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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO MONITORIA DE CIÊNCIA POLÍTICA PROFESSOR: GILIARD CRUZ TARGINO MONITORA: MARIA EMELLYNE VIEIRA ROCHA MATERIAL DE APOIO PARA O 2º ESTÁGIO 1. Dos Elementos Constitutivos do Estado Ao adotar o conceito de Estado proposto por Jellinek, qual seja, ‘‘a corporação de um povo assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando’’, logo depreende-se quais são os principais elementos da constituição do Estado. Respectivamente: povo, território e soberania. 1.1 O Povo Inicialmente, cabe diferenciar povo de população. Esta diz respeito à totalidade dos indivíduos presentes no território de um Estado em dado momento. Tal afirmação significa que, além dos nacionais (brasileiros natos e naturalizados), o conceito de população, enquanto critério quantitativo, se estende, abrangendo também os estrangeiros e apátridas. Distinta da noção de povo, que supõe um laço jurídico de sujeição ao poder estatal, população é um conceito essencialmente demográfico com fins estatísticos. Por outro lado, povo representa o resultado natural do vínculo estabelecido entre o indivíduo e o Estado, por meio da nacionalidade e da cidadania (capacidade de votar e ser votado), sendo importante ressaltar o caráter substancial desse elo. No anseio de compreender o conceito de povo, deve-se, antes, levar em consideração que este pode ser trabalhado sob três prismas distintos: o político, o jurídico e o sociológico. Conceito Político de Povo De certa forma, a noção de povo é uma consequência da evolução histórica das sociedades ocidentais que em sua maioria, desde a ascensão do Estado liberal constitucional e representativo, passaram a atribuir aos governados o papel de sujeito, e não mais de objeto do processo da ordem política. Aqui o direito ao sufrágio (voto) foi a razão principal. E se a CF/88 todo poder emana do povo, este, que é o componente humano do conceito de Estado, deve ser entendido como aquela porção de população capaz de participar do processo democrático, através do voto. Conceito Jurídico de Povo Neste caso, deve-se fazer menção novamente ao conceito de povo exposto quando da necessidade de distingui-lo de população, ou seja: a totalidade das pessoas vinculadas a um determinado Estado, que, em decorrência do elo de nacionalidade e cidadania, converteram-se em sujeitos de direitos e obrigações. De modo que toda ênfase deve ser dada à cidadania, tendo em vista que apresenta-se incompleto o conceito que define tão somente o elemento pessoal como sujeito de direitos e obrigações. É preciso se ater ao status civitatis (cidadania). Sendo suscetível a variações interindividuais, contudo, delimitador do vínculo de nacionalidade, bem como, dos direitos e dos deveres perante o poder do Estado, que acompanham os indivíduos ao longo de toda a vida; a exemplo, especialmente, do direito de votar e ser votado e da observância das leis do Estado. Portanto, conforme disciplina a Constituição Federal em seu artigo 12, povo em sentido jurídico é a soma dos brasileiros natos e naturalizados, a saber: Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007) II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) Conceito Sociológico de Povo Por fim, está-se diante do conceito mais lato possível de povo. Neste último sentido, a ideia de povo se encontra mais próxima de um sentimento de nação que transcende barreiras jurídicas, territoriais e de tempo. Engloba as populações do passado, da contemporaneidade e do futuro, ai quais se identificam na mesma cultura, em semelhantes valores e em indistintas aspirações. Obs.: A rigor, o ordenamento jurídico brasileiro (a Constituição) não permite distinções entre brasileiros natos e naturalizados, com base no princípio da isonomia; salvo nas hipótese taxativas previstas na Carta Magna. Sendo a extradição uma delas, faz-se necessário reconhecer suas peculiaridades e diferenciá-la de expulsão, deportação, banimento, asilo político e refúgio. Extradição Segundo Accioly, Nascimento e Silva e Casella, “extradição é o ato mediante o qual um estado entrega a outro estado indivíduo acusado de haver cometido crime de certa gravidade ou que já se acha condenado por aquele, após haver- se certificado de que os direitos humanos do extraditando serão garantidos. A instituição da extradição tem por objetivo principal evitar, mediante a cooperação internacional, que um indivíduo deixe de pagar pelas consequências de crime cometido. Atualmente, a extradição procura garantir ao acusado um julgamento justo, de conformidade com o art. XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo o qual ‘Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa’”. Assim, a extradição pode dar-se de duas formas: Extradição ativa: Ao tratar da extradição ativa (aquela em que o Estado brasileiro solicita a Estado estrangeiro a entrega de indivíduo), o art. 20, caput, do Decreto-lei n. 394/38 estabelece que, quando se tratar de indivíduo reclamado pela justiça brasileira e refugiado em país estrangeiro, o pedido de extradição deverá ser transmitido ao Ministério da Justiça, que o examinará e, se o julgar procedente, encaminhará ao Ministério das Relações Exteriores para formalização da solicitação (cf. Ext 1.011, Rel. Min. Eros Grau, decisão monocrática, j. 10.10.2005, DJ de 25.10.2005). Extradição passiva: De acordo com o art. 5.º, LI, o brasileiro nato nunca poderá ser extraditado (refere-se aqui à extradição passiva). Já o naturalizado poderá ser extraditado em duas situações: crime comum: o naturalizado poderá ser extraditado somente se praticou o crime comum antes da naturalização; tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins: no caso de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei, o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado, não importando o momento da prática do fato típico, seja antes, seja depois da naturalização. Expulsão O art. 65 da Lei n. 6.815/80 entende passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. Compete exclusivamente ao Presidente da República, por decreto, resolver sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação,ficando, contudo, o ato expulsório sujeito ao controle de constitucionalidade e legalidade pelo Judiciário, por meio de habeas corpus. Diferentemente da extradição passiva, que se funda na prática de delito fora do território nacional, a hipótese de expulsão dar-se-á quando o delito ou infração (ato que atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento torne o estrangeiro nocivo à conveniência e aos interesses nacionais, além das hipóteses do parágrafo único do art. 65 da Lei n. 6.815/80) for cometido dentro do território nacional, caracterizando-se como verdadeiro instrumento coativo de retirada do estrangeiro do território pátrio, nas hipóteses descritas na lei (art. 22, XV, da Constituição Federal). A expulsão, portanto, prescinde (dispensa) de provocação da autoridade estrangeira, ao contrário do que ocorre com a extradição. Deportação Assim como os outros dois institutos estudados, é outro modo de devolução do estrangeiro ao exterior. A diferença baseia-se no fato de não estar a deportação ligada à prática de delito, mas sim aos casos de entrada ou estada irregular de estrangeiro, se este não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado, consubstanciando verdadeira saída compulsória do 1872 estrangeiro, para o país de sua nacionalidade ou de procedência, ou para outro que consinta em recebê-lo. Como se sabe, o art. 5.º, XV, da CF/88 estabelece ser livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Assim, a permanência irregular ou clandestina justifica a deportação. Banimento O envio compulsório de brasileiros ao estrangeiro, que caracterizaria a pena de banimento, é inadmitido pelo ordenamento jurídico pátrio (art. 5.º, XLVII, “d”, da Constituição Federal). Asilo político e refúgio (direito de permanecer no Brasil) Agora a análise se dá no que respeita ao direito de permanecer no Brasil, seja pelo visto, seja em razão das regras decorrentes de tratados, seja pelo asilo político ou refúgio. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais, dentre outros, pelo princípio de concessão de asilo político, regulado em diversos tratados dos quais o Brasil é signatário (art. 4.º, X). Segundo Rezek, asilo político “... é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures — geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial —, por causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal comum”. O asilo político é gênero do qual são espécies o asilo territorial e o asilo diplomático: asilo territorial: concedido ao estrangeiro no âmbito espacial da soberania estatal; asilo diplomático: concedido ao estrangeiro pela autoridade diplomática brasileira no exterior, ficando protegido, por exemplo, na Embaixada, no Consulado, em navio, aeronave, acampamento militar etc. O asilo político não se confunde com o refúgio. Enquanto o asilo político relaciona-se ao indivíduo perseguido, o refúgio decorre de um abalo maior das estruturas de determinado país e que, por esse motivo, possa gerar vítimas em potencial. O refúgio é solicitado ao Comitê Nacional para os Refugiados, que funciona no Ministério da Justiça e está regulamentado na Lei n. 9.474/97, que dispõe, em seu art. 1.º, ser reconhecido como refugiado todo indivíduo que: devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. 1.2. O Território Havendo pouca discordância, o território constitui a base geográfica do poder político, aquele sem este inexistiria. Em sua definição mais limitada, corresponde ao espaço dentro do qual o Estado exercita seu poder de império (soberania). Esta é a concepção jurídica de território. De acordo com Pergolesi, ‘‘a parte do globo terrestre na qual se acha efetivamente fixado o elemento populacional, com exclusão da soberania de qualquer outro Estado.’’ Logo, são componentes territoriais: a terra firme, com as águas aí compreendidas, o mar territorial, o subsolo e a plataforma continental, bem como o espaço aéreo. Na concepção política, adota-se uma perspectiva na qual o meio físico atua como um forte determinante da natureza das instituições políticas, visão esta, exposta da melhor forma por Montesquieu. Atualmente, o ramo dos estudos sociais que se ocupa em teorizar de modo concernente ao modelamento do Estado pelas condições geográficas, como o relevo e os limites do território, é a Geopolítica. Resumidamente, em Bonavides, existem quatro espécies de território: Território-patrimônio: o território seria propriedade do Estado. É uma concepção um tanto medieval, em função do sistema feudalista. Foi logo extinta, pois confrontava com a noção de propriedade privada. Território-objeto: teoria em que o Estado exerceria o domínio eminente sobre o território (direito real de caráter público), que poderia se combinar com o domínio útil exercido pelo cidadão. Também foi descartada, porque não se pode ter dois direitos de propriedade sobre a mesma coisa. Território-espaço: o poder do Estado sobre o território é decorrência de seu poder sobre as pessoas que nele vivem. Essa teoria tem dificuldade para explicar o poder exercido sobre áreas desabitadas do Estado. Território-competência: território é o limite do espaço em que o Estado exerce as suas competências jurídicas. Onde não exerce, não é território. • Território marítimo: é delimitado por aspectos de segurança, política e economia. No Brasil, vai até 200 milhas além da praia. • Território aéreo: determina que aeronaves de passageiros tenham livre poder de circulação. As de espionagem ou satélite, mesmo não podendo estar circulando sem permissão, não podem ser simplesmente abatidas, ou seja, as consequências devem ser outras. Limites do território TERRITÓRIO EM SENTIDO RESTRITO – também chamado de território real, território propriamente dito – é a porção circunscrita pelas fronteiras nacionais. Dentro desde conceito estão contidos os seguintes elementos: solo; subsolo; mar territorial, espaço aéreo nacional e plataforma continental. Sendo o Brasil um Estado delimitado em grande parte de seu território pelo mar, torna-se importante abordar a Lei n. 8.617, de 4 de janeiro de 1993, quando o Brasil adaptou suas normas internas às da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (Convenção de Montego Bay), delimitando os espaços marítimos, os deveres e direitos em cada parte, aos termos fixados internacionalmente, que passaram a integrar o nosso ordenamento jurídico. Inclusive coma revogação de todas as normas que lhe fossem contrárias. Assim, pela Lei n. 8.617/93, as águas externas brasileiras compreendem três faixas distintas: a) o mar territorial, que é a faixa de 12 milhas marítimas medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro (art. 1º); b) zona contígua, compreendendo uma faixa que vai das 12 às 24 milhas marítimas, ‘‘a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial’’ (art. 4º); e c) a zona econômica exclusiva, que é a faixa que se estende das12 milhas do mar territorial até 200 milhas. No mar territorial, ainda segundo a Lei n. 8617, arts. 2º e 3º, inclusive em seu leito, subsolo e espaço aéreo, o Brasil exerce sua soberania, admitida a ‘‘passagem inocente’’ de navios de qualquer nacionalidade – o que se define como a passagem ‘‘contínua e rápida’’, além de ‘‘não prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança’’ do País. Na zona contígua o Brasil exerce fiscalização para evitar infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, podendo mesmo reprimir quaisquer dessas infrações, no seu território ou no seu mar territorial. Na zona econômica exclusiva o Brasil exerce ‘‘direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão de recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar e seu subsolo’’ (art. 6º). Os arts. 8º a 10 dessa Lei estabelecem normas sobre proteção, investigação e preservação do meio marinho, construção e operação de instalações ilhas artificiais, exercícios e manobras militares, navegação e sobrevoo dessa zona do mar. O espaço aéreo não dispõe de definição formal, comumente se entende que seu limite é até onde as aeronaves civis ou militares possam sobrevoar, daí em diante, o espaço pertence à humanidade. A plataforma continental é o solo e o subsolo do mar territorial, segundo o art. 20 da CF/88. TERRITÓRIO FICTO – Também chamado de território por extensão, são determinadas situações jurídicas às quais a lei atribui o status de território. Ex.: Art. 5º do Código Penal – embarcação pública nacional onde quer que esteja; embarcação particular nacional no mar territorial nacional e no mar internacional; aeronave pública nacional onde quer que esteja; aeronave particular nacional no espaço aéreo nacional e no espaço aéreo internacional. Obs.: Representação diplomática (embaixadas e consulados) não é território ficto (por extensão). 1.3. O governo soberano É uma característica essencial do poder do Estado (Jellinek). Só o poder do Estado é soberano e não há Estado sem poder soberano. É a qualidade que torna o poder do Estado supremo internamente. Externamente, a soberania significa que o Estado é igual e independente em relação aos demais. Formação histórica do conceito de soberania O conceito de soberania não era conhecido na Antiguidade nem na Idade Média, pois, segundo Jellinek, faltava a oposição do poder do Estado frente aos demais poderes. A noção de soberania surge com o Estado Moderno, como consequência da afirmação do poder exclusivo e supremo do monarca sobre o território e o povo do Estado. O primeiro teórico a tratar do assunto foi Bodin (1576). Com relação ao aspecto externo da soberania, o pioneiro foi Grocio (1609). Traços característicos da soberania Para Bodin, soberania é o poder absoluto e perpétuo num Estado, pertencente ao monarca (legibus solutus, superiorem non recognoscens). Para Rousseau, a soberania pertence ao povo, expressa a vontade geral e é una, indivisível, inalienável, imprescritível. A concepção de soberania evoluiu de uma base exclusivamente política (força, vontade) para uma justificativa jurídica (direito), culminando com uma combinação dos dois fundamentos. Em suma, não se pode esquecer: a soberania é indivisível (unidade), intransferível (inalienabilidade), imprescritível, comandante e independente. Concepção política de soberania: Poder é força, dominação, eficácia (Jhering: “a força produz o Direito”). Segundo essa concepção, soberania é o poder incontrastável de querer coercitivamente e de fixar competências (preocupação com a plena eficácia do poder). Concepção jurídica de soberania: O poder é originado pelo Direito (O normativismo de Kelsen e sua Teoria Pura do Direito: a norma hipotética, suposta, como fundamento da ordem jurídica). Soberania é o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas (preocupação com a eficácia do Direito – Estado de Direito). Concepção culturalista de soberania: Segundo a Teoria Tridimensional de Miguel Reale, o Estado é ao mesmo tempo um fenômeno social (fato), político (valor) e jurídico (norma). O poder é substancialmente político, mas não há organização social sem direito (ubi societas, ibi jus; ubi jus, ibi societas). O que há são graus de juridicidade: a presença do Direito vai de um mínimo (a força ordenadamente exercida) até um máximo (força empregada exclusivamente como um meio de realização do Direito), conforme o grau de evolução cultural de uma sociedade. Conceito jurídico-político: Soberania é a capacidade de um povo de organizar-se juridicamente e de fazer valer, dentro de seu território, a universalidade de suas decisões, nos limites dos fins éticos da convivência humana (Miguel Reale). Justificação da soberania Doutrina teocrática: O poder vem de Deus, sendo transmitido ao monarca ou ao povo, conforme a ideologia política predominante; Doutrina democrática: O poder se origina do povo, sendo por ele exercido diretamente ou por meio de representantes. Significação SOBERANIA INTERNA: Internamente, em relação ao povo do Estado e quem se encontre em seu território, soberania é o poder supremo. É o poder emanado da constituição, expressado em decisões judiciais de caráter absoluto. SOBERANIA EXTERNA: Externamente, soberania significa igualdade e independência de um Estado em relação aos outros. É a liberdade de atuar no âmbito internacional independentemente da aprovação ou não de outras nações. Conclusões A soberania surge em um momento de demanda pela centralização do poder, dispondo de caráter absoluto justamente para conseguir cumprir a sua função. Por conseguinte, soberania não é o poder, mas sim qualidade do essencial do poder do Estado. É expressão do poder máximo, mas não do poder absoluto, pois tem regras e limites para o seu exercício. Obs.: O pluralismo jurídico oferece riscos à soberania interna, visto que o poder deixa de emanar somente do Estado soberano em questão. 2. O Estado e seu Governo 2.1 Formas de Estado Forma de Estado é expressão que indica maior ou menor descentralização do poder político. O Estado pode ter forma centralizada/centrípeta (unitário) ou descentralizada/centrífuga (composto). Estado Unitário: Dentro deste território existe um único centro de poder, ou seja, um única pessoa jurídica que pode editar leis. Ex.: Uruguai. Estado Composto: Dentro deste território incidem duas ou mais espécies de leis, possuindo mais de um centro de poder, ou seja, mais de uma pessoa jurídica que pode editar leis (União, Estados e Municípios, no caso brasileiro). CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO a) indissolubilidade do vínculo (art. 1º da CF) – mecanismos de proteção dessa característica: intervenção federal (art. 34 da CF), direito penal (art. 109, IV, da CF – crime político – Lei 7.170/83); b) divisão constitucional de competência (ex. competência da União – arts. 21 e 22 da CF, competência dos Estados Membros – art. 25 da CF, competência do Distrito Federal – art. 32 da CF, competência dos Municípios – arts. 29 e 30 da CF); c) participação das unidades parciais na formulação da vontade geral (Senado Federal – art. 46 da CF, proposta de Emenda Constitucional por mais da metade das Assembleias Legislativas – art. 60, inciso III, da CF); d) existência de um tribunal encarregado de manter a supremacia da constituição (STF – art. 102 da CF); e) a própria existência da constituição. CONFEDERAÇÃO vs. FEDERAÇÃO ➢ A confederação nasce através de um tratado internacional, a federação nasce a partir de uma constituição. ➢ Na confederação as unidades parciais tem direito de secessão (separação), na federação as unidades parciais não tem direitode secessão ➢ Na confederação as unidades parciais tem soberania, na federação as unidades parciais não são dotadas de soberania e sim de autonomia. Obs.: Unidade parcial é a denominação da parte na forma de Estado. Unidade parcial pode ser chamada de Cantão (Suíça), Laender (Alemanha), Província (Argentina), Estados membros (Brasil). No processo histórico de formação da federação norte-americana, vemos que ela é uma federação por agregação ou federação centrípeta (tem maior autonomia); no Brasil, tivemos um Estado unitário, daí porque a federação brasileira é considerada por desagregação ou centrífuga (tem menos autonomia). Jamais esquecer: A forma federativa de Estado é cláusula pétrea, portanto irrevogável! 2.2 Formas de Governo Segundo Aristóteles, havia três formas de governo: a monarquia (ou realeza), a aristocracia e a democracia (ou república). Monarquia seria a forma de governo em que apenas um indivíduo detém o poder. Aristocracia aquela em que um grupo reduzido de indivíduos detêm o poder (o grupo dos melhores). E república seria a forma exercida por todo o povo, no interesse da sociedade. Para Aristóteles a monarquia se degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia e a república em demagogia. Maquiavel propõe nova classificação das formas de governo, baseado na teoria que desenvolve na obra Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, em que defende a teoria dos ciclos de governo. Nesse sentido, tal teoria considera que o ponto de partida da sociedade é um Estado anárquico, que evolui para uma organização chefiada pelo indivíduo mais forte e depois pelo mais justo. Este último passa o poder para seus descendentes, degenerando o sistema em tirania. A tirania é substituída por um governo aristocrático, que, por sua vez, se degenera em uma oligarquia. Em etapa posterior, a oligarquia dá lugar a um governo do povo, que, no entanto, degenera e retorna ao sistema anárquico primitivo. Para Maquiavel, a única forma de quebrar esse ciclo seria pela reunião de monarquia, aristocracia e democracia em um único governo. Montesquieu classifica as formas de governo em: republicano, monárquico e despótico. No governo republicano, o povo, ou uma parcela dele, possui o poder soberano; no monárquico apenas um indivíduo detém o poder e governa segundo leis pré-existentes; já no despótico, um indivíduo governa conforme sua própria vontade. Para Montesquieu, a república se realiza em território relativamente reduzido, ao passo que a monarquia exige território de grandes dimensões, e o despotismo maior ainda. Ainda seguindo o raciocínio do Barão de Montesquieu, a república poderia existir de duas formas: aristocrática ou democrática. 2.3 Sistemas de Governo Via de regra, existem dois sistemas de governo: presidencialismo e parlamentarismo. Vejamos as principais distinções: No sistema presidencialista, as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo encontram-se nas mãos de uma única pessoa, o Presidente da República. Já no parlamentarismo, a função de Chefe de Estado é exercida pelo Presidente da República (República parlamentarista) ou Monarca (Monarquia parlamentarista), enquanto a função de Chefe de Governo, pelo Primeiro-Ministro, chefiando o Gabinete; No presidencialismo existe independência política do executivo em relação ao legislativo, diferentemente do que ocorre no parlamentarismo em que existe dependência política do executivo em relação ao legislativo; No presidencialismo o mandato do chefe do executivo é determinado, diferentemente do que ocorre no parlamentarismo em que o mandato do chefe do executivo pode ser reduzido pelo legislativo. Existem duas espécies de parlamentarismo: a) parlamentarismo monárquico constitucional (temos o rei exercendo a função de chefe de Estado e primeiro- ministro exercendo a função de chefe de governo); b) parlamentarismo republicano (temos presidente exercendo a função de chefe de Estado e primeiro-ministro exercendo a função de chefe de governo). Obs.: O Brasil teve experiência parlamentarista entre setembro de 1961 e fevereiro de 1963. 2.4 Regime Político Em geral, a doutrina aborda três espécies de regime político, quais sejam, a democracia, o autoritarismo e o totalitarismo. Embora não exista consenso definitivo sobre o conceito de "democracia", é possível assinalar as principais características do regime político democrático, que são: a) livre participação dos governados nas decisões fundamentais dos governantes, que agem como verdadeiros mandatários; b) eleições livres e periódicas; e c) garantias legais de efetiva proteção aos direitos dos cidadãos, tais como liberdade de associação, de informação e de deslocamento. No regime político autoritário, determinado grupo governante exerce o poder dentro de um regime de legalidade preexistente, por eles estabelecido e imposto à sociedade, com pouca ou nenhuma participação popular nas decisões. No regime político totalitário, existe uma corrente ideológica única, imposta por partido de massa, também único, de forma que o poder político é exercido de forma concentrada e centralizada, por um grupo dominante, que se perpetua no governo, somente podendo ser dele afastado por meio de processos de ruptura, frequentemente com emprego de violência, como guerra civil, guerrilha, ou revolução. Como se sabe, no Brasil vigora um regime político democrático, na sua forma semidireta, o que significa que, via de regra, temos uma democracia representativa, na qual o povo escolhe indivíduos que o representarão nas grandes deliberações do Estado. No entanto, há algumas situações específicas em que a democracia brasileira torna-se direta, são elas: plebiscito, referendo e iniciativa popular. Nos plebiscitos, a população é convocada para opinar sobre o assunto em debate antes que qualquer medida tenha sido adotada, fazendo com que a opinião popular seja base para elaboração de lei posterior. No caso do referendo, o Congresso discute e aprova inicialmente uma lei e então os cidadãos são convocados a dizer se são contra ou favoráveis à nova legislação. Por fim, quando se trata de Iniciativa Popular de Lei, os eleitores têm o direito de apresentar projetos ao Congresso Nacional desde que reúnam assinaturas de pelo menos 1% do eleitorado nacional, localizado em pelo menos cinco Estados brasileiros, sendo obrigatória ainda, a participação de três décimos por cento do eleitorado de cada Estado (3 a cada 1000). Esse percentual representa a coletânea de aproximadamente 1,3 milhão de assinaturas em todo o País. Boa sorte!
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