Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Geologia Estrutural 27 CAP. 3 - ANÁLISE DO ESFORÇO 3.1- Introdução A deformação dos materiais é produzida por ação de forças. As forças que atuam nas rochas da crosta são principalmente a ação da gravidade e movimentos relativos de grandes blocos de massas na crosta e no manto superior. A força gravitacional é proporcional à massa e, no que concerne à deformação, pode ser avaliada em termos do peso da coluna de rocha em um determinado ponto. As forças que atuam numa rocha produzem um conjunto de esforços (stress) e a quantidade de deformação é medida pelas mudanças nas dimensões do corpo. Essas mudanças podem ser de forma, volume, ou ambos e vão constituir o que chamamos de deformação (strain), conforme já discutido no capítulo anterior. 3.2 - Força e Esforço Para que se entenda o conceito de esforço (stress), é necessário que se entenda o conceito de força. A força é o produto da massa pela aceleração. É um vetor, possuindo intensidade, direção e sentido. O vetor força pode ser dividido em duas componentes e, por extensão desse princípio, qualquer sistema de forças pode ser representado por sua resultante. * Definição de esforço → Na deformação das rochas não se considera qualquer aceleração do corpo, tratando o sistema como fechado, com as forças opostas se cancelando. Esforço é um par de forças iguais e opostas agindo na unidade de área de um corpo. Portanto, o esforço abrange a força atuante e a reação oposta do material. A intensidade do esforço depende da intensidade da força e do tamanho da área de atuação. Esforço = Força/ Área Unidades : sistema SI → Força = Newton, onde N= 1 Kg. m. s-2 Esforço = Pascal, onde Pa = 1 Nm-2 mais usado → bar = 105 pascals = 0.1 MPa Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 28 3.3- Stress normal e cisalhante Uma força atuando numa superfície pode ser dividida em um stress normal agindo perpendicularmente à superfície e um stress cisalhante atuante paralelamente à superfície. Por convenção: - stress normal → σ (sigma) - stress cisalhante → τ (tau) Em três dimensões o stress cisalhante pode ser dividido em duas componentes com ângulos retos τ1 e τ2. 3.4- Stress em um ponto As forças atuantes em cada uma das faces de um cubo de referência pode ser resolvida em três componentes ortogonais, uma normal e duas paralelas à face. Se a magnitude de cada uma das três componentes for dividida pela área da face do cubo obteremos a magnitude das três componentes do stress. Usando-se as arestas como um sistema cartesiano e empregando o símbolo δij para denotar a componente do stress que atua na face perpendicular a Xi , e na direção de Xj , os vários componentes do stress podem ser representados como mostrado abaixo e escrito na seguinte maneira: σ 11 σ 12 σ 13 Índices iguais → stress normal σ 21 σ 22 σ 23 Índices diferentes → stress cisalhante σ 31 σ 32 σ 33 A situação ilustrada na figura acima é complicada pelas variações nas magnitudes e direções das forças em cada face do cubo, portanto torna-se conveniente considerar o estado de stress em cada ponto. O stress em um ponto é definido pela razão limite da força pela área quando a área da face se aproxima de zero. Três importantes consequências são: - a distribuição das forças sobre cada face tende a uniformizar-se; - as forças nas faces opostas se aproximam em direção e magnitude; - as forças capazes de exercer um torque resultante sobre o cubo tendem a se anular. Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 29 Isso significa que σ 12 = σ 21 ; σ 31 = σ 13, etc. Assim, quando o estado de stress em um ponto é considerado, os componentes podem ser escritos assim: σ 11 σ 21 σ 13 σ 21 σ 22 σ32 σ 13 σ 32 σ 33 Existem, portanto, 6 componentes independentes do stress em um ponto, em qualquer material: 3 componentes normais e 3 componentes cisalhantes. 3.5- Eixos Principais de Stress Em situação de stress homogêneo é possível sempre o encontro de 3 planos mutuamente perpendiculares, nos quais o stress cisalhante é nulo. São chamados planos principais de stress e os esforços normais à eles são os eixos principais de stress. Convencionalmente são chamados de σ1, σ2, e σ3, com σ1 > σ2 > σ3 (maior, intermediário e menor eixo de stress). 3.6- Elipsóide de Esforço É a figura geométrica construída a partir de três eixos e dimensões diretamente proporcionais às intensidades dos 3 eixos principais de esforços (σ1, σ2, e σ3 ). O conhecimento do campo de esforços existentes nas rochas durante a deformação é muito pequeno ainda na geologia estrutural. Isso é, em parte, devido `as complexidades dos campos de esforços que atuam na deformação e à falta de informação sobre as propriedades mecânicas das rochas. Um exemplo disso pode ser visto na figura 1.24 (Hobbs), ilustrando a orientação do stress num leito dobrado feita por computador, onde cada linha tracejada é perpendicular à σ1 em cada ponto. 3.7- Classes de Esforços Analisando a matriz do estado de esforço homogêneo, pode-se estabelecer o seguinte: σ 11 σ 21 σ 13 p 0 0 σ 11-p σ 21 σ 13 σ 21 σ 22 σ32 + 0 p 0 = σ 21 σ 22 -p σ32 σ 13 σ 32 σ 33 0 0 p σ 13 σ 32 σ 33 -p p = (σ 11 + σ 22 + σ 33)/3 ou p= (σ 1 + σ 2 + σ 3)/3 Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 30 Em três dimensões, p representa o esforço médio (mean stress) ou uma condição de pressão hidrostática. Os esforços normais, em diferentes direções, geralmente diferem do esforço médio, e essa diferença é conhecida como esforço desviatório (deviatoric stress - σ′): σ′ = σ - (σ 1 + σ 2 + σ 3)/3 Esforço não desviatório: a parte do esforço que consiste unicamente de: esforço normal = p e esforço cisalhante = 0 3.8- A Envoltória de Mohr É importante que se estabeleça que, embora o esforço tenha muitas das características físicas da força associada à ele, o conceito de esforço tem sempre a associação física com a área de atuação. Portanto, o valor do esforço não varia somente com a orientação e a intensidade da força atuante, mas varia também quando ocorre mudanças na orientação e tamanho da área. A Figura 1.2, na página seguinte, (Hobbs, ,et al., 1976), mostra seções de cubos, onde uma força de intensidade F age perpendicularmente à face do cubo de área A (Fig. 1.2a). Cortando o cubo existe um plano P, cuja normal forma um ângulo θ com F. Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 31 Qual será a componente normal e cisalhante da força sobre o plano P e como elas diferem em intensidade da componente normal e cisalhante do esforço sobre o plano P ? Da figura 1.2a, tira-se: ⏐Fn ⏐ = Fcosθ ⏐Fs ⏐= Fsenθ (3.1) Da figura 1.2b, tem-se que o esforço (σ) na face do cubo tem intensidade F/A, onde a área do Plano P é : AP = A/cosθ (3.2) então: ⏐Fn ⏐ = Fcosθ = Aσcosθ = APσcos2θ e (3.3) ⏐Fs ⏐= Fsenθ = Aσsenθ = APsenθcosθ Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 32 Portanto, as intensidades das componentes normal e cisalhante do esforço sobre o plano P são: ⏐σN ⏐= ⏐FN ⏐/ AP = σcos2θ = F/A cos2θ e (3.4)⏐σS⏐ = ⏐FS ⏐/ AP = σ/2sen 2θ = F/A senθ cosθ A maneira como as intensidades de FN e σN , e as de Fs e σS variam com θ está mostrado na Fig. 1.2c e 1.2d, respectivamente. A comparação entre as equações 3.1 e 3.4 mostra que os esforços não podem ser entendidos como se fossem forças, e que as mudanças nas áreas de atuação também devem ser levadas em consideração. Onde os esforços principais são σ1 e σ2 , as equações 7.4 se transformam em: σN = ½ (σ1 + σ2) + ½ (σ1 - σ2)cos2θ (3.5) σS = ½ ( σ2 - σ1) sen2θ Outras expressões podem também ser deduzidas quando se considera a situação tridimensional, com σ1 , σ2 e σ3 (Jaeger, 1969, pp. 5-20). As equações 3.5 levam à construção do diagrama de Mohr, muito utilizado em experimentos de ruptura. (Figs. 2.16 Nicolas e 1.3 Hobbs ). Fig. 2.16 (Nicolas) Diagrama de Mohr, mostrando somente o mais significante círculo (σ1 , σ3 ). O diagrama de Mohr representa o esforço normal (σN ) no eixo das abcissas e o esforço cisalhante (σS ) no eixo das ordenadas. O círculo do diagrama de Mohr pode Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 33 ser desenhado de várias maneiras, com as coordenadas de seu centro variando em função da simbologia que se utiliza para representar os diversos esforços. A Figura 1.3 (Hobbs) representa o diagrama de Mohr para esforços principais σ1 e σ2. Neste exemplo, o diâmetro do círculo é = σ1 - σ2 e o centro tem coordenadas [(σ1 +σ2)/2 , 0]. Figura 1.3 (Hobbs). Representação do Diagrama de Mohr. Podem ser encontradas as coordenadas, em termos de (σN - σS ) , para qualquer ponto do círculo, onde os valores de σN e σS são dados pela equação 3.5 e 2θ é o ângulo entre o eixo σN e a linha PQ, sendo Q o centro do círculo e P o ponto considerado. O diagrama de Mohr permite se determinar os esforços normal e cisalhante que atuam sobre um plano qualquer, onde os esforços principais são σ1 e σ2 , ou encontrar σ1 , σ2 e θ, conhecendo-se σN e σS em dois planos ortogonais. Utilizando o diagrama de Mohr, é possível se calcular o esforço cisalhante correspondente ao ponto de ruptura de um material isotrópico, sob crescentes valores de pressão confinante. Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 34 Uma curva de ruptura experimental pode ser definida, medindo a resistência máxima do material sob diferentes estados de pressão confinante. Esta linha é chamada de envoltória de Mohr e representa os valores máximos de esforços cisalhantes suportados pôr um material antes da ruptura (Fig. 3.4, Nicolas). A envoltória é definida pelo chamado critério de Coulomb, que se expressa por: τC = C + μσC , onde τC : resistência do material C : cte, depende da coesão interna do material σC : esforço normal exercido no momento da ruptura μ : coeficiente de fricção interna Na Figura 3.4, C representa o valor máximo de esforço cisalhante que o material suportará sem se romper e φ representa a inclinação da curva de ruptura e é chamado de ângulo de fricção interna e é também o complemento de 2θ no diagrama de Mohr. Figura 3.4 (Nicolas) . Condições críticas para ruptura mostradas pelo diagrama de Mohr. Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA Geologia Estrutural 35 3.9- Campo de esforços (stress field) Para cada ponto de um corpo rochoso existe um estado de esforço correspondente. As matrizes deste estado de esforço, conjuntamente e em determinado instante, são denominadas de campo de esforços. O mais simples estado de esforço que existe é o de campo de esforço homogêneo. Na natureza não acontece bem assim: ? primeiro - as body forces (forças do próprio corpo) introduzem gradientes nos esforços ponto a ponto; ? segundo - as diferenças mecânicas que as rochas apresentam (cristais, leitos, descontinuidades, etc.) geram um campo não homogêneo. Normalmente o campo de esforço é definido por uma série de trajetórias. 3.10- História do esforço Três tipos de histórias podem ser atribuídas ao esforço: steady state, contínuo e descontínuo. steady state: situação na qual todos os componentes do tensor esforço são constantes em relação ao tempo. Ex: situações de temperaturas suficientemente altas ou taxas de deformação (strain rate) suficientemente baixas para que os processos de recristalização continuamente reconstituam a microestrutura de uma rocha. Nessas situações as mudanças microestruturais são eliminadas pela recristalização tão rapidamente quanto as mesmas são introduzidas pela deformação. Isso evita que haja mudanças nas propriedades do material com o tempo e a deformação pode prosseguir indefinitivamente com a aplicação de um esforço constante. Esforço contínuo : associado à mudanças graduais em um ou mais componentes do esforço. É a situação mais comum na Geologia. Ex: dobras, foliações, juntas, etc. Esforço descontínuo: associado à mudanças abruptas nas condições do esforço. Caso dos terremotos. Profs. M. Matta & F. Matos - DGL/UFPA CAP. 3 - ANÁLISE DO ESFORÇO Fig. 2.16 (Nicolas) Diagrama de Mohr, mostrando somente o mais significante
Compartilhar