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Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva

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Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva
 
DIREITO
PROCESSUAL
CIVIL
 
PROCESSO
COLETIVO
 
 
 
 
LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVA
ADVOGADO. MESTRE EM DIREITO PELA PUC/GO.
PROFESSOR DE PROCESSO CIVIL NA PUC/GO, ESCOLA DA MAGISTRATURA DE GOIÁS E CURSOS
PREPARATÓRIOS PARA CONCURSOS PÚBLICOS
 
Atualizada até abril de 2012.
 
 
ROTEIRO 01
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
 
01. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
 
- As fases metodológicas do processo: (i) imanentista ou sincretista; (ii)
autonomista; (iii) instrumentalista: processo coletivo como vertente do
instrumentalismo substancial.
- A ação popular romana como antecedente histórico das ações coletivas.
- A “summa divisio” romana: divisão do direito em público e privado, de acordo
com os possíveis titulares de direitos, ou seja, o indivíduo ou o Estado.
- Necessidade de superação conceitual, ante a tomada de consciência de uma
classe de direitos que transcendem tanto a esfera do indivíduo, por um lado,
quanto a esfera do Estado, por outro. Exemplo: a consciência ecológica e o
despertar valores ambientais, os direitos do consumidor.
- A experiência norte-americana das class action: importância do estudo de
mecanismos que inspiraram o legislador brasileiro, a saber: (i) o right to opt out;
(ii) o sistema de fair notice ; (iii) a adequacy of representantion; (iv) o binding
efect decorrente da coisa julgada.
- A evolução do processo coletivo no Brasil: (i) a ação popular prevista no artigo
113, inciso XXXVIII da Constituição de 1934; (ii) A lei 4.717/65; (iii) a década de
70 e a “revolução dos professores”, inspirada no movimento de ACESSO À JUSTIÇA,
comandado por CAPPELLETTI e BRYANT GARTH.
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02. FUNDAMENTOS OU OBJETIVOS DAS AÇÕES COLETIVAS:
 
- Acesso à Justiça.
- Economia Processual.
- Segurança Jurícia.
- Isonomia.
- Celeridade.
- Prevenção de decisões conflitantes.
 
03. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO:
 
- Para Didier e Zanetti Jr., “ conceitua-se processo coletivo como aquele instaurado
por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um direito coletivo
lato sensu ou se postula um direito em face de um titular de um direito coletivo lato
sensu, com o fito de obter uma providência jurisdicional que atingirá uma
coletividade ou um número determinado de pessoas”.
 
3.1. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO COLETIVO
 
- A especial legitimação para agir.
- A afirmação em juízo de um direito coletivo lato sensu.
- A extensão subjetiva da coisa julgada.
 
04. PROCESSO COLETIVO E MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA
 
- O sistema de tutela coletiva é formado por diversas leis que se comunicam entre
si, em verdadeiro diálogo de fontes, e que formam um verdadeiro microssistema do
processo coletivo.
- Principais Leis: Lei de Ação Popular (Lei n◦ 4.717/65); Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei n ◦ 6.938/81); Lei de Ação Civil Pública (Lei n ◦ 7.347/85);
CF/88; Código de Defesa do Consumidor (Lei n ◦ 9.078/90); Lei do Mandado de
Segurança (Coletivo) (Lei n◦ 12.016/09) e outros.
 
ROTEIRO 02
OS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
 
01. INTRODUÇÃO
 
- Direitos coletivos “lato sensu”: difusos, coletivos e individuais homogêneos.
 
02. A CONCEITUAÇÃO LEGAL
 
- CDC, Artigo 81, parágrafo único.
- Interesses ou direitos difusos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
- Interesses ou direitos coletivos: os transindividuais, de natureza indivisível, de
que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas, ligadas ente si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica base.
- Interesses ou direitos individuais homogêneos: assim entendidos os decorrentes
de origem comum.
- IMPORTANTE: apesar de conceituados no CDC, não se aplicam apenas às relações
de consumo.
 
2.1. DIREITOS OU INTERESSES?
 
- A doutrina amplamente majoritária afirma que o CDC não fez distinção entre as
duas expressões. KAZUO WATANABE (Comentários ao CDC) afirma serem
expressões sinônimas, na medida em que o interesse, quando amparado pelo
ordenamento, adquire o status de direito. ELPÍDIO DONIZETI e MARCELO
CERQUEIRA (Curso de Processo Coletivo) afirmam se tratar de distinção incabível,
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pois que os direitos coletivos são titularizados por coletividades, dispensando que
se recorra ao conceito da doutrina italiana de interesse para permitir a sua tutela
jurisdicional.
 
03. OS DIREITOS DIFUSOS:
 
- Características principais:
a) Titularidade: coletividade composta por indivíduos indeterminados e
indetermináveis;
b) Divisibilidade: ausente, pois que o direito difuso é essencialmente indivisível;
c) Origem: mesma situação de fato.
 
- Exemplos típicos: meio ambiente, direitos do consumidor, patrimônio histórico,
moralidade administrativa.
 
04. OS DIREITOS COLETIVOS STRICTO SENSU
 
- Características principais:
a) Titularidade: coletividade composta de indivíduos indeterminados mas
determináveis;
 
b) Divisibilidade: ausente, pois também são essencialmente coletivos;
c) Origem: prévia relação jurídica base, mantida entre si ou com a parte contrária.
 
- Exemplos típicos: OAB ou sindicato, na defesa dos interesses de seus associados;
contribuintes de um determinado imposto.
 
05. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
 
- Características principais:
a) Titularidade: grupo de indivíduos determinável;
b)Divisibilidade: presente, pois se trata de direito essencialmente individual;
c) Origem: situações de fato ou de direito equivalentes.
 
- Exemplos clássicos: adquirentes de modelo de veículo com defeito; consumidores
de um produto nocivo à saúde que buscam indenização.
 
- IMPORTANTE: trata-se de direitos tipicamente individuais, que por poderem
ensejar conflitos de massa (mass torts), receberam do legislador a tratativa na
forma coletiva.
- OBS 1: inspiração nas class action for damages do direito norte-americano. CASO
CLÁSSICO: agent Orange case, no qual veteranos da guerra do Vietnã, por
intermédio de um representante adequado, moveram uma ação coletiva (class
action for damages) e processaram várias indústrias químicas americanas que
manipularam esse agente químico.
- Sobreleva, nesses casos, a questão do acesso à justiça e paridade de armas.
 
06. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
 
- Ao contrário do que afirma parcela da doutrina, a titularidade não é
indeterminada, mas determinada: a coletividade, que se faz presente em juízo por
intermédio de um representante adequado.
 
07. QUADRO COMPARATIVO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU
 
ESPÉCIE TITULARIDADE DIVISIBILIDADE ORIGEM CLASSIFICAÇÃO
DIFUSO Coletividade de
indivíduos
indeterminados e
indetermináveis
Indivisível Fato lesivo Essencialmente
coletivo
COLETIVO Coletividade de
indivíduos
indeterminados
Indivisível Relação jurídica
base anterior
entre si ou com
Essencialmente
coletivo
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mas determináveis a parte
contrária
INDIVIDUAL
HOMOGÊNEO
Coletividade de
indivíduos em
situação jurídica
homogênea
Divisível Fato lesivo Acidentalmente
coletivo
 
 
08. METODOLOGIA PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO
SENSU (PROPOSTOS POR ELPÍDIO DONIZETE E MARCELO CERQUEIRA)
 
Primeira pergunta: a tutela jurisdicional é postulada em benefício de quem? De um
indivíduo ou de uma massa de indivíduos?
 
Segunda pergunta: em se dirigindo a um conjunto de indivíduos, há divisibilidade
do direito coletivopleiteado? Ou seja, poderia o direito ser postulado por cada
indivíduo integrante do todo em ação própria?
 
Terceira pergunta: Qual a origem do direito coletivo postulado? Havia prévia relação
jurídica entre os membros da coletividade ou entre eles e a parte contrária?
 
CASO HIPOTÉTICO INTERESSANTE:
(proposto por DONIZETTI e CERQUEIRA)
- Fabricante de iogurte que, buscando aumentar suas vendas, divulga, mediante
propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas
científicas demonstram, porém, que na verdade o consumo daquele iogurte
aumentos os níveis de colesterol ruim.
- 3 ações judiciais são propostas em decorrência desse fato:
 
Ação X: busca a parte autora indenização pelos danos materiais e morais sofridos,
decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis
de colesterol.
 
Ação Y: entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais
sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto.
 
Ação Z: entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do
consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do
mercado.
 
IDENTIFIQUE O DIREITO EM CADA CASO.
 
- CONCLUSÃO: o direito coletivo deve ser identificado no caso concreto, de acordo
com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar
pretensões difusas, coletivas e individuais homogêneas.
 
ROTEIRO 03
PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO
 
01. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA JURISDICIONAL
 
- Classificação de acordo com a pretensão submetida à apreciação jurisdicional:
tutela cognitiva, executiva ou cautelar.
- Noção de crise jurídica.
- Tipos de tutela cognitiva: declaratória, constitutiva/desconstitutiva e
condenatória.
 
02. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO COLETIVO
 
2.1. Aplicação Residual do CPC:
- O CPC, por seu caráter eminentemente individualista, terá aplicação meramente
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residual aos processos coletivos e desde que obedecidas as seguintes regras: (i) no
microssistema de tutela coletiva haja omissão; (ii) a regra processual do CPC seja
compatível com o processo coletivo, na medida em que não pode comprometer a
eficácia da proteção aos direitos coletivos lato sensu.
 
2.2. Representatividade Adequada
- Os substitutos processuais da coletividade atuam em nome desta e, por isso,
devem ser representantes adequados. Os sistemas conhecidos são o de controle
judicial (ope iudices) da representação adequada, como ocorre nos Estados Unidos,
e o sistema de controle da representatividade adequada pela lei (ope legis), como
ocorre no Brasil, eis que entre nós é a lei quem indica os representantes, prévia e
abstratamente.
 
DONIZETTI e CERQUERIA criticam a
terminologia representante por se
confundir com o instituto da
representação no processo
individual. Pensamos que a crítica
não faz sentido, bastando lembrar
que a expressão representante
adequado é já tradicional na doutrina
do processo coletivo e usada em um
contexto que não permite confusão
com a representação do processo
individual.
 
DIDIER e ZANETI JR., ao comentarem o princípio da representação adequada
pontuam que cresce a necessidade de que seja feito, pelo juiz e no caso concreto, o
controle da representação adequada, com vistas à segurança jurídica e garantia de
efetiva proteção ao direito coletivo postulado em juízo.
 
Se essa opinião prevalecer – e já há
muitos juízes que fazem esse
controle – o Brasil passaria a ter, na
prática, um critério misto ou híbrido:
a lei, prévia e abstratamente, aponta
os legitimados extraordinários; o
juiz, no caso concreto, analisa se
aquele legitimado extraordinário é,
naquele específico caso, um
representante adequado.
 
2.3. Não-taxatividade ou Atipicidade da Tutela Coletiva:
 
- Decorrência direta de que de nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser
excluída da análise do Poder Judiciário, a doutrina ensina que a ausência de
procedimento próprio para a tutela de determinado direito coletivo não pode ser
óbice à propositura da ação coletiva. DONIZETTI e CERQUEIRA chegam a afirmar
que “nada impede, portanto, a propositura de uma ação coletiva inominada”. Essa
idéia é anunciada no artigo 83 do CDC.
 
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Art. 83. Para a defesa dos direitos e
interesses protegidos por este
Código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de
propiciar sua efetiva e adequada
tutela.
 
2.4. Princípio da Ampla Divulgação da Demanda Coletiva e Princípio da Informação
aos Órgãos Competentes:
 
- O princípio da ampla divulgação decorre, diretamente, do artigo 94 do CDC.
 
Art. 94. Proposta a ação, será
publicado edital no órgão oficial, a
fim de que os interessados possam
intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos
órgãos de defesa do consumidor.
 
A doutrina ressalta que o princípio da ampla divulgação da demanda coletiva visa
possibilitar: (i) que os autores individuais possam requerer a suspensão de seus
processos; (ii) a propositura de uma única demanda coletiva, evitando casos de
litispendência e coisa julgada; (iii) a intervenção de amicus curiae; (iv) a execução
individual da sentença coletiva; (v) o controle da atuação adequada do legitimado
extraordinário.
DIDIER e ZANETTI JR. pontuam que se trata de princípio de encontra raízes na fair
notice do direito norte-americano.
 
- A seu turno, o princípio da informação aos órgãos competentes decorre dos arts.
6◦ e 7◦ da Lei de Ação Civil Pública:
 
Art. 6◦. Qualquer pessoa poderá e o
servidor público deverá provocar a
iniciativa do Ministério Público,
ministrando-lhe informações sobre
fatos que constituam objeto da ação
civil e indicando-lhe os elementos de
convicção.
 
Art. 7 ◦ . Se, no exercício de suas
funções, os juízes e tribunais tiverem
tiverem conhecimento de fatos que
possam ensejar a propositura da
ação civil, remeterão peças ao
Ministério Público para as
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providências cabíveis.
 
2.5. Princípio da Indisponibilidade Temperada e da Continuidade da Demanda
Coletiva:
 
- O princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva liga-se, sobretudo, ao
Ministério Público, por ter o dever institucional de atuar na defesa dos direitos
coletivos em sentido lato. Assim, ao contrário do processo individual, em que a
propositura ou não da ação encontra-se no âmbito da faculdade do indivíduo, no
processo coletivo, constatada a lesão a um direito coletivo lato sensu, a propositura
da ação coletiva é uma imposição. Todavia, essa obrigatoriedade de propositura da
ação coletiva deve ser considerada temperada, justamente porque o MP deverá
fazer um exame de oportunidade e conveniência quanto ao seu manejo.
Um bom exemplo do princípio da indisponibilidade da ação coletiva encontra-se
tratado no artigo 9◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85):
 
Art. 9 ◦ . Se o órgão do Ministério
Público, esgotadas todas as
diligências, se convencer da
inexistência de fundamento para a
propositura da ação civil, promoverá
o arquivamento dos autos do
inquérito civil ou das peças
informativas, fazendo-o
fundamentadamente.
§1 ◦ . Os autos do inquérito civil ou
das peças de informação arquivadas
serão remetidos, sob pena de se
incorrer em falta grave, no prazo de
3 (três) dias, ao Conselho Superior
do Ministério Público.
§2◦. Até que, em sessão do Conselho
Superior do Ministério Público, seja
homologada ou rejeitada a promoção
dearquivamento, poderão as
associações legitimadas apresentar
razões escritas ou documentos, que
serão juntados aos autos do
inquérito ou anexados às peças de
informação.
§3 ◦ . A promoção de arquivamento
será submetida a exame e
deliberação do Conselho Superior do
Ministério Público, conforme dispuser
o seu regimento.
§4 ◦ . Deixando o Conselho Superior
de homologar a promoção de
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arquivamento, designará, desde
logo, outro órgão do Ministério
Público para o ajuizamento da ação.
 
Ainda sobre o princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva, merece
destaque a opinião de DONIZETTI e CERQUEIRA no sentido de aplicá-lo não só ao
Ministério Público, mas também às defensorias públicas e à advocacia pública, forte
no argumento de que estes também são essenciais à Justiça e incumbindo-lhes
igualmente velar pelos direitos coletivos em sentido lato.
 
- Por sua vez, o princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se
positivado no §3◦ do artigo 5◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85):
 
Art. 5◦. (...)
§3 ◦ . Em caso de desistência
infundada ou abandono da ação por
associação legitimada, o Ministério
Público ou outro legitimado assumirá
a titularidade ativa.
 
Sobre o dispositivo, duas observações: (i) não se trata de abandono da demanda
coletiva apenas por associação, mas por qualquer legitimado; (ii) a continuidade
também é temperada, pois não pode obrigar o Ministério Público ou outro
legitimado extraordinário a dar prosseguimento a uma demanda infundada.
 
2.6. Princípio da Obrigatoriedade da Execução da Sentença coletiva:
 
- Esse princípio decorre, primordialmente, do artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública
(lei 7.347/85), que reza:
 
 
Art. 15. Decorridos 60 (sessenta)
dias do trânsito em julgado da
sentença condenatória, sem que a
associação autora lhe promova a
execução, deverá fazê-lo o Ministério
Público, facultada igual iniciativa aos
demais legitimados.
 
No mesmo sentido, o artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor:
 
Art. 100. Decorrido o prazo de um
ano sem habilitação de interessados
em número compatível com a
gravidade do dano, poderão os
legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização
devida.
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Parágrafo único. O produto da
indenização devida reverterá para o
Fundo criado pela Lei n◦ 7.347, de 24
de julho de 1985.
 
O artigo 15 da LACP deixa claro que, se a propositura da ação coletiva comporta
algum temperamento, a execução da sentença de procedência é absolutamente
obrigatória, sem exceção. Logicamente, qualquer legitimado que não promova a
execução da sentença coletiva poderá ser substituído por outro, a fim de assegurar
a efetiva execução da sentença de procedência.
O artigo 100 do CDC, por sua vez, trata das sentenças proferidas em ações
coletivas que buscam a tutela de direitos individuais homogêneos: nesse caso, o
legitimado extraordinário busca uma sentença condenatória genérica, que será
posteriormente liquidada e executada pelos substituídos, ou seja, pelos legitimados
individuais. Ocorre que, não raro, tais legitimados individuais não comparecem para
realizar a devida liquidação/execução, quer por não terem conhecimento da ação
coletiva e da sentença condenatória (daí a importância do princípio da máxima
divulgação), quer por falta de interesse econômico. Nesses casos, decorrido um ano
sem o comparecimento significativo desses substituídos, deverá o Ministério Público
ou qualquer outro legitimado promover a execução do julgado, que agora será em
caráter coletivo e a fim de beneficiar toda a coletividade, pois que os valores
apurados devem ser depositados nos fundos estatais de proteção aos direitos
coletivos lato sensu. Trata-se do instituto que hoje é conhecido como fluid recovery
ou reparação fluida.
 
2.7. Princípio da Extensão Subjetiva da Coisa Julgada e do Transporte in utilibus
 
- Pela extensão subjetiva da coisa julgada, a decisão do processo coletivo se
estende ou erga omnes ou ultra parts, beneficiando os membros da coletividade.
Essa extensão subjetiva da coisa julgada (ou de seus efeitos, como oportunamente
se estudará) é inerente ao processo coletivo, sendo um de seus elementos
caracterizadores.
- Já o transporte in utilibus permite que uma sentença, proferida em ação coletiva
para a defesa de direitos essencialmente coletivos possa ser transportada para uma
ação individual, originada, por exemplo, daquele mesmo fato.
 
2.8. Princípio da Intervenção Obrigatória do Ministério Público:
 
- Esse princípio decorre do artigo 5◦, §1◦ da Lei de Ação Civil Pública, que reza:
 
Art. 5◦. (...)
§1 ◦ . O Ministério Público, se não
intervier no processo como parte,
atuará obrigatoriamente como fiscal
da lei.
 
A intervenção do Ministério Público em uma demanda coletiva se dá de duas
formas: na qualidade de autor e na qualidade de custos legis. Ora, quando atua na
qualidade de Autor qualquer dúvida há, pois que o MP será parte na demanda.
Surge o questionamento naqueles outros casos, em que não propôs a ação e, a
nosso ver, sempre que houver uma ação coletiva não proposta pelo MP, esse deverá
atuar como fiscal da lei, sendo intimado dos atos processuais.
 
2.9. Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito do Processo
Coletivo:
 
- De acordo com esse princípio, visto por alguns como um subprincípio da
instrumentalidade das formas, deve o juiz flexibilizar ao máximo as regras de
procedimento, a fim de assegurar o direito da sociedade em ver apreciado o mérito
da ação coletiva. Na seara, pois, da tutela dos direitos coletivos, o processo deve
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ser visto, mais do que nunca, como mero instrumento de viabilização da prestação
da tutela jurisdicional.
 
- Por fim, cita a doutrina ainda dois princípios: certificação da demanda coletiva e
competência adequada. O primeiro não nos parece aplicável ao sistema brasileiro, e
o segundo ainda carece de aprofundamento doutrinário, pelo que não serão
comentados.
 
 
ROTEIRO 04
A LEGITIMIDADE NAS AÇÕES COLETIVAS
 
 
01. NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE ATIVA NAS AÇÕES COLETIVAS
 
​Basicamente, três são as teorias que buscam explicar a natureza jurídica da
legitimidade ativa nas ações coletivas: (i) legitimidade ordinária; (ii) legitimidade
extraordinária e (iii) legitimidade autônoma para a condução do processo.
​A primeira corrente defende se tratar de legitimidade ordinária das
formações sociais para a defesa dos direitos coletivos e os entes que representam
essas formações sociais estariam em juízo a defender direito que efetivamente
titularizam. ARAKEN DE ASSIS, citado por DONIZETTI e CERQUEIRA (pag. 134),
explica que,
 
É questão em aberto, no direito
pátrio, a natureza da legitimidade do
Ministério Público, e a fortiori, das
associações civis e dos partidos
políticos, tratando-se de interesses
difusos e coletivos [...]. Parece mais
consentâneo à realidade qualificar a
legitimidade de ordinária nessas
situações.
[...] a transmigração do individual
para o coletivo, a qual alude
Dinamarco, [...] implica uma
transformação mais profunda e
intensa do que a simples
substituição, outorgando a
titularidade do direito coletivo e do
difuso a uma pessoa diferente dos
titulares da situação individual
incluída no conjunto.
Em outras palavras, o Ministério
Público, a associação ou o cidadão,
conforme o caso, legitimam-se,
ativamente, porque se mostram
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titulares do direito posto em causa,
sem embargo de existirem outros
titulares dos direitos parciais que,
coletivamente, formam o objeto
litigioso. Por essa linha de raciocínio,
a soma das partes adquire
identidade própria e nova,
substancialmente diversa das frações
de que é titular pessoa também
diferente, graças à indivisibilidade. E
tal legitimação se revela ordinária.
 
​A segunda corrente, amplamente majoritária na doutrina brasileira, defende
tratar-se de legitimidade extraordinária, visto que o autor coletivo vai a juízo em
nome próprio, defender direito de outrem, ou seja, defender o direito
metaindividual que é titularizado pela coletividade, caso em que atua como
verdadeiro substituto processual. Essa a teoria adotada por DIDIER e ZANETI JR.,
DONIZETTI e CERQUEIRA, bem como pelo autor do presente trabalho.
​A terceira corrente tem em NELSON NERY seu principal defensor. Inspirada
no direito alemão, pugna por um abandono da tradicional divisão em legitimação
ordinária e extraordinária, pois que se trataria de conceituação insuficiente para
explicar o fenômeno da legitimidade no processo coletivo. Defende, assim, que os
entes legitimados à propositura da ação coletiva seriam dotados, pela lei, de uma
legitimação autônoma para a condução do processo. Também RICARDO DE
BARROS LEONEL defende tal concepção, partindo da premissa que os esquemas de
raciocínio típico do processo individual não servem adequadamente ao processo
coletivo. Faz, porém, uma ressalva: na seara dos direitos individuais homogêneos,
que são apenas acidentalmente coletivos, a legitimação é extraordinária por
substituição processual, dado que o Autor coletivo vai a juízo em nome próprio
defender, realmente, direito alheio.
 
02. CARACTERÍSTICAS DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA ATIVA
 
​A legitimação extraordinária por substituição processual possui as seguintes
características: (i) autônoma, (ii) exclusiva, (iii) concorrente e (iv) disjuntiva.
​É autônoma, pois o legitimado extraordinário está autorizado a conduzir o
processo independentemente do titular do direito litigioso, ou seja, independente
da autorização da coletividade titular do direito metaindividual.
​É exclusiva, pois o só o legitimado extraordinário está autorizado a propor a
ação coletiva na defesa dos direitos coletivos lato sensu.
​É concorrente, pois há mais de um legitimado extraordinário à propositura
da ação coletiva e qualquer um deles, sem ordem de preferência, pode propor a
ação coletiva.
​E, finalmente, é disjuntiva, pois, apesar de concorrente, cada um dos
legitimados atua independentemente da vontade e da autorização dos demais co-
legitimados.
 
03. OS LEGITIMADOS COLETIVOS ATIVOS:
 
​O rol dos legitimados coletivos ativos encontra-se, basicamente, nos artigos
5º da Lei de Ação Civil Pública e art. 82 do CDC.
 
LACP, art. 5º. Têm legitimidade para
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propor a ação principal e a ação
cautelar:
I – o Ministério Público;
II – a Defensoria Pública;
III – a união, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios;
IV – a autarquia, empresa pública,
fundação ou sociedade de economia
mista;
V – a associação que,
concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos
1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência ou
ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
 
 
CDC, art. 82. Para os fins do art. 81,
parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
 
I – o Ministério Público;
II – a união, os Estados, os
Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da
administração pública, direta ou
indireta, ainda que sem
personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos
por este Código;
IV – as associações legalmente
constituídas há pelo menos 1 (um)
ano e que incluam entre sues fins
institucionais a defesa dos interesses
e direitos protegidos por este
Código, dispensada a autorização
assemblear.
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3.1. A LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
 
​É da Constituição Federal que se extrai, primordialmente, a legitimidade do
Ministério Público para a propositura de ações coletivas.
 
Art. 127. O Ministério Público é
instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
 
Art. 129. São funções institucionais
do Ministério Público:
(...)
III – promover o inquérito civil e a
ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;
 
3.2.1. PRINCIPAIS POLÊMICAS
 
​a) a legitimidade do Ministério Público para a proteção de direitos
individuais homogêneos:
​Esse é um dos temas mais polêmicos, atualmente, em termos de
legitimidade do Ministério Público. Com efeito, se não se discute a legitimidade do
M.P. para a defesa dos direitos essencialmente coletivos, quanto aos direitos
individuais homogêneos (acidentalmente coletivos), a controvérsia é aceso.
​Sobre o tema existem três posições doutrinárias:
(i) Teoria restritiva, que entende que o M.P. não tem legitimidade
para a defesa de direitos individuais homogêneos, ainda
que presente o requisito do interesse social.
(ii) Teoria mista: reconhece que o interesse social não se
encontra presente em toda e qualquer demanda coletiva,
mas, nos casos em que se faça presente, a legitimação do
M.P. é inafastável. Ainda de acordo com essa visão, o
interesse social se manifestaria em casos que envolvessem
danos vultosos, que atingem número elevado de pessoas,
ou em razão da dispersão dos eventuais titulares do direito
individual. Ainda, o M.P. poderia atuar na defesa dos
direitos individuais homogêneos indisponíveis. Trata-se da
corrente majoritária.
(iii) Teoria ampliativa, que considera que toda e qualquer ação
coletiva, justamente por coletiva ser, tem presente o
requisito do interesse social, que seria, portanto, in re ipsa.
 
​De fato, tem prevalecido, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência, a
teoria mista, que aceita a legitimidade do Ministério Público para a defesa de
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direitos individuais homogêneos quando (i) indisponíveis ou (ii) presente o requisito
do interesse social. Todavia, a jurisprudência dos tribunais superiores já fixou
entendimento que o M.P. não tem legitimidade para a tutela de direitos individuais
homogêneos em matéria tributária e previdenciária.
 
​b) legitimidade do Ministério Público para a impetração de Mandado
de Segurança Coletivo:
​Tanto a CF/88, quanto a lei 12.106/09, não fizeram menção ao Ministério
Público como um dos legitimados ativos à impetração do mandado de segurança
coletivo. Tal omissão, proposital ao que tudo indica, conduz a conclusão inicial de
que o M.P. não teria legitimidade para a propositura do writ sob a forma coletiva.
​Contudo, razões variadas podem colocar em cheque conclusão tal.
​Ora, tem-se ou não um microssistema de processo coletivo, no qual as leis
que o compõem comunicam-se entre si, em verdadeiro diálogo de fontes? Positiva
a resposta, a omissão da lei 12.016/09 seria preenchida pelas demais leis,
generosas que são quanto à legitimidade do Ministério Público.
​Ainda: o mandado de segurança não passa de um procedimento especial
que se notabilizanão propriamente pelo direito postulado em juízo, mas sim pela
exigência da prova pré-constituída dos fatos alegados e, claro, pela maior
concentração dos atos processuais; tanto assim o é que o mesmo direito que pode
ser tutelado pela via mandamental, também poderá sê-lo via ação de cognitiva de
procedimento ordinário. Nesses termos, no mínimo estranho que o Ministério
Público tenha legitimidade para tutelar um direito se optar por ação cognitiva
ordinária, e perca tal legitimação se escolher diferente procedimento.
​Ademais, pelo princípio da atipicidade da tutela coletiva e da máxima
eficácia na defesa dos direitos coletivos, qualquer ação é adequada à tutela desses
mesmos direitos, conforme expressamente dispõe o artigo 83 do Código de Defesa
do Consumidor.
​Assim, em que pese a omissão legal, pensamos que não se pode negar ao
Ministério Público a legitimidade para a impetração de mandado de segurança
coletivo.
 
3.2. A LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA
 
​Até o ano de 2007 a Defensoria Pública não detinha legitimidade para propor
ação coletiva, quadro que mudou com a edição da lei 11.448/2007, que inseriu a
defensoria no rol dos legitimados extraordinários do artigo 5 a Lei de Ação Civil
Pública.
​A questão que mais se debate, atualmente, sobre a atuação da defensoria
em sede coletiva é a seguinte: teria ela legitimidade ativa apenas nos caos em que
a coletividade fosse composta de pessoas hipossuficientes economicamente?
​A questão é bastante controvertida, mas a posição dominante defende que
basta a existência de algumas pessoas hipossuficientes ou necessitados para que já
se justifique a atuação da Defensoria Pública, não havendo necessidade de todos os
integrantes sejam necessitados. DIDIER e ZANETI JR. (pág. 219) bem explicam a
questão:
 
Para que a Defensoria seja
considerada como “legitimada
adequada” para conduzir o processo
coletivo, é preciso que seja
demonstrado o nexo entre a
demanda coletiva e o interesse da
coletividade composta por pessoas
“necessitadas”, conforme locução
tradicional. Assim, por exemplo, não
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poderia a Defensoria Pública
promover ação coletiva para a tutela
de direitos de um grupo de
consumidores de PlayStation III ou
de Marcedes Benz. Não é necessário,
porém, que a coletividade seja
composta exclusivamente por
pessoas necessitadas. Se fosse
assim, praticamente estaria excluída
a legitimação da Defensoria para a
tutela de direitos difusos, que
pertencem a uma coletividade de
pessoas indeterminadas.
 
3.3. A LEGITIMIDADE ATIVA DA UNIÃO, ESTADOS, D.F. e MUNICÍPIOS,
AUTARQUIA, FUNDAÇÃO, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA e
ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
 
​Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta, dotados de
personalidade jurídica, possuem legitimidade ativa para a propositura da ação
coletiva. Precisam, porém, demonstrar a pertinência temática (requisito a seguir
estudado) de sua atuação.
​Lado outro, importante por em destaque que também órgãos da
administração pública possuem legitimidade ativa, ainda que desprovidos de
personalidade jurídica própria, conforme se extrai do artigo 82, III, do CDC.
 
Art. 82. (...)
III – as entidades e órgãos da
administração direta ou indireta,
ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados
à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este Código.
 
​A disposição legal citada destina-se a propiciar que órgãos como o PROCON
possam igualmente propor ações coletivas.
 
3.4. ASSOCIAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ASSOCIATIVISMO
 
​Primeiramente, cumpre destacar, com base na autorizada lição de
DONIZETTI e CERQUERIA (pág. 147), que a LACP e o CDC previram a legitimação
ativa de associações, fazendo-o, porém, em sentido lato, de modo a abranger
qualquer outra forma de associativismo, tais como sindicatos, entidades de classe,
cooperativas e partidos políticos.
​A lei erige, porém, nesses casos, dois importantes requisitos: (i) a
constituição da associação há pelo menos 1 (um) ano, requisito que poderá ser
dispensado pelo juiz, em casos excepcionais, quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
bem jurídico protegido; (ii) inclua a associação, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, a ordem econômica, à
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livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
 
3.5. O REQUISITO DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA
 
​Como se viu, o processo coletivo brasileiro adotou um regime de
legitimidade extraordinária em que os substitutos processuais são indicados prévia
e abstratamente pela lei, daí a se dizer que se trata de uma legitimidade ope legis.
​Também já se viu que o sistema brasileiro, nesse ponto, distancia-se do
norte-americano, no qual a legitimidade do autor coletivo, lá denominada
“adequacy of representation” ou “representação adequada” é feita caso a caso.
​Ocorre que a prática das ações coletivas no Brasil tem revelado que a
jurisprudência e a doutrina não têm aplicado o sistema de legitimidade ativa ope
legis de maneira, por assim dizer, pura e automática. Ao contrário, têm exigido que
entre o substituto processual e matéria discutida em juízo haja um liame, uma
ligação por afinidade, notadamente com as finalidades institucionais do Autor da
ação coletiva.
​E não só doutrina e jurisprudência colocam em relevo esse liame: a lei
também o faz, bastando ver que a LACP, em seu artigo 5º., V, “b”, quando trata da
legitimidade das associações, exige que esteja incluído, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à
livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
​A essa conexão entre as finalidades institucionais do legitimado
extraordinário e a matéria discutida na ação coletiva dá-se o nome de pertinência
temática.
​Cumpre destacar que a pertinência temática e a representação adequada
são conceitos que não se confundem, pois que este é mais abrangente que aquele.
Em outras palavras, a falta de pertinência temática fará com que o autor coletivo
não seja considerado um representante adequado, a comprometer a sua
legitimidade ativa para atuar naquela específica ação coletiva.
​Com razão, nesse ponto, FREDIE DIDIER e ZANETI JR. (pág. 213), quando
pontuam que a legitimidade ativa, no processo coletivo, deve ser aferida em dois
momentos: primeiro, abstratamente, quando se deve verificar se o autor coletivo é
um daqueles que a lei aponta como legitimado extraordinário; segundo, verificada
essa legitimidade em tese, deverá o órgão julgador analisá-la em concreto,
investigando a pertinência temática da atuação daquele legitimado em relação ao
direito coletivo discutido em juízo.
​Na prática, portanto, o que se percebe é que o processo coletivo brasileiro
acaba por adotar um sistema híbrido de aferição de legitimidade, pois que, além da
prévia autorização legal para a propositura da ação coletiva (legitimação ope legis),
deve o autor demonstrar a pertinência temática da sua atuação, de modo a ser
considerado, no caso concreto, um representante adequado.
 
04. AS AÇÕES COLETIVAS PASSIVAS (defendant class action) – BREVE NOTÍCIA
 
​Um dos mais interessantes temas da atualidade do processo coletivo diz
respeito às denominadas ações coletivas passivas, ou seja, casos em que um autor
deduz em juízo uma pretensão em desfavor de uma coletividade.
​Com a costumeira clareza, DIDIER e ZANETI JR. (pág. 411) afirmam que
 
Há ação coletiva passivaquando um
agrupamento humano for colocado
no pólo passivo de uma relação
jurídica afirmada na petição inicial.
Formula-se uma demanda contra
uma coletividade. Os direitos
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afirmados pelo autor da demanda
coletiva podem ser individuais ou
coletivos (lato sensu) – nessa última
hipótese, há uma ação duplamente
coletiva, pois o conflito de interesses
envolve comunidades distintas.
 
​A premissa para bem se compreender a ação coletiva passiva passa pelo
reconhecimento de que, assim como uma coletividade pode ser titular de um
direito, pode também estar em situação de sujeição ao direito do autor, seja esse
direito coletivo ou não.
​A experiência forense brasileira já se deparou com interessantes casos de
ações coletivas passivas (ver DIDIER e ZANETI JR, pág. 415 e seguintes):
 
1) Litígios coletivos trabalhistas, em que em cada um dos pólos
se encontra o sindicato (representante adequado) das
respectivas categorias – empregados e empregadores.
2) Ação proposta em face de categoria de servidores públicos, em
casos de greve, com a pretensão de voltem ao trabalho.
Noticia-se que a ação pioneira ocorreu em 2004, quando a
categoria dos policiais federais entrou em greve. Naquela
oportunidade, a União ingressou com ação em face da
Federação nacional dos Policiais Federais e o Sindicato dos
Policiais Federais do Distrito Federal, pleiteando o retorno das
atividades;
3) Exemplo citado em doutrina, o caso de uma empresa que
ingressa com ação a fim de ver declarado que seu projeto é
ambientalmente correto, ou ação proposta por empresa que se
vale de contratos de adesão, a fim de ver declarada a
legalidade das cláusulas desse mesmo contrato.
 
​Percebe-se que o conceito de representatividade adequada nas ações
coletivas passivas ganha importância extrema, na medida em que só é aceitável
que demanda tal seja proposta em face daquele legitimado passivo que
efetivamente seja o representante adequado daquela categoria.
​A doutrina subdivide as ações coletivas passivas em originárias ou derivadas.
Serão originárias quando surgem sem que lhes preceda uma demanda coletiva
ativa; são derivadas quando surgem em decorrência de uma ação coletiva ativa, tal
como ocorre com a ação rescisória de sentença proferida em ação coletiva ativa, ou
cautelares incidentais a ações coletivas ativas.
 
 
ROTEIRO 05
A COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
 
 
01. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
 
- Jurisdição e competência.
- Critérios determinadores da competência: (i) matéria; (ii) função; (iii) pessoa;
(iv) valor da causa; (v) território.
- Regime processual da competência absoluta e relativa.
 
02. A COMPETÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO
 
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​Em processo coletivo, as regras de competência são ditadas por dois
principais dispositivos, quais sejam, o artigo 2º. da Lei de Ação Civil Pública, e o
artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor:
 
Lei 7.347/85
Art. 2º. As ações previstas nesta lei
serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá
competência funcional para
processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da
ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente
intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto.
 
Código de Defesa do Consumidor
Art. 93. Ressalvada a competência
da justiça federal, é competente para
a causa a justiça local:
I – no foro do local onde ocorreu ou
deva ocorrer o dano, quando de
âmbito local;
II – no foro da Capital do Estado ou
no do Distrito Federal, para os danos
de âmbito nacional ou regional,
aplicando-se as regras do Código de
Processo Civil aos casos de
competência concorrente.
 
2.1. A COMPETÊNCIA PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA TERRITORIAL
ABSOLUTA
 
​Como visto, a regra básica de competência para a Ação Civil Pública
encontra-se no artigo 2º. da lei 7.347/85.
​Apesar da lei falar em competência funcional, a doutrina mais recente tem
firmado entendimento de que se trata de competência territorial absoluta, em
moldes bem parecidos com a tradicional regra do artigo 95 do CPC. Assim, o local
onde o dano ocorreu ou deva ocorrer será competente, em caráter absoluto, para
processar a julgar e Ação Civil Pública.
​Pode ocorrer, porém, de o dano ocorrer em mais de uma localidade. Em
casos tais, o foro de qualquer dessas localidades é competente para a ACP (um
caso excepcional de competência territorial absoluta concorrente) e, sendo a
demanda proposta no foro de qualquer deles, este terá sua prevenção firmada para
quaisquer outras demandas que tenham a mesma causa de pedir ou pedido,
conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2º. da lei 7.347/85.
​Cumpre destacar, porém, que essa regra de foros concorrentes quando o
dano se estender por mais de uma localidade não deve ter aplicação nos casos em
que a dimensão do dano chegue a ser regional, estadual ou nacional, pois que
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nessas hipóteses o CDC reserva regra específica, conforme a seguir se verá.
 
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR NACIONAL
 
​Como exposto, o artigo 93 do CDC indicou, para as hipóteses em que o dano
seja nacional, a competência das capitais dos Estados ou o Distrito Federal para
processar e julgar a ação civil pública.
​De início, discutia-se em doutrina e jurisprudência se mencionada regra
tratava de uma competência concorrente entre as capitais e o DF. O STJ, ao julgar
o Conflito de Competência n. 26.842-DF, firmou entendimento nesse sentido,
afirmando que em casos de dano de dimensão nacional são concorrentemente
competentes os foros das capitais dos Estados e o do Distrito Federal.
​
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR ESTADUAL
 
​Em se tratando de dano de abrangência estadual, a despeito da omissão
legislativa, será competente o foro da capital do respectivo Estado, em aplicação
analógica do artigo 93 do CDC.
 
2.3. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR DE ABRANGÊNCIA REGIONAL
 
​A legislação não define o que seja dano regional. Aliás, não define o que seja
dano nacional ou estadual, o que causa alta dose de insegurança quando se deve
definir, no caso concreto, o juízo competente para uma ação coletiva.
​Segundo as lições doutrinárias, pode-se conceber o dano regional sob dois
aspectos: dano que se estenda por mais de um Estado da Federação (sem que se
possa chegar a considerar esse dano nacional), ou dano que se estenda por mais
de uma comarca do mesmo Estado, sem que chegue a configurar dano regional.
​Nesses casos, por aplicação do artigo 93 do CDC, deve-se considerar como
competente, quando o dano se estender por mais de um Estado, o da capital de
qualquer deles; quando o dano for regional e se estender por mais de uma
comarca, sem, contudo, chegar a ser um dano estadual, a regra do artigo 2º. da
Lei de Ação Civil Pública deverá ter aplicação, ditando-se a competência em razão
do local onde o dano ocorreu ou deva ocorrer.
 
03. COMENTÁRIO AO ARTIGO 16 DA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA E ARTIGO 2º.-A
DA LEI 9.494/97
 
​Conforme estudado em capítulo anterior, a ação coletiva tem por finalidade
(ou objetivo) a obtenção de economia processual, a garantia de acesso à justiça, a
preservação da segurança jurídica, mediante a prevenção de prolação de decisões
judiciais conflitantes etc, finalidades estas alcançáveis mediante a propositura de
uma única ação coletiva, evitando a propositura de diversas ações
substancialmente idênticas, colocando em risco todos aqueles objetivos antes
mencionados.
​Nadaobstante, polêmicas alterações realizadas nas leis que regem o sistema
processual coletivo brasileiro acabaram por colocar em cheque a própria efetividade
da tutela coletiva. Trata-se das alterações veiculadas pelo artigo 16 da lei 7.347/85
e artigo 2º.- A da lei 9.494/97, assim redigidos:
​
Lei 7.347/85
Artigo 16. A sentença civil fará coisa
julgada erga omnes nos limites da
competência territorial do órgão
prolator, exceto se o pedido for
julgado improcedente por
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insuficiência de provas, hipótese em
que qualquer legitimado pode
intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova
prova.
 
Lei 9.494/97
Art. 2º.-A. A sentença civil prolatada
em ação de caráter coletivo proposta
por entidade associativa, na defesa
dos interesses e direitos dos seus
associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da
propositura da ação, domicílio no
âmbito de competência territorial do
órgão prolator.
 
​A reação da doutrina a esses dispositivos, que limitam, territorialmente, os
efeitos das decisões proferidas em ações coletivas, foi imediata e veemente. Os
argumentos contrários são bem resumidos por DONIZETTI e CERQUERIA (pag.
210/211): primeiramente, as alterações promovidas seriam inconstitucionais por
ofenderem (i) o princípio da razoabilidade, na medida em que imporiam uma
restrição absurda e despropositada à eficácia das decisões das ações coletivas; (ii)
o princípio da igualdade, pois acaba ensejando a propositura de diversas ações
coletivas substancialmente idênticas, com a conseqüente prolação, ao menos em
tese, de decisões conflitantes; (iii) o princípio do acesso à justiça, pois deixa à
margem da proteção jurisdicional coletividades que estejam fora dos limites de
competência territorial do órgão prolator da decisão.
​Além disso, a doutrina também sustenta a ineficácia da alteração legislativa,
visto que: (i) qualquer decisão judicial tem eficácia além dos limites territoriais de
competência do órgão prolator: por exemplo, uma sentença de divórcio prolatada
por juiz de São Paulo não pode valer apenas nesta cidade, permanecendo, no Rio
de Janeiro, casadas aquelas partes. (exemplo citado por Nelson Nery); (ii) os
direitos coletivos, por ontologicamente indivisíveis, não poderiam ser cindidos por
um critério de competência territorial do órgão prolator da decisão judicial; (iii)
finalmente, o artigo 93 do CDC define a competência para a ação coletiva de acordo
com a extensão do dano. Assim, em caso de dano nacional, por exemplo, o juízo da
capital do Estado ou do Distrito Federal terá, em tese, jurisdição nacional, e os
efeitos de sua decisão atingiriam, naturalmente, todo o Brasil.
​A posição atual dos tribunais, notadamente do STJ, é pela aplicação literal
desses dispositivos.
 
CONTRIBUIÇÃO DO AUTOR DA
APOSTILA
Os dispositivos analisados regulam,
sobretudo, a eficácia subjetiva das
decisões proferidas em ação coletiva.
Em uma ação coletiva, o que o
judiciário define é o acertamento de
um direito (coletivo) envolvendo a
coletividade autora da ação (ali
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representada pelo substituto
processual) e o réu. Assim, o que os
artigos fazem é limitar essa
coletividade beneficiada, utilizando
como critério dessa limitação a
competência territorial do órgão
prolator. O que se limita, assim, não
é a coisa julgada, mas a eficácia
subjetiva da decisão, que somente
será extensível à coletividade
abrangida pela competência
territorial do órgão prolator do
decisório. Assim, se o dano for
nacional e a ação coletiva for
corretamente proposta ou no DF ou
perante a Capital de um dos Estados
da Federação, tendo esse juízo
competência nacional naquele caso,
a extensão subjetiva dos efeitos do
julgado assim também será. Melhor
será desenvolvido esse assunto
quando tratarmos da coisa
julgada coletiva.
ROTEIRO 06
CONEXÃO, CONTINÊNCIA E LITISPENDÊNCIA
NO PROCESSO COLETIVO
 
 
01. NOÇÕES GERAIS
 
- O sistema de conexão e continência no processo individual.
- Prevenção: união das ações conexas perante o juízo prevento ou distribuição da
ação, por dependência, à ação já proposta.
- Litispendência: conceito.
 
02. A CONEXÃO E A CONTINÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO
 
​Aplica-se o sistema base do processo individual, com as seguintes
peculiaridades: (i) no processo coletivo a aferição da existência de afinidade entre
processos deve ter em conta, principalmente, o objeto da demanda coletiva; (ii) a
necessidade de se evitar, ao máximo, em ações coletivas, a prolação de decisões
conflitantes; (iii) o substituto processual não influencia na determinação da
existência de conexão, continência ou litispendência, visto que a parte material na
demanda é a coletividade substituída.
 
2.1. A POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA POR
CONEXÃO
 
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​Umas das mais clássicas regras do processo individual com relação à
competência absoluta é que esta, por ser improrrogável, não comporta modificação
em razão da conexão e continência.
​Não é assim, porém, no processo coletivo, pois que a despeito de ser
absoluta a competência territorial, a sua prorrogação é possível em virtude de
conexão e continência.
​Duas particulares disposições legais autorizam essa conclusão: o §3° do
artigo 5° da Lei de Ação Popular e o parágrafo único do artigo 2° da Lei de Ação
Civil Pública. Confira-se:
 
LEI DE AÇÃO POPULAR
Art. 5°. (...)
§3°. A propositura da ação prevenirá
a jurisdição do juízo para todas as
ações que forem posteriormente
intentadas contra as mesmas partes
e sob os mesmos fundamentos.
 
LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
 
Art. 2°. (...)
Parágrafo único. A propositura da
ação prevenirá a jurisdição do juízo
para todas as ações posteriormente
intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto.
 
​Um exemplo certamente esclarecerá a aplicação dos dispositivos citados.
Imagine-se um dano ambiental que tenha atingido área de 04 (quatro) comarcas
de determinado estado. Tal dano, que se pode considerar regional, poderá ser
objeto de ação coletiva a ser proposta em qualquer uma das 04 (quatro) comarcas,
por força da regra geral de competência (territorial absoluta) do local do dano,
ditada pelo artigo 2° da Lei de Ação Civil Pública. Em palavras outras, o juízo de
qualquer das 04 (quatro) comarcas tem competência concorrente para processar e
julgar a ação coletiva. Proposta que seja, a ação, perante o juízo da comarca A,
torna-se ele prevento para qualquer futura demanda que tenha por objeto aquele
mesmo dano ambiental.
​Não se trata, ressalte-se, da constituição de um juízo universal, à
semelhança do juízo falimentar, como chegou a decidir o Superior Tribunal de
Justiça no Conflito de Competência 19686-DF. Trata-se, de fato, apenas e tão
somente de prevenção, pois que apenas serão “atraídas” para o juízo prevento as
ações coletivas conexas com aquela primeiramente deduzida. Caso fosse,
realmente, um juízo universal, essa “atração” seria exercida sobre toda e qualquer
demanda, independentemente de vínculo de afinidade ou risco de prolação de
decisões conflitantes.
​Outra observação importante: enquanto a prevenção, no processo individual,
é configurada ou pelo primeiro despacho (mesma competência territorial – art. 106
do CPC), ou pela primeira citação válida (competência territorial distinta – artigo
219 do CPC), no processo coletivo o que configura a prevenção é a propositura da
ação coletiva, conforme artigo 2°, parágrafo único da Lei de Ação Civil Pública.​Confira-se o quadro-resumo proposto por DONIZETTI e CERQUERIA (pág.
232):
 
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 PROCESSO INDIVIDUAL PROCESSO COLETIVO
COMPETÊNCIA
TERRITORIAL
Relativa, em regra. Absoluta.
CONEXÃO e
CONTINÊNCIA
Não provoca a modificação
em caso de competência
absoluta
Provoca a modificação da
competência, em que pese
absoluta.
PREVENÇÃO Determinado pelo 1°
despacho (art. 106 do CPC)
ou pela 1ª citação válida (art.
219 do CPC)
Determinada pela propositura
da ação.
 
2.2. A CONEXÃO ENTRE AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL
 
​A possível relação existente entre ação coletiva e ação individual encontra-se
disciplinada no artigo 104 do Código de Defesa do Consumidor:
 
Art. 104. As ações coletivas,
previstas nos incisos I e II do
parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações
individuais, mas os efeitos da coisa
julgada erga omnes ou ultra parts a
que aludem os incisos I e III do
artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se ao
for requerida a sua suspensão no
prazo de 30 dias, a contar da ciência
nos autos do ajuizamento da ação
coletiva.
 
​Fica claro, portanto, que a propositura da ação coletiva não inibe a ação
individual. Todavia, não há como negar que entre a ação coletiva e a ação
individual, quando baseadas no mesmo fato (um acidente ambiental ou uma lesão
em relação de consumo, por exemplo), serão conexas, exatamente porque revelam
identidade de causa de pedir.
​Ocorre que, a despeito de haver a conexão, a sua principal conseqüência,
que é a reunião das ações perante o juízo prevento não ocorrerá, porque o
legislador adotou solução diferente no âmbito coletivo: a suspensão das ações
individuais a requerimento do autor.
​É de se destacar recente entendimento do STJ, trazido no Informativo 413,
em que se determinou a suspensão das ações individuais, quando proposta ação
coletiva versando sobre o mesmo direito coletivo lato sensu. Trata-se, assim, de
uma inovadora suspensão do processo por ordem judicial e, a despeito de não
expressamente reconhecido nesse precedente, a regra do artigo 265, IV, do CPC,
que versa sobre a suspensão do processo por prejudicialidade externa autoriza que
se chegue a solução tal.
 
2.3. A LITISPENDÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
 
​Não há regra específica para a litispendência no microssistema do processo
coletivo. Aplica-se, assim, a princípio, a mesma regulação prevista para o processo
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individual.
​Algumas questões, entretanto, devem se ponderadas quando se fala em
litispendência entre ações coletivas.
​Primeiramente, não se deve exigir identidade de substitutos processuais,
mas sim identidade da coletividade titular daquele direito e representada em juízo
pelo legitimado extraordinário.
​O procedimento adotado para as ações coletivas também é indiferente.
​Assim, é sobretudo à partir da análise da causa de pedir e do pedido das
ações coletivas que se poderá concluir pela existência ou não de litispendência.
​Há, ainda, que se levar em conta a confusa regra do artigo 16 da Lei de
Ação Civil Pública, que em muitos casos, por limitar a eficácia subjetiva da decisão
à competência territorial do órgão prolator, induzirá, ou mesmo obrigará a
propositura de tantas ações coletivas idênticas quantas sejam necessárias à tutela
das coletividades excluídas pela limitação subjetiva dos efeitos da decisão.
 
A visão do autor da apostila não é
essa. A despeito dos entendimentos
de que o artigo 16 da Lei de Ação
Civil Pública seria inconstitucional, a
solução que propomos para o tema
não passa por essa seara. A nosso
ver, o artigo 16 da LACP deve ser
interpretado em consonância com o
artigo 93 do CDC, de modo que,
tratando-se de dano estadual,
regional ou nacional, caso a ação
coletiva seja corretamente proposta
perante uma das capitais dos
estados ou no Distrito Federal, o
juízo perante o qual se desenvolver a
demanda terá competência para a
toda a extensão do dano, ou seja,
nacional, estadual ou regionalmente.
Assim, esse será o limite de sua
competência, permitindo-se a
extensão subjetiva dos efeitos da
decisão nessa mesma proporção.
Imagine-se, por exemplo, o caso de
um concurso da aeronáutica que
insira em seu edital exigências
discriminatórias e desproporcionais
quanto à idade e altura dos
candidatos. É proposta, pelo MPF,
ação civil pública perante a Seção
Judiciária de Goiânia, com pedido de
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liminar para suspender as cláusulas
editalícias impugnadas. Concedida a
liminar, pergunta-se: terá ela eficácia
em todo o Brasil ou apenas no
estado de Goiás? A nosso ver, sendo
esse um dano nacional, o juízo (no
caso federal) de qualquer das
capitais dos estados é competente
para processar e julgar a causa e,
sendo proposta a demanda coletiva
terá o juízo competência territorial
em toda a extensão do dano, de
modo que sua liminar terá eficácia
em todo o Brasil, dado que e é
justamente esse o limite de sua
competência territorial naquele caso
concreto.
A se aplicar o artigo 16 da Lei de
Ação Civil Pública sem se observar
essa critério, ou seja, ignorando a
regra de competência do artigo 93
do CDC (como muitos fazem,
inclusive os tribunais), a decisão
liminar, voltando ao exemplo, terá
eficácia apenas no Estado de Goiás,
forçando a repetição de ações
coletivas idênticas em outros estados
da federação, o que é
desaconselhável e nada razoável.
 
​Em tempo: discute-se em doutrina se a litispendência deveria importar na
extinção ação da ação coletiva que possua esse “vício” ou na reunião com a
anteriormente ajuizada. Pela reunião, DIDIER e ZANETI; pela extinção, DONIZETTI
e CERQUEIRA. Adotamos a segunda posição.
 
ROTEIRO 07
LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS NO PROCESSO COLETIVO
 
 
01. LITISCONSÓRCIO: NOÇÕES GERAIS
 
​Pode-se conceituar o litisconsórcio como a existência de uma pluralidade de
partes, tanto no pólo ativo, como no pólo passivo, litigando em um mesmo
processo. Trata-se de instituto processual voltado à proteção da uniformidade das
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decisões judiciais, bem como à celeridade e economia processual.
​Classifica-se da forma seguinte:
(i) Quanto ao pólo: ativo, passivo ou misto (quando se forma em
ambos os pólos da relação jurídica processual);
(ii) Quanto ao momento de formação: originário, quando se
forma desde o início da demanda, e ulterior, quando se
forma ao longo desta;
(iii) Quanto à obrigatoriedade de sua formação: necessário,
quando a lei ou a relação jurídica, por indivisível,
impuserem a sua formação; ou facultativo, nos demais
casos;
(iiii) Quanto ao modo de julgar: simples, quando o juiz puder
decidir a lide de maneira distinta para cada um dos
litisconsortes, ou unitário, quando o magistrado tiver que
decidir a lide de maneira uniforme para todos os
litisconsortes.
 
1.1. O LITISCONSÓRCIO NO PROCESSO COLETIVO
 
​Dada a característica da legitimidade no processo coletivo, que é
extraordinária (por substituição processual), concorrente e disjuntiva, torna-se
possível a coligação de vários colegitimados para a propositura da ação coletiva, ou
mesmo sua coligação no pólo passivo.
​Diferencia-se, porém, do litisconsórcio no plano individual em um ponto
relevante: enquanto no processo individual os litisconsortes são partes em sentido
material, defendendo em juízocada um o seu direito, no âmbito coletivo a
formação do litisconsórcio terá conotação e estrutura puramente processual, pois
que a coletividade substituída por cada um dos colegitimados é exatamente a
mesma.
​Trata-se de um litisconsórcio sempre facultativo, exatamente porque a
legitimidade é disjuntiva.
​Pode ser originário, quando se forma desde o início da demanda coletiva, ou
ulterior, quando se forma após a propositura da ação. É bem verdade que existe
em doutrina certa divisão quanto à intervenção do colegitimado em momento
posterior à propositura da ação coletiva. Para alguns, trata-se de litisconsórcio
ulterior, enquanto para outros, assistência litisconsorcial. Sobre essa controvérsia,
ver com mais detalhes o item 2.2.1 infra, dedicado ao estudo da assistência nas
ações coletivas.
​Prosseguindo, ainda segundo a doutrina trata-se de litisconsórcio unitário,
pois que a decisão a ser proferida deverá ser exatamente a mesma para todos os
litisconsortes. DONIZETTI e CERQUEIRA ponderam, não sem razão, que justamente
pelo sistema de substituição processual, típico do processo coletivo, a decisão da
ação coletiva não é prolatada em razão da parte processual (substituto), mas em
razão da coletividade substituída. Assim, ponderam que perderia o sentido
classificar o litisconsórcio em simples ou unitário, até porque no plano do direito
material existe um único titular. Concordamos com a perspicaz ponderação, mas
entendemos que a classificação é útil sobretudo sob o ponto de vista didático, na
medida em que reafirma a impossibilidade de serem adotadas decisões divergentes
para cada um dos legitimados extraordinários.
 
1.2. O LITISCONSÓRCIO ENTRE RAMOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA
DEFENSORIA PÚBLICA
 
​Dispõe o art. 5°, §5°, da Lei de Ação Civil Pública:
 
§5°. Admitir-se-á o litisconsórcio
facultativo entre os Ministérios
Públicos da União, do Distrito Federal
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e dos Estados, na defesa dos
interesses e direitos de que cuida
esta lei.
 
​Sobre a regra, uma primeira observação importante: entende a doutrina que
se deve aplicar a mesma disposição, por analogia, aos ramos da Defensoria Pública.
​A regra legal, nesses termos, é clara, sendo cogitável, por exemplo, a
propositura de uma ação civil pública pelo Ministério Público Estadual em
litisconsórcio com o Ministério Público Federal.
​A grande e tormentosa questão que se coloca nesses casos é: perante qual
justiça deverá tramitar essa ação: justiça estadual ou justiça federal? Outra: podem
os ramos do Ministério Público demandar perante qualquer justiça?
​DIDIER e ZANETI JR. (pág. 342) ponderam que se trata de questão de difícil
resolução, notadamente porque a legislação vigente não fornece respostas.
Apontam, assim, a existência de duas correntes doutrinárias que enfrentaram essa
polêmica: uma que defende que cada Ministério Público deve ter sua atuação
limitada à “sua justiça”; a segunda, apontada como majoritária, entende que o
Ministério Público poderia atuar perante qualquer justiça, desde que a matéria
discutida em juízo seja de sua atribuição.
​De fato, parece ter razão a segunda corrente doutrinária, tendo em conta os
seguintes fundamentos: (i) a delimitação das funções de cada Ministério Público
não está constitucionalmente adstrita a essa ou aquela justiça; (ii) não pode
equiparar o Ministério Público Federal à União, de modo que a sua simples presença
na lide imponha a competência de justiça federal; (iii) a expressa autorização,
contida na lei, para a formação do litisconsórcio entre Ministérios Públicos já revela
a possibilidade de sua atuação perante uma justiça que não lhe seria
correspondente; (iv) o Ministério Público Estadual não poderia ficar submetido à
vontade do Ministério Público Federal. Imagine-se um dano causado por um ente
público federal: se o Ministério Público Federal não propusesse a demanda coletiva,
o Ministério Público Estadual não poderia fazê-lo, por não poder pleitear perante a
justiça federal.
​É bem verdade que há um precedente do STJ (REsp 440-002-SE, de 2004,
Relatoria Ministro Teori Albino Zavascky), em que se decidiu que “para fixar a
competência da justiça federal, basta que a ação civil pública seja proposta pelo
Ministério Público Federal”.
​Pelos fundamentos antes expostos, não é essa a posição que adotamos no
presente curso.
 
1.3. POSSIBILIDADE ALTERAÇÃO DOS ELEMENTOS OBJETIVAS DA DEMANDA
FORMULADA PELO LITISCONSORTE ATIVO ULTERIOR
 
​Conforme se afirmou em passagem anterior, é admissível que um
colegitimado extraordinário ingresse na ação coletiva em momento posterior à sua
propositura, o que configura a formação de um litisconsórcio ativo, facultativo,
ulterior e unitário.
​Debate-se em doutrina se, em casos tais, seria dado a esse litisconsorte
tardio formular novos pedidos na ação coletiva, ou alterar-lhe de algum modo a
causa de pedir.
​Prevalece em doutrina a opinião de que tais alterações seria possíveis.
​Doutrinadores muitas vezes citados em nosso curso, DONIZETTI e
CERQUEIRA (pag. 263) entende que se deve admitir que o litisconsorte ulterior
possa alterar a causa de pedir e o pedido, desde que isso não provoque prejuízo
injustificado para o réu ou viole a garantia do contraditório. DIDIER e ZANETI Jr.
parecem trilhar caminho semelhante.
​De nossa parte, pensamos que a possibilidade de alteração do pedido ou da
causa de pedir, fora das regras limitadoras já previstas no CPC (art. 264), colocam
o réu da ação coletiva em situação de insegurança e total instabilidade processual,
com óbvio comprometimento do contraditório e da ampla defesa.
​Assim, posicionamo-nos contra essa possibilidade de ampliação, em que
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pese assumindo com isso posicionamento claramente minoritário.
 
02. AS INTERVENÇÕES DE TERCEIRO NO PROCESSO COLETIVO
 
2.1. AS INTERVENÇÕES NO PROCESSO INDIVIDUAL – BREVE NOTA
 
​O processo individual prevê as seguintes modalidades de intervenção de
terceiros: assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e
chamamento ao processo.
​Em brevíssima síntese, a assistência tem lugar quando o terceiro
(denominado assistente), que tem interesse jurídico em que algum dos litigantes
seja vencedor de uma demanda, nela intervém justamente para auxiliar essa parte
(assistido) a atingir tal objetivo, qual seja, sagrar-se vencedor naquela demanda.
Classifica-se em assistência simples e assistência litisconsorcial, a depender se
assistente tem ou não relação jurídica com o adversário do assistido.
​Na oposição, o terceiro ingressa na demanda porque pretende para si, no
todo ou em parte, o bem ou direito litigado.
​Na nomeação à autoria tem-se uma verdadeira tentativa de correção do
vício da ilegitimidade passiva, visto que aquele que foi demandado em nome
próprio por direito alheiro pode, no prazo da resposta, apontar o verdadeiro
legitimado.
​A denunciação da lide, a seu turno, consiste numa verdadeira ação de
regresso que uma das partes exerce contra o terceiro para, caso seja sucumbente
na demanda, ver seu direito de regresso ser reconhecido pelo juiz na mesma
sentença, sendo assim indenizado dos prejuízos que a sucumbência no processo
principal vier a lhe acarretar.
​Finamente, o chamamento ao processo é a intervenção típica das obrigações
solidárias, em que um réu chama ao processo aqueles que devem tanto ou mais do
que ele.
​Vejamos, agora, quais dentre estas intervenções podem ocorrer no processo
coletivo e suas principais características e regras.
 
2.2. A ASSISTÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS
 
​No processo coletivo é plenamente possível a intervenção de terceiros na
modalidadeassistência, sendo mesmo, na prática, a mais usual. Vejamos, pois,
como as diversas hipóteses em que a assistência poderá ocorrer no processo
coletivo.
 
2.2.1. INTERVENÇÃO DE COLEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO COLETIVA:
ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL OU LITISCONSÓRCIO ATIVO ULTERIOR?
 
​Como já destacado em passagem anterior, quando tratamos do
litisconsórcio, não se discute que é dado a qualquer colegitimado à propositura da
ação coletiva intervir, no curso do processo, em uma demanda já proposta por
outro colegitimado. A questão que divide a doutrina é: trata-se, tal intervenção, de
uma assistência litisconsorcial ou de um litisconsórcio facultativo ulterior?
​Para DIDIER e ZANETI JR (pág. 252), considerando que o colegitimado teria
legitimidade para a própria propositura da ação coletiva, sua intervenção neste em
momento posterior configura assistência litisconsorcial, passando o colegitimado a
figurar como verdadeiro litisconsorte unitário do autor, recebendo o processo no
estado em que se encontra, mas exercendo seus exatos mesmos poderes. Perceba-
se que os afamados autores qualificam essa intervenção como assistência
litisconsorcial e a equiparam ao litisconsórcio ulterior.
​DONIZETTI e CERQUEIRA (pág. 266), por sua vez, consideram que a
assistência litisconsorcial e o litisconsórcio facultativo ulterior são fenômenos
distintos, pelo que não afiguraria correto equiparar e igualar tais fenômenos.
Defendem que o assistente litisconsorcial auxilia o assistido pois defende direito
que também é seu e que será influenciado pela sentença. Já o litisconsorte integra
a mesma situação jurídica sustentada por uma das partes no processo. Concluem,
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assim, que o colegitimado que ingressa no feito após a sua instauração, justamente
por defender a mesma situação jurídica do autor da demanda, o faz como autêntico
litisconsorte ativo ulterior.
​A nosso ver, a diferença prática entre qualificar o ingresso de um
colegitimado no curso na ação coletiva em litisconsórcio facultativo ulterior ou
assistência litisconsorcial é quase nenhuma, pois que o legitimado extraordinário
que ingressar terá basicamente os mesmos poderes, quer se trate de litisconsorte,
quer se trate de assistente litisconsorcial. Consideramos, contudo, que a posição
adotada por DONIZETTI e CERQUEIRA é mais adequada, devendo-se, assim,
qualificar a intervenção do colegitimado no curso da ação coletiva como
litisconsórcio ativo ulterior.
 
2.2.2. INTERVENÇÃO DO INDIVÍDUO EM AÇÃO COLETIVA: VEDAÇÃO GERAL E
POSSÍVEIS EXCEÇÕES
 
​Em regra, o indivíduo não pode intervir em ação coletiva, quer na qualidade
de assistente, quer na qualidade litisconsorte. E assim o é porque, em primeiro
plano, não tem legitimidade para tutelar em nome próprio direitos coletivos, o que
tecnicamente o impede de ingressar como litisconsorte ou assistente; em segundo
plano, a se permitir referida intervenção, ainda que como assistente, comprometido
estaria um dos principais objetivos da tutela coletiva, justamente a celeridade
processual, vez que, em tese, dezenas, centenas ou milhares de indivíduos
poderiam requerer seu ingresso na ação coletiva, transformando o processo em
verdadeiro caos.
​Existem, porém, duas importantes exceções.
​A primeira delas é a intervenção prevista no artigo 94 do Código de Defesa
do Consumidor, que dispõe:
 
Art. 94. Proposta a ação, será
publicado no órgão oficial, a fim de
que os interessados possam intervir
no processo como litisconsortes, sem
prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por
parte dos órgãos de defesa do
consumidor.
 
​A regra do dispositivo transcrito, é preciso destacar, não tem cabimento em
qualquer ação coletiva, mas apenas naquelas em que o legitimado extraordinário
defenda direitos individuais homogêneos. Ou seja, não á cabível a intervenção do
indivíduo em ações coletivas para a tutela de direitos difusos ou coletivos stricto
sensu.
​Por outro lado, nada obstante tenha a lei se utilizado da expressão
litisconsortes, trata-se, conforme aponta a doutrina, de assistência litisconsorcial.
Não pode o indivíduo ser considerado litisconsorte ulterior pois não detém ele
legitimidade para tutelar coletivamente direitos individuais homogêneos;
entretanto, o direito individual coletivamente tutelado na ação é também dele, pelo
que a sua intervenção se dá na condição de assistente litisconsorcial.
​A segunda hipótese de intervenção do indivíduo como assistente em ação
coletiva é bastante peculiar e liga-se à ação popular. Como se sabe, a lei defere ao
cidadão-eleitor a legitimidade para, em nome próprio, tutelar direito
verdadeiramente difuso, consistente na moralidade administrativa amplamente
considerada. Nesses casos, não há dúvida, o cidadão-eleitor atua, em nome
próprio, na defesa de direito alheio, em verdadeira legitimidade extraordinária.
​Por outro lado, é cogitável que qualquer outro legitimado extraordinário
busque, mediante ação coletiva que não a ação popular, a tutela do exato mesmo
direito difuso, como a moralidade administrativa antes citada.
​Nesses casos, defende a doutrina, e com razão, que justamente por ser o
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cidadão-eleitor colegitimado à tutela do mesmo direito via ação popular, possa ele
intervir na ação coletiva na qualidade de assistente litisconsorcial.
 
2.2.3. A POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO LEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM
AÇÃO INIDIVIDUAL
 
​Conquanto rara, não se pode afastar a hipótese em que um legitimado
coletivo tenha interesse em intervir numa ação individual cuja questão debatida,
normalmente ligada a direito coletivo stricto sensu ou individual homogêneo, e a
eventual decisão, venha a ter influência em uma ação coletiva a ser proposta ou já
efetivamente deduzida.
​Em nossa experiência profissional vivenciamos um caso em que interesse
tal, por parte do legitimado extraordinário, poderia se manifestar. Tratava-se de
ação individual proposta por 23 delegados federais, que impugnavam a exigência
de controle de suas atividades profissionais mediante ponto eletrônico. A ação
proposta, perante a Justiça Federal de Goiás, foi a primeira em todo o Brasil a obter
liminar suspendendo os efeitos da portaria que instituía o ponto eletrônico, bem
como sentença de mérito no mesmo sentido. Apenas após o êxito nessa ação
individual é que a associação que representa os delegados em nível nacional optou
pela propositura da ação coletiva, igualmente exitosa em termos de concessão de
liminar, justamente fincada no precedente firmado na ação individual. Nesse caso, o
estágio avançado da ação individual, que se transformou no leading case referente
à questão do ponto eletrônico para delegados federais, certamente poderia
despertar o interesse, por parte da associação nacional, de intervir, na qualidade de
assistente simples, para auxiliar os autores individuais a se sagrarem
definitivamente vencedores na demanda, com o que obteriam precedente favorável
e que diretamente influenciaria na ação coletiva proposta.
​O próprio STF já admitiu a intervenção de legitimado extraordinário em ação
individual: ver RE 550.769-RJ.
 
2.2.4. A DENOMINADA “INTERVENÇÃO MÓVEL”
 
​De acordo com o art. 6°, §3°, da Lei de Ação Popular, “a pessoa jurídica de
direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá
abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso
se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou
dirigente”.
​Trata-se de fenômeno processual denominado pela doutrina de intervenção
móvel e, decidindo a pessoa jurídica demandada atuar

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