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DESAFIOS DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL NICÉLIA AUXILIADORA DE OLIVERIA1 LUCIANA MIALICH SCADELAI2 RESUMO: Este trabalho traz uma reflexão de natureza bibliográfica em torno do processo da educação inclusiva e os desafios enfrentados pela escola pública para de fato promover a inclusão, especificamente na educação infantil. O estudo parte da premissa de que apesar dos avanços da legislação, a Educação Inclusiva ainda está distante se promovida com qualidade do educando e devida atenção às necessidades educativas especiais no sistema regular de ensino. Conclui-se que pra de fator promover a inclusão na educação, a escola ainda precisa de garantias para integrar os conceitos e cumprir os dispositivos legais. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Educação Infantil; Atendimento Educacional Especial. 1 Introdução A presente pesquisa apresenta um breve estudo sobre os principais aportes teóricos da educação inclusiva e analisa os desafios de promover a inclusão na educação infantil no contexto escola pública de ensino regular, considerando as políticas educacionais em defesa do direito de todos os alunos de estudarem juntos, ainda está distante da realidade escolar, pois, os recursos pedagógicos e mudanças necessárias no ambiente educacional nem sempre é garantida pelo poder público. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 1996) define que a Educação Infantil deve ser oferecida em creches ou em entidades equivalentes, para crianças de 0 a 3 anos de idade, e em pré-escola, para crianças de 4 a 6 anos (BRASIL, 1996). A escolha do tema se justifica por vivencia dessa acadêmica, enquanto educadora de uma escola regular municipal, ao observar que a inclusão de algumas crianças na Educação Infantil, com necessidade de Atendimento Educacional Especial (AEE) se dá pela obrigatoriedade de atender e necessidade de promover o acolhimento da melhor maneira possível, sendo portanto, um desafio para o educador e para a escola que enfrenta dificuldades do sistema educacional que 1 Nicélia Auxiliadora de Oliveira, graduada em Pedagogia, habilitação em Educação Infantil. Acadêmica de Especialização em pós-graduação Lato Sensu em Educação Especial e Inclusa, pela Faculdade de Educação São Luís auxiliadora.nicelia51@gmail.com. 2 Orientadora: Mestrado em Psicologia Educacional pela USP 2 acaba por exigir esforços pessoais para promover a educação inclusiva e atender as especificidades e as diferenças que devem ser aceitas e acolhidas na escola. O objetivo da pesquisa é compreender como o processo de Educação Inclusiva na escola regular é normatizado pelos dispositivos legais da Educação. Os objetivos específicos procura distinguir conceitos acerca da educação inclusiva e do atendimento educacional especial. A metodologia de natureza qualitativa, recorre a pesquisa bibliográfica, pautada nas políticas educação especial na perspectiva da educação inclusiva, para identificar como pode ser efetivado o processo de inclusão no contexto educacional em escolas regulares, especificamente na Educação Infantil, quais mudanças a escola deve lançar mão em termos de recursos e currículos inclusivos, independentemente, da escola de ter ou não condições de acolher adequadamente esses alunos. Dividido em tópicos. No primeiro apresenta-se a Fundamentação Teórica que aborda a educação infantil; um breve recorte histórico da educação na inclusiva distinguindo-a da educação especial e trata da construção da escola inclusiva em termos de avaliar, formas e conceitos pedagógicos. No Segundo, o papel da escola frente ao processo de inclusão. No quarto tópico é apresentada a metodologia. Com base nos resultados da pesquisa e vivencia dessa autora, a educação compreendida como um direito de todos na perspectiva da educação inclusiva, ainda precisa das escolas públicas, espaços educacionais adequados e formação continuada dos educadores em todos os níveis de atuação para que valorizem as diferenças sociais, culturais, físicas e emocionais e realmente transforme a escola em espaços inclusivos. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Educação Infantil A educação infantil no Brasil começa com o surgimento das creches, como uma instituição substituta do lar materno para a mulher trabalhadora. Durante o final do século XIX e início do século XX, essa modelo de atendimento assistencialista prevaleceu e nessa fase a criança era excluída do processo educativo. Somente a partir da Constituição Federal de 1988 (CF/88), a educação infantil foi reconhecida como um direito de todas as crianças (BRASIL, 1998b). 3 Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), educação infantil compreende a educação de crianças de 0 a 5 anos, oferecida em creches para crianças de 0 a 3 anos e pré-escola para crianças de 4 a 5 anos. A Educação Infantil deve ser adotada para mediar à aprendizagem e o desenvolvimento de crianças em espaços coletivos (BRASIL, 1996). Mais tarde, em 1998, o Ministério da Educação publicou o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), voltado especificamente aos profissionais em educação infantil, destacando a LDBEN de 1996, onde inseriu a educação infantil como primeira etapa da Educação Básica e também define que a finalidade da educação infantil é promover o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade (BRASIL, 1998a). O RCNEI (1998A) , documento pedagógico, processo a construção de conhecimentos em consonância com objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos. Recomenda respeito a diversidade cultural brasileira, sugerindo atividades de inter- relações a serem trabalhadas com as crianças. É um guia de orientação, de uso facultativo, para discussão entre profissionais do mesmo sistema de ensino.bb 1998a). 2.2 Educação Inclusiva: recorte histórico Ao se pensar na educação inclusiva, torna-se importante não confundir a perspectiva da educação inclusiva com educação especial. Embora o Atendimento Educacional Especial (AEE), apresentado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) como apoio alternativo, faça parte do processo. Na prática a educação inclusiva aponta para a inclusão de todos os estudantes na sala de aula da educação regular, independentemente das suas diversidades e singularidades pessoais. Historicamente as pessoas com necessidades especiais, viveram momentos de exclusão e segregação. Crianças com alguma anormalidade física ou mental, eram consideradas indignas da educação escolar. No século XVII, eram condenadas à morte às escondidas pela igreja, internadas em manicômios ou abandonadas em orfanatos e outros tipos de instituições estatais, sujeitas a conviver com outros tipos de doentes, totalmente excluída com ambiente familiar (MINETTO, 2015). 4 No início do século XIX, surge com a criação de instituições especializadas em pessoas com deficiências, a educação especial institucionalizada, apropriando a alfabetização baseada no nível de quociente intelectual (QI). Escolas especiais se multiplicaram, diferenciando atendimento, com programas e especialistas próprios para surdo, mudos, cegos, deficientes mentais, paralisados etc. funcionado paralelamente ao sistema regular de ensino, a educação passou a ter duas nomenclaturas: Educação Regular e Educação Especial (MINETTO, 2015) Em meados da década de 1970, crianças com deficiências passaram a ter acesso as salas de aula do ensino regular, desde fosse capaz de se adaptar sem exigir modificação do currículo. Assim, aqueles que não conseguiam acompanhar ou se adaptareram excluídos do contexto escolar. A partir de 1980, uns números significativos de alunos com deficiência passaram a fazer parte das salas de aula do ensino regular, contribuindo para debates em torno da Educação Especial acerca das insatisfações que foram se apresentando em relação a mobilidade e atendimento especializado (MINETTO, 2015). O conceito de inclusão na educação teve ênfase a partir de 1994 na Conferência da Unesco em Salamanca, na Espanha, pela declaração de direitos e princípios fundamentais da Educação Inclusiva, onde duas propostas foram apresentadas para atender alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular: integração e inclusão. Na proposta de integração, os alunos eram inseridos em salas regulares conforme apresentassem condições para acompanhar a turma. Na inclusão, independentemente do tipo ou grau de comprometimentos, os alunos deveriam ser matriculados diretamente no ensino regular, sob o pressuposto de que a escola deve se adaptar para atender as necessidades dentro da sala regular (GARCIA, 2014). Com a instituição da Política Nacional de Educação Especial (PNEE) na perspectiva da educação inclusiva, as escolas regulares, assim como instituições de ensino superior, ficaram obrigadas a assegurar a matrícula de alunos com deficiências físicas ou mentais, com transtornos globais do desenvolvimento e, a alunos com altas habilidades/superdotação, devendo o contexto escolar se adaptar as necessidades do aluno (BRASIL, 2008). A partir da PNEE a escola passa a receber também os alunos com deficiência, e depois que o Brasil assinou a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, crianças com graves 5 comprometimentos, principalmente com deficiência intelectual, passam a ter garantias para que sejam matriculadas nas escolas de ensino regular sob a premissa de que são antes de mais nada "pessoas", como quaisquer outras. De acordo com o Artigo 1 o propósito da Convenção, é: [...] é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas(BRASIL, 2009). A Convenção adotada pela ONU, equivale a uma Emenda Constitucional, valoriza o respeito pela dignidade da pessoa humana e autonomia individual pela participação e inclusão na sociedade, pela igualdade de oportunidades, busca garantir condições de vida a todas as pessoas com algum tipo de deficiência, esclarece que o fator limitador é o meio em que a pessoa está inserida e não a deficiência. Num entendimento mais amplo, a educação inclusiva deve levar em consideração o desenvolvimento e a aprendizagem de alunos que apresentam algumas necessidades específicas e identificar recursos adequados para auxiliar na inclusão escolar. Tendo as concepções de Vygotsky como referência, baseada no conceito de zona do desenvolvimento proximal ou, onde o conhecimento a ser é conquistado por meio da mediação de um terceiro, é possível reconhecer que a educação inclusiva permite estruturar metodologias de ensino e aprendizado para atender as necessidades de todas as crianças, reconhecendo suas diferenças e promovendo reestruturação de práticas educativas. A inclusão amplia considerações de que mudar a prática Educacional, muda a realidade. Porém, algumas metodologias propõem a individualização do ensino através de planos específicos de aprendizagem para o aluno, justificando a diferença entre os alunos e o respeito à diversidade. Desse modo, um currículo individual paralelo adequado para alguns alunos, pode impedir a inclusão e prejudicar a interação necessária com os demais em torno dos objetos de aprendizagem (BRASIL, 2005). De acordo com o texto da PNEE na Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2007, p. 10): 6 A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O AEE especializado deve organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade para garantir a participação plena dos alunos; reconhecer suas necessidades específicas para adequar os recursos e respeitar diferenças nas crianças. Entretanto, quando a realidade da escola pública não viabiliza estratégias de sustentação para atender a demanda, a inclusão está longe de ser alcançada. 2.3 A Construção de uma Escola Inclusiva Em termos de inclusão é necessário mudar conceitos de quem é o aluno deficiente com necessidades educacionais especiais, como serão avaliados, de que forma serão ensinados, como envolver a família, educadores, direções de escolas e funcionários e quais os recursos pedagógicos e tecnológicos mais adequados para esse processo. A Lei 7.853/1989, que dispõe sobre apoio e inclusão social às pessoas com deficiência caracteriza como sendo crime, recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer instituição educacional, conceituado a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular (BRASIL, 1989). A Declaração Mundial de Educação para todos, elaborada na Conferência de Jomtien, na Tailândia, em 1990, amplia a formulação de políticas públicas para a educação inclusiva, apoiando programas para envolver a família e a comunidade no ambiente escolar, garantindo a universalidade da educação de todas as crianças, levando em consideração a cultura e as necessidades individuais e coletivas (BRASIL, 1990). A Declaração de Salamanca, sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, estruturada na Conferência Mundial em Educação Especial, realizada em Salamanca na Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, teve como objetivo central, informar sobre políticas, ações recomendações e soluções baseadas nas experiências dos países participantes para equalizar 7 oportunidades para as pessoas com deficiência, tratada na época do evento, como "Portadoras de Deficiência". Em 2001, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, determinam que os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, inclusive educandos com necessidades educacionais especiais (art. 2º), devendo as escolas organizarem-se para contemplar o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar (BRASIL, 2001a). A Convenção da Organização dos Estados Americanos, conhecida como Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil em 2001, pelo Decreto nº 3.956/2001, considera que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas. Define como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais (BRASIL, 2001b). Em 2002, o Conselho Nacional de Educação, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a Formação de Professores da Educação Básica (CNE/CP nº1/2002), onde define que as instituiçõesde ensino superior devem prever a formação docente voltada para a atenção à diversidade de forma que sejam contemplados conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2002a). Visando a inclusão de alunos surdos na rede regular de ensino, a Lei nº 10.436/02, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular (BRASIL, 2002b). O Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria nº 555/2007, prorrogada pela Portaria nº 948/2007, entregue ao Ministro da Educação em 07 de janeiro de 2008, apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva (PNEE) da Educação Inclusiva, que assegura a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação no ensino regular; reconhece a transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; assegura o atendimento educacional especializado; a formação de 8 professores e especialização de demais profissionais da educação para promover o atendimento especializado; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação etc. (BRASIL, 2008). Com base nas reflexões apresentadas na PNEE (BRASIL, 2008), a política de inclusão, fundamentada na concepção de direitos humanos defende o direito de todos os alunos de estarem juntos, sem nenhum tipo de discriminação, compreende a igualdade e a diferença como valores indissociáveis. Assim a educação especial na perspectiva da educação inclusiva torna-se proposta pedagógica da escola, articulando o ensino como para o atendimento especializado. 3 O papel da escola frente ao processo de inclusão Importante reafirmar que a educação inclusiva não se restringe somente à inclusã03o de crianças com deficiências físicas ou grave comprometimento intelectual, se estende a todas as crianças com outros tipos de limitações que pode influenciar no baixo rendimento escolar, como por exemplo, filhos de pais alcoólatras, subnutridos, com déficit de atenção, dos grupos minoritários, indígenas, ciganos, moradores de assentamentos, de lugares sem infraestrutura, e outras limitações. De acordo com Oliveira et al., (2014), a estrutura escolar que conhecemos atualmente para acolher alunos de diferentes costumes e valores sociais e econômicos, na perspectiva de uma educação inclusiva ainda requer muitas garantias para integrar novos conceitos e abandonar os antigos. Num passado ainda recente, a função da escola era desenvolver currículos e ensinar conhecimentos, à família cabia desenvolver habilidades e passar de geração para geração, seus hábitos e seus costumes de acordo com sua cultura, com a finalidade de inserir seus filhos no contexto social vigente. Assim tudo que competia a educação no ambiente doméstico ficava restrito ao grupo familiar. Nesse contexto, indivíduos com necessidades especiais, eram isolados por exclusão, sem nenhuma perspectiva de pertencimento social. A escola elitizada, geralmente atendia a cultura de determinadas famílias. Era impossível incluir cidadãos com necessidades educacionais especiais para exercer sua cidadania, já que não eram considerados cidadãos e, sob o descaso eram abandonados restando somente a benevolência (OLIVEIRA et al., 2014). 9 Relacionar-se e conviver com crianças com necessidades especiais antes, era tarefa restrita à família ou de instituições públicas que por alguma razão assumia esse papel, agora a escola deve garantir a inclusão de crianças com algum tipo de limitação e cabe ao professor e demais profissionais da educação, refletir sobre a inclusão desses alunos em salas comuns, devendo reconhecer que a educação inclusiva é uma forma de abolir as práticas segregacionistas. Analisando Oliveira et al., (2014), observa-se que a integração social de crianças com necessidades especiais com as demais crianças de turmas regulares nas escolas, tem sido preocupação dos educadores, principalmente daqueles que lidam diretamente com essas situações. A escola tem a responsabilidade de educar e assegurar o reconhecimento do direito da cidadania, atribuído ao indivíduo ao nascer. A educação inclusiva pressupõe que a escola deve acolher a todos os alunos com suas especificidades e promover mudanças no sistema educacional, nas propostas pedagógicas e nas estratégias de acessibilidade para incluir os alunos na rotina do ambiente escolar. De acordo com Castilho (2009, p.116) o papel da escola frente a inclusão pode ser de mão dupla: Se as diferentes presenças forem asseguradas aumenta a potencialidade da escola para a construção de uma sociedade mais igualitária, sem preconceito nem discriminação ou outras formas correlatas de intolerância. A escola pode perpetuar preconceitos, mas também pode desconstruí- los. Essa é uma tarefa para os (as) gestores (as) e educadores (as) comprometidos (as) com os direitos humanos. Para Castilho (2014), a escola não é o único espaço para que essa desconstrução ocorra, mas, é de fundamental importância desconstruir a discriminação de raças, gêneros e transgênicos, pessoas com transtornos mentais e pessoas com deficiência dentro da escola. Para a pedagoga e especialista em inclusão escola Maria Teresa Mantoan, o Brasil vem avançando em políticas para pessoas com deficiência, mas, a escola ainda seleciona os alunos e trabalha apenas com os que atendem às suas expectativas. Sendo assim, o maior desafio é repensar nas regras e no modo de atuação de práticas naturalmente excludentes. Ela defende que o AEE, oferecido em horário oposto ao atendimento regular da escola, não deve substituir o papel da 10 escola na formação de deficiente e que a saída seria uma parceria entre instituições e as escolas (MANTOAN, 2014). Ao analisar os pressupostos da autora, observa-se que embora não se deve confundir a perspectiva da educação inclusiva com educação especial, a escola fica obrigada a acolher o aluno com deficiência e promover a educação especial na perspectiva da educação inclusiva. A política educacional brasileira, requer o atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, articulado com a própria escola regular, visando à escola educar a todos sem discriminação. Entretanto, o grau de dificuldade, próprio do ser humano, implicará na necessidade de adaptar atividades para cada aluno considerando a possibilidade de desenvolvimento individual como o Plano de Ensino Individual. De acordo com Mantoan (2014), pela Constituição Federal Brasileira, a escola pública não pode negar, em hipótese alguma, a matricula de alunos com deficiência ou superdotação e deve oferecer AEE em contra turno, mas, a escola privada é desobrigada do AEE, oferecido na escola pública. O fato das escola particular não oferecer educação inclusiva é um retrocesso que enfraquece a luta pela inclusão. Com base nos pressupostos acima, compreende-se que lidar com a educação inclusiva é lidar com a exclusão e, os fatores que influencia a exclusão são sociais, culturais, econômicos, entre outros. Entretanto, mesmo reconhecendo esses fatores, não basta ter dispositivos legais para promover a inclusão, é preciso mudanças e adaptações das atividades pedagógicas para promover a inclusão de todos, inclusive dos profissionais em educação. O professor deve manter-se informado, capacitado para acolher as diversasespecificidades dos alunos 4 Metodologia Para realização dessa trabalho optou-se por abordagem qualitativa, utilizando a pesquisa bibliográfica por permitir a seleção de documentos, que tratam dos conceitos e fundamentações acerca do tema educação inclusiva e educação especial, em várias fontes públicas, principalmente nos bancos de dados bibliográficos do acervo digital do Ministério da Educação, favorecendo assim, a coleta de informações confiáveis para a construção de argumentação segura. 11 A escolha desse método se deu à necessidade de confrontar fundamentações de trabalhos próximos ao tema escolhido com as normas e leis, tomando como base a finalidade de reafirmar que não se trata de um tema recente, mas, ainda é assunto de discussões e controvérsias. Considerações Finais O estudo mostra que a trajetória das políticas educacionais separava os alunos em normais e não normais, mantendo muitas crianças longe das escolas públicas, independentes de diferenças e deficiências. Atualmente as políticas apoiam o atendimento educacional especializado para complementar ou suplementar a escolaridade na perspectiva da educação inclusiva. Nesse sentido, a escola deve acolher a criança com necessidades de atendimentos educacionais especiais, sem critérios de seleção, ou exigências de natureza alguma e principalmente sem discriminação, para o acesso e a permanência na escola de ensino regular. Nesse processo, o educador deve ressignificar suas práticas e concepções acerca das diferenças humanas, independentemente de suas condições físicas e intelectuais. Historicamente a Educação Infantil do mundo, reforça a importância da construção de uma na perspectiva de uma educação inclusiva. No entanto, a trajetória da Educação Inclusiva, estabelece mudanças nas atitudes do educador e da comunidade escolar, no sentido de serem sabedores de que os educadores e todos os profissionais envolvidos com a educação, precisam estar atentos para a diversidade, para melhor compreender a inclusão. Do ponto de vista da legislação, a educação inclusiva abrange uma literatura baseada na Educação Especial, como por exemplo, a Declaração de Salamanca (1994), pelos direitos e princípios fundamentais da educação inclusiva, que propõe integração dos alunos com necessidades de AEE nas escolas regulares e ao mesmo tempo descreve condições para que a escola possa acompanhar alunos com outras particularidades especiais como físicas e mentais. Reconhecendo os pressupostos dos autores desse estudo, compreende-se que a escola ainda precisa de muitas garantias para integrar novos conceitos, cumprir dispositivos legais e mudar métodos para incluir alunos socialmente excluídos por serem julgados como diferentes. 12 A educação inclusiva sob a perspectiva de todos estudarem juntos sem nenhum tipo de discriminação, em escolas regulares de ensino, principalmente nas escolas públicas, é um direito garantido, mas, na prática a maior dificuldade da escola é a de adequar o espaço físico e ter profissionais capacitados para mediar o ensino e a aprendizagem na perspectiva inclusiva. Considerando a vivencia dessa autora, é possível observar a dificuldade de muitos docentes em promover a efetiva aprendizagem dos alunos com necessidades especiais, algumas mudanças na relação professor aluno e todos os envolvidos, são registradas, mas, muitos alunos estão apenas presentes na escola e nem sempre contam com a família para reforçar a preocupação da escola com o ensino e a aprendizagem. Diante dessa realidade é nota-se que a educação na perspectiva inclusiva vem ocorrendo gradativamente, talvez, pela conscientização ou pelo amparo legal, e por ações individuais de educadores preocupados em efetiva-la, mas, ainda é preciso compreender que a escola não alcançou independência para incluir crianças com necessidades educacionais especiais sob a luz dos marcos legais. Para que de fato ocorra a inclusão na escola regular, é de fundamental importância promover a capacitação de professores, sem a necessidade de contratar novos, mas, de ter professores em exercício interessados em cursos de formação continuada Em relação aos processos educacionais especiais, como forma de romper com as representações acerca da construção da escola inclusiva, é preciso compreender que, incluir os diferentes na prática pedagógica da escola de ensino regular sem a formação do professor e sem a adequação da escola compromete a função da escola e os objetivos da educação igualmente para alunos com necessidades educacionais especiais, quanto para alunos visto como independentes. Outro fator de suma importância reconhecido através deste trabalho é que a educação inclusiva não extingue escolas especiais, mas, inclui crianças com necessidades especiais em idade escolar no ensino regular, principalmente depois que o Brasil assinou a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o país passou a determinar a inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino regular. 13 Por fim, conclui-se que o grande desafio da educação inclusiva na escola é garantir o acesso aos conteúdos básicos que a escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos, inclusive àqueles portadores de necessidades educativas especiais. Portanto, para que seja garantido aos portadores de necessidades educacionais especiais o direito à educação escolar, é necessário oferecer uma educação pública de qualidade, para que as escolas sejam planejadas para atender à diversidade e, ainda, ampliar os serviços e auxílios educacionais especiais para possibilitar o desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos, considerando as necessidades específicas como também suas potencialidades REFERÊNCIAS BRASIL, Presidência da República. Lei 7.8853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência [...]. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm> Acessado em: 17 mar 2017 ________. UNESCO/BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtiem, 1990. 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