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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO FLÁVIA NATALI MENDES AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DE COSTUREIROS DE UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO MARINGÁ 2017 FLÁVIA NATALI MENDES AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DE COSTUREIROS DE UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Estadual de Maringá como requisito parcial para Obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Orientadora: Prof.ª Dra. Aline Lisot MARINGÁ 2017 ii FLÁVIA NATALI MENDES AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DE COSTUREIROS DE UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO Esta monografia foi julgada e aprovada pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados, para a obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho no programa de Pós-graduação (lato sensu) em Engenharia de Segurança do trabalho da Universidade Estadual de Maringá. Coordenador do Curso: Prof. Dr. Osni Pereira BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Prof.ª. Aline Lisot _______________________________________________ Prof.ª. Liri Yoko Cruz Prieto Hojo - UEM _______________________________________________ Prof.º Álvaro Phillipe Tazawa Delmont Pais Maringá, 10 de abril de 2017 iii AGRADECIMENTOS A Deus que é a referência maior e, a minha família que é minha base. Agradeço aos meus pais por sempre incentivarem o meu estudo e pelas condições necessárias para obtê-lo. Aos amigos que fiz durante o curso e na qual muitos tornaram-se parte da minha vida. Aos professores que se dedicaram alguns finais de semana, no intuito de transmitir seu conhecimento para nosso aprendizado. A professora Aline Lisot, na qual tenho grande admiração e respeito, por todo seu conhecimento e pela dedicação ao me orientar neste trabalho. iv RESUMO A Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Para cumprir seu objetivo, a ergonomia estuda diversos aspectos do comportamento humano no trabalho e formas eficientes e seguras de desempenhá-lo. O trabalho de costura pode ser considerado como um trabalho penoso ao trabalhador por se fazer necessária a adoção de posturas ergonomicamente inadequadas à atividade laboral. O presente trabalho foi realizado em uma indústria de confecção na cidade de Maringá, localizada na região noroeste do Paraná, e tem como objeto o setor de costura. No intuito de identificar os desconfortos e riscos presentes no desenvolvimento do trabalho dos costureiros, o estudo contou com a avaliação dos postos de trabalho, incluindo a aplicação de um questionário, a fim de colher dados sobre o perfil dos trabalhadores e conhecer suas relações de trabalho e a situação de sua saúde, além de avaliação biomecânica e antropométrica. Acompanhando o trabalho das costureiras, foi possível identificar que as principais posturas adotadas ao longo da jornada laboral podem contribuir para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas. A sugestão é que a empresa de confecção, adote iniciativas de melhorias no mobiliário dos postos de trabalho dos operadores de máquina de costura e treinamento para adoção de posturas corretas. A prática constante de ginástica laboral antes do início das atividades laborais, coopera para a prevenção de doenças decorrentes do trabalho e para o bem estar de todos. Palavras-chave: Operadores de máquina de costura. Biomecânica. Antropometria. Movimentos repetitivos. v SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 1.1 OBJETIVOS 3 1.1.1 OBJETIVO GERAL 3 1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 3 1.2 HIPÓTESE 4 1.3 JUSTIFICATIVA 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5 2.1 A HISTÓRIA DA COSTURA 5 2.2 BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA TÊXTIL 6 2.2.1 A INDÚSTRIA TÊXTIL E A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO 7 2.3 ERGONOMIA NO TRABALHO 9 2.4 ANTROPOMETRIA 10 2.4.1 TRABALHO DINÂMICO E TRABALHO ESTÁTICO 11 2.5 BIOMECÂNICA 13 2.6 POSTURAS ADOTADAS DURANTE O TRABALHO 13 2.6.1 TRABALHO SENTADO 15 2.6.2 CONSEQUÊNCIAS DA POSTURA SENTADA 17 2.6.3 CONSEQUÊNCIA PARA O COTOVELO E O PUNHO 18 2.6.4 CONSEQUÊNCIAS PARA O PESCOÇO E A CABEÇA 20 2.6.5 CONSEQUÊNCIAS PARA OS BRAÇOS 21 2.6.6 CONSEQUÊNCIAS PARA AS PERNAS 23 2.6.7 CONSEQUÊNCIA PARA AS COSTAS 24 2.7 LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO E DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO – LER/DORT 26 2.8 DIMENSÕES DOS POSTOS DE TRABALHO 28 2.8.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO PARA ANÁLISE POSTURAL 30 2.8.2 MÉTODO OWAS 31 2.8.3 MÉTODO RULA 31 2.8.4 MÉTODO REBA 31 vi 2.8.5 DIGRAMA DE MANENICA E CORLETT 32 3. MATERIAIS E MÉTODOS 33 3.1 OBJETO DE ESTUDO 33 3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 33 3.3 PROCEDIMENTO DO ESTUDO 34 3.3.1 DADOS REFERENTES À AVALIAÇÃO DE POSTURA MÉTODO OWAS 34 3.3.2 DADOS REFERENTES AOS SINTOMAS MUSCULOESQUELÉTICOS 37 3.3.3 COLETA DE DADOS 39 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 40 4.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA ATIVIDADE 40 4.2 ANÁLISE DOS DADOS 45 4.1.2 POSTURAS ADOTADAS 45 4.2 AVALIAÇÃO DAS POSTURAS E MOVIMENTOS 61 5 CONCLUSÃO 63 REFERÊNCIAS 64 APÊNDICE A -QUESTIONÁRIO E RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO POSTURAL 69 APÊNDICE A I - COSTUREIRA 1 69 QUESTIONÁRIO 69 A - INFORMAÇÕES GERAIS E OCUPACIONAIS DA COSTUREIRA 69 B - INFORMAÇÕES DO MOBILIÁRIO 70 C – MOVIMENTOS E POSIÇÕES DAS COSTUREIRAS 72 APÊNDICE A II - COSTUREIRA 2 73 QUESTIONÁRIO: 73 A - INFORMAÇÕES GERAIS E OCUPACIONAIS DA COSTUREIRA 73 B - INFORMAÇÕES DO MOBILIÁRIO 74 C – MOVIMENTOS E POSIÇÕES DAS COSTUREIRAS 76 APÊNDICE A III - COSTUREIRA 3 77 QUESTIONÁRIO: 77 A - INFORMAÇÕES GERAIS E OCUPACIONAIS DA COSTUREIRA 77 B - INFORMAÇÕES DO MOBILIÁRIO 78 C – MOVIMENTOS E POSIÇÕES DAS COSTUREIRAS 80 vii APÊNDICE B I – DIAGRAMA DE MANENICA E CORLETT 81 APÊNDICE B I - COSTUREIRA 1 82 APÊNDICE B II - COSTUREIRA 2 83 APÊNDICE B II - COSTUREIRA 2 84 viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Fluxograma do processo da indústria têxtil ..................................................... 7 Figura 2.2 - Fluxo do processo da indústria de confecção ................................................... 9 Figura 2.3 - Posto de trabalho de operador de máquina de costura .................................. 17 Figura 2.4 Movimento de supinação e pronação do antebraço .......................................... 19 Figura 2.5 Movimento de flexão e extensão do cotovelo. .................................................... 19 Figura 2.6 - Inclinação do pescoço ........................................................................................ 20 Figura 2.7 – Movimentos do braço ....................................................................................... 21 Figura.2.8 Adaptado Zona de alcance posto de trabalho ................................................... 22 Figura.2.9 Postura sentada .................................................................................................... 23 Figura 2.10 – Assento do posto de trabalho ......................................................................... 24 Figura 3.1 – Número de tarefas .............................................................................................35 Quadro 3.1 – Categoria de Ação ........................................................................................... 36 Quadro 3.2 – Percentual de tempo na postura .................................................................... 37 Figura 3.2 - Mapa das regiões corporais para avaliação de dor e desconforto ................ 38 Quadro 4.1 – Informações ocupacionais............................................................................... 41 Quadro 4.2 –Mobiliário .......................................................................................................... 42 Quadro 4.3 – Dimensões da mesa .......................................................................................... 43 Quadro 4.4 – Segmentos corporais ....................................................................................... 44 Quadro 4.5 – Relação de dor regiões corporais ................................................................... 45 Figura 4.1 – Banqueta ............................................................................................................ 46 Figura 4.2 – Cadeira de trabalho costureiras ...................................................................... 47 Figura 4.3 – Torção do tronco ............................................................................................... 48 Figura - 4.4 – Análise da torção do tronco ........................................................................... 49 Figura - 4.5 – Correção da torção do tronco ........................................................................ 50 Figura 4.6 – Troca de linhas .................................................................................................. 51 Figura 4.7 – Atividade de troca de linhas ............................................................................. 52 Figura 4.8 – Correção de troca de linhas.............................................................................. 53 Figura 4.9 A e B – Desvio do punho ...................................................................................... 54 Figura 4.10 A e B – Exigência visual costureiras ................................................................. 55 ix Figura 4.11 – Postura exigência visual ................................................................................. 56 Figura 4.12 A e B – Costas e pescoço .................................................................................... 57 Figura 4.13 – Postura costas .................................................................................................. 58 Figura 4.14 – Correção postura costas ................................................................................. 59 Figura 4.15 A e B – Membros inferiores .............................................................................. 60 x LISTA DE QUADROS Quadro 3.1 – Categoria de Ação ................................................................................. 36 Quadro 3.2 – Percentual de tempo na postura .......................................................... 37 Quadro 4.1 – Informações ocupacionais..................................................................... 41 Quadro 4.2 –Mobiliário ................................................................................................ 42 Quadro 4.3 – Dimensões da mesa ................................................................................ 43 Quadro 4.4 – Segmentos corporais ............................................................................. 44 1 1 INTRODUÇÃO Considerada pela ABIT, Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, (SINDIVEST, 2012), o segundo maior polo confeccionista do país, Maringá e região concentram cerca de 2.197 indústrias de confecção que juntas geram mais de 80 mil postos de trabalho, diretos e indiretos. Todo este parque fabril produz aproximadamente oito milhões de peças por mês, com vendas na casa de R$ 2 bilhões ao ano. Parte desta produção é comercializada pelos shoppings atacadistas presentes na cidade que juntos somam 546 lojas. Para Knoplich (1996), preocupar-se com a exposição de trabalhadores a fatores lesivos no ambiente de trabalho é essencial para as empresas, já que, na maioria dos casos, e sem perceber, o homem executa suas tarefas assumindo posturas ocupacionais ou funcionais inadequadas devido, dentre outros aspectos, ao projeto inadequado dos postos de trabalho. A atividade de costura vem crescendo no país desde o início da década de 90 quando, segundo Costa e Rocha (2009), o mercado brasileiro foi aberto à competição internacional e teve investimento para a aquisição de máquinas e equipamentos. Porém, Matos (2008) ressalta que esse crescimento do mercado não veio acompanhado pelo crescimento da mão de obra, fazendo com que as fábricas exijam dos costureiros um ritmo cada vez maior para suprir sua demanda. Na indústria de confecção, especialmente no setor de costura, a postura de trabalho representa principalmente um meio para desempenhar a atividade. Segundo Laville (1977), as posturas e os movimentos de trabalho são determinados pelo espaço físico e pelas ações a serem desempenhadas no espaço. A operação de máquinas de costura requer o uso repetitivo e coordenado do tronco e extremidades dos membros superiores e inferiores dos trabalhadores que trabalham em postura sentada prolongada (DUL, WEERDMEESTER, 1995). Os operadores de máquina de costura passam quase toda a jornada de trabalho na posição sentada, com os ombros elevados (com ou sem o apoio dos braços), inclinando a cabeça e a coluna cervical para a frente, para centrar a visão na máquina de costura, contribuindo de maneira significativa no surgimento de quadros dolorosos, principalmente no pescoço, 2 ombros, braços, coluna cervical, lombar e pernas (MACIEL; FERNANDES; MEDEIROS, 2006). Para desempenhar a atividade de costura, muitas atividades manuais são executadas, e estas exigem acompanhamento visual, o que significa que o tronco e a cabeça ficam inclinados para frente. Para Dul e Weerdmeester (1995) o pescoço e as costas ficam submetidos a tensões quando mantidos por longos períodos na mesma posição, fato este que poderá acarretar dores. O dorso pode ser submetido também a tensões quando for necessário girar o corpo estando o trabalhador em um assento fixo. De acordo com Grandjean (1998), na postura sentada ocorre um afrouxamento dos músculos abdominais que será prejudicial aos órgãos de digestão e respiração. Esses fatores de certa forma exigem um esforço físico elevado para que os trabalhadores gerem a produtividade estabelecida como meta pela empresa. Então, a grande questão é como melhorar o sistema produtivo de forma a beneficiar não só a empresa, mas também os trabalhadores. De acordo com Iida (2005), a ergonomia se destaca nesse processo, pois estuda os diversos aspectos do comportamento humano e do sistema de trabalho, dentre eles, homem, máquina, ambiente, informação, organização e consequências das atividades. Para Iida (2005) a ergonomia contribui para melhorar a eficiência, a confiabilidade e a qualidade das operações dentro das indústrias. Os estudos em ergonomia apresentam-se como uma ferramenta importante para minimizar os problemas que aparecem em determinadas situações de trabalho que podem causar doenças no sistema musculoesquelético, além de evitar doenças ocupacionais e esforços desnecessários. A aplicação dos princípios ergonômicos visa o bem-estar do trabalhador e a sua segurança no trabalho, buscando melhorar a qualidade de vida no trabalho. A norma regulamentadora NR 17 (1978), intitulada Ergonomia e Análise Ergonômica,estabelece os parâmetros para a adaptação do trabalho ao homem. É uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema (CAMISASSA, 2016). 3 Assim sendo, estudos ergonômicos vem ganhando espaço dentro das organizações, pois um trabalho preventivo é menos oneroso financeiramente para as empresas do que um corretivo (IIDA, 2005). A análise dos fatores de riscos ergonômicos, auxilia no planejamento de estratégias que possam contribuir para a melhoria das condições de trabalho e redução dos distúrbios osteomusculares. O intuito deste trabalho é fazer uma avaliação nos postos de trabalho dos costureiros em uma indústria de confecção e, em conjunto com os conceitos físicos e ambientais da ergonomia, abordar as peculiaridades das condições antropométricas destes trabalhadores, demonstrando sua importância e benefícios no cotidiano das jornadas de trabalho, como também na prevenção de doenças ocupacionais e para proporcionar um ambiente laboral adequado, confortável e produtivo aos costureiros da indústria de confecção. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 OBJETIVO GERAL Realizar uma avaliação das condições biomecânicas e antropométricas de postos de trabalho do setor de costura em uma fábrica de confecção. 1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Sinalizar os fatores relevantes para o desenvolvimento de doenças do trabalho; Fazer o levantamento do perfil dos trabalhadores; Realizar o levantamento antropométrico através de dados relacionados às medidas e proporções do corpo humano; Analisar as condições biomecânicas da atividade de costura; Coletar dados ocupacionais e posturais dos funcionários, dados referentes ao mobiliário do posto de trabalho e relatos de desconforto ou dor ao longo do dia na execução do trabalho; 4 Propor sugestões de melhorias e adequações dos postos de trabalho caso seja necessário. 1.2 HIPÓTESE Ao operar uma máquina de costura os trabalhadores executam suas tarefas na postura sentada durante toda sua jornada de trabalho, o que pode gerar um grande desconforto e dores ao longo do dia, e isto, em longo prazo, pode causar danos à saúde às vezes irreversíveis. Desta forma, é necessário adequar o posto de trabalho ao trabalhador para que o mesmo execute sua função de forma correta e confortável, adotando a postura adequada. Ao proporcionar ginástica laboral antes da jornada diária e algumas pausas durante a jornada já é possível minimizar os desconfortos que são causados pelo trabalho e evitar problemas futuros à saúde do trabalhador. 1.3 JUSTIFICATIVA O serviço de operador de máquinas de costura requer o uso repetitivo e coordenado do tronco, das extremidades dos membros superiores e inferiores, caracterizando uma atividade monótona, altamente repetitiva e que exige um alto grau de concentração. Prado (2006) menciona que a demasiada manipulação combinada com a realização de movimentos rápidos, repetitivos e contínuos, aliados a uma jornada de trabalho de 8 horas/dia na posição sentada, podem causar danos à saúde do trabalhador do setor de costura. Sendo assim, existe a necessidade de se avaliar os desconfortos musculoesqueléticos e os riscos ergonômicos em costureiros de indústrias de confecção. Tal função deve ser exercida na posição sentada, o que segundo Antón et al. (2002) pode influenciar de maneira significativa no surgimento de quadros dolorosos, principalmente na coluna cervical, torácica, lombar, nas mãos, dedos e pernas. 5 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Apresenta-se neste capítulo a fundamentação teórica com os conceitos da atividade de costura e dos segmentos posturais que envolvem a antropometria e biomecânica. 2.1 A HISTÓRIA DA COSTURA A atividade de costura é e sempre foi uma prática tão presente na humanidade que é um pouco difícil definir exatamente quando ocorreu seu início. Os primeiros registros de instrumentos usados como agulhas (que, na época, eram feitos de ossos e marfim) remetem há mais de trinta mil anos. A tecelagem (técnica de entrelaçar fios transversalmente e longitudinalmente, de forma a se obter tecidos) também remete a tempos longínquos: mais de cinco mil anos atrás, sendo que a tecelagem da época era feita com pelos de animais que eram criados para esse fim e, principalmente couro de animais de caça (SINDIVESTE, 2015). Com o passar do tempo, e o aperfeiçoamento das técnicas de costura, nasceu a profissão de costureiro. Os registros dessa história mostram que, em seu princípio, ela tinha um uso específico: as roupas eram necessárias para que ninguém andasse nu pelas ruas e, em regiões como a Europa, que tem invernos bem rigorosos, para se proteger do frio e assim por diante. Até que na recém-descoberta cidade de Çatal Hüyük, uma espécie de comunidade do período neolítico, foi possível encontrar um povo que já se preocupava com a estética das vestimentas, algo semelhante em civilizações que existiriam posteriormente, como os egípcios e os sumérios. Essas sociedades elevaram o cargo de costureiro a ser um profissional de mais importância. Essa valorização aconteceu principalmente, na sociedade persa, onde se têm registros de peças com mais conforto e mais personalizadas (SINDIVESTE, 2015). Outra época importante para a história da profissão foi a Idade Média, principalmente na Europa, onde teve início a confecção de túnicas de algodão, que protegiam do forte frio europeu. Além disso, esse ramo começou a movimentar mais dinheiro, principalmente pelo fato de que, naquele momento, as roupas eram costuradas com detalhes de joias ou pedras preciosas agregando mais valor, fruto da crescente habilidade dos artesãos. Assim como era no início, não havia cursos profissionalizantes para essa profissão. Com 6 isso, o conhecimento era passado do mestre para o aprendiz. O mestre (alfaiate) escolhia alguém (aprendiz) para herdar seus conhecimentos. Algumas vezes, esse aprendiz era o próprio filho do mestre, outras vezes, algum outro garoto. A Idade Média fez com que a costura passasse a ser uma atividade lucrativa e concorrida (SINDIVESTE, 2015). A costura teve um caráter artesanal até a Revolução Industrial. Entre as várias mudanças que essa época trouxe, a costura em escala industrial foi uma delas. É nítida essa mudança em países como a Inglaterra, em que a área dos tecidos foi uma das mais atingidas pela Revolução Industrial. Nessa época, começaram a ser feitas máquinas que realizassem mais costuras que os alfaiates faziam, de forma mais rápida e com uma padronização na produção que não podia ser repetida pelos artesãos (SINDIVESTE, 2015). 2.2 BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA TÊXTIL A cadeia produtiva têxtil compreende os segmentos de produção de fibras (naturais, artificiais ou sintéticas), fiação (produção de fios), tecelagem (produção de tecidos), malharia (produção de malhas), acabamento (processos químicos e físicos) e confecção (costura em geral), sendo dividida em três segmentos industriais: o setor de fibras e filamentos (fio de diâmetro muito fino), o de manufaturados têxteis (fiação, tecelagem e malharia) e a confecção de bens acabados (confecção). (LA ROVERE; TIGRE, ALEXIM, 2006). Cada um destes segmentos pode oferecer ao mercado um produto acabado e pode, na prática, estar desconectado dos demais. Conforme SEBRAE (2010), embora os segmentos ou etapas do processo se interliguem pelas características técnicas dos produtos a serem obtidos, essas etapas não precisam necessariamenteser todas incorporadas pelas empresas. As atividades produtivas do segmento têxtil são atividades interdependentes, porém com relativa independência dentro do processo produtivo, o que permite a coexistência de empresas especializadas e com diferentes graus de atualização tecnológica. O resultado de cada etapa de produção pode alimentar a etapa seguinte, independentemente de fatores como escala e tecnologia de produção. 7 Em suma, os artigos produzidos pelo setor têxtil podem ser agrupados em cinco grandes segmentos: produção de fios têxteis; indústria de malhas; indústria de tecidos planos; e acabamento de malhas e tecidos. A Figura 2.1 mostra o fluxograma dos principais segmentos da indústria têxtil para a obtenção de produtos de confecção. Figura 2.1 – Fluxograma do processo da indústria têxtil Fonte: O AUTOR 2.2.1 A INDÚSTRIA TÊXTIL E A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO As indústrias têxtil e de confecção estão entre as atividades industriais mais antigas da humanidade. Atualmente, utilizam métodos e processos bastante conhecidos e tecnologia de domínio universal. São, normalmente, as primeiras atividades fabris instaladas em um país e têm sido grandes absorvedoras de mão-de-obra. No período de 1900 a 1925 houve uma mudança na indústria de confecção: a confecção feita à mão passou gradativamente para a confecção industrializada. Um dos fatores que contribuíram para esta mudança foi a introdução da divisão do trabalho, isto é, a confecção de um artigo que antes era realizada de uma só vez, a partir da divisão do trabalho, passa a ser executada em diferentes operações, fazendo com que cada uma delas fosse realizada por um costureiro em uma determinada máquina especializada (LIDÓRIO, 2008). De acordo com Lidório (2008), entre 1940 e 1950 a engenharia industrial começou a influenciar as práticas e os procedimentos usados na indústria de confecção. Assim, as fábricas começaram a adotar métodos científicos para solucionar problemas de Processamento da matéria prima Fiação (produção de fios) Malharia/Tecelagem (produçao de malhas e tecidos) Beneficiamento (agregar qualidade ao produto) Confecção (geral) 8 planejamento e produção, cronogramas e controles. Ao mesmo tempo, os fabricantes de equipamentos reconheceram a importância de fabricar máquinas de costura com maior velocidade e outros tipos de equipamentos mais especializados. Com todo esse aperfeiçoamento, o desempenho nas fábricas melhorou muito, resultando em maior produtividade. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT, 2013), o setor têxtil representa no Brasil valores bem expressivos, pois existem mais de 30.016 (trinta mil e dezesseis empresas) de todos os portes, instaladas por todo o território, gerando mais de 1,7 milhões de postos de trabalho, sendo que 75% são de mão de obra feminina. O Brasil é o quarto maior produtor têxtil do mundo e possui o quinto maior parque produtivo de confecção do mundo. O objetivo da indústria têxtil, é transformar fibras em fios e fios em tecidos. Já a indústria de confecção transforma os tecidos nos mais diversos tipos de peças, como: vestuário (moda e profissional), peças de cama, mesa e banho (IEMI, 2010) e cortinas (SEBRAE, 2010). O segmento de confecção reúne um grande número de organizações. Grande parte da produção nacional está concentrada nas regiões sul e sudeste, que juntas reúnem 86% do total. No segmento de vestuário, cerca de 43% das vendas nacionais são da linha de produtos classificada como “lazer”, que engloba peças como: jeans, camisetas, bermudas e shorts. A linha social (ternos, “tailleurs”, por exemplo) representa 15% e a esportiva 10%. Os demais 32% estão divididos entre os setores de moda profissional, praia, gala, inverno, infantil, meias, moda íntima e acessórios. As mulheres são as grandes consumidoras de moda no país. A moda feminina responde por 41% da produção e o público masculino representa 35% do mercado (SOUZA, 2012). A fabricação de uma peça de confecção envolve um processo produtivo com as seguintes etapas: pesquisa de tendências, criação desenhos da coleção e definição dos produtos; produção das peças pilotos e ajustes; elaboração de moldes; corte e costura de peças; acabamento (acessórios que agregam valor as peças); controle de defeitos e embalagem; enviou ou estocagem da peça. A Figura 2.2 ilustra o fluxo do processo na indústria de confecção. 9 Figura 2.2 - Fluxo do processo da indústria de confecção Fonte: O AUTOR 2.3 ERGONOMIA NO TRABALHO A palavra ergonomia é composta pelas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis e regras). Esse termo foi adotado pela primeira vez em 1857, por um cientista polonês, Wojciech Jastrzebowski, em um trabalho intitulado “Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza” (IIDA, 2005). A ergonomia pode ser definida como “o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência” (LAVILLE, 1977). De acordo com Iida (2005) a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. O trabalho abrange não somente máquinas e equipamentos utilizados para transformar materiais, mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e Produção das peças pilotos e ajustes Pesquisa de tendências, criação, desenhos da coleção e definição de produtos Acabamento Corte e costura das peças Envio ou estocagem Controle de defeitos e embalagem Elaboração de moldes 10 seu trabalho. Isso envolve o ambiente físico, além de aspectos organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os resultados desejados. Observa-se que a adaptação sempre ocorre do trabalho para o homem. A ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às capacidades e limitações humanas (IIDA, 2005). Uma definição concisa da ergonomia é a seguinte: “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento” (IIDA, 2005). A norma regulamentadora NR17 ergonomia (BRASIL, 1978) estabelece os parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho, às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Dispõe também que a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, devem ser feitas pelo empregador de acordo com a característica de trabalho a ser desempenhada. 2.4 ANTROPOMETRIA A antropometria é uma técnica que surgiu no Egito, 3000 anos a.C, para descrever o corpo humano por meio de medidas. (NORDIN; FRANKEL, 2001) A antropometria é o estudo das medidas físicas do corpo humano. As medidas do corpo humano são muito importantes na determinação de diversos aspectos relacionados ao ambiente de trabalho no sentido de se manter uma boa postura (COUTO, 1996). As medidas antropométricas são tomadas de duas maneiras: antropometria estática ou estrutural e antropometria dinâmica ou funcional (GRANDJEAN, 1998). Antropometria estática se baseia nas medidas realizadas com o ser humano em repouso, antropometria dinâmica são as medidas realizadas com o ser humano em movimento, independentementedo tamanho dos segmentos corporais (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). De acordo com Nordin e Frankel (2001) as medidas de um posto de trabalho são variadas, tudo depende da natureza e das exigências da tarefa a ser executada. Se a tarefa é 11 desenvolvida em pé ou sentada, se é necessário deslocar objetos ou se eles devem estar necessariamente próximos. Tudo depende do grupo muscular que é mais solicitado durante o trabalho. Todas as populações humanas são compostas de indivíduos de diferentes tipos físicos ou biotipos. Pequenas diferenças nas proporções de cada segmento do corpo existem desde o nascimento e tendem a acentuar-se durante o crescimento, até a idade adulta (IIDA, 2005). Conforme afirma Iida (2005) homens e mulheres apresentam diferenças antropométricas significativas, não apenas em dimensões absolutas, mas também nas proporções dos diversos segmentos corporais. Os homens costumam ser mais altos, tem braços mais compridos, devido principalmente ao maior comprimento do antebraço. As mulheres possuem mais tecido gorduroso em todas as idades, enquanto os homens possuem mais músculos esqueléticos. Muitas medidas antropométricas de mulheres foram realizadas para trabalhos domésticos e podem ser inadequadas para o trabalho industrial. Os postos de trabalho devem ser ajustáveis a ponto de permitir que diferentes pessoas adotem as posturas mais confortáveis e as alternem conforme suas necessidades. Nesta perspectiva, os postos de trabalho, ao serem projetados, devem contemplar além das exigências das tarefas, a variabilidade dos seres humanos (ABRAHÃO et al, 2009). 2.4.1 TRABALHO DINÂMICO E TRABALHO ESTÁTICO O corpo humano pode ser comparado a um sistema de alavancas ósseas unidas por articulações de diferentes tipos. São as articulações que permitem o posicionamento do corpo em diferentes ângulos. Todo o sistema é movido por contrações musculares que envolvem pelo menos dois músculos que trabalham de forma diferente. Quando um contrai, o outro se distende e tem como finalidade incrementar a força ou o movimento. A força é todo o evento capaz de provocar modificações no musculo, causar uma contração. O momento de força é a medida de ação de uma força sobre o corpo. (NORDIN; FRANKEL, 2001; CAILLIET, 2003). De acordo com Nordin, Frankel (2001) e Cailliet (2003), as reações corporais à atividade muscular dependem da duração, frequência, tipo de contração muscular e a duração da recuperação. O esforço muscular é dinâmico quando ocorre uma alternância rítmica de 12 contração e de distensão, de tensão e de relaxamento. Este processo acontece porque o músculo tem seu tamanho alterado com relação aos seus pontos de inserção, que podem variar dependendo da força externa que ele tem que vencer. Conforme Iida (2005) o trabalho dinâmico permite contrações e relaxamentos alternados dos músculos. Neste tipo de trabalho dinâmico o músculo age como uma motobomba sobre a circulação sanguínea: a contração expulsa o sangue dos músculos, enquanto que o relaxamento subsequente favorece o influxo de sangue renovado. Esse fator é extremamente favorável para a renovação de nutrientes e de oxigênio. Por esse motivo, considera-se melhor realizar trabalhos dinâmicos ao invés de estáticos. Trabalho estático é aquele que exige uma contração prolongada de alguns músculos, para manter uma determinada posição, também chamado de contrações isométricas (IIDA, 2005). Corresponde à aplicação de uma força para a manutenção de uma mesma postura, não há mudança no comprimento do músculo com relação a seus pontos de inserção, a irrigação sanguínea fica comprometida, dificultando o consumo local de oxigênio e a eliminação dos subprodutos do metabolismo. O acúmulo destes subprodutos acaba causando dor e fadiga muscular (JOUVENCEL, 1994; NORDIN; FRANKEL, 2001; CAILLIET, 2003). O trabalho estático é altamente fatigante e, sempre que possível, deve ser evitado. Quando isso não for possível, pode ser aliviado, permitindo mudanças de posturas, melhorando o posicionamento de peças e ferramentas ou providenciando apoios para partes do corpo com o objetivo de reduzir as contrações estáticas dos músculos. Também devem ser concedidas pausas de curta duração, mas com elevada frequência, para permitir relaxamento muscular e alívio da fadiga (IIDA, 2005). Por vezes torna-se difícil distinguir os esforços estáticos e dinâmicos, sendo que uma mesma atividade pode envolver tanto esforços estáticos quanto dinâmicos. Os esforços excessivos e repetitivos, tanto estáticos quanto dinâmicos, por um tempo prolongado, podem ocasionar micro traumas resultando em comprometimento de articulações, tendões e ligamentos (NORDIN; FRANKEL, 2001; JOUVENCEL, 1994; KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Para se manter bem e desempenhar o seu papel a contento, é importante que os trabalhadores possam sair dos postos de trabalho para repousar, recuperar-se com relação ao esforço despendido para se manter em atividade (TEIXEIRA, 2012). 13 Portanto, os dados de antropometria estática e dinâmica disponíveis devem ser adaptados às características funcionais de cada posto de trabalho, principalmente no caso em que há diversos movimentos exercidos simultaneamente pelo organismo (IIDA, 2005). 2.5 BIOMECÂNICA A biomecânica se ocupa do corpo humano de uma forma especial, ela utiliza os princípios da mecânica para conceber, projetar, desenvolver e analisar equipamentos e sistemas na biologia e na medicina. Os primórdios da biomecânica remontam ao século XV, quando Leonardo da Vinci (1452-1519) observou a importância da mecânica em seus estudos biológicos. Na contemporaneidade, a biomecânica recorre aos diversos campos da mecânica aplicada de acordo com a natureza dos fenômenos (MÁSCULO, 2011). O interesse principal da biomecânica para a ergonomia vem sendo o entendimento da carga mecânica: a atuação do sistema musculoesquelético no contexto da atividade. A análise biomecânica se caracteriza por uma abordagem essencialmente quantitativa, ou seja avaliar as cargas nas articulações e nos tecidos no curso das ações e comparar com a tolerância ou a capacidade da estrutura (MÁSCULO, 2011). Toda atividade profissional solicita um trabalho muscular, necessário tanto para a manutenção de uma simples postura, quanto para a execução de gestos e movimentos de trabalho. A compreensão das posturas que são adotadas a fim de atender às exigências da tarefa passa pelo entendimento de que o sistema musculoesquelético está submetido a um conjunto de forças diversas, que envolvem, especialmente, os ossos, as articulações, os músculos, os tendões e os ligamentos. Essas forças utilizadas devem possibilitar uma arranjo harmônico entre os ligamentos, considerando os esforços musculares e o movimento (NORDIN; FRANKEL, 2001; CAILLIET, 2003). 2.6 POSTURAS ADOTADAS DURANTE O TRABALHO Segundo Laville (1977) a postura pode ser definida como a organização dos diversos segmentos corporais no espaço. A atividade postural se expressa na imobilização de 14 partes do esqueleto em posições determinadas, solidárias umas às outras e que conferem ao corpo uma atitude de conjunto. Essa atitude indica o modo pelo qual o organismo enfrenta os estímulos do mundo exterior e se prepara para reagir. Seja no início, no decorrer ou no fim de um movimento dirigido no espaço, a atitude constitui um aspecto fundamental da atividade motriz. Para Iida (2005) as posturas são configurações que um corpo assume ao realizar determinada atividade, elas constituem uma dimensão importante para ajudar a reconhecer e prevenir problemas de saúde relacionados ao trabalho. A postura é o estudo dasposições referente aos membros do corpo, como a cabeça, o tronco e a sua correspondente localização no espaço. O estresse provocado por longos períodos de posturas sentadas ou em pé podem prejudicar os músculos e articulações. A boa postura é primordial na realização do trabalho sem desconforto e estresse. Para Laville (1977) cada elemento do trabalho tem repercussões na postura. O conforto em determinada postura é muito precário: basta o desequilíbrio de apenas um segmento corporal para provocar efeitos imediatos sobre a organização dos demais no espaço. A dificuldade reside principalmente no controle dos múltiplos fatores que determinam a postura. Conforme Iida (2005) inadequações nos postos de trabalho devido à organização do trabalho, ao layout e a não consideração das dimensões antropométricas levam o trabalhador a adotar posturas que forçam e prejudicam a estrutura corporal, formando o que se denomina posturas forçadas. A manutenção dessas posturas forçadas por um longo período de tempo pode provocar, desde dores no conjunto de músculos solicitados em sua manutenção, até o surgimento de doenças do trabalho tais como escoliose, lordose e o agravamento dos Distúrbios Osteomusculares Relacionado ao Trabalho (DORT). Alguns fatores tem influência direta sobre a postura dos trabalhadores ao executarem determinadas operações. De acordo com Laville (1977) não há um critério único para caracterizar uma má postura e que permita avaliar seu custo para o trabalhador. Alguns são significativos em determinados casos, outros o são em casos diferentes. Trata-se de conceber os elementos do trabalho de tal maneira que o trabalhador possa adotar uma postura que, na medida do possível, respeite as posições de equilíbrio dos segmentos corporais e não provoque uma sobrecarga circulatória, podendo ser alterada com frequência. 15 O importante a saber é que a postura mais adequada ao trabalhador é aquela que ele escolhe livremente e que pode ser variada ao longo do tempo. A concepção dos postos de trabalho ou da tarefa deve favorecer a variação de postura, principalmente a alternância entre a postura sentada e em pé. Quanto aos aspectos organizacionais, deve-se levar basicamente em conta que o tempo de manutenção de uma postura deve ser o mais curto possível, pois seus efeitos, nocivos ou não, serão em função do tempo durante o qual será mantida. E esse tempo é definido pela organização do trabalho (MÁSCULO, 2011). 2.6.1 TRABALHO SENTADO No começo deste século começou a vigorar o ponto de vista de que na postura sentada o bem estar e o rendimento no trabalho seria maior e se produziria uma menor fadiga. Os motivos seriam de natureza fisiológica, já que de pé a pessoa encontra-se em permanente consumo de trabalho muscular estático nas articulações dos pés, joelhos e quadris e ao sentar esse trabalho muscular deixa de existir (MÁSCULO, 2011). A posição sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta posição. Praticamente todo o peso do corpo é suportado pela pele que cobre o osso ísquio, nas nádegas. Em relação à posição de pé, a posição sentada apresenta algumas vantagens, como liberar os braços e pés para tarefas produtivas, permitindo grande mobilidade desses membros e, além disso, tem um ponto de referência relativamente fixo no assento. Na posição de pé, além da dificuldade de usar os próprios pés para o trabalho, frequentemente necessita-se também do apoio das mãos e braços para manter a postura e fica mais difícil manter um ponto de referência (IIDA, 2005) Para trabalhos de precisão a postura sentada é a mais favorável, mas ela pode tornar-se inadequada quando a área de trabalho for muito extensa, ou quando a postura não pode ser modificada devido a exigências de colocação precisa e constante de certos segmentos corporais (LAVILLE, 1977). Deve-se evitar longos períodos sentados. Muitas atividades manuais, executadas quando se está sentado, exigem um acompanhamento visual. Isso significa que o tronco e a cabeça ficam inclinados para frente. O pescoço e as costas ficam submetidos a longas tensões, que podem provocar dores (DUL; WEERDMEESTER, 1995). 16 Na indústria de confecção a função de operador de máquina requer o uso repetitivo e coordenado do tronco, extremidades dos membros superiores e membros inferiores dos operadores que trabalham em postura sentada prolongada, com a região das costas curvada e a cabeça dirigida para a máquina de costura (YU; KEYSERLING, 1989). Os operadores de máquina de costura realizam as atividades na postura sentada durante a maior parte do tempo, levantam somente para ir ao banheiro ou buscar mais peças para fazer a montagem e a costura, ou para buscar linhas de costura e agulhas. A atividade laboral dos trabalhadores do setor de costura gera tensões nos músculos, o que pode causar dor e fadiga pelo ritmo intenso de trabalho, monotonia e esforços repetitivos. A fisiologia usa alguns termos próprios para designar os movimentos musculares. Movimentos dos membros que tendem a se afastar do corpo ou de suas posições normais de descanso chamam-se abdução e o movimento oposto, adução. O movimento do braço acima da horizontal é elevação. O movimento do braço para frente é flexão e o inverso, trazendo o braço de volta para perto do tronco, é extensão. O movimento de rotação da mão chama-se pronação, quando o polegar gira para dentro e supinação quando gira para fora (IIDA, 2005). As variações dessa postura envolvem a flexão do tronco para executar a costura e a rotação deste para pegar os objetos a serem trabalhados, além de, segundo Garcia Junior (2006) esticar e dobrar os braços. O acionamento do pedal das máquinas exige movimentos de abdução e adução do quadril, movimentação lateral da perna para acionar o sistema que levanta as agulhas, flexão dorsal e plantar do pé (MORAES et al., 2002). De acordo com Marques, Hallal e Gonçalves (2010) “a postura sentada ereta, na qual os ângulos dos quadris, tronco, joelhos e tornozelos são mantidos em 90º, cria tensão nos glúteos, o que causa retroversão da pelve e acentua a lordose lombar”. Isso gera um aumento das cargas compressivas no disco intervertebral, além de acarretar fadiga dos eretores espinhais. A postura ligeiramente inclinada para frente é mais natural e menos fatigante que aquela ereta. O assento deve permitir mudanças frequentes de postura, para retardar o aparecimento da fadiga (IIDA, 2005) A postura ideal para o ofício de operador de máquina de costura está apresentada na Figura 2.3, onde a coluna encontra-se apoiada no encosto da cadeira, as pernas estão perpendiculares ao chão e a cabeça está levemente inclinada para a máquina de costura. Os cotovelos estão 17 apoiados no encosto para braços da cadeira, evitando de ficarem suspensos. Para Assunção (2004) a postura ideal envolve equilíbrio muscular e esquelético, no qual os músculos funcionam para acomodar os órgãos torácicos e abdominais. Figura 2.3 - Posto de trabalho de operador de máquina de costura Fonte: SESI (2003) Efetivamente, o trabalho sentado traz alívio das pernas, estabilidade da postura, maiores possibilidades de evitar posições forçadas do corpo, redução no consumo de energia e consequentemente alívio da circulação sanguínea. As desvantagens são que “o sentar prolongado leva à flacidez dos músculos abdominais (barriga do sedentário) e à curvatura da coluna vertebral, o que é desfavorável para os órgãos da digestão e da respiração” (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). 2.6.2 CONSEQUÊNCIAS DA POSTURA SENTADA Prado (2006) menciona que a demasiada manipulação combinada com a realização de movimentos rápidos,repetitivos e contínuos, aliadas à uma jornada de trabalho em torno 18 de 8 horas por dia na posição sentada, pode causar danos à saúde do trabalhador no setor de costura. Posturas e movimentos inadequados produzem tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações, resultando em dores no pescoço, costas, ombros, punhos e outras partes do sistema musculoesquelético (DUL; WEERDMEESTER, 1995). Segundo Antón et al. (2002) percebe-se que a postura adotada no setor de costura influi de maneira significativa no surgimento de quadros dolorosos, principalmente na coluna vertebral e nas pernas, com flexão da coluna cervical e torácica de forma estática e movimentos repetitivos que exigem atenção, provocam dores na coluna cervical, torácica e lombar, mãos e dedos, o que para Freitas et al. (2009) restringe a mobilidade do corpo. Posturas inadequadas no trabalho interferem no sistema musculoesquelético e quando repetidas, exercem sobrecargas musculares e ligamentares, pois quanto maior o esforço articular, maiores serão as exigências para a articulação e seus componentes (ALENCAR et al. ,2003). 2.6.3 CONSEQUÊNCIA PARA O COTOVELO E O PUNHO Os punhos e cotovelos têm grande participação nas atividades de trabalho. Os movimentos do punho para cima (chamados de extensão), e para baixo (chamados de flexão), quando exagerados provocam atrito entre tendões, ligamentos e os ossos do punho, aumentando o risco de irritação na região. O atrito constante pode provocar tenossivite, nome dado a uma inflamação que acomete um tendão recoberto por bainha. Com a inflamação, o tendão se torna mais espesso, e isso dificulta seu deslizamento dentro da mesma bainha, o que mostra o quadro recorrente da afecção (MÁSCULO, 2011). Os movimentos de rotação do antebraço (pronação e supinação) Figura 2.4, associados à força e à repetitividade, podem promover uma tendinite (inflamação no tendão que une o músculo ao sistema ósseo) no lado interno do cotovelo. 19 Figura 2.4 Movimento de supinação e pronação do antebraço Fonte: Adaptado Sobotta (1995) O movimento de flexão do cotovelo “estrangula” a circulação de acordo com a Figura 2.5. O mesmo ocorre com os punhos, sendo que nesse caso o estrangulamento ocorre de forma mais aguda, já que os efeitos ocorrem com ângulos bem menores que o do cotovelo (MÁSCULO, 2011). Figura 2.5 Movimento de flexão e extensão do cotovelo. Fonte: Adaptado Sobotta (1995) 20 De acordo com Másculo (2011) algumas medidas podem ser adotadas para minimizar esses problemas. a. Manter o antebraço em ângulo reto com o braço; b. Manter o punho em posição neutra, isto é, na mesma linha do antebraço, com flexão ou extensão menores que 25º; c. Evitar movimento de pinça entre o polegar e o indicador, procurando usar os demais dedos; d. Evitar desvios laterais do punho, principalmente para o lado do dedo mínimo; e. Procurar fazer exercícios para a linha do antebraço. Evitar o uso de força, principalmente se a atividade envolver movimentos repetitivos. Na presença de um desses fatores, fazer pausas regulares, alternar o tipo de atividade durante a jornada e fazer exercícios para os punhos. 2.6.4 CONSEQUÊNCIAS PARA O PESCOÇO E A CABEÇA De acordo com Másculo (2011) quando o trabalhador está na postura sentada, o pescoço dobra-se para frente para que o trabalhador possa olhar o trabalho, na posição mais comum. Quanto mais dobrado para frente, maiores serão as queixas com o desconforto em função de sobrecarga nos ligamentos e articulações da região. A impossibilidade de movimentação da cabeça exigirá dos músculos mais trabalho para manter a posição estática, deve-se evitar a inclinação demasiada do pescoço para frente, conforme a Figura 2.6. Figura 2.6 - Inclinação do pescoço Fonte: Ergolândia 5.0 Recomenda-se que, quando inclinado para frente, o pescoço dobre-se, no máximo, entre 20º a 30º, e que fique em torno de 15º, se o trabalho for prolongado. Quando a bancada é baixa, o corpo dobra-se para frente, facilitando o aparecimento de dor e outros sintomas na região lombar. Para diminuir o ângulo do pescoço, deve-se manter a cadeira bem 21 próxima a bancada de trabalho, ajustar os equipamentos sobre a mesa, estabelecer pausas e exercícios (MÁSCULO, 2011). 2.6.5 CONSEQUÊNCIAS PARA OS BRAÇOS Para Másculo (2011) quando se trabalha sentado, existem dois tipos de movimentos do braço que ocorrem com frequência: o deslocamento do braço para frente e, o deslocamento do braço para o lado, conforme Figura 2.7. A elevada frequência desses movimentos e sua amplitude desmesurada podem vir a provocar dores no pescoço, ombros e braços. A contração muscular estática torna os músculos dos ombros doloridos e até mesmo inflamados, comprometendo ligamentos, nervos e vasos sanguíneos. Figura 2.7 – Movimentos do braço Fonte: Adaptado de Sobotta (1995) As alturas da mesa ou do assento também podem estar inadequadas. Faz-se necessário eliminar os movimentos inúteis, reorganizando o material de trabalho, de forma que os 22 de uso mais frequente permaneçam mais próximos ao corpo, e buscando alternativas de agrupar e aproximar o material, conforme a Figura 2.8 Zona de alcance do posto de trabalho. Figura.2.8 Adaptado Zona de alcance posto de trabalho Fonte: Grandjean (1998) Para prevenir possíveis problemas para os ombros, a mesa e o assento devem ser ajustados de forma a permitir que os ombros permaneçam relaxados, os cotovelos abaixados e próximos ao corpo (até 15º com braço em ângulo de 85º a 110º) (MÁSCULO, 2011). De acordo com a Figura 2.9 Postura trabalho sentado, é possível visualizar a postura correta que deve ser adotada. 23 Figura.2.9 Postura sentada Fonte: Adaptado de Iida (2005) 2.6.6 CONSEQUÊNCIAS PARA AS PERNAS A pressão contínua das nádegas e das coxas contra o assento da cadeira reduz a circulação local. Com o passar do tempo, essa pressão conduz a uma diminuição da temperatura nas pernas, sensação de formigamento, dormência, dor e inchaço, principalmente nos pés, tornozelos e pernas, deixando o usuário propenso a problemas circulatórios, como as varizes. Para diminuir esses problemas circulatórios, é necessário usar o assento da cadeira de forma adequada à altura e ao comprimento das pernas do usuário (MÁSCULO, 2011). Segundo Másculo (2011) se o assento for muito alto, toda a coxa estará fortemente apoiada sobre o assento, (inclusive o joelho), enquanto os pés ficarão em balanço total ou parcial. A compressão dessa parte da coxa diminui ainda mais a circulação sanguínea, pois os vasos sanguíneos e nervos passam bem superficialmente nessa região. Por outro lado se o assento estiver muito baixo, uma grande parte do peso do corpo estará apoiada sobre uma região muito restrita das nádegas, causando dor no local. Ocorrerá a diminuição do ângulo interno do joelho, reduzindo a circulação e promovendo dor nesta região. 24 Ainda de acordo com Másculo (2011) a cadeira deve ser considerada parte integrante do posto de trabalho mesa. A regulagem do assento deve estar em acordo com a superfície de trabalho. Recomenda-se que o desenho do posto de trabalho permita a movimentação das pernas. Cada pessoa deverá poder ajustar o assento na cadeira de forma a manter os pés apoiados no chão e, sempre que possível, manter suas coxas e seus joelhos dobrados em ângulo reto ou próximo disso. Para uma boa movimentação das pernas, a área abaixo da mesa deverá ter um espaço horizontal mínimo de 60 cm na altura do joelho e de 80 cm na altura dos pés. É necessáriotambém que haja um espaço livre de 5 cm entre a borda do assento e a parte posterior da perna, e que o assento apresente uma borda levemente arredondada para baixo. A Figura 2.10 ilustra o posto. Figura 2.10 – Assento do posto de trabalho Fonte: Adaptado Iida (2005) 2.6.7 CONSEQUÊNCIA PARA AS COSTAS A coluna é um dos pontos mais fracos do organismo. Ela se assemelha a um jogo de armar que fica na posição vertical, sustentado por diversos músculos, que também são responsáveis pelos seus movimentos. Sendo uma peça muito delicada, está sujeita a diversas deformações. Estas podem ser congênitas (existem desde o nascimento da 25 pessoa) ou adquiridas durante a vida, por diversas causas, como esforço físico, má postura no trabalho, deficiência da musculatura de sustentação, infecções e outras. (IIDA, 2005). A coluna vertebral tem ainda a função de proteger a medula espinhal, que faz parte do sistema nervoso central. Entre uma vértebra e outra existe um disco cartilaginoso, composto de uma massa gelatinosa. As vértebras também se conectam entre si por ligamentos. Os movimentos da coluna vertebral tornam-se possíveis pela compressão e deformação dos discos e pelo deslizamento dos ligamentos (IIDA, 2005). A primeira consequência importante da postura sentada para o corpo humano é o aumento da pressão entre os discos intravertebrais, em função da diminuição da curva lombar e diminuição do espaço entre os discos. Na postura sentada ocorre uma maior compressão nas extremidades do disco. Isso se deve à deformação natural das curvaturas da coluna vertebral na posição sentada (MÁSCULO, 2011) Com a permanência da postura sentada dobrada para frente, podem surgir dores na região lombar. Dobrar o corpo para frente e manter essa postura por longo período de tempo, associado a idade superior a 35 anos; ou trabalhar em atividade que exija a adoção de postura sentada durante mais de 5 anos, pode facilitar o enfraquecimento da parede do disco, ocorrendo rachaduras e aumentando as chances de uma hérnia de disco, uma grave consequência da postura forçada (MÁSCULO, 2011). Evidentemente, é melhor prevenir para que essas consequências não apareçam. De acordo com Másculo (2011) existe uma noção de que a hérnia de disco aconteceria apenas em consequência do trabalho pesado, mas ela também pode ocorrer na posição sentada, em trabalhos leves. Algumas ações amenizam esses impactos: a. Disponibilizar um bom encosto de cadeira, visto que esse elemento suporta parte do peso do corpo, diminuindo a sobrecarga das costas. O encosto deve ser móvel, para acompanhar o movimento das costas, ajustável em altura e no espaço entre o encosto e o assento, para acompanhar o movimento do corpo. b. Providenciar apoio para a parte baixa da coluna de forma a manter a curvatura lombar tão natural quanto possível. Pausas com alguma atividade compensatória devem ser utilizadas para aliviar a fadiga na região cervical. 26 2.7 LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO E DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO – LER/DORT A saúde, como direito universal e dever do Estado, é uma conquista do cidadão brasileiro, expressa na Constituição Federal e regulamentada pela Lei Orgânica da Saúde. No âmbito deste direito encontra-se a saúde do trabalhador. A dor relacionada ao trabalho é descrita desde a Antiguidade (DEMBE, 1996), mas o registro clássico sobre a descrição de vários ofícios e danos à saúde a eles relacionados está contido na obra de Ramazzini (1985). São citadas as afecções dolorosas decorrentes dos movimentos contínuos da mão realizados pelos escribas e notários, cuja função era registrar manualmente os pensamentos e os desejos de príncipes e senhores, com atenção para não errar. Com a Revolução Industrial, tais quadros clínicos configuraram-se claramente como decorrência de um desequilíbrio entre as exigências das tarefas realizadas no trabalho e as capacidades funcionais individuais, tornando-se mais numerosos. A partir da segunda metade do século XX, adquiriram expressão em número e relevância social, com a racio- nalização e a inovação técnica na indústria, atingindo, inicialmente, de forma particular, perfuradores de cartão. Atualmente, as expressões de desgaste de estruturas do sistema musculoesquelético atingem várias categorias profissionais e têm várias denominações, entre as quais lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares rela- cionados ao trabalho (DORT), adotadas pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Ministério da Previdência Social (MPAS), (BRASIL, 2011). A alta prevalência de LER/DORT tem sido explicada por transformações do trabalho e das empresas cuja organização tem se caracterizado pelo estabelecimento de metas e produtividade, considerando suas necessidades, particularmente de qualidade dos produtos e serviços e aumento da competitividade de mercado, sem levar em conta os trabalhadores e seus limites físicos e psicossociais. Exige-se a adequação dos traba- lhadores às características organizacionais das empresas, pautadas por intensificação do trabalho, aumento real das jornadas e prescrição rígida de procedimentos, impossibilitando manifestações de criatividade e flexibilidade. Às exigências psicossociais não compatíveis com características humanas, nas áreas operacionais e executivas, adiciona-se o aspecto físico-motor, com alta demanda de movimentos 27 repetitivos, ausência e impossibilidade de pausas espontâneas, necessidade de per- manência em determinadas posições por tempo prolongado, atenção para se evitar erros e submissão ao monitoramento de cada etapa dos procedimentos, além de mobiliário, equipamentos e instrumentos que não propiciam conforto (BRASIL, 2011). Entre os vários países que viveram epidemias de LER/DORT estão a Inglaterra, os países escandinavos, o Japão, os Estados Unidos, a Austrália e o Brasil. A evolução das epidemias nesses países foi variada e alguns deles continuam ainda com problemas significativos, entre os quais o Brasil (BRASIL, 2011). A ocorrência de LER/DORT em grande número de pessoas, em diferentes países e em atividades consideradas leves, provocou uma mudança no conceito tradicional de que o trabalho pesado, envolvendo esforço físico, é mais desgastante do que o trabalho leve. Diferentemente do que ocorre com doenças não ocupacionais, as doenças relacionadas ao trabalho têm implicações legais que atingem a vida dos trabalhadores. O seu reconhecimento é regido por normas e legislação, conforme a finalidade. Portaria GM n.º 777 (BRASIL, 2004), do Ministério da Saúde, de 28 de abril de 2004, tornou de notificação compulsória vários agravos relacionados ao trabalho, entre os quais os de LER/DORT. Os casos de LER/DORT, no Brasil, foram primeiramente descritos como tenossinovites ocupacionais. Foram apresentados, no XII Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho em 1974, casos de tenossinovites ocupacionais em lavadeiras, limpadoras e engomadeiras, recomendando-se que fossem observadas pausas de trabalho daqueles que operavam intensamente com as mãos (BRASIL, 2012). As lesões por esforços repetitivos e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são, por definição, um fenômeno relacionado ao trabalho (KUORINKA; FORCIER, 1995). Ambos são danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Abrangem quadros clínicos do sistema musculoesquelético adquiridospelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho. O esforço excessivo, má postura, stress e más condições de trabalho também contribuem para aparecimento da LER. Em casos extremos pode causar sérios danos aos tendões, dor 28 e perda de movimentos. A LER inclui várias doenças entre as quais, tenossinovite, tendinites, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, bursite, dedo em gatilho, síndrome do desfiladeiro torácico e síndrome do pronador redondo. Alguns especialistas e entidades preferem, atualmente, denominar as LER por DORT ou LER/DORT. A LER também é conhecida por L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo) (BRASIL, 2012). Algumas atividades consideradas como de risco foram identificadas em serviços que atendem trabalhadores, entre as quais as de tele atendimento, caixa, digitação, escrituração, montagem de pequenas peças e componentes, confecção de manufaturados (calçados), costura, embalagem, entre outras, a prevalência é maior no sexo feminino (MAENO et al., 2001). Os fatores de risco não são necessariamente as causas diretas de LER/DORT, mas podem gerar respostas que produzem as lesões ou os distúrbios. Este fatores não são independentes: interagem entre si e devem ser analisados de forma integrada. Envolvem aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização do trabalho. Por exemplo, fatores organizacionais como carga de trabalho e pausas para descanso podem controlar fatores de risco quanto a frequência e à intensidade (KUORINKA; FORCIER, 1995). Os estudos relacionados à análise das condições de trabalho, devem ser vistos como orientadores e não determinantes, devendo sempre abrir possibilidades para novas formas de exposição aos fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT. 2.8 DIMENSÕES DOS POSTOS DE TRABALHO As dimensões e configurações de postos de trabalho devem atender às exigências da atividade de trabalho, respeitando os critérios delimitados pela zona de alcance e pelo campo visual (PANERO; ZELNIK, 1989). Quando o posto de trabalho não contempla essas exigências pode comprometer a saúde do trabalhador e afetar o seu desempenho. A norma regulamentadora NR17 estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 1978). 29 De acordo com a NR 17 norma regulamentadora de ergonomia (BRASIL, 1978), sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição. Para evitar que fatores de risco biomecânicos e antropométricos comprometam a execução das atividades no ambiente laboral é necessário adequar as condições de trabalho ao homem, através da integração do conforto no sentido amplo dos aspectos físico e psíquico à produtividade, para diminuir a ocorrência de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, garantindo uma boa produção (SESI, 2003). De acordo com Iida (2005), o enfoque ergonômico tende a desenvolver postos de trabalho que reduzam as exigências biomecânicas, procurando colocar o operador em uma boa postura de trabalho, os objetos dentro da zona de alcance dos movimentos corporais fazendo com que haja facilidade de percepção de informações. O posto de trabalho deve envolver o operador como uma “vestimenta” bem adaptada, em que ele possa realizar o trabalho com conforto, eficiência e segurança. Para um projeto ou adequação ergonômica de um posto de trabalho, um dos pontos fundamentais a serem avaliados é a postura de trabalho, assim entendida a organização dos segmentos corporais que ocorrem durante a atividade de trabalho (LAVILLE, 1977). Cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho conforme estabelecido na NR17 (BRASIL, 1978). Os espaços de trabalho devem comtemplar as zonas de alcance, a variedade das medidas antropométricas dos trabalhadores e o acesso das mãos aos planos horizontal e vertical considerando as exigências da tarefa e o conforto postural (ABRAHÃO et al, 2002). Segundo Laville (1977) um plano de trabalho por demais elevado e um comando demasiadamente distanciado do operador provocam a adoção de uma postura desiquilibrada. Pode-se citar inúmeros exemplos, nos quais as dimensões das áreas de trabalho, instrumentos e máquinas, provocam um esforço físico inútil ou exagerado e dificuldades na manipulação de objetos, na percepção de elementos da tarefa e no controle dos movimentos. 30 A análise do problema determina a escolha das dimensões que devem ser utilizadas. A análise das exigências de trabalho permite que se determine precisamente as dimensões da totalidade dos elementos do posto de trabalho (LAVILLE, 1977). De acordo com Iida (2005) diversos critérios podem ser adotados para avaliar a adequação de um posto de trabalho. Entre eles se incluem o tempo gasto na operação e o índice de erros e acidentes. Contudo, o melhor critério, do ponto de vista ergonômico, é a postura e o esforço físico exigido dos trabalhadores, determinando-se os principais pontos de concentração de tensões, que tendem a provocar dores nos músculos e tendões. É essencial a intervenção a partir da concepção do posto, do instrumento e do objeto. A correção de um sistema existente é, em geral, difícil e dispendiosa. Os dados antropométricos e biomecânicos estimados da população dos trabalhadores constituem pontos de referência para a solução dos problemas dimensionais (LAVILLE, 1977). 2.8.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO PARA ANÁLISE POSTURAL Existem vários métodos para se avaliar as posturas que os trabalhadores mantêm durante a atividade laboral. Segundo Merlo (2003) e Cartaxo et al. (1998) muitos estudos têm por objetivo analisar a relação entre o desenvolvimento das atividades profissionais e a aparição de distúrbios musculoesqueléticos, denotando que a execução de algumas tarefas contribuem de forma significativa para o surgimento de tais problemas. Um exemplo é a atividade de costureiros de uma indústria de confecção. Quando se pretende avaliar a execução de uma atividade deve-se investigar as posturas adotadas pelos trabalhadores. Segundo Fiedler et al. (2003), se elas forem inadequadas, podem trazer consequências e muitas vezes sequelas para os funcionários. Através da avaliação postural, más posturas podem ser detectadas e minimizadas por meio de treinamentos com o objetivo de se adotar posturas corretas, seguras e confortáveis. O registro das posturas corporais adotadas em determinada atividade tem por objetivo a identificação dos movimentos ou posturas potencialmente lesivas ao corpo humano, durante demandas ocupacionais. Para facilitar a identificação das posturas adotadas nas tarefas, pesquisadores desenvolveram métodos para registrar e analisar as posturas. Conhecendo as atividades e o local de trabalho, pode-se fotografar as posturas e/ou gravar vídeos para a posterior 31 análise e registro das medidas dos ângulos entre partes do corpo, ou seus ângulos em relação ao ambiente (WILSON; CORLETT, 2005). Essas análises foram feitas no setor de costura de uma indústria de confecção. Para a identificação e análise das posturas e seus respectivos níveis posturais, aos quais as trabalhadoras do setor de costura estão expostos, de acordo com Couto et al. (1998), pode-se utilizar algumas ferramentas que variam de acordo com o tipo de atividade, tipo de risco e realidade observada na organização.Existem vários métodos disponíveis para a avaliação postural, como exemplos: OWAS (Ovako Work Analysis System), RULA (Rapid Upper Limb Assessment) e REBA (Rapid Entire Body Assessment). 2.8.2 MÉTODO OWAS O método OWAS - Owako Working Posture Analysing System foi desenvolvido na Finlândia por Karhu, Kansi e Kuorinka (1977) e surgiu da necessidade de identificar e avaliar as posturas inadequadas durante a execução de uma tarefa, que podem, em conjunto com outros fatores, determinar o aparecimento de problemas musculoesqueléticos (NEVALAPURANEN; KALLIONPÄÄ; OJANEN, 1996). 2.8.3 MÉTODO RULA O método RULA - Rapid-Upper Limb Assessment foi desenvolvido por McAtamney e Corlett (1993), é considerado um instrumento indicado às análises de pescoço, tronco e membros superiores através da avaliação de movimentos repetitivos e da sobrecarga biomecânica dos membros superiores em atividades laborais (MCATAMNEY; CORLETT, 1993). O método analisa os riscos de posturas estáticas e dinâmicas dos segmentos superiores corporais, levando em consideração: a força, a carga movimentada e o tipo de pega. 2.8.4 MÉTODO REBA O método Rapid Entire Body Assessment (REBA), criado por Hignett e McAtamney (2000), tem por objetivo analisar o conjunto das posturas executadas pelo trabalhador 32 durante a jornada de trabalho, considerando os riscos musculoesqueléticos de membros superiores e inferiores que estão presentes em atividades laborais. O método REBA avalia instantaneamente as posturas através da observação de posturas dinâmicas e estáticas forçadas nas tarefas humanas, sendo possível estabelecer a frequência de cada postura na jornada diária de trabalho (CARDOSO JUNIOR, 2006), indicando a necessidade de implantação de medidas corretivas e a urgência de intervenção (HIGNETT; McATAMNEY, 2000). 2.8.5 DIGRAMA DE MANENICA E CORLETT O diagrama de Corlett e Manenica facilita a localização de áreas dolorosas. Nele a imagem do corpo humano de costas está dividida em diversos segmentos, e após a jornada de trabalho do trabalhador em foco, o pesquisador faz com que ele aponte as regiões onde sente dores. O índice de desconforto é classificado em 8 níveis, com variação de 0 (extremamente confortável) a 7 (extremamente desconfortável), com base na localização feita pelo trabalhador no diagrama apresentado. O pesquisador pede que o trabalhador avalie subjetivamente o grau de desconforto de cada segmento apontado. Dessa forma, podem-se identificar máquinas, equipamentos e postos de trabalho que promovem maior desconforto postural. Este método pode ser aplicado com ou sem auxílio de softwares específicos, o que pode vir a ser vantajoso em algumas situações de pesquisa. Utiliza-se de uma metodologia simples e não necessita de interrupção do trabalho na coleta de dados. Porém, baseia-se exclusivamente na colaboração do trabalhador entrevistado, que pode vir a omitir ou aumentar alguma queixa. 33 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 OBJETO DE ESTUDO A indústria de confecção em estudo é uma empresa de pequeno porte e está localizada na cidade de Maringá, no estado do Paraná, possui em torno de 100 funcionários e o objeto de estudo na empresa é o setor de costura da confecção. No setores que envolvem o processo de costura, a empresa tem um total de 17 funcionários entre homens e mulheres operando máquinas de costura, que são divididos por subsetores no processo de confecção. No setor destinado à confecção de peças para produção, a empresa tem 8 funcionários operando máquinas de costura e, no setor de produção de peças piloto, ficam 9 funcionários. A empresa terceiriza a maior parte da produção em oficinas de costura. A jornada de trabalho do setor produtivo de confecção é de segunda-feira a quinta-feira das 7:30 as 17:30 com 1 hora de intervalo para o almoço e na sexta-feira das 7:30 as 16:30 com intervalo de 1 hora para o almoço, totalizando 44 horas semanais. No setor de costura é onde as partes principais da peça serão unidas ou costuradas. É a seção onde são executadas todas as operações de costura que reúnem as partes componentes maiores dando forma ao produto (ANDRADE FILHO; SANTOS, 1980). Delimitou-se a análise da atividade neste setor da indústria de confecção, por ser onde os trabalhadores apresentam maior prevalência de dor e/ou desconforto musculoesquelético e por permanecerem na postura sentada praticamente toda a jornada de trabalho. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Esta pesquisa caracteriza-se pelo aspecto descritivo, o que exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Esta pesquisa analisou os aspectos de natureza ergonômica, biomecânica e antropométrica dos trabalhadores do setor de costura. A análise das atividades foi 34 realizada através de observação direta e da aplicação de um questionário no local de trabalho escolhido, com o objetivo de colher informações ocupacionais e pessoais relevantes para a pesquisa. No que se refere à abordagem, classificou-se a pesquisa como qualitativa. O aspecto qualitativo refere-se à interrogação direta dos trabalhadores do setor de costura e ao detalhamento subjetivo da atividade dos costureiros com relação aos sintomas musculoesqueléticos e às posturas adotadas durante a jornada de trabalho. A pesquisa pode ser classificada como de levantamento, pois de acordo com Gil (2008), envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer, para em seguida, mediante análise qualitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. 3.3 PROCEDIMENTO DO ESTUDO Esta pesquisa analisou os aspectos de natureza ergonômica, biomecânica e antropométrica dos operadores de máquina de costura do setor de costura. Este capítulo está orientado para a apresentação dos métodos que foram adotados para a realização deste trabalho. Os protocolos estão divididos em análise das posturas observadas, níveis de correção postural analisado pelo método OWAS e foi utilizado a imagem do protocolo de avaliação de dor proposto por Manenica e Corlett, com o intuito de reconhecer as regiões que os trabalhadores sentiam dor e utilizar esses dados para análise. 3.3.1 DADOS REFERENTES À AVALIAÇÃO DE POSTURA MÉTODO OWAS Uma das maiores dificuldades em analisar e corrigir más posturas no trabalho está na identificação e registro das mesmas. A descrição verbal não é prática, porque torna-se muito prolixa e de difícil análise. Por outro lado, técnicas fotográficas também são falhas, porque fazem apenas registros instantâneos, sem dar informações sobre a duração da postura e das forças empregadas. Isso levou muitos autores a propor métodos práticos de registro e análise de postura (IIDA, 2005). O sistema OWAS é uma ferramenta ergonômica prática. Seus desenvolvedores foram três pesquisadores finlandeses que trabalhavam em uma siderúrgica, Karku, Kansi e 35 Kuorinka, no ano de 1977. O método OWAS é uma fonte de classificação e identificação de más posturas que permite agilidade na análise para a determinação das pontuações, considerando todos os segmentos corporais. Uma limitação do método OWAS é que ele não associa as pontuações obtidas com as incidências de distúrbios musculoesqueléticos (IIDA, 2005). Esta ferramenta avalia três posições típicas dos braços, quatro posições do dorso e sete posições de pernas que, quando combinadas, resultam em 72 posturas conforme ilustra a Figura 3.1. Figura 3.1 – Número de tarefas Fonte: Ergolândia 5.0 As posturas
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