a)−(a+c) = |−2a| = 2a. Logo A1 pertence a` hipe´rbole. O mesmo ocorre com A2. Usaremos a seguinte nomenclatura: • Focos: F1, F2 • Distaˆncia focal: 2c = d(F1, F2) • Segmento focal: segmento F1F2 • Reta focal: reta F1F2 • Centro: C • Ve´rtices: A1, A2 • Eixo transverso: segmento A1A2 • Eixo conjugado: segmento B1B2 • Ass´ıntotas: Retas que conteˆm as diagonais do retaˆngulo fundamental Chamemos de 2b o comprimento do eixo conjugado. Pelo Teorema de Pita´goras, c2 = a2 + b2 e c > b. Vamos deduzir uma equac¸a˜o para a hipe´rbole H. Para isso, tomemos um sistema ortogonal de coorde- nadas de modo que sua origem seja o centro da hipe´rbole e que F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0), como na figura abaixo. 19 Assim, se X = (x, y) e´ um ponto da hipe´rbole, temos: |d(X,F1)− d(X,F2)| = 2a⇒ d(X,F1)− d(X,F2) = ±2a ⇒ √ (x− (−c))2 + (y − 0)2 − √ (x− c)2 + (y − 0)2 = ±2a ⇒ √ (x+ c)2 + y2 = ±2a+ √ (x− c)2 + y2 ⇒ x2 + 2cx+ c2 + y2 = 4a2 ± 4a √ (x− c)2 + y2 + x2 − 2cx+ c2 + y2 ⇒ 4cx = 4(a2 ± a √ (x− c)2 + y2) ⇒ a2 − cx = ±a √ (x− c)2 + y2 ⇒ a4 − 2a2cx+ c2x2 = a2[(x− c)2 + y2] = a2[x2 − 2cx+ c2 + y2] ⇒ a4 − 2a2cx+ c2x2 = a2x2 − 2a2cx+ a2c2 + a2y2 ⇒ (c2 − a2)x2 = a2(c2 − a2) + a2y2 ⇒ (c2 − a2)x2 − a2y2 = a2(c2 − a2). Como c2 = a2 + b2 enta˜o c2 − a2 = b2. Assim, dividindo por a2b2 obtemos x2 a2 − y 2 b2 = 1. (2.4) Reciprocamente, e´ poss´ıvel provar que se um ponto X = (x, y) satisfaz a equac¸a˜o (2.4) enta˜o X pertence a` hipe´rbole H. Os nu´meros a, b e c sa˜o chamados paraˆmetros geome´tricos da hipe´rbole. A equac¸a˜o (2.4) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da hipe´rbole de centro na origem e focos no eixo Ox. Denotaremos H : x2 a2 − y 2 b2 = 1. Se o ponto X = (x, y) pertence a` hipe´rbole H, ou seja, x2 a2 − y 2 b2 = 1, enta˜o y = ±b √ x2 a2 − 1. Ale´m disso, x2 a2 = 1 + y2 b2 ≥ 1 o que implica que x 2 a2 ≥ 1. Assim x2 ≥ a2 e, portanto, |x| ≥ a, ou seja, x ≥ a ou x ≤ −a. Se o sistema ortogonal de coordenadas tiver origem no centro da hipe´rbole e F1 = (0,−c) e F2 = (0, c) enta˜o X = (x, y) pertence a` hipe´rbole se, e somente se, −x 2 b2 + y2 a2 = 1. (2.5) A equac¸a˜o (2.5) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da hipe´rbole de centro na origem e focos em Oy. (A demonstrac¸a˜o e´ ana´loga a` de (2.4).) 20 Proposic¸a˜o 2.3.2. Uma equac¸a˜o da forma x2 p + y2 q = 1 (2.6) descreve uma hipe´rbole em relac¸a˜o a um sistema ortogonal de coordenadas se, e somente se, os nu´meros reais p e q sa˜o de sinal contra´rio. Corola´rio 2.3.3. Fixado um sistema ortogonal de coordenadas de origem O, sejam p e q nu´meros reais de sinal contra´rio, e seja H a hipe´rbole de equac¸a˜o x2 p + y2 q = 1 com paraˆmetros geome´tricos a e b. • Se p > 0 e q < 0 enta˜o a2 = p, b2 = −q e H tem centro O e focos em Ox. • Se p < 0 e q > 0 enta˜o a2 = q, b2 = −p e H tem centro O e focos em Oy. Exemplo 2.3.4. Mostre que a equac¸a˜o 25x2 − 144y2 = 9 descreve uma hipe´rbole de centro O e focos em Ox ou Oy. Calcule as medidas dos eixos transverso e conjugado e a distaˆncia focal. Escreva as coordenadas dos ve´rtices, dos focos e das extremidades do eixo conjugado. Esboce a hipe´rbole. Exemplo 2.3.5. Obtenha uma equac¸a˜o reduzida da hipe´rbole cujo foco F1 = (0,− √11), o centro e´ a origem e o eixo conjugado mede 2 √ 7. 2.4 Para´bola Definic¸a˜o 2.4.1. Dados um ponto F e uma reta d de um plano, F na˜o pertencente a d, chama-se para´bola o conjunto dos pontos X do plano que equidistam de F e d. Denotemos d(F, d) = 2p. Seja r a reta que conte´m F e e´ perpendicular a d e seja H o ponto de intersec¸a˜o de r e d. Denotemos por V o ponto me´dio do segmento HF . Observe que V pertence a` para´bola pois d(V, F ) = p = d(V, d). 21 Usaremos a seguinte nomenclatura: • Foco: F • Diretriz: d • Eixo: r • Ve´rtice: V • Paraˆmetro: p Vamos deduzir uma equac¸a˜o para a para´bola P . Para isso, tomemos um sistema ortogonal de coorde- nadas de modo que sua origem seja o ve´rtice da para´bola e que F = (0, p), como na figura abaixo. Com relac¸a˜o a esse sistema de coordenadas, a diretriz d tem equac¸a˜o d : y = −p (ou seja, d : { x = λ y = −p , λ ∈ R; ou ainda, d : X = (0,−p) + λ(1, 0), λ ∈ R). Se X = (x, y) e´ um ponto do plano, e´ fa´cil verificar (verifique!) que d(X, d) = { y + p, se y + p ≥ 0 −(y + p), se y + p < 0 = |y + p|. Ale´m disso, d(X,F ) = √ (x− 0)2 + (y − p)2 = √ x2 + (y − p)2. Logo, X = (x, y) e´ um ponto da para´bola se, e somente se, d(X, d) = d(X,F )⇔ |y + p| = √ x2 + (y − p)2 ⇔ (y + p)2 = x2 + (y − p)2 ⇔ y2 + 2py + p2 = x2 + y2 − 2py + p2 ⇔ 4py = x2 ⇔ y = 1 4p x2. 22 A equac¸a˜o y = 1 4p x2 (2.7) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da para´bola de ve´rtice na origem e foco em Oy+. Denotaremos P : y = 1 4p x2. Observe que x pode ser qualquer, portanto a para´bola na˜o e´ limitada! Se o sistema ortogonal de coordenadas tiver origem no ve´rtice da para´bola e F = (0,−p) (neste caso, a diretriz d tem equac¸a˜o d : y = p) enta˜o X = (x, y) pertence a` para´bola se, e somente se, y = − 1 4p x2. (2.8) A equac¸a˜o (2.8) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da para´bola de ve´rtice na origem e foco em Oy−. Se o sistema ortogonal de coordenadas tiver origem no ve´rtice da para´bola e F = (p, 0) (neste caso, a diretriz d tem equac¸a˜o d : x = −p) enta˜o X = (x, y) pertence a` para´bola se, e somente se, x = 1 4p y2. (2.9) A equac¸a˜o (2.9) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da para´bola de ve´rtice na origem e foco em Ox+. Se o sistema ortogonal de coordenadas tiver origem no ve´rtice da para´bola e F = (−p, 0) (neste caso, a 23 diretriz d tem equac¸a˜o d : x = p) enta˜o X = (x, y) pertence a` para´bola se, e somente se, x = − 1 4p y2. (2.10) A equac¸a˜o (2.10) e´ chamada equac¸a˜o reduzida da para´bola de ve´rtice na origem e foco em Ox−. Proposic¸a˜o 2.4.2. Em relac¸a˜o a um sistema ortogonal de coordenadas, as equac¸o˜es x2 = qy e y2 = qx descrevem para´bolas se, e somente se, q 6= 0. Exemplo 2.4.3. Obtenha o foco e a diretriz da para´bola P : y2 = 5x. Exemplo 2.4.4. Obtenha a equac¸a˜o reduzida da para´bola de ve´rtice (0, 0), paraˆmetro igual a 2 e cujo foco esta´ no semieixo positivo das abscissas. 2.5 Translac¸a˜o de eixos Uma translac¸a˜o de eixos consiste em substituir um dado sistema ortogonal de coordenadas do plano (O,B), B = (−→i ,−→j ), por um outro (O′,B), mantendo a base, ou seja, mantendo as direc¸o˜es dos eixos. Se O′ = (x0, y0) com relac¸a˜o ao sistema de coordenadas (O,B), temos: Seja P um ponto do plano. Sejam (x, y) suas coordenadas no sistema (O,B) e (u, v) suas coordenadas no sistema (O′,B). 24 Observe que u = x− x0 v = y − y0. Essas equac¸o˜es sa˜o chamadas equac¸o˜es de translac¸a˜o de eixos. Por exemplo, considere uma elipse de centro no ponto C = (x0, y0) em relac¸a˜o ao sistema ortogonal de coordenadas (O,B), B = (−→i ,−→j ), com eixo maior paralelo a Ox, como na figura abaixo. Introduzimos um novo sistema de coordenadas com origem no ponto C, (C,B). Em relac¸a˜o ao sistema de coordenadas (C,B) temos uma elipse de centro na origem e focos no eixo Cu, cuja equac¸a˜o reduzida e´ u2 a2 + v2 b2 = 1. Usando as equac¸o˜es de translac¸a˜o de eixos, obtemos (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1, que e´ a equac¸a˜o da elipse de centro no ponto C = (x0, y0) e eixo maior paralelo ao eixo Ox, em relac¸a˜o ao sistema ortogonal de coordenadas (O,B). Ale´m disso, em relac¸a˜o ao sistema ortogonal de coordenadas (O,B), temos: F1 = (x0 − c, y0) F2 = (x0 + c, y0) A1 = (x0 − a, y0) A2 = (x0 + a, y0) B1 = (x0, y0 − b) B2 = (x0, y0 + b) Portanto, usando as equac¸o˜es de translac¸a˜o de eixos, podemos escrever equac¸o˜es da elipse, da circun- fereˆncia, da hipe´rbole e da para´bola transladadas, em relac¸a˜o ao sistema ortogonal de coordenadas (O,B). Temos assim: • Elipse com centro em (x0, y0) e eixo maior paralelo a Ox: (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1 • Elipse com centro em (x0, y0) e eixo maior paralelo a Oy: (x− x0)2 b2 + (y − y0)2 a2 = 1 • Hipe´rbole com centro em (x0, y0) e eixo transverso paralelo a Ox: (x− x0)2 a2 − (y − y0) 2 b2 = 1 25 • Hipe´rbole com centro em (x0, y0) e eixo transverso paralelo a Oy: −(x− x0)2 b2 + (y − y0)2 a2 = 1 • Para´bola com ve´rtice em (x0, y0) e eixo paralelo a Oy: y − y0 = ± 1 4p (x− x0)2 • Para´bola com ve´rtice em (x0, y0) e eixo paralelo a Ox: x− x0 = ± 1 4p (y − y0)2 • Circunfereˆncia com centro em (x0, y0) e raio r: (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2 2.6 Equac¸a˜o geral do 20 grau Definic¸a˜o 2.6.1. Uma coˆnica e´ um conjunto de pontos X = (x, y) do plano que satisfazem uma equac¸a˜o de 20 grau Ax2 +By2 + Cx+Dy + E + Fxy = 0. (2.11) Observac¸a˜o 2.6.2. Como a equac¸a˜o (2.11) e´ de 20 grau, devemos ter A 6= 0 ou B 6= 0 ou F 6= 0. Na equac¸a˜o (2.11), Ax2, By2 e Fxy sa˜o chamados termos quadra´ticos e, para distinguir Fxy dos outros dois, referimo-nos a ele como termo quadra´tico misto. Por sua vez, Cx e Dy sa˜o os termos lineares e E e´ o termo independente. Exemplos de coˆnicas 2.6.3. (a) Conjunto vazio x2 + y2 + 1 = 0. (Na˜o existe (x, y) que satisfac¸a a equac¸a˜o.) (b) Conjunto formado por um u´nico ponto: x2 + y2 − 2x+ 1 = 0. x2 + y2 − 2x+ 1 = 0⇔ (x− 1)2 + y2 = 0⇔ x− 1 = 0 e y = 0⇔ x = 1 e y = 0. Logo x2 + y2 − 2x+ 1 = 0 admite apenas a soluc¸a˜o (1, 0). (c) Uma reta: x2 + 2xy + y2 = 0. x2 + 2xy + y2 = 0⇔ (x+ y)2 = 0⇔ x+ y = 0⇔ y = −x. Logo x2 + 2xy + y2 = 0 tem como soluc¸a˜o a reta r : y = −x (isto e´, r : { x = λ y = −λ , λ ∈ R). (d) Circunfereˆncia: x2 − 2x+ y2 − 1 = 0 (isto e´, (x− 1)2 + y2 = 2). (e) Para´bola: x = y2. (f) Elipse: 1 2 x2 + 1 3 y2 = 1. Proposic¸a˜o 2.6.4. Um conjunto de pontos de um plano e´ uma coˆnica se, e somente se: ele e´ o conjunto vazio, ou o conjunto formado por um u´nico ponto, ou uma reta, ou a reunia˜o de duas retas (paralelas ou concorrentes), ou uma circunfereˆncia, ou uma elipse, ou uma hipe´rbole, ou uma para´bola. 26 Algumas informac¸o˜es podem ser obtidas sobre a coˆnica dada pela equac¸a˜o (2.11) se olharmos para os coeficientes C, D e F : • Se C 6= 0, a coˆnica representada por (2.11) foi transladada paralelamente ao eixo Ox. • Se D 6= 0, a coˆnica representada por (2.11) foi transladada paralelamente ao eixo Oy. • Se F 6= 0, a coˆnica representada por (2.11) foi rotacionada, ou seja, a presenc¸a do termo misto Fxy nos indica a ocorreˆncia de uma rotac¸a˜o de eixos. Por hora, consideraremos apenas coˆnicas na˜o rotacionadas, ou seja, equac¸o˜es do tipo (2.11) em que F = 0. Neste caso, para identificarmos a coˆnica dada por (2.11), utilizaremos o me´todo do completamento de quadrados. O me´todo do completamento de quadrados consiste em reescrever uma expressa˜o da forma x2 +Cx em uma forma equivalente contendo o termo quadra´tico ( x+ C2 )2 . Para isso, devemos observar dois fatos: 1. A segunda parcela do termo ( x+ C2 )2 e´ a metade do coeficiente de x na expressa˜o x2 + Cx; 2. Na expansa˜o ( x+C2 )2 = x2 + Cx + C 2 4 surge o termo C2 4 , que na˜o ocorre em x 2 + Cx. Entretanto, podemos verificar que ( x+ C 2 )2 − C 2 4 = x2 + Cx. O exemplo a seguir ilustra o procedimento. Exemplo 2.6.5. (a) x2 + 6x = ( x+ 6 2 )2 − 6 2 4 = (x+ 3)2 − 9 (b) x2 − 8x = ( x+ (−8) 2 )2 − (−8) 2 4 = (x− 4)2 − 16 Exemplo 2.6.6. Esboce as coˆnicas dadas pelas seguintes equac¸o˜es. (a) 25x2 + 9y2 + 200x− 90y + 400 = 0 (b) 4x2 − 9y2 − 16x− 20 = 0 (c) y2 − 2y − 4x− 7 = 0 (d) x2 − y2 − 2x+ 2y = 0 27 Cap´ıtulo 3 Qua´dricas De agora em diante, utilizaremos apenas sistemas ortogonais de coordenadas do espac¸o. Definic¸a˜o 3.0.7. Chama-se qua´drica qualquer subconjunto de pontos X = (x, y, z) do espac¸o que possa ser descrito, em relac¸a˜o a um sistema ortogonal de coordenadas, por uma equac¸a˜o de 20 grau Ax2 +By2 + Cz2 +Dxy + Exz + Fyz +Gx+Hy + Iz + J = 0. (3.1) Observac¸a˜o 3.0.8. Como a equac¸a˜o (3.1) e´ de 20 grau, devemos ter pelo menos um dos nu´merosA,B,C,D,E, F diferente de zero. Toda qua´drica e´ um dos tipos abaixo: 1. Elipso´ide. 2. Superf´ıcie esfe´rica. 3. Hiperbolo´ide de uma folha. 4. Hiperbolo´ide de duas folhas. 5. Parabolo´ide (el´ıptico ou de rotac¸a˜o). 6. Parabolo´ide hiperbo´lico. 7. Qua´drica cil´ındrica (el´ıptica, de rotac¸a˜o, hiperbo´lica ou parabo´lica). 8. Qua´drica coˆnica (el´ıptica ou de rotac¸a˜o). 9. Conjunto vazio. 10. Conjunto formado por um so´ ponto. 11. Reta. 12. Plano. 13. Reunia˜o de dois planos paralelos. 14. Reunia˜o de dois planos transversais. 28 3.1 Elipso´ide Definic¸a˜o 3.1.1. Uma qua´drica Ω e´ um elipso´ide se existem nu´meros reais positivos a, b, c, pelo menos dois deles distintos, e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o x2 a2 + y2 b2 + z2 c2 = 1 (3.2) chamada equac¸a˜o reduzida de Ω. Indica-se Ω : x2 a2 + y2 b2 + z2 c2 = 1. Vamos agora examinar as intersec¸o˜es do elipso´ide com planos paralelos aos planos coordenados. Isso nos permitira´ fazer um esboc¸o do elipso´ide Ω. Consideremos primeiramente um plano pi paralelo ao plano Oxy, isto e´, pi : z = k. Enta˜o X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 a2 + y 2 b2 + z 2 c2 = 1 z = k ⇔ { x2 a2 + y 2 b2 = 1− k2 c2 z = k . Temos enta˜o treˆs possibilidades: • k2 > c2: Neste caso, |k| > c (isto e´, k < −c ou k > c) e 1 − k2 c2 < 0. Portanto o sistema na˜o admite soluc¸a˜o. • k2 = c2: Neste caso, k = ±c e 1− k2 c2 = 0. Da´ı, z = ±c e x = y = 0. Assim, - Se k = c, Ω ∩ pi = {(0, 0, c)}; - Se k = −c, Ω ∩ pi = {(0, 0,−c)}. • k2 < c2: Neste caso, |k| < c (isto e´, −c < k < c) e 1 − k2 c2 > 0. Escrevendo p = 1 − k2 c2 e dividindo a primeira equac¸a˜o do sistema por p, obtemos X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 pa2 + y 2 pb2 = 1 z = k Assim, - Se a = b, Ω ∩ pi e´ a circunfereˆncia contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e raio a√p; - Se a > b, Ω ∩ pi e´ a elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Ox; - Se a < b, Ω ∩ pi e´ a elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Oy. Se tomarmos planos paralelos ao plano Oxz (pi : y = k) ou planos paralelos ao plano Oyz (pi : x = k) chegaremos a concluso˜es semelhantes. Podemos assim esboc¸ar o elipso´ide x 2 a2 + y 2 b2 + z 2 c2 = 1. Se a = b 6= c ou a = c 6= b ou b = c 6= a o elipso´ide x2 a2 + y 2 b2 + z 2 c2 = 1 e´ chamado elipso´ide de rotac¸a˜o (ou de revoluc¸a˜o). 29 Exemplo 3.1.2. Esboce o elipso´ide x 2 4 + y2 9 + z2 25 = 1. 3.2 Superf´ıcie esfe´rica Definic¸a˜o 3.2.1. Dado um ponto C e um nu´mero real positivo r, a superf´ıcie esfe´rica S de centro C e raio r e´ o conjunto dos pontos X do espac¸o tais que d(X,C) = r. Se considerarmos um sistema ortogonal de coordenadas com origem no ponto C, enta˜o X = (x, y, z) ∈ S ⇔ d(X,C) = r ⇔ √ (x− 0)2 + (y − 0)2 + (z − 0)2 = r ⇔ x2 + y2 + z2 = r2, que e´ a equac¸a˜o reduzida da superf´ıcie esfe´rica de centro na origem e raio r. Notac¸a˜o S : x2 + y2 + z2 = r2. Exemplo 3.2.2. Determine a intersec¸a˜o da superf´ıcie esfe´rica S : x2 + y2 + z2 = 1 com o plano pi : y = 1. 3.3 Hiperbolo´ide de uma folha Definic¸a˜o 3.3.1. Uma qua´drica Ω e´ um hiperbolo´ide de uma folha se existem nu´meros reais positivos a, b e c e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o x2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 (3.3) chamada equac¸a˜o reduzida de Ω (ao longo do eixo Oz). Indica-se Ω : x2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1. Vamos agora examinar as intersec¸o˜es do hiperbolo´ide de uma folha com planos paralelos aos planos coordenados. Seja pi um plano paralelo ao plano Oxy, pi : z = k. X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 a2 + y 2 b2 = 1 + k 2 c2 z = k . Dividindo a primeira equac¸a˜o do sistema por p = 1 + k 2 c2 , obtemos X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 pa2 + y 2 pb2 = 1 z = k . Assim, • Se a = b, Ω ∩ pi e´ a circunfereˆncia contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e raio a√p; • Se a > b, Ω ∩ pi e´ a elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Ox; • Se a < b, Ω ∩ pi e´ a elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Oy. Seja agora pi um plano paralelo ao plano Oxz, pi : y = k. X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 a2 − z2 c2 = 1− k2 b2 y = k . Temos enta˜o treˆs possibilidades: 30 • k2 = b2: Neste caso, k = ±b e a primeira equac¸a˜o do sistema fica (xa − zc )(xa + zc ) = 0. Logo Ω ∩ pi e´ a reunia˜o de duas retas concorrentes r : { x = ac z y = k e s : { x = −ac z y = k ou seja, r : x = acλ y = k z = λ e s : x = −ac λ y = k z = λ . • k2 6= b2: Neste caso, podemos dividir a primeira equac¸a˜o do sistema por p = 1− k2 b2 e, assim, obtemos que X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 pa2 − z2 pc2 = 1 y = k . Logo, - Se k2 > b2, isto e´, k < −b ou k > b, enta˜o p < 0. Da´ı, Ω ∩ pi e´ a hipe´rbole contida em pi : y = k, de centro (0, k, 0) e eixo transverso paralelo a Oz; - Se k2 < b2, isto e´, −b < k < b, enta˜o p > 0. Da´ı, Ω ∩ pi e´ a hipe´rbole contida em pi : y = k, de centro (0, k, 0) e eixo transverso paralelo a Ox. Se tomarmos planos paralelos ao plano Oyz (pi : x = k) chegaremos a concluso˜es semelhantes a`s que obtivemos tomando planos paralelos ao plano Oxz. Observe ainda que a intersec¸a˜o de Ω com o eixo Oz e´ vazia. Podemos assim esboc¸ar o hiperbolo´ide de uma folha x 2 a2 + y 2 b2 − z2 c2 = 1. Se a = b o hiperbolo´ide de uma folha x 2 a2 + y 2 b2 − z2 c2 = 1 e´ chamado hiperbolo´ide de uma folha de rotac¸a˜o (ou de revoluc¸a˜o). Fazendo algumas mudanc¸as no sistema de coordenadas, obtemos outras duas formas de equac¸a˜o do hiperbolo´ide de uma folha: x2 a2 − y 2 b2 + z2 c2 = 1 e − x 2 a2 + y2 b2 + z2 c2 = 1 (ao longo dos eixos Oy e Ox, respectivamente). Exemplo 3.3.2. Considere o hiperbolo´ide de uma folha H : x2 − y24 + z 2 4 = 1. (a) Determine a intersec¸a˜o de H com o plano pi : x = 0 (ou seja, com o plano Oyz). (b) Esboce H. 31 3.4 Hiperbolo´ide de duas folhas Definic¸a˜o 3.4.1. Uma qua´drica Ω e´ um hiperbolo´ide de duas folhas se existem nu´meros reais positivos a, b e c e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o −x 2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1 (3.4) chamada equac¸a˜o reduzida de Ω (ao longo do eixo Oy). Indica-se Ω : −x 2 a2 + y2 b2 − z 2 c2 = 1. De modo ana´logo ao que fizemosantes, e´ poss´ıvel verificar que as intersec¸o˜es de Ω com planos paralelos a Oxy ou a Oyz resultam em hipe´rboles; e que a intersec¸a˜o de Ω com planos paralelos a Oxz resultam em elipses, circunfereˆncias, um ponto, ou no conjunto vazio. (Verifique!) Destacamos que Ω ∩Ox = ∅, Ω ∩Oz = ∅ e Ω ∩Oy = {(0,−b, 0), (0, b, 0)}. Se a = c o hiperbolo´ide de duas folhas −x2 a2 + y 2 b2 − z2 c2 = 1 e´ chamado hiperbolo´ide de duas folhas de rotac¸a˜o (ou de revoluc¸a˜o). Fazendo algumas mudanc¸as no sistema de coordenadas, obtemos outras duas formas de equac¸a˜o do hiperbolo´ide de duas folhas: x2 a2 − y 2 b2 − z 2 c2 = 1 e − x 2 a2 − y 2 b2 + z2 c2 = 1 (ao longo dos eixos Ox e Oz, respectivamente). Exemplo 3.4.2. Considere o hiperbolo´ide de duas folhas H : −x2 − y2 + z2 = 1. (a) Determine a intersec¸a˜o de H com o plano pi : z = √ 10. (b) Esboce H. 3.5 Parabolo´ides el´ıptico e de revoluc¸a˜o Definic¸a˜o 3.5.1. Se existem nu´meros reais positivos a e b e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual uma qua´drica Ω seja descrita pela equac¸a˜o z = x2 a2 + y2 b2 (3.5) enta˜o: 32 (a) Se a 6= b, Ω e´ um parabolo´ide el´ıptico; (b) Se a = b, Ω e´ um parabolo´ide de rotac¸a˜o (ou de revoluc¸a˜o). Em qualquer um dos casos, (3.5) e´ chamada equac¸a˜o reduzida do parabolo´ide. Indica-se Ω : z = x2 a2 + y2 b2 . Seja pi : x = k um plano paralelo ao plano Oyz. Enta˜o X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { z = x 2 a2 + y 2 b2 x = k ⇔ { z − k2 a2 = y 2 b2 x = k ⇔ z − k2 a2 = 1 4 ( b2 4 )y2 x = k . Logo Ω ∩ pi e´ uma para´bola no plano pi : x = k, com ve´rtice em (k, 0, k2 a2 ) e eixo paralelo a Oz. Se tomarmos planos paralelos a Oxz, chegaremos a uma conclusa˜o semelhante. Se pi : z = k e´ um plano paralelo a Oxy, enta˜o X = (x, y, z) ∈ Ω ∩ pi ⇔ { x2 a2 + y 2 b2 = k z = k . Assim: • Se k = 0, Ω ∩ pi = {(0, 0, 0)}. • Se k < 0, Ω ∩ pi = ∅. • Se k > 0, temos: - Se a < b, Ω ∩ pi e´ uma elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Oy; - Se a > b, Ω ∩ pi e´ uma elipse contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e eixo maior paralelo a Ox; - Se a = b, Ω ∩ pi e´ a circunfereˆncia contida em pi : z = k, de centro (0, 0, k) e raio a√k. Podemos assim esboc¸ar o parabolo´ide el´ıptico ou de rotac¸a˜o Ω : z = x 2 a2 + y 2 b2 . Fazendo algumas mudanc¸as no sistema de coordenadas, obtemos outras formas de equac¸a˜o do parabolo´ide el´ıptico ou do de rotac¸a˜o: z = −x 2 a2 − y 2 b2 x = y2 a2 + z2 b2 y = x2 a2 + z2 b2 x = −y 2 a2 − z 2 b2 y = −x 2 a2 − z 2 b2 Exemplo 3.5.2. Considere o parabolo´ide el´ıptico Ω : x = y 2 1 4 + z2. (a) Determine a intersec¸a˜o de Ω com o plano pi : x = 4. (b) Esboce Ω. 33 3.6 Parabolo´ides hiperbo´lico Definic¸a˜o 3.6.1. Uma qua´drica Ω e´ um parabolo´ide hiperbo´lico se existem nu´meros reais positivos a e b e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o z = −x 2 a2 + y2 b2 , (3.6) chamada equac¸a˜o reduzida de Ω. Indica-se Ω : z = −x 2 a2 + y2 b2 . De modo ana´logo ao que fizemos para as demais qua´dricas, e´ poss´ıvel verificar que a intersec¸a˜o de Ω com o plano Oxy trata-se de duas retas concorrentes na origem; com os demais planos paralelos a Oxy, pi : z = k, resulta em uma hipe´rbole (com eixo transverso paralelo a Oy, se k > 0, e paralelo a Ox, se k < 0). Ja´ as intersec¸o˜es com planos paralelos a Oxz ou a Oyz resultam em para´bolas com concavidade para baixo e para cima, respectivamente. (Verifique!) Podemos enta˜o esboc¸ar o parabolo´ide hiperbo´lico Ω : z = −x2 a2 + y 2 b2 . Pelo seu aspecto, o parabolo´ide hiperbo´lico tambe´m e´ chamado de sela. Fazendo algumas mudanc¸as no sistema de coordenadas, obtemos outras formas de equac¸a˜o do parabolo´ide hiperbo´lico: z = x2 a2 − y 2 b2 x = y2 a2 − z 2 b2 y = x2 a2 − z 2 b2 x = −y 2 a2 + z2 b2 y = −x 2 a2 + z2 b2 Exemplo 3.6.2. Considere o parabolo´ide hiperbo´lico Ω : z = −x2 + y2. (a) Determine sua intersec¸a˜o com os planos pi1 : y = 2, pi2 : y = −2 e pi3 : x = 0. (b) Esboce Ω. 3.7 Qua´drica coˆnica Definic¸a˜o 3.7.1. Uma qua´drica Ω e´ uma qua´drica coˆnica se existem nu´meros reais positivos a e b e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o z2 = x2 a2 + y2 b2 , (3.7) chamada equac¸a˜o reduzida de Ω (ao longo do eixo Oz). Se a = b, Ω e´ uma qua´drica coˆnica de rotac¸a˜o e se a 6= b, uma qua´drica coˆnica el´ıptica. Indica-se Ω : z2 = x2 a2 + y2 b2 . 34 Fazendo intersec¸o˜es de Ω com planos paralelos a Oxy, pi : z = k, e´ fa´cil ver que obtemos elipses, se a 6= b, ou circunfereˆncias, se a = b, exceto no caso em que pi e´ o pro´prio Oxy; neste caso, a intersec¸a˜o resulta no ponto (0, 0, 0), isto e´, a origem. Ja´ as intersec¸o˜es com planos paralelos a Oxz ou a Oyz reultam em hipe´rboloes, exceto no caso em que os planos sa˜o os pro´prios Oxz e Oyz; em cada um desses casos, a intersec¸a˜o resulta em duas retas concorrentes na origem. Podemos enta˜o esboc¸ar a qua´drica Ω : z2 = x 2 a2 + y 2 b2 . Fazendo algumas mudanc¸as no sistema de coordenadas, obtemos outras formas de equac¸a˜o da qua´drica coˆnica: y2 = x2 a2 + z2 b2 e x2 = y2 a2 + z2 b2 (ao longo dos eixos Oy e Ox, respectivamente.) Exemplo 3.7.2. Determine a intersec¸a˜o da qua´drica coˆnica Ω : y2 = x 2 1 9 + z 2 4 9 com o plano Oyz. Esboce Ω. 3.8 Qua´drica cil´ındrica Definic¸a˜o 3.8.1. Uma qua´drica Ω e´ uma qua´drica cil´ındrica el´ıptica, ou qua´drica cil´ındrica hiperbo´lica ou qua´drica cil´ındrica parabo´lica se existem nu´meros reais positivos a, b e c e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita, respectivamente, pela equac¸a˜o x2 a2 + y2 b2 = 1 (a 6= b), x 2 a2 − y 2 b2 = 1, y2 = cx. (3.8) Ω e´ chamada qua´drica cil´ındrica de rotac¸a˜o se existir um nu´mero real positivo a e um sistema ortogonal de coordenadas em relac¸a˜o ao qual Ω pode ser descrita pela equac¸a˜o x2 + y2 = a2. (3.9) Cada uma dessas equac¸o˜es e´ chamada equac¸a˜o reduzida da qua´drica cil´ındrica correspondente. Para esboc¸ar as qua´drica c´ıl´ındricas, utilizaremos a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 3.8.2. Se Ω e´ um conjunto na˜o vazio de pontos do espac¸o descrito por uma equac¸a˜o da forma g(x, y) = 0 (da qual esta´ ausente a varia´vel z) e Γ e´ o conjunto dos pontos do plano Oxy que satisfazem a mesma equac¸a˜o, enta˜o Ω e´ a unia˜o das retas paralelas a Oz que interceptam Oxy nos pontos de Γ. Cada uma dessas retas e´ chamada geratriz de Γ. Resultado ana´logo vale para equac¸o˜es da forma g(x, z) = 0 ou g(y, z) = 0. Segue da proposic¸a˜o acima que, para fazer um esboc¸o das qua´dricas cil´ındricas, basta desenhar no plano Oxy a curva que, em relac¸a˜o ao sistema de coordenadas (O, ( −→ i , −→ j )) do plano Oxy, e´ descrita pela mesma equac¸a˜o e trac¸ar retas paralelas a Oz por pontos da curva. 35 Exemplo 3.8.3. Esboce a qua´drica cil´ındrica parabo´lica Ω : x2 = 2y. 3.9 Translac¸a˜o de eixos Ate´ o momento, trabalhamos com qua´dricas de centro ou ve´rtice na origem do sistema ortogonal de coordenadas (O,B), B = (−→i ,−→j ,−→k ). Consideremos, agora, um novo sistema ortogonal de coordenadas (O′,B), mantendo a base, ou seja, mantendo as direc¸o˜es dos eixos coordenados. Suponhamos que O′ = (x0, y0, z0) com relac¸a˜o ao sistema de coordenadas (O,B). Se P e´ um ponto qualquer, (x, y, z) sa˜o suas coordenadas no sistema (O,B)e (u, v, w) sa˜o suas coordenadas no sistema (O′,B), enta˜o temos u = x− x0 v = y − y0 w = z − z0, 36 chamadas equac¸o˜es de translac¸a˜o de eixos. Usando as equac¸o˜es de translac¸a˜o de eixos, podemos escrever as equac¸o˜es das qua´dricas transladadas em relac¸a˜o ao sistema ortogonal de coordenadas (O,B). Temos, assim: • Elipso´ide de centro O′: (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 + (z − z0)2 c2 = 1 • Superf´ıcie esfe´rica de centro O′ e raio r: (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 = r2 • Hiperbolo´ide de uma folha de centro O′: (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 − (z − z0) 2 c2 = 1 • Hiperbolo´ide de duas folhas de centro O′: −(x− x0) 2 a2 + (y − y0)2 b2 − (z − z0) 2 c2 = 1 • Parabolo´ide el´ıptico ou de rotac¸a˜o de ve´rtice O′: z − z0 = (x− x0) 2 a2 + (y − y0)2 b2 • Parabolo´ide hiperbo´lico de centro O′: z − z0 = −(x− x0) 2 a2 + (y − y0)2 b2 • Qua´drica coˆnica de ve´rtice O′: (z − z0)2 = −(x− x0) 2 a2 + (y − y0)2 b2 • Qua´drica cil´ındrica el´ıptica de centro O′: (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1 (a 6= b) 37 • Qua´drica cil´ındrica hiperbo´lica de centro O′: (x− x0)2 a2 − (y − y0) 2 b2 = 1 • Qua´drica cil´ındrica parabo´lica de centro O′: (y − y0)2 = c(x− x0) • Qua´drica cil´ındrica de rotac¸a˜o de centro O′: (x− x0)2 + (y − y0)2 = a2 Exemplo 3.9.1. Identifique e esboce a qua´drica dada pela equac¸a˜o x2 + y2 + z2 + 6x− 4y − 12 = 0. 38
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