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RESUMO: CARVALHO, José Murilo de. “Marcha acelerada (1930-1964) ”. In: Cidadania no Brasil: o longo caminho. Capítulo II

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CARVALHO, José Murilo de. “Marcha acelerada (1930-1964) ”. In: ​Cidadania no Brasil: o longo 
caminho.​ 6a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. Capítulo II. 
 
 
A partir do ano de 1930, há uma brusca mudança no cenário brasileiro em meio a graves 
crises financeiras e humanitárias. 
- Direitos sociais: criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e ampliação 
das leis trabalhistas. 
- Direitos políticos: fase de instabilidade entre períodos ditatoriais e democráticos - o 
surgimento do fenômeno do populismo na América Latina. 
- Direitos civis: (a partir de 1945) formação de uma identidade nacional. 
 
1930: MARCO DIVISÓRIO 
O fim da Primeira República, marca o abalo do acordo oligárquico das elites regionais. Os principais fatores 
externos são a Grande Guerra, Revolução Russa e a quebra da bolsa de Nova York. 
 
A Guerra levanta preocupações com segurança e a situação militar brasileira. A Revolução 
Soviética trás um novo ator para o cenário político: o Partido Comunista. A queda no preço maior 
produto de importação brasileiro, o café, impacta fortemente na economia e política, e marca o início 
de uma série de processos oposicionistas. 
Enquanto de um lado o movimento comunista se fortalece, angariando apoio em meio à 
crise, os militares se fortalecem na ideia da necessidade de proteção do Estado brasileiro. O 
tenentismo, em 1922, passa a combater o domínio das oligarquias na política e torna-se uma grande 
força de oposição. 
Nesse período, (de 1922 a 1930) a arte também toma como papel rebelar-se contra as 
imposições da época, e é quando ocorre a Semana de Arte Moderna, criticando a cultura europeia 
dominante. Na educação, surge a noção de ensino técnico e para todos na sociedade industrial e 
igualitária. Na saúde, há a necessidade do saneamento básico e o desenvolvimento da convicção que 
só um governo central poderia implementar essas mudanças. 
No cenário político, Júlio Prestes representava a manutenção do sistema e Getúlio Vargas, a 
frente da Aliança Liberal. Falava em reformas sociais e trabalhistas e direitos das mulheres e crianças. 
O acordo de lançamento de candidatos de São Paulo e Minas Gerais é quebrado quando São Paulo 
candidata um paulista. 
As elites mineiras, aliam-se às gaúchas e a um pequeno núcleo paraibano e a Aliança 
Liberal retoma a luta com propósito revolucionário. Em 1930, o cenário político torna-se favorável para 
a derrubada do governo pelos tenentistas. 
A revolta civil-militar de 30 tem o apoio das forças policiais militares estaduais, e a queda da 
Primeira República inflama o sentimento nacional e a sensação de participação política do povo. O 
novo chefe do governo é o candidato derrotado pelas eleições fraudulentas. 
Pelo lado negativo, a presença militar marca mais um regime nascido pela tutela do Exército. 
Pelo lado positivo, nos dois momentos, o Exército não está do lado das oligarquias, em sua maioria, é 
composto pela origem popular, e neste ponto se fez diferente dos outros latinos. 
“A experiência adquirida desde 1922, deu a eles maior visão política, idéias mais claras 
sobre reformas econômicas e sociais. Como em 1889, eram favoráveis a um governo forte que e o 
chamavam de ditadura Republicana. Esse governo deveria ser usado para centralizar o poder, 
combater as oligarquias, reformar a sociedade, promover a industrialização e modernizar o país. 
Apesar de não ser democrático, o tenentismo era uma força renovadora.” 
 
ENSAIOS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA (1930-1937) 
 
No período, há uma nova fase de agitação política, caracterizada por um largo alcance e alta 
organização política. Surgem novos sindicatos e partidos políticos, que após a vitória no fim da 
República, fragmentam-se e lutam pelo poder em vertentes mais conservadoras e revolucionárias ​(ex.: 
reforma agrária)​. Os “tenentes” (revolucionários), organizam-se no Clube 3 de Outubro que conseguia 
influenciar o governo, mas o medo da crescente força militar marca seu declínio. 
Neste mesmo movimento, as elites paulistas conseguem se organizar contra o governo 
como Revolução Constitucionalista, com um espírito conservador pelo fim da ditadura e a favor de 
novas eleições para a assembléia constituinte, restabelecendo o controle federal sobre os estados. 
A mobilização da sociedade civil paulista, consegue eleições para a assembléia constituinte - 
que elege Getúlio Vargas -, o voto secreto, a justiça eleitoral e o voto da mulher. As mudanças 
liberais, no entanto, sofrem duras críticas, graças à tendência de decaimento do movimento liberal, e o 
cenário político se caracteriza por uma forte polarização entre esquerda e direita. 
Aliança Nacional Libertadora (ANL) e a Ação Integralista Brasileira (AIB) tinham origens 
semelhantes - da classe média urbana - e combatiam o localismo, defendiam o fortalecimento de um 
governo central intervencionista e queriam reformas socioeconômicas. 
Em 1935, a ANL radicaliza sua posição e tenta uma revolução popular e é facilmente 
reprimida. O governo, no entanto, a utiliza de exemplo para exagerar o perigo de uma revolta 
comunista e obriga o fechamento e perseguição de membros da ANL. O mais importante foi Padre 
Ernesto, “tenente” civil, prefeito do Rio, que inaugura a política populista no Brasil. 
Após a “limpa”, os novos generais acreditam que o Exército deve ser desinstrumentalizado 
tanto pelos chefes civis quanto sociais. Destituem os últimos simpatizantes da república velha e 
fecham o Congresso, decretando uma nova Constituição. O Plano Cohen descreve um plano 
comunista para derrubar o governo que previa o assassinato de vários políticos. 
Num cenário de tensão internacional, a forte militarização e o medo do comunismo 
enfraquecem a resistência às ações do Exército. O período é marcado por grandiosos 
empreendimentos que promoviam o crescimento industrial e desenvolvimento econômico, mas as 
mudanças, no entanto, fortalecem o Estado em detrimento da autonomia estatal. 
Os avanços democráticos posteriores a 1930 ainda eram muito frágeis. Até 1945, a ditadura 
controla a imprensa, contém manifestações políticas e encarcera os inimigos do regime. Este, não era 
fascista ou nazista, mas sim, autoritarista, que revelou-se no esforço de evitar o conflito social. 
 
OS DIREITOS SOCIAlS NA DIANTEIRA (1930-1945) 
 
Ainda com os recuos dos direitos políticos, os direitos sociais continuam avançando, ainda 
que sua origem em um cenário de baixa participação política e de poucos direitos civis. 
Havia no Brasil, outra corrente ideológica: a positivista, que se afastava das correntes sociais 
e se aproximava mais de noções cooperativas entre trabalhador e proprietário. Logo no início da 
República (1889), já ofereciam propostas muito revolucionárias no âmbito das leis trabalhistas, e 
mesmo conseguindo pouco na época, criaram um cenário favorável para a política social. 
Essa visão orienta o governo na área do trabalho e da legislação social. O “Ministério da 
Revolução” (1931-34) age em direção aos meios trabalhistas, da previdência social e a sindical. Ali, se 
regulamenta jornada de trabalho, participação feminina e infantil, férias e teto salarial. A 
complexificação e estabelecimento de sindicatos e institutos específicos, mais o estabelecimento da 
previdência social, marcou a década de 40. 
O avanço dessa legislação também teve pontos negativos, excluíndo categorias importantes 
dos trabalhadores. As mudanças trabalhistas não se categorizam, então, como direito, mas como 
forma de favorecer setores específicos escolhidos pelo governo. Essa é chamada de "cidadania 
regulada", isto é, uma cidadania limitada por restrições políticas. 
Esta foi a principal estratégia do governo na área sindical, parecida com a visão dos 
positivistas e católicos, o Estado deveria garantir a relação harmônica entre trabalhador e proprietário. 
A unidade sindicalde cada classe então, não seria órgão de defesa dos trabalhadores, mas ponte 
para garantir a harmonia entre classes e o governo. 
Os sindicatos funcionavam sob muita vigilância para a possível intervenção do governo, a 
presença de um sindicato reconhecido pelo Estado garantia benefícios para a classe, como férias e 
legislação previdenciária. Em 34, acontece o decreto do fim da unidade sindical. 
Por um lado, o Estado mediador é benéfico para equilibrar a situação de desigualdade 
operária com as leis trabalhistas, é opressor com a legislação sindical, que concebia a luta sindical 
como enfrentamento dos patrões. 
No mesmo período há o aumento da imigração e migração no Brasil, e o imposto sindical, 
em que anualmente, um dia de todos os trabalhadores era descontado para repartição entre o 
sindicato (60%), federações (20%) e fundo sindical (20%). Todas as legislações excluíam o 
trabalhador rural, que indicava o peso dos proprietários rurais. 
O período foi a era dos direitos sociais e organização sindical. Os trabalhadores foram 
incorporados a sociedade por meio do trabalho, e não pela cidadania, pelos benefícios recebidos. 
Vargas se estabelece como “pai dos pobres” e ganha o apoio popular no “queremismo”, enquanto a 
oposição liberal se organiza para depô-lo. Na eleição, ganha com 49% dos votos e seu segundo 
governo consolida sua imagem populista - ambígua entre cidadãos e governo. 
 
A VEZ DOS DIREITOS POLÍTICOS (1945-1964) 
 
As eleições de 1945 marcam a ​primeira experiência democrática​ do país, e a influência de 
Vargas marcou o período, com populismo e nacionalismo. Em 1953, João Goulart é eleito ministro e o 
embate do populismo se centraliza em sua figura por suas ligações com o sindicalismo. Goulart se 
demite mas Vargas acata ao aumento do salário mínimo proposto por ele e é então que se fortalecem 
os planos de derrubar o presidente, que se suicida em 1954. 
Vargas se consolida como herói popular em sua carta-testamento, fortemente nacionalista e 
populista, é nele que o povo identifica uma figura de preocupação com seus problemas. O choque de 
seu suicídio se resolve só mais tarde, não na consolidação democrática, mas no fim do primeiro 
experimento democrático do país. 
Em 1960, Jânio Quadros ganha as eleições por sua capacidade de mobilização popular e 
carisma pessoal e João Goulart se elege como vice pela popularidade varguista. Quadros renuncia 
em 1961, mas a origem política e presença de João Goulart na China comunista movem os militares e 
vários outros setores da sociedade civil, enquanto emerge também o sindicalismo rural. 
O presidente assina em 1964 dois decretos populistas que inflamam diversos setores contra 
si, no dia 2 de abril, o presidente cai. 
 
 
CONFRONTO E FIM DA DEMOCRACIA 
 
De 1930 a 1937 a participação popular na política nacional ainda é tentativa. Após 1945, o 
ambiente torna-se favorável à democracia representativa, e, apesar das limitações. O eleitor urbano 
crescente era mais emancipado politicamente e mais engajado. O populismo pode ser considerado 
manipulação política, uma vez que seus líderes pertenciam às elites tradicionais e não tinham vincula 
com causas populares. Ele era ainda assim, muito dinânimo e por meio de apelos paternalistas e 
carismáticos, e não pela coerção. 
O motivo pelo qual a democracia teve tanta dificuldade em se consolidar durante esse 
período foi a preocupação com obter e manter o poder de quem sempre o teve, em vez de consolidar 
um regime bem estruturado para a sociedade.

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