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19a edição Rio de Janeiro 2017 DIREITO DO SEGURO É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes dele, sob quaisquer formas ou meios, sem permissão expressa da Escola. REALIZAÇÃO Escola Nacional de Seguros SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO METODOLÓGICA Diretoria de Ensino Técnico ASSESSORIA TÉCNICA Jonas Stipp de Andrade – 2016/2017 Aluizio José Bastos Barbosa Junior – 2015 CAPA Coordenadoria de Comunicação Social DIAGRAMAÇÃO Info Action Editoração Eletrônica Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FUNENSEG E73d Escola Nacional de Seguros. Diretoria de Ensino Técnico. Direito do seguro/Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino Técnico; assessoria técnica de Jonas Stipp de Andrade. – 19. ed. – Rio de Janeiro: ENS, 2017. 104 p.; 28 cm 1. Seguro e direito. I. Andrade, Jonas Stipp de. II. Título. 0016-1776 CDU 368:347(072) A Escola Nacional de Seguros promove, desde 1971, diversas iniciativas no âmbito educacional, que contribuem para um mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e resseguro cada vez mais qualificado. Principal provedora de serviços voltados à educação continuada, para profissionais que atuam nessa área, a Escola Nacional de Seguros oferece a você a oportunidade de compartilhar conhecimento e experiências com uma equipe formada por especialistas que possuem sólida trajetória acadêmica. A qualidade do nosso ensino, aliada à sua dedicação, é o caminho para o sucesso nesse mercado, no qual as mudanças são constantes e a competitividade é cada vez maior. Seja bem-vindo à Escola Nacional de Seguros. DIREITO DO SEGURO4 SUMÁRIO 5 Sumário 2 1 DIREITO E O SEGURO NO BRASIL: NOÇÕES 9 Breves Noções sobre o Direito 11 O que É o Direito 11 Direito Objetivo e Subjetivo 12 Direito Público e Privado 12 Fontes do Direito 13 A Constituição Federal de 1988 14 As Normas Infraconstitucionais 14 O Seguro no Brasil 15 Generalidades sobre o Seguro 15 Fixando Conceitos 1 17 O CONTRATO DE SEGURO 19 Conceito Legal do Contrato de Seguro 21 Elementos do Contrato de Seguro 21 Risco 21 Interesse Segurável 22 Garantia 22 Prêmio 23 Empresarialidade 23 Partes do Contrato de Seguro 24 Proponente 24 Segurado 24 Seguradora 24 Beneficiário 24 Estipulante 24 Obrigações das Partes 25 Pagamento do Prêmio 25 Concessão da Garantia 26 Principais Características do Contrato de Seguro 28 Bilateral 28 Oneroso 28 Aleatório 29 Solene 29 Consensual 29 Nominado 29 Adesão 29 Instrumentos Contratuais 30 Proposta 30 Apólice 32 Endosso ou Aditivo 34 Averbação 34 Bilhete 34 Fixando Conceitos 2 35 DIREITO DO SEGURO6 3 O SEGURO E O CÓDIGO CIVIL 37 Considerações Iniciais 39 Disposições Comuns aos Seguros de Danos e de Pessoas 39 Riscos Predeterminados 39 Boa-Fé na Conclusão e na Execução do Contrato de Seguro 39 Efeitos do Descumprimento do Dever de Informação que Influi na Aceitação da Proposta ou na Tarifação do Prêmio 41 Ato Doloso do Segurado, do Beneficiário ou do Representante de um Deles 42 Agravamento do Risco 43 Contratação por Meio de Agente Autorizado da Seguradora 44 Renovação Automática 45 Mora do Segurado 45 Mora da Seguradora 47 Importância do Aviso de Sinistro 48 Aplicação Subsidiária do Código Civil aos Seguros Regidos por Leis Específicas 48 Disposições Relativas aos Seguros de Danos 49 Transferência do Contrato de Seguro a Terceiro 49 Rateio Proporcional 50 Novo Seguro sobre Mesmo Interesse Segurável e Mesmo Risco 51 Sub-Rogação 52 Seguro de Responsabilidade Civil 53 Disposições Relativas aos Seguros de Pessoas 54 Fixação do Capital Segurado e Contratação de Mais de um Seguro sobre o Mesmo Interesse 54 Instituição do(a) Companheiro(a) como Beneficiário(a) 55 Seguro sobre a Vida de Terceiro 56 Indicação e Substituição do Beneficiário 57 Efeitos da Não Indicação de Beneficiário ou da Invalidade (Parcial ou Total) da Cláusula Beneficiária 58 Transação para Pagamento Reduzido do Capital Segurado 59 Suicídio 59 Vedação à Exclusão de Certos Riscos 60 Sub-Rogação 60 Seguro Coletivo 61 A Exceção Contida no Artigo 802 do Código Civil 62 Prescrição 62 Prescrição do Segurado Contra a Seguradora no Seguro de Responsabilidade Civil 63 Prescrição do Segurado Contra a Seguradora nos Demais Seguros 64 Prescrição do Segurado em Grupo 65 Prescrição do Beneficiário 65 Prescrição do Terceiro Contra a Seguradora no Seguro de Responsabilidade Civil Obrigatório 66 Aviso de Sinistro como Causa Suspensiva da Prescrição 67 Fixando Conceitos 3 69 SUMÁRIO 7 4 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 71 Origem e Objetivos 73 Conceito de Consumidor 73 Enquadramento da Atividade Securitária como Serviço 74 Vulnerabilidade e Hipossuficiência do Consumidor 75 Direitos Básicos do Consumidor 76 Direito à Informação 76 Direito à Proteção Contra a Publicidade Enganosa e Abusiva 77 Direito à Facilitação da Defesa dos Direitos, Inclusive com a Inversão do Ônus da Prova 78 Garantia de Cognoscibilidade 78 Responsabilidade Objetiva do Fornecedor pelo Fato do Serviço 79 Responsabilidade Subjetiva do Prestador de Serviço Profissional Liberal 81 Prescrição para a Ação de Responsabilidade Civil pelo Fato do Serviço 81 Desconsideração da Personalidade Jurídica 82 Oferta 82 Recusa do Fornecedor em Cumprir a Oferta 83 Solidariedade 84 Práticas Abusivas 84 Venda Casada 84 Seguro Não Solicitado 85 Comercialização de Seguro cujo Contrato Não Tenha Sido Submetido à Aprovação da SUSEP ou Esteja em Desacordo com as Normas Regulamentares 85 Prazo para Cumprimento da Obrigação 86 Cobrança de Dívida já Paga 86 Cláusulas Abusivas 87 Contrato de Adesão 87 Fixando Conceitos 4 89 TESTANDO CONHECIMENTOS 91 ESTUDOS DE CASO 97 GABARITO 99 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 101 DIREITO DO SEGURO8 UNIDADE 1 9 DIREITO E O SEGURO NO BRASIL: NOÇÕES11 Após ler esta unidade, você deve ser capaz de: • Saber o que é o Direito e quais são as suas principais fontes. • Conhecer a estrutura do ordenamento jurídico brasileiro. • Compreender a importância da Constituição Federal de 1988. • Identificar e distinguir as normas infraconstitucionais. • Entender como o seguro surgiu no Brasil. DIREITO DO SEGURO10 UNIDADE 1 11 BREVES NOÇÕES SOBRE O DIREITO O que É o Direito O Direito nasceu junto com a civilização, sob a forma de costumes que se tornaram obrigatórios. Por mais que mergulhemos no passado, sempre encontraremos o Direito, ainda que em estágio rudimentar, regulando as relações humanas. É que os homens, obrigados ao convívio, labutando uns ao lado dos outros, carecem de certas regras de conduta, de um mínimo de ordem e direção. Essas regras de procedimento, disciplinadoras da vida em sociedade, recebem o nome do Direito. O Direito é uma ciência social que tem por objeto o estudo das normas jurídicas, de seus elementos, de seus atributos, de sua interpretação e aplicação. São as normas jurídicas que regulam as situações entre os sujeitos e são capazes de assegurar a convivência e a paz social. A vida em sociedade seria impossível sem a existência de um certo número de normas reguladoras do procedimento dos homens, por estes mesmos julgadas obrigatórias, e acompanhadas de punições para os seus transgressores. É a punição que torna a norma respeitada. A coação, ou possibilidade de constranger o indivíduo à observância da norma, torna-se inseparável do Direito. O Direito é, também, um fenômeno social, pois surge, essencialmente, das relações sociais intersubjetivas, a exemplo do que ocorre com outros fenômenos sociais, como a religião e a política, entre outros. O chamado Direito Positivo (ou Direito escrito) consiste num conjunto ordenado e sistemático de normas jurídicas obrigatórias que o Estado, fazendo uso de suas competências,impõe à sociedade. As normas jurídicas possuem, portanto, um caráter coercitivo, ou seja, não estão sujeitas ao livre-arbítrio da vontade individual. Regem condutas essenciais para o convívio social, o bem coletivo, o equilíbrio das relações humanas e a manutenção da ordem. Dividem-se em regras e princípios. As regras impõem, permitem ou proíbem uma conduta de forma imperativa. Um exemplo de regra está no inciso I do artigo 162 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB – Lei no 9.503, de 23/09/1997), que trata das infrações de trânsito e prevê que dirigir veículo “sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão para Dirigir” constitui infração gravíssima, sujeitando o infrator a multa e apreensão do veículo. Os princípios enunciam valores ou abrigam direitos, mas não qualificam juridicamente as condutas. Pode ser citado, como exemplo, o princípio da dignidade da pessoa humana, presente no artigo 1o, III, da Constituição Federal de 1988. Este princípio trata do respeito à identidade e à integridade de todo e qualquer ser humano. DIREITO DO SEGURO12 Direito Objetivo e Subjetivo A palavra direito tem diferentes sentidos ou acepções, tornando-se praticamente impossível reuni-las numa única fórmula significativa. As mais importantes são traduzidas pelas expressões direito objetivo e direito subjetivo. O Direito objetivo designa o Direito enquanto regra de ação, isto é, o conjunto de regras vigentes num determinado momento para reger as relações humanas, que são impostas, coativamente, à obediência de todos. Temos como exemplo o Código Civil, o Código Penal ou a Lei do Inquilinato. O Direito subjetivo, a seu turno, encerra o poder de ação derivado da norma, isto é, a faculdade ou prerrogativa de o indivíduo invocar a lei em seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoa corresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo através de medidas judiciais. Desta forma, se um inquilino não paga o aluguel, o proprietário tem o direito subjetivo de promover o despejo. Direito Público e Privado O Direito pode ser dividido em dois ramos básicos: Direito Público e Direito Privado. Esta famosa classificação do Direito já era, de certa forma, conhecida na antiga Roma. O Direito público disciplina os interesses gerais da coletividade e se caracteriza pela imperatividade de suas normas, que não podem nunca ser afastadas por convenção dos particulares. Já o Direito Privado versa sobre as relações dos indivíduos entre si, tendo na supletividade de seus preceitos a nota característica, isto é, vigora apenas enquanto a vontade dos interessados não disponha de modo diferente que o previsto pelo legislador. Desta forma, ocorre que: • Direito Público – regula os interesses predominantes da sociedade, considerada como um todo. Nas relações de Direito Público, o Estado participa como sujeito ativo (titular do poder jurídico) ou como sujeito passivo (destinatário do dever jurídico), mas sempre como órgão da sociedade e, portanto, sem perder a posição de supremacia ou poder de império. Exemplos: cobrança de impostos, ação criminal, matéria constitucional, entre outros. • Direito Privado – regula as relações entre particulares. Nas relações jurídicas de Direito Privado, o Estado pode participar como sujeito ativo ou passivo, em regime de coordenação com os particulares, isto é, dispensando sua supremacia ou poder de império. Exemplos: contrato de seguro, locação de bens, cobrança de dívidas, casamento, entre outros. UNIDADE 1 13 Fontes do Direito As fontes do Direito são a sua origem primária e, também, o seu modo de expressão. A palavra fonte deriva do latim fons, fontis, que significa nascente, designando tudo o que origina ou produz algo. A expressão fontes do Direito, portanto, encerra uma metáfora para indicar a própria gênese do Direito, ou seja, os meios pelos quais se formam as regras jurídicas. As principais fontes do Direito são as seguintes: • lei – é a norma jurídica escrita, comum e obrigatória, emanada pelo Poder competente e provida de sanção (força coercitiva). A expressão “lei”, portanto, abrange toda e qualquer norma jurídica, esteja ela inserida na Constituição, em lei complementar, lei ordinária, decreto ou regulamento, entre outros; • costume – as leis escritas não compreendem todo o Direito. Há normas costumeiras, também chamadas consuetudinárias, que obrigam, igualmente, ainda que não constem de preceitos aprovados por órgãos competentes. Quando o caso concreto não se enquadra em qualquer norma jurídica existente no ordenamento, esta omissão legislativa exige que o juiz dê a sentença com base nos costumes. O costume pode ser entendido como a “norma jurídica que resulta de uma prática geral, constante e prolongada, observada com a convicção de que é juridicamente obrigatória”; • doutrina – é o resultado do estudo de pensadores (juristas e filósofos) sobre o Direito, expresso em livros, pareceres e outros trabalhos. A doutrina desempenha o papel de guia para o julgador e de subsídio e orientação para o legislador; e • jurisprudência – é o conjunto de reiteradas decisões dos tribunais sobre determinada matéria. A interpretação e a aplicação das normas jurídicas pelos tribunais repetidas vezes sobre um mesmo assunto tendem a criar precedentes que poderão ser invocados pelas partes e aplicados pelos juízes a casos análogos. Pode haver decisões conflitantes dentro do mesmo tribunal até que a questão seja pacificada, o que em nada desnatura o valor das decisões proferidas pelo Poder Judiciário. O entendimento predominante sobre determinada matéria num tribunal pode ser pacificado por meio da chamada “súmula”, a qual, no entanto, não é imperativa.1 1 A única exceção é feita à chamada “Súmula Vinculante”, que versa exclusivamente sobre matéria constitucional e somente pode ser emitida pelo Supremo Tribunal Federal, devendo, necessariamente, ser observada pelos outros tribunais. Ressalte-se a Súmula Vinculante 32: “O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro pelas seguradoras”. DIREITO DO SEGURO14 A Constituição Federal de 1988 O ordenamento jurídico brasileiro é composto por inúmeras normas jurídicas, e a Constituição Federal de 1988 ocupa o ponto mais elevado de todo o sistema. Ela é a lei fundamental ou magna. “A Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes políticos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direito, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes para a edição de normas jurídicas, legislativas ou administrativas.” (SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo). Uma vez que a Constituição Federal é a lei fundamental e suprema do Estado brasileiro, é nela que está o fundamento de toda autoridade, e somente ela confere poderes e competências governamentais. Além disso, as normas que integram o ordenamento jurídico brasileiro somente serão válidas quando o seu conteúdo estiver em conformidade com as normas constitucionais. A Constituição Federal pode ser objeto de alteração através de emenda, com a finalidade de se adaptar às modificações da sociedade e do Estado. São leis constitucionais que modificam parcialmente a Constituição. As Emendas à Constituição assumem o vértice da pirâmide do processo legislativo, demonstrando não somente a superioridade hierárquica, mas também a necessidade premente da adequação das normas jurídicas à evolução social. A emenda é promulgada pela mesa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, sendo necessário, para tal, a aprovação por 3/5 dos membros de ambas as Casas Legislativas emduas sessões. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado; o voto direito, secreto, universal e periódico; a separação dos poderes; os direitos e garantias individuais. As Normas Infraconstitucionais Abaixo da Constituição Federal estão todas as outras normas jurídicas, também chamadas de normas infraconstitucionais. Não há, entre os juristas, um consenso acerca da existência ou não de uma hierarquia entre as normas infraconstitucionais. Para fins meramente didáticos, consideraremos essa hierarquia, com base no artigo 59 da Constituição Federal de 1988: • lei complementar – tem a finalidade de dispor sobre matérias que lhe são reservadas pela Constituição Federal, as quais, em sua maioria, são previstas em normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida. Sua edição depende de quórum privilegiado e maioria absoluta; UNIDADE 1 15 • lei ordinária – elaborada pelo Poder Legislativo em sua função típica de legislar. Sua edição pode ocorrer por quórum simples, presente a maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional. Para ser elaborada, passa a lei ordinária pelas seguintes fases: iniciativa, aprovação, sanção, promulgação e publicação; • lei delegada – é aquela elaborada pelo Poder Executivo por delegação do Poder Legislativo. Refletem, sem dúvida, a contemporânea tendência do Direito Público quanto à admissibilidade de o Legislativo delegar ao Presidente da República poderes para elaboração de leis em casos expressos. Comparam-se às leis ordinárias, pelas quais podem ser alteradas ou revogadas; • medida provisória – é emanada pelo Poder Executivo, com força de lei e validade por 60 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período. Assim, a vigência máxima das medidas provisórias é de 120 dias. Tais normas devem ser, nesse prazo, apreciadas pelo Poder Legislativo, a fim de serem transformadas em lei ordinária ou revogadas. A medida provisória não apreciada pelo Poder Legislativo em 120 dias perde sua eficácia por decurso de prazo; e • decreto e resolução – normas que regulamentam disposições previstas em lei. Ambos são redigidos por autoridades administrativas competentes. É importante destacar que, antes da Constituição de 1988, havia a figura do decreto-lei, que era o ato normativo emitido unicamente pelo chefe do Poder Executivo, sem a necessidade de referendo do Congresso. Com a atual Constituição, essa figura foi extinta. Contudo, aqueles decretos-lei cujo conteúdo não contraria a atual Constituição Federal permanecem válidos e são tidos como recepcionados constitucionalmente. O SEGURO NO BRASIL Generalidades sobre o Seguro A expectativa do acontecimento de determinados riscos tornou praticamente imperativa uma atitude de constante prevenção, que veio a ser conhecida como previdência. No curso da história da civilização, várias técnicas de proteção social da pessoa humana contra eventuais contingências foram concebidas, mas nenhuma delas se mostra tão eficiente quanto o seguro, que, diante da incerteza sobre o que o futuro nos reserva, da precariedade da vida humana e da indefinição sobre a sua duração, bem como da possibilidade de destruição dos bens materiais que possuímos, surgiu para proporcionar a cobertura de determinados riscos. O mutualismo constitui a base do seguro. Sem a cooperação de uma coletividade, seria impossível para cada indivíduo suportar os prejuízos isoladamente. Curiosidade O incremento da atividade seguradora no Brasil ocorreu na mesma época da abertura dos portos para o comércio internacional por ato de D. João VI, que, em 1808, autorizou o funcionamento da primeira companhia seguradora brasileira, a Companhia de Seguros Boa-Fé, com sede na Bahia. DIREITO DO SEGURO16 O auxílio de muitos para suprir as necessidades de poucos ameniza as consequências danosas e fortalece o grupo. É o amadurecimento do conceito de solidariedade. Diz Pedro Alvim: “O seguro nasceu, portanto, de uma necessidade econômica, provocada pela instabilidade das coisas humanas. A partir daí nasce a finalidade primordial do seguro, a sua feição mais característica: a previdência.” (ALVIM, Pedro. O contrato de seguro) O mesmo autor nos ensina que a previdência nada mais é do que a “fonte de inspiração de todos os processos imaginados para prevenir ou suavizar os efeitos negativos do risco para o patrimônio, a saúde ou a própria vida”. O contrato de seguro surgiu para formalizar as relações entre o segurado, a seguradora e, ainda em outros casos, também entre esses e outras figuras como o estipulante e o beneficiário. FIXANDO CONCEITOS 1 17 Anotações: Fixando Conceitos 1 MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA [1] O Direito é caracterizado por um conjunto de regras obrigatórias chamadas: (a) Normas jurídicas. (b) Condutas legais. (c) Normas morais. (d) Fenômenos sociológicos. (e) Sanções. [2] O conjunto de repetidas decisões judiciais dos tribunais sobre certa matéria, criando precedentes que podem ser aplicados a casos semelhantes, denomina-se: (a) Doutrina. (b) Costume. (c) Subjetiva. (d) Lei. (e) Jurisprudência. [3] A Constituição Federal somente pode ser alterada por meio de: (a) Decreto. (b) Lei ordinária. (c) Emenda. (d) Lei delegada. (e) Medida provisória. DIREITO DO SEGURO18 Anotações: Fixando Conceitos 1 [4] É correto definir o Direito como sendo: (a) O ato de elaborar leis pelo Congresso Nacional. (b) O conjunto de reiteradas decisões dos Tribunais sobre determinada matéria. (c) Um complexo de normas reguladoras da conduta humana com força coercitiva. (d) Um conjunto normativo advindo do Congresso Nacional devidamente sancionado pelo Presidente da República. (e) O uso geral ou a prática reiterada de determinada conduta, de maneira uniforme e constante, pelos membros da comunidade. [5] A norma legal infraconstitucional emanada pelo Poder Executivo, com Anotações: força de lei e validade por 60 dias, prorrogável uma única vez por igual período, é o(a): (a) Lei complementar. (b) Constituição Federal. (c) Medida provisória. (d) Lei ordinária. (e) Decreto. [6] O Direito é um(a): (a) Ciência humana. (b) Ciência social. (c) Ciência exata. (d) Conjunto de regras morais. (e) Lei. UNIDADE 2 19 O CONTRATO DE SEGURO22 Após ler esta unidade, você deve ser capaz de: • Entender o que é o contrato de seguro e identificar seus elementos, suas partes, seus instrumentos e suas principais características. • Compreender as obrigações dos contratantes. • Distinguir as garantias concedidas nos Seguros de Danos e de Pessoas. DIREITO DO SEGURO20 UNIDADE 2 21 CONCEITO LEGAL DO CONTRATO DE SEGURO O artigo 757 do Código Civil busca conceituar o contrato de seguro, permitindo identificar os principais elementos que o compõem: “Art. 757. Pelo contrato de seguro o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.” Inicialmente, estudaremos os cinco elementos que compõem o contrato de seguro. Em seguida, identificaremos quem são as partes que integram do contrato e trataremos das obrigações dessas partes. Depois, conheceremos as principais características desse contrato, bem como seus principais instrumentos. ELEMENTOS DO CONTRATO DE SEGURO O contrato de seguro é constituído de cinco elementos: o risco, o interesse segurável, a garantia, o prêmio e a empresarialidade. Risco O risco é a causa do contrato de seguro, já que o proponente recorre à seguradora com a finalidade de reduzir ou eliminar as consequências negativas que possamser experimentadas em razão de sua ocorrência. O risco deve ser um evento possível, futuro, incerto ou de data incerta, e que não depende somente da vontade das partes. A possibilidade significa que o risco deve ser algo sujeito a se manifestar no plano físico. O risco deve ser futuro, porque o seguro, via de regra, não admite a cobertura de eventos verificados antes da celebração do contrato. O Código Civil prevê que a seguradora que, ao tempo do contrato, sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende cobrir e, apesar disso, chega a expedir a apólice pagará em dobro o prêmio estipulado (artigo 773). Estabelece, ainda, que não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada quando não declarado pelo segurado (artigo 784). Portanto, somente como exceção prevista em lei se pode admitir a cobertura de riscos já decorridos quando da celebração do contrato de seguro. DIREITO DO SEGURO22 Acrescente-se que a noção de risco está claramente vinculada à de interesse segurável ou segurado, já que é necessário que o proponente/segurado tenha interesse legítimo em minorar ou eliminar as perdas que possam advir pela verificação do risco. O contrato de seguro deve especificar claramente os riscos cobertos, indicando, para isso, as coberturas (garantias) contratadas. Também os riscos excluídos (coberturas ou garantias) não contratados devem, igualmente, aparecer em destaque. A obrigação da seguradora somente abrange aqueles riscos expressamente contratados, que devem ser limitados e particularizados nas condições (cláusulas) do contrato de seguro, não se obrigando por outros (artigos 757 e 760 do Código Civil). Nos Seguros de Danos, o risco compreenderá todos os prejuízos resultantes ou consequentes das providências adotadas pelo segurado para evitar o sinistro, minorar o dano ou salvar a coisa (artigo 779 do Código Civil). Interesse Segurável O interesse segurável é o objeto do contrato de seguro, pois é sobre ele que recai a garantia. Pela “teoria da necessidade”, é indispensável que aquele que propõe a contratação do seguro tenha interesse concreto – o qual deve ser sempre legítimo e, em alguns casos, também econômico – em prevenir os danos ou perdas que possam afetar o bem sobre o qual recai o risco. Nos Seguros de Pessoas, todavia, o Código Civil admite que o interesse seja presumido em certos casos (art. 790, parágrafo único, do Código Civil). O interesse não é uma coisa, mas, sim, a relação existente entre o segurado e a coisa ou pessoa sujeita ao risco. Embora não coincida com a própria coisa a ser segurada, o interesse deve corresponder a um bem que esteja exposto a risco, ou seja, que possa desaparecer ou deteriorar-se (como é o caso, por exemplo, de mercadorias transportadas), perder-se, extinguir-se ou sofrer limitações (a exemplo do que ocorre com a vida e as faculdades humanas), ou, até mesmo, a um fato que pode não se realizar (como ocorre, por exemplo, nos seguros de crédito ou de garantia de obrigações contratuais). Garantia É o terceiro elemento do contrato e consiste na obrigação da seguradora com relação à proteção do interesse legítimo do segurado: ela deve assegurá-la. O limite dessa garantia deve estar previsto no contrato, na forma do artigo 760 do Código Civil. A prestação que corresponde à garantia somente deve ser entregue se o segurado não estiver em mora (atraso) no pagamento do prêmio quando ocorrer um sinistro coberto. UNIDADE 2 23 Prêmio O prêmio é o quarto elemento do contrato de seguro e consiste na obrigação daquele que contrata o seguro para fazer jus à garantia que pretende obter da seguradora. Para fixação do prêmio, além de serem considerados o risco, a importância segurada e a duração do seguro, são utilizados, também, elementos estatísticos e financeiros. A seguradora, ao aceitar a proposta de seguro, leva em conta as informações prestadas pelo proponente para definir a taxa do prêmio, que considera, portanto, apenas os riscos e as coberturas que a seguradora pretende assumir. A falta de seu pagamento nas condições legais e contratualmente estabelecidas gera a perda do valor segurado, na forma do artigo 763 do Código Civil. Entretanto, a aplicação desse dispositivo deve ser feita com muito cuidado, pois há situações excepcionais em que o inadimplemento do prêmio não acarretará a perda do direito à indenização ou capital segurado. O prêmio pode ser classificado como: • contributário – quando pago exclusivamente pelo segurado. Exemplo: seguro contratado por uma empresa para seus empregados, sendo que a totalidade do prêmio é paga pelos empregados; • parcialmente contributário – quando pago pelo segurado e pelo estipulante na proporção que for ajustada. Exemplo: seguro contratado por uma empresa para seus contratados, sendo parte do prêmio paga pelos funcionários e parte pela empresa; e • não contributário – quando o segurado não tem responsabilidade ou o ônus do pagamento. Exemplo: seguro contratado por uma empresa para seus empregados, sendo a totalidade do prêmio paga pela empresa. Empresarialidade Trata-se do quinto elemento do contrato. Significa que a seguradora deve ser, necessariamente, uma entidade legalmente autorizada a exercer a atividade seguradora, ou seja, deve ser uma pessoa jurídica (art. 757, parágrafo único, do Código Civil). O artigo 24 do Decreto-Lei no 73/66 já se referia a esse elemento ao colocá-lo como condição para o exercício da atividade securitária no país, prevendo que somente podem operar em seguros privados as sociedades anônimas e as cooperativas. O mesmo decreto-lei aponta as sociedades seguradoras como integrantes do Sistema de Seguros Privados, disciplinando a forma da autorização para o seu funcionamento, estabelecendo critérios para suas operações e fixando o regime de sua fiscalização e liquidação. DIREITO DO SEGURO24 PARTES DO CONTRATO DE SEGURO Proponente É o titular do interesse legítimo segurável, relativo a pessoa ou coisa. Deve ser plenamente capaz de exercer os atos da vida civil para que possa assinar a proposta de seguro, sob pena de nulidade ou anulabilidade. O proponente pode acumular a condição de segurado, de beneficiário e de estipulante. Segurado É a pessoa física ou jurídica sobre quem recai o risco. Pode, ou não, ser o proponente do seguro. Pode, também, acumular a condição de estipulante ou de beneficiário. Seguradora É a empresa legalmente constituída sob a forma de sociedade anônima que concede a garantia. Beneficiário É aquele em favor de quem se institui a garantia. Pode ser pessoa física ou jurídica. Estipulante É a pessoa física ou jurídica que contrata seguro por conta de terceiros, equiparando-se, por isso, ao segurado para efeito de celebração e de manutenção do contrato. Pode, eventualmente, acumular a condição de beneficiário. O estipulante representa os interesses do grupo segurado perante a seguradora. De acordo com o artigo 2o da Resolução CNSP no 107, de 16/01/2004, é expressamente vedada a atuação, como estipulante ou subestipulante, de corretoras de seguros, bem como seus respectivos sócios, dirigentes, administradores, empregados, prepostos ou representantes, corretores autônomos, sociedades seguradoras, bem como seus dirigentes, administradores, empregados, prepostos ou representantes. A vedação não se aplica quando a estipulação, por tais pessoas, for feita na condição de empregadores em favor de seus empregados. UNIDADE 2 25 OBRIGAÇÕES DAS PARTES A obrigação assumida por aquele que contrata o seguro é a de pagar o prêmio, e a obrigação assumida pela seguradora é a de conceder a garantia. Estudaremos essas obrigações, detalhadamente, a seguir. Pagamento do Prêmio A obrigação de pagar o prêmio éassumida por aquele que contrata o seguro, ou seja, o proponente. Normalmente, essa obrigação incumbe ao segurado, já que, via de regra, o seguro é contratado pela própria pessoa sobre a qual recai o risco de que ela pretende se proteger por meio seguro. No entanto, há casos em que uma pessoa pode deter interesse legítimo em contratar seguro para proteção contra um risco que recai sobre outra pessoa ou sobre o patrimônio de outra pessoa. Nesse caso, a obrigação de pagar o prêmio é da pessoa que propôs a contratação do seguro e pode, eventualmente, acumular a condição de beneficiária. Já nos seguros estipulados por uma pessoa física ou jurídica (e não importando se o seguro é totalmente contributário, parcialmente contributário ou não contributário), a obrigação de repassar o prêmio à seguradora é do estipulante, que representa o grupo segurado na forma do § 1o do artigo 801 do Código Civil. O Código Civil trata da obrigação de pagamento do prêmio no artigo 763: “Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.” Assim, em princípio, na hipótese de o sinistro ocorrer em uma data na qual o pagamento do prêmio não esteja em dia, segurado ou beneficiário não terão direito à indenização ou capital. Contudo, a interpretação e a aplicação desse artigo serão objeto, neste manual, de seção específica: “Mora do Segurado”. É importante esclarecer que o fato de o risco não se verificar no curso da vigência da garantia não afasta a obrigação de pagamento do prêmio, a não ser que o contrário tenha sido ajustado entre as partes ou esteja previsto em lei especial. É o que estabelece o artigo 764 do Código Civil: “Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio.” Tal dispositivo legal protege o segurador em função da própria natureza do negócio, tendo por resultado final a proteção do grupo segurado. Pelo princípio do mutualismo, mesmo que o risco não se verifique em razão do segurado, o prêmio servirá para indenizar outros segurados integrantes do grupo. Desta forma, não se justifica, em hipótese alguma, a recusa de seu pagamento ou devolução. DIREITO DO SEGURO26 O artigo 758 do Código Civil prevê que o comprovante de pagamento do prêmio, na falta da apólice ou do bilhete, serve para provar a existência do contrato de seguro: “Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.” Neste artigo, a lei aumenta a possibilidade do consumidor de provar a existência do contrato de seguro, além da apólice ou do bilhete, através de qualquer documento que comprove o pagamento do prêmio. Na realidade, a lei cria apenas uma presunção relativa de existência do contrato de seguro, que pode ser afastada por prova em contrário. Nesse sentido, a interpretação do artigo mencionado deve ser feita em conjunto com a Circular SUSEP no 251/04. O artigo 8o dessa circular prevê que somente os contratos de seguro cujas propostas tenham sido recepcionadas com adiantamento de valor pelo proponente terão início de vigência a partir da recepção da proposta pela seguradora, com a exceção de algumas hipóteses citadas na mesma circular. Nada impede, no entanto, que a seguradora prove que recusou a proposta, dentro dos prazos estabelecidos no artigo 2o da Circular SUSEP no 251/04, de que restituiu ao proponente, na forma do § 3o do artigo 8o, o valor do prêmio que havia sido pago e de que o sinistro ocorreu depois disso. Em se tratando de Seguros de Danos, a seguradora deverá comprovar, também, que o sinistro ocorreu depois do prazo mencionado no §2o do artigo 8o da Circular SUSEP no 251/04. Com isso, fica afastada a presunção de existência do contrato de seguro que decorre do comprovante do pagamento do prêmio. A presunção de existência do contrato de seguro que decorre da exibição do comprovante do pagamento do prêmio pode ser afastada, ainda, no caso de a seguradora provar que o prêmio foi pago por meio de cheque não compensado. Concessão da Garantia A obrigação que a seguradora assume no contrato de seguro consiste em conceder uma garantia em prazo e condições que serão estabelecidos pelas partes. Todavia, o Código Civil traz algumas disposições específicas sobre o tema. Garantia nos Seguros de Danos Nos Seguros de Danos, a prestação que vai representar a concessão da garantia pela seguradora, no caso de um sinistro coberto, pode se caracterizar pelo pagamento de uma indenização ou pela reposição da coisa, se prevista no contrato: “Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa.” A prestação devida pela seguradora, na ocorrência de sinistro coberto, consiste, a rigor, no pagamento de determinado valor. UNIDADE 2 27 Excepcionalmente, o Código Civil autoriza a reposição da coisa segurada, possível apenas nos Seguros de Danos, desde que prevista em cláusula contratual. Quando o contrato de seguro for de adesão, a reposição da coisa, se prevista em cláusula contratual, deve contar com a concordância do segurado no momento da regulação. O valor da garantia concedida pela seguradora, também, não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da celebração do contrato (“conclusão do contrato”), sob pena da perda do direito ao valor do seguro pelo segurado. É o que prevê o artigo 778 do Código Civil, que veda o chamado sobresseguro: “Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber.” Tal fato vem corroborar a máxima de que o objetivo do seguro não é o de enriquecer o segurado, mas, sim, assegurar a reposição do interesse segurável ou uma compensação por sua avaria ou perda. Essas vedações decorrem do chamado princípio indenitário, típico dos Seguros de Danos, que consiste na noção de que o segurado deve receber da seguradora indenização que permita a recomposição do estado anterior (status quo ante) do seu patrimônio. Portanto, o segurado não deve receber indenização superior ao seu efetivo prejuízo. Existe uma exigência de caráter técnico que justifica tal medida. Trata-se do princípio do mutualismo, viabilizado através da aplicação da lei dos grandes números, determinando que cada componente do grupo efetue um pequeno pagamento. Tal contribuição é somada a centenas ou milhares de outras, objetivando a satisfação de prejuízos comuns a qualquer grupo. Portanto, não é possível o pagamento que exceda o valor dos prejuízos ocorridos. Excepcionalmente, é admitida a contratação do seguro por um percentual estimado do valor do interesse segurável, permitindo um ajuste do valor da garantia para mais ou para menos. Nos Seguros de Automóveis, o valor da garantia pode ser fixado com base num percentual sobre o valor do bem calculado por uma determinada instituição. Exemplo disso são os Seguros de Automóveis cuja garantia pode ser fixada entre 90% e 110% da tabela divulgada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). De acordo com o artigo 779 do Código Civil, a garantia deve, necessariamente, abranger os prejuízos que o segurado sofrer para evitar o sinistro, minorar o dano ou salvar a coisa: “Art. 779. O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.” Este artigo traça norma de natureza técnica, determinando a abrangência da cobertura. Assim, acobertura alcançará também os prejuízos oriundos das despesas no sentido de se evitar o sinistro, quando possível, ou reduzir a extensão do dano, já que o objetivo foi salvar a coisa. Finalmente, nos Seguros de Responsabilidade Civil, a garantia deve abranger as perdas e danos que o segurado causou a terceiro na forma do artigo 787 do Código Civil, conforme será estudado oportunamente. DIREITO DO SEGURO28 Garantia nos Seguros de Pessoas Nos Seguros de Pessoas, a prestação que representará o cumprimento da obrigação da seguradora corresponderá a um capital, fixado no contrato, cujo caráter não é indenizatório, mas meramente compensatório, já que a vida e as faculdades humanas são inapreciáveis economicamente. O proponente tem a liberdade de fixar o valor da garantia e de contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com a mesma ou com mais de uma seguradora (artigo 789 do Código Civil). Todavia, o exercício desses direitos deve observar a boa-fé. Nos Seguros de Pessoas, o capital segurado que representa a garantia não pode ser consumido pelas dívidas do beneficiário nem integrar o inventário do segurado falecido, por não constituir herança, conforme estabelece o artigo 794 do Código Civil: “Art. 794. No Seguro de Vida ou de Acidentes Pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.” Este artigo expressa a finalidade do seguro, sua importância e os valores a ele relativos. Determina que o capital segurado não responderá por dívidas, não sendo considerado herança. Fica aqui caracterizada a finalidade social do contrato de seguro, pois será o único valor, decorrente da morte do segurado, que o beneficiário receberá livre de qualquer desconto. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE SEGURO No Direito Civil brasileiro, os contratos se classificam em: unilaterais ou bilaterais; onerosos ou gratuitos; comutativos ou aleatórios; nominados ou inominados; consensuais ou reais; solenes ou não solenes; e de adesão. O contrato de seguro é classificado, por sua natureza jurídica, em: Bilateral O contrato de seguro é bilateral porque gera obrigações para ambas as partes. A obrigação da seguradora é de garantia, e a do proponente é de pagamento do prêmio. O não cumprimento (inadimplemento) da obrigação por uma das partes, ao menos como regra, impede que a mesma exija da outra o cumprimento da obrigação que lhe compete. Oneroso O contrato de seguro é oneroso porque ambas as partes almejam um benefício. O proponente busca uma garantia, que se traduz na proteção de um interesse legítimo contra determinados riscos. A seguradora almeja o recebimento do prêmio com o qual formará o fundo comum destinado a saldar a prestação correspondente à garantia. UNIDADE 2 29 Aleatório O contrato de seguro é aleatório porque não há correspectividade entre as prestações das partes, relacionadas às obrigações que assumiram. Quando da celebração do contrato, enquanto a seguradora tem a certeza de que receberá o prêmio do segurado, este último (ou o beneficiário por ele designado) não tem a certeza de que receberá a indenização ou capital segurado, pois tal prestação (que materializa a obrigação da seguradora) só se verificará na hipótese de ocorrer um sinistro coberto. Solene O contrato de seguro é solene porque o consentimento das partes deve ser dado na forma prescrita pela lei. Em geral, esse consentimento é manifestado de forma escrita: o proponente apresenta proposta em formulário impresso, preenchido e assinado, e a seguradora manifesta sua aceitação mediante a emissão do bilhete, certificado ou apólice. O consentimento da seguradora no sentido de aceitar a proposta poderá, igualmente, prescindir da forma escrita. Isto ocorrerá quando a seguradora deixar decorrer, sem manifestação formal, o prazo estabelecido nas normas regulamentares para aceitar ou recusar a proposta. O decurso desse prazo sem manifestação da seguradora acarretará a aceitação. Consensual Contratos consensuais são os que se formam com a simples anuência das partes, não se exigindo nenhuma outra formalidade. O contrato de seguro é consensual porque a manifestação de vontade de ambas as partes, no mesmo sentido, faz surgir o contrato. Assim, a apresentação da proposta pelo próprio segurado (ou um terceiro), somada à aceitação dela pela seguradora, configura o vínculo contratual. Nominado O contrato de seguro é nominado (ou típico) porque se trata de espécie de contrato regulamentada pela legislação. Adesão O contrato de seguro é contrato de adesão, pois a seguradora, na maioria dos casos, redige unilateralmente as cláusulas e as submete à aprovação do órgão regulador competente, restando ao proponente aderir ao seu conteúdo. A exceção ocorre nos seguros de grandes riscos, nos quais as partes, em razão da complexidade do risco e do envolvimento econômico do interesse segurável, discutem e ajustam conjunta e previamente as cláusulas contratuais. DIREITO DO SEGURO30 INSTRUMENTOS CONTRATUAIS Proposta É o instrumento pelo qual o proponente manifesta, perante a seguradora, a sua vontade de contratar o seguro. Nesse documento, o proponente deve descrever o mais detalhadamente possível o interesse segurável e os riscos a que está sujeito, conforme estabelece o artigo 759 do Código Civil: “Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.” As informações constantes da proposta, sejam aquelas previamente impressas no formulário pela seguradora, sejam aquelas prestadas pelo proponente, integram o contrato de seguro. A proposta é um instrumento poderoso para a adequada seleção de risco pelo segurador, pois pode ser acompanhada de questionário de avaliação de risco. Nos Seguros de Automóveis, por exemplo, o questionário de avaliação de risco é conhecido como “perfil”. Nos Seguros de Pessoas, o questionário de avaliação de risco é chamado de “declaração de saúde e atividade”. A proposta não precisa, necessariamente, ser assinada pelo proponente. Pode ser assinada pelo corretor de seguros ou pelo representante legal do proponente, conforme o artigo 13 da Lei no 4.594/64, o artigo 9o do Decreto-Lei no 73/66 e o artigo 1o da Circular SUSEP no 251/04: Lei no 4.594/64: “Art. 13. Só ao corretor de seguros devidamente habilitado nos termos desta lei e que houver assinado a proposta deverão ser pagas as corretagens admitidas para cada modalidade de seguro, pelas respectivas tarifas, inclusive em caso de ajustamento de prêmios.” Decreto-Lei no 73/66: “Art. 9o. Os seguros serão contratados mediante propostas assinadas pelo segurado, seu representante legal ou por corretor habilitado, com emissão das respectivas apólices, ressalvado o disposto no artigo seguinte.” Circular SUSEP no 251/04: “Art. 1o. A celebração ou alteração do contrato de seguro somente poderá ser feita mediante proposta assinada pelo proponente, seu representante legal ou por corretor de seguros habilitado, exceto quando a contratação se der por meio de bilhete.” (Redação publicada no D.O.U., S.I., p.17, de 10/05/04) Já o questionário de avaliação de riscos deve, necessariamente, ser preenchido e assinado pelo segurado, única pessoa capaz de prestar de forma verdadeira e completa as informações solicitadas pela seguradora por meio desse documento. A Lei no 4.594/64 regula a profi ssão de corretor de seguros. Todo profissional que atue em corretagem de seguros deve conhecer essa lei. www.planalto.gov.br Vale a pena ler na íntegra Circular SUSEP no 251/04 – dispõe sobre a aceitação da proposta e sobre o início de vigência da cobertura nos contratos de segurose dá outras providências. www.susep.org.br UNIDADE 2 31 As declarações inexatas, se resultarem de má-fé do proponente, do corretor ou de seu representante legal, podem implicar a perda do direito ao valor do seguro, conforme o artigo 766 do Código Civil, dispositivo a ser estudado oportunamente. A seguradora dispõe de um prazo específico para se manifestar sobre a proposta. O artigo 2o da Circular SUSEP no 251/04 aborda tal prazo, que é de 15 dias contados a partir da data do recebimento da proposta, seja para seguros novos ou renovações, bem como para alterações que impliquem modificação do risco. O § 5o daquele artigo reduz o prazo para sete dias quando se tratar de contrato de Seguro do Ramo Transportes, cuja cobertura se restrinja a uma viagem apenas. O prazo para a seguradora se manifestar sobre a proposta admite suspensão na forma dos parágrafos 1o a 3o do mencionado artigo. De acordo com o § 4o, ficará a critério da seguradora a decisão de informar, ou não, por escrito, ao proponente, ao seu representante legal ou ao corretor de seguros sobre a aceitação da proposta. Contudo, em se tratado de recusa, deve haver comunicação formal e justificada. Decorrido o prazo para manifestação sem que a seguradora se manifeste, tal silêncio implicará a aceitação tácita, conforme se infere do § 6o do referido artigo, bem como do artigo 432 do Código Civil. Com base nessas premissas, o artigo 4o da mesma circular define a data em que a proposta é considerada aceita: Art. 4o. A data de aceitação da proposta será: I – aquela em que a sociedade seguradora se manifestar expressamente, observados os prazos previstos no artigo 2o desta Circular; II – a de término dos prazos previstos no artigo 2o desta Circular, em caso de ausência de manifestação formal, por parte da sociedade seguradora. Os Seguros de Danos e os Seguros de Pessoas com cobertura de risco submetem-se a essa sistemática, uma vez que as Circulares SUSEP no 256/04 e 302/05 não tratam do tema. É importante mencionar que os seguros contratados por meio de bilhete dispensam a proposta escrita, como, por exemplo, o Seguro DPVAT. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados na contratação do seguro, sobretudo no que diz respeito aos negócios jurídicos. DIREITO DO SEGURO32 O contrato é um negócio jurídico e requer, para sua validade, a observância dos requisitos do artigo 104 do Código Civil: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei. Sendo o contrato um negócio jurídico bilateral, a vontade das partes é, também, um requisito para sua validade. Para que a manifestação de vontade das partes seja válida, é indispensável que elas tenham capacidade de fato. A capacidade de fato é a aptidão da pessoa para exercer seus direitos na vida civil por si mesma, sem necessidade de assistência ou de representação por um terceiro. Uma vez que o exercício dos direitos (capacidade de fato) pressupõe que a pessoa tenha consciência e vontade para tanto, a lei exige que o exercício dos direitos por determinadas pessoas se verifique com a observância de certas formalidades. Dispõe o artigo 5o do Código Civil Brasileiro: “Art. 5o. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.” Desta forma, as pessoas que firmarem a proposta, bem como os corretores de seguro, para exercerem suas atividades, deverão ser pessoas maiores e capazes. No tocante às pessoas jurídicas, a proposta de seguro deve ser assinada por quem tenha poderes para administrá-la (artigo 47 do Código Civil). Considerando que a contratação por pessoa jurídica de Direito Público dispensa a intermediação de corretor, interessa, para efeito deste estudo, a pessoa jurídica de Direito Privado. Os atos constitutivos da pessoa jurídica de Direito Privado (contrato ou estatuto social) indicam quem são os seus administradores, estabelecendo os limites dos poderes que lhes são outorgados. Apólice A apólice, a exemplo do bilhete, é emitida pela seguradora para formalizar a aceitação da proposta e, consequentemente, a contratação do seguro. Por isso é que o artigo 758 do Código Civil prevê que a apólice é um dos meios de provar a existência do contrato de seguro: “Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.” A existência da apólice de seguro, portanto, presume a existência do contrato de seguro e, por conseguinte, de garantia na vigência nela especificada. Contudo, essa presunção é relativa e pode ser afastada, por exemplo, no caso de a seguradora provar que o contrato de seguro foi cancelado antes do prazo previsto para término de sua vigência por determinado motivo. UNIDADE 2 33 O artigo 760 do Código Civil estabelece que a apólice deve ser nominativa, à ordem ou ao portador: “Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. Parágrafo único. No Seguro de Pessoas, a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador.” A apólice nominativa é aquela que contém o nome do segurado e, quando for o caso, do beneficiário por ele indicado. A apólice à ordem contém o nome do segurado, e a cláusula à ordem permite que ela seja transferida pelo segurado a terceiro, mas somente pelo chamado endosso em preto, que é aquele datado e feito com assinatura do endossante e do endossatário (conforme o § 2o do art. 785 do Código Civil). A apólice ao portador é aquela que confere os direitos por ela garantidos a quem a portar, ou seja, a possuir. A emissão de uma apólice à ordem ou ao portador deve ser objeto de acordo entre o proponente e a seguradora. Se a apólice é emitida à ordem ou ao portador, a sua transmissão implica a transferência do crédito decorrente da garantia. É importante observar que o artigo mencionado veda a emissão de apólices ou bilhetes ao portador nos Seguros de Pessoas. O mesmo dispositivo prevê que a apólice deve conter informações essenciais: riscos assumidos; o início e o fim de sua validade; o limite da garantia e o prêmio devido; e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. O artigo 761 do Código Civil deixa claro que, quando houver cosseguro, a apólice deverá conter as informações sobre ele e informar o nome da seguradora que administrará o contrato: “Art. 761. Quando o risco for assumido em cosseguro, a apólice indicará o segurador que administrará o contrato e representará os demais, para todos os seus efeitos.” O cosseguro é uma forma utilizada pelo segurador para a pulverização do risco que lhe foi transmitido pelo segurado. Sob a ótica do segurado, ele estará contratando com várias seguradoras ao mesmo tempo, ficando configurada a divisão de responsabilidades entre várias companhias. A apólice também deve estar acompanhada das suas condições, ou seja, das cláusulas que regem o contrato de seguro. As condições de apólice se dividem em condições gerais, que se referem aos ramos de seguro; condições especiais, que se referem às modalidades do ramo; e condições particulares, que dispõem sobre ajustes específicos feitos entre segurado e seguradora. As condições particulares estão presentes, via de regra, nos seguros de médios e grandes riscos. Isto é básico Verifica-se o cosseguro quando duas ou mais sociedades seguradoras, em determinada apólice e com a anuência do segurado, distribuem percentualmente o risco entre si. Cada seguradora responderá por sua cota-parte no pagamento da indenização securitária na proporçãodo risco que assumiu. DIREITO DO SEGURO34 Assim, as cláusulas das condições particulares prevalecem sobre as das condições especiais. As cláusulas das condições especiais, por sua vez, prevalecem sobre as cláusulas das condições gerais. As condições de apólice não devem contrariar as normas legais nem as regulamentares e precisam ser previamente aprovadas pelo órgão regulador competente. Endosso ou Aditivo São instrumentos contratuais utilizados em função da necessidade de se modificarem dispositivos contratuais, de se acrescentarem dispositivos novos ou de se incluírem bens na cobertura. O endosso ou aditivo é utilizado para formalizar modificações, correções ou acréscimos na apólice. Exemplos: substituição de um veículo segurado, aumento da importância segurada, alteração de um dado pessoal do segurado. Averbação A averbação é o instrumento típico das apólices denominadas abertas ou de averbação e é usada para individualizar detalhes variáveis sobre o risco. Nos seguros de transportes, por exemplo, por meio da apólice aberta, o segurado faz as averbações dos embarques realizados, agilizando, deste modo, a contratação do seguro. Pode ser provisória ou definitiva. Bilhete O artigo 10 do Decreto-Lei no 73/66 autoriza a contratação de seguros por simples emissão de bilhete mediante solicitação do interessado. Contudo, cabe ao Conselho Nacional de Seguros Privados, órgão encarregado de estabelecer a Política Nacional de Seguros Privados, regulamentar as hipóteses em que se admite a contratação de seguro por bilhete, padronizando as suas cláusulas e os impressos necessários: “Art. 10. É autorizada a contratação de seguros por simples emissão de bilhete de seguro, mediante solicitação verbal do interessado. § 1o O CNSP regulamentará os casos previstos neste artigo, padronizando as cláusulas e os impressos necessários.” Exemplos de seguros contratados por bilhete: Danos Pessoais causados por Veículos Automotores Terrestres – DPVAT –, Acidente Pessoal Individual e Incêndio Residencial. O bilhete, a exemplo da apólice, é emitido pela seguradora para formalizar a contratação do seguro. A principal diferença é que os seguros contratados por bilhete dispensam a apresentação de proposta, bem como a emissão de apólice. O já citado artigo 758 do Código Civil prevê que o bilhete é um dos meios de provar a existência do contrato de seguro. FIXANDO CONCEITOS 2 35 Fixando Conceitos 2 Anotações: [1] MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA A pessoa física ou jurídica que contrata um seguro por conta de terceiros é o(a): (a) Beneficiário. (b) Estipulante. (c) Ressegurador. (d) Seguradora. (e) Segurado. [2] ANALISE SE AS PROPOSIÇÕES SÃO VERDADEIRAS OU FALSAS E DEPOIS MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: ( ) Nos Seguros de Danos, a garantia pode, excepcionalmente, consistir na reposição da coisa segurada. ( ) Nos Seguros de Danos, vigora a regra de que o valor da garantia concedida pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da contratação. ( ) Nos Seguros de Pessoas, a garantia tem natureza indenizatória. ( ) Nos Seguros de Pessoas, o capital segurado constitui herança. (a) V,F,V,F (b) V,F,F,F (c) F,V,F,V (d) F,V,V,F (e) F,V,V,V MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA [3] O instrumento no qual devem ser descritos para a seguradora o interesse segurável e o risco é o(a): (a) Proposta. (b) Apólice. (c) Endosso. (d) Averbação. (e) Bilhete. DIREITO DO SEGURO36 Anotações: Fixando Conceitos 2 [4] A pessoa sobre a qual recai o risco segurável é a (o): (a) Seguradora. (b) Estipulante. (c) Segurado. (d) Beneficiário. (e) Ressegurador. [5] Pelo princípio indenitário, que vigora nos Seguros de Danos, é correto afirmar que: (a) É lícito ao segurado auferir lucro com o seguro. (b) O seguro serve como uma espécie de investimento. (c) A indenização visa à recomposição do estado anterior do patrimônio do segurado. (d) O segurado pode receber indenização superior ao prejuízo sofrido. (e) O segurado deve contratar garantia que supere o valor do interesse segurável. UNIDADE 3 37 O SEGURO E O CÓDIGO CIVIL33 Após ler esta unidade, você deve ser capaz de: • Entender que a seguradora responde apenas pelos riscos predeterminados no contrato de seguro. • Compreender a importância da boa-fé para o contrato de seguro. • Conhecer os efeitos do ato doloso praticado pelo segurado, pelo beneficiário ou por seus representantes. • Identificar a ocorrência do agravamento do risco. • Saber no que consiste a sub-rogação e quando ela ocorre. • Ter uma visão geral sobre os principais dispositivos do Código Civil aplicáveis aos Seguros de Danos e de Pessoas. DIREITO DO SEGURO38 UNIDADE 3 39 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O contrato de seguro está disciplinado de forma especial no Código Civil (Lei no 10.406/02), que contém um capítulo inteiramente dedicado a ele (artigos 757 a 802). Esta unidade divide-se em três seções: uma contendo disposições gerais aplicáveis tanto aos Seguros de Danos quanto de Pessoas (artigos 757 a 777), outra contendo disposições específicas sobre Seguros de Danos (artigos 778 a 788) e, finalmente, outra contendo disposições específicas sobre Seguros de Pessoas (artigos 789 a 802). O estudo do contrato de seguro feito a seguir é baseado, essencialmente, nesses artigos (dispositivos). DISPOSIÇÕES COMUNS AOS SEGUROS DE DANOS E DE PESSOAS Riscos Predeterminados A seleção de riscos é indispensável para o sucesso da atividade seguradora. Por esse motivo, o artigo 757 do Código Civil prevê, claramente, que a seguradora somente está obrigada a cobrir os riscos predeterminados no contrato de seguro: “Art. 757. Pelo contrato de seguro o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.” Boa-Fé na Conclusão e na Execução do Contrato de Seguro A boa-fé é um princípio que rege todos os contratos. Ela se divide em duas acepções: uma objetiva e outra subjetiva. Boa-Fé Objetiva Na sua acepção objetiva, a boa-fé desempenha várias funções. A mais importante delas corresponde a um padrão de comportamento, um modelo de conduta que deve ser observado pelos contratantes e os obriga a observar e cumprir determinados deveres. Aprenda mais sobre este assunto Estude o capítulo do Seguro no Código Civil. Leia: TEPEDINO, Gustavo (et al.). Código Civil interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. Art. 757 a 802. DIREITO DO SEGURO40 Esses deveres dividem-se, basicamente, em três grupos: • deveres de informação e esclarecimento. Exemplo: o dever do proponente de informar à seguradora, na proposta, tudo o que souber sobre o interesse segurável e o risco, conforme se extrai do artigo 759 do Código Civil. Se descumprir, de algum modo, esse dever de informação, o proponente estará violando a boa-fé objetiva; • deveres de lealdade e cooperação. Exemplo: o dever do segurado de cooperar com a seguradora no sentido de adotar todas as providências que estejam ao seu alcance para minorar o dano ou salvar a coisa segurada, conforme estabelece o artigo 779 do Código Civil. Se o segurado descumprir esse dever, ele estará violando a boa-fé objetiva; e • deveres de proteção. Exemplo: o dever da seguradora de proteger os dados pessoais fornecidos pelo segurado, impedindo que eles sejam indevidamente acessados por terceiros ou transferidos a estes. Se a seguradora deixar de adotar todas as medidas que estiverem ao seu alcance para, razoavelmente, evitar que isso ocorra, estará descumprindo a boa-fé objetiva.O artigo 765 do Código Civil trata, especificamente, da boa-fé objetiva no contrato de seguro e deixa claro que as partes devem considerá-la tanto no momento da celebração do contrato (fase de “conclusão”) quanto durante sua vigência, quando as partes devem cumprir suas obrigações (fase de “execução”): “Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar, na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.” A boa-fé objetiva, no contrato de seguro, é exigida com mais energia, consistência e profundidade do que em outros contratos. Isto porque, no seguro, o elemento da confiança tem maior peso, já que a seguradora aceita conceder a garantia baseada nas informações que lhe são prestadas pelo proponente sobre o interesse segurável, o objeto do contrato. Boa-Fé Subjetiva Na sua acepção subjetiva, a boa-fé contrapõe-se à noção de má-fé. De acordo com o entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência, age contrariamente à boa-fé (ou seja, age de má-fé) quem procede com dolo. O dolo consiste em manobras ou maquinações feitas com o propósito de obter uma declaração de vontade que não seria emitida se o declarante não fosse enganado por outra pessoa. UNIDADE 3 41 Assim, age dolosamente o contratante que procede de forma a enganar, iludir e prejudicar o outro contratante. Como a boa-fé deve ser presumida, quando a seguradora se recusar a pagar a indenização ou o capital segurado baseada na suspeita de má-fé do segurado ou do beneficiário, ela deverá fazer prova dessa alegação se for acionada judicialmente.1 Efeitos do Descumprimento do Dever de Informação que Influi na Aceitação da Proposta ou na Tarifação do Prêmio O artigo 766 do Código Civil estabelece as consequências para o descumprimento do dever de informação pelo segurado ou pelo seu representante no caso de a informação inexata ou omitida influir na decisão da seguradora de aceitar a proposta ou na tarifação do prêmio. “Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.” Nesse dispositivo, o legislador distinguiu, claramente, duas hipóteses e seus respectivos efeitos: • na hipótese de a omissão de uma informação ou prestação de uma informação inexata decorrer comprovadamente de má-fé do segurado ou de seu representante, o segurado perderá o direito à garantia e ficará obrigado ao pagamento do prêmio vencido; • na hipótese de a omissão ou inexatidão não decorrer de má-fé do segurado ou de seu representante (ou seja, se for fruto de um mero descuido), a seguradora, na altura em que descobrir o problema: – se ainda não tiver ocorrido um sinistro, poderá optar por resolver (ou seja, “cancelar”) o contrato de seguro, ou mantê-lo em vigor, cobrando a diferença de prêmio; e – se já tiver ocorrido um sinistro, não poderá cancelar o contrato, restando-lhe como única alternativa pagar a indenização ou capital, abatendo, do valor a ser pago, a diferença de prêmio. 1 Enunciado 372 do Conselho da Justiça Federal espelha claramente essa realidade quando prevê o seguinte: “Enunciado 372 – em caso de negativa de cobertura securitária por doença preexistente, cabe à seguradora comprovar que o segurado tinha conhecimento inequívoco daquela”. DIREITO DO SEGURO42 Ato Doloso do Segurado, do Beneficiário ou do Representante de um Deles O dever de proteção recíproco dos contratantes, derivado da boa-fé objetiva, exige do segurado, do beneficiário e dos representantes de ambos que se abstenham da prática de determinados atos. Um dos princípios típicos do contrato de seguro é o princípio do absenteísmo, segundo o qual tais pessoas devem se portar, em relação ao interesse segurado, como se seguro não houvesse. Isto significa que sua conduta deve ser no sentido de não querer, de não aumentar e de não provocar o risco. O artigo 762 do Código Civil torna nulo o contrato de seguro especificamente em relação aos atos dolosos do segurado, do beneficiário e de seus representantes: “Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.” Desse modo, os atos do segurado, do beneficiário ou de seus representantes que decorrerem de dolo direto (também chamado de dolo puro) ou de dolo indireto (também chamado de dolo eventual) irão gerar a nulidade do contrato. No dolo puro ou direto, o agente tem a intenção de alcançar o resultado danoso, ou seja, quer produzi-lo. Exemplo disso ocorre quando, nos Seguros de Pessoas, o beneficiário encomenda a terceiro a morte do segurado, fazendo-o com o propósito de receber o capital segurado por morte acidental. No dolo eventual ou indireto, o agente não tem a intenção de alcançar o resultado danoso, mas este é mencionado e, apesar disso, a pessoa se porta de maneira indiferente, ou seja, assume o risco da produção desse resultado. Exemplo disso ocorre nos Seguros de Automóveis, quando o segurado, apenas com o objetivo de cortar caminho para chegar ao seu destino, decide seguir por uma via na contramão e acaba provocando uma colisão. É importante observar que estão fora do alcance do artigo 762 do Código Civil os atos culposos, que são aqueles por meio dos quais o agente não quer alcançar o resultado danoso, mas atua com imprudência, negligência ou imperícia. • a negligência evidencia-se, usualmente, pela omissão. Relaciona-se, principalmente, com a desídia. É a ação necessária que se deixou de praticar, como, por exemplo, consertar uma marquise que está em mau estado de conservação; deixar de efetuar manutenção obrigatória em equipamentos, conforme determinação do fabricante; viajar sem fazer revisão no veículo; e demais condutas assemelhadas; • a imprudência é a ação que não deveria ser praticada. Na imprudência, o sujeito procede precipitadamente ou sem prever integralmente as consequências da ação, como, por exemplo, colocar objetos soltos no parapeito da janela de um apartamento; UNIDADE 3 43 • a imperícia é a ação praticada sem a habilidade ou competência necessária para fazê-lo, ou seja, o sujeito age ou deixa de agir com ou sem a habilidade técnica que deveria possuir como profissional habilitado (médico, motorista, engenheiro), como no caso de instalação elétrica realizada por quem não tem conhecimento de eletricidade. A prática de ato doloso pelo segurado, pelo beneficiário ou pelo representante de um deles é difícil de ser provada de forma contundente. Por isso, a jurisprudência tem admitido que a seguradora, para o fim de demonstrar que a indenização ou o capital segurado não devem ser pagos com base nesse dispositivo, utilize-se da chamada prova indiciária, consistente em fortes evidências, em flagrantes indícios de dolo.2 Agravamento do Risco O agravamento do risco caracteriza-se pela alteração do estado original de risco, ou seja, pela modificação, na vigência do contrato de seguro, da situação de risco original, isto é, presente quando da celebração do contrato. O agravamento do risco pode decorrer de vários fatores. Por exemplo, de um ato doloso ou culposo do segurado, ou, ainda, como resultado de uma conduta do segurado que não seja culposa, bem como de um fato totalmente alheio à sua vontade. O agravamento do risco é tratado nos artigos 768 e 769 do Código Civil. O artigo 768 trata do agravamento intencional dorisco: “Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.” Recente decisão do Superior Tribunal de Justiça se deu no sentido de que a intencionalidade citada no artigo está vinculada à própria ocorrência do sinistro.3 2 Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que a participação em disputa automobilística – “racha” – configura agravamento intencional do risco, por ato consciente e voluntário, ensejando a perda da cobertura securitária. (STJ REsp 1368766/RS. Recurso Especial 2012/0251038-0. Dje 06/04/2016. Disponível em: www.stj.jus.br. Acesso em 03 out. 2016). 3 Em julgamento mais recente sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça enfrentou hipótese na qual o segurado caiu de uma alta torre metálica, onde subira para ter acesso à vista panorâmica, tendo ficado paraplégico. O tribunal entendeu que não caracteriza agravamento de risco o ato do segurado que constitui “comportamento aventureiro razoável e previsível na vida das pessoas, como também acontece com escalada de árvores, pedras, trilhas íngremes, e coisas semelhantes” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 795.027/RS. Relator: Ministro Aldir Passarinho Júnior. Brasília, 18 de março de 2010. Disponível em: www.stj.jus.br. Acesso em 28 out. 2010). DIREITO DO SEGURO44 Isso significa que o agravamento do risco, na forma do artigo 768 do Código Civil, só se caracteriza quando o segurado age com dolo; portanto, com o intuito de aumentar o risco ou desencadear o sinistro. O artigo 769 do Código Civil trata do agravamento do risco decorrente de um “incidente”: “Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. § 1o O segurador, desde que o faça nos 15 dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato. § 2o A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.” Para incidência do dispositivo, o agravamento deve ser “considerável”, ou seja, aumentar substancialmente o estado original de risco. O segurado, tão logo constate o agravamento, deve comunicar o fato à seguradora. Feita a comunicação pelo segurado, a seguradora poderá, até 15 dias depois de avisada e desde que não tenha havido sinistro, optar por resolver (cancelar) o contrato, comunicando sua decisão ao segurado, ou poderá mantê-lo, caso em que deverá cobrar a diferença de prêmio. Se tiver ocorrido sinistro, a seguradora poderá descontar a diferença de prêmio da indenização. No caso de resolução (cancelamento), esta somente produzirá efeitos após 30 dias do recebimento da notificação pelo segurado. Portanto, se nesse intervalo ocorrer um sinistro, o pagamento da indenização ou capital é devido. Findo esse prazo, e se não tiver ocorrido sinistro, a resolução (cancelamento) produzirá seus efeitos, cabendo ao segurado o direito à restituição da diferença de prêmio. Se o segurado não informar o agravamento e um sinistro ocorrer, o segurado somente perderá o direito à indenização ou capital se a seguradora puder provar que o silêncio do segurado sobre o agravamento foi intencional (proposital). Contratação por Meio de Agente Autorizado da Seguradora A contratação de seguros pode ocorrer de forma direta, entre segurado e seguradora, e mediante intermediação. A contratação intermediada pode ser feita por um corretor de seguros ou por um agente autorizado da seguradora. UNIDADE 3 45 O agente autorizado da seguradora mantém com esta última uma relação contratual. Tal figura está prevista no art. 775 do Código Civil: “Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos relativos aos contratos que agenciarem.” Assim, o agente autorizado representa os interesses da seguradora, podendo intermediar operações de seguro diretamente com o segurado interessado. Esse agente autorizado pode ser pessoa física ou jurídica, e a seguradora responde solidariamente pelos atos praticados por esse representante caso ele cause dano ao segurado ou a terceiros. O agente autorizado da seguradora não se confunde, portanto, com a figura do corretor de seguros, o qual, por força do artigo 17 da Lei no 4.594/64 e de normas regulamentares, não pode ser sócio, administrador, procurador, despachante ou empregado de sociedade seguradora. Na qualidade de intermediário com total independência em relação à seguradora, o corretor de seguros deve ter em vista os interesses do proponente/segurado. Renovação Automática De acordo com o artigo 774 do Código Civil, a renovação automática (“recondução tácita”) do contrato de seguro, por força de cláusula contratual, somente poderá ocorrer uma única vez: “Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá operar mais de uma vez.” Tal norma possui como objetivo a proteção do segurado relativa ao cálculo do prêmio ou dos aspectos de mudança do risco. Dessa forma, a renovação automática por prazo indeterminado constituiria obstáculo no acompanhamento constante do risco e sua eventual modificação. Portanto, excetuados o Seguro-Saúde e os seguros celebrados por prazo indeterminado, a renovação dos demais seguros com base em cláusula de renovação automática e pelo mesmo prazo ajustado originalmente somente poderá ocorrer uma única vez e por igual prazo. Depois disso, a renovação dependerá da concordância do segurado. Mora do Segurado O artigo 763 do Código Civil estabelece o seguinte: “Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.” Esse artigo, no entanto, deve ser interpretado em conjunto com as normas regulamentares editadas pela SUSEP, que abrandam a sua aplicação quando presentes algumas condições. O artigo 7o da Circular SUSEP no 251/04 prevê que, nos contratos de seguro cujas propostas tenham sido recepcionadas sem pagamento do prêmio, o início da vigência da cobertura deverá coincidir com a data de aceitação da proposta ou com outra data acordada entre as partes. DIREITO DO SEGURO46 Assim, se antes da aceitação ocorrer um sinistro, não haverá cobertura. Porém, se depois da aceitação ocorrer um sinistro e o segurado ainda não tiver pago o prêmio apenas porque a primeira parcela ainda não venceu, haverá cobertura. Numa outra hipótese, se depois da aceitação a primeira parcela de prêmio vencer e não for paga, não haverá cobertura. As normas regulamentares estabelecem, também, situações em que haverá a chamada cobertura técnica. Exemplo disso está no § 1o do artigo 8o da mesma circular, segundo o qual, nos Seguros de Automóveis, a vigência da garantia tem início, via de regra, a partir da realização da vistoria, independentemente de ter havido pagamento do prêmio. Já quando se tratar de veículo novo, ou de renovação junto ao mesmo segurado, a vigência começa desde a recepção da proposta, independentemente de pagamento do prêmio. Nos Seguros de Danos, se a recusa da proposta ocorrer no prazo regulamentar, a cobertura prevalecerá por mais dois dias úteis, contados da data em que o proponente, seu representante ou corretor tiverem ciência formal da recusa, conforme o § 2o do artigo 8o da mencionada circular. O problema maior se situa naqueles casos em que, na vigência da garantia, o pagamento dos prêmios, que vinha sendo feito de forma regular, deixa de ocorrer. Na visão da seguradora, essa inadimplência acarreta, num primeiro momento, a chamada suspensão de cobertura, que,
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