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Cavalcante, S. N. (1999). Análise funcional na terapia comportamental - uma discussão das recomendações do behaviorismo c~1

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Serviço Público Federal 
Universidade Federal do Pará 
Centro de Filosofia e Ciências Humanas 
Curso de Mestrado em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento 
 
 
 
 
 
Análise funcional na terapia comportamental: Uma 
discussão das recomendações do behaviorismo 
contextualista. 
 
Simone Neno Cavalcante 
Orientador: Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho 
 
 
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em 
Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento, 
como requisito parcial para obtenção do título de 
Mestre em Psicologia. 
 
Belém 
1999 
 
2 
 
 29 
 
 2 91 
 
Serviço Público Federal 
Universidade Federal do Pará 
Centro de Filosofia e Ciências Humanas 
Curso de Mestrado em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento 
 
 
 
 
 
Análise funcional na terapia comportamental: Uma 
discussão das recomendações do behaviorismo 
contextualista. 
 
Simone Neno Cavalcante 
Orientador: Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em 
Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento, 
como requisito parcial para obtenção do título de 
Mestre em Psicologia. 
 Área de Concentração: Psicologia Experimental 
 
Belém 
1999 
 
3 
 
 39 
 
 3 91 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 49 
 
 4 91 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 Aos professores e colegas do Curso de Mestrado, agradeço a acolhida e o clima 
favorável ao desenvolvimento deste projeto. Ao Prof. Dr. Olavo de Faria Galvão sou 
grata pelo incentivo ao treino na redação científica, o que me proporcionou o contato 
com uma importante rede de interlocutores. À Rosângela Darwich agradeço a parceria 
imprescindível nas discussões acadêmicas durante o curso. Também sou grata à Lúcia 
Medeiros, pelas observações oportunas, e por motivos para além da Academia. 
Ao Ophir, Caio e Breno, agradeço o carinho e a paciência com que enfrentaram 
a minha ausência em diversos momentos ao longo do Mestrado, demonstrando, na 
prática, que compreendem a importância deste projeto para mim. 
Agradeço especialmente ao Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho, um talento 
incomum, com quem tive o privilégio de conviver como orientanda, exposta, assim, a 
um modelo de pesquisador raro. O produto final deste trabalho deve-se, em grande 
medida, aos seus ensinamentos e olhar crítico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 59 
 
 5 91 
 
SUMÁRIO 
 
Resumo – 6 
Abstract – 8 
Apresentação – 10 
PARTE I 
Capítulo 1 – ANÁLISE FUNCIONAL: CONCEITO E APLICAÇÃO NA 
INTERVENÇÃO CLÍNICA 
 
 
1.1 Análise Funcional e Behaviorismo Radical – 22 
1.2 Análise Funcional e Terapia Comportamental – 28 
1.3 Relações de Contingência e Análise Funcional na Terapia Comportamental - 39 
 
 
Capítulo 2 - CONTEXTUALISMO E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 
 
 
2.1 World Hyphoteses: Atitudes e instrumentos para avaliação e julgamento - 45 
2.2 A metáfora da ação no contexto – 48 
2.3 Pragmatismo, Contextualismo e Behaviorismo Radical - 55 
2.4 O debate Mecanicismo x Contextualismo – 59 
 
 
PARTE II 
Capítulo 3 - BEHAVIORISMO CONTEXTUALISTA: PROPOSIÇÕES E RELAÇÕES 
COM A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 
 
 
3.1 Behaviorismo Contextualista: Novo nome para o Behaviorismo Radical ou uma nova 
filosofia para a Análise do Comportamento? – 67 
3.2. Behaviorismo Contextualista e Contextualismo Funcional: Relações com a atividade 
clínica – 84 
 
 
Capítulo 4 - BEHAVIORISMO CONTEXTUALISTA E ANÁLISE FUNCIONAL 
4.1 Análise funcional e intervenção clínica – 90 
4.2 Behaviorismo Contextualista e análise funcional: Uma discussão no âmbito da 
problemática dos sistemas de classificação e diagnóstico - 96 
4.3 Categorias Funcionais e Análise Funcional do Comportamento - 105 
4.4 Instrumentalidade como critério na definição de modelos clínicos analítico-
comportamentais – 107 
 
 
Capítulo 5 - BEHAVIORISMO CONTEXTUALISTA: CONTRIBUIÇÕES E LIMITES 
 
 
5.1 Contextualismo e mecanicismo na Análise do Comportamento - 109 
5.2 Análise funcional e Terapia Comportamental – 115 
5.3 Categorias funcionais de classificação e diagnóstico clínico - 120 
5.4 Variabilidade e seleção do comportamento verbal: A propósito da coerência do discurso 
skinneriano e do Behaviorismo Contextualista – 123 
 
 
A TÍTULO DE CONCLUSÃO –126 
 
 
REFERÊNCIAS – 128 
 
6 
 
 69 
 
 6 91 
Simone Neno Cavalcante. Análise funcional na terapia comportamental: Uma 
discussão das recomendações do behaviorismo contextualista. Belém, 1999, 141 
páginas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará, Curso de Mestrado em 
Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento. 
RESUMO 
A análise do comportamento tem se revelado um modelo produtivo para o 
estudo das relações organismo-ambiente. Seus fundamentos são encontrados na filosofia 
behaviorista radical de B. F. Skinner, no interior da qual se elaboram o modelo de 
seleção por conseqüências para interpretar a causalidade do comportamento e a análise 
funcional como princípio investigativo do fenômeno comportamental. Ao lado do 
notável alcance de suas idéias, há quem identifique na obra de Skinner inconsistências e 
contradições de natureza teórica e filosófica. Na discussão do behaviorismo skinneriano, 
o contextualismo tem sido apresentado como útil para elucidar dificuldades e sugerir 
soluções na direção de um sistema consistente que fundamente a análise do 
comportamento. A adoção do contextualismo como referência é característica peculiar 
de um movimento contemporâneo, que tenta promover a retomada das bases analítico-
comportamentais na terapia comportamental. Na terapia verbal, a "observação clínica" é 
reconhecida como fonte legítima de informações. Mas o emprego da análise funcional 
por terapeutas comportamentais tem sido objeto de interpretações conflitantes, 
associadas a leituras também diversas dos princípios que sustentam a análise do 
comportamento fundamentada no behaviorismo radical. Considerando que a proposta 
contextualista pretende constituir-se em alternativa para a comunidade de analistas 
clínicos do comportamento, este estudo teve como objetivo examinar as soluções 
inspiradas na doutrina contextualista com vistas à redefinição da terapia 
comportamental como modelo de intervenção baseado nos princípios da análise do 
comportamento. Os objetivos específicos foram: a) caracterizar a orientação filosófica 
contextualista e sua apropriação como recurso para a superação de limitações do 
behaviorismo radical skinneriano; b) identificar como o princípio da análise funcional é 
elaborado no contexto das reflexões de behavioristas contextualistas, e c) examinar 
como este princípio aparece no debate sobre a demanda por sistemas de classificação e 
diagnóstico clínico. Paratanto, foram identificados, analisados e categorizados textos de 
analistas do comportamento sobre análise funcional e textos de behavioristas 
contextualistas sobre o caráter contextualista da análise do comportamento e sobre a 
 
7 
 
 79 
 
 7 91 
demanda por sistemas de classificação e diagnóstico clínico. A decisão de considerar 
textos de behavioristas contextualistas sobre sistemas de classificação e diagnóstico 
clínico justifica-se por ser este um tema no qual os adeptos dessa abordagem explicitam 
as concepções de comportamento e de análise funcional com as quais trabalham. Os 
resultados sugerem que a noção de comportamento defendida pelos behavioristas 
contextualistas está contemplada, em alguma medida, no modelo analítico-
comportamental, o que não ocorre com respeito à interpretação provida para a análise 
funcional. A divergência com respeito à análise funcional evidencia-se sob a forma da 
proposição, pelos behavioristas contextualistas, de construção de sistemas nomotéticos 
de avaliação e diagnóstico, funcionalmente orientados. Considera-se que a 
complexidade, variabilidade (inter e intra sujeitos) e o caráter idiossincrático das 
relações comportamentais, assumidos como princípios básicos da análise behaviorista 
radical, são preteridos, pelos behavioristas contextualistas, em favor do apelo a 
generalizações amplas da intervenção. Nas duas situações, observa-se a ênfase na 
instrumentalidade, refletindo o interesse dos clínicos na solução de problemas 
comportamentais concretos. Conclui-se que a referência ao contextualismo é útil na 
medida em que constrói um quadro interessante para a compreensão das possibilidades 
e possíveis lacunas da análise do comportamento enquanto ciência do comportamento. 
Mas a apropriação desse conjunto de princípios pelos behavioristas contextualistas não 
introduz uma interpretação original para o fenômeno comportamental, tampouco 
equaciona satisfatoriamente a relação entre as noções de comportamento e análise 
funcional com as quais opera. 
Palavras-chave: análise funcional, terapia comportamental, behaviorismo 
contextualista. 
 
8 
 
 89 
 
 8 91 
 
 
ABSTRACT 
Behavior analysis has proved to be a productive model for the study of the relations 
existing between environment and organism. One can find its fundamentals in B. F. 
Skinner´s radical behaviorist philosophy. There Skinner formulates a model based on 
selecting the consequences as a way of interpreting the causality of behavior and also 
presents functional analysis as a means to investigate the behavior phenomenon. 
Despite the remarkable ideas present on Skinner´s work, one can identify some 
theoretical and philosophical inconsistencies and contradictions on his discussion. 
Within Skinnerian behaviorism, contextualism is presented as a useful way to clarify 
some difficulties and lead to solutions geared towards a consistent system able to 
nourish behavior analysis. The adoption of contextualism as a reference is characteristic 
of a contemporary movement that aims to promote a return to behavior-analytical bases 
at behavior therapy. At verbal therapy, “clinical observation” is recognized as a valid 
source of information. Nevertheless, the use of functional analysis by behavioral 
therapists has been the object of conflicting interpretations, as a result of the diverse 
literature available on the principles that guide the behavior analysis rooted on radical 
behaviorism. Considering that the approach proposed by contextualism may become an 
alternative to a broad community of clinic behavior analysts, this study aims to examine 
the solutions inspired on the contextualist doctrine in order to redefine behavioral 
therapy as a model of intervention based on the principles of behavioral analysis. The 
specific objectives of the present work include: (a) to characterize the philosophical 
orientation of contextualism and its appropriation as a resource to overcome the 
limitations found on the radical skinnerian behaviorism; (b) to identify how the 
principle of functional analysis is elaborated within the reflections that result from 
contextualist behaviorism; and (c) to examine how that principle is discussed on the 
debate about the need for classification systems and clinic diagnosis. For that reason, 
the author identified, analyzed and categorized diverse texts produced by behavior 
analysts on the contextualist character of behavior analysis and also on the demand for a 
classifying system and clinical diagnosis. The author decided for the inclusion of the 
latter texts on this work for the contextualist behaviorists often give an explicit account 
 
9 
 
 99 
 
 9 91 
of which concepts of behavior and of functional analysis they use on their work. The 
results achieved on this work show that the contextualist behaviorists defend a notion of 
behavior based somehow on an analytical-behavioral model, which doesn’t happen with 
the interpretation provided for functional analysis. This divergence concerning 
functional analysis becomes clear as contextualist behaviorists propose the construction 
of functional-oriented nomothetic systems of evaluation and diagnosis. The complexity, 
variability (both inter and intra subjects) and the idiosyncratic character present on 
behavior relations, which are considered as basic principles by radical behaviorist 
analysis, are put aside in favor of broad general interventions. In both cases, one can 
observe the emphasis on the instrumental aspect, reflecting therefore the interests of 
clinic therapists on solving concrete behavior problems. We may conclude that any 
reference to contextualism can be useful for it helps to build up a better comprehension 
of the possibilities and possible flaws present on behavior analysis as a science. 
Nevertheless, the fact that contextualist behaviorists have embraced this set of principles 
doesn’t mean the introduction of any original interpretation to the phenomenon of 
behavior, neither does it create a satisfactory relation between the notions of behavior 
and functional analysis with which it works. 
 
 
Key-words: functional analysis, behavior therapy, contextualist behaviorism. 
 
 
 
10 
 
 109 
 
 10 91 
 
Apresentação 
 
A análise do comportamento tem se revelado um modelo produtivo para o 
estudo das relações organismo-ambiente. Os princípios básicos que descrevem essas 
relações - derivados de estudos experimentais - formam a base do aparato teórico de que 
se utilizam os analistas do comportamento na tarefa de interpretar o comportamento 
humano complexo, compreendido como o resultado de um processo de variação e 
seleção no ambiente natural e social (cf. Skinner, 1981, 1984, 1986; Catania, 1987, 
1992). 
Como sistema cultural, tem sido apontado que a análise do comportamento 
destaca-se, no universo das ciências sociais, pelo seu “caráter disciplinar”, que permite 
às suas partes integrantes formarem um conjunto coeso (Glenn, 1993), revelando uma 
“abordagem filosófica coerente aplicada à ciência”(Hawkins e Forsyth, 1997a, p.5). Ao 
lado de algumas limitações1, apresenta características positivas peculiares, a exemplo da 
“habilidade de gerar soluções para problemas resultantes do comportamento humano e 
prover métodos para avaliar tais soluções” (Glenn, 1993, p.139). As realizações neste 
campo têm alcançado um reconhecimento importante (cf. Dougherty, 1994; Dougherty, 
Nedelmann e Alfred, 1993; Hyten e Reilly, 1992) e estão plenamente documentadas na 
literatura da área. A divulgação e reflexão sobre o alcance dos métodos empregados têm 
sido importantes na medida em que “o comportamento dos participantes deve entrar em 
contingências entrelaçadas com o comportamento uns dos outros, se for para contribuir 
 
1 “a) não é institucionalizada na educação superior; b) não é suficientemente desenvolvida como profissão 
diferenciada; c) seus membros são relativamente poucos; e d) seus membros, em geral, têm deixado de 
reconhecer, analisar e lidar com as contingências políticas que afetam seu futuro profissional e o futuro de 
sua disciplina” (Glenn, 1993, p.140). 
 
11 
 
 119 
 
 11 91 
para a evolução da análise do comportamento como entidade cultural” (Glenn, 1993, 
p.135). 
A análise do comportamento tem sua origem ligada ao conjunto de idéias que 
compõem o behaviorismo radical, concebido por B. F. Skinner como a filosofia da 
ciência do comportamento (Skinner, 1969). Ao longo da obra de Skinner, o modelo de 
seleção por conseqüências, que delineia uma perspectiva particular para a explicação do 
comportamento, foi construído gradativamente (Andery, 1997; Micheletto, 1997a; 
Moxley, 1998). De acordo com este modelo explicativo, o comportamento humano - 
inclusive o complexo - seria o resultado de três níveis de variação e seleção: a 
filogênese (seleção natural); a ontogênese (condicionamento operante ou seleção por 
reforçamento) e a cultura. 
Com o modelo de seleção por conseqüências, surge, na proposta skinneriana 
para a análise do comportamento, uma nova noção de causalidade, que começa a ser 
formulada com o advento do conceito de operante, no final da década de 30. Proposto o 
conceito de comportamento operante, Skinner (1938) coloca à mostra relações entre a 
análise do comportamento e a teoria da evolução por seleção natural (cf. Michelleto, 
1997a). Assim, enquanto o comportamento respondente ou reflexo é eliciado por uma 
alteração ambiental antecedente, relações operantes são selecionadas por estímulos 
conseqüentes ao comportamento e alteram o organismo em termos de probabilidade de 
respostas futuras da mesma classe. A complexidade do comportamento seria produzida 
pela manutenção dos comportamentos mais bem sucedidos. O princípio de seleção 
capaz de descrever como algumas respostas são favorecidas e outras não é chamado de 
seleção comportamental ou princípio de reforçamento. A identificação das relações 
comportamentais decorrentes de processos desta ordem é denominada de análise 
funcional. Assim, a análise funcional está voltada para a identificação de relações 
 
12 
 
 129 
 
 12 91 
sistemáticas entre o comportamento (variável dependente) e alterações no ambiente 
(variáveis independentes) com o qual o organismo interage (Skinner, 1953/1965). 
 A análise do comportamento emprega o método experimental em grande escala, 
mas admite a interpretação como um recurso alternativo na análise de fenômenos não 
acessíveis ao estudo experimental. Isso é o que ocorre na terapia face a face, onde a 
“observação clínica” é reconhecida como fonte legítima de informações para a análise 
do fenômeno comportamental (Skinner, 1988/1989b). A interpretação aplicada ao 
contexto clínico permite a inferência de possíveis relações funcionais, a partir de pistas 
que o cliente vai fornecendo sobre as relações de contingências presentes em seu 
ambiente, sobretudo social. O levantamento daqueles arranjos de contingências e a 
inferência dos modos por meio dos quais o cliente com eles se relaciona são condições 
indispensáveis para a compreensão de sua problemática e para a promoção da 
intervenção necessária (Carr, 1994; Cone, 1997; Ferster, 1973; Haynes e O’Brien, 1990; 
Sturmey, 1996). 
O corpo de pesquisa da análise do comportamento encontra-se em plena 
expansão e em processo de refinamento na compreensão da complexidade das relações 
ambiente-comportamento (Glenn, 1993; Glenn e Field, 1994; Hawkins e Forsyth, 
1997b; Shull, 1995). Ao lado da significativa produção experimental, os resultados 
positivos colecionados na área aplicada identificam o modelo analítico-comportamental 
como fértil na promoção de mudanças em comportamentos socialmente relevantes 
(Dougher, 1993; Foxx, 1996; Hawkins, 1997; Johnson e Layng, 1992; Kohlenberg e 
Tsai, 1991). Esse reconhecimento vem sendo creditado especialmente ao trabalho 
desenvolvido em ambientes institucionais, onde a aproximação do terapeuta com a vida 
diária do cliente é favorecida e onde, em tese, o controle sobre as contingências de 
reforçamento é exercido de forma mais direta. 
 
13 
 
 139 
 
 13 91 
 Mas ao contrário do que acontece em ambientes institucionais, a análise 
aplicada do comportamento tem sido vista como pouco útil aos terapeutas 
comportamentais (Dougher, 1993). Na terapia verbal de adultos, particularmente, é 
avaliada como um modelo que enfrentou limitações importantes (Hawkins e Forsyth, 
1997a) e, com raras exceções, subestimada como referência para a geração de métodos 
no trabalho clínico (Kohlenberg e Tsai, 1991). As razões da pouca influência de 
princípios behavioristas radicais na terapia verbal não estão plenamente elucidadas e 
chegam a ser qualificadas como “misteriosas”, uma vez que “a teoria é compreensível e 
contém muitos dos conceitos que são importantes para o psicoterapeuta” (Kohlenberg e 
Tsai, 1991, p. 8). Contudo, tem sido argumentado (e.g. Kohlenberg e Tsai) que um dos 
obstáculos à adoção do behaviorismo radical e da análise do comportamento por 
terapeutas comportamentais foi a dificuldade em transferir os métodos da análise 
aplicada do comportamento para o contexto clínico da terapia face a face. Na situação 
clínica, o contato entre terapeuta e cliente é limitado pelo tempo estabelecido para cada 
sessão e não há controle sobre os eventos que ocorrem fora dos limites do setting 
terapêutico2. 
 Kohlenberg, Tsai e Dougher (1993) citam alguns fatores que podem ter sido 
responsáveis pelo deslocamento da análise do comportamento de uma posição central 
na terapia comportamental para um papel secundário ou de “quase completa exclusão” 
 
2 Guedes (1993) chama atenção para o que denominou de “equívocos da terapia comportamental”, entre 
os quais a adoção de uma “prática de consultório” como resultado da transição do modelo de modificação 
de comportamento para o de terapia face a face. Como contraponto, defende a criação de alternativas de 
atendimento que não impliquem o confinamento do terapeuta ao espaço verbal do consultório. Além 
disso, vê dificuldades em assumir que “interpretações (ou traduções) comportamentais de fenômenos 
artificiais ao contexto do cliente possam instrumentar (sic) para rearranjar ascontingências relevantes” 
(Guedes, 1993, p.2). Conclui que “o máximo que se pode esperar é contar com a sorte ou mesmo criar 
contingências na sessão para a formulação de conselhos ou regras que então serão seguidas; desmanchar 
alguns estímulos aversivos eliciadores de ansiedade e reforçar o cliente produzindo um fugaz sentimento 
de auto-estima” (p.84) Em outra direção, Kolhenberg, Tsai e Dougher (1993) acreditam que os problemas 
observados no ambiente natural do cliente podem ocorrer dentro da sessão e que a observação direta de 
tais problemas “proporciona uma excelente oportunidade para modelar diretamente os comportamentos 
clinicamente relevantes do cliente” (p.274). 
 
14 
 
 149 
 
 14 91 
(p.272). Esses autores argumentam que as abordagens comportamentais, que atualmente 
são praticadas em ambientes de consultório, classificadas sob a categoria genérica de 
“Terapia Comportamental”- “evoluíram das primeiras tentativas de aplicação de 
princípios de condicionamento respondentes e operantes desenvolvidos em laboratório 
animal para o comportamento humano” (p.272). 3 A proliferação, na década de 60, de 
experimentos desenhados a partir de princípios operantes é tomada como sinal da 
grande influência da análise do comportamento na terapia comportamental. No entanto, 
com a diversificação da clientela para além dos limites institucionais, problemas 
práticos e teóricos teriam surgido especialmente em razão da natureza da queixa dos 
clientes. As questões “complexas” levadas aos consultórios, potencialmente sujeitas à 
intervenção, não podiam ser observadas naquele ambiente artificial. Duas dificuldades 
básicas foram prontamente identificadas. Por um lado, os tratamentos comportamentais 
disponíveis requeriam que o problema fosse observado durante a sessão e que a 
intervenção também ocorresse nesse contexto. Por outro, não havia formulações teóricas 
analítico-comportamentais aplicáveis ao comportamento verbal complexo. Esse 
impasse, apontam Kohlenberg e cols. , teria sido resolvido em duas direções: 1) o não 
atendimento de clientes fora do contexto institucional e 2) aplicação inconsistente de 
princípios comportamentais à clientela não institucionalizada. Estes autores concluem 
que o não reconhecimento dos equívocos na utilização do behaviorismo radical, nessas 
tentativas iniciais, favoreceu a identificação errônea do modelo como “problemático”, 
descartando-o como uma opção viável para o trabalho clínico com problemas 
 
 
3 Hawkins e Forsyth (1997b) observam que a terapia comportamental é anterior à análise clínica do 
comportamento, com precursores nos anos 20 e 30. Amparada no paradigma estímulo-resposta de Pavlov, 
Guthrie, Hull, Mower e Miller, a terapia comportamental teria se tornado uma abordagem alternativa para 
as demandas presentes no tratamento do comportamento anormal. Assim,“enquanto a análise do 
comportamento básica começou no final dos anos 30 e a análise aplicada do comportamento começou no 
final dos anos 50, não havia nenhum periódico de análise aplicada do comportamento até 1968 e as 
 
15 
 
 159 
 
 15 91 
complexos em ambientes não institucionais. Como conseqüência dessa rejeição, abriu-
se espaço, na terapia comportamental, para o movimento que vem sendo identificado 
como “revolução” cognitiva. 
 Na tentativa de lidar com as novas demandas surgidas no contexto da terapia 
verbal, parte significativa dos clínicos cuja intervenção pretende ser pautada por uma 
perspectiva analítico-comportamental tem buscado apoio na produção científica provida 
pelo universo genérico de terapeutas comportamentais (cf. Dougher, 1993). Entretanto, 
a literatura da área tem demonstrado ser incompatível com a análise do comportamento 
no que diz respeito aos aspectos filosófico, conceitual e metodológico. Tais 
incompatibilidades podem ser observadas, por exemplo, na "tendência crescente em 
direção a abordagens cognitivistas, [na] proliferação de teorias mentalistas que apelam a 
estruturas cognitivas e construtos hipotéticos (e.g. auto-eficácia) como explicação e [na] 
crescente confiança em inferência estatística para demonstrar eficácia” 4 (Dougher, 
1993, p.269). 
 A ausência de um paradigma consistente na terapia comportamental tem sido 
sugerida por diversos autores (e.g. Anderson, Hawkins e Scotti, 1997; Forsyth, 1997; 
 
aplicações clínicas da análise do comportamento emergiram apenas gradualmente desde então” (Hawkins 
e Forsyth, 1997b, p. 12). 
4 Forsyth, Kollins, Duff e Maher (in press) apresentam dados recentes de uma pesquisa que teve como 
objetivo identificar a tendência, nas publicações de terapeutas comportamentais, quanto ao uso da 
metodologia de sujeito único em contraste com delineamentos de grupo. Os resultados obtidos (estudo 1) 
sugerem "o declínio da tendência da publicação de pesquisas com sujeito único e referências a periódicos 
experimentais [na Revista] Behavior Therapy, com um discreto aumento do uso de delineamentos de 
grupo sobre o período [pesquisado]" (p.2). Um segundo estudo foi desenvolvido com o propósito de 
ampliar os achados iniciais, com a inclusão de três outros periódicos: Behavior Research and Therapy, 
Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry e Behavior Modification. Os autores 
concluíram que, "Consistente com o estudo 1, os resultados do estudo 2, mostraram um declínio na 
tendência de estudos com sujeito único em todos os principais periódicos comportamentais" (p.2). Por 
outro lado, Forsyth e cols. argumentam que a pesquisa "provê evidência objetiva de que estamos nos 
afastando, em alguma medida, dos nossos fundamentos da ciência básica."(p.8). Concluindo, estes autores 
comentam que 
Essa perda de identidade é bem vinda para alguns e alarmante para outros. Talvez uma 
pergunta mais urgente é se nós ainda estamos alcançando o objetivo de avançar na ciência 
comportamental como uma forma de aliviar um universo cada vez maior de sofrimento 
humano. Contanto que estejamos atingindo este objetivo pragmático, então talvez tenha 
pouca importância como nós nos designamos, ou o que nós basicamente fazemos (p.14). 
 
16 
 
 169 
 
 16 91 
Forsyth e Hawkins, 1997; Hawkins, 1995). Anderson e cols. sustentam que a psicologia 
clínica como um todo - e a terapia comportamental de modo particular - são ambíguas 
em relação ao paradigma adotado, favorecendo o ecletismo como abordagem 
dominante. Esses autores argumentam que isso ocorreu, em parte, como resultado da 
ausência de concepções e técnicas analítico-comportamentais na terapia verbal dirigida 
a adultos, que parece ser, em alguma medida, conseqüência da lentidão com que a 
análise do comportamento tem se ocupado do estudo dos eventos privados para o 
desenvolvimento e modificação das relações estabelecidas entre o comportamento e o 
ambiente. 
 Portanto, não há modelos de intervenção que sejam reconhecidos pela 
comunidade de terapeutas comportamentais como solidamente amparados no 
behaviorismoradical. Mais recentemente, contudo, tem surgido na literatura da análise 
aplicada do comportamento um movimento que tenta promover a retomada das bases 
analítico-comportamentais na terapia comportamental. Esta iniciativa surgiu com maior 
visibilidade nos primeiros anos da década de 90, sob a denominação de Clinical 
Behavior Analysis (cf. Dougher, 1993; Dougher, 1994a; Hawkins, 1995; Kohlenberg, e 
cols., 1993). São exemplos pioneiros desse movimento os artigos que compõem as 
seções especiais da Revista The Behavior Analyst, Volumes 16 e 17 (e.g. Dougher e 
Hackbert, 1994; Follette, Bach e Follette, 1993; Hayes e Wilson, 1993; Hayes e Wilson, 
1994; Kohlenberg e Tsai, 1994). Como parte desse movimento, observa-se a adoção 
freqüente do termo analítico-comportamental (ver, ainda, Forsyth, Chase e Hackbert, 
1997; Masia e Chase, 1997) para designar a terapia que se apóia nos princípios do 
behaviorismo radical, diferenciando-a das terapias comportamentais que assim se 
denominam, mas aproximam-se do cognitivismo. O trabalho que vem sendo 
desenvolvido pelo grupo de autores daquela seção especial no The Behavior Analyst, 
 
17 
 
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 17 91 
tem favorecido a discussão sobre os limites e alcance da terapia comportamental 
baseada no behaviorismo radical. Para além disso, tem contribuído efetivamente na 
reflexão sobre a redefinição do campo da terapia comportamental. 
A ausência de modelos de intervenção analítico-comportamentais se dá no 
contexto de três problemáticas interrelacionadas, abordadas em diferentes circunstâncias 
pelos autores que visam a resgatar a análise do comportamento no ambiente clínico: a) o 
fato histórico representado pela transição do modelo de modificação de comportamento 
para o modelo de terapia face a face; b) confusão na designação de conjuntos de práticas 
não-behavioristas radicais com terapia comportamental e a falta de critérios mais 
explícitos e/ou estruturados para definir as fronteiras entre tais práticas e, ainda, c) 
oposição ao modelo médico, que orienta para uma análise topográfica-organicista do 
comportamento. A identificação das três problemáticas deixa à mostra o que seria o 
centro de uma intervenção comportamental típica: uma prática clínica fundamentada 
estritamente no princípio da análise funcional. A partir desse entendimento, são 
produzidos “modelos de terapia comportamental”, que estariam reintroduzindo esse 
princípio na prática terapêutica. 
Dentre as iniciativas na direção da elaboração de um modelo clínico analítico-
comportamental, destaca-se o trabalho de um grupo de autores para quem o resgate da 
análise funcional é feito a partir da caracterização do behaviorismo como doutrina 
contextualista. Contextualismo é uma das quatro categorias filosóficas ou “visões de 
mundo” cunhadas por Pepper (1942-1970)5, cuja “metáfora-raiz” é a “ação no 
contexto”. O sistema contextualista tem sido referido (e.g. Jaeger e Rosnow, 1988; 
Hayes, Hayes, Reese e Sarbin, 1993) como um conjunto de princípios que tem orientado 
alternativas recentes na psicologia, empenhadas em apresentar um contraponto à crítica 
 
18 
 
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 18 91 
de adesão a posições mecanicistas e reducionistas na compreensão do comportamento 
humano. Na terapia comportamental, a adesão ao contextualismo tem sido apontada 
como um “movimento crescente” (e.g. Jacobson, 1997, p.441) claramente visualizado 
nas propostas de intervenção Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and 
Commitment Therapy - ACT - Hayes, 1987; Hayes e Wilson, 1994; Hayes, Batten, 
Gifford, Wilson, Afairi e Mc Curry, 1999), Terapia Integrativa de Casais (Integrative 
Couple Therapy - Jacobson, 1992; Koerner, Jacobson e Christensen, 1994) e "refletida 
na Psicoterapia Analítica Funcional [Functional Analytic Psychotherapy]" (Jacobson, 
1997, p. 441. Ver Kohlenberg e Tsai, 1987; 1991). 
Em algumas situações, a ênfase contextualista vem acompanhada de críticas 
explícitas a proposições behavioristas radicais, originalmente concebidas por Skinner. 
Esta posição está presente, por exemplo, no trabalho de Hayes e colaboradores (e.g. 
Hayes e Hayes, 1992a; Hayes, Hayes e Reese, 1988). Embora admitam que o 
behaviorismo contextualista esteja fundamentado na tradição analítico-comportamental, 
Hayes e Hayes (1992a) delimitam a fronteira entre aquele sistema e o behaviorismo 
radical, caracterizando Skinner como um pensador que “abraçou visões filosóficas 
incompatíveis” (p.229). Assim, Hayes e Hayes sugerem o abandono da expressão 
behaviorismo radical em favor de “behaviorismo contextualista”, sob a alegação de que 
o primeiro pode implicar tanto uma perspectiva mecanicista como contextualista. As 
restrições dirigidas ao behaviorismo radical são justificadas com base em supostas 
inconsistências e contradições presentes na obra de Skinner e na prática de alguns 
analistas do comportamento contemporâneos. 
O conjunto da obra de Hayes e colaboradores, representativa da proposição do 
contextualismo como pertinente à análise do comportamento, inclui estudos na área de 
 
5As demais visões de mundo referidas por Pepper (1942-1970) são: a) formismo; b) mecanicismo e c) 
 
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comportamento governado por regras (e.g. Hayes, Brownstein, Zettle, Rosenfarb e 
Korn, 1986; Hayes, Kohlenberg e Melancon, 1989) e o desenvolvimento de uma nova 
perspectiva ao estudo do comportamento verbal denominada Teoria de Quadros 
Relacionais. Esta abordagem, também definida como uma psicologia comportamental 
da cognição (Hayes e Wilson, 1995), tem sido amplamente apresentada e discutida (e.g. 
Dougher, 1994b; Hayes, 1991; Hayes e Hayes, 1992b; Hayes e Wilson, 1993) e ainda 
confrontada com visões contemporâneas concorrentes (e.g. Sidman, 1994). 
O trabalho de Steven Hayes no campo da análise experimental do 
comportamento verbal em geral - e equivalência de estímulos, ou responder relacional, 
em particular - provê a base conceitual da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), 
uma abordagem terapêutica que tem sido apresentada como capaz de gerar uma 
intervenção clínica de inspiração analítico-comportamental, sem as limitações de 
abordagens ecléticas que se apresentam como terapias comportamentais. A ACT é 
orientada “por uma compreensão comportamental explicitamente contextual dos 
eventos privados” (Wilson, Hayes e Gifford, 1997, p. 57) e propõe, basicamente, a 
quebra da “esquiva emocional” e o incremento da capacidade de mudança de 
comportamento do cliente (Hayes e Wilson, 1994). 
A visão de análise funcional defendida por Hayes e colaboradores está esboçada 
na crítica endereçada aos adeptos do modelo topográfico de classificação e diagnóstico 
clínicos. Assim, em outra linha de debate, Hayes e Follette (1992) fazem o confronto 
entre sistemas de classificação pela síndrome e a análise funcional do comportamento. 
Nesta discussão, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM - é 
identificado como o sistema de classificação e diagnóstico que tem regulado a prática de 
um bom número de terapeutas comportamentais, muitas vezes sem uma perspectivaorganicismo. 
 
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crítica. De outro lado, o modelo de análise funcional estaria sendo utilizado de modo 
também discutível (ou impreciso) por terapeutas comportamentais cuja intervenção 
deveria se pautar pela filosofia behaviorista radical (não aparece, aqui, uma 
problematização das limitações desta filosofia) e pelos princípios derivados da análise 
do comportamento. Hayes e Follette sustentam que o princípio da análise funcional não 
foi capaz de prover metodologias a serem empregadas indiscriminadamente no contexto 
clínico. Deste modo, para atender a necessidade de uma sistematização da análise 
funcional, os autores chegam a propor (e a exemplificar) a criação de sistemas 
alternativos de classificação e diagnóstico com base nos princípios da análise funcional. 
Em um trabalho recente (Hayes, Wilson, Gifford, Follette e Strosahl, 1996), tais 
categorias são reeditadas sob o conceito de “abordagem dimensional-funcional”, que 
envolve a organização de diagnósticos de acordo com processos comportamentais 
contínuos. 
Como sugerido nos parágrafos anteriores, o grupo de Hayes e colaboradores 
pode ser considerado representativo do movimento de reelaboração das bases da terapia 
comportamental, a partir da interlocução com o contextualismo e por esta razão seus 
trabalhos serão o material básico de análise neste estudo. O objetivo geral do trabalho 
será o de examinar as soluções inspiradas na doutrina contextualista com vistas à 
redefinição da terapia comportamental como modelo de intervenção baseado nos 
princípios da análise do comportamento. Os objetivos específicos serão basicamente: a) 
caracterizar a orientação filosófica contextualista e sua apropriação como recurso para a 
superação de limitações do behaviorismo radical skinneriano; b) identificar como o 
princípio da análise funcional é elaborado no contexto das reflexões de behavioristas 
contextualistas, e c) examinar como este princípio aparece no debate sobre a demanda 
por sistemas de classificação e diagnóstico clínico. 
 
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O trabalho está dividido em duas partes. Na parte I, discute-se a noção de análise 
funcional e a filosofia contextualista. A análise será iniciada com uma revisão do 
conceito de análise funcional e de sua apropriação no âmbito da terapia analítico-
comportamental (Capítulo 1). Esta revisão será posteriormente tomada como referência 
para a discussão das propostas de Hayes e colaboradores. No Capítulo 2, a filosofia 
contextualista será apresentada, evidenciando-se os aspectos centrais de sua adoção por 
behavioristas contextualistas. Na parte II, os diferentes modo como Hayes e seu grupo 
de trabalho falam da relação do contextualismo com a análise do comportamento e com 
o behaviorismo radical serão apontados (Capítulo 3). Será também indicado como estes 
autores sugerem a aplicação clínica das possibilidades geradas com a adoção do 
behaviorismo contextualista. No Capítulo 4, algumas proposições dos behavioristas 
contextualistas para uma prática clínica comportamental serão examinadas e discutidas, 
a partir de textos que se inserem no debate sobre sistemas de classificação e diagnóstico 
clínico, com destaque para as noções de comportamento e de análise funcional 
veiculadas. No capítulo 5, serão sistematizados possíveis contribuições e limites do 
behaviorismo contextualista. 
 
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Capítulo 1 
 ANÁLISE FUNCIONAL: 
CONCEITO E APLICAÇÃO NA INTERVENÇÃO CLÍNICA 
 
 A análise de relações funcionais representa um modelo de interpretação e 
investigação dos fenômenos naturais, que estará presente no projeto skinneriano de 
constituição da psicologia como ciência do comportamento. Originalmente, o conceito 
foi empregado por Skinner com o sentido atribuído pelo físico Ernst Mach (1838-1916): 
identificação de relações ordenadas entre eventos da natureza. Na proposição do reflexo 
como unidade básica de análise de uma ciência comportamental, descrição e explicação 
científicas foram interpretadas como coincidindo com a especificação de relações 
ordenadas entre (classes de) estímulos e respostas, portanto requerendo a análise 
funcional (cf. Skinner, 1931/1961a) 6. 
1.1 Análise Funcional e Behaviorismo Radical 
 A análise funcional promove a identificação de relações de dependência 
entre eventos, ou de “regularidades na relação entre variáveis dependentes e 
independentes” (Chiesa, 1994, p.133), mas com respeito às quais o uso dos conceitos de 
causa e efeito não seria mais apropriado, uma vez que implicaria suposições 
 
6 Moore (1984) aponta que no livro Verbal Behavior, Skinner trata descrição e explicação como 
empreendimentos contínuos e não isomórficos. A descrição envolveria a especificação topográfica e a 
explicação corresponderia à indicação das variáveis das quais o comportamento sob análise é função. 
Pode-se dizer, no entanto, que ao identificar descrição com explicação (e.g. Skinner, 1931/1961a) a 
preocupação de Skinner estaria em ressaltar que uma descrição “completa” do comportamento requer a 
indicação de relações funcionais; de outro lado, a limitação da explicação àquelas descrições 
representaria a interdição de recursos explicativos que apelam a eventos localizados num plano 
diferenciado daquele das relações ambiente-comportamento. Assim, a proposição de que descrição e 
explicação são, para Skinner, esforços contínuos, está correta tanto quanto se observe que descrições 
topográficas são descrições parciais do fenômeno comportamental e explicações comportamentais são 
aquelas que permanecem no nível das relações organismo-ambiente. 
 
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 23 91 
(metafísicas) além do alcance de uma ciência (cf. Skinner, 1953/1965)7. 
 A descrição de relações ordenadas entre eventos encontra um modo de expressão 
na matemática. O reflexo, por exemplo, pode ser expresso pela equação “R = f (S)”, 
onde “R” é a resposta e “S” o estímulo (cf. Skinner, 1931/1961a). A relação 
especificada por aquela equação é uma relação “funcional” no sentido de que o primeiro 
termo (a resposta) é abordado enquanto função do (causado pelo) segundo termo da 
equação (o estímulo). A noção de causação aqui implicada é do tipo mecânica e será 
abandonada por Skinner na medida em que o modelo de seleção por conseqüências vai 
sendo admitido como modelo causal apropriado para a interpretação do fenômeno 
comportamental (cf. Micheletto, 1995). 
 Com o advento do modelo de seleção por conseqüências, a análise funcional 
estará associada a uma noção selecionista, não mecanicista, de causalidade. No lugar da 
busca por um agente originador do comportamento, a análise se volta para o 
reconhecimento da múltipla e complexa rede de determinações de instâncias de 
comportamento, representada pela ação em diferentes níveis (filogênese, ontogênese e 
cultura) das conseqüências do comportamento sobre a probabilidade de respostas 
futuras da mesma classe. O princípio selecionista apresenta-se como um princípio 
explicativo derivado da investigação do comportamentooperante. Como apontado por 
Chiesa (1992) a “seleção como modelo causal não é uma suposição; ela é 
empiricamente validada em experimentos de condicionamento operante, que 
 
7 Skinner (1953/1965) falará destas implicações afirmando: 
Os termos 'causa' e 'efeito' não são mais amplamente usados na ciência. Eles têm sido 
associados a tantas teorias da estrutura e da operação do universo que podem significar 
mais do que os cientistas querem dizer. Os termos que os substituem referem-se, porém, ao 
mesmo núcleo fatual. Uma 'causa' torna-se uma 'mudança numa variável independente' e 
um efeito, 'uma mudança em uma variável dependente'. A antiga conexão causa-efeito 
torna-se uma 'relação funcional'. Os novos termos não sugerem como uma causa produz seu 
efeito; eles meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer juntos em uma 
certa ordem. Isso é importante, mas não é crucial. Não há nenhum perigo particular no uso 
 
24 
 
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 24 91 
demonstram a modelagem e manutenção de comportamentos complexos por 
contingências complexas” (p.1291). 
 A adesão a um modelo causal selecionista, com o advento do conceito de 
operante, representará, ainda, uma reelaboração do funcionalismo skinneriano. A 
análise deve agora se voltar para as “funções” das respostas e para os modos através dos 
quais as mudanças por elas produzidas afetam a probabilidade de comportamento 
futuro. A análise funcional requerida passa a ser aquela que identifica relações de 
tríplice contingência responsáveis pela aquisição e manutenção de repertórios 
comportamentais. 
No sistema skinneriano, uma explicação da categoria de comportamento 
mais importante, o comportamento operante, será encontrada na avaliação 
das contingências de reforçamento predominantes. Uma contingência 
especifica a inter-relação entre uma condição antecedente, uma resposta e 
uma conseqüência alcançada pela resposta. A relação funcional que existe é 
a relação entre a resposta e sua conseqüência, indicada pela condição 
antecedente; juntas [as condições antecedentes e conseqüentes] constituem a 
variável independente e a resposta em questão, a variável dependente. A 
variável dependente é tipicamente tratada em termos de probabilidade da 
taxa de resposta. Diz-se que o controle é exercido sobre a probabilidade de 
resposta pelo conjunto de inter-relações chamado contingência (Moore, 
1984, p.87). 
O funcionalismo analítico-comportamental, seja em sua elaboração mecanicista, 
seja na versão selecionista, representará um afastamento frente a abordagens de 
 
de 'causa' e 'efeito' em uma discussão informal, se estivermos sempre prontos a substituí-los 
por suas contrapartidas mais exatas (Skinner, 1953/1965, p.23). 
 
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orientação estruturalista na psicologia. Originalmente, o estruturalismo havia se 
manifestado na psicologia do século XIX com um viés mentalista, a exemplo do projeto 
científico de Wundt. Mas também no interior de abordagens comportamentais o 
estruturalismo pode se sugerir, quando a análise tem como foco a especificação 
topográfica do comportamento, em detrimento das relações funcionais entre organismo 
e ambiente. O recorte analítico-comportamental, ao contrário, sugerirá que a 
especificação topográfica não deve ir além do que permite apreender as relações 
ordenadas entre ambiente e comportamento (cf. Skinner, 1935/1961b). 
 Na ciência skinneriana, a busca de relações funcionais estará sempre associada 
ao reconhecimento da multideterminação do fenômeno comportamental e à seleção de 
um recorte específico como domínio da análise do comportamento – o das relações do 
organismo como um todo com eventos do ambiente a sua volta. 
Os analistas do comportamento procuram relações causais na interação entre 
comportamento (a pessoa ou outro organismo) e aspectos de seu ambiente. 
Esta ênfase não nega contribuições de aspectos genéticos, biológicos, 
bioquímicos, neurológicos e outros do organismo. Ela simplesmente 
identifica os tipos de relações causais buscadas pela ciência comportamental 
skinneriana; ela é a direção na qual os analistas do comportamento 
procuram as relações que explicam seu objeto de estudos (Chiesa, 1994, 
pp.114-115). 
 A complexidade do fenômeno comportamental adquire amplo reconhecimento 
na medida em que o comportamento humano torna-se o objeto central da análise 
 
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skinneriana8. É sobre o homem que operam os três conjuntos de variáveis ambientais 
(filogenéticas, ontogenéticas e culturais), conjugando determinações de modos únicos e 
gerando uma variada gama de repertórios comportamentais. Micheletto (1995) aponta 
que: 
A variabilidade, ao nível humano, está associada a determinações múltiplas 
– a multiplicidade e variabilidade presentes em cada nível de determinação 
se potencializam ao se conjugarem os vários níveis, tornando pouco 
provável semelhanças nas condições de determinação do comportamento. 
Estas determinações se inter-relacionam, agindo juntas ou às vezes de forma 
conflitante e produzindo também efeitos múltiplos (Micheletto, 1995, 
p.167). 
 A variabilidade pode também ser abordada com os conceitos correspondentes 
aos produtos daqueles conjuntos de variáveis que afetam o indivíduo: a filogênese 
produz o organismo, a ontogênese produz a pessoa (ou as pessoas, muitas vezes sob a 
mesma pele9) e a cultura produz o self (conjunto de estados internos observados) (cf. 
Skinner, 1989a). Desse modo, o caráter idiossincrático do que resulta dos diferentes 
 
8 Micheletto (1995) sugere que tanto o interesse de Skinner pelo comportamento humano aumenta com o 
desenvolvimento de sua obra, quanto o reconhecimento da complexidade do fenômeno comportamental 
assume maior dimensão com a elaboração do modelo de seleção por conseqüências. Diz ela: 
O foco do interesse no fazer do organismo se mantém, mas adquire um novo sentido e toma 
amplas dimensões no decorrer [da] obra [de Skinner]; na fase final de sua obra seu interesse 
dirige-se principalmente para o fazer humano. Há uma ampliação de seu objeto de estudo, 
ou seja, seu objeto abarca o comportamento humano em toda a sua complexidade (p.154). 
Durante toda a sua obra, Skinner trabalha com o comportamento como objeto de estudo, 
mas a abrangência do que pode ser entendido como comportamento se estende no 
desenvolvimento de sua ciência.... Skinner mantém a suposição, do primeiro momento de 
sua obra, de que o comportamento é determinado, mas apresenta uma noção de 
determinação muito ampliada. As determinações se tornam múltiplas e variáveis na medida 
em que uma nova noção de determinação se desenvolve (p.160). 
 
9 Diz Skinner (1989a): “As contingências de reforçamento operante ... dão origem a repertórios chamados 
pessoas. Diferentes contingências produzem diferentes pessoas, possivelmente sob a mesma pele, como 
mostram os exemplos clássicos de múltiplas personalidades” (Skinner, 1989a, p.28). 
 
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níveis de variação e seleção estende-se para além dos repertórios comportamentais, 
alcançando também as próprias condições orgânicas e os eventos privados de cada um. 
 Micheletto (1997b) sugere que com o conceito de operante e com o modelo de 
seleção por conseqüências torna-se discutível se uma análise funcional pode/deve ater-
se à identificação das variáveis atuais às quais o comportamento está funcionalmente 
relacionado. Na medida em que o fenômeno comportamental passa a ser abordado não 
apenas do ponto de vista da relação presente entre variáveis, mas, também, do modo 
como tais relações são produzidas e/ou mantidas, uma outra perspectiva de análise se 
instaura. Micheletto (1997b) deriva das afirmações de Skinner sobre o assunto duas 
possibilidades: a primeira, de supor “que as conseqüências passadas não participam das 
relações funcionais. Sendo assim, o que eu posso falar do comportamento não incorpora 
suas características significativas” (p.9). A segunda possibilidade é colocada nos 
seguintes termos: 
podemos... supor que as conseqüências passadas participam da análise 
funcional, o que implicaria mudanças na noção de relação funcional. Resta 
responder como incorporar outras variáveis. Considerando uma diversidade 
de sentidos que se pode atribuir a variáveis ambientais – ambiente externo, 
ambiente interno, ambiente imediato, ambiente relacionado à história 
passada, ambiente genético, ambiente cultural ou social – que variáveis 
deveriam estar envolvidas na função? Como considerar na função variáveis 
de complexidade tão diversa e pertencentes a dimensões temporais tão 
distintas? Seria possível manter a noção de função matemática? (Micheletto, 
1997b, p.9). 
No mínimo, a discussão levantada por Micheletto (1997b) significa que a análise 
funcional requerida para a compreensão do fenômeno comportamental muda 
 
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substancialmente com a transição de uma causalidade mecânica para uma causalidade 
selecionista; muda, entre outras coisas, para dar conta da complexidade dos processos 
de determinação do comportamento e do caráter idiossincrático de seus produtos. Trata-
se, neste caso, ou de reformar o conceito de “análise funcional” para abarcar a rede de 
determinações que se supõe pertinentes a instâncias comportamentais, ou de notar que a 
análise funcional concebida como a mera indicação de relações entre variáveis não dá 
conta dos processos que precisam ser considerados na avaliação e intervenção 
comportamental. Segundo Micheletto (1997), “parece que em lugar de reiterarmos a 
noção de relação funcional, como uma noção esclarecida, precisamos no mínimo 
elucidá-la ou, mais provavelmente, reformulá-la” (p.9). 
 
1.2 Análise Funcional e Terapia Comportamental 
 Na terapia comportamental, a análise funcional tem sido apontada como um 
fundamento para a avaliação clínica (e.g. Sturmey, 1996) e identificada como o 
caminho mais efetivo para o planejamento da intervenção (e.g. Carr, 1994; Ferster, 
1973; Haynes e O’Brien, 1990; Samson e McDonnell, 1990). A ênfase na busca de 
relações funcionais é interpretada por Haynes e O’Brien (1990) como resultado tanto da 
rejeição às abordagens estruturalistas ao estudo dos problemas de comportamento, como 
da reação ao modelo “causal” e às questões metafísicas que dele se originam. 
 Embora ocupe lugar de destaque nas abordagens comportamentais, pouca 
atenção tem sido dada à discussão de aspectos teóricos e ao estudo conceitual do termo 
“análise funcional” (Sturmey, 1996). Assim, diferentes termos têm sido empregados 
como equivalentes em sua definição: a) “análise do comportamento”, b) “análise 
comportamental funcional”, c) “avaliação comportamental” e d) “elaboração 
comportamental de caso” (cf. Haynes e O’Brien, 1990, p.654). Ao lado disso, observa-
 
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se o uso de um mesmo termo genérico com diferentes conotações (cf. Haynes e 
O’Brien, 1990; Sturmey, 1996). Isso tem expressado um 
desacordo sobre a definição de análise funcional, seus supostos subjacentes, 
seus métodos de derivação, seus componentes relevantes e seu domínio de 
utilidade. Estas inconsistências impedem a comunicação entre analistas do 
comportamento sobre as características da análise funcional e seu papel na 
terapia comportamental (Haynes e O’Brien, 1990, p.654). 
 A existência de diferentes conotações para o termo “análise funcional”, ou 
diferentes interpretações do que seria uma intervenção clínica baseada na análise 
funcional, espelha uma diversidade de entendimentos do que tem sido apresentado 
como característica central da intervenção em terapia comportamental. As soluções para 
tal diversidade elaboradas por alguns autores são também diferenciadas e ilustram a 
dificuldade corrente na área. Alguns trabalhos mais recentes sobre o tema são discutidos 
a seguir, com o intuito de explicitar algumas das divergências e os aspectos com 
respeito aos quais parece ser possível traçar algum consenso. 
 Owens e Ashcroft (1982) apontam que a ampla adoção da análise funcional na 
psicologia clínica tem como precursores usos diferenciados na matemática-física e nas 
ciências social-biológicas. Na matemática e na física, o uso da análise funcional 
corresponde à “especificação das variáveis às quais um fenômeno está relacionado” 
(p.181), sem referência a causalidade. Nas ciências sociais e biológicas, a indicação das 
variáveis relacionadas envolve a explicação das funções de um fenômeno, ou “a forma 
da relação entre as variáveis especificadas” (p.182), o que conduz a uma indicação de 
causalidade. A psicologia conjugaria as duas perspectivas, na medida em que se ocupa 
“tanto dos determinantes do comportamento, quanto da forma das relações entre tais 
determinantes e o comportamento” (p.182). 
 
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 Limitado à identificação de variáveis relacionadas ao fenômeno comportamental 
e ao modo como essas relações ocorrem, o uso psicológico da análise funcional não 
constitui uma teoria, mas apenas “uma estratégia para a resolução de problemas” 
(Owens e Ashcroft, 1982, p.188). Também não está comprometido com nenhuma 
“perspectiva teórica particular”10 (p.188), embora implique a adesão ao “paradigma 
ABC”, a “investigação do comportamento (B), seus antecedentes (A) e suas 
conseqüências (C)” (p.188). 
 Owens e Ashcroft (1982) também salientam que, enquanto estratégia, a análise 
funcional aplica-se tanto a clientes individuais quanto institucionais. No entanto, 
especificamente abordando seu uso clínico na avaliação e intervenção com clientes 
individuais, ressaltam o caráter idiossincrático de seus produtos. 
Na prática, é claro, é normal que a análise funcional seja altamente 
complexa e, como decorrência, específica àquele indivíduo. 
Consequentemente, a intervenção será ela própria complexa e individual, e 
freqüentemente envolverá uma combinação de várias estratégias de 
intervenção que visam a lidar com todo um arranjo de variáveis e processos 
que contribuem para o problema. 
É improvável, então, que a intervenção baseada na análise funcional seja 
similar, mesmo quando os comportamentos problema apresentam 
similaridade; em vez disso, a similaridade da intervenção estará relacionada 
comuma similaridade de significação funcional. Em particular, o 
reconhecimento da ampla gama de relações funcionais que se pode obter do 
comportamento entre terapeutas e clientes sugere que o analista funcional, 
 
10 Segundo Owens e Ashcroft (1982) a observação freudiana de que a “agorafobia pode servir à função 
de evitar situações que produzem ansiedade pode claramente ser vista como constituindo uma análise 
 
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raramente, se é que em alguma circunstância, fará generalizações amplas 
com respeito á intervenção (pp.183-184). 
 Hawkins (1986) também destaca o caráter idiográfico da intervenção baseada na 
análise funcional. Diz ele que “as funções que se descobrirá em um caso individual 
serão únicas, individuais, ou idiográficas” (p.371). De forma semelhante, no interior de 
um mesmo caso, dada a complexidade das redes de determinação de instâncias de 
comportamento, a pluralidade de análises funcionais é possível. “O número de análises 
funcionais alternativas para casos clínicos é infinita e mesmo o número de análises 
funcionais precisas (efetivas) para um caso particular é provavelmente muito grande” 
(p.373). Hawkins faz os comentários acima no contexto de uma discussão sobre a 
validade, para os analistas do comportamento, de sistemas nomotéticos de classificação 
e diagnóstico, particularmente o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais – APA, 1994), naquela ocasião em sua terceira edição. O debate sobre a 
compatibilidade de uma perspectiva funcional na avaliação e intervenção clínicas com 
sistemas nomotéticos de classificação e diagnóstico será abordado adiante neste 
trabalho. Do ponto de vista da análise de Hawkins, o autor apresenta argumentos 
contrários a tal compatibilidade, mas também indica a existência de trabalhos favoráveis 
ao uso do DSM por terapeutas comportamentais. 
 Uma revisão mais sistemática dos usos da análise funcional na terapia 
comportamental é apresentado por Haynes e O’Brien (1990). Os autores identificam na 
literatura da terapia comportamental onze definições diversas para a análise funcional: 
a) “uma especificação de comportamentos alvo” (p.653); b) “demonstrações de 
‘controle’ através da manipulação de variáveis controladoras (causais) hipotetizadas 
 
funcional” (p.184), tanto quanto a análise comportamental de Fester para a depressão. 
 
 
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(p.653); c) “especificação de fatores controladores para uma classe de problemas de 
comportamento, em vez de para um caso individual” (p.654); d) “identificação de 
fatores situacionais (setting factors)” (p.654); e) “relações estímulo-resposta ou 
resposta-resposta” (p.654); f) “fatores motivacionais e de desenvolvimento” (p.654); g) 
“identificação de relações funcionais potenciais, alternativas àquelas em operação para 
um cliente” (p.654); h) “previsões sobre o comportamento de um cliente” (p.654); i) 
“especificação de componentes da resposta” (p.654); j) “integração global conceitual de 
problemas de comportamento, variáveis causais e mediacionais, recursos, e assim por 
diante” (p.654). Adicionalmente, afirmam que a análise funcional ora é definida como 
processo, ora como produto. 
Haynes e O’Brien (1990) apontam dois fundamentos epistemológicos da análise 
funcional, em sua apropriação pela terapia comportamental: a rejeição do estruturalismo 
e a evitação de questões metafísicas. Dizem eles: 
Uma ênfase em relações funcionais na terapia comportamental tem duas 
origens interdependentes: a) uma rejeição da abordagem estruturalista para 
compreender problemas de comportamento; e b) uma evitação de algumas 
questões metafísicas associadas como o foco em relações “causais” (Haynes 
e O’Brien, 1990, p.650). 
 Na definição proposta por Haynes e O’Brien (1990), a análise funcional é “a 
identificação de relações funcionais importantes, controláveis e causais, aplicável a um 
conjunto especificado de comportamentos alvo para um cliente individual” (p.654). 
Entretanto, nos limites da proposição dos autores, “apenas algumas variáveis 
funcionalmente relacionadas a um comportamento alvo serão causais, controláveis e 
importantes” (p.654). A restrição de variáveis defendida por Haynes e O’Brien é assim 
justificada e exemplificada: 
 
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É importante reconhecer que muitas variáveis podem ser notáveis e de 
interesse para os cientistas comportamentais, mas não enfatizadas em uma 
análise funcional. Por exemplo, uma história de abuso sexual na infância 
pode ser um determinante importante de relações adultas interpessoais 
perturbadas... e certamente mereceria atenção empírica e social. No entanto, 
uma análise funcional de um adulto com déficit severo de habilidades 
sociais, que tenha sido abusado sexualmente na infância, irá focalizar mais 
provavelmente variáveis controláveis, como comportamentos de iniciação 
social e de recepção, expectativas de resultados e de auto-eficácia, reflexões, 
auto-instruções, rótulos e/ou respostas psicofisiológicas. Uma análise 
funcional, portanto, nem sempre “explica” o comportamento, no sentido de 
identificar todas as variáveis causais importantes. Em vez disso, ela 
identifica variáveis causais importantes, que podem ser manipuladas ou 
[colocadas] sob controle do cliente ou do analista do comportamento 
(p.655). 
 Adicionalmente, de acordo com Haynes e O’Brien (1990), uma análise funcional 
poderá incluir “efeitos associados a mudanças no problema do comportamento alvo, que 
ocorrem como resultado do tratamento” e “relações entre variáveis causais”, bem como 
“diferenciar-se da avaliação comportamental” (p.655). No que diz respeito à distinção 
entre análise funcional e avaliação comportamental, Haynes e O’Brien observam que a 
primeira é parte da segunda. Ao contrário da avaliação comportamental, a análise 
funcional não seria um método, mas um “possível produto da aplicação de métodos de 
avaliação comportamental” (p.655). Outra consideração é que relações funcionais 
podem “variar em nível”. A ênfase deveria recair, portanto, no nível “mais relevante 
para a aplicação pretendida” (pp.655-656). Desse modo, “uma análise funcional que 
 
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enfatize fatores farmacológicos [levará em conta] mais variáveis em um nível micro, do 
que uma que examine fatores de sistemas comportamentais ou sociais” (p.656). Haynes 
e O’Brien apontam ainda que as análises funcionais “podem ser dirigidas a objetivos 
comportamentais, tanto quanto a comportamentos alvo” (p.656) e são “relevantes para 
todos os problemas comportamentais que são função de variáveis controláveis”. Por 
fim, acrescentam que “as análises funcionais são idiográficas (abordam relações causais 
para problemas de comportamento de clientes individuais), e não nomotéticas (abordam 
relações causais para um problema de comportamento de vários clientes)”.Samson e McDonnell (1990) também enfatizam a ausência de um consenso 
sobre o que significa análise funcional no contexto clínico e apontam, assim como 
Owens e Ashcroft (1982), a existência de pelo menos dois usos diversos do termo 
“função”: um na matemática, outro nas ciências biológicas e sociais. Na primeira, o 
termo função remete à especificação de quais variáveis estão relacionadas; nas 
segundas, a como essas variáveis se relacionam. O uso “psicológico” da análise 
funcional combinaria os dois usos, ocupando-se dos “determinantes do fenômeno e das 
relações entre esses determinantes e o fenômeno” (Samson e McDonnell, 1990, p.260). 
A diversidade de funções dos comportamentos humanos, segundo Samson e 
McDonnell (1990) conferem a instâncias da análise funcional psicológica um caráter 
particular e limitado: 
Uma análise funcional pode ser altamente complexa e, como decorrência, 
específica ao indivíduo. É improvável que sejam exatamente as mesmas as 
intervenções que as análises funcionais podem recomendar para dois 
problemas que pareçam ser similares. Quaisquer similaridades entre as 
intervenções estarão relacionadas à similaridade das funções a que os 
problemas servem. Isso significa que não é possível, quando se usa uma 
 
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abordagem analítica funcional, fazer generalizações amplas sobre a 
intervenção a ser realizada ou sobre o estilo com que deve se apresentar 
(Samson e McDonnell, 1990, p.260). 
 O uso da análise funcional não estaria restrito, porém, a um quadro conceitual 
particular; ao contrário, pode ser visto como independente de sistemas teóricos 
específicos. Partindo desta posição, Samson e McDonnell (1990) propõem uma 
definição de análise funcional nos seguintes termos: 
a análise funcional é um método de explicar fenômenos, que envolve a 
geração de hipóteses com respeito a dados observáveis e não observáveis. 
Ela busca explicar e prever a(s) função(ões) de um fenômeno através do 
exame das relações que contribuem para ele (p.261). 
 A admissão de referência a “não observáveis” sustenta-se, na argumentação de 
Samson e McDonnell (1990), tanto na postulação de que a análise funcional não exige a 
adesão a uma teoria que interdite tal referência, quanto na suposição de que disso 
depende um maior alcance das hipóteses explicativas. Alguns fenômenos psicológicos 
(medo, ansiedade, por exemplo) são vistos como multidimensionais, envolvendo 
componentes comportamentais, cognitivos e fisiológicos. A referência a inobserváveis, 
sob a forma de construtos hipotéticos, “é essencial para aumentar a força explanatória 
de uma Análise Funcional” (p.261), como também para facilitar “a geração de um 
grande número de hipóteses, algumas das quais merecedoras de exame empírico” (262). 
 Jones e Owens (1992) comentam a interpretação de Samson e McDonnell (1990) 
para a análise funcional recomendando cuidado com a referência a “variáveis que 
existem apenas num nível teórico” (p.37). Tais referências são admissíveis apenas se 
“nos ajudam a prever e controlar... eventos externos” (p.38). McDonnell e Samson 
 
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(1992) observam que as ponderações de Jones e Owens não explicitam uma posição 
com respeito à definição de análise funcional proposta por Samson e McDonnell. 
Acrescentam que a proposição de aceitação da referência aos inobserváveis não vem 
acompanhada de uma negligência para com as metodologias empíricas; ao contrário, 
busca integrar capacidade preditiva com força explicativa. 
 Em um dos trabalhos mais recentes sobre o uso clínico da análise funcional, 
Sturmey (1996) acrescenta à lista de Haynes e O'Brien (1990) sete definições diversas 
para o termo análise funcional: 1) “afirmações que dizem respeito à forma matemática 
da relação entre diferentes variáveis” (p.8); 2) “afirmações relativas à função ou 
propósito do comportamento” (p.8); 3) “abordagem ateorética, genérica, para avaliação 
e elaboração de caso” (p.8); 4) “análises funcionais descritivas ecléticas” (p.8); 5) 
“análises funcionais descritivas comportamentais” (p.8); 6) “uso do termo 
exclusivamente para manipulações experimentais de variáveis, a fim de demonstrar 
relações funcionais entre comportamento e ambiente” (p.8); e 7) “análise funcional 
como método de tratamento ou como componente do tratamento” (p.8). Alguns 
esclarecimentos de Sturmey sobre as definições citadas são úteis para a visualização do 
alcance da análise funcional no contexto clínico. 
 Na explicação da primeira definição, Sturmey (1996) salienta que as relações 
matematicamente descritas podem não ser de causação, mas de correlação. Não está 
contida na versão matemática da relação funcional a referência à função adaptativa de 
uma classe de variáveis ou uma indicação necessária de causação. A segunda definição, 
um outro “tipo de funcionalismo” (p.11), envolveria a suposição de que “os 
comportamentos sob consideração servem a um propósito para o indivíduo” (p.11). A 
terceira definição coincide com a proposição de Samson e McDonnel (1990), segundo a 
qual a análise funcional não tem compromisso estreito com qualquer abordagem teórica. 
 
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A quarta definição pode ser tomada como uma variação da terceira, na medida em que 
acrescenta simplesmente a possibilidade de se conciliar apelos a variáveis 
comportamentais e cognitivas no interior de um mesmo tipo de aplicação da análise 
funcional. A quinta definição é apontada por Sturmey como mais diretamente vinculada 
à tradição da análise aplicada do comportamento11. Além do foco no comportamento 
desajustado, descrição das contingências atuais responsáveis pelo comportamento e 
ausência de manipulação experimental das variáveis envolvidas, as seguintes 
características desta versão da análise funcional são citadas: definição operacional do 
comportamento (enquanto classe funcional), especificação funcional das conseqüências 
que mantêm o comportamento (e.g. referências a reforçadores positivos e negativos), 
distinção entre variáveis antecedentes e operações estabelecedoras e, finalmente, 
inclusão dos eventos privados na análise, enquanto eventos comportamentais (estímulos 
antecedentes/conseqüentes, comportamentos). A sexta definição para análise funcional 
citada por Sturmey representa a restrição da referência a relações funcionais 
experimentalmente verificadas. A última definição corresponde a tomar-se o tratamento 
como oportunidade para prover ao cliente um treinamento em análise funcional, de 
modo que possam “desenvolver uma análise funcional de seu próprio comportamento e 
assisti-los para que usem a análise funcional para mudar seu próprio comportamento” 
(Sturmey, 1996, p.18). 
 Na interpretação de Sturmey (1996), a definição de análise funcional proposta 
por Haynes e O’Brien (1990) está baseada num reconhecimento da multicausação do 
comportamento e do caráter probabilístico de instâncias de relações inferidas. Desse 
 
11Um exemplo do uso da terminologia apresentada por Sturmey (1996) pode ser encontrada em Lopes 
(1997), onde a autora apresenta a sistematização de uma análise funcional comportamental descritiva de 
comportamentos de enfrentamento de mulheres com câncer

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