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Reflexões sobre o estudo da População

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Departamento de Geociências 
Geografia da População 
Profº Luiz Fernando Soares de Castro 
 
REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO DE POPULAÇÃO EM GEOGRAFIA 
 
Luís Antônio de Moraes Ribeiro 
 
A Geografia, entendida como uma ciência social, pensa criticamente o espaço produzido pela 
sociedade. Partindo deste ponto de vista, é necessária uma reflexão sobre o estudo da população em 
Geografia. Na maioria das vezes, este estudo fica restrito a um conceito puramente numérico, pouco ou 
nada falando da sociedade estudada. 
É importante que se compreenda a população como um conjunto de seres humanos, cuja atividade 
vital transcorre sob a marca de uma sociedade determinada. A população é sempre um conjunto complexo 
de indivíduos residentes em determinado território, que formam a base natural de uma comunidade social. 
No curso da produção estabelecem-se entre os indivíduos, relações sociais que, na dependência do modo 
de produção dominante na sociedade, podem ser as de dominação de uns e subordinação de outros, como 
ocorre nas formações de classes antagônicas. 
Uma análise de população separadamente do meio social determinado, da estrutura de classe da 
sociedade, do caráter da divisão do trabalho seria estéril. O conceito de população separado do seu 
contexto é tão abstrato como o de produção em geral. “A população é uma abstração se deixado de lado, 
por exemplo, as classes que a compõem”. (Marx, 1877}. 
Os estudos da população têm se constituído em um dos grandes motivos para a crítica que se faz à 
chamada Geografia Tradicional, pois normalmente são marcados pela descaracterização histórica do 
fenômeno demográfico. Segundo Ruy Moreira, a história e a sociedade acabam servindo como mero painel 
de fundo, sem intervenção no processo demográfico. 
Para se situar o estudo da população no pensamento geográfico tradicional é preciso, antes de mais 
nada, compreendê-lo à luz de sua matriz teórica, o positivismo, que dominou a evolução da pesquisa 
geográfica até o século XX. O enfoque positivista se fundamenta basicamente em duas premissas: 1) os 
fatos sociais estão submetidos as mesmas leis naturais, invariáveis, previsíveis, que regem a natureza; 2) a 
ordem social está diretamente ligada à ordem natural, e como tal deve ser mantida. A evolução social deve 
processar-se dentro da ordem, condição indispensável para o progresso da sociedade, assim como a 
evolução da natureza se processa sem saltos ou rupturas drásticas e radicais. Para esta concepção, toda e 
qualquer tentativa de mudar essa 'harmonia social passa a ser vista como o caos, a anormalidade, o perigo 
para a sociedade global. 
Dentro do enfoque positivista, o homem aparece como um elemento a mais na paisagem de um 
lugar, como mais um fenômeno da superfície da Terra. Daí a geografia falar sempre em POPULAÇÃO 
(conceito puramente numérico) e tão pouco em SOClEDADE. A Geografia procurava ser uma ciência 
natural dos fenômenos humanos. 
Os livros didáticos evidentemente foram influenciados, pois eles não são neutros, já que nos 
conteúdos que transmitem se encontram valores, crenças, ou seja, a visão de mundo dos autores que o 
produzem. Na maioria das vezes os livros didáticos transmitem um conjunto de valores que, em uma 
sociedade de classes, refletem os interesses apenas da classe que domina as relações de produção. O 
Estado que aparentemente se coloca acima das classes, como administrador do interesse geral, mas que 
na verdade está comprometido com a classe dominante, é no Brasil, o maior responsável pela produção do 
livro didático, na medida que é ele quem estabelece os currículos. Na medida em que o livro didático é 
imposto, s não escolhido pelo aluno, que deve seguir a programação curricular imposta pelo Estado e que 
corresponde ao pensamento de estudiosos não necessariamente comprometidos com uma visão crítica da 
sociedade, ele serve como instrumento de reprodução dos ideais da classe dominante. 
Para os professores comprometidos com a Geografia Crítica, é fundamental que tenhamos em 
mente que estudar população em sala de aula é analisar a sociedade, o seu processo histórico, os seus 
conflitos e as divisões existentes no interior das áreas. É necessário que seu modo de vida e tipo de 
produção fiquem evidentes. Só assim a população deixará de ser algo quantitativo e abstrato. O estudo da 
população não deve ser desenvolvido pelo professor como um mero segmento da Geografia, e sim ser 
aproveitado como uma forma de melhor perceber a realidade da sociedade, da qual seus alunos fazem 
parte. 
 
 2 
 
Departamento de Geociências 
Geografia da População 
Profº Luiz Fernando Soares de Castro 
 
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE POPULAÇÃO EM GEOGRAFIA 
 
João Rua 
 
Ao se estudar a população costuma-se enfatiza três dimensões: o crescimento, a estrutura 
e as migrações. Estes aspectos da Geografia da população vão constituir as três unidades 
básicas de nosso estudo e somente a separaremos para efeitos didáticos. Na realidade são 
extremamente interligados e interagentes. 
O crescimento: quanto e como cresce uma população? Uma população cresce pela 
diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade expressas por mil habitantes (40%, 
15% etc). Destes resultados deduz-se ou acrescenta-se o fluxo migratório de saída ou de entrada. 
Entretanto as taxas de natalidade, mortalidade e fecundidade crescem, mantêm-se ou diminuem 
de acordo com uma série de fatores que vão desde a escolha consciente da família até as 
condição sociais gerais que determinam os padrões de reprodução. Não nos esqueçamos que 
falamos de pessoas concretas que têm necessidades, possibilidades e aspirações diferenciadas 
de acordo com sua origem social. 
Os fatores que mais vão afetar as taxas e, portanto, o crescimento da população, são 
incluídos naquilo que chamamos aspectos qualitativos da população (o papel da mulher na 
sociedade, o nível sócio-econômico, classe social da família, a idade das pessoas, os tipos de 
ocupação que predominam em um determinado grupo de pessoas etc.) Estes aspectos vão 
constituir a estrutura da população. 
Assim, não podemos entender o crescimento como mero conjunto de aspectos 
quantitativos isolados pois, ao se procurar as razões do crescimento (o como cresce a população), 
vai se encontrar as respostas na estrutura e nas migrações. 
A estrutura: é fator fundamental para se entende tanto o crescimento quanto as migrações 
e, ao mesmo tempo, é afetada tanto por um como pelo outro. 
Quando uma população (uma classe social, um determinado grupo de pessoas) apresenta 
uma alta taxa de natalidade, ocorre um predomínio de população jovem (muitas vezes 50% ou 
mais têm menos de 20 anos). Se há uma baixa natalidade e a esperança de vida ao nascer alta, 
passa a haver um predomínio da população adulta velha o que reduz as taxas de natalidade. 
Por outro lado quando se trata de uma sociedade rural onde predominam as atividades 
primárias, onde o nível sócio-econômico é baixo e onde a mulher tem apenas o papel de dona-de-
casa (que ajuda na lavoura) e o de reproduzir a prole, esta estrutura vai favorecer as taxas de 
natalidade e, assim, o crescimento da população. 
Se uma área perde população por emigração, perde grande parte de seu contingente 
masculino jovem que irá se dirigir para outras áreas. Quem fica, são, em maioria, crianças, 
mulheres e velhos (isto nas formas tradicionais de migração). Nessas áreas de partida, a relação 
numérica entre os sexos se altera e passa a haver mais mulheres do que homens. 
As taxas de natalidade diminuem. A população torna-se mais velha. Nas áreas de 
chegada, isto é de imigração, muitas vezes passam a predominar os homens, como ocorre em 
Rondônia ou nas áreas de mineração do Sul do Pará e de Roraima. Estes exemplos servem para 
mostrar como a estrutura afeta e é afetada pelo crescimento da população e pelas migrações. 
Migrações: Sãoum processo de redistribuição da população impulsionado pelas 
condições sócio-econômicas, quer dizer, pela estrutura. As populações pobres, com alto 
crescimento demográfico, apresentam condições (a precariedade da existência sendo uma delas) 
para emigração. Estes fluxos populacionais são direcionados para as regiões rurais ou urbanas 
onde os investimentos, efetuados pelos capitalistas ou pelo Estado, necessitam de mais mão-de-
obra (quanto mais oferta menores salários). Na realidade redistribui-se a população pobre pelas 
 3 
diversas partes de um país ou do mundo (quando são migrações internacionais) e não se altera 
as condições sociais e econômicas que provocaram a saída. 
Se alguma mudança ocorre é devida ,principalmente, aos recursos enviados pelos 
migrantes para as famílias que ficam. A saída de pessoas de uma região, além de diminuir o 
número total de habitantes afeta a reprodução e as características daquela população. Portanto, 
as migrações afetam o crescimento e a estrutura. 
É necessário lembrar que subjacente a toda esta esquematização estão as classes sociais, 
isto é, conjuntos de indivíduos com comportamentos semelhantes. Quando se fala em taxas deve-
se lembrar que as taxas dos ricos e dos pobres não são iguais. Quando se fala em idade e sexo, 
deve-se lembrar que as taxas dos ricos e dos pobres não são iguais. Quando se fala em idade e 
sexo, deve-se lembrar que são pessoas (e não números) que trabalham, produzem, têm filhos de 
acordo com as possibilidades e necessidades do grupo familiar, determinadas pelo modo de 
produção. Quando se fala em migrações é fundamental lembrar que migram aqueles que não 
conseguem uma existência condigna em um determinado lugar. Estes são 'empurrados' para fora 
do local onde vivem e passam a constituir massas de trabalhadores onde isto se faça necessário 
à reprodução ampliada do capital. 
Enfim, deve-se estudar a população depois de se estudar as formas de se produzir e de se 
organizar a produção (a indústria, a agricultura, a cidade e o campo), que constituem as 
manifestações concretas do modo de produção dominante que é em última análise, o que vai 
definir o 'comportamento' da população.

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